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CARTA INTRODUTÓRIA

Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo!

Caros responsáveis locais e coordenadores apostólicos, com grande alegria


apresentamos o Retiro de Semana Santa 2020, que terá como tema “Ele se entregou por
mim”. Todas as pregações deverão ser desenvolvidas a partir do Tema “Ele se entregou por
mim” (Gl 2,20) como podem ser observados nos pontos base para pregações disponíveis
neste manual.

A coleção Meditações para a Semana Santa traz reflexões à luz da Palavra de


Deus e da Doutrina da Igreja, onde o fiel batizado é inserido no mistério central da fé católica:
a Paixão, a Morte e a Ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo, transmitido neste ano, sob
o tema Ele se entregou por mim. A obra contém textos oracionais referentes a cada dia da
Semana Santa (Quinta-feira Santa a Domingo de Páscoa). O livro tem como objetivo
favorecer ainda mais aos participantes uma vivência profunda da Semana Santa, por isso cada
missão deve fazer o seu pedido junto às Edições Shalom, pois o livro servirá de base para a
vivência do retiro. Os participantes devem ser orientados a rezarem com o livro em casa, para
que assim sejam introduzidos no mistério de cada dia. Cada pregador deve adquirir o livro
com a maior antecedência possível, e preparar sua pregação em comunhão com o livro e com
os pontos base enviados neste manual. Este livro expressa o desejo da Comunidade em dar
cada vez mais qualidade ao Retiro de Semana Santa, que encerra em si o mistério da Vocação
Shalom.

Vivamos todos esses dias com o Senhor, para chegarmos ao fim dessa caminhada, entoando
“Aleluia, Cristo Ressuscitou! Sim, verdadeiramente ressuscitou”, com alegria e a paz de
quem venceu tudo com Ele.

Uma abençoada Semana Santa e Feliz Páscoa!

Gabriella Dias
Assistente Apostólica
PROGRAMAÇÃO

DIA/TURNO ATIVIDADES MATERIAL

09/04 ● Pregação ● Espírito Litúrgico


QUINTA- FEIRA ● Celebração (com adoração) ● Subsídio para pregação
SANTA da quinta feira ● Celebração Quinta feira Santa

10/04 ● Pregação ● Espírito Litúrgico


SEXTA- FEIRA ● Via Sacra ● Subsídio para pregação
SANTA ● Jejum ● Via Sacra
● Orientações sobre o Jejum

11/04 ● Pregação ● Espírito Litúrgico


SÁBADO SANTO ● Celebração Sábado Santo ● Subsídio para pregação
● Celebração do Sábado Santo

12/04 ● Pregação ● Espírito Litúrgico


DOMINGO DE ● Adoração ● Subsídio para pregação
PÁSCOA ● Orientação

Observações:
Que constam neste manual: Subsídios para pregações, escritos por Élica Mara Silveira
de Melo e Samuel Souza da Luz (Comunidade de Vida Shalom); Espírito Litúrgico,
celebrações e esquete do domingo de Pascoa, escritos pela Assessoria Litúrgico
Sacramental e Via Sacra, escrita por Wilde Fábio, secretaria de Artes. Todos, com
exceção das Celebrações (e sugestão da esquete do domingo de Páscoa), foram retirados
do livro Meditações para Semana Santa 2020 que será lançado e que deve ser
promovida a aquisição antes e durante o evento da Semana Santa. No mesmo (livro)
consta material para toda a Semana, iniciando com o domingo de Ramos.
QUINTA-FEIRA SANTA
Espírito litúrgico

A Quinta-feira Santa faz parte da preparação em vista da Páscoa do Senhor e


consequentemente da sua Esposa, a Igreja. É neste dia que se dá o início do Tríduo Pascal, a
preparação para a grande celebração por excelência, que é a da Páscoa, da vitória de Jesus
Cristo sobre a morte, sobre o pecado e o sofrimento, sobre o inferno. Este é o dia em que a
Igreja celebra a instituição dos grandes sacramentos da Ordem e da Eucaristia. Pois
Jesus é o grande e eterno Sacerdote, mas quis precisar de ministros sagrados, retirados do
meio do povo, para lavar os pés da humanidade, levando ao mundo a Salvação que Ele
mesmo conquistou, tamanha a potência da sua Morte e Ressurreição. Jesus desejou
ardentemente celebrar aquela hora.

Na celebração da Páscoa, após ter instituído o sacramento da Eucaristia, o Senhor


disse aos discípulos: “Fazei isto em memória de Mim”. E com as seguintes palavras, Ele
instituiu o sacerdócio cristão: “Então, tomando uma taça, deu graças e disse: Tomai isto e
reparti entre vós; pois Eu vos digo que doravante não beberei do fruto da videira, até que
venha o Reino de Deus. E tomou um pão, deu graças, partiu e deu a eles, dizendo: Isto é o
meu corpo que é dado por vós, fazei isto em minha memória” (Lc 22,17-19).

Naquela noite em que foi, muitas vezes, traído, Cristo nos amou mais ainda, pois
bebeu o cálice da Paixão até a última e amarga gota. O Senhor lavou os pés dos discípulos.
Fez esse gesto marcante, que era realizado pelos servos, para mostrar que, no Seu Reino, “o
último será o primeiro” (cf. Mt 20,16), e que o cristão deve ter como meta servir e não ser
servido.

E por causa daquela bendita noite, em que Jesus fez várias promessas
importantíssimas à Igreja, que acabara de instituir sobre Pedro e os Apóstolos, que Nossa
Senhora, a Virgem Vigilante por excelência, esteja atenta ao nosso clamor e nos ajude a
usufruir, plenamente, cada aspecto da Salvação operada pelo Cordeiro de Deus, trazido por
Ele a cada homem, para que sejamos dignos das promessas de Cristo.
Subsídio para pregação:

O Filho de Deus se entregou por mim

Para São Paulo, a vida cristã é comunhão e imitação. Os dois aspectos estão
profundamente interligados, são inseparáveis. Da união com Cristo, e somente desta, brota a
vivência das virtudes cristãs, a santidade. Por outro lado, não é possível imitar Cristo, viver
como Ele, sem viver com Ele, Nele. Até mesmo “o nosso empenho de viver uma vida virtuosa
é graça que deve ser pedida, suplicada” 1.
É Cristo mesmo que faz com que possamos viver Nele tudo o que Ele viveu. É Cristo
que vive em nós, completando em nossa carne os mistérios de Sua vida: “Na verdade, o Filho
de Deus deseja comunicar e prolongar, de certo modo, os seus mistérios em nós e em toda a
sua Igreja, [...] quer pelas graças que decidiu conceder-nos, quer pelos efeitos que deseja
produzir em nós, por meio destes mistérios. É neste sentido que Ele quer completá-los em
nós”2.
Queremos voltar o nosso olhar para aquele evento central da história da humanidade
e da nossa história, o mistério pascal, que não somente ilumina todo o nosso viver, mas do
qual recebemos a Graça, a vida de Cristo em nós.

A Graça como relação de amizade


Muitas vezes pensamos na Graça como uma “coisa”, e pedimos ao Senhor que nos
dê a Graça de realizar essa determinada tarefa ou de superar uma situação difícil, como se a
Graça consistisse nessas “coisas” que pedimos. Não é que esta oração esteja “errada”.
Simplesmente corremos o risco de não rezar como convém, por perder o verdadeiro
significado de “Graça”.
Graça, com efeito, é essencialmente relação, “condição de amizade, de comunhão
produzida pelo próprio Deus através da Sua auto-doação gratuita”3. Quando peço a Deus a
sua Graça, estou pedindo-Lhe que me coloque em uma determinada relação Consigo, da qual
vem, em seguida, todos os bens de que preciso.
Esta é, por exemplo, a dinâmica da oração do Pai-nosso. As primeiras petições dizem
respeito ao relacionamento com Deus: o orante se reconhece filho e pede que a Terra, o seu
mundo, a sua vida, aos poucos, entre em uma relação de conformação ao Céu, ao mundo de
Deus, à vida de Deus. Só depois pede pão, perdão, proteção.
Não é essa a oração que o Senhor nos ensinou? Mas nós tantas vezes pedimos coisas
a Deus e esquecemos que Ele quer dar a Si mesmo a nós em uma relação de profunda
comunhão de vontades e de vidas. Deus nos chama à amizade Consigo.

