Você está na página 1de 64

Silas Malafaia

A RECEITA DA IGREJA
PRIMITIVA PARA UM
CRESCIMENTO SADIO
GERÊNCIA EDITORIAL Copyright © 2015 por Editora Central Gospel
e de PRODUÇÃO
Gilmar Vieira Chaves
Dados Internacionais de Catalogação
Coordenação na Publicação (CIP)
Editorial
Michelle Candida Caetano

A receita da Igreja primitiva para um crescimento sadio/


COORDENAÇÃO
Silas Malafaia
DE COMUNICAÇÃO
Rio de Janeiro: 2014
E DESIGN
64 páginas
Regina Coeli

ISBN: 978-85-7689-437-7
pesquisa,
1. Bíblia - Vida cristã I. Título II.
Estruturação e
copidesque As citações bíblicas utilizadas neste livro foram extraídas
Marcus Braga da Versão Almeida Revista e Corrigida (ARC), salvo
indicação específica, e visam incentivar a leitura das
Revisão Sagradas Escrituras.
Paulo Pancote
É proibida a reprodução total ou parcial do texto deste
CAPA livro por quaisquer meios (mecânicos, eletrônicos,
e diagramação xerográficos, fotográficos etc), a não ser em citações
Eduardo Souza breves, com indicação da fonte bibliográfica.

impressão e Este livro está de acordo com as mudanças propostas


acabamento pelo novo Acordo Ortográfico, que entrou em vigor a
Ediouro partir de janeiro de 2009.

1ª edição: Janeiro/2015

Editora Central Gospel Ltda


Estrada do Guerenguê, 1851 - Taquara
Cep: 22.713-001
Rio de Janeiro – RJ
TEL: (21) 2187-7000
www.editoracentralgospel.com
Sumário

Introdução................................................................... 5

Capítulo 1 – Perseverando na doutrina dos apóstolos.......9

Capítulo 2 – Perseverando na comunhão e no partir


. do pão................................................... 21

Capítulo 3 – Perseverando nas orações...................... 35

Capítulo 4 – Temendo e louvando a Deus................. 43

Capítulo 5 – Recebendo abundante graça................. 49


INTRODUção

“Não vamos transformar o mundo pela crítica


nem pela conformidade, mas sim pela combustão
dentro de vidas inflamadas pelo Espírito de Deus”,
declarou – com toda razão – certo pregador.
A Igreja primitiva não tinha nada do que con-
sideramos essencial para o sucesso hoje – proprie-
dades, dinheiro, influência política, status social –,
no entanto, ganhou multidões para Cristo e viu a
implantação de inúmeras igrejas por todo o mundo
romano. Qual o segredo para tão grande sucesso
como igreja? Qual a receita adotada por aquela
comunidade de cristãos que acabou por espalhar
o cristianismo por todo o mundo?
Os cristãos da Igreja primitiva viviam uma
realidade de fé, união e crescimento tal, que ao
chegarem a Tessalônica, Paulo e Silas provocaram
um comentário que resumia o sentimento de todo
A Receita da Igreja Primitiva Para Um Crescimento Sadio

o mundo pagão daquela época: Estes que têm al-


voroçado o mundo chegaram também aqui (Atos
dos Apóstolos 17.6).
Os primeiros cristãos eram pessoas “inflama-
das pelo Espírito de Deus”. Esse mesmo poder do
Espírito Santo encontra-se à nossa disposição hoje
para tornarmo-nos testemunhas mais eficazes de
Cristo. Quanto melhor entendermos como o Espíri-
to operou na Igreja primitiva, mais capazes seremos
de nos relacionar com Ele e de experimentar o Seu
poder. O ministério do Espírito é glorificar a Cristo
na vida e no testemunho do cristão (João 16.14), e
é isso o que importa.
Mesmo em meio à perseguição e à violência
que os oprimiam – de um lado, o poder romano,
através dos decretos imperiais, que declaravam
serem os cristãos sicários ou malfeitores, e de outro
lado, a fúria implacável dos religiosos judeus –, os
primeiros cristãos conheciam perfeitamente o mais
profundo significado da palavra “perseverança”.
Segundo o próprio texto de Lucas, os primeiros
convertidos perseveravam na doutrina dos após-
tolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas
orações (Atos dos Apóstolos 2.42).
Eles eram diligentes e constantes em com-
parecer à pregação da Palavra. Permaneciam na
doutrina dos apóstolos e nunca a renegaram ou
6
Silas Malafaia

abandonaram. Aqueles que entregaram sua vida


a Cristo devem estar conscientes de ouvir a Sua
Palavra, pois com isso o honramos e nos edifica-
mos em Sua fé.
Eles mantinham a comunhão dos santos, e
permaneciam em união. Não apenas tinham uma
afeição mútua uns para com os outros, mas tam-
bém muita comunicação uns com os outros. Eles
aproveitavam toda ocasião para se reunirem. As-
sim, vemos como esses cristãos amavam uns aos
outros. Eles se preocupavam uns com os outros,
simpatizavam-se uns com os outros e endossavam,
de coração, os interesses mútuos.
Eles se reuniam frequentemente para a orde-
nança da ceia do Senhor. Permaneciam no partir
do pão, na celebração daquele memorial da morte
do Mestre, como quem não se envergonha de ad-
mitir o seu relacionamento e a sua dependência em
Cristo, que foi crucificado. Partiam o pão de casa
em casa, pois não achavam apropriado celebrar
a ceia no templo, porque aquilo era peculiar às
instituições cristãs, e, portanto, eles administravam
essa ordenança em casas particulares.
Além disso, permaneciam em oração. Depois
que o Espírito foi derramado, assim como antes,
continuavam em constante oração. A oração nunca
será substituída, até que o seja pelo louvor eterno.
7
A Receita da Igreja Primitiva Para Um Crescimento Sadio

Assim, dessa forma, a Igreja primitiva vivia um


cristianismo ímpar. Hoje, fala-se muito em cresci-
mento da igreja, em igrejas fortes, em campanhas
missionárias e evangelísticas que alcancem o maior
número possível de descrentes. E qual é o segre-
do para que atinjamos tal objetivo? É importante
observarmos que o único segredo está contido na
própria Bíblia.
Neste livro, estudaremos qual é a única e
verdadeira receita da Igreja primitiva para um
crescimento sadio, para um cristianismo abaliza-
do, sem fantasias e falácias. Para que alcancemos
e experimentemos uma fé que venha a cumprir
a plenitude de seus objetivos, e fazer com que a
igreja – que somos nós – possa crescer de maneira
saudável, firme e bem fundamentada!
Boa leitura!

8
Capítulo 1

Perseverando na
doutrina dos apóstolos
E perseveravam na doutrina dos apóstolos [...]
Atos 2.42

Passaremos a descrever os ingredientes que


compõem a receita da Igreja primitiva para um
crescimento saudável. Veremos que todos passam
pela aplicação de uma atitude que foi caracte-
rística fundamental dos primeiros cristãos – a
perseverança.
“Perseverança”, de acordo com o Dicionário
Houaiss significa “qualidade de quem persevera;
pertinácia, constância”. Na passagem de que nos
ocupamos, em Atos 2.42, o verbo “perseverar”,
possui um significado ainda mais forte no original
grego. É o verbo proskarterountes, derivado de
“forte”, “fiel”, e significa, originalmente, “persistir
obstinadamente em”, “aderir firmemente a”.
A Receita da Igreja Primitiva Para Um Crescimento Sadio

Aqueles cristãos apegaram-se firmemente à


“doutrina dos apóstolos”. E o que era esta “doutri-
na dos apóstolos”? Sem dúvida, esta doutrina (no
original grego didaché) se alicerçava nas palavras
de Jesus, preservadas principalmente pelos próprios
apóstolos, com base na memória, e talvez também
em documentos escritos extremamente originais,
além das tradições orais que se formaram desde
muito cedo na história da Igreja cristã.
A formação dessas tradições, desde o princí-
pio, em forma de doutrina expressa, é indicada em
passagens como Romanos 6.17 (Mas graças a Deus
que, tendo sido servos do pecado, obedecestes de
coração à forma de doutrina a que fostes entregues)
e 1 Timóteo 1.3 (Como te roguei, quando parti para
a Macedônia, que ficasses em Éfeso, para advertires
a alguns que não ensinem outra doutrina). Esses
ensinamentos padronizados dos apóstolos, base-
ados nas instruções do Senhor Jesus, tornaram-se
o material informativo dos evangelhos primitivos.
A comunidade cristã recém-formada, além de
manter o antigo modo judaico de adoração, dava
ouvidos à doutrina dos apóstolos, que foi o começo
da formação de um dogma cristão distinto, com
práticas fixadas segundo o exemplo apostólico, ba-
seadas, sobretudo, sobre os ensinamentos do próprio
Jesus. Essa era uma das características distintivas da
10
Silas Malafaia

