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HISTÓRIA DAS RELIGIÕES MUNDIAIS

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1 INTRODUÇÃO

Este curso foi organizado de maneira a proporcionar um diálogo com algumas


especificidades da área, possibilitando uma formação mais ampla do docente no
sentido de tornar o conhecimento mais ativo e relevante para ele e,
consequentemente, para o aluno.
Salientamos que o material contido nas apostilas é bastante atualizado, e
condizente com o magistério no Ensino Religioso Escolar. Salientamos ainda que
foram também consideradas a leitura e utilização de autores e livros considerados
clássicos, que são sempre base para novas discussões e novas pesquisas. Também
é fato que não há nenhuma pretensão de esgotar os assuntos, apenas lançar as
discussões e deixar uma extensa bibliografia ao final de cada caderno da apostila que
possibilitará novas pesquisas e esclarecimentos de dúvidas que poderão surgir.
Notadamente deixamos claro que o assunto religião é bastante amplo e que neste
trabalho não há a intenção de privilegiar esta ou aquela corrente religiosa e nem
tampouco denegrir qualquer que seja a vertente.
Este curso tem objetivos claros e específicos no sentido capacitar mais e
melhor o graduado para o exercício da docência no Ensino Religioso Escolar, no
entanto, colocamo-nos à disposição para eventuais críticas e opiniões que certamente
poderão aperfeiçoar mais e melhor os nossos trabalhos.
Tratando-se de um curso EAD – Ensino à distância os alunos que ingressam
nesta especialização podem escolher a melhor forma para estudar e se preparar. O
que gostaríamos de colocar é que quanto mais capacitado estiver o professor, melhor
poderá desempenhar as suas funções e, também, mais preparado estará para
enfrentar o mercado de trabalho na área da educação.
Nós lhes desejamos uma boa leitura e bons estudos.

2 RELIGIÕES SURGIDAS NO ORIENTE MÉDIO

Nesse primeiro momento focaremos em fornecer um singelo panorama das três


principais religiões monoteístas trazendo algumas de suas singularidades. - As
semelhanças entre as três religiões monoteístas: Para Oliveira (2009, s/p) o Islamismo
reconhece elementos de verdade no Judaísmo e no Cristianismo, isto é, o Islamismo

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nada mais é que um mix destas duas religiões a começar por reconhecer os Livros
Sagrados os mesmos (Torá e o Novo testamento) e Moisés e Cristo como profetas.
São religiões também que visam salvação e detentoras de revelações escritas.
As três religiões creem em um só Deus, tiveram sua época de perseguições e
seguiam um líder espiritual. Acreditavam na existência de anjos. A crença no Juízo
final, paraíso e inferno. A fé e a ascese como forma de cultivar a própria vida dando
ênfase à uma atitude libertadora onde havia o diálogo entre divindade e as pessoas é
comum, uma mística também era comum.
O amor está na base de todas as religiões, os mandamentos também são
inerentes à todas como código de ética. A liberdade é fundamental, são religiões
reveladas onde são vistas como dotadas da “Verdade” e predestinação. Alma e
espírito também são conceitos semelhantes, assim como o sofrimento e a ajuda
“Justiça-graça” não funciona sem uma intervenção justa de Deus.
- As diferenças entre as três religiões monoteístas: De acordo com Oliveira
(2009, s/p) as diferenças básicas consistem em três: A Trindade, a figura de Cristo e
a ética. Depois vêm outras diferenças menores.
A Trindade cristã (Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo) é vista pelas
outras duas religiões monoteístas como um enfraquecimento da ideia da unidade de
Deus, principalmente os judeus veem a trindade como um retrocesso para o
paganismo.
Cristo para os cristãos é Deus filho encarnado quando no Islamismo ele é mais
um profeta, já para os Judeus a opinião pode ser dividida, isto é, uns podem até acha-
lo um professor ético e outros que ele apenas foi um homem e nada mais, mas
Messias, jamais.
A ética se diferencia no ponto de que no judaísmo é vista como “não faça para
o outro aquilo que não queres para si”, a cristã é resumida em valores básicos para a
convivência de todos como imagem e semelhança de Deus e a Islâmica o ponto
fundamental é a justiça como o que dá o equilíbrio da convivência total.
A questão do livre arbítrio para o cristão é que já nascemos com a mácula do
pecado original, já o judeu não acredita nisto, isto é, todos nascem com boas ou más
inclinações, resta-nos escolhermos. Os símbolos também são diferenciados como no
Judaísmo é o candelabro de sete braços, a menorá dos tempos bíblicos, do
cristianismo a cruz e do Islamismo é um texto escrito o nome de Deus. (OLIVEIRA,
2009, s/p).
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2.1 Cristianismo

De acordo com Brito (2008, s/p) o cristianismo é uma religião monoteísta


baseada na vida e nos ensinamentos de Jesus de Nazaré, tais como estes se
encontram recolhidos nos Evangelhos, parte integrante do Novo Testamento. Os
cristãos acreditam que Jesus é o Messias e como tal referem-se a ele como Jesus
Cristo. Com cerca de 2,1 bilhões de adeptos (segundo dados de 2001), o cristianismo
é hoje a maior religião mundial. É a religião predominante na Europa, América do
Norte, América do Sul, Oceania e em grande parte de África. O cristianismo começou
no século I como uma seita do judaísmo, partilhando por isso textos sagrados com
esta religião, em concreto o Tanakh, que os cristãos denominam de Antigo
Testamento.
À semelhança do judaísmo e do islã, o cristianismo é considerado como uma
religião abraâmica. Segundo o Novo Testamento, os seguidores de Jesus foram
chamados pela primeira vez “cristãos” em Antioquia (Atos 11:26). Embora existam
diferenças entre os cristãos sobre a forma como interpretam certos aspectos da sua
religião, é também possível apresentar um conjunto de crenças que são partilhadas
pela maioria deles.
- Monoteísmo: O cristianismo herdou do judaísmo a crença na existência
de um único Deus, criador do universo e que pode intervir sobre ele. Os seus atributos
mais importantes são por isso a onipotência, a onipresença e onisciência. Outro dos
atributos mais importantes de Deus, referido várias vezes ao longo do Novo
Testamento, é o amor: Deus ama todas as pessoas e estas podem estabelecer uma
relação pessoal com ele através da oração. A maioria das denominações cristãs
professa crer na Santíssima Trindade, isto é, que Deus é um ser eterno que existe
como três pessoas eternas, distintas iguais e indivisíveis: o Pai, o Filho e o Espírito
Santo. A doutrina das denominações cristãs difere do monoteísmo Judaico visto que
no judaísmo não existem três pessoas da Divindade, há apenas um único Deus, e o
Messias que virá será um homem, descendente do rei Davi. Algumas denominações
professam crer na Santíssima Trindade, isto é, que Deus é um ser eterno que existe
como três pessoas eternas, distintas e indivisíveis: o Pai, o Filho, e o Espírito Santo.
Existem ainda outras denominações que creem em duas pessoas da Divindade o Pai

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que deve ser adorado e o Filho que não tem nenhum direito na Divindade em
adoração. - Jesus: Outro ponto crucial para os cristãos é o da centralidade da figura
de Jesus Cristo. Os cristãos reconhecem a importância dos ensinamentos morais de
Jesus, entre os quais salientam o amor a Deus e o amor ao próximo, e consideram a
sua vida como um exemplo a seguir. Acreditam que Ele é o Filho de Deus (o próprio
Deus encarnado) que veio a Terra libertar os seres humanos do pecado através da
sua morte na cruz e da sua ressurreição, embora variem entre si quanto ao significado
desta salvação e como ela se dará. Para ser considerado cristão é fundamental a
crença de que Jesus é completamente divino (Deus) e completamente humano
(homem).
- A salvação: Acreditam os cristãos que a fé em Jesus Cristo proporciona
aos seres humanos a salvação e a vida eterna. Alguns julgam que precisam cumprir
certas obras para obter a salvação (salvação por obras) e outros que, embora o que
salve seja a fé, esta apenas pode ser demonstrada se a pessoa agir de acordo com
aquilo que crê (salvação pela fé no sacrifício).
- A vida depois da morte: A visão cristã sobre a vida depois da morte
envolve, de uma maneira geral, a crença no céu e no inferno. A Igreja Católica
considera que para além destas duas realidades existe o purgatório, um local de
purificação onde ficam as almas que morreram em estado de graça, mas que
cometeram pecados.

A Igreja: Os cristãos acreditam na Igreja, entendida como a comunidade de


todos os cristãos e como corpo místico de Cristo presente na Terra e sua continuidade.
As principais igrejas ligadas ao cristianismo são: a Igreja Católica, as Igrejas
Protestantes, as Igrejas Petencostais, as Igrejas Neopetencostais e a Igreja Ortodoxa
Sobre as diferenças nas crenças, Brito (2008, s/p) aponta que o credo de Nicéia
formulado nos concílios de Niceia e Constantinopla, foi ratificado como credo universal
da Cristandade no Concílio de Éfeso de 431. Os cristãos ortodoxos orientais não
incluem no credo a cláusula filioque, que foi acrescentada pela Igreja Católica mais
tarde. As crenças principais declaradas no Credo de Niceia são: A crença na Trindade;
Jesus é simultaneamente divino e humano; A salvação só é possível através da
pessoa, vida e obra de Jesus; Jesus Cristo foi concebido de forma virginal, foi
crucificado, ressuscitou, ascendeu ao céu e virá de novo a Terra; A remissão dos
pecados é possível através do batismo; Os mortos ressuscitarão. Na altura em que foi

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formulado, o Credo de Niceia procurou lidar diretamente com crenças que seriam
consideradas heréticas, como o arianismo, que negava que o Pai e Filho eram da
mesma substância, ou o gnosticismo. A maior parte das igrejas protestantes partilha
com a Igreja Católica a crença no Credo de Nicéia. (...) (BRITO, 2008, s/p)
Brito (2008, s/p) continuando sua explanação afirma que segundo a religião judaica,
o
Messias, um descendente do Rei Davi, iria um dia aparecer e restaurar o Reino de
Israel. Na Palestina, por volta de 26 d. C., Jesus Cristo, nascido na cidade de Belém
na Galileia começou a pregar uma nova doutrina e atrair seguidores, sendo aclamado
por alguns como o Messias. Jesus foi rejeitado, tido por apóstata pelas autoridades
judaicas. Foi condenado por blasfêmia e executado pelos Romanos como um líder
rebelde. Seus seguidores enfrentaram dura oposição políticoreligiosa, tendo sido
perseguidos e martirizados, pelos líderes religiosos judeus, e, mais tarde, pelo Estado
Romano.
Com a morte e ressurreição de Jesus, os apóstolos, principais testemunhas da
sua vida, reúnem-se numa comunidade religiosa composta essencialmente por judeus
e centrada na cidade de Jerusalém. Esta comunidade praticava a comunhão dos
bens, celebrava a “partilha do pão” em memória da última refeição tomada por Jesus
e administrava o batismo aos novos convertidos. A partir de Jerusalém, os apóstolos
partiram para pregar a nova mensagem, anunciando a nova religião inclusive aos que
eram rejeitados pelo judaísmo oficial. Assim, Filipe prega aos Samaritanos, o eunuco
da rainha da Etiópia é batizado, bem como o centurião Cornélio. Em Antioquia, os
discípulos abordam pela primeira vez os pagãos e passam a ser conhecidos como
cristãos.
Nas primeiras comunidades cristãs a coabitação entre os cristãos oriundos do
paganismo e os oriundos do judaísmo gerava por vezes conflitos. Alguns dos últimos
permaneciam fiéis às restrições alimentares e recusavam-se a sentar-se à mesa com
os primeiros. Na Assembleia de Jerusalém, em 48, decide-se que os cristãos ex-
pagãos não serão sujeitos à circuncisão, mas para se sentarem à mesa com os
cristãos de origem judaica devem abster-se de comer carne com sangue ou carne
sacrificada aos ídolos. Consagra-se assim a primeira ruptura com o judaísmo. Na
época, a visão de mundo monoteísta do judaísmo era atrativa para alguns dos
cidadãos do mundo romano, mas costumes como a circuncisão, as regras de
alimentação incômodas, e a forte identificação dos judeus como um grupo étnico (e