Deus se entrega para amar-nos até o extremo


Mas como subir este monte e alcançar este cume altíssimo da união com Deus? Como
se elevará ao Senhor o homem criado em baixezas? – perguntava-se São João da Cruz.
No mistério pascal, encontramos a resposta: não é o homem que, com sua força, se
eleva até o céu; mas é Deus que depõe as vestes de Soberano e assume a extrema pobreza

1
AZEVEDO FILHO, M. A. de. Op. cit., p. 85.
2
CIC 521.
3
MONDIN, Battista. Dizionario enciclopedico del pensiero di San Tommaso d’Aquino. Bologna: ESD,
2000, 336. Tradução nossa.
humana. “Não foste tu que alcançaste Cristo com a tua virtude, mas foi Cristo que te alcançou
com a Sua vinda”4.
Desde a Encarnação, Jesus é abaixamento, esvaziamento, entrega. No dia que
precede a consumação do Seu amor na cruz, toma as vestes do escravo, anulando a distância
entre o Deus altíssimo, em Seu trono de glória, e o servo que se ajoelha no pó 5. Assim
fazendo, Cristo ensina que o Amor (outro nome para “Graça”, a vida divina em nós) é a única
força capaz de unir os extremos, de vencer a contradição, de fazer síntese.
São tantas e imensas as nossas divisões, as contradições internas e externas: insistente
busca pela santidade e recorrente queda no pecado; desejo imenso de eternidade e vil entrega
a mundanas paixões; livre decisão pelo bem e experiência de um mal que nos cerca e assalta.
Eis que Cristo abraça tudo, quando desposa a nossa carne e escolhe amar-nos “até ao
extremo” (cf. Jo 13,1). Desde que a Vida assumiu a carne em Sua desfiguração e extrema
fealdade, não há longitude ou latitude inalcançável ao Seu amor. “Quis precipitar tão
profundamente que toda queda pudesse se tornar um cair dentro Dele” 6.
Neste dia, o Senhor do Céu e da Terra se abaixa para lavar-nos os pés, mostrando-nos
que o Seu amor alcança todos os extremos de nossa vida. Somente unidos a Ele podemos
imitá-lo. Seguindo-O em Seu abaixamento, colaboramos com a Sua graça e unimos a nossa
vontade à Sua.

Transubstanciação do ordinário
Pensemos agora no misterioso evento que concluiu aquela ceia pascal. Cristo oferece
a si mesmo em dom por e para cada um dos Seus discípulos. Antecipando o iminente
sacrifício da cruz, multiplica-o e perpetua-o no dom da Eucaristia.
Depois de ter velado a Sua glória na carne e antes de ter esta mesma carne escondida,
primeiro no ventre da terra e, em seguida, no mais alto dos Céus, Cristo resolve encerrar-Se
naquela matéria mais habitual, no pão “de cada dia”. O Excelso se esconde no ordinário, e
este é transfigurado, transubstanciado. Aparentemente, trata-se do mesmo pão; mas a
essência daquele pão é Deus mesmo!
Ora, “as forças superiores não permitem àquelas inferiores de permanecer no mesmo
estado a partir do momento em que se encontram. Assim o ferro unido ao fogo não tem mais
nada do ferro; a terra e a água mudam as suas propriedades por aquelas do fogo 7. Ora, se
entre forças naturais as mais fortes agem deste modo sobre as menos fortes, o que se deve
pensar daquela potência sobrenatural [da Eucaristia]?” 8.
Assim, se é verdade - e nós o cremos - que a potência divina, ou melhor, o mesmo
Jesus Cristo crucificado e ressuscitado está presente nas espécies consagradas, como não
esperar que a nossa matéria seja transfigurada Nele?
Em aparência, “eu vivo, mas não sou eu”! O que eu vejo é ainda uma matéria
ordinária; porém, escondida ali há uma vida divina, invisível, cuja presença é atestada pelos
sinais sobrenaturais, o maior deles, a caridade. Cada gesto que atuarmos de misericórdia, de
verdadeira ternura, de dom desinteressado revelará aos homens aquele Outro que vive em
nós, abrirá ao mundo uma janela para o Céu. Ele Se entregou por mim! “Ele, que tendo unido

4
CABASILA, Nicola. La vita in Cristo. Torino: UTET, 2013, §532b. Tradução nossa.
5
BALTHASAR, Hans Urs von. Il cuore del mondo. Milano: Jaca Book, 2016. Tradução nossa.
6
Ibid.
7
A ideia de fundo é aquela segundo a qual o fogo é capaz de transformar qualquer matéria em si mesmo.
8
CABASILAS. La vita in Cristo, §593c. Tradução nossa.
a Si a nossa natureza através da encarnação, une cada um de nós à Sua carne com a potência
dos sacramentos”9.
Não se trata, portanto, como dizíamos no início, de simples imitação, de perfeição
moral, de heroísmo. A única coisa necessária é o cultivo da união com Cristo, união que brota
da oração, mas se cumpre na cruz, assim como a entrega de Cristo a nós se antecipa na
Eucaristia e se consuma na Paixão.

“Eucaristizados10”
Assim como um alimento comum que ingerimos vem metabolizado e se transforma
em energia para a execução de nossas atividades, analogamente, mas com uma potência
infinitamente superior, a Eucaristia se transforma em nós em uma força divino-humana para
o nosso crescimento até a estatura de Cristo.
Bem mais do que isso, não somente uma força nos habita, mas um Outro vive em nós:
“temos o pensamento de Cristo” (1Cor 2,16); é Cristo que fala em nós (cf. 2Cor 13,3);
amamos com as vísceras de Cristo (cf. Fil 1,8). Nós nos tornamos “conaturais ao Senhor
segundo o Corpo”11; e desta forma recebemos da sua plenitude graça sobre graça (cf. Jo 1,16).
Portanto, antes de tudo, vem “a graça e, como fruto da graça, a vivência da moral
cristã (...) A graça e a misericórdia devem gerar as virtudes e nós devemos persegui-las (...).
As virtudes são uma encarnação da graça na nossa vida” 12. Por sobre a graça da comunhão
eucarística com Cristo, vem a graça da imitação. Na verdade, Graça e virtudes são
simplesmente os dois momentos de realização de um único dom: a vida divina em nós.
Foi isto que o Senhor inspirou ao Conselho Geral da Comunidade Shalom reunido
para ouvi-Lo: “Jesus eucaristiza a Comunidade, na medida em que nós O celebramos e O
recebemos na Eucaristia, na medida em que nós O adoramos; mas também pela vida ofertada
daqueles que O recebem e vão se dando no corpo da Comunidade, e vão eucaristizando a
Comunidade”13.
A Graça que passa hoje em nossas vidas pode bem ser resumida na expressão
“eucaristizados”: nosso Senhor se abaixou e se entregou na Eucaristia para unir-nos a si, para
que nos tornemos com Ele um só sujeito: “Cristo atrai-nos continuamente para dentro do seu
Corpo, edifica o seu Corpo a partir do centro eucarístico, que para Paulo é o centro da
existência cristã, em virtude da qual todos, como também cada indivíduo pode experimentar
de modo muito pessoal: ele amou-me e entregou-se a si mesmo por mim.” 14
Dá-nos, Senhor, de compreender e acolher de um modo novo a Tua graça eucarística,
o mistério do Teu Corpo entregue por nós, que nos une a Ti, para que sejamos santificados
pela Eucaristia e tornemo-nos também nós Eucaristia, amor que se abaixa e se entrega pela
humanidade.

9
Ibid., §508c. Tradução nossa.
10
Neologismo que quer significar “santificar pela Eucaristia”, mas também “fazer com que os homens se
tornem Eucaristia para a humanidade” (cf. ESCUTA, 2019, p. 69).
11
ATANASIO. De sententia Dionysii, 10, In: CABASILAS, La vita in Cristo. Tradução nossa.
12
AZEVEDO FILHO, Op. cit., p. 80.
13
Ibid., p. 69.
14
PAPA BENTO XVI. Homilia. 2008. Disponível em <http://bit.ly/2Evtlxa>. Acesso em 17 de dez. 2019.
ROTEIRO PARA CELEBRAÇÃO (COM ADORAÇÃO) DA QUINTA FEIRA
SANTA

“E disse-lhes: Desejei ardentemente comer esta Páscoa convosco antes de sofrer” (Lc
22,15).