Igreja primitiva – distinguiam-se dos judeus incré-


dulos seguindo a confissão de fé cristã, conforme
estava contido na doutrina ensinada pelos apóstolos.
Essa é a primeira vez que o Novo Testamento
retrata os apóstolos ensinando, transmitindo a verda-
deira doutrina cristã. Por que somente agora? Porque
só agora foram eles cheios do Espírito Santo, capazes
de ter a mente de Cristo (1 Coríntios 2.16), de lem-
brar tudo o que Jesus lhes tinha dito (João 14.26) e
de ser guiados a toda a verdade (João 16.13).
Aqueles cristãos não estavam direcionados
a seguir novos caminhos, ou modismos místicos.
Estavam interessados, apenas, em aprender e co-
nhecer mais sobre Jesus. Com o momento de “pós-
-modernidade” que vivemos, surgiu uma tendência
de rápidas mudanças, como um rolo compressor,
sufocando cada vez mais velozmente os valores
éticos sedimentados na igreja e na sociedade, im-
plantando, em contraposição, uma “nova ordem”
pluralista, relativista e vulnerável.
Neste contexto em que a igreja está inserida,
se ela não ficar firme na doutrina dos apóstolos e
nas suas tradições evangélicas, com embasamento
em uma profunda convicção doutrinária, os menos
informados correm o risco de apostatarem da fé
genuína e verdadeira, seguindo as heréticas falsas
doutrinas. Por isso o apóstolo Paulo exorta em 2
Timóteo 4.3,4:
11
A Receita da Igreja Primitiva Para Um Crescimento Sadio

Porque virá tempo em que não sofrerão a


sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos,
amontoarão para si doutores conforme as suas
próprias concupiscências; e desviarão os ouvi-
dos da verdade, voltando às fábulas.

É precisamente isso que nos causa espanto


e admiração na igreja atual. Novos convertidos
são recebidos na igreja hoje, e amanhã já estão
ingressando nos cursos de graduação teológica dos
seminários evangélicos. Entregam-se, de maneira
absolutamente dedicada, aos estudos de herme-
nêutica, exegese, escatologia, paracletologia e
escatologia, dentre outras disciplinas teológicas
mais profundas. Mergulham no estudo do hebraico
e do grego, e constroem dissertações sobre homi-
lética e teologia sistemática, discutindo acerca da
importância do Jesus histórico versus o Jesus dos
evangelhos.
Isso apenas demonstra que vivemos, na Igreja
atual, uma inversão de valores incompatível com
a Igreja primitiva. Diferente daquela realidade
existente na igreja de Jerusalém, hoje encontramos
cristãos sem nenhuma firmeza ou fundamento na
fé em Cristo, dedicando-se ao aprendizado e for-
mação teológica sem sequer conhecer o princípio
de tudo isso, ou seja, o próprio Jesus.
12
Silas Malafaia

São cristãos que não possuem nem experiência,


nem profundidade na fé, e querem ensinar aqueles
que já há muito estão fundamentados e arraigados
em Cristo. São crianças espirituais, e que compor-
tando-se assim, jamais deixarão o “leite” espiritual,
não experimentando nunca o alimento “sólido”.
Serão sempre criancinhas na fé. E, por isso, a igreja
enfrenta problemas.
Hoje, encontramos cristãos que adotam uma
“dieta” espiritual que se opõe àquela recomendada
pela Bíblia. O escritor da Carta aos Hebreus viu um
paralelo entre a alimentação de um bebê e a con-
dição espiritual dos cristãos que encontramos hoje
em dia. Eles são reprovados por não terem crescido
na vida cristã, por continuarem sendo como crian-
cinhas recém-nascidas que necessitam de leite,
não suportando ainda alimentos sólidos, ou seja,
um ensino espiritual mais profundo. Eles não têm
progredido na fé (Hebreus 5.11-14).
Quando decidimos aceitar a Jesus como Senhor
e Salvador, nascemos de novo e começamos uma
nova vida. Como criancinhas espirituais, precisamos
do genuíno leite, ou seja, do ensino básico da fé,
que nos proporcionou o crescimento inicial. Porém,
depois disso, Deus espera pelo nosso desenvolvi-
mento espiritual (2 Pedro 3.18; Efésios 4.15). Ele
espera, nada menos, que cheguemos a ser conforme
13
A Receita da Igreja Primitiva Para Um Crescimento Sadio

à imagem de Seu Filho (Romanos 8.29). Quando


já conhecemos os princípios básicos da vida cristã,
então devemos seguir em frente a partir daí.

Resultado de uma dieta somente com


leite (Hb 5.11-13)
Indisposição espiritual
A epístola aos Hebreus mostra alguns perigos
para a vida cristã. Um deles se encontra no final do
verso 11, do capítulo 5: Porquanto vos fizestes ne-
gligentes para ouvir. No grego, a expressão significa
“preguiçoso, lento, descuidado”. Nesse versículo, o
escritor reprova os cristãos por custarem a entender
e praticar o que ouviam da Palavra.
A expressão “negligentes para ouvir” significa
falta de energia espiritual, indisposição de espírito
para receber, compreender e aplicar os ensinamen-
tos espirituais. Infelizmente, essa indisposição espiri-
tual, esse enfraquecimento da capacidade espiritual,
ainda hoje caracteriza a vida de muitos cristãos.

Insuficiência no crescimento
Porque, devendo já ser mestres [...]
Hebreus 5.12

A carta foi escrita para pessoas que já haviam


sido salvas há algum tempo, o suficiente para terem
14
Silas Malafaia

crescido. Todo aquele tempo deveria ter sido aprovei-


tado para aprendizado e progresso na vida cristã, mas
isso não aconteceu. Eles até poderiam ser professores
de Bíblia, entretanto, continuavam sendo alunos pri-
mários, crianças no conhecimento, na percepção das
coisas de Deus e na prática dessas verdades!

Inexperiência na Palavra
Porque qualquer que ainda se alimenta
de leite não está experimentado na palavra da
justiça.
Hebreus 5.13

Os hebreus destinatários desta epístola não


haviam progredido no conhecimento da Palavra.
Eram bebês espirituais cujo desenvolvimento foi
tolhido porque recusaram a instrução mais profun-
da das verdades bíblicas. O leite é nutriente para
criança, mas aqueles cristãos, não sendo crianças,
eram incapazes de receber alimento sólido e, com
isso, se tornaram sem habilidade nas Escrituras.
Não sabiam colocar em prática o que aprendiam na
Bíblia; não tinham destreza no manejo da Palavra,
exatamente como ocorre hoje com muitos cristãos.
Paulo aconselhou a Timóteo: Procura apresen-
tar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem
de que se envergonhar, que maneja bem a palavra
da verdade (2 Timóteo 2.15).
15
A Receita da Igreja Primitiva Para Um Crescimento Sadio

Infantilidade espiritual
Porque qualquer que ainda se alimenta
de leite não está experimentado na palavra da
justiça, porque é menino.
Hebreus 5.13

“Cristão menino” é cristão imaturo. Eis as


características do “cristão menino”:
• Incapacidade em aprofundar-se na doutrina
(1 Coríntios 3.1,2) – consegue apenas en-
tender as verdades mais simples, o “leite”
(1 Coríntios 3.2);
• Instabilidade na fé – é levado pelos ventos
de doutrinas (Efésios 4.14);
• Desinteresse pelas coisas espirituais – en-
contra mais prazer nas atrações do mundo
do que nas coisas de Deus;
• Temperamento sensível e egoísta – ofende-
-se facilmente e quer tudo a seu modo;
• Falta de frutificação – é apenas espectador e
não participante na igreja em que congrega
(Hebreus 10.25).