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não apenas religioso) funcionavam como barreiras dificultando a conversão dos
homens. Através da influência de Paulo, o Cristianismo simplificou os costumes
judaicos aos quais os gentios não se habituavam enquanto manteve os motivos de
atração. Alguns autores defendem que essa mudança pode ter sido um dos grandes
motivos da rápida expansão do cristianismo. (BRITO, 2008, s/p)
De acordo ainda com Brito (2008, s/p) outros autores entendem a ruptura com
os ritos judaicos mais como uma consequência da expansão do cristianismo entre os
não judeus do que como sua causa. Estes invocam outros fatores e características
como causa da expansão cristã, por exemplo: a natureza da fé cristã que propõe que
a mensagem de Deus destina-se a toda a humanidade e não apenas ao seu povo
escolhido; a fuga da perseguição religiosa empreendida inicialmente por judeus
conservadores, e posteriormente pelo Estado Romano; o espírito missionário dos
primeiros cristãos com sua determinação em divulgar o que Cristo havia ensinado a
tantas pessoas quantas conseguissem.
A narrativa da perseguição religiosa, da dispersão dela decorrente, da
expansão do cristianismo entre não judeus e da subsequente abolição da
obrigatoriedade dos ritos judaicos pode ser lida no livro de Atos dos Apóstolos. De
resto, os cristãos adotam as regras e os princípios do Antigo Testamento, livro
sagrado dos Judeus.
Em Junho do ano 66, inicia-se a revolta judaica. Em Setembro do mesmo ano
a comunidade cristã de Jerusalém decide separar-se dos judeus insurrectos, seguindo
a advertência dada por Jesus de que quando Jerusalém fosse cercada por exércitos
a desolação dela estaria próxima, e exila-se em Pela, na Transjordânia, o que
representa o segundo momento de ruptura com o judaísmo. Após a derrota dos judeus
em 70, cristãos e outros grupos judeus trilham caminhos cada vez mais separados.
Para o Cristianismo o período que se abre em 70, e que segue até aproximadamente
o ano 135 caracteriza-se pela definição da moral e fé cristã, bem como de organização
da hierarquia e da liturgia. No Oriente, estabelece-se o episcopado monárquico: a
comunidade é chefiada por um bispo, rodeado pelo seu presbitério e assistido por
diáconos.
Gradualmente, o sucesso do Cristianismo junto das elites romanas fez deste
um rival da religião estabelecida. Embora desde 64, quando Nero mandou supliciar
os cristãos de Roma, se tivessem verificado perseguições ao Cristianismo, estas eram
irregulares. As perseguições organizadas contra os cristãos surgem a partir do século
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II: em 112, Trajano fixa o procedimento contra os cristãos. Para além de Trajano, as
principais perseguições foram ordenadas pelos imperadores Marco Aurélio, Décio,
Valeriano e Diocleciano. Os cristãos eram acusados de superstição e de ódio ao
gênero humano. Se fossem cidadãos romanos eram decapitados; se não, podiam ser
atirados às feras ou enviados para trabalhar nas minas. Durante a segunda metade
do século II assiste-se também ao desenvolvimento das primeiras heresias. Tatiano,
um cristão de origem síria convertido em Roma, cria uma seita gnóstica que reprova
o casamento e que celebrava a eucaristia com água em vez de vinho. Marcião
rejeitava o Antigo Testamento, opondo o Deus vingador dos judeus, ao Deus bondoso
do Novo Testamento, apresentado por Cristo; ele elaborou um Livro Sagrado feito a
partir de passagens retiradas do Evangelho de Lucas e das epístolas de Paulo. À
medida que o Cristianismo criava raízes mais fortes na parte ocidental do Império
Romano, o latim passa a ser usado como língua sagrada (nas comunidades do
Oriente usava-se o grego).
A ascensão do imperador romano Constantino representou um ponto de virada
para o Cristianismo. Em 313 ele publica o Édito de Tolerância (ou Édito de Milão)
através do qual o Cristianismo é reconhecido como uma religião do Império, e concede
a liberdade religiosa aos cristãos. A Igreja pode possuir bens e receber donativos e
legados. É também reconhecida a jurisdição dos bispos. (BRITO, 2008, s/p) Para Brito
(2008, s/p) a questão da conversão de Constantino ao Cristianismo é um tema de
profundo debate entre os historiadores, mas em geral aceita-se que a sua conversão
ocorreu gradualmente. Constantino estipula o descanso dominical, proíbe a feitiçaria
e limita as manifestações do culto imperial. Ele também mandou construir em
Roma uma basílica no local onde, supostamente, o apóstolo Pedro estava sepultado
e, influenciado pela sua mãe, a imperatriz Helena, ordena a construção em Jerusalém
da Basílica do Santo Sepulcro e da Igreja da Natividade em Belém. Constantino quis
também intervir nas querelas teológicas que na altura marcavam o Cristianismo. Luta
contra o arianismo, uma doutrina que negava a divindade de Cristo, oficialmente
condenada no Concílio de Niceia (325), onde também se definiu o Credo cristão. Mais
tarde, nos anos de 391 e 392, o imperador Teodósio I combate o paganismo, proibindo
o seu culto e proclamando o Cristianismo religião oficial do Império Romano. O lado
ocidental do
Império cairia em 476, ano da deposição do último imperador romano pelo “bárbaro”
germânico Odoacer, mas o Cristianismo permaneceria triunfante em grande parte da
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Europa, até porque alguns bárbaros já estavam convertidos ao Cristianismo ou viriam
a converter-se nas décadas seguintes. O Império Romano teve desta forma um papel
instrumental na expansão do Cristianismo.
Do mesmo modo, o cristianismo teve um papel proeminente na manutenção da
civilização europeia. A Igreja, única organização que não se desintegrou no processo
de dissolução da parte ocidental do império, começou lentamente a tomar o lugar das
instituições romanas ocidentais, chegando mesmo a negociar a segurança de Roma
durante as invasões do século V. A Igreja também manteve o que restou de força
intelectual, especialmente através da vida monástica. Embora fosse unida
linguisticamente, a parte ocidental do Império Romano jamais obtivera a mesma
coesão da parte oriental (grega). Havia nele um grande número de culturas diferentes
que haviam sido assimiladas apenas de maneira incompleta pela cultura romana. Mas
enquanto os bárbaros invadiam, muitos passaram a comungar da fé cristã. Por volta
dos séculos IV e V, todo o território que antes pertencera ao ocidente romano havia
se convertido ao cristianismo e era liderado pelo Papa. Missionários cristãos
avançaram ainda mais ao norte da Europa, chegando a terras jamais conquistadas
por Roma, obtendo a integração definitiva dos povos germânicos e eslavos. (...)
(BRITO, 2008, s/p)
No cristianismo, para Brito (2008, s/p) existem numerosas tradições e
denominações, que refletem diferenças doutrinais por vezes relacionadas com a
cultura e os diferentes contextos locais em que estas se desenvolveram. Segundo a
edição de 2001 da World Christian Encyclopedia existem 33.830 denominações
cristãs. Desde a Reforma o cristianismo é dividido em três grandes ramos:
- Catolicismo: composto pela Igreja Católica Apostólica e que hoje
congrega o maior número de fiéis;
- Ortodoxia: originária da primeira grande cisma cristã é constituída por
duas grandes igrejas ortodoxas - a grega e a russa - que apresentam algumas
diferenças entre si, nomeadamente a língua
usada na liturgia. Há ainda um terceiro ramo, a igreja de rito Copta, que surgiu no
Norte de África;
- Protestantismo: originária da segunda grande cisma cristã (Reforma
Protestante) de Martin Lutero, no século XVI, e engloba grande número de
movimentos e denominações distintas. Atualmente a Igreja Protestante (também
chamada Igreja Evangélica) pode ser dividida em três vertentes:
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- Denominações Históricas: resultado direto da reforma protestante.
Destacam-se nesta vertente os luteranos, anglicanos, presbiterianos, metodistas e
batistas.
- Denominações Pentecostais: originárias em movimento do início do
século XX são baseadas na crença na presença do Espírito Santo na vida do crente
através de sinais, denominados por estes como dons do Espírito Santo, tais como
falar em línguas estranhas (glossolalia), curas, milagres, visões etc. Destacam-se
nesta vertente a Assembleia de Deus e a Igreja do Evangelho Quadrangular.
- Denominações Neopentecostais: originárias na segunda metade do
século XX de avanço das igrejas pentecostais, não configuram uma categoria
homogênea. São consideradas seitas pelos Protestantes. Destacam-se nesta
vertente a Igreja Universal do Reino de Deus, Igreja Apostólica Renascer em Cristo,
Igreja Internacional da Graça de Deus, Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra, e
a Igreja Evangélica Cristo Vive. É o ramo mais que mais cresce no Brasil e no mundo.
Além desses três ramos majoritários, ainda existem outros segmentos
minoritários do Cristianismo. Em geral se enquadram em uma das seguintes
categorias:
- Restauracionismo: São doutrinas surgidas após a Reforma Protestante
cujas bases derrogam as de todas as outras tradições cristãs, basicamente tendo
como ponto em comum apenas a crença em Jesus Cristo. A maioria deles não se
considera propriamente “protestante” ou “evangélico”. Nesta categoria estão
enquadrados os Mórmons, a Igreja Adventista do Sétimo Dia e as Testemunhas de
Jeová, entre outras denominações. Quanto às Testemunhas de Jeová, embora
afirmem ser cristãs, também não se consideram parte do protestantismo. Seus
adeptos creem que praticam o cristianismo primitivo e que não são fundamentalistas
no sentido em que o termo é comumente usado. Aceitam a Jesus como criatura, de
natureza divina, seu líder e resgatador, rejeitando, no entanto a crença na Trindade e
ensinando que Cristo é o filho do único Deus Todo Poderoso, Jeová.
- Cristianismo primitivo: são as Igrejas cujas bases são anteriores ao
estabelecimento do catolicismo e da ortodoxia. É o caso das igrejas não
calcedonianas e da Igreja Assíria do Oriente (Nestoriana).
- Cristianismo esotérico: é a parte mística do Cristianismo, e compreende
as escolas cristãs de mistérios e sincretismo religioso. A este ramo pertence o
Gnosticismo que é uma crença com raízes antecedentes ao próprio cristianismo e que
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tem características da ciência egípcia e da filosofia grega. O Rosacrucianismo
também se enquadra nessa vertente sendo uma ciência oculta cristã que ressalta as
boas ações por meio da fraternidade.
- Espiritismo Cristão: Os simplesmente Espíritas não acreditam que uma
pessoa pode redimir
“os pecados” de outra, contudo para a maior parte dos adeptos do espiritismo a obra
de Allan Kardec constitui uma nova forma do cristianismo, são os espíritas cristãos.
Inclusive, um dos seus livros fundantes é denominado de O Evangelho Segundo o
Espiritismo. Esse livro apresenta uma reinterpretação de aspectos da filosofia e moral
cristã.
- Concepções religiosas e filosóficas: O Cristianismo prega o amor a Deus
e ao próximo como o seu fundamento espiritual. De fato estas atitudes não constituem
dois mandamentos separados (primeiro a Deus e segundo ao próximo), mas sim um
só em que nenhuma das partes pode ser excluída. A salvação espiritual é oferecida
gratuitamente a quem deseja aceitá-la buscando a Deus na figura de seu filho Jesus
e que a busca de Deus é uma experiência transformadora da natureza humana.
(BRITO, 2008, s/p)
Podemos considerar três períodos que definem a concepção e filosofia do
Cristianismo:
Cristianismo primitivo: caracterizado por uma heterogeneidade de concepções;
Patrística: ocorrida no período entre os séculos II e VIII, com a transformação
da nova religião em uma Igreja oficial do Império Romano Constantino e a formação
de um clero institucionalizado, e cujo doutrinário expoente foi Santo Agostinho;
Escolástica: a partir do século VIII e cujo expoente foi São Tomás de Aquino,
que afirmou que fé e razão podem ser conciliadas, sendo a razão um meio de
entender a fé.
A partir do protestantismo, é necessário fazer uma diferenciação entre a história
e concepção da Igreja Católica e das diversas denominações evangélicas que se
formaram.
- Formas de culto: As formas de culto do cristianismo envolvem a oração, a
leitura de passagens da Bíblia, o canto de hinos, a cerimônia da eucaristia (católicos
e ortodoxos) e a audição de um sermão dito pelo sacerdote ou ministro. A maioria das
denominações cristãs considera o Domingo como dia dedicado ao culto (há minorias
que consideram o Sábado). É um dia dedicado ao descanso, no qual os cristãos

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reúnem-se para o culto, embora a devoção e oração individual em qualquer outro dia
da semana sejam também valorizadas no cristianismo. Os católicos e os ortodoxos
interpretam as formas de culto (ou missa, para o catolicismo) cristãs
em termos de sete sacramentos, considerados como graças divinas: batismo;
Eucaristia; Matrimônio; Confirmação ou crisma; Penitência; Extrema unção ou Unção
dos enfermos; Ordem.
Os protestantes não têm os sacramentos impostos pelo catolicismo, mas eles
utilizam de passagens bíblicas para os cultos, como: batismo (para a maioria das
denominações, apena em adultos); Santa Ceia (não aceitando a eucaristia, voltando
ao padrão bíblico “PÃO” e “VINHO”, ambos aceitos apenas como símbolos). (BRITO,
2008, s/p)
O símbolo mais reconhecido do cristianismo de acordo com Brito (2008, s/p) é
sem dúvida a cruz, que pode apresentar uma grande variedade de formas de acordo
com a denominação: crucifixo para os católicos, a cruz de oito braços para os
ortodoxos e uma simples cruz para os protestantes evangélicos. Outro símbolo
cristão, que remonta aos começos da religião é o Ichthys ou peixe estilizado (a palavra
Ichthys significa peixe em grego, sendo também um acrônimo de Iesus Christus
Theou Yicus Soter, “Jesus Cristo filho de Deus Salvador”), hoje sempre visto no
protestantismo.
Outros símbolos do cristianismo primitivo, por vezes ainda utilizados, eram o Alfa e o
Ômega (primeira e última letras do alfabeto grego, em referência ao fato de Cristo ser
o princípio e o fim de todas as coisas), a âncora (representando a salvação da alma
chegada ao bom porto) e o “Bom Pastor”, a representação de Cristo como um pastor
com as suas ovelhas.
Alguns grupos cristãos atribuem a determinado dias do calendário uma importância
religiosa.
Estes dias estão ligados à vida de Jesus Cristo ou à história dos primórdios do
movimento cristão. O calendário litúrgico cristão inclui as seguintes festas:
- Advento: período constituído pelas quatro semanas antes do Natal,
entendidas como época de preparação para a celebração do nascimento de Jesus
Cristo;
- Natal: celebração do nascimento de Jesus;