1º Momento: O Mistério

Para que Deus nos reuniu aqui? O que o Senhor quer nos falar?

Todos em um profundo Silêncio, voltados parados no palco, contemplam os elementos da


Quinta-feira Santa (mesa da Ceia, lavatório) e o ícone da Proteção da Mãe de Deus.

Enfim, um cântico de súplica rasga de repente o silêncio...

Neste primeiro momento, será orientado que cada um faça memória dos propósitos feitos à
Deus durante a Quaresma.

Que este, seja como se fosse o último momento para implorar ao Onipotente, uma
intervenção em vista da conversão à Santidade. Que seja também o momento onde as virtudes
da Fé e da Esperança sejam renovadas em vista da páscoa do Senhor.

Se achar conveniente, oriente a assembleia a rezar uns pelos outros de dois em dois, para que
a voz de Deus seja ouvida claramente por cada um neste primeiro momento.

2º Momento: O Convívio dos eleitos

A alegria do Emanuel!

Deus nos atrai e nos reúne em torno de Si mesmo e do altar do banquete da ceia Eucarística,
para nos fazer santos. Por isso nos alegremos pelo chamado à santidade que não é uma
presunção nossa, mas de fato uma vocação. Temos a Deus! e Ele nos basta!

Neste momento o Santíssimo entrará em solene procissão e em meio a um louvor carismático,


com palmas e danças, ao som de um cântico de Louvor que manifeste a Glória de Deus com
harmonia e beleza.

O incenso deve ter um odor agradável e bastante expressivo, como deve ser o testemunho da
santidade.
3º Momento: A perfeita contrição

A santíssima presença de Cristo, manifesta a verdade a nosso respeito.

Assim como a imprudência de Pedro e a idolatria de Judas se manifestaram na presença da


comunidade dos apóstolos e da Santidade humílima do Senhor, supliquemos a Deus a graça
de um autêntico autoconhecimento para alcançar a contrição perfeita.

Deve ser motivado um forte momento de súplica da contrição perfeita diante do Santíssimo,
pois só Deus pode acusar a nossa consciência.

Ainda diante do Santíssimo, suplicar que Deus nos livre de toda agonia das doenças
psíquicas, (estafa, depressão, síndrome do pânico, fobias e etc.).

A pessoa que irá conduzir esta parte da Celebração, seja um Padre ou um ministro de cura e
libertação cuja autoridade seja reconhecida pela comunidade.

A pessoa que conduzirá este momento, deve ficar ciente com muita antecedência em vista de
se preparar bem, sendo um canal aberto da cura de Deus.

4º Momento: Vigilância e Oração

Momento final o Santíssimo será recolhido e todos se voltaram para a motivação com o ícone
da Proteção da Mãe de Deus, onde com um cântico nos confiaremos ao seu poderoso refúgio.

Será motivado que permaneçamos com Ela em profundo estado de vigilância e oração, em
vista de vivermos bem os outros dias deste tríduo.

ANEXO

Será de suma importância que as pessoas responsáveis pela condução desta celebração, leiam
e rezem com a Passagem Bíblica que inspirou a construção da mesma, para que assim, se
unam mais intimamente ao Espírito Santo, que é o Autor e verdadeiro regente da Obra que
O Pai realizará em nossas vidas.

"É verdade que também aos justos feriu uma provação mortal e aconteceu no deserto a morte
de uma multidão, mas a tua ira não perdurou por muito tempo. Pois um homem
irrepreensível apressou-se em lutar por eles sobraçando o escudo do seu ministério: a
oração e a propiciação pelo incenso. Ele resistiu à Ira e pôs fim à fatalidade, demonstrando
que era teu servo. E assim venceu a Ira, não pela força corporal nem pelo poder da
armadura, mas pela Palavra submeteu o Castigador, recordando os juramentos e as
alianças dos antepassados. Como já em multidão caíssem, mortos, uns sobre os outros, ele
interveio e sustou a arremetida da Ira, barrando-lhe o caminho que levava aos que ainda
viviam. Na sua veste sacerdotal estava representado todo o orbe terrestre, as façanhas dos
patriarcas, no entalhe das quatro ordens de pedras, e a tua Majestade, no diadema da sua
cabeça. Diante dessas coisas, o Exterminador parou e delas teve medo; a simples amostra
da tua Ira já era suficiente."

(Sabedoria 18,20 - 25)


SEXTA-FEIRA SANTA
Espírito litúrgico
A sexta-feira é o único dia “em que o centro da liturgia da Igreja e sua culminância
não é a Eucaristia, mas a cruz, ou seja, não o sacramento mas o que ele significa” 15. Este é o
dia em que olhamos para a cruz, ou melhor adoramos a cruz. Nós somos chamados a amar a
cruz de nosso Senhor, pois ela é uma segurança para nós16.
Neste dia, uma graça toda particular envolve a Igreja, pois ela celebra a morte do
Senhor. Ele se entregou por nós. Hoje, rezamos com o quarto canto do servo do Senhor que
diz: “Eram nossas doenças que ele carregava, eram nossas dores que ele carregava em suas
costas. E nós achávamos que ele era um homem castigado, um homem ferido por Deus e
humilhado” (cf. Is 53,3-4). Este texto se encaixa perfeitamente no mistério celebrado: Jesus,
sem culpas, se entrega para nos salvar. A cruz não é um sofrimento estéril, ela é gloriosa,
ela dá frutos.
No Evangelho, é sempre lida a Paixão segundo João, pois a Paixão narrada por ele
mostra a suprema manifestação do amor do Pai. A entrega de Jesus, feita com liberdade e
consciência, nos mostra os sinais da Sua divindade, do Seu esvaziamento, da Sua doação
total.
Neste dia, não há liturgia eucarística, mas a adoração da cruz, pois a liturgia volta-se
para o sacrifício cruento da cruz. Esta que era um escândalo, maldição, humilhação, mas que
se tornou sinal de Salvação, árvore da vida, libertação.
“Que acontecimentos tão decisivos se deram na cruz para justificar essas asserções?
Deu-se que o Senhor venceu definitivamente o mal, sem com isso destruir a liberdade de que
é fruto. Não o venceu destroçando-o com a sua onipotência e excluindo para fora dos confins
do seu reino, mas assumindo-o sobre si (...). Na cruz, Jesus ‘fez a paz, destruindo em si
mesmo a inimizade’ (Ef 2,15s). Destruindo a ‘inimizade’, não o inimigo; destruindo ‘em si
mesmo’, não nos outros.”17
Que sejamos levados por um profundo silêncio e piedade, pelo desejo de nos unirmos
a Cristo, pelo desejo de também nós nos darmos pela humanidade, que precisa ter uma
experiência com a gratuidade do amor de Deus. Peçamos ao Senhor a graça de nos darmos
também dessa forma, por amor e sem medo de tudo perder, sem medo de nós mesmos
fazermos nosso esvaziamento total.

15
CANTALAMESSA, R. O poder da cruz. São Paulo: Loyola, 2009.
16
AZEVEDO FILHO, M. L. de. Escuta: Conversão à santidade. Aquiraz: Edições Shalom, 2019, p. 59.
17
CANTALAMESSA, R. Op. cit., p.121.
Subsídio para pregação:

Ele me amou! Eu O amarei!