Se é assim que você se sente, demonstrando uma


indisposição espiritual, um crescimento insuficiente,
sem experiência na Palavra, com sintomas de fra-
queza espiritual, mude sua maneira de alimentar-se
16
Silas Malafaia

espiritualmente. Adote a receita da Igreja primitiva.


Persevere na doutrina, estude a Palavra, tome lugar
na Escola Bíblica e aprenda mais acerca de Jesus.
Pois somente assim será possível experimentar um
crescimento sadio, e preparar-se para alçar voos mais
altos. Quem quiser tornar-se mestre necessita, obriga-
toriamente, dominar o assunto que almeja lecionar!

Resultados de uma dieta com alimento


sólido (Hb 5.14)
Maturidade espiritual
Mas o mantimento sólido é para os perfeitos.
Hebreus 5.14

Na Bíblia, “mantimento sólido” assim como


“leite” são figuras usadas para facilitar o entendimen-
to. A palavra “leite” indica os ensinamentos básicos,
os rudimentos da fé. “Alimento sólido” indica os en-
sinamentos mais profundos sobre a Palavra de Deus;
indica o discernimento das verdades espirituais.
A maturidade espiritual requer um crescimen-
to cultivado com disciplina, com esforço cons-
ciente e constante – com perseverança. Você deve
buscar essa maturidade através da santificação, do
crescimento no conhecimento da Palavra, da ora-
ção, da participação na igreja, do serviço cristão,
17
A Receita da Igreja Primitiva Para Um Crescimento Sadio

pela prática do amor, que é o vínculo da perfeição


(Colossenses 3.14).

Experiência
Os quais, em razão do costume.
Hebreus 5.14

O alimento sólido é para aqueles que, prati-


cando os ensinamentos bíblicos, chegam ao discer-
nimento do que é certo e errado, do que convém
e não convém. Na busca pela maturidade cristã,
a obediência é questão de suma importância. É a
prática da Palavra de Deus que conduzirá o cristão à
maturidade. Quanto mais se pratica a Palavra, mais
as raízes da vida vão fortalecendo-se, e, assim, fica
mais preparado para suportar as provações da vida
(Mateus 7.24,25). O cristão maduro pratica a Palavra
e é, por isso, bem-aventurado (Tiago 1.22-25).

Discernimento
Têm os sentidos exercitados para discernir
tanto o bem como o mal.
Hebreus 5.14

O que leva você à maturidade cristã é o an-


seio pela santidade, é a consciência sensível que
18
Silas Malafaia

deseja discernir entre o bem e o mal, é o coração


que busca o conhecimento e a prática da vontade
de Deus. Que é discernimento? É a capacidade de
separar o certo do errado, o verdadeiro do falso, a
luz das trevas. Discernir é “tirar o cerne”. O cerne
é a essência, o núcleo, o âmago, a parte central.
Hebreus 5.14 deixa claro que o propósito principal
do discernimento é fazer distinção entre o bem e
o mal.
É nessa direção que o Senhor quer conduzir-
-nos e também a Sua igreja. Se possuímos um
desejo ardente por santidade, se procuramos obe-
decer aos princípios divinos, se lemos, estudamos
e meditamos em toda a Palavra, é porque somos
cristãos maduros. Continue nesta dieta, que foi a
mesma adotada pela Igreja primitiva.
Todos já ouvimos o ditado popular que decla-
ra: “Você é o que come”. Na vida espiritual, isso é
uma verdade importante. Para ficar espiritualmente
saudável, é necessário cuidar bem da alimentação.
Nosso crescimento depende do desejo pelo ali-
mento sólido encontrado nas Escrituras Sagradas.
Cresçamos em todos os aspectos da vida e em todas
as boas coisas, da mesma forma como os cristãos
da Igreja primitiva!

19
Capítulo 2

Perseverando na
comunhão e no
partir do pão

E perseveravam [...] na comunhão, e no


partir do pão.
Atos dos Apóstolos 2.42

O segundo ingrediente utilizado pela Igreja


primitiva em sua receita para um crescimento sadio
foi a comunhão e o partir do pão.
Um dos sinais da atuação do Espírito Santo na
Igreja primitiva era a comunhão entre os seus mem-
bros. Mais que oferecer parte ou o todo dos bens
que possuíam, os cristãos mantinham-se unidos
por um vínculo comum: eles pertenciam ao corpo
místico de Cristo — a Igreja. A comunhão faz da
igreja um organismo espiritual perfeito de homens e
mulheres que, apesar de suas procedências étnicas
e diversidades culturais, sentem-se e agem como ir-
mãos. Somente seremos reconhecidos como filhos
A Receita da Igreja Primitiva Para Um Crescimento Sadio

de Deus se cuidarmos mutuamente uns dos outros.


A comunhão levou aqueles cristãos a partilha-
rem o que tinham, abrindo as portas para a atuação
do Espírito Santo. Assim, ia o Senhor acrescentando
o número dos santos.
A comunhão observada na Igreja de Cristo não
é apenas fenômeno social. É o resultado da ação
direta do Espírito Santo na vida daqueles que rece-
bem a Jesus como seu único e suficiente Salvador
(Efésios 2.19). É uma comunhão, aliás, que ultra-
passa ao ajuntamento da congregação dos filhos
de Israel que, nos momentos de crise, reunia-se
como se fosse um só homem (Juízes 20.1). Hoje,
a Igreja permanece unida, universal e invisível, no
Espírito Santo e assim estará para todo o sempre.

O que é a comunhão
A comunhão é uma profunda cooperação en-
tre cristãos verdadeiros, baseados no amor ágape,
que produz relacionamentos interdependentes em
todas as áreas da vida, quer espiritual, física ou
emocional. A palavra grega koinonia traz a ideia
de cooperação e relacionamento espiritual entre
os santos. A comunhão da Igreja primitiva era
completa (Atos dos Apóstolos 2.42). Reuniam-se
em oração e súplica, mas também haviam reuniões
22
Silas Malafaia

para socorrer os mais necessitados.


Uma característica fundamental da Igreja pri-
mitiva era exatamente o companheirismo íntimo, o
amor fraternal que caracterizava os primeiros cris-
tãos. Essa é a palavra favorita de Paulo para descre-
ver a unidade dos cristãos, tanto uns com os outros,
como com o Senhor Jesus Cristo: Fiel é Deus, pelo
qual fostes chamados para a comunhão de seu Filho
Jesus Cristo, nosso Senhor (1 Coríntios 1.9). Tal com-
panheirismo era alicerçado basicamente na correta
relação de cada cristão com Deus, o que, por si só,
garantia o mesmo relacionamento entre os cristãos.
Tal comunhão florescia na forma de uma
partilha comunitária de bens, em que todos se
utilizavam de um fundo comum. É provável que
isso tivesse se tornado necessário por causa das
severas perseguições contra os cristãos judeus, o
que os reduziu a um estado de penúria, exigindo
que eles compartilhassem seus bens entre si, para
que pudessem sobreviver.
Entretanto, a vida comunitária da Igreja pri-
mitiva se alicerçava em mais do que no compa-
nheirismo, pois os cristãos, odiados por todos os
demais, naturalmente foram aproximados uns dos
outros como nunca, e começaram a viver em co-
munidades distintas e separadas, em resultado do
que dividiam entre si as suas possessões materiais
23
A Receita da Igreja Primitiva Para Um Crescimento Sadio

(Atos dos Apóstolos 2.44,45).