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- Epifania: para os católicos, celebra a adoração de Jesus Cristo pelos
Reis Magos, enquanto que para os cristãos ortodoxos o seu batismo acontece doze
dias após o Natal;
- Sexta-feira Santa: morte de Jesus,
- Domingo de Páscoa: ressurreição de Jesus;
- Ascensão: ascensão de Jesus ao céu acontece quarenta dias após o
Domingo de Páscoa;
- Pentecostes: celebração do aparecimento do Espírito Santo aos cristãos
ocorre cinquenta dias após o Domingo de Páscoa.
Alguns dias têm uma data fixa no calendário (como o Natal, celebrado a 25 de
Dezembro), enquanto que outros se movem ao longo de várias datas. O período mais
importante do calendário litúrgico é a Páscoa, que é uma festa móvel. Nem todas
denominações cristãs concordam em relação a que datas atribuir importância. Por
exemplo, o Dia de Todos os Santos é celebrado pela Igreja Católica e pela Igreja
Anglicana em primeiro de Novembro, enquanto que para a Igreja Ortodoxa a data é
celebrada no primeiro Domingo depois do Pentecostes; outras denominações cristãs
não celebram sequer este dia. De igual forma, alguns grupos cristãos recusam
celebrar o Natal decido a esta data ter origens pagãs. (BRITO, 2008, s/p)

2.2 Islamismo

De acordo com Somma (2005, s/p) Maomé viveu a maior parte da vida como
um mercador analfabeto que, como tantos outros, conduzia caravanas pelos desertos
da Arábia, no século VI. Aos 40 anos de idade, porém, tornou-se o profeta de uma
religião revolucionária que em menos de 200 anos dominaria metade do mundo. Na
época em que Maomé nasceu, lá pelo ano de 570, a vida na Península Árabe não era
nada fácil. A comida andava escassa e, ao lado da criação de cabras, da pouca
agricultura e do comércio, os saques eram a forma mais comum de consegui-la.
Nessa terra sem lei, onde o roubo de tão corriqueiro não era punido, as contendas
mais sérias acabavam resolvidas na base do olho por olho e do dente por dente.
Quem matava, morria. Se o criminoso não fosse encontrado, um parente dele perdia
o pescoço. Desprovidas de direitos ou de poder para competir nesse mundo violento,
as mulheres sofriam ainda mais. Aquelas que escapavam do infanticídio eram
entregues em casamento ainda crianças. Com os homens vivendo e morrendo nos

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intermináveis conflitos tribais, aceitar o papel de concubina em troca de comida e
proteção era, para as mulheres, uma forma legítima de sobreviver. (SOMMA, 2005,
s/p)
Para Somma (2005, s/p) limitados ao norte pelos bizantinos e ao leste pelos
persas, esses homens e mulheres nômades de origem semita, conhecidos como
árabes jamais haviam constituído uma nação unificada, nunca foram além das
diferenças tribais, nem superaram rixas regionais para enfrentarem invasores ou
vizinhos poderosos como sumérios e egípcios, que ocuparam a região ao longo de
mais de três mil anos. “Exceto por algumas cidades e oásis, o clima árido foi sempre
um obstáculo ao estabelecimento de sociedades na Península Árabe, com 95% de
sua área ocupada por desertos”, diz John Voll, historiador da Universidade de
Georgetown, em Washington, Estados Unidos e autor de The History of Islam (A
História do Islã, inédito em português). “Durante séculos os árabes viveram do
pastoreio e da agricultura incipiente nos poucos lugares onde a seca lhes dava folga.
Outra alternativa era levar caravanas através do deserto para comercializar com o
Egito, a Mesopotâmia e o Golfo Pérsico e de lá até vale do rio Indo.”

Na época, a sociedade árabe estava dividida em grandes tribos, que por sua
vez tinham subdivisões, os clãs. Maomé era da tribo dos coraixitas, os ‘bambambãs’
da cidade de Meca, onde ele nasceu. Sobre sua infância, sabe-se pouco além de que
era órfão de pai e que aos seis anos perdeu a mãe. Depois de viver com o avô, que
morreria pouco depois, passou à tutela do tio paterno, Abu Talib, de quem herdou a
profissão: negociante. Meca era um centro comercial para onde convergiam
caravanas vindas da Pérsia e da Síria. Para lá também afluíam peregrinos de toda a
região para visitar o templo da Caaba, um local sagrado já naquela época – os árabes
tinham vários deuses e objetos de adoração, mas nenhum tão importante como a
Pedra Negra de Meca. Os romeiros, ao lado do comércio, eram a principal fonte de
riqueza da cidade. “Naquela região e naquela época, Meca era um exemplo único de
diversidade cultural. E é bem provável que tal condição tenha influenciado Maomé,
que, até por força de sua profissão, certamente tinha contato com cristãos, judeus e
persas”, afirma Voll.
Ainda de acordo com Somma (2005, s/p) “os primeiros relatos sobre Maomé o
descrevem como um sujeito justo e amável, dotado de um agradável senso de humor”,
diz o historiador William Graham, da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.

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“Apesar de ser membro de uma tribo poderosa, Maomé pertencia a um clã com
poucos recursos. Chamado de Al Amin, ou ‘o confiável’, aos 25 anos ele tinha fama
de bom administrador”, diz Graham. Uma dessas qualidades – ou todas elas –
chamou a atenção de Khadija, uma rica viúva dez anos mais velha que ele. O
casamento foi vantajoso para ambos. Tanto que durou. Juntos, eles tiveram seis filhos
e, ao contrário do que era comum na época, Maomé não teve outras esposas
enquanto esteve casado com Khadija. “A relação dos dois era rara e especial e foi
definitiva para a biografia de Maomé”, afirma Voll. Maomé chegou aos 40 anos rico,
dono de caravanas, cercado por empregados e parentes. Parecia que uma velhice
tranquila se avizinhava. (...) Por volta do ano 610, Maomé teve uma epifania, uma
revelação mística. E iniciou uma revolução.
- A revelação: Muhammad Ibn Ishaq, que viveu no século VIII, foi um dos
primeiros historiadores a fornecer um relato sobre a experiência de Maomé. Segundo
Ishaq, durante um passeio pelo deserto, Maomé teria ouvido chamar seu nome. A
voz se apresentou como Jibril, o mesmo que na tradição judaico-cristã é o anjo
Gabriel. Ao voltar para casa, Maomé tremia. Teria se jogado nos braços da mulher e
pedido para que ela o cobrisse, pois sentia frio. Ao contar a ela o ocorrido, Maomé
teria dito que achava
estar delirando. Ainda de acordo com Ishaq, Khadija levou o marido para conversar
com um primo que era cristão e que concluiu que Maomé havia falado com Alá (nome
que em árabe significa “Deus”) e recebido dele os primeiros versos do Alcorão, o livro
que se tornaria sagrado para seus seguidores. Relutante, Maomé manteve sua
história circunscrita aos amigos mais próximos e parentes por quase dois anos.
Finalmente, convencido de que ele era o mensageiro de uma nova fé, Maomé iniciou
sua pregação. Ele dizia haver um único deus, Alá, ao qual todos deveriam se submeter
(Islam, ou Islã, em árabe significa submissão). “Como os profetas bíblicos, ele foi um
reformador que, a partir da crença em um único deus e em nome desse deus,
promoveu uma série de transformações sociais”, diz o historiador americano John
Esposito, da Universidade de
Georgetown, autor de mais de 15 livros sobre a história do Islã. “Ele proibiu o
infanticídio, estabeleceu regras para comércio e um código de ética para a guerra”,
afirma Esposito.
A mensagem transformadora de Maomé atraiu muita gente, principalmente
entre a população mais pobre de Meca: jovens, escravos e homens sem vínculos
15
tribais e peregrinos. Em um mundo onde a morte era considerada o fim de tudo, ele
prometia que os fiéis – pobres ou ricos, independentemente de tribos ou clãs – teriam
uma vida eterna e gloriosa. Dizia, ainda, que os ricos deveriam distribuir parte de sua
riqueza com os pobres e que aqueles que não se importassem com o bemestar dos
outros seriam julgados após a morte. Maomé reconheceu os judeus e cristãos –
chamados de “os povos do livro”, mas se lançou contra a adoração de ídolos pagãos.
Como boa parte dos revolucionários do mundo antigo (para a cronologia ocidental o
século VII faz parte da Idade Média, mas seguiremos a linha de tempo do mundo
muçulmano, que coloca a fase antes do nascimento de Maomé como pré-história),
Maomé teve uma inspiração religiosa por trás das mudanças que defendeu. “A religião
era o principal – em muitos casos, o único – código de conduta na Antiguidade.
Transformá-la, portanto, sempre foi um meio poderoso de atingir mudanças sociais,
políticas ou econômicas. De Moisés a Jesus, a proposição de um novo ambiente
religioso comumente está ligada à eclosão de processos revolucionários mais
amplos”, diz John Voll. (SOMMA, 2005, s/p)
Para Somma (2005, s/p) segundo Marshall Hoddgson, autor do clássico The
Venture of Islam (A Aventura do Islã, inédito no país), as pregações de Maomé
incomodaram os membros da classe dominante, em Meca. Em 616, o líder dos
coraixitas proibiu que qualquer membro da tribo fizesse negócios com Maomé. Como
eles dominavam quase toda a atividade econômica da cidade, isso era o mesmo que
condená-lo à miséria. Além disso, seus amigos e fiéis, chamados muslimuus – ou
muçulmanos (“aqueles que se submetem”, em árabe), passaram a ser perseguidos.
Alguns biógrafos dizem que o próprio Maomé foi ameaçado. Para piorar, nessa época
ele perdeu a esposa Khadija e o tio Abu Talib, seu protetor, que ainda era influente
entre os coraixitas. Maomé decidiu abandonar Meca. Em 622, ele e seus amigos
foram para Yathreb, um oásis de agricultores a 300 quilômetros de Meca, mais tarde
rebatizado de Medina. A saída de Meca, porém, não acalmou os ânimos entre os
líderes da cidade e os seguidores de Maomé. Pelo contrário. Os muçulmanos
passaram a atacar as caravanas de Meca. Em 624, eles emboscaram e venceram o
exército de Meca em Uhud. No ano seguinte, foram derrotados em Badr e perderam
centenas de homens. Em quase uma década, os conflitos foram comuns, até que em
630, depois de resistir durante dois meses à ofensiva inimiga em Medina, Maomé
liderou três mil guerreiros num decisivo contra-ataque e tomou Meca quase sem
combates.
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Timothy Winter, professor da Universidade de Cambridge, na Inglaterra,
Maomé foi tolerante com o povo de Meca. “Ele não perseguiu cristãos nem judeus,
permitindo que continuassem a praticar seus ritos. No entanto, destruiu os ídolos que
eram adorados na Caaba”, diz.
Diferentemente de outros religiosos, de acordo com Somma (2005, s/p) que
defenderam reformas radicais na sociedade em que viviam, Maomé chegou ao poder
e teve a oportunidade de realizar tais transformações. “Ele estabeleceu reformas no
interior das famílias e tribos, dando às mulheres, crianças e jovens direitos sociais. Os
pobres foram beneficiados com a instituição do zakat, uma taxa recolhida dos mais
ricos e distribuída entre eles”, diz o historiador inglês W. Montgomery Watt em
Muhammad, Prophet and Statesman (Maomé, Profeta e Estadista, inédito no
Brasil).
Maomé voltou à Medina, mas não usufruiu da sociedade que acabara de criar:
ele morreu em 8 de junho de 632. “Maomé não foi apenas o fundador de uma religião.
Foi um revolucionário, que mudou radicalmente as condições de vida de seu povo,
trazendo unidade política, melhorias econômicas e justiça social”, afirma William
Graham. “Ele tinha grande habilidade política e transformou completamente as
condições de vida de seu povo, resgatando-o da violência estéril e da desintegração,
dando-lhe nova e orgulhosa identidade”, afirma Karen Armstrong no livro Maomé –
Uma Biografia do Profeta (Companhia das Letras).
Em menos de 200 anos, essa “nova e orgulhosa identidade” dos seguidores do
Islã se espalhou do Himalaia à Europa, fundindo-se à cultura dos povos que
conquistou. Logo, a sociedade árabe se tornaria a mais desenvolvida de seu tempo,
esmerada nas artes, na tecnologia, na arquitetura, na matemática e na navegação.
Uma verdadeira revolução, cujas repercussões influenciam boa parte do mundo, até
hoje.
O santuário da Caaba, em Meca, virou centro de peregrinação na Antiguidade
graças à Pedra Negra. Não se sabe exatamente quem construiu um santuário em
torno dela, mas é certo que, na época de Maomé, as peregrinações para lá já
aconteciam. Os nômades pré-islâmicos eram politeístas e adoravam cerca de 360
deuses diferentes. “A Caaba era tão importante no tempo
de Maomé, que era considerada um centro sagrado de tempos imemoriais”, afirma
William Graham, da Universidade de Harvard. “A tradição islâmica a conecta com
Abraão, mas há quem também a relacione a Adão.” Segundo os muçulmanos, a pedra
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teria sido dada por Alá ao primeiro homem, Adão. Ela era clara, quase branca, mas
os pecados do mundo a tornaram negra. Os cientistas e historiadores, é claro, têm
outra explicação: acreditam que a pedra seja um meteorito, embora nenhum
exogeólogo (especialistas em rochas vindas de outros corpos celestes) jamais tenha
tido a chance de estudá-la. Ainda segundo a crença muçulmana, o santuário em torno
da pedra negra teria sido construído por Abraão, considerado o pai das religiões
monoteístas – judaísmo, cristianismo e islamismo. “A Caaba é identificada na tradição
religiosa com Abraão. Dessa forma, rezar em direção a ela é uma forma de enfatizar
essa conexão com um deus único”, afirma o historiador John Voll, da Universidade de
Georgetown. A Caaba lembra uma caixa, tem formato cúbico e cerca de 15 metros de
altura. Dentro está guardada a pedra sagrada. Segundo a historiadora britânica Karen
Armstrong, a antiga prática de dar sete voltas em torno da Caaba também já existia
antes do islamismo e foi incorporada pela nova religião. “Hoje, a peregrinação ao
santuário se transformou em um dos cinco pilares do Islã e é considerada obrigatória,
pelo menos uma vez na vida, para todo muçulmano que tiver condições físicas e
econômicas”, diz a historiadora inglesa. (SOMMA, 2005, s/p)
Ainda de acordo com Somma (2005, s/p) a expansão muçulmana ocorrida após
a morte de Maomé não tem precedentes na história. Foi rápida e avassaladora. Em
menos de um século, unificados pela fé na mensagem do homem que acreditavam
ser um enviado de Deus, árabes – e seus exércitos – chegaram à Europa. No
caminho, a revolução conquistou e converteu povos africanos, persas e turcos,
dominando todo o Oriente Médio e o norte da África e atingindo o noroeste da Índia.
É verdade que em alguns lugares a conquista foi efêmera, mas em outros, como na
Península Ibérica, os muçulmanos fundaram uma civilização que durou sete séculos.
Na Europa, os muçulmanos foram barrados somente em 732 na cidade de Poitiers,
atualmente na França, pelas tropas de Carlos Martel. As cadeias montanhosas
afegãs, o deserto africano e o oceano Índico foram barreiras naturais que impediram
o avanço dos exércitos, mas não da fé. Graças ao intenso deslocamento dos
mercadores muçulmanos, a religião chegou às ilhas que hoje formam a Indonésia,
país onde se encontra a maior população muçulmana do mundo na atualidade.
- Meca: Depois de oito anos de brigas entre os coraixitas de Meca e os
muçulmanos de Medina, a cidade onde nasceu Maomé, foi conquistada pelo próprio,
à frente de um exército de três mil homens. Por abrigar a Caaba, desde 624 o local
marca o ponto para o qual os islâmicos devem direcionar suas orações.
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- Damasco: Um dos maiores centros urbanos da época de Maomé, a
cidade que pertencia à
Síria bizantina, foi conquistada três anos após a morte do profeta. Em 661, o quinto
califa, Mu’awiyah I (661–680), mudou de Medina para lá, tornando-a a capital do
Império Muçulmano.
- Jerusalém: Apenas seis anos após a morte de Maomé, os muçulmanos
conquistam a cidade, na época parte do Império Bizantino. Considerada santa por
cristãos e judeus, também é sagrada para os muçulmanos, pois de lá Maomé teria
ascendido aos céus.
- Alexandria: Depois de resistir por quase cinco meses, a cidade fundada
por Alexandre, o Grande, no Egito, rendeu-se aos exércitos do terceiro califa, Uthman
ibn Affan. Os bizantinos a retomaram três anos depois, mas a cidade logo voltou ao
domínio muçulmano.
- Isfahan: A partir de 644, as principais cidades da Pérsia foram
conquistadas rapidamente e, em 651, o rei da dinastia sassânida, que dominava a
região, deixou a capital. Depois de se refugiar em diversos cantos do país, foi
assassinado na cidade de Merv.
- Herat: Além da cidade afegã, outras localidades da Ásia central foram
tomadas por exércitos muçulmanos. As tropas do califa Uthman chegaram até a
província do Sind, no noroeste da Índia. A partir do século XIII, surgiriam reinos
muçulmanos na região.
- Córdoba: Com a ajuda dos berberes africanos, recém-convertidos ao
islamismo, e graças às fraquezas e rupturas do reino dos visigodos, os muçulmanos
invadiram a Europa com facilidade e se instalaram no território que hoje pertence à
Espanha. Dali só seriam expulsos em 1492, depois de muita luta.
- Poitiers: Cem anos após a morte de Maomé, os muçulmanos foram
derrotados na Batalha de Poitiers, na atual França, por Carlos Martel, líder dos
francos. A vitória dos europeus interrompeu a expansão do Islã e marcou o ponto mais
setentrional que os seguidores de Maomé já alcançaram
Sobre as mulheres e o Islã, Somma (2005, s/p) aponta que quando Khadija
morreu, Maomé não ficou sozinho por muito tempo. Ele se casou rapidinho – e com
várias mulheres. “Era um costume da época ter muitas esposas para consolidar laços
tribais e também por atração e amor”, diz John Esposito, da Universidade de
Georgetown. Maomé teria tido pelo menos 11 mulheres, entre elas viúvas de