Cocrucificados
Se a Graça é dom gratuito de comunhão, no dia de hoje, que é luz para toda a nossa
vida, esta Graça recebe o nome de cocrucifixão. Esta é a expressão usada por São Paulo no
versículo anterior àquele que estamos meditando. A Bíblia de Jerusalém traduz: “Fui
crucificado junto com Cristo” (Gl 2,19b).
A expressão no texto original soa “synestáurōmai”, palavra composta do prefixo
“syn”, que indica companhia, mas também “coexistência, igualdade de condição” 18; e do
verbo “stauróō”, crucificar, no tempo verbal grego chamado “perfeito”, que indica uma ação
passada que tem consequências que perduram. São Paulo, de modo quase redundante, quer
dizer que a sua vida é permanentemente unida à do Crucificado, que existe uma profunda e
perdurável comunhão existencial entre ele e Cristo. Paulo vive da cruz, a sua vida e a sua
pregação não têm outro conteúdo senão Cristo crucificado.
Hoje, queremos nos colocar, em silêncio, diante da cruz de Cristo, deixar que a nossa
vida seja enxertada na Sua. Queremos dizer sem medo: “Une-me a Ti, ó Crucificado glorioso!
Que eu não seja inimigo da tua Cruz, não rejeite a Tua graça, mas a abrace, deixando que
novos frutos sejam gerados em minha vida!”.

Ele se entregou e me fez filho do Pai


“O Filho de Deus me amou!” - exclama, grita Paulo, que experimenta em si os efeitos,
a potência da cruz de Cristo à qual está intimamente unido. Queremos refletir sobre dois
importantes frutos da cruz, pedindo ao Senhor que os atualize em nossas vidas. O primeiro
deles é: a cruz restabelece a minha relação com o Pai.
Existe um personagem na narração da Paixão de nosso Senhor ao qual queremos
voltar o nosso olhar, deixando que ele nos fale. Todos os evangelistas falam de um certo
Barrabás, prisioneiro que, por pedido dos judeus, vem libertado em vez de Jesus (cf. Mt 27,6
ss; Mc 15,7 ss; Lc 23,18; Gv 18,40). Lucas diz que era um revolucionário e homicida; João,
que era um salteador.
Em todo caso, este personagem contraditório e misterioso nos revela um segredo da
cruz que muitas vezes permanece oculto, pela nossa tendência a analisar cada coisa,
decompondo as suas partes. Efetivamente, somos propensos a separar cruz e Ressurreição, a
distinguir e classificar os períodos de nossa vida em duas categorias: momentos difíceis, de
cruz, de prova, de sofrimento; e momentos de alegria, de ressurreição, de glória. A história
de Barrabás, em seu paradoxo, ensina-nos a fazer síntese. De que maneira?
O nome Barrabás significa “filho do pai”. Segundo uma tradição apócrifa, Barrabás,
o filho do “Abba”, teria como prenome “Jesus”19. Aquele pecador leva em si o nome do Filho
de Deus, mas antes que a cruz de Cristo cruze o seu caminho, carrega ainda sobre os ombros
o peso de seu pecado: é um prisioneiro por causa de seus crimes. De nome, é Jesus e filho;
mas, na verdade, é criminoso e prisioneiro.

18
RUSCONI, Carlo. Vocabolario del Greco del Nuovo Testamento. Bolonha: EDB, 1996.
19
Algumas versões do texto de Mt 27,16-17 mencionam tal dado.
“Vede que manifestação de amor nos deu o Pai: sermos chamados filhos de Deus. E
nós o somos!”, diz o apóstolo João (1Jo 3,1a). Nós também somos não somente chamados
filhos, mas o somos de verdade, por causa do Filho que tomou o nosso lugar, que morreu e
ressuscitou por nós. Embora pecadores, no Filho que nos ama e morre por nós na cruz, que
nos substitui, nos tornamos realmente “Barrabás”, filhos do Pai, livres! “A adoção divina
estabelece um vínculo mais estreito e conatural do que aquele que realiza a filiação física, a
tal ponto que os cristãos regenerados pelos mistérios (sacramentos) são filhos de Deus mais
do que de seus genitores”.20
Ora, revela-se na vida de Barrabás aquilo que o mistério pascal cumpre na história da
humanidade e na vida de cada homem que acolhe na própria vida os efeitos de tal mistério.
Na cruz, Cristo abraça o Seu contrário, fazendo-se maldição por nós. Abre, assim, uma via,
que atravessa, que cruza o próprio mal, em direção à Luz, à Glória. Deste modo, o homicida,
o pecador é liberto pelo verdadeiro Filho, que torna possível que o nome com o qual é
chamado se torne a realidade de sua vida.
Na história de Barrabás, não existe um tempo de cruz e um tempo de ressurreição,
distintos, separados. A cruz de Cristo, que irrompeu em sua história, produziu imediatamente
e imerecidamente ressurreição, liberdade, vida nova. Barrabás, pelo simples fato de ser
pecador, criminoso, talvez o pior e o mais desprezível, foi agraciado, em uma lógica que
chega a perturbar a nossa razão: sem merecer, sem nem mesmo ter pedido ou buscado,
recebeu a liberdade dos filhos.
A figura daquele “filho de Abba” diz-nos que para entrar no Reino dos Céus é preciso
aprender a acolher o dom. Cristo não diz a Barrabás: “Veja o que Eu sofri por você, por causa
dos seus graves pecados. Mude de vida, melhore!” O Cristo crucificado o regenerou, deu-lhe
nova vida. A cruz de Cristo não quer operar em nós pequenas reformas de melhoria. É um
novo ponto de partida, é uma regeneração. "Vós deveis nascer de novo" (Jo 3,7b), diz Jesus
a Nicodemos.
Nós sabemos que por meio do Batismo, lavacro de regeneração, morremos com Cristo
e, com Ele, renascemos para uma vida nova. Pecadores que éramos, carregando em nós o
peso do pecado original, fomos perdoados e regenerados, a maioria de nós antes que pudesse
pedir ou buscar. É daqui que devemos partir a cada dia: da convicção de que na base da vida
cristã está a regeneração, e não o aperfeiçoamento.
Nicodemos busca Jesus para progredir no que já tem. Cristo lhe diz que é necessário
nascer de novo. O fundamento da vida cristã é dom, não conquista. Empenhamos tantas
forças lutando para aperfeiçoar as virtudes. Tudo é vão se a nossa busca não é fundamentada
na gratuita e imerecida iniciativa de Deus, na convicção de que tudo é Graça.
O livre e gratuito dom de Deus não exclui o nosso protagonismo no caminho de
configuração a Cristo. Ao contrário, é exatamente aquilo que o torna possível, livrando-nos
do risco de construir uma obra vã, de recair no pecado de querer ser como Deus, prescindindo
de Deus.
O filho sabe que tudo recebe do Pai, que tudo é Graça, que tudo parte dessa comunhão
de vida que, no princípio, é dessemelhança e misericórdia, mas produz semelhança e amor
esponsal.