Não sabemos como resolveram o problema de
moradia. Não há qualquer indicação que nos mostre
que vivessem juntos, amontoados em um pequeno
espaço, como acontece nos casos modernos de vida
comunitária. Jesus e Seus discípulos levavam um tipo
de vida em comunhão, e o que sucedeu entre os
cristãos, após o dia de Pentecostes, foi apenas a con-
tinuação desse estilo de vida dos discípulos de Cristo.
Podemos examinar a comunhão da Igreja
primitiva sob os seguintes aspectos:
a) Os primeiros cristãos fundamentavam sua
fé comum em Jesus e no valor de Seu sacrifício
vicário, conforme a ideia expressa em Filipenses
2.1,2: Portanto, se há algum conforto em Cristo, se
alguma consolação de amor, se alguma comunhão
no Espírito, se alguns entranháveis afetos e com-
paixões, completai o meu gozo, para que sintais
o mesmo, tendo o mesmo amor, o mesmo ânimo,
sentindo uma mesma coisa.
b) A palavra “comunhão” pode indicar coope-
ração na obra do evangelho, segundo se verifica em
Filipenses 1.5 (De sorte que haja em vós o mesmo
sentimento que houve também em Cristo Jesus), e
não temos dúvida que isso também sucedia nessa
comunidade primitiva.
c) “Comunhão”, de igual modo, é um termo
24
Silas Malafaia

usado para indicar as contribuições para os neces-


sitados, como lemos em 2 Coríntios 8.4 e 9.13,
sendo essa, igualmente, uma característica daque-
la comunidade cristã primitiva, o que se tornava
extremamente necessário diante das perseguições
que privavam famílias, causando penúria entre
aqueles cristãos.
d) Esse termo igualmente está associado à
unidade de espírito e de amor entre os primeiros
cristãos, o que era expresso, especialmente, pelo
fato de que partiam juntos o pão, o que envolve o
rito comemorativo do sacrifício de Jesus na cruz.
A passagem de 1 João 1.3-7, demonstra que a ver-
dadeira comunhão, no sentido estritamente cristão,
só é possível quando se mantém relações corretas
com Deus, especialmente com respeito à santida-
de, à pureza e à conduta espiritual correta na vida.

O que é o partir do pão


“Comer pão” é uma expressão idiomática clás-
sica no Oriente Médio, que significa “comer uma
refeição”. Há muito ela já foi identificada como
um hebraísmo. O “partir do pão” era realizado
em vários lares, no primeiro dia da semana, em
comemoração ao dia da ressurreição do Senhor
Jesus. Como discípulos de Jesus, eram ainda todos
judeus; e, como judeus exemplares, iam ao templo
25
A Receita da Igreja Primitiva Para Um Crescimento Sadio

(Atos dos Apóstolos 2.46). Como judeus cristãos,


contavam com o favor do povo (Atos 2.47), e cres-
ciam em número dia a dia. Esse “partir do pão”
seria uma referência à Ceia do Senhor, à festa do
amor (à refeição da comunhão), ou a ambas.
Esse partir do pão normalmente descreve uma
ceia regular. É provável que os primeiros discípulos
se reunissem cada noite em uma casa e comessem
juntos. Essa refeição — chamada ágape (ceia do amor
cristão) — satisfazia a dois propósitos, que eram a
amizade e o cuidado dos pobres. É possível que se
celebrasse a Ceia do Senhor em cada uma dessas
reuniões. Certo teólogo afirma: “Pode-se dar como
certo que a mais antiga celebração da ceia (a Ceia
do Senhor) teve lugar durante uma refeição comum”.
Muitos cristãos supõem que isso se refere a
“tomar a ceia” e têm a ideia de cristãos primitivos
encontrando-se nas casas (v. 46) para comer um
pequeno pedaço de pão e beber uma porção sim-
bólica de vinho, ou de suco de uva, assim como
os cristãos de hoje fazem nas igrejas. No entanto,
devemos lembrar que o contexto não é o do cris-
tianismo do século 21, mas o judaísmo do primeiro
século. Para os judeus daquela época, assim como
para os de hoje, a comunhão é mediada por refei-
ções. Dizer que aqueles judeus cristãos partiam o
pão é afirmar que eles faziam juntos as refeições.
26
Silas Malafaia

É preciso captar o significado que comer jun-


to tem. Antes de mais nada, quando possível, os
judeus religiosos começam a refeição com pão e
recitam a gratidão a Deus (no hebraico, b’rakhah),
citado em Mateus 9.8. Então, tiram um pedaço
do pão e o comem, para que a bênção de Deus,
específica para a provisão do pão para comer, não
tenha sido recitada em vão.
Jesus conhecia e observava essa prática, mas
Ele também deu outro sentido ao ato de partir o
pão. Ao parti-lo na última ceia, Ele disse: Isto é o
meu corpo, que por vós é dado; fazei isso em me-
mória de mim (Lucas 22.19). Fica claro que essa
prática tornou-se parte da “doutrina dos apóstolos”,
de forma que os cristãos primitivos deveriam re-
memorar a morte de Jesus por eles, quando come-
çassem a refeição – embora alguns não tivessem
atingido este padrão (1 Coríntios 11.20-34). Então,
depois disso, toda a refeição deveria ser dedicada
à comunhão, a “ceia” no sentido comum do ter-
mo, e não apenas no sentido tecnicamente cristão
(pedaço de pão e cálice de vinho).

Características da comunhão na Igreja


primitiva
a) No livro do profeta Amós, capítulo 3, ver-
sículo 3, podemos ler: Andarão dois juntos, se não
27
A Receita da Igreja Primitiva Para Um Crescimento Sadio

estiverem de acordo? Os primeiros cristãos faziam


tudo em comum acordo. Hoje, testemunhamos uma
dificuldade evidente de convivermos uns com os
outros na igreja. É comum cristãos, que se reúnem
na igreja aos domingos, nunca tenham comparti-
lhado sua mesa para um café da manhã, ou para
um almoço, uns com os outros. Também é comum
que tais cristãos não tenham desfrutado de momen-
tos aprazíveis por meio de um passeio juntos, ou
reuniões em seus lares. Porém, na Igreja primitiva,
os cristãos faziam tudo juntos, pois havia um rela-
cionamento pessoal profundo. Possuíam prazer na
convivência mútua, o que nos falta terrivelmente
hoje! O que acontece hoje na igreja é um sintoma
do egocentrismo que impera em nosso meio.
b) Tinham tudo em comum (v. 44). Deste
texto podemos perceber vários fatos: inicialmente
aqueles primeiros cristãos reconheciam que todos
eles eram um só povo; segundo, reconheciam que
o cristão não tem “direitos”; terceiro, reconheciam
que cada um devia compartilhar com o outro
aquilo que possuía, conforme a necessidade de
cada um; quarto, eles realmente praticavam essa
cotização; quinto, cuidavam de fato dos necessi-
tados; sexto, aquela divisão era algo inteiramente
voluntário; sétimo, o benefício só era acessível aos
cristãos realmente necessitados; oitavo, tal atitude
28
Silas Malafaia

não era um “comunismo” cristão, pois se admitia


a posse de propriedades, e a distribuição visava
somente socorrer as necessidades da comunidade,
e não nivelar economicamente os cristãos. A Igreja
primitiva obedecia à instrução de Jesus em Lucas
12.33: Vendei o que tendes, e dai esmolas, e fazei
para vós bolsas que não se envelheçam, tesouro
nos céus que nunca acabe, aonde não chega la-
drão, e a traça não rói. O tesouro daquela comu-
nidade cristã não estava em seus bens materiais,
mas em Jesus Cristo!
Podemos concluir que um princípio funda-
mental no contexto da Igreja primitiva era de que
as pessoas eram mais importantes do que as coisas.
Hoje, na igreja, dá-se o contrário: as coisas são
mais importantes do que as pessoas. Se os cris-
tãos de hoje fossem mais generosos para com as
necessidades dos seus irmãos na fé, teríamos uma
igreja mais sadia!
c) Perseveravam unânimes, todos os dias, no
templo (v. 46). Os cristãos da Igreja primitiva man-
tinham-se juntos na adoração religiosa. Reuniam-se
no templo: esse era o lugar do encontro, pois nossa
comunhão conjunta com Deus é a melhor que po-
demos ter uns com os outros (1 João 1.3). Observe:
1) Os cristãos da Igreja primitiva estavam
diariamente no templo, não só nos sábados e fes-
29
A Receita da Igreja Primitiva Para Um Crescimento Sadio

tas solenes, mas também em outros dias. Adorar a


Deus tem de ser nossa atividade diária, e, sempre
que houver oportunidade, quanto mais vezes fi-
zermos publicamente, melhor. O Senhor ama as
portas de Sião (Salmo 87.2), e devemos imitá-lo.
2) Os cristãos da Igreja primitiva eram unâni-
mes. Não havia discórdia ou discussão entre eles,
somente amor santo. Com prazer e entusiasmo,
eles se reuniam nos cultos públicos. Embora se
agregassem aos judeus nos pátios do templo, os
cristãos mantinham reuniões exclusivamente suas,
e eram unânimes em suas orações separadas.
Aqueles cristãos viviam relacionamentos pessoais
abalizados por princípios espirituais. Conheciam
e viviam a Palavra, escrita em seus corações:

