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Sacramentos: Matrimônio e Ordem

Docente Jairo de Jesus Meneses


Discente Weliton Rocha Alves

A SACRAMENTALIDADE DO MATRIMÔNIO NA TRADIÇÃO

“Então o homem exclamou:


‘Esta, sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne!
Ela será chamada ‘mulher’, porque foi tirada do homem!
Por isso um homem deixa seu pai e sua mãe, se une à sua mulher, e ele se tornam uma
só carne”. (Gn 2, 23-24)

Sobre o desenvolvimento da sacramentalidade do matrimônio, observa-se que o mesmo,


em âmbito de fé, expõe uma realidade em que ele é sacramento por meio do mistério salvífico
de Cristo, isto é, sua Encarnação, morte e Ressurreição. Sendo esta última o expoente da
relação esponsal entre Cristo e sua noiva, a Igreja.

Em concomitância, adentrando naquilo que concerne a criatura, pode ser observado que
ao longo da história, a Igreja, seja por meio do tripé da Revelação, a saber, Sagrada Escritura,
Tradição e Magistério, buscou (busca) conduzir e fornecer meios para que o humano possa
alcançar a glória unitiva com Deus. Por certo, o matrimônio, para além de um evento que une
duas pessoas distintas – homem e mulher – para que possam se constituir como uma realidade
separada em vista da perpetuação da espécie, Traz em si aquilo que é natural e sobrenatural.
Em outras palavras, seguindo a instância natural, a união de modo especial e universal é em
vista do gerar a prole. Essa perspectiva natural não detém nada de sacralidade, é um simples
casamento que vem sendo realizado desde a antiguidade onde o sujeito começou a prescrutar
a razão de ser até a atualidade onde o ser humano encontra miríades de respostas para a sua
existência, porém, nenhuma o satisfaz.

Em elo, o seu quesito sobrenatural está naquilo que é eterno, ou seja, a sua
indissolubilidade. A realidade cristã é o expoente da glória eterna, é o meio para a santificação
constante. Portanto, não se deve pensar que o matrimônio é algo que possa ser tratado como
um simples ato de unir – um casamento, um contrato –, mas sim como aquilo que expressa
uma dinâmica de unidade onde o homem e a mulher se tornam um só corpo, uma só mente e
alma. Não é em vista de um perpetuar da espécie, quer dizer, não é somente isto! Todavia,
direciona o casal e seus filhos a caminhar no Caminho, isto é, santificar-se em direção a Deus
por meio da fidelidade, unidade, fecundidade e aquilo que distingue o estado natural e
sobrenatural do matrimônio/casamento, a sua indissolubilidade – isto é, ele é sacramento.

Ademais, em questão de doutrina, há de se perceber que o matrimônio, especialmente


no concílio de Trento foi elencado como sacramento, porém o que o torna digno de tal
titulação? Dois posicionamentos se fazem relevantes, o primeiro advém do CIC 1602:

[...] Do princípio ao fim, a Escritura fala do matrimónio e do seu


“mistério”, da sua instituição e do sentido que Deus lhe deu, da sua
origem e da sua finalidade, das suas diversas realizações ao longo da
história da salvação, das suas dificuldades nascidas do pecado e da sua
renovação “no Senhor” (1 Cor 7, 39), na Nova Aliança de Cristo e da
Igreja.

E continua o cânon 1055, §1.

O pacto matrimonial, pelo qual o homem e a mulher constituem o


consórcio de toda a vida, por sua índole natural ordenado ao bem dos
cônjuges e à geração e educação da prole, entre batizados foi por
Cristo elevado à dignidade de sacramento.

Aquilo que há de comum entre as duas citações é que a sacramentalidade do matrimônio


se dá para aqueles que adentram no mistério salvífico de Deus por meio do batismo. É este
que em sua totalidade dá, por e em Cristo a sacralidade do casamento. Uma vez que, o
batismo é sacramento de salvação e o matrimônio pode ser considerado sacramento de
manutenção dessa salvação por meio da santificação da família.

Logo, a sagrada escritura elenca desde a origem ao fim dos tempos (do Gênesis ao
Apocalipse) um contrato de amor entre Deus/semelhante com o seu povo. Exemplo se dá na
união entre o homem e a mulher, a aliança entre Deus e Israel, como também, nas núpcias
entre o Cordeiro e sua noiva, a Jerusalém celeste, a sua Igreja. Portanto, da transição do
Antigo Testamento ao Novo, perceber-se-á que o casamento tenha o protagonismo humano,
ele é em sentido ontológico aquilo que é divino. É Deus que confere esse caráter por meio do
mistério de Cristo. No mais, aos participantes desse mistério, ou seja, os batizados, o
matrimônio não é um simples contrato, ele é graça santificante que expressa as “dimensões”
de Deus. É, portanto, possível afirmar, mas não com tanta certeza que a Trindade se expressa
na unidade do casal, o ser Criador na fecundidade, o Deus fiel na fidelidade dos cônjuges e a
indissolubilidade que expõe o caráter nupcial entre o Cordeiro e a sua Noiva.

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