Ele me beijou e me fez alma esposa

20
CABASILAS. Op. cit., §600b.
Dizíamos que a Graça é relação, comunhão de amor. O primeiro efeito, a graça
fundamental, a primeira relação produzida pela cruz em nós é a filiação divina. A obra divina
em nós, porém, não acaba aqui. Cristo morreu por nós “quando ainda éramos pecadores”
(Rm 5,8), diz São Paulo. Então, Deus nos reconciliou Consigo, unindo os dessemelhantes
pela Graça que se chama misericórdia. “Muito mais agora, uma vez reconciliados, seremos
salvos por sua vida” (Rm 5,10b).
Quando não podiamos merecer, antes que o pudéssemos desejar, fomos perdoados e
regenerados, e assim experimentamos que tudo é Graça, oferta gratuita de comunhão, de
amizade com Deus. Agora, reconciliados, filhos de Deus, de alvos do Seu amor, de amados,
tornamo-nos amantes, protagonistas do evento amoroso que deu início e percorre toda a
história da humanidade.
O Batismo, o dom imerecido, o fato de sermos gratuitamente amados, reconciliados
com Deus por misericórdia, é a porta. A união dos dessemelhantes por pura iniciativa divina
é o fundamento. Mas o cume é a Eucaristia, a configuração, a assimilação, a divinização. A
iniciativa divina nos faz capazes de amá-Lo com o mesmo amor com o qual Ele nos ama.
Este segundo efeito da cruz chama-se amor esponsal, um amor entre “semelhantes”, amor
recíproco, ativo e criativo.
É muito interessante o fato de que nenhum dos evangelistas diz que Jesus morre.
Todos utilizam um verbo que tem a ver com o Seu espírito. João diz que Jesus “entregou o
espírito” (Jo 19,30c). Aquele sopro da Vida morrente realiza uma nova criação, uma
regeneração do homem.
A cruz não é um patíbulo em que a vida de Jesus Lhe é tirada. A cruz é, na verdade,
o leito nupcial no qual Cristo entrega o Seu corpo e o Seu respiro à Esposa. É o lugar do beijo
que comunica o Espírito, até que Deus e homem se unam no mesmo amor. Na cruz, se realiza
aquele milagre pelo qual o homem ama a Deus com o mesmo amor de Deus.
“Existem dois modos de nascer: o primeiro é o nascimento segundo a essência, pelo
qual a filiação perfeita se realiza na alma em potência; o segundo é o nascimento na vontade
e nas livres decisões, pelo qual o Espírito Santo, encontrando uma vontade e uma liberdade
bem dispostas, transforma a alma, conformando-a à divinização e unindo-a totalmente a
Deus”21.
Pelo primeiro nascimento, o homem é reconciliado e regenerado filho de Deus. Mas
tal filiação real deve ser atuada em cada escolha, a cada momento da vida do homem. A cruz
é onde acontece a perfeita união, onde a filiação divina se cumpre, onde nós nos tornamos
protagonistas na relação com Deus e aprendemos a amá-Lo como Ele nos ama. “Quem se
une à cruz de Cristo é incendiado por esse mesmo amor de Cristo, que amou tanto o mundo
que deu a Sua vida”22.
Queremos, Senhor, em nosso dia a dia, em cada momento da nossa vida procurar e
encontrar a tua Cruz, a tua Vontade, e ali permanecer, unidos a Ti. Cocrucificados Contigo
renasceremos, do alto da cruz! Filhos amados e abandonados nas mãos do Pai; almas esposas
beijadas e amantes, inflamadas pelo mesmo amor que arde no Teu coração aberto.

21
MÁXIMO CONFESSOR. Quaestiones ad Thalassium, 90, In Cabasilas. La vita in Cristo.
22
AZEVEDO FILHO, M. L. de. Op. cit., p. 60.
Via-sacra
“O filho de Deus se entregou por mim”.
Gl 2,20

Índice:

1. Estação: Jesus é condenado à morte


2. Estação: Jesus carrega a cruz às costas
3. Estação: Jesus cai pela primeira vez
4. Estação: Jesus encontra a Sua Mãe
ORAÇÃO
5. Estação: Simão de Cirene ajuda Jesus
6. Estação: Verônica limpa a face de Jesus
7. Estação: Jesus cai pela segunda vez
8. Estação: Jesus encontra as mulheres de Jerusalém
ORAÇÃO
9. Estação: Jesus cai pela terceira vez
10. Estação: Jesus é despojado de Suas vestes
11. Estação: Jesus é pregado na cruz
12. Estação: Jesus morre na cruz
ORAÇÃO
13. Estação: Jesus é descido da cruz
14. Estação: Jesus é sepultado

Via Sacra livremente inspirada em:


Revista Escuta 2019
Dicionário de Paulo e suas cartas
As cartas de Paulo – Giuseppe Barbaglio
Via Sacra – Coliseu 2019
Via Sacra – Beata Ana Catharina Emmerich
HINO

Serena majestade
Completa liberdade
Quem pode tirar
Aquilo que já foi dado.

Ó vida de minha vida


Ó morte de minha morte
Ó amor de minha alma
Ó alma de meu amor.

Um novo nascimento
De um útero cruento
De onde uma nova vida
Está a jorrar.

Um dia gerado nas águas


Agora gerado no fogo
Que vida nova traz
Na força da Ressurreição.

Quem me dera nascer de novo


Do ventre da tua cruz
Descer contigo a morte
Para contigo ressurgir.

Coração do meu coração


Carne de minha carne
Contigo é que sou forte
Não há o que temer.

Ardente braseiro
Que tudo em mim refaz
Tuas veias conduzem vida
Ao meu corpo traz a paz.

Ó adorável cruz
Que geraste a redenção
Teus galhos suportam.
O peso da minha salvação.

RITO
Comentário inicial
Irmãos e irmãs, somos convidados nesta Via-sacra a contemplar o mistério da paixão e morte
do Senhor, não de forma passiva e estática. Mas assumindo o nosso lugar, com Jesus, em
todo o caminho até a morte de Cruz. Acolhendo assim, o filho de Deus que se entregou por
nós, e ao mesmo tempo, nos unindo a ele nesse caminho de conversão a Santidade.

Que o Senhor possa nos libertar de tudo que nos escraviza e nos lançar na feliz liberdade dos
que são capazes de perder a vida por amor.

Coordenador
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Queridos irmãos, cantemos.

MÚSICA

Veni Creator Spiritus


Mentes tuorum visita
Imple superna gratia
Quae tu creasti, pectora

_______________________________________________________________

I Estação
Jesus é condenado à morte

“Nem todo o que Me diz: ‘Senhor, Senhor’ entrará no Reino do Céu, mas sim aquele que
faz a vontade de meu Pai que está no Céus” (Mt 7, 21)

Leitor
É como se Deus nos chamasse a esta purificação e a ‘entregar tudo’ a esta configuração, sem
medo deste despojamento e do empobrecimento de conceitos, preconceitos, pecados, manias
de poder e fraquezas que são alimentadas. Deus quer continuar o Pentecostes de Amor, que
nos capacita a viver este tempo novo.

Meditação
Senhor, por que condenaram você à morte? O que você fez pra merecer isso? Você curou
doentes, alimentou famintos, ressuscitou mortos, perdoou pecados. Por que então, uma
sentença tão cruel e humilhante?

Não basta te chamar de Senhor... É necessário fazer tua vontade! Foi nosso pecado, nosso
apego exagerado pelas coisas deste mundo que te condenaram. Misericórdia, Senhor...

Dai-nos a graça de seguirmos Contigo, nos despojar de nossas vontades, assumindo a vontade
do Pai em nossas vidas até a Cruz.

HINO

Serena majestade
Completa liberdade
Quem pode tirar
Aquilo que já foi dado.

Ó vida de minha vida


Ó morte de minha morte
Ó amor de minha alma
Ó alma de meu amor.

_______________________________________________________________

II Estação
Jesus carrega a cruz

“Se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz dia após dia e siga-
Me” (Lc 9, 23)

Leitor
Não tenham medo! Não tenham medo de olhar para a Cruz, de amar a Cruz, de se apaixonar
pela Cruz, de abraçar a Cruz, porque a Cruz é a fonte da paz e gera Ressurreição para vocês
e para o mundo inteiro. Não tenham medo! Eu já venci o pecado, o mundo e o demônio. Não
tenham medo.

Meditação
Te olhando com essa cruz nas costas me sinto constrangido, Senhor. Nela se encontra o peso
de todos os pecados da humanidade. E Tu a carregas como um homem inteiro, com tanto
vigor e paixão.

Enquanto nós, Senhor, infantilmente, choramingamos nossas pequenas cruzes, cheios de auto
piedade e murmuração. Fugindo de uma conversão autêntica.

Liberta-nos, Senhor, de tudo que nos cega e nos aprisiona a uma vida centralizada em nós
mesmos. E dai-nos a graça de abraçar TUA CRUZ de forma digna da Tua oferta por amor a
nós.

HINO

Um novo nascimento
De um útero cruento
De onde uma nova vida
Está a jorrar.

Um dia gerado nas águas


Agora gerado no fogo
Que vida nova traz
Na força da Ressurreição.

_______________________________________________________________

III Estação
Jesus cai pela primeira vez
“Tomou sobre Si as nossas doenças, carregou as nossas dores” (Is 53, 4)

Leitor
Muitos de nós perdemos o desejo de viver o Evangelho na sua radicalidade. O Senhor nos
convida a essa santidade. Não está em nós a capacidade de nos fazer santos, mas está em nós
a capacidade de desejá-lo com todas as forças da nossa alma, com todas as fibras do nosso
coração, mais do que tudo, especialmente nos momentos de escolhas, de decisões na vida.

Meditação
Nós partimos cheios de confiança e um dia caímos. Então paramos, fomos nos acostumando,
nos acomodamos com as propostas da vida presente, buscamos facilidades e abandonamos o
caminho difícil. E encontramos justificativa para tudo.