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combatentes muçulmanos que perderam a vida em batalhas contra Meca e filhas de
amigos próximos, que mais tarde se tornariam os primeiros califas. Para o historiador
John Voll, também de Georgetown, as esposas de Maomé tiveram um papel efetivo
na propagação do islamismo desde os primeiros momentos da nova fé. Como
exemplo disso, ele lembra que o texto do Alcorão foi totalmente memorizado por uma
delas, Hafsa, que o ditou para os primeiros escribas islâmicos. “Outra delas, Umm
Salamah, conseguiu evitar um motim entre as tropas. Mas coube a Aisha, a predileta,
o papel de conselheira do profeta”, diz Voll. Aisha era conhecida por falar o que
pensava. Ela era filha de Abu Bakr, sucessor de Maomé como líder dos muçulmanos
e um de seus amigos mais íntimos. Aisha ainda é muito lembrada pela tradição
islâmica por ter sido uma das fontes dos hadiths – os relatos sobre ditos e ações de
Maomé que passaram a ter força de lei depois de sua morte. Segundo Timothy Winter,
da Universidade de Cambridge, as mulheres árabes ganharam um novo status com o
Islã devido ao afeto que Maomé dedicava a elas. “Cerca de 15% dos intelectuais
medievais eram mulheres. Isso só foi possível porque Maomé recomendou que todas
recebessem educação”, diz. Pela lei islâmica as mulheres podem se divorciar e
conservar seus bens após o casamento, o que não ocorria na Inglaterra há cem anos.
(SOMMA, 2005, s/p)
Os cinco pilares do islamismo formam a estrutura de vida do seguidor da religião.
São eles:
- Pronunciar a declaração de fé intitulada “chahada”: “Não há outra
divindade além de Deus e Mohammad é seu Mensageiro.”
- Realizar as cinco orações obrigatórias durante cada dia, no ritual
chamado “salat”. As orações servem como uma ligação direta entre o muçulmano e
Deus. Como não há autoridades hierárquicas, como padres ou pastores, um membro
da comunidade com grande conhecimento do Corão dirige as orações. Os versos são
recitados em árabe, e as súplicas pessoas são feitas no idioma de escolha do
muçulmano. As orações são feitas no amanhecer, ao meio-dia, no meio da tarde, no
cair da noite e à noite. Não é obrigatório orar na mesquita - o ritual pode ser cumprido
em qualquer lugar.
- Fazer o que puder para ajudar quem precisa, no chamado “zakat”. A
caridade é uma obrigação do muçulmano, mas deve ser voluntária e, de preferência,
em segredo. O muçulmano deve doar uma parte de sua riqueza anualmente, uma

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forma de mostrar que a prosperidade não é da pessoa - a riqueza é originária de Deus
e retorna para Deus.
- Jejuar durante o mês sagrado do Ramadã, todos os anos. Nesse
período, todos os muçulmanos devem permanecer em jejum do amanhecer ao
anoitecer, abstendo-se também de bebida e sexo. As exceções são os doentes,
idosos, mulheres grávidas ou pessoas com algum tipo de incapacidade física - eles
podem fazer o jejum em outra época do ano ou alimentar uma pessoa necessitada
para cada dia que o jejum foi quebrado. O muçulmano que cumpre o jejum se purifica
ao vivenciar a experiência de quem passa fome. No fim do Ramadã, o muçulmano
celebra o EidalFith, uma das duas principais festas do calendário islâmico.
- Realizar a peregrinação a Meca, o “haj”. Todos os muçulmanos com
saúde e condição financeira favorável deve realizar a peregrinação pelo menos uma
vez na vida. Todos os anos, cerca de dois milhões de pessoas de todas as partes do
mundo se reúnem em Meca, sempre com vestimentas simples - para eliminar as
diferenças de classe e cultura. No fim da peregrinação, há o festival de Eid-Al-Adha,
com orações e troca de presentes - a segunda festa mais importante. (VEJAON LINE,
s/d, s/p)

2.3 Judaismo

De acordo com Algazi (s/d, s/p) disse Gräetz que são dois os povos criadores
da civilização humana: o helênico e o hebreu1. O povo helênico sucumbiu “quando as
falanges macedônicas e as legiões romanas lhe mostraram a vida sombria, grave e
sem sorrisos, como a que haviam conhecido; então sua sabedoria transformou-se em
excentricidade”. O hebreu, ao contrário, permaneceu vivo em meio a impérios que se
extinguiam, porque soube dar à vida um fim determinado e ponderado.
Querendo, pode-se chamar a este objetivo do povo israelita “a moral pura” e, ainda
que a palavra esteja muito aquém da ideia, o que interessa destacar é que o povo
judeu entendeu que seu dever é tomar a sério essa “moral pura”.
Para que se possa compreender isto, é necessário conhecer, ainda que
sumariamente, a história do povo de Israel. Portanto, daremos uma síntese dos
acontecimentos pelos quais passou o povo judeu, desde os tempos mais remotos.
Corria o ano 2140 (a. C.). Um homem inspirado chamado Abraão, habitante da alta

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Mesopotâmia, recebeu de Deus a ordem de abandonar sua cidade natal e
estabelecer-se num país que lhe seria designado, fundando ali um povo que seria
cumulado de favores e objeto de especial predileção. Abraão estabeleceu-se com
seus rebanhos no país de Canaã. Seu poder patriarcal passou a seu filho Isaac e
deste para Jacob que depois o passou para seus doze filhos. Um destes, chamado
José, vendido como escravo ao Faraó, rei do Egito, soube captar tal prestígio e
autoridade, que chegou a ser vice-rei do Egito. Nesta qualidade chamou seus irmãos
e lhes entregou a terra de Goshen para que a cultivassem e vivessem de seus
produtos. Os israelitas tornaram-se tão numerosos e fortes, que os reis do Egito,
temerosos de sua importância, os submeteram a dura escravidão, acabando por
decretar a morte de todos os filhos varões que nasceram naquele povo. Porém
Moisés, um desses meninos, jogado às águas do Nilo, foi salvo pela filha do Faraó e
educado na corte do rei. Mais tarde esse menino seria o libertador daquele povo e seu
legislador. Efetivamente, por decreto divino, Moisés organizou o grande êxodo dos
israelitas, que segundo a Bíblia foi de 600.000 homens. Em busca da terra prometida
atravessaram o golfo ocidental do Mar Vermelho e passaram 40 anos no deserto
experimentando todas as dificuldades da vida nômade. Ao pé do Monte Sinai, Moisés
deu aos israelitas o Decálogo, ou seja, os dez mandamentos, supremo código moral
da humanidade. (ALGAZI, s/d, s/p)
Conforme Algazi (s/d, s/p) antes de morrer, Moisés nomeou como seu sucessor
Josué, o qual, depois de atravessar o Jordão e derrotar os inimigos que se opunham
à sua marcha vitoriosa, distribuiu as terras conquistadas entre as doze tribos. Josué
foi sucedido pelos Juízes, entre os quais Jefté, Sansão e a profetisa Débora, que nos
legou um canto lírico de grande magnitude. O último dos juízes foi Samuel, que, a
pedido do povo, mudou a forma de governo e instituiu a monarquia, nomeando Saul
como primeiro rei. Morto Saul, entre vitórias e derrotas, foi David ungido como rei e a
este sucedeu seu filho Salomão, o qual levou o país ao cume da felicidade e causou
a admiração de todo o Oriente e Ocidente por seu saber e sua sagacidade. Após a
morte de Salomão, seu reino foi dividido entre Roboão, seu filho, e Jeroboão, seu
adversário; o primeiro contava com duas tribos e o segundo com dez, tendo havido
entre eles uma luta constante. As nações vizinhas aproveitaram-se desta discórdia
para sua própria expansão e o povo de Israel perdeu assim o caráter específico que
lhe havia assegurado o rei Salomão. Depois de uns poucos anos de reinado, Roboão
foi vencido, primeiro por Sisac, rei do Egito, que tomou Jerusalém e se apoderou do
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Templo e dos tesouros reais, e segundo por Nabucodonosor, rei da Babilônia. (...) A
parte da Palestina onde o povo emigrante se estabeleceu foi chamada Judéia e seus
moradores receberam o nome de judeus. Povoaram novamente as cidades e
obtiveram permissão para reconstruir o Templo e as muralhas de Jerusalém. A forma
de governo daquele novo Estado foi uma espécie de república teocrática. (ALGAZI,
s/d, s/p)
O judaísmo, segundo Algazi (s/d, s/p) saiu vitorioso de seu choque com o
helenismo. Conhecia-se sob este nome a forma de civilização grega que, estando já
a Grécia em decadência, foi difundida pelo mundo asiático e egípcio por Alexandre
Magno e especialmente por seus sucessores. O helenismo difundiu-se também na
Judéia, onde o sentido grego da vida, mais superficial e cheio da formosura da
natureza, havia entusiasmado muitos judeus que, possuindo possivelmente
tendências assimilacionistas muito desenvolvidas, haviam começado a sentir o peso
de sua doutrina mãe, demasiado séria e de suas normas de vida muito severas.
Na Judéia o helenismo foi combatido com armas pelos Macabeus e
verbalmente pela obra incansável e contínua dos sábios, os quais, com o correr dos
séculos foram substituindo os profetas.
Durante anos lutou-se na pequena Palestina; durante muitos meses foram
sitiados Jerusalém e seu santuário; e no ano 70 (d. C.) o imperador Tito conseguiu
entrar na cidade: incendiou o templo e assassinou e vendeu a maior parte de seus
habitantes, começando assim para o judeu sua vida errante. Algumas famílias
imigraram para as regiões asiáticas; outras fixaram sua residência no ocidente,
enquanto os judeus de Alexandria, os já helenizados, continuaram vivendo no mesmo
ambiente e desenvolvendo sua cultura da maneira mais perfeita. Enquanto os
exilados procuravam salvação em diversas terras e se preocupavam com sua vida e
seu trabalho, na Palestina continuava-se vivendo sob certa autonomia. (...) Na
diáspora romana, porém, as coisas não sucediam assim. No ano 350, ao subir
Constantino ao trono, começou contra o povo judeu uma política de coação, atenuada,
no entanto, nas regiões onde os judeus sujeitaram-se ao islamismo, podendo desta
forma dedicar-se tranquilamente ao comércio, como em Bagdá, Cairo e toda a
Espanha muçulmana. Assim, no século IX houve comunidades judias no Cairo, Fez e
Marrocos, enquanto na Babilônia, uma vez conquistada a Pérsia pelos muçulmanos,
vinha ocorrendo o mesmo fenômeno. O povo judeu, portanto, pôde continuar seu