Uma coisa pedi ao Senhor e a buscarei: que


possa morar na Casa do Senhor todos os dias
da minha vida, para contemplar a formosura
do Senhor e aprender no seu templo.
Salmo 27.4

Porque vale mais um dia nos teus átrios do


que, em outra parte, mil. Preferiria estar à porta
da Casa do meu Deus, a habitar nas tendas da
impiedade.
Salmo 84.10

30
Silas Malafaia

Alegrei-me quando me disseram: Vamos


à Casa do Senhor!
Salmo 122.1

Havia entre eles o desejo de ver a igreja cres-


cer. O importante era o conjunto, e não o interesse
pessoal. Hoje, testemunhamos disputas por posição
na igreja, e por isso há tanta discórdia. Tenhamos
em mente a admoestação de Paulo aos cristãos de
Corinto:
Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de
nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos
uma mesma coisa e que não haja entre vós
dissensões; antes, sejais unidos, em um mesmo
sentido e em um mesmo parecer.
1 Coríntios 1.10

Portanto, podemos concluir que viver em


comunhão significa:
1) Ter harmonia no falar, pensar e agir. Não
vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; por-
que que sociedade tem a justiça com a injustiça?
E que comunhão tem a luz com as trevas? E que
concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte
tem o fiel com o infiel? (2 Coríntios 6.14,15). Nossas
atitudes muitas vezes nos levam a pecar e a trair
os princípios em que fomos ensinados. Devemos
31
A Receita da Igreja Primitiva Para Um Crescimento Sadio

buscar a coerência em tudo aquilo que fizermos.


Não podemos colocar-nos em jugo desigual em
nosso proceder.
2) Buscar a concordância em realizar a obra de
Deus. E, perseverando unânimes todos os dias no
templo e partindo o pão em casa, comiam juntos
com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus
e caindo na graça de todo o povo. E todos os dias
acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam
de salvar (Atos dos Apóstolos 2.46,47). Erramos quan-
do colocamos os interesses pessoais acima do nosso
chamado; quando queremos satisfazer o nosso ego
e alimentar o próprio ventre. A Igreja primitiva vivia
um tempo de alegria e realizações justamente porque
não se deixava levar por estes sentimentos. Isso os
fazia ser, a cada dia, mais e mais abençoados por
Deus. O segredo para termos esta comunhão plena
é buscarmos a Deus juntos em oração.
3) Se valer do poder da Nova Aliança. Semelhan-
temente, tomou o cálice, depois da ceia, dizendo:
Este cálice é o Novo Testamento no meu sangue, que
é derramado por vós. Mas eis que a mão do que me
trai está comigo à mesa. E, na verdade, o Filho do
Homem vai segundo o que está determinado; mas
ai daquele homem por quem é traído! (Lucas 22.20-
22). Na comunhão o espírito de traição é denuncia-
do. Quando não me valho desta Nova Aliança me
32
Silas Malafaia

torno frágil, pois a comunhão é desprezada. Somos


marcados por uma nova aliança, que garante prote-
ção, salvação, remissão e alegria. A aliança protege,
garante; traz salvação, porque foi através do sacrifício
de Jesus; temos remissão porque é aliança de sangue
e temos alegria porque é simbolizada pelo cálice.
Adotemos em nossa vida na igreja a mesma
comunhão vivida na Igreja primitiva, pois ela é a
garantia de um crescimento fundamentado e sadio!

33
Capítulo 3

Perseverando nas
orações
E perseveravam [...] nas orações.
Atos dos Apóstolos 2.42

Certo autor, escrevendo sobre a maior neces-


sidade da igreja, disse:
O que hoje a Igreja necessita não é de mais
e melhor maquinismo, de novas organizações ou
mais e novos métodos, mas de homens a quem o
Espírito Santo possa usar – homens de oração,
homens poderosos na oração. O Espírito Santo
não se derrama através dos métodos, mas por
meio dos homens. Não vem sobre maquinarias,
mas sobre homens. Não unge planos, mas ho-
mens – homens de oração.

Oração é a nossa maior necessidade, por isso


precisamos orar mais.
A Receita da Igreja Primitiva Para Um Crescimento Sadio

A primeira reunião da Igreja primitiva foi um


encontro de oração:

Então, voltaram para Jerusalém, do monte


chamado das Oliveiras, o qual está perto de
Jerusalém, à distância do caminho de um sá-
bado. E, entrando, subiram ao cenáculo, onde
habitavam Pedro e Tiago, João e André, Filipe
e Tomé, Bartolomeu e Mateus, Tiago, filho de
Alfeu, Simão, o Zelote, e Judas, filho de Tiago.
Todos estes perseveravam unanimemente em
oração e súplicas, com as mulheres, e Maria,
mãe de Jesus, e com seus irmãos.
Atos dos Apóstolos 1.12-14

As orações da Igreja primitiva foram cruciais


para os eventos sobrenaturais que marcaram os
primeiros dias desse novo movimento do Espírito.
Se há alguma lição nessa história, é que a oração
tem sido o fator que faz a diferença. Sem ela, não
haveria o registro de atos que nos causam tamanha
admiração. A Igreja primitiva foi estabelecida numa
reunião de oração, que durou de sete a dez dias (Atos
dos Apóstolos 1.13,14); ela continuou em oração
(Atos 2.42); e a oração sempre foi o seu sustentáculo.
A ocasião da primeira reunião de oração dos
discípulos, após a ascensão de Jesus, é inequivo-

36
Silas Malafaia

camente clara (Atos dos Apóstolos 1.13,14). A


motivação para essa primeira reunião veio dire-
tamente de Jesus, o Cabeça da Igreja. Embora Ele
não lhes ordenasse especificamente que orassem,
os discípulos sabiam muito bem que o tempo de
ficar em Jerusalém (Lucas 24.49) e esperar (Atos
1.4) deveria ser preenchido com oração. “Ficar”
é tradução do verbo grego kathizo, que significa
“sentar-se”, “estabelecer-se”, “permanecer”.
O dom prometido (Lucas 24.49; Atos 1.5) era
algo pelo qual valia a pena esperar. A intensida-
de com que desejavam o poder do Espírito Santo
está claramente demonstrada pelo modo como se
dedicavam à oração: Todos estes perseveravam
unanimemente em oração e súplicas (Atos 1.14).
Aquilo sobre o que oravam não ficou registrado em
Atos dos Apóstolos, exceto o pedido por orientação
na escolha do sucessor de Judas Iscariotes. Mas
suas orações, enquanto esperavam, deviam estar
relacionadas ao propósito da espera – a vinda do
Espírito Santo, como prometera o Senhor.
Praticamente nenhum cristão conscientizado
ignora a importância da oração. Mas a falta de uma
disciplina para orar depõe, não raro, contra a afir-
mação que procede de seus lábios. Os discípulos
na Igreja primitiva praticavam e faziam questão de
manter uma vida de oração. Dessa prática resultaram
37
A Receita da Igreja Primitiva Para Um Crescimento Sadio

sinais, intervenções miraculosas de Deus e o extraor-


dinário crescimento da Igreja (Atos 2.43). Lucas cita
uma ocasião em que os apóstolos se viram envolvidos
em um milagre (Atos 3.1-8). Isso aconteceu quando
estavam indo ao templo, à hora da oração: Pedro e
João subiam juntos ao templo à hora da oração, a
nona (Atos 3.1). Nessa breve referência, não há ne-
nhuma menção de que a oração fosse algo particular
ou restrito a um grupo de privilegiados. Seu lugar
específico era o templo, e a hora marcada era três
da tarde, para ninguém ficar de fora.
Todo cristão deve dedicar tempo para a ora-
ção. Mais importante, porém, são a sinceridade e a
comunhão consciente com Deus, qualidades essas
que devem caracterizar toda a oração que se faz a
Ele. Uma disciplina muito rígida pode descambar
em escravidão, como parece ter acontecido com a
comunidade judaica, com seus três períodos fixos
de oração diária: às nove da manhã, às três da tarde
(a nona hora do dia) e ao cair da noite (1 Crônicas
23.30 só fala em dois períodos diários de oração;
mas consulte o Salmo 55.17 e Daniel 6.10).
Apesar dessa prática regular ser recomendá-
vel, cumpre ao cristão estar sempre vigilante, para
que o período reservado à oração não degenere em
mera demonstração externa. Que ninguém pense
que é possível substituir a comunhão sincera e
38
Silas Malafaia