Até quando ficaremos frios e passivos?

Cristo, estamos tão longe de você. Protege-nos contra nossas quedas que cansam e deixam
marcas de destruição. Ajuda-nos a levantarmos contigo dos nossos pecados e reescolhermos
diariamente a tua vontade.

HINO

Quem me dera nascer de novo


Do ventre da tua cruz
Descer contigo a morte
Para contigo ressurgir.

Coração do meu coração


Carne de minha carne
Contigo é que sou forte
Não há o que temer.

_______________________________________________________________

IV Estação
Jesus encontra Maria, sua Mãe

“Uma espada trespassará a tua alma. Assim hão de revelar-se os pensamentos de muitos
corações” (Lc 2, 35)

Leitor
Não deserte diante da Cruz. Não deserte. Não volte atrás, mas, ao contrário, ame a Cruz,
porque ela é caminho de Ressurreição. Una-se a Mim. Não tenha medo! Eu estou com vocês.
O Pai cuida de vocês. Esta é a dinâmica da vida de vocês.

Meditação
Pode uma mãe encorajar seu filho a morte? Seria ela capaz de animar suas entranhas em
direção ao fim?

CANÇÃO – MARIA
[Música inspirada em II Macabeus 7]

Meu filho, não temas este algoz,


Mas seja digno de teus irmãos,
Preferindo a morte, antes de violar
A lei do amor.

Para que no dia da misericórdia


Eu te encontre em meio aos teus irmãos.
Coragem, o que é a vida
Diante da nossa esperança?

Minha alma dilacerada se une a ti


Abraça essa cruz, segue até o fim,
Não tenhas medo eu estou aqui,
Não estás sozinho, sigo atrás de ti.

[ORAÇÃO ESPONTÂNEA]

HINO

Ardente braseiro
Que tudo em mim refaz
Tuas veias conduzem vida
Ao meu corpo traz a paz.

Ó adorável cruz
Que geraste a redenção
Teus galhos suportam.
O peso da minha salvação.

_______________________________________________________________

V Estação
O Cireneu ajuda Jesus a levar a cruz

“Carregai as cargas uns dos outros e assim cumprireis plenamente a lei de Cristo” (Gal 6,
2)

Leitor
Na história da Igreja, as batalhas e lutas não diminuíram, mas surgiram homens e mulheres
fortalecidos e forjados no sangue de Jesus e na Cruz de Cristo, que testemunharam a fé, a
santidade e o amor. Deus faz heróis da fé os próprios pecadores, quando eles trazem no
coração a graça de um desejo imenso de conversão à santidade.

Oração
Um desconhecido, que ajuda Jesus a carregar a cruz. A nossa Cruz. E nós nos negamos a
carregar os sofrimentos dos nossos irmãos. Quantas vezes somos os primeiros a levantar as
armas contra a injustiça, quando seguimos a um manso cordeiro que morre crucificado.

Quantas vezes, nos voltamos de forma ácida, contra a Igreja, a Comunidade, os irmãos...
Imagine se São Francisco ou Santa Teresa tivessem feito isso?

Mas não. Eles carregaram os fardos uns dos outros. E isso implica nos fardos da Igreja, da
humanidade, da Comunidade. Não é só o que é correto, bom e justo, não. É principalmente
aquilo que custa, que dói, que é vergonhoso. Unindo tudo isso ao sacrifício de Cristo,
deixando que Ele faça de nós, pecadores, heróis da fé, por sua graça, forjados em seu sangue.
HINO

Serena majestade
Completa liberdade
Quem pode tirar
Aquilo que já foi dado.

Ó vida de minha vida


Ó morte de minha morte
Ó amor de minha alma
Ó alma de meu amor.

_______________________________________________________________

VI Estação
Verônica limpa o rosto de Jesus

“Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o
fizestes” (Mt 25, 40)

Leitor
Ele nos constitui para sermos remédio para as feridas da Comunidade, e, por isso, precisa ser
vivido como remédio, ou seja, tem que ser vivido com uma vivência honesta, profunda,
intensa e radical.

Um celibato sadio é fonte de cura para a Comunidade e de potência para a sua missão
evangelizadora. Um celibato sadio é um santo remédio que sustentará a empreitada de
navegar em águas profundas.

Meditação
Verônica olhando para o rosto sujo e cansado de Cristo não se conteve e foi em direção a Ele.
Quantas vezes, passamos do seu lado, e não o percebemos. Quantas vezes Ele está muito
perto de nós, sofrendo a sua Paixão e somos indiferentes à Sua dor.

E quando isso é vivido por alguém que é celibatário? Que consagrou sua vida a Deus para o
outro.

Dai-nos a graça, Senhor, de uma vivência honesta, profunda, intensa e radical do nosso
chamado, para que possamos realmente ser o remédio que Tu nos criaste para ser.

Ajudai-nos, Senhor, a ser a Vossa viva imagem para a humanidade.

HINO

Um novo nascimento
De um útero cruento
De onde uma nova vida
Está a jorrar.
Um dia gerado nas águas
Agora gerado no fogo
Que vida nova traz
Na força da Ressurreição.

_______________________________________________________________

VII Estação
Jesus cai pela segunda vez

“Ao ser insultado, não respondia com insultos, (…) mas entregava-Se Àquele que julga
com justiça” (1 Ped 2, 23)

Leitor
O nosso ajoelhar-se será o grande canal da manifestação da potência de Deus na nossa vida
e na vida do povo que Ele nos confiou. O Senhor quer os nossos joelhos tocando o chão. Ele
quer eucaristizar a vida de muitos, com a Eucaristia, santificar pela Eucaristia, para que sejam
Eucaristias para a humanidade. Pessoas com vidas escondidas, muito simples, no ordinário
da vida, na simplicidade, ofertando-se, ofertando-se com a vida Eucarística. E vai sendo
gerada vida divina no corpo da Comunidade.

Oração
Ao longo dos anos, quantas vezes nossos joelhos tocaram o chão? Queríamos ser os mais
fortes, aqueles que nunca caem. Mas nosso Senhor nos reservou outra sorte.

Ele foi nos ensinando a rendição, a transformar nossas quedas em dependência Dele, assim
aprendemos a adorar, a nos render diante do sol da justiça. E só Nele esperarmos, pois
sabemos que só Ele pode nos transformar, curar, consolar as nossas dores, as dores da
Comunidade e do mundo inteiro.

Hoje, mais uma vez, levantamos Contigo. Eis aqui a nossa vida, eis aqui a nossa oferta, eis
aqui o nosso corpo, faz-nos Eucaristia.

HINO

Quem me dera nascer de novo


Do ventre da tua cruz
Descer contigo a morte
Para contigo ressurgir.

Coração do meu coração


Carne de minha carne
Contigo é que sou forte
Não há o que temer.

_______________________________________________________________

VIII Estação
Jesus encontra as mulheres
“Filhas de Jerusalém, não choreis por Mim, chorai antes por vós mesmas e pelos vossos
filhos” (Lc 23, 28)

Leitor
Uma das fontes de um arrependimento sincero é, diante dos nossos pecados, não colocar a
culpa fora de nós, inocentar a Deus e, Nele, também aos outros. E assumir a responsabilidade
e a culpabilidade do nosso pecado. Nós merecemos. Nós somos pecadores. Nós
reconhecemos a nossa culpa. Tu és Santo Senhor e justos são os Teus caminhos.

Meditação
Cada um passa diante do meu tribunal; o mundo todo — prefiro julgar os outros do que a
mim e descubro facilmente culpados: bêbados, preguiçosos, fofoqueiros, falsos, mentirosos,
injustos, egoístas — só eu o perfeito, estou em condições de entender quem é o culpado.

Cristo, ajudai-me a descobrir: que sou pecador.

Dignos de lamentação somos nós, pecadores. Perceber os pecados dos outros é sempre mais
fácil e mais conveniente do que chorar os próprios pecados. Porque enquanto culparmos os
nossos irmãos no fundo, no fundo é a Deus que culpamos!

MÚSICA
Quando a vida te pergunta
Onde está teu Deus?
E o inimigo te ameaça
Semeando a dúvida

Acaso Ele foi derrotado?