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desenvolvimento cultural somente nos países muçulmanos, onde podia ter uma vida
mais tranquila, igual aos outros povos, e dedicar-se a qualquer tarefa ou ocupação.
Em troca, no mundo cristão, à medida que o cristianismo ia ganhando terreno
no monopólio das fontes de riqueza dos países do Ocidente, ia à influência judaica
pouco a pouco voltando ao estado de prostração em que esteve mergulhada nos
últimos tempos do império romano. Os judeus não podiam ter autoridade alguma
sobre os cristãos; eram afastados dos cargos públicos e eram privados dos direitos
de cidadania quando implicava em algum cargo de autoridade, como ter escravos,
servos e até criados domésticos. Os cristãos deviam evitar todo contato social com os
judeus, os quais deveriam ter uma marca ou distintivo em suas roupas ou em alguma
parte visível do corpo. Desta maneira, os antigos hebreus e agora os judeus que eram
um povo essencialmente agrícola, sem aptidão especial e sem gosto pelo comércio,
viram-se obrigados, na sua qualidade de estrangeiros numa população urbana e de
tráfico mercantil, a mudar suas características de vida. A partir da época feudal,
especializaram-se cada vez mais no comércio e na medicina, que podiam exercer,
pois lhes eram vedadas todas as outras profissões. (...) Na Espanha, onde os judeus
já viviam desde o século III (d. C.), a população judaica aumentou notavelmente
depois da batalha de Guadelete (711) como consequência da invasão dos árabes,
provavelmente por terem ficado ali grande número de judeus que faziam parte dos
exércitos muçulmanos. A situação dos judeus melhorou, prosperaram e houve reis
que tiveram médicos, astrônomos e músicos judeus. Estes possuíam terras, tinham
indústrias, faziam serviço militar sem qualquer restrição, iguais aos outros cidadãos e
em certas jurisdições estavam no mesmo pé de igualdade com os fidalgos. Neste
ambiente, os judeus começaram a desenvolver na Espanha uma atividade cultural
que é tida como a “Idade de Ouro” da história judaica. (ALGAZI, s/d, s/p)
Durante três séculos o judaísmo floresceu em Granada, Córdoba, Sevilha,
Saragosa, Barcelona, etc., dedicando-se seus integrantes a produzir obras literárias,
dando início aos comentários sobre o Talmud, que tornaram mais fácil a procura de
qualquer dado. Com a ascensão da ciência árabe, muitos judeus que também
escreviam deste idioma começaram a ocupar-se da filosofia. A cultura hebraica deu
seus melhores frutos naquela época. (...). Repentinamente estalou um movimento
antijudeu e, numa quarta-feira de cinzas de março de 1391, uma multidão turbulenta
irrompeu no bairro judeu da cidade de Sevilha. No dia 9 de junho, uma orgia de
matança apoderouse da cidade. Dali o tumulto popular propagou-se a Córdoba, onde
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morreram dois mil hebreus. Continuou avançando até Toledo, onde o populacho, em
sinal de fé cristã, marcou para a matança de judeus o dia 17 de Tamuz (20 de junho),
em cuja triste e vergonhosa jornada correram torrentes de sangue israelita pelas ruas
da cidade imperial, sem perdão de idade ou sexo. Sucederam terríveis matanças em
cerca de setenta comarcas. (...) A partir desta época, o judaísmo espanhol, cortado
ao meio, arrastou uma vida apática até que recebeu o golpe mortal com a Inquisição,
fundada na Espanha em 1480. No dia da conquista de Granada, assegurada graças
ao apoio moral e material dos judeus e que coroava a unidade espanhola e o triunfo
da cruz, os reis Fernando e Isabel, sob a influência de Torquemada, ordenaram a
expulsão de todos os judeus do território espanhol (31 de março de 1492). De 500 a
600 mil infelizes, sem outra culpa que a de permanecer fiéis à religião e crença de
seus pais, tomaram o caminho do desterro, sendo este novo êxodo acompanhado de
terríveis sofrimentos e toda sorte de privações. (ALGAZI, s/d, s/p)
Em Portugal, de acordo com Algazi (s/d, s/p) os judeus levavam, até então,
uma vida relativamente calma, mas como Manuel, rei de Portugal, estava em boas
relações com Fernando, o católico, do qual iria tornar-se parente, e achando que em
seu caráter de monarca absoluto não ficaria mal a política absolutista de seu colega,
proibiu aos fugitivos da Espanha a entrada em seu reino. Muitos judeus da Espanha,
assim como de Portugal, emigraram para as Índias ou a países mais hospitaleiros
como a Itália, Turquia, Holanda, etc. Na Itália, devido talvez a sua política, como
também pela persistência das tradições romanas e certa suavidade de costumes
desse país, os judeus não sofreram grandes contrariedades nem tiveram que emigrar.
(...) Na França, os judeus viveram de uma maneira diferente. Na sua maioria
comerciantes, havia também entre eles tesoureiros fiscais, marítimos e médicos. Sob
a dinastia dos Merovíngios começaram as perseguições. A situação melhorou muito
durante o período Carolíngio. (...) Nos fins do século XII os judeus foram expulsos da
França, mas continuaram vivendo ali, mesmo sofrendo, até o século XIV.
Na Alemanha estabeleceram-se judeus desde tempos muito antigos. O
primeiro documento de uma comunidade judaica na Colônia data do ano 321. Até a
época dos últimos Carolíngios sua situação era muito boa. Floresceram escolas em
Metz e Maguncia, onde ensinou o célebre rabi
Guershon ben Judá, chamado “Luz da Diáspora”. (...) Na Áustria-Hungria, a história
do povo judeu apresenta vicissitudes mais complexas que em outras nações. Os reis
magiares serviam-se dos judeus como preceptores, tesoureiros e administradores de
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suas fazendas e de seus investimentos industriais. Mesmo quando a Santa Sé romana
interveio várias vezes para impedir estas relações, os soberanos voltaram atrás
depois de haver acatado temporariamente as prescrições da cúria romana. Os séculos
XIV e XV foram nefastos para os judeus austríacos. (...)
Na Europa oriental, os judeus haviam se estabelecido desde a destruição do
primeiro Templo. Na Polônia, eles chegaram por volta do século IX, procedentes da
Alemanha e Bohemia. Ali gozavam de uma hospitalidade liberal, crescendo
notavelmente a população judaica durante os dois séculos seguintes. (...) Na Criméia
e na costa do Mar Negro existiam algumas comunidades antes da era cristã; para lá
se dirigiram muitos, depois da destruição do Templo.
Assim difundiu-se o judaísmo nesses lugares e, devido à sua influência,
registrou-se a conversão do rei dos cuzares no ano 740 (d. C.). Muitos judeus do
império bizantino foram para lá, mas, quando o reino cuzarí foi destruído (969), eles
emigraram para a Rússia, onde, até o século XV, parece que levaram uma vida
bastante tranquila. Na Inglaterra havia judeus desde o século VII (d. C.), mas notícias
exatas só há a partir do século XI. Até o século XII a situação foi bastante boa, mas
sob o reinado de Ricardo Coração de Leão começou em Londres e noutras
localidades
uma série de perseguições que se agravaram durante o reinado de João sem Terra.
No ano de 1264 houve uma verdadeira matança e, por um decreto do ano de 1290,
os judeus foram expulsos da Inglaterra, encontrando refúgio em Flandres, França,
Alemanha e da Espanha setentrional.
Os judeus da Ásia e da África que viviam nos países muçulmanos puderam
gozar de certa tranquilidade durante um determinado período de tempo. Porém,
depois da batalha de Rodas (624), começaram nos territórios muçulmanos graves
perseguições. Omar expulsou-os da península arábica, admitindo-os novamente mais
tarde. Sob o domínio árabe, foi muito importante o desenvolvimento do judaísmo
egípcio, sobretudo em Fostat, antigo nome do Cairo, capital do Egito. Também em
outras localidades da África setentrional foram-se formando comunidades judaicas
muito importantes.
A descrição da situação do judaísmo nos principais estados europeus até fins
da Idade Média é suficiente para se ter uma ideia de sua verdadeira orientação
político-social. Os judeus, que sob certos aspectos são considerados como um dos
povos que tem vivido mais recolhido dentro de si mesmo e que, apesar das
26
perseguições, conservaram incólume o esotérico de sua doutrina, viveram durante os
tempos medievais e uma parte da idade moderna encerrados numa espécie de círculo
de ferro chamado gueto.
A Reforma, no que concerne aos judeus, tem sido erroneamente interpretada
ao afirmarem alguns autores que ela favoreceu a causa dos judeus. Depois dos dias
amargos que os fez passar o fundador do protestantismo, isto foi benéfico para os
israelitas, pois ao protestantismo deve-se o ressurgimento da crítica na sua mais
ampla acepção. Modificou em parte a psicologia dos povos ao promover um maior
interesse pelos estudos bíblicos, contribuindo assim para fazer luz sobre o passado.
Sob seu influxo, as lutas foram menos brutais. O próprio Lutero, que não podia
subtrair-se à instigação que em seu ânimo exerciam seus companheiros, chegou a
sentir uma profunda preocupação pelos judeus e, como já mencionamos, tornoulhes
a vida muito sombria com seus escritos e suas publicações. (...) (ALGAZI, s/d, s/p)
Vejamos em continuação como foi a vida dos judeus nessa época de reformas e
revoluções.
Continuando Algazi (s/d, s/p) aponta que voltaram à França no século XVI com
a anexação da Alsácia e Lorena e com a formação de colônias de “Anussim” (judeus
convertidos ao cristianismo à força) na França meridional. A Revolução os encontrou
na guarda nacional. A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, ao
estabelecer o princípio de liberdade religiosa e de igualdade, produziu praticamente a
emancipação dos judeus. Napoleão, apoiando este movimento nos anos de 1806-
1807, convocou em Paris o grande Sanedrin. Apesar da ótima situação judeo-
francesa e apesar de ter sido a França a primeira a proclamar a liberdade dos judeus,
ainda assim não pôde o francês eximir-se do antissemitismo. (...) Apesar destas raras
convulsões no organismo social da França, os judeus franceses continuaram
desenvolvendo sua vida e sua cultura, e sempre o perseguido num mundo inimigo
olhou a França como um guia de liberdade e fraternidade. Nos últimos tempos, por
exemplo, figuravam no parlamento seis deputados e três senadores judeus. Nas
esferas intelectuais francesas contava-se com várias personalidades proeminentes
que gozavam de fama positiva. Esta era a situação francesa na época da invasão
alemã em 1940. (...)
Na América, o judaísmo começou com a chegada dos primeiros judeus da
Espanha que vieram em companhia de Colombo. Desde então foi aumentando a
imigração judaica para as duas Américas. Em 1665 constituiu-se em Nova Iorque a

27
primeira comunidade israelita. Em 1790 a constituição dos Estados Unidos
estabeleceu a liberdade de religiões e, mais tarde, em princípios do século XIX, a
igualdade de direitos. A imigração da Europa Oriental aumentou depois que o Barão
Maurício Hirsch (1831-93) fundou a Jewish Colonization Association (J. C. A.) que
estabeleceu colônias na Argentina para os perseguidos da Rússia e da Polônia. Na
realidade, pode-se afirmar que a condição dos judeus em toda a América é atualmente
a melhor do mundo. (ALGAZI, s/d, s/p).