significativa com Deus por demonstrações vãs de


religiosidade.
É especialmente significativo o fato de Pedro e
João terem ido juntos ao lugar da oração. Por con-
seguinte, eles estavam juntos quando aconteceu
aquele milagre surpreendente. Uma vez mais nos
vem à mente o ensino de Jesus: Também vos digo
que, se dois de vós concordarem na terra acerca
de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito
por meu Pai, que está nos céus (Mateus 18.19).
Evidentemente, houve certa afinidade de espírito
entre aqueles dois homens, resultando na concor-
dância abençoada e santa que atraiu a atenção do
Deus todo-poderoso.
Pedro e João foram instrumentos usados por
Deus para levar a cura, de modo extraordinário, a
um homem que desde o nascimento era incapaz
de andar (Atos dos Apóstolos 3). Indignados diante
do que os dois ensinavam e faziam, os sacerdotes
e o capitão da guarda do templo, juntamente com
os saduceus, ordenaram que eles fossem lançados
na prisão (At 4.1-3).
Mas, no dia seguinte, Pedro, renovado pelo
Espírito Santo (At 4.8), pregou destemidamente a
todos os seus opositores. Finalmente, após serem
ameaçados pelas autoridades, Pedro e João tiveram
permissão para ir embora. Retornando à companhia
39
A Receita da Igreja Primitiva Para Um Crescimento Sadio

dos irmãos, deram-lhes notícias da proibição feita


pelos principais sacerdotes e anciãos, isto é, de
que não deveriam mais nem falar e nem ensinar no
nome de Jesus. Esse decreto pôs a Igreja primitiva
de joelhos, em oração (At 4.24-31).
Na oração da Igreja primitiva, os cristãos tam-
bém reconheceram a onisciência de Deus e a Sua
predeterminação em tudo quanto acontecera ao Se-
nhor Jesus (Atos 4.25-28). Os sofrimentos e a morte
de Jesus continuavam bem vivos na mente deles.
O conhecimento da onisciência de Deus e
Seu completo controle sobre tudo que acontece é
igualmente vital para os cristãos hoje em dia. Isso
nos assegura que Deus está consciente de todas os
infortúnios da vida e jamais é pego de surpresa. Ele
continua sendo a Majestade suprema, o Soberano
que prevê e predetermina tudo quanto sucede no
universo. É Ele quem nos dá o livre-arbítrio e per-
mite saber que podemos confiar tudo inteiramente
aos Seus cuidados.
Todos nós vivemos tempos difíceis, nos quais
as tribulações parecem que vão avassalar-nos. A
preocupação e a oração, nessas ocasiões, deveriam
visar menos a prevenção e a remoção das aflições e
mais a obtenção de forças e a decisão de enfrentá-
-las com bom ânimo e confiança. Quando amea-
çados, a reação daqueles combatentes cristãos não
40
Silas Malafaia

foi a retirada e o silêncio. Também não apelaram


para que Deus fizesse parar as ameaças, trazendo
julgamento contra os que os pressionavam. Ao con-
trário, pediram foi ousadia e poder para declarar
intrepidamente a mensagem que tinham. Enfren-
taram a oposição com coragem e plena confiança,
porque sabiam que Deus tinha consciência de sua
situação. O Deus que os comissionara a declarar a
Sua mensagem poderia confirmar o ministério deles
com sinais e maravilhas. Tinham absoluta certeza
de que as manifestações miraculosas seriam um
amém divino aos seus esforços, testificando que
Deus, de fato, estava trabalhando por meio deles.
Aqueles cristãos do primeiro século não po-
diam subsistir em seu andar sem uma comunhão
frequente com Deus – e nem o podem os cristãos
deste século. Deus nos dá graça para o momento,
mas não nos enche, como se fôssemos um reser-
vatório, com relação ao futuro. Os seguidores de
Jesus devem pôr em prática uma comunhão cons-
tante com Deus. E o meio para atingirmos esse fim
é uma vida de oração transbordante!

41
Capítulo 4

Temendo e
louvando a Deus

Em cada alma havia temor, e muitas ma-


ravilhas e sinais se faziam pelos apóstolos [...]
louvando a Deus e caindo na graça de todo o
povo. E todos os dias acrescentava o Senhor à
igreja aqueles que se haviam de salvar.
Atos dos Apóstolos 2.43,47

O mais dinâmico ingrediente da Igreja primi-


tiva, talvez por ser aquele que se encontrava como
base para todos os outros, era o binômio constituído
pelo temor e louvor que eram direcionados a Deus.
A palavra “temor” (no original grego phóbos,
“medo”) neste caso, não indica que aqueles que
foram recebidos na Igreja primitiva, após o batismo,
não fossem realmente homens regenerados, ou que
muitos deles fossem seguidores meramente tempo-
rários, como sucedeu em diversos casos, durante
o ministério terreno do Senhor Jesus.
A Receita da Igreja Primitiva Para Um Crescimento Sadio

O mais provável é que Lucas tenha se utiliza-


do neste caso da palavra “temor” para mostrar-nos
quão profunda era a reverência que cada cristão
demonstrava, pois eles consideravam muito im-
portante as questões espirituais, sendo que haviam
ficado muito impressionados com a capacidade
miraculosa conferida aos apóstolos, que eram
exercidas entre eles quase diariamente.
O temor respeitoso continuava imperando e
acompanhando os sinais e as maravilhas que apa-
reciam nos apóstolos. As duas coisas corriam jun-
tas—quanto mais maravilhas, maior era o temor.
Não devemos supor que o temor dos primeiros
discípulos era equivalente a “terror”. Pelo contrá-
rio, era respeito reverente, embora, provavelmente,
fosse mais do que isso. Era um sentido genuíno de
temor, diante de ocorrências obviamente milagro-
sas, porquanto a exibição da presença do Espírito
Santo era grande, e os homens não estavam acostu-
mados a serem visitados tão frequentemente pelos
poderes espirituais.
As palavras “cada alma”, neste versículo, sem
dúvida se referem aos cristãos, embora não deva-
mos limitá-las a isso. Lucas evidentemente queria
mostrar que mesmo os incrédulos estavam atônitos,
cheios de temor, em face da exibição do poder di-
vino que se manifestava; porque, tal como sucedia
44
Silas Malafaia

nos dias de Jesus, entre os apóstolos agora também


se multiplicavam as maravilhas, muitas delas bem
autenticadas, de modo que era impossível negar
o que acontecia.
Os cristãos não reconheciam apenas a co-
munhão. Antes, sabiam que haveriam de compar-
tilhar da imagem perfeita e da natureza de Jesus,
e diariamente presenciavam provas de que Cristo
estava com eles, de que a Sua redenção era um
fato. Por conseguinte, não cessavam de louvar a
Deus, conforme também sucederia a qualquer
pessoa convicta dessas realidades. Louvavam a
Deus como fonte de onde derivavam todas as suas
bênçãos espirituais e materiais, viam o Senhor em
tudo e exaltavam as Suas obras misericordiosas.
É interessante notar que Lucas encerra o seu
evangelho com esse tom de louvor, e que as ale-
luias provocadas pela ressurreição de Jesus, bem
como por Sua ascensão, são aqui originadas pela
devoção diária que a Igreja primitiva manifestava
para Cristo, que se aprofundou ainda mais após a
experiência do Pentecostes.
Um comentário final nota que a atividade
evangelizadora da igreja continuava diariamente.
Na medida em que os cristãos eram ouvidos pelo
restante do povo em Jerusalém, suas atividades for-
mavam uma oportunidade para o testemunho. Mais
45
A Receita da Igreja Primitiva Para Um Crescimento Sadio

uma vez, Lucas se refere ao processo de tornar-se


cristão como o ser salvo, ou seja, salvo de pertencer
ao povo pecaminoso em derredor que está sob o
julgamento divino por ter rejeitado Jesus.
Apenas uma frase. Cinco palavras: “Em cada
alma havia temor”. Esta frase está num contexto
no qual Lucas estava descrevendo o modo de vida
daqueles que haviam sido alcançados e transfor-
mados pela graça de Deus. Esta é a frase-chave na
descrição da Igreja primitiva. Tomemos esta frase
como uma lupa para conduzir a nossa leitura dos
versículos anteriores e posteriores.
Em cada alma havia temor, por isso perse-
veravam na doutrina dos apóstolos e também na
comunhão. Havia temor em cada alma e por causa
disso perseveravam no partir do pão e nas orações.
O temor respeitoso estava em cada um, e em con-
sequência, muitos prodígios e sinais eram feitos por
meio dos apóstolos. Todos os que criam estavam
juntos e tinham tudo em comum, por isso partiam
pão de casa em casa e tomavam as suas refeições
com alegria e singeleza de coração. Todas essas
atitudes existiam porque havia temor em todas as
almas. E, então, por isso louvavam a Deus e conta-
vam com a simpatia de todo o povo. Em cada alma
o temor estava presente, então lhes acrescentava o
Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos.
46
Silas Malafaia