Sua promessa afinal terá falhado?
Para onde foi o teu Deus?
Reúne tuas forças pra declarar

Tu és Santo, Senhor,
E justo são os teus caminhos
Abandono-me em Tuas mãos
Pai, Pai, entrego meu espírito.

Eu quero, eu desejo, eu vou


Ter os mesmos sentimentos de Cristo.

[ORAÇÃO ESPONTÂNEA]

HINO

Ardente braseiro
Que tudo em mim refaz
Tuas veias conduzem vida
Ao meu corpo traz a paz.

Ó adorável cruz
Que geraste a redenção
Teus galhos suportam.
O peso da minha salvação.

_______________________________________________________________

IX Estação
Jesus cai pela terceira vez

“Foi maltratado, mas humilhou-Se e não abriu a boca, como um cordeiro que é levado ao
matadouro” (Is 53, 7)

Leitor
O mar se ampliou diante de vós, cresceu, porque fostes para as águas profundas. Não tenhais
medo! Não busqueis âncoras, porque não servirão. Em águas profundas, não dá para ter
âncora. Não tenteis voltar atrás, porque, se fordes voltar atrás, ireis morrer. Em águas
profundas, não adianta voltar atrás, nadando. Aprendei a navegar nestas águas mais
profundas. E a maneira de navegar nestas águas profundas diz respeito ao abandono e à
confiança Nele.

Oração
Cristo cai de novo. Os soldados batem. Cristo não se mexe. As forças quase acabaram. Restou
ainda um pedacinho do caminho: dois, três passos neste estado isso é quase impossível.

Senhor, caístes a terceira vez, mas já no alto do Calvário onde vão levantar a cruz.

Eu também caí de novo. Sempre estou caindo. Às vezes duvido se poderei levantar-me. Faz
tantos anos que eu caio, que por vezes penso se não seria melhor Te deixar. Mas quando olho
para tua Paixão, e Te vejo ao meu lado, recupero minhas forças e certamente vencerei com a
Tua graça.

HINO

Serena majestade
Completa liberdade
Quem pode tirar
Aquilo que já foi dado.

Ó vida de minha vida


Ó morte de minha morte
Ó amor de minha alma
Ó alma de meu amor.

_______________________________________________________________

X Estação
Jesus é despojado das suas vestes

“Revesti-vos, pois, de sentimentos de misericórdia, de bondade, de humildade, de


mansidão, de paciência” (Col 3,12)

Leitor
Se nosso Senhor está nos introduzindo nas águas profundas, o Senhor promete peixes maiores
para a Comunidade, e, por isso, será necessário preparar redes ainda mais fortes para pescar,
para alcançar esses peixes. Então, nós precisamos nos preparar.

As redes e as iscas que ele joga como alimento são os próprios missionários. Somos nós. São
vidas ofertadas como alimentos. Isso significa que nós precisamos cuidar muito da
maturidade dos nossos missionários, porque os nossos missionários precisam estar prontos;
afinal de contas, não foi para isso que Deus nos chamou?

Meditação
Cristo não tinha mais nada a não ser uma veste. Mas até isso foi tirado. Agora não existe mais
nada entre o corpo de Cristo e a cruz. Eles se unirão para sempre.

Cristo, Tua veste era digna da pessoa humana. Nós também nos vestimos de diversas vestes
ao longo de nossa história. Algumas dignas e belas, outras vergonhosas e feias.

Queremos, hoje, nos despir contigo de todas as coisas que se colocam entre nós e a Tua cruz.
Entre nós e a vontade do Pai. Despojamos todas essas coisas Contigo.

Temos tantas coisas pequenas que gostamos, mas se isso for necessário para vivermos
verdadeiramente, tira tudo de nós, Senhor. É melhor morrer, para depois viver. Assim como
o grão que precisa morrer para dar frutos.

HINO

Um novo nascimento
De um útero cruento
De onde uma nova vida
Está a jorrar.

Um dia gerado nas águas


Agora gerado no fogo
Que vida nova traz
Na força da Ressurreição.

_______________________________________________________________

XI Estação
Jesus é pregado na cruz

“Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem” (Lc 23, 34)

Leitor
Nos momentos em que você está nessa condição, lembre-se sempre de que, do outro lado,
está sendo gerada ressurreição. A única coisa que é a minha segurança, não sou eu. Eu não
sou nada. Tudo é vão, tudo se estraga, devido à soberba humana. A única coisa que é a minha
segurança, devido ao meu orgulho, é a Cruz de Nosso Senhor.

Oração
Os pregos atravessam o corpo. Suas mãos e seus pés estão pregados. Agora nenhum
movimento é possível. Este é o fim? Não! Este é um novo nascimento!
Nós também precisamos aceitar a nossa cruz na hora presente. Não podemos escolher. Temos
que aceitar a nossa cruz. Ela é pronta, feita para meu tamanho, feita dos meus sofrimentos.
Essa cruz vivida em união com Cristo se torna um novo útero, que ao invés de me matar, me
gera para uma vida eterna.

Isto não é fácil. Mas não posso encontrar o Cristo de outra maneira. Cristo espera por mim
na cruz para, junto com Ele, redimir o mundo, nossos irmãos.

A minha segurança é a Cruz de Nosso Senhor!

HINO

Quem me dera nascer de novo


Do ventre da tua cruz
Descer contigo a morte
Para contigo ressurgir.

Coração do meu coração


Carne de minha carne
Contigo é que sou forte
Não há o que temer.
_______________________________________________________________

XII Estação
Jesus morre na cruz

“Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonaste?” (Mc 15, 34)

Leitor
Eu estou vos recriando. Eu estou vos recriando de dentro para fora. Eu estou vos recriando
na confiança, na fé, no abandono. Eu estou vos recriando na confiança do Meu poder e da
Minha intervenção, a confiança mais do que na ação e na vontade de vocês.

Virava como que um invólucro, como um ventre, e aquela água se tornava um líquido
amniótico que alimentava as pessoas que estavam para morrer naquele lixo tóxico. Essas
pessoas, alimentadas por esta água, que era um líquido amniótico, estavam sendo recriadas
em novas pessoas e saiam da lama completamente recriadas.

Meditação
As três horas o Cristo morre. A vida para, o coração não bate mais. Senhor, não podemos
mais viver assim, tirai-nos do pecado. Queremos morrer contigo, entregar o nosso coração,
para que vivas em nós. Pulses em nós.

[Cantar o hino inteiro com solista e interpretação mais intimista]

HINO

Serena majestade
Completa liberdade
Quem pode tirar
Aquilo que já foi dado.
Ó vida de minha vida
Ó morte de minha morte
Ó amor de minha alma
Ó alma de meu amor.

Um novo nascimento
De um útero cruento
De onde uma nova vida
Está a jorrar.

Um dia gerado nas águas


Agora gerado no fogo
Que vida nova traz
Na força da Ressurreição.

Quem me dera nascer de novo


Do ventre da tua cruz
Descer contigo a morte
Para contigo ressurgir.

Coração do meu coração


Carne de minha carne
Contigo é que sou forte
Não há o que temer.

Ardente braseiro
Que tudo em mim refaz
Tuas veias conduzem vida
Ao meu corpo traz a paz.

Ó adorável cruz
Que geraste a redenção
Teus galhos suportam.
O peso da minha salvação.

[ORAÇÃO ESPONTÂNEA]

HINO

Ardente braseiro
Que tudo em mim refaz
Tuas veias conduzem vida
Ao meu corpo traz a paz.

Ó adorável cruz
Que geraste a redenção
Teus galhos suportam.
O peso da minha salvação.
_______________________________________________________________

XIII Estação
Jesus é descido da cruz
“Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito
fruto” (Jo 12, 24)

Leitor
Caminhar como se visse o invisível. Aparentemente, nas situações da nossa vida, em que
humanamente pouco podemos fazer, caminhar como se víssemos o invisível. Caminhar pela
fé e pelas promessas de Deus, de livramento e de vitória. Caminhar dentro dela e crescer na
confiança e na fé na intervenção de Deus, mesmo carregando a cruz – e, neste caminho,
muitas vezes, nós teremos a cruz –; ter a convicção de que ela trará a ressurreição, a vitória...
Não seremos confundidos.