3 RELIGIÕES INDO-EUROPEIAS

3.1 Hinduismo

Começando pelo hinduísmo, diferente de outras religiões mundiais, ele não


teve fundados nem credo fixo nem organização de espécie alguma. A palavra
hinduísta significa simplesmente "indiano" (da mesma raiz do rio Indo), e talvez a
melhor maneira de definir o hinduísmo seja dizer que é o nome das várias formas de
religião que se desenvolveram na Índia depois que os indoeuropeus abriram caminho
para a Índia do Norte, de 3 a 4 mil anos atrás.
‘’ As raízes do hinduísmo podem ser encontradas em algum ponto entre o ano
1500 a.C. e o ano 200 a.C., quando os chamados arianos (isto é, os "nobres")
começaram a subjugar o vale do Indo.’’ (Jostein Gaarder, 2002, p. 42).
De acordo como conclui Gaarder, ‘’achados arqueológicos no vale do Indo
indicam que houve uma civilização avançada na Índia, anterior à chegada dos
indoeuropeus, e é certo que essa civilização também contribuiu para o hinduísmo
moderno.
O hinduísmo moderno compreende uma grande variedade de idéias e formas
de culto. Todas as sociedades têm várias formas de distinção e estratificação em
classes, mas é difícil encontrar um país onde isso tenha sido praticado tão
sistematicamente quanto na Índia. Desde os tempos antigos sempre houve quatro
classes sociais (a palavra sânscrita empregada é varna, que significa "cor"):
* sacerdotes (brâmanes);
* guerreiros;
* agricultores, comerciantes e artesãos, * servos.

28
Porém, à medida que a sociedade indiana se desenvolveu, as pessoas foram
sendo divididas em novas castas. No início do século XX havia em torno de 3 mil
castas. Não se sabe como surgiu o sistema de castas, e não há prova definitiva de
que se trata de uma evolução do sistema de quatro classes. Seria mais verdadeiro
dizer que esse sistema de classes se ajusta bem às castas.
‘’ A vaca é um animal sagrado na Índia e é adorada durante certas festas
religiosas. Isso provavelmente se relaciona com um antigo culto de fertilidade; nos
Vedas há hinos à vaca, pois ela supre tudo o que é necessário para sustentar a vida.
A vaca se tornou um símbolo da vida, e não é permitido matá-la.’’ (Jostein Gaarder,
2002)
Em termos de culto, a vaca é mais "pura" do que o brâmane. Assim, a pessoa
que toca uma vaca está ritualmente limpa. Todos os produtos derivados da vaca — o
leite e a manteiga — são utilizados em diversas cerimônias de purificação. Até mesmo
o excremento e a urina da vaca são tão sagrados que podem ser usados como
agentes de purificação. Os hinduístas têm outros animais sagrados além da vaca, em
especial o macaco, o crocodilo e a cobra. De modo geral, eles não gostam de tirar a
vida. Isso transformou muitos hinduístas em vegetarianos e também abriu caminho
para o ideal da não-violência, que ficou mais conhecido no Ocidente com a luta de
Gandhi para tornar a Índia independente do colonialismo britânico.
A multiplicidade do hinduísmo também se manifesta em seu conceito de Deus.
Em sua forma mais filosófica, o conceito hindu de divindade é panteísta. A divindade
não é um ser pessoal, mas uma força, uma energia que permeia tudo: os objetos
inanimados, as plantas, os animais e os homens. No extremo menos filosófico do
espectro há um conceito politeísta, que acredita num grande número de deuses.
Quase todas as aldeias têm a sua própria divindade local.
A palavra indiana para "ato" é karma. Hoje ela é usada para denotar todos os
atos humanos — ou o resultado coletivo desses atos. No período védico, o termo se
referia basicamente a atos religiosos ou rituais, em especial aos atos sacrificiais. Estes
eram necessários para incrementar a fertilidade e manter a ordem universal. Esse
antigo costume sacrificial, minuciosamente descrito nos Vedas, continua a
desempenhar um papel capital no hinduísmo. Fazendo sacrifícios e boas ações,
muitos hinduístas tentam obter a felicidade terrena, boa saúde, riqueza e copiosa
descendência. Em última análise, o objetivo permanece o mesmo de outras correntes
do hinduísmo: libertar-se do círculo vicioso da transmigração do espírito.
29
O hinduísmo tem uma série de deusas. Alguns adotam a teoria de que essa
abundância de deusas não passa da expressão de uma grande e poderosa divindade
feminina, a "Rainha do Universo" ou "Deusa-Mãe". Sua manifestação mais conhecida
é Kali, a deusa negra, adorada sobretudo no Leste da Índia e a quem se sacrificam
animais. O alto status de Kali no mundo dos deuses é evidente pelas imagens que a
mostram pisoteando o corpo de Shiva. A importância das deusas na religião indiana
é visível pela escolha da "Mãe Índia" (Bhárata Mata) como a divindade nacional do
moderno Estado da Índia. Na cidade de Varanasi há um templo especial que lhe é
dedicado. Ali, em vez de uma representação da deusa, está exposto um mapa da
Índia.
DIVINDADES MENORES A maioria das aldeias tem seu templo dedicado a
Vishnu ou a Shiva. Esses deuses se concentram nas questões maiores, universais, e
em geral são homenageados nos grandes festivais. Num nível mais terra-a-terra, as
pessoas costumam visitar os pequenos templos dedicados a divindades menos
importantes. Embora não sejam tão poderosas como Vishnu ou Shiva, é mais fácil se
aproximar delas para assuntos de menor importância, tais como problemas pessoais.
Os deuses menores por vezes exercem influência em áreas especiais, por exemplo,
em certos tipos de doença. Muitos deles têm origem humana: podem ser heróis que
morreram em batalha, ou esposas que se ofereceram para ser queimadas na pira
funerária do marido. Alguns deuses são espíritos malignos que foram deixados para
trás por homens maus. Ao cultivar esses espíritos como deuses, é possível controlar
e neutralizar seu mal.
A Índia também é um continente de grandes contrastes no que se refere ao
papel da mulher e ao modo como ela é considerada, tanto espiritual como
socialmente. O Livro dos Vedas afirma que o homem e a mulher são iguais "como as
duas rodas de uma carroça". Entretanto, a aceitação prática dessa idéia tem sido bem
mais difícil. Um livro indiano de normas, com 2 mil anos de idade, tem o seguinte a
dizer sobre o papel da mulher: "Assim como o estudo e o serviço doméstico na casa
de seu mestre são para o menino, assim deve ser para a menina viver com seu
marido; ela deve ajudá-lo em seus deveres e ser ensinada por ele. Cuidar do fogo
sagrado, como seu esposo lhe ensina, é comparável ao serviço do menino junto ao
fogo sacrificial de seu mestre". As mulheres na Índia são freqüentemente encaradas
como "propriedade" do marido. Uma mulher solteira em geral tem um status baixo, e
uma mulher casada sem filhos pode se encontrar numa situação bem precária. Por
30
outro lado, a Índia foi um dos primeiros países a ter uma mulher como primeiro-
ministro (Indira Gandhi). Muitas
mulheres desfrutam de notável influência pública, e em nenhum outro país do Terceiro
Mundo há tantas mulheres trabalhando fora de casa. Nesse contexto, ser membro de
uma casta pode constituir um fator decisivo na situação feminina. O culto das
numerosas deusas mulheres também pode contribuir para elevar a consciência das
mulheres.

3.2 Budismo

‘’Embora o budismo tenha se originado na Índia e sob esse aspecto possa ser
considerado uma religião indiana, pouco resta do budismo na Índia de hoje; ele é mais
difundido no Sri Lanka e no Sudeste da Ásia. Entretanto, o budismo também tem uma
longa e importante história na China, na Coréia e no Japão. Excluindo a China, estima-
se que quase 200 milhões de pessoas professam a fé budista.’’ (Jostein Gaarder,
2002)
O fundador do budismo foi o filho de um rajá, Sidarta Gautama (560-480 a.C.),
que viveu no Nordeste da Índia. Sobre sua vida há várias histórias, mais ou menos
lendárias, mas os pontos de maior destaque são os seguintes:
O príncipe Sidarta: cresceu no seio da fortuna e do luxo. O rajá ouvira uma
profecia de que seu filho ou se tornaria um poderoso governante ou tomaria o caminho
oposto e abandonaria o mundo por completo. Esta última opção aconteceria se lhe
fosse permitido testemunhai as carências e o sofrimento do mundo. Para evitar que
isso ocorresse, o rajá tentou proteger o filho contra o mundo que ficava além das
muralhas do palácio, ao mesmo tempo que o cercava de
delícias e diversões. Ainda jovem, Sidarta se casou com sua prima e mantinha
também um harém de lindas dançarinas.
Aos 29 anos Sidarta experimentou algo que haveria de ser o ponto crucial de
sua vida. Apesar da proibição do pai, ele se arriscou a sair do palácio e viu, pela
primeira vez, um velho, um homem doente e um cadáver em decomposição.
Entretanto, depois dessas impressões desanimadoras, avistou um asceta com a
expressão radiante de alegria. Percebeu então que uma vida de riqueza e prazer é

31
uma existência vazia e sem sentido. E se perguntou: haverá alguma coisa que
transcenda a velhice, a doença e a morte? Sidarta também se sentiu tomado por uma
grande compaixão pela humanidade e um chamado para livrá-la do sofrimento. Imerso
em pensamentos, voltou ao palácio e na mesma noite renunciou à sua agradável vida
de príncipe. Sem se despedir, abandonou esposa e filho, e partiu para uma vida de
andarilho.
As narrativas relatam que Sidarta, depois de uma vida de abundância, passou
para o extremo oposto: os exercícios ascéticos. Obrigou-se a comer cada vez menos,
até que finalmente, segundo a lenda, conseguia sobreviver com um único grão de
arroz por dia. Dessa maneira ele esperava dominar o sofrimento; mas nem os
exercícios de ascetismo nem a ioga lhe deram o que procurava. Assim, ele adotou o
"caminho do meio", buscando a salvação por meio da meditação. E, aos 35 anos,
após seis anos de vida ascética, alcançou a iluminação (bodhi), enquanto estava
sentado em meditação sob uma figueira, à margem de um afluente do rio Ganges.
Sidarta agora se transformara num buda, ou seja, um "iluminado": alcançou a
percepção de que todo o sofrimento do mundo é causado pelo desejo. É apenas
suprimindo o desejo que podemos escapar de outras encarnações. Durante sete dias
e sete noites o Buda ficou sentado debaixo de sua árvore da iluminação. Ganhou
dessa forma a compreensão de uma realidade que não é transitória, uma realidade
absoluta acima do tempo e do espaço. No budismo isso se chama nirvana. Ao dominar
seu desejo de viver, que antes o atava à existência, o Buda parou de produzir carma
e, portanto, não estava mais sujeito à lei do renascimento. Conseguira alcançar a
salvação para si mesmo, e o caminho estava aberto pata abandonar o mundo e entrar
no nirvana final. O deus Brahma, porém, instou com ele para que difundisse seus
ensinamentos. E então, mais uma vez, o Buda sentiu compaixão pelos outros seres
humanos e por todos os seres vivos. Ele "contemplou o mundo com um olhar de Buda"
e decidiu "abrir o portão da eternidade" para aqueles que o quisessem ouvir. O Buda
decidira se tornar um guia dos seres humanos.
Buda seguiu então para Benares, que já naquela época era um centro religioso.
Ali deu sua primeira palestra — o famoso sermão de Benares, que contém os
elementos mais importantes de seus ensinamentos. As "rodas da instrução" tinham
sido postas em movimento. Diversos monges mendigos seguiam Buda, e durante
mais de quarenta anos ele e seus discípulos vagaram pela região nordeste da Índia.
Desde o início os seguidores de Buda se dividiram em dois grupos, os leigos e os
32
monges, cada um com seus próprios deveres. Quando Buda tinha por volta de oitenta
anos, de repente adoeceu e decidiu se despedir dos discípulos. Antes de morrer,
voltou-se para o triste rebanho dos discípulos a seu redor e disse: "Talvez alguns de
vós estejam pensando: 'As palavras do mestre pertencem ao passado, não temos
mais mestre'. Mas não é assim que deveis ver as coisas. O darma (instrução) que vos
dei deve ser o vosso mestre depois que eu partir".

3.2.1 Os ensinamentos de Buda

A LEI DO CARMA
O budismo cresceu dentro do hinduísmo como um caminho individual para a
salvação. As duas religiões têm muitos conceitos em comum: as doutrinas do
renascimento, do carma e da salvação. Para Buda, um ponto de partida óbvio é que
o ser humano é escravizado por uma série de renascimentos. Como todas as ações
têm conseqüências, o princípio propulsor por trás do ciclo nascimentomorte-
renascimento são os pensamentos do homem, suas palavras e seus atos (carma).
Também nós podemos passar pela experiência de ver que certas coisas que
pensamos ou fizemos em determinada época da vida nos afetaram mais tarde.
Podemos sentir que nosso passado nos alcançou. É essa mesma idéia que percorre
o hinduísmo e o budismo. A diferença é que os orientais vêem essa relação como
algo estritamente regulado — e que se estende de uma vida a outra. O tipo de vida
em que o indivíduo vai renascer depende de suas ações em vidas anteriores. O
homem colhe aquilo que plantou. Não existe "destino cego" nem "divina providência".
O resultado flui automaticamente das ações. Portanto, é tão impossível fugir de seu
carma quanto escapar de sua própria sombra. Enquanto o ser humano tiver um carma,
ele está fadado a renascer. Embora se possa dizer que a lei do carma possui um certo
grau de justiça, ela é vista, no hinduísmo e no budismo, como algo um tanto negativo,
algo de que se deve escapar. Assim, a salvação consiste em ser libertado do círculo
vicioso dos renascimentos. A eterna série de reencarnações costuma ser comparada
a um rio que separa o homem do nirvana. O objetivo do budismo, comum com os
outros caminhos indianos para a salvação, é encontrar a "passagem" por onde se
pode atravessar para a outra margem.