Nesta pequena frase está a explicação para


o fato de aquela igreja ter experimentado a ação
sobrenatural de Deus em seu meio, fazendo-a cres-
cer de forma extraordinária de modo que, dentro
de pouco tempo, foi ela acusada de ter enchido
Jerusalém com a sua doutrina (Atos dos Apóstolos
5.28).
Em cada alma havia temor. Em cada alma
precisa haver temor – o temor do Senhor. Não de-
vemos ter dúvidas de que esse é o caminho. Essa é
a direção. Esse deve ser o propósito de cada cristão,
e deve ser a proposta de cada igreja.
O temor do Senhor é o ingrediente que não
pode faltar na vida de cada cristão. Se faltar, falta
tudo, e não resta nada. Mas, mesmo assim, hoje
nos falta o temor a Deus. Testemunhamos em nosso
meio um verdadeiro culto à personalidade. Exata-
mente como acontece fora dos limites da igreja, no
mundo ímpio e sem Deus, assim agimos também.
O mundo exalta artistas, socialites, jogadores de
futebol, e o galã da novela da TV. Na igreja temos
exaltado e “cultuado” personalidades também. Esse
ou aquele cantor famoso, esse ou aquele pregador
requisitadíssimo... E Deus, na realidade, é mantido
do lado de fora. Devemos manter em nossa mente
o teor do mais belo hino de adoração cristã, com-
posto pelo apóstolo Paulo:
47
A Receita da Igreja Primitiva Para Um Crescimento Sadio

Ó profundidade das riquezas, tanto


da sabedoria, como da ciência de Deus!
Quão insondáveis são os seus juízos, e quão
inescrutáveis, os seus caminhos! Porque quem
compreendeu o intento do Senhor? Ou quem foi
seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a
ele, para que lhe seja recompensado? Porque
dele, e por ele, e para ele são todas as coisas;
glória, pois, a ele eternamente. Amém!
Romanos 11.33-36

A Deus pertence toda a glória, e Ele não a


dá a ninguém! Que passemos a ser como a Igreja
primitiva, onde havia temor a Deus e o louvor era
direcionado apenas ao Senhor! Somente assim
seremos uma igreja sadia e experimentaremos um
crescimento sem igual!

48
Capítulo 5

Recebendo
abundante graça
E os apóstolos davam, com grande poder,
testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e
em todos eles havia abundante graça.
Atos dos Apóstolos 4.33

O último ingrediente da receita da Igreja pri-


mitiva para um crescimento sadio vem a ser muito
mais consequência do que causa. Como resultado
de uma atitude que definiu um estilo de vida da
Igreja primitiva, sobre todos aqueles primeiros
cristãos havia abundante graça.
Aquele poderosíssimo testemunho por eles
demonstrado, sem dúvida alguma, era dado tanto
através de palavras como através de ações, tanto
mediante ensinamentos exaltados como mediante
milagres admiráveis, porque tudo isso caracteriza-
va o ministério dos apóstolos de Cristo desde o dia
de Pentecostes.
A Receita da Igreja Primitiva Para Um Crescimento Sadio

A ação conjunta da comunidade cristã, neste


caso, é considerada como prova da ressurreição do
Senhor Jesus, porque tais ações são encaradas como
atos inspirados pelo Seu poder e pela Sua autorida-
de, bem como resposta à oração. O Espírito Santo
estava com os discípulos, fazendo deles testemunhas
poderosas da realidade da mensagem cristã, auten-
ticando especialmente as reivindicações de Cristo,
de ser Ele o Messias, ficando assim comprovada a
Sua ressurreição. Por conseguinte, a mensagem de
Cristo devia ser ouvida, obedecida e praticada.
O vocábulo grego aqui traduzido por “da-
vam”, na realidade, poderia ser traduzido por “de-
volviam”, o que subentende que o testemunho dos
apóstolos, em favor da ressurreição de Cristo (sendo
isto em favor de suas reivindicações messiânicas),
era alguma coisa a que os apóstolos sentiam o de-
ver de demonstrar. A vida dos cristãos primitivos
continuamente testificava da ressurreição do Se-
nhor. Mas, o que vem a ser, na realidade, “graça”?
Se perguntarmos a alguns cristãos o que pen-
sam sobre a graça, provavelmente muitos estariam
de acordo com a seguinte definição: A graça é a
bondosa disposição de Deus para perdoar os pe-
cadores arrependidos.
A palavra grega traduzida por “graça” pro-
vavelmente equivale à palavra hebraica chesed,
50
Silas Malafaia

que significa misericórdia, um termo muito usado


pelos salmistas para descrever o caráter de Deus.
No Novo Testamento, a palavra charis geralmente
quer dizer favor divino ou boa vontade, embora
também signifique “o que traz grande alegria” ou
“dom gratuito”. A palavra grega é digna de toda
atenção, porque, além de ser uma das palavras
que Paulo mais gostava de usar para descrever o
dom gratuito de Deus para a salvação, também foi
utilizada por Pedro com o mesmo significado em
Atos dos Apóstolos 5.11.
A graça e a misericórdia têm duas distinções
importantes. Primeiro, a misericórdia é universal,
a graça é particular. A misericórdia se baseia no
mandato universal de Deus para que nos arrepen-
damos: Mas Deus, não tendo em conta os tempos
da ignorância, anuncia agora a todos os homens,
em todo lugar, que se arrependam (Atos 17.30).
Inerente a este mandamento se assume que
o pecador arrependido será perdoado. Existe uma
oferta divina de misericórdia para toda a humani-
dade. Por esta razão, Deus nunca pode ser acusado
de injusto meramente porque alguns recebem uma
graça especial. Deus nunca rejeita um pecador
arrependido.
A salvação do homem é vista pelas religiões
do mundo inteiro apenas de dois modos: o homem
51
A Receita da Igreja Primitiva Para Um Crescimento Sadio

é salvo pelos seus méritos ou pela graça de Deus.


A salvação é um caminho aberto pelo homem da
terra ao céu ou é resultado do caminho que Deus
abriu do céu a terra. O homem constrói sua própria
salvação pelo seu esforço ou recebe a salvação
como dádiva imerecida da graça divina. Não existe
um caminho alternativo nem uma conexão que re-
úna esses dois caminhos. É impossível ser salvo ao
mesmo tempo pelas obras e pela graça; chegar ao
céu pelo merecimento próprio e ao mesmo tempo
através de Cristo.
1. A graça de Deus é um favor concedido a
pecadores indignos. Deus não nos amou, esco-
lheu, chamou e justificou por causa dos nossos
méritos, mas apesar dos nossos deméritos. A causa
da salvação não está no homem, mas em Deus;
não está no mérito do homem, mas na graça do
Senhor, não está naquilo que fazemos para Ele,
mas no que Ele fez por nós. Deus não nos amou
porque éramos receptivos ao Seu amor, mas
amou-nos quando éramos fracos, ímpios, pe-
cadores e inimigos. Deus nos escolheu não por
causa da nossa fé, mas para a fé; o Senhor nos
escolheu não porque éramos santos, mas para
sermos santos; não porque praticávamos boas
obras, mas para as boas obras; não porque éramos
obedientes, mas para a obediência.
52
Silas Malafaia