Oração
A sua obra, Cristo, é consumada. Os pregos são desnecessários. Agora você pode descansar.
A Mãe recolhe-O em seus braços.

A serenidade da fé invade tudo. O coração, as feridas, as chagas, o corpo morto. Não existe
mais luta. Não existe mais o que render, o que perder. Tudo foi dado, o cálice foi bebido até
a última gota.

Nossa Mãe: vigiai sobre nós cada noite. Tomai-nos nos Vossos braços na última hora, não
largueis-nos nunca, por favor. Não esqueçais de nós, pois sois o “Refúgio dos pecadores”.

HINO

Serena majestade
Completa liberdade
Quem pode tirar
Aquilo que já foi dado.

Ó vida de minha vida


Ó morte de minha morte
Ó amor de minha alma
Ó alma de meu amor.

_______________________________________________________________

XIV Estação
Jesus é depositado no sepulcro

“Tudo está consumado” (Jo 19, 30)

Leitor
O que os homens veem são ruínas e buracos, mas o que Eu vejo, não. São espaços para
colocar alicerces profundos. Neste tempo, quero realizar em vós o dom do olhar pascal.
Diante dos desafios, não olhar como os homens olham, mas olhar como Eu olho, com um
olhar que integre, com um olhar pascal, com o Meu olhar.

Oração
Ao olhar, vemos um corpo sem vida, envolto em faixas.
Diante dos nossos olhos naturais se apresenta a morte,
Diante dos olhos da fé a VIDA QUE NÃO SE CONTÉM.
Senhor, dai-nos um olhar de eternidade
Um olhar que se eleve acima de tudo criado
E que por tua graça integre paixão, morte e ressurreição.

E embora o caminho seja difícil, sabemos que tu esperas por nós em tua glória. Senhor,
ajudai-nos a atravessar este caminho fielmente.

HINO

Um novo nascimento
De um útero cruento
De onde uma nova vida
Está a jorrar.

Um dia gerado nas águas


Agora gerado no fogo
Que vida nova traz
Na força da Ressurreição.

SEXTA-FEIRA SANTA

ORIENTAÇÕES SOBRE O JEJUM


De acordo com nossos Estatutos nos certificamos que “...eleja-se a sexta-feira como
dia especial de mortificação e penitência para os membros da Comunidade. Que neste dia,
em cada Casa Comunitária, seja respeitada a abstinência e animado o jejum." (ECCSH, 3.1.8
Penitência, 44.pg 55))
Segundo o Código de Direito Canônico " Guarde-se a abstinência de carne ou de
outro alimento segundo as determinações da Conferência Episcopal, todas as sextas-feiras do
ano, a não ser que coincidam com algum dia enumerado entre as Solenidades;" (CIC, 1251.pg
764)
Então, em nossas Casas Comunitárias é respeitada a abstinência de carne assim como
a Igreja nos pede como seus membros. Salvo dias de Solenidade, fazemos sim a abstinência
de carne (mesmo em férias comunitárias nós fazemos, pois continuamos vivendo tudo o que
a Igreja nos chama a viver).
O que nos leva a substituir a carne ou outros alimentos com sangue pelo peixe, quando
não for possível optamos pelo frango. O sentido de não comermos carne na sexta-feira é que
somente um sangue é derramado neste dia, o sangue do cordeiro, no sacrifício da Cruz. Modo
que nos auxilia a viver melhor este dia penitencial, ao nos lembrar que Cristo derramou seu
sangue por nós. Eis o porquê de não comermos carne nas sextas-feiras.
Quanto ao Jejum é importante lembrar que somos "animados" a fazê-lo, como forma
de renúncia de si e de mortificação. Como tradicionalmente na Comunidade, fazemos o Jejum
de pão e água até as 18h, onde fazemos nossas refeições. Aqueles irmãos que não tiverem
condições de fazer o Jejum sejam animados a outra forma de penitência, como marca
característica deste dia. Mesmo sem fazer Jejum, estes irmãos são chamados a fazer a
abstinência de carne. Nós não vivemos o Jejum do dia da sexta-feira somente quando
coincidirem com Solenidades da Igreja, Festas na Diocese da Missão, em Aniversários dos
Irmãos da Casa Comunitária, datas comemorativas da Comunidade, e as datas presentes nos
Estatutos (“A Comunidade também celebre, de modo particularmente solene, as festas e
solenidades de Pentecostes, do Batismo do Senhor, da Santíssima Trindade, de Corpus
Christi, do Coração de Jesus, de Nossa Senhora e de São José e a memória de São Francisco,
Santa Teresa de Jesus e Santa Teresinha do Menino Jesus. ECCSH, 3.1.9 Tempos Litúrgicos,
44. Pg 58). Em tempos especiais, como eventos e visitas na missão, as Autoridades Locais
podem discernir quanto a liberação da vivência do Jejum, sem perder o sentido da penitência.

Tiago Soares
SÁBADO SANTO
Espírito litúrgico
Vigília Pascal

O Missal romano apresenta o Sábado Santo da seguinte maneira: neste dia, “a Igreja
fica parada junto ao sepulcro do Senhor, meditando a sua paixão e morte, abstendo-se da
celebração da Eucaristia (o altar fica sem ornamentos) até a vigília ou expectativa noturna da
ressurreição. Neste dia, a Igreja convida os fiéis ao silêncio e à meditação. O mistério de
Cristo no sepulcro torna-se convite para meditar no mistério de Cristo escondido no mistério
do Pai. Vamos neste dia estar junto com as mulheres às portas do sepulcro (cf. Mt 28,1-10).
Todo fiel é chamado à contemplação, nutrindo no coração a esperança. Este sábado é um
convite para “retirar-se para o deserto”, a fim de escutar o Senhor por meio da oração
silenciosa.
Hoje, o olhar da Igreja se volta também para a Virgem Maria. Com ela, a alegria de
viver e a coragem de esperar são reencontradas.

A espiritualidade da Vigília Pascal

Lancemos um olhar sobre a noite do Sábado Santo. No Credo, professamos a respeito


do caminho de Cristo: “desceu à mansão dos mortos”. Não conhecemos o mundo da morte e
podemos representá-lo com imagens que são insuficientes. Mesmo assim, elas nos ajudam a
entender algo do mistério.

A liturgia aplica a descida de Jesus na noite da morte às palavras do Salmo 24(23):


“Levantai, ó portas, os vossos dintéis, levantai-vos ó pórticos eternos!” A porta da morte está
fechada e ninguém pode voltar dali para trás. Para esta porta, não há chave. Cristo, porém,
possui a chave, a sua cruz abre de par em par as portas da morte. Elas agora já não são
intransponíveis. A sua cruz, a radicalidade do Seu amor, é a chave que abre esta porta. Este
amor é mais forte do que a morte e nada pode apagá-lo. Ele pode tudo mudar, mesmo as
situações de morte. Pode fazer passar da Morte para a Vida; do homem velho, com seus
vícios e pecados, para o homem novo, que confia em Deus e faz Dele o seu Senhor.

Os ícones pascais podem nos ajudar a entender melhor o que acontece nesta noite:
Cristo entra no mundo dos mortos, cheio de luz, porque Deus é luz. Ele traz consigo Suas
chagas gloriosas, aquelas que antes o desfiguraram e o deixaram até mesmo sem aspecto
humano, mas que são agora poder de Deus, o Amor que vence a Morte.

Ele encontra Adão e todos os outros que esperam na noite da morte. Na sua
Encarnação, o Filho de Deus se tornou uma só coisa com o ser humano, Adão; porém, só
neste momento, se cumpre o extremo ato de amor: descendo na noite da morte, Ele cumpre
o caminho da Encarnação. É pela Sua morte, que Ele toma Adão, caído pelo peso do pecado,
pela mão e leva todos os homens em expectativa para a luz. Jesus aqui restabelece a união
do homem com Deus. Também nós nesta noite saímos de nossas mortes pessoais, tomados
pela mão de Jesus, somos ressuscitados com Ele.

Poucas celebrações litúrgicas são tão ricas de conteúdo e de simbolismo como a


Vigília