33
Buda criou uma nova ordem, a sociedade monástica, independente do
sistema de castas. Para seguir à risca os ensinamentos do Buda, era necessário
deixar para trás todos os cuidados e as preocupações relativas à família e à vida
social. Até hoje a ordem monástica constitui a espinha dorsal da vida religiosa na
maioria das terras budistas. Dessa maneira, ao considerar a vida religiosa budista, é
importante distinguir entre os monges e as monjas, por um lado, e, por outro, os leigos.
Monges e monjas têm regras de conduta muito mais estritas do que os leigos. Em
primeiro lugar, há as dez regras, que também se aplicam aos noviços; além disso, há
várias centenas de outros mandamentos e in-junções que definem tais regras com
mais precisão. Como já vimos, os monges e as monjas levam uma vida de
simplicidade e pobreza. Desde os dias do Buda, costumam obter o pouco de que
necessitam para sobreviver pedindo esmolas, o que não é tido, de modo nenhum,
como degradante. Pelo contrário: para o leigo, é uma honra dar esmolas aos monges.
Em alguns lugares os monges esmolam nas ruas, de porta em porta. Monges vestidos
com seu hábito cor de açafrão pedindo comida (em geral arroz) pelas ruas é uma cena
comum nos países budistas do Sudeste asiático. Em outras regiões, a tarefa de
esmolar adquire uma forma mais organizada; por exemplo, cada casa de família é
responsável pela comida do mosteiro em certos dias da semana. Um mosteiro budista
não fica isolado da vida da cidade ou da aldeia. Não são apenas os leigos que têm
deveres para com os monges; estes também têm suas responsabilidades para com
os leigos. Em determinados dias, instruem os leigos sobre os ensinamentos do Buda.
As pessoas comuns podem ainda passar temporadas em retiro num mosteiro, a fim
de meditar ou receber instrução especial. Isso costuma acontecer na época das
monções. Em países devotamente budistas, como Birmânia e Tailândia, é comum
todos os meninos permanecerem algum tempo num mosteiro, aprendendo budismo.
Assim, podemos dizer que os dois grupos — monges e leigos — são
interdependentes. Mesmo que um budista não venha a se tornar um monge em sua
vida atual, se ele ajudar a sustentar um mosteiro, pode aspirar a ser um monge na
próxima encarnação.
Buda não negou a existência dos deuses. Como já vimos, foi um deus que o
exortou a proclamar sua mensagem para a humanidade. Ele não era um ateu no
sentido ocidental. Todavia, acreditava que a existência dos deuses era transitória,
assim como a existência humana. Embora eles vivam mais tempo que os seres
humanos, em última análise também estão atrelados ao ciclo do renascimento. Ainda
34
não alcançaram a "outra margem" e, portanto, não podem redimir o homem de tal
ciclo. Por isso, o papel dos deuses é insignificante na literatura monástica budista.
Não obstante, nos países budistas há uma adoração generalizada de demônios,
espíritos e várias outras divindades. Diferentemente do próprio Buda, todos estes são
seres vivos e ativos, os quais — se cultuados de modo correto — podem trazer
vantagens mundanas. Os templos budistas muitas vezes contêm estátuas de deuses
como Vishnu, Indra e Ganesha, mas sempre dispostas de maneira subserviente a
Buda. O budismo tem espaço para um amplo espectro de cultos e sentimentos
religiosos. Essa é uma importante razão pela qual o budismo ganhou tão ampla
aceitação em toda a Ásia.

4 RELIGIÕES DO EXTREMO ORIENTE

O culto aos antepassados é um ponto comum à vida religiosa da China e do


Japão. Trata-se de um dos elementos básicos tanto do confucionismo como do
xintoísmo, ou xintó (do japonês shinto, "caminho dos deuses").
Outra característica comum é a pluralidade religiosa. Várias religiões não só
coexistem lado a lado, como também se influenciam umas às outras. Não é raro
alguém seguir diversas religiões ou tirar inspiração de diversas religiões.
Desde tempos antigos os chineses falam nos "três caminhos": taoísmo,
confucionismo e budismo. O budismo veio da Índia e, além da China, propagou-se
também no Japão, onde teve grande influência sobre a religião nacional, o xintoísmo.
O Japão já foi chamado de laboratório religioso. Desde a Segunda Guerra
surgiram ali inúmeras novas seitas e comunidades religiosas, com raízes no
xintoísmo, no budismo e no cristianismo.
Na China, por outro lado, a religião passou a exercer um papel cada vez menor
nos anos do pós-guerra. Quando os comunistas e Mao Tsé-Tung assumiram o poder
em 1949, a liberdade de expressão religiosa foi fortemente reprimida. Destruíram-se
templos e se confiscaram propriedades religiosas comunitárias. Após a morte de Mao,
em 1976, houve uma pequena liberalização do campo religioso, assim como em
outras áreas da esfera pública.

4.1 Taoismo

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O taoísmo se baseia num livro chamado Tao Te Ching, "O livro do Tao e do
Te". Tao (ordem do mundo) e te (força vital) são antigos conceitos chineses aos quais
Confúcio deu uma interpretação um pouco diferente.
O Tao Te Ching é um livrinho de apenas vinte ou 25 páginas, dividido em 81
capítulos. Ninguém sabe ao certo quem o escreveu, mas diz a lenda que foi o filósofo
Lao-Tse, que viveu no século VI a. C, tendo sido mais ou menos contemporâneo de
Confúcio. As histórias sobre a vida de Lao-Tse são muitas e variadas, e os
historiadores não têm certeza sequer se ele de fato existiu. Feita essa
advertência, abaixo vamos nos referir a Lao-Tse como autor do Tao Te Ching.
TAO:
Para Confúcio, o tao era a suprema ordem do universo, que o homem tinha de
seguir. Lao-Tse também concebia o tao como a harmonia do mundo, especialmente
do mundo natural. Só que ele foi mais além: o tao é a verdadeira base da qual todas
as coisas são criadas, ou da qual elas jorram. Várias vezes o tao é descrito como o
"Céu", isto é, como algo divino, embora não seja um deus pessoal.
A diferença mais importante entre a concepção de Lao-Tse sobre o tao e as
outras é que Lao-Tse acreditava ser impossível descrever o tao de maneira direta e
racional. "O tao que pode ser descrito não é o tao real", disse ele. Isso significa que o
homem não pode investigar ou estudar a verdadeira natureza do tao, não pode usar
o intelecto para compreendê-lo. Ele deve meditar, imerso numa tranqüilidade sem
nexos e esquecer todos os seus pensamentos a respeito de coisas externas, como o
lucro e o progresso na vida. Só então irá alcançar a união com o tao e será preenchido
pelo te, a força vital.
Alguns discípulos de Lao-Tse direcionaram o misticismo natural para aspectos
mais mágicos. Foram esses elementos de magia que encontraram maior ressonância
entre as massas, ao se incorporarem às crendices e feitiçarias de tempos mais
antigos. Por exemplo, Lao-Tse acreditava que quando um indivíduo permanece
passivo, preserva sua força vital por longo tempo, mantendoa saudável e pura. Mais
tarde, algumas pessoas começaram a interpretar essa idéia como a possibilidade de
alcançar uma longevidade cada vez maior, e passaram a se interessar em se tornar
imortais. Filósofos taoístas, além de meditar, exercitavam práticas mágicas e
tentavam descobrir o elixir da vida eterna. Lado a lado com o taoísmo filosófico, foi se
desenvolvendo uma religião popular baseada em Lao-Tse mas que também tinha
seus próprios deuses, templos, sacerdotes e monges. Havia rituais complexos, em

36
parte inspirados pela prática budista, com procissões, oferendas de alimentos aos
deuses e cerimônias em honra dos vivos e dos mortos.

4.2 Confucionismo

Até 1911 a China foi uma potência imperial, onde o imperador reinava acima
de tudo. O imperador era considerado o representante do país diante do supremo
deus Céu. Ao mesmo tempo, era também o filho do Céu na Terra. O próprio imperador
realizava o sacrifício ao Céu no Templo do Céu, situado na capital, Pequim. Fazia
ainda sacrifícios às montanhas e aos rios sagrados da China.
O Império chinês era uma sociedade hierárquica, com líderes permanentes. A
frente da administração havia uma elite de funcionários altamente letrados, os
mandarins. Sua ideologia era o confucionismo, um conjunto de pensamentos, regras
e rituais sociais desenvolvidos pelo filósofo K'ung-Fu-Tzu (ou, na forma latina,
Confucius) cujas doutrinas prevaleceram na China até a queda do imperador.
Confúcio também formulou normas para a vida religiosa, para os sacrifícios e os
rituais. O confucionismo era, na verdade, uma religião estatal praticada pela elite e
pelas classes dominantes, a qual, no entanto, nunca se disseminou muito entre as
massas, as camadas mais amplas da população. Da mesma forma que o imperador,
em seu palácio em Pequim, ficava remotamente afastado das pessoas comuns, o Céu
era remoto e impessoal para a grande massa dos chineses pobres, trabalhadores e
camponeses. A religião dos pobres era a adoração dos espíritos, particularmente dos
antepassados, religiosidade carregada de magia e traços de outras religiões. As
grandes potências da Europa constituíam uma ameaça para a independência
econômica e política do país. Isso explica, em parte, a tendência isolacionista e o
ceticismo em face dos impulsos vindos do exterior. Os intelectuais atacavam a religião
popular, acreditando que esta era um obstáculo para a ciência moderna e o moderno
pensamento político. Isso levou alguns a tentarem um reavivamento e uma
modernização das antigas religiões, ao passo que outros desenvolveram um interesse
maior por idéias não religiosas vindas do Ocidente.
Em 1911 os incompetentes governantes imperiais foram derrubados e a China
se tornou uma república. Porém, as condições políticas se mantiveram instáveis por

37
causa de uma guerra civil e da guerra contra o Japão. Em 1949 os comunistas
tomaram o poder.
Confúcio teve um efeito decisivo no desenvolvimento da China. Após sua
morte, os discípulos começaram a difundir e ampliar suas idéias. O confucionismo
acabou se tornando uma espécie de religião estatal da China, chegando muitas vezes
a atacar outras religiões, como o budismo e o taoísmo.
Foram construídos templos em honra a Confúcio e se ofereciam sacrifícios a
ele na primavera e no outono, assim como se ofereciam sacrifícios ao Céu. Apesar
disso, deve-se enfatizar que o confucionismo nunca havia sido uma religião
independente. Falando-se mais precisamente: o termo abrange uma série de idéias
filosóficas e políticas que formavam os pilares do governo e da burocracia da China
imperial, muito embora a ética do confucionismo também permeasse amplas camadas
da população chinesa. É típica dessa tradição sua visão política pragmática e seu
interesse pelas questões sociológicas reais, como a educação dos filhos, o papel do
indivíduo na sociedade, as regras corretas de
conduta etc. Seu interesse pelas questões religiosas e metafísicas é muito menor.
Uma das idéias fundamentais de Confúcio era que a natureza e o universo
estão em harmonia, e que isso deve se aplicar também ao homem. Para esse fim,
Confúcio adotou alguns antigos conceitos chineses e os moldou a seus próprios
objetivos. O tao é a harmonia predominante no universo; em outras palavras, o
relacionamento bom e equilibrado entre todas as coisas. Essa harmonia é um modelo
para a sociedade, na qual, da mesma forma, o indivíduo deve tentar viver em
compreensão e harmonia. Isso pode ser atingido se seu ser interior estiver em
consonância com o tao, pois então ele encontrará o incentivo necessário, o te, ou o
caminho certo para a ação.
A fim de alcançar a harmonia com o tao, o homem precisa de conhecimento e
compreensão, o que ele pode obter estudando o passado, a tradição. Esta ensina ao
indivíduo as regras de comportamento correto, a celebração fiel dos rituais e das
cerimônias religiosas, e qual é seu devido lugar na sociedade.
Confúcio via o homem como naturalmente bom e pensava que todo mal brota
da falta de conhecimento. A educação, portanto, implica transmitir os conhecimentos
corretos.
O lugar do indivíduo na sociedade é regulado por cinco relações: entre senhor
e servo, entre pai e filho, entre mais velho e mais jovem, entre homem e mulher, e
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entre amigo e amigo. Isso significa que o soberano deve ser bom e o servo deve ser
leal, uma relação que tornou o confucionismo politicamente conservador e dificultou
os desafios à autoridade. Isso significa também que o pai deve ser amoroso e o filho
respeitador, uma idéia ligada ao culto dos antepassados. E significa que o homem
deve ser justo e a mulher obediente, o que diz bastante sobre o papel da mulher nesse
sistema.
O ideal para todos os homens e os conceitos mais importantes para Confúcio
são: piedade filial, respeito e reverência.