2. A graça de Deus é concedida não aos que se


julgam merecedores, mas àqueles que reconhecem
que são pecadores. Aqueles que se aproximam de
Deus com altivez, cheios de si mesmos, ostentan-
do uma pretensa espiritualidade, considerando-se
superiores e melhores do que os demais homens
são despedidos vazios. Porém, aqueles que batem
no peito, cônscios de seus pecados, lamentam sua
deplorável condição e se reconhecem indignos do
amor divino, esses encontram perdão e justificação.
A graça de Deus não é dada ao homem como um
prêmio, é oferta imerecida; não é um troféu de honra
ao mérito que o homem ostenta para a sua própria
glória, mas um favor que recebe para que Deus seja
glorificado.
3. A graça de Deus não é o resultado das obras,
mas as obras são o resultado da graça. Graça e
obras estão em lados opostos. Não podem cami-
nhar pela mesma trilha como a causa da salvação.
Aqueles que se esforçam para alcançar a salvação
pelas obras rejeitam a graça e aqueles que recebem
a salvação pela graça não podem ter a pretensão de
contribuir com Deus com suas obras. A salvação é
totalmente pela graça, mediante a fé, independente
das obras. As obras trazem glória para o homem; a
graça exalta a Deus. A graça desemboca nas obras e
as obras proclamam e atestam a graça. As obras são
53
A Receita da Igreja Primitiva Para Um Crescimento Sadio

o fruto e a graça a raiz. As obras são a consequência


e a graça a causa. As obras nascem da graça e ela
é refletida através das obras.
4. A graça de Deus é recebida pela fé e não
por meio das obras. A salvação que a graça traz
é recebida pela fé e não por meio das obras. Não
somos aceitos diante de Deus pelas obras que fa-
zemos para Deus, mas pela obra que Cristo fez por
nós na cruz. A fé não é meritória, é dom de Deus. A
fé é o instrumento mediante o qual tomamos posse
da salvação pela graça. O apóstolo Paulo sintetiza
este ensino, em sua carta aos Efésios:

Porque pela graça sois salvos, por meio


da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus.
Não vem das obras, para que ninguém se glorie.
Porque somos feitura sua, criados em Cristo Je-
sus para as boas obras, as quais Deus preparou
para que andássemos nelas.
Efésios 2.8-10

Desde o Pentecostes, a Igreja primitiva, cheia


do Espírito Santo, crescia em número e em graça.
Permanecia firme na Palavra e arraigada na ora-
ção. Tinha intimidade com Deus e simpatia aos
olhos do povo. Adorava a Deus com entusiasmo
e com temor. Nessa igreja havia uma liderança
54
Silas Malafaia

cheia do Espírito e um povo comprometido com


a santidade. Além disso, havia abundante graça
sobre cada um! Cinco verdades nos chamam a
atenção.
1) Havia abundante graça, apesar de atroz
perseguição (Atos dos Apóstolos 4.3). Os líderes
da igreja estavam sendo encerrados em prisão e
açoitados, não porque fossem delinquentes e per-
turbadores da ordem social, mas porque pregavam
o poderoso evangelho de Cristo. Uma igreja fiel
sempre despertará a fúria do mundo. Uma igreja
santa sempre incomodará uma sociedade rendida
ao pecado. Porém, apesar de viver debaixo de
opressão, a igreja tinha abundante graça, exube-
rante alegria e poderoso testemunho.
2) Havia abundante graça manifestada num
ousado testemunho (4.8). A igreja dava audacioso
testemunho do evangelho mesmo debaixo das
ameaças mais ruidosas. Em vez de a igreja recu-
ar e calar sua voz diante dos açoites e prisões,
tornou-se mais intrépida. O apóstolo Pedro, cheio
do Espírito Santo, deixou claro que a cura do pa-
ralítico (descrita em Atos dos Apóstolos 3) não era
um prodígio realizado por seu próprio poder. Era
uma obra soberana de Jesus, o mesmo que vence-
ra a morte, ressuscitando dentre os mortos. Pedro
não se concentra no milagre da cura, mas anuncia
55
A Receita da Igreja Primitiva Para Um Crescimento Sadio

Jesus como o único que pode salvar o pecador. O


milagre não é o evangelho, mas abre portas para
o evangelho. Pedro não hesitou em proclamar no
quartel general do judaísmo que o Messias espe-
rado era o Jesus que havia sido crucificado em
Jerusalém e levantado da morte!
3) Havia abundante graça demonstrada em
fervorosa oração (Atos 4.24). Enquanto a lide-
rança da igreja é ameaçada pelas autoridades
no front da batalha, ela fica na retaguarda da
oração. Em vez de esses cristãos perderem a co-
ragem e o fervor espiritual diante da perseguição,
entregaram-se à oração com mais vigor, sabendo
que Deus é soberano e que até mesmo as ações
mais perversas dos ímpios estão rigorosamente
sob o Seu controle. A igreja não pede que a per-
seguição cesse, mas poder para testemunhar no
meio da perseguição. A igreja não pede ausência
de luta, mas oportunidade para pregar. Enquanto
os cristãos oravam, o Espírito Santo desceu sobre
eles. A casa onde estavam reunidos tremeu e to-
dos, com ousadia, deram testemunho de Cristo.
Não há poder sem oração e não há eficácia na
pregação sem oração. A igreja não precisa dos
aplausos do mundo, mas do poder do Espírito
Santo. Não precisa do reconhecimento da terra,
mas da intrepidez do céu.
56
Silas Malafaia

4) Havia abundante graça revelada na pleni-


tude do Espírito Santo (Atos 4.31). Quando a igreja
orou, os céus se abriram, o Espírito Santo desceu
e todos ficaram cheios dele. Antes desse revesti-
mento de poder a igreja estava trancada por medo;
agora, é trancada por falta de medo. Antes, eles
temiam os açoites das autoridades, agora são as
autoridades que temem a igreja. Uma igreja cheia
do Espírito é irresistível. Ela não teme ninguém a
não ser a Deus. Ela não foge de nada exceto do
pecado. Um cristão cheio do Espírito Santo pode
até ser preso e algemado, mas se torna um embai-
xador em cadeias. Os homens podem prender-nos,
mas jamais prenderão a Palavra de Deus!
5) Havia abundante graça comprovada pela
visível generosidade (Atos dos Apóstolos 4.32).
Uma igreja cheia de graça é apegada às pessoas
e desapegada das coisas. Não retém os bens ape-
nas para si; os distribui com generosidade. Não
acumula com ganância, mas compartiha com
generosidade. Ama não apenas de palavras, mas
de fato e de verdade. Suas obras são o avalista de
suas palavras. Prega não apenas aos ouvidos, mas
também aos olhos!
Vimos, então, que para que a Igreja primitiva
experimentasse todo aquele crescimento sadio e
eficaz, foram necessários todos esses ingredientes.
57
A Receita da Igreja Primitiva Para Um Crescimento Sadio

Porém, para que todos eles funcionassem, para


que fossem aplicáveis e gerassem resultados, algo
primordial foi necessário que antes ocorresse, que
está registrado em Atos 2.1-13 – o derramamento
do Espírito Santo.
Devemos, também, perseverar nos in-
gredientes que aqui estudamos, mas também
precisamos colocar-nos na presença de Deus
e clamar, noite e dia, para que Ele derrame o
Espírito Santo sobre o nosso país, nossa igreja,
nossa vida e família. Pois somente assim expe-
rimentaremos também o que a Igreja primitiva
vivenciou naquele momento: sinais e prodígios
de tal monta que haverá um grande mover nesta
nação! Busquemos ao Senhor, e haverá vitória e
crescimento como jamais vimos!
Aleluia!

Ore comigo:
Deus, que eu possa receber, com todo o
meu coração, a Tua Palavra que estudei neste
livro. Que o exemplo de vida e dedicação da
Tua Igreja primitiva seja capaz de modificar
os valores sobre os quais a minha vida está
fundamentada. Que haja em mim uma perse-
verança em cumprir os Teus propósitos, de tal
maneira que eu experimente a Tua doutrina,

58
Silas Malafaia

a comunhão verdadeira, um santo temor e


ofereça um puro louvor somente a ti. Peço que
me abençoes, me guardes e me proporciones
uma vida nova, cheia do Teu poder, e que eu
experimente, então, um novo tempo. Que eu
seja testemunha do poder que existe somente
em ti. Em nome do Teu amado Filho, Jesus,
meu Senhor e Salvador.
Amém e amém!

59
EDITORA CENTRAL GOSPEL
Estrada do Guerenguê, 1851 - Taquara
Rio de Janeiro - RJ - Cep: 22713-001
Tel: (21) 2187-7000
www.editoracentralgospel.com

Você também pode gostar