5 RELIGIÕES AFRICANAS

Três religiões dominam a África moderna. O cristianismo se encontra sobretudo


no Sul e ao longo dos litorais leste e oeste. O centro do islã fica na África setentrional
árabe, mas historicamente essa religião sempre teve penetração também ao sul do
Saara. Há, por fim, as religiões primais, ou tribais, ou tradicionais, as mais difundidas
antes da invasão cultural ocidental e árabe. Na África moderna, a estrutura tradicional
baseada na aldeia está desaparecendo e, juntamente com ela, o fundamento das
antigas religiões, que era a vida familiar e tribal.
As religiões africanas tradicionais não têm textos escritos, o que torna seu
estudo difícil para os pesquisadores. Boa parte do conhecimento que temos sobre
essas religiões, reunido durante os últimos séculos, apóia-se nos relatos de
observadores europeus, sejam eles mercadores, colonizadores ou missionários. Tais
descrições são muito influenciadas pelas constantes comparações entre a vida
religiosa e cultural do local e o cristianismo e a cultura ocidental. Mais recentemente,
etnólogos e antropólogos sociais vêm se utilizando de métodos científicos modernos
para estudar as religiões africanas, porém mesmo eles as vêem de uma perspectiva
externa.
Uma fonte de conhecimento sobre as religiões africanas são os mitos que
sobreviveram por meio da tradição oral, mas também se deve considerar que o
conteúdo das histórias contadas pode ter se alterado ao longo das gerações. As
religiões primais, assim como todas as outras, são influenciadas por fatores externos,
e muitas adotaram elementos do islã ou do cristianismo. Uma característica das

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religiões africanas mais recentes são os milhares de movimentos sincretistas que
surgiram em torno das missões cristãs.
Ao agrupar as religiões africanas sob um só rótulo, deve-se ter em mente que
seu número equivale ao de povos existentes na África. Cada uma tem seu próprio
nome para Deus, seus próprios rituais de culto, suas idiossincrasias. Por outro lado,
elas apresentam também muitos traços em comum, pois os africanos não viveram
uma existência estática, isolada. Sua história fala de diversas migrações, dos contatos
que cruzaram as divisões tribais e da formação de grandes Estados. É necessário
notar ainda que a maioria dos africanos não urbanos são agricultores e criadores de
gado. Há apenas alguns grupos de caçadores-coletores.

5.1 Papel essencial da tribo e da família

O termo tribal, quando associado às religiões africanas, oferece-nos uma chave


para compreender algo essencial sobre elas. A tribo — ou o clã, grupo de parentesco
ou família extensa — forma o arcabouço para a existência diária do africano. O
respeito por essa instituição é mais importante do que o respeito pelo indivíduo. O que
é especial no conceito que esses africanos têm de família (ou tribo) é que ela
compreende, além dos vivos, os mortos. O ancestral permanece próximo à tribo;
torna-se uma espécie de espírito vivendo num mundo à parte, ou pairando sobre o lar
para garantir que seus descendentes observem os costumes. O costume, ou a
organização da sociedade, ou ainda a "constituição", para usar um nome mais
moderno, foi estabelecido quando a tribo passou a existir, numa época que os mitos
chamam de "o princípio dos tempos". O dever dos vivos é assegurar a preservação
dessa organização, o que se consegue obedecendo cuidadosamente a todas as
regras e, acima de tudo, fazendo sacrifícios aos espíritos dos ancestrais. Entretanto,
a família não consiste apenas nos vivos e nos mortos, mas também nos ainda não
nascidos, nos descendentes. E dever do indivíduo dar continuidade à família. Um dos
piores infortúnios pessoais é morrer sem deixar filhos. Quando uma família se
extingue, a conexão
dos espíritos ancestrais com a Terra é cortada, pois não sobra ninguém para manter
contato com eles. Assim, se um homem tem mais de uma esposa e gera muitos filhos,
sua alma fica em paz. Ele sabe que depois da morte sua alma não será forçada a
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vagar pelo espaço vazio, desconectada da Terra, pois estará sempre ligada a alguém.
Uma das tarefas mais importantes do homem é tomar conta do território que foi
outorgado à tribo por seus pais fundadores, terra que, por sua vez, será passada aos
descendentes dele. Em outras palavras, não há propriedade privada da terra e ela
não pode ser vendida aos pedaços.

5.2 O chefe tribal

A tribo é liderada por um chefe ou rei. O papel do rei e seu poder variam de
tribo para tribo e sofreram mudanças no decorrer da história, em particular depois da
colonização da África pelas potências européias. O rei não é apenas um líder político,
mas ainda um juiz em exercício, o guardião da justiça e da lei. Com muita freqüência,
é ele também o sacerdote responsável pelos sacrifícios da tribo. O motivo por que o
rei acumula todas essas diferentes funções é que não há uma demarcação clara entre
política, religião, lei e moral. Cada uma dessas formas é parte do princípio — o
costume — sobre o qual aquela sociedade tribal está construída. O rei é o guardião
cotidiano desses preceitos; ele personifica o contato com os antepassados, com a
tradição. E também o representante dos deuses na Terra, bem como porta-voz dos
homens perante os deuses.

5.3 Deuses e Espíritos

Baseando-se nos mitos, que nunca eram escritos, mas passados oralmente
de geração em geração, os estudiosos já tentaram descobrir o que caracteriza a
crença divina dos africanos. Na maioria das tribos existe a crença num deus supremo,
embora este receba muitos nomes. Normalmente associado ao céu, é ele que
concede a fertilidade, e em alguns mitos é representado ao lado da deusa associada
à terra. Foi esse deus supremo que criou todas as coisas vivas, os animais e o ser
humano. Foi ele ainda o responsável pelos decretos que regulam a sociedade, pelos
costumes a que a tribo tem o dever de obedecer. Com freqüência ele é também o
deus do destino, que governa a vida dos seres humanos e controla a boa ou má
fortuna da tribo. As vezes, esse ser supremo é chamado de "deus em repouso", por

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estar remotamente afastado da vida cotidiana. Certos mitos relatam que havia um
contato íntimo entre o deus e o homem no início dos tempos, quando tudo era bom;
só que houve um desentendimento e o deus se afastou. É apenas em circunstâncias
excepcionais, quando as pessoas estão passando por graves necessidades, que elas
recorrem ao deus supremo. De modo geral, não precisam perturbá-lo, preferindo se
voltar para deuses e espíritos menores. Esses outros deuses, forças e espíritos se
encontram nas florestas, nas planícies e nas montanhas, nos rios e nos lagos. São
intimamente associados a fenômenos naturais distintos: o raio e o trovão, as grandes
cachoeiras, uma primavera quente, alguma árvore enorme ou uma rocha com formato
estranho. A religião ganda, praticada pelo povo Baganda, de Uganda, tem um deus
supremo chamado Katonda, porém o culto mais importante se dirige a uma
constelação de divindades menores. Uma delas é o deus da água, Mukasa, o qual
governa a fertilidade e a saúde. Há ainda o deus da guerra, Kibuka, que no passado
exigia sacrifícios humanos. Também é costumeiro tratar os espíritos dos mortos com
respeito; o culto aos antepassados é um dos aspectos mais típicos da religião
africana.

5.4 Culto aos Antepassados

Os antepassados são invisíveis, mas acredita-se que mantenham a aparência


que tinham em vida, ou talvez sejam um pouco menores. Os africanos não têm
nenhum conceito de divisão entre corpo e alma e não crêem que é a alma que
sobrevive. Os espíritos já foram comparados a sombras ou duplos dos mortos,
capazes de estar em vários lugares ao mesmo tempo: no túmulo, no mundo dos
mortos ou em fenômenos próximos ao homem. Uma noção comum
é que os mortos vivem no mundo deles da mesma maneira que viviam neste. Até seu
status social é mantido. Eles se revelam aos vivos sobretudo em sonhos, mas também
como animais e outros objetos naturais. Cada homem adulto que morre se torna um
espírito ancestral ou um deus ancestral para os que ficaram vivos, mas nem todos
exercem o mesmo papel, nem constituem objetos do mesmo culto. Os mais
importantes são os espíritos dos pais de família, dos patriarcas e dos chefes da tribo.
O homem que é considerado o pai fundador de uma linhagem de chefes com
freqüência é cultuado como um deus acima de todos os outros, uma divindade

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nacional. Culto aos antepassados é uma expressão que implica interação entre os
vivos e os mortos. Os vivos obtêm força e socorro de seus ancestrais; ao mesmo
tempo, os mortos dependem das oferendas de seus descendentes: é por meio desses
sacrifícios que adquirem sua força e potência. Se não receberem oferendas, irão
"morrer", isto é, cessar completamente de existir. Fazer um sacrifício a um ancestral
pode ser algo bastante simples. Um membro da tribo vai até o túmulo de seu pai, por
exemplo, oferece uma pequena quantidade de comida e bebida, e pede ajuda para
resolver uma situação difícil. Mais comum é a oferenda familiar coletiva. Esta é
comandada pelo chefe da família e presta homenagem aos pais já falecidos, os
espíritos mais proeminentes. Ter status é fundamental, e o chefe da família é o único
que tem o direito de fazer esse sacrifício; só que ele o faz em nome de toda a sua
família. O chefe da tribo é responsável pelos sacrifícios do grupo mais extenso. Em
nome de toda a tribo, ele se dirige aos espíritos de antigos chefes e faz orações
pedindo uma boa caça ou uma boa safra. Na época da colheita, os primeiros frutos
são oferecidos aos espíritos dos chefes. Selecionam-se os melhores produtos em
honra dos espíritos, e com o acompanhamento de orações, cantos e danças, as
pessoas — em geral usando máscaras e outros adornos — expressam sua gratidão
e oram para continuar tendo proteção.

5.5 Os especialistas em religião

O papel do chefe ou rei muitas vezes inclui as funções de sacerdote, mas há


também uma série de outros especialistas religiosos: curandeiros, adivinhos,
oráculos, profetas e magos fazedores de chuva.

5.6 Curandeiros

Nganga é uma palavra empregada entre os povos de idioma banto, no Sul da


África, e pode ser traduzida simplesmente por "médico" ou "doutor". O nganga é
bastante familiarizado com muitas das causas físicas das doenças, e utiliza ervas e
plantas da medicina popular em sua prática médica. O tratamento, porém, costuma
ser acompanhado de amuletos e fórmulas mágicas para controlar os espíritos maus.

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É uma crença comum a existência de "bruxas" e "feiticeiros", pessoas que tentam
fazer mal aos outros usando, por exemplo, a magia negra. A tarefa do curandeiro é
anular o feitiço, possivelmente empregando os mesmos métodos mágicos.

5.7 Magia

A magia é definida como "a capacidade de influenciar os acontecimentos


aliciando os seres espirituais ou ativando forças naturais ocultas". Muitas sociedades
tribais africanas têm fazedores de chuva. Eles usam a chamada magia homeopática
quando querem que chova ou quando querem que a chuva cesse. Se querem chuva,
podem, por exemplo, imitar seu ruído despejando água numa peneira. Podem
também saltitar agachados, coaxando, como fazem os sapos quando chove. Ou ainda
podem cobrir a cabeça com uma folha de palmeira, fingindo que está chovendo. Se,
por outro lado, querem que a chuva cesse, podem acender uma fogueira imitando o
sol. A magia homeopática se baseia no princípio "semelhante atrai semelhante".
Acredita-se na existência de uma conexão entre dois fenômenos que se parecem. Se
se cria uma situação de chuva, a chuva necessariamente tem que cair. Outro tipo é a
magia de contágio, a qual age segundo o princípio de que há uma conexão entre as
partes e o todo. Se, por exemplo, alguém possui algo — uma peça de roupa, alguns
fios de cabelo ou um fragmento de unha — que pertence a um inimigo, terá poder
sobre este. Se qualquer uma dessas coisas for agredida, seu possuidor também
sofrerá. É igualmente comum considerar que o nome é parte da pessoa. Assim, em
muitos lugares as pessoas receiam dizer seu nome, temendo que alguém possa
utilizá-lo para fazer mal a elas.

5.8 Adivinhação e Profecia

Os adivinhos são especialistas em interpretar as mensagens dos espíritos.


Alguns curandeiros são adivinhos e empregam suas técnicas para fazer diagnósticos.
Mas os adivinhos também podem aconselhar sobre o que fazer numa determinada
situação ou sobre como apaziguar a ira dos deuses. Eles possuem muitas técnicas.
O adivinho pode usar, por exemplo, um cesto contendo vários objetos. Cada um deles
tem um significado simbólico; cada um indica certa situação ou característica humana.

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Quando se sacode a cesta, os objetos saem do lugar; o adivinho então examina quais
objetos ficaram por cima e suas posições relativas.
Atirar objetos para o ar e ver de que maneira caem também é uma prática
comum. Os adivinhos pertencentes ao povo Chona, do Zimbábue, utilizavam quatro
pedaços de osso ou de madeira, que representavam um velho, uma velha, um rapaz
e uma moça, e tinham marcas mostrando seu lado de cima e seu lado de baixo. Com
base nas posições relativas desses objetos ao caírem ao chão, o adivinho tirava suas
conclusões. Não se trata apenas de algo como tirar a sorte com números ou jogar
cara-ou-coroa. O adivinho considera que a resposta obtida é uma mensagem vinda
dos espíritos ou dos deuses. Mas eles também podem se manifestar diretamente, por
intermédio de certos indivíduos especiais. Usando a música e a dança, esses
indivíduos entram em transe e ficam "possuídos" por um espírito, que se faz conhecer
e pode ser interrogado pela pessoa que está possuída. Tais indivíduos são valiosos
conselheiros na comunidade e desfrutam de um status elevado no culto. Outros atuam
como profetas independentes.

5.9 Ritos de Passagem

Alguns especialistas religiosos são responsáveis pela vida ritual. De especial


importância são os ritos de passagem associados com o nascimento, a morte, a
puberdade e o casamento. Quando os meninos da tribo passam da infância para a
idade adulta, devem se submeter aos chamados ritos da puberdade. Os Baluba, um
povo banto, começam isolando os meninos do resto da comunidade e sobretudo das
mulheres, até mesmo de suas mães. Eles são então circuncidados e enviados à
floresta para um duro teste de várias semanas durante o qual aprenderão também as
crenças e os costumes de seus antepassados. Quando por fim retornam à aldeia, são
considerados homens adultos, prontos para casar e ter filhos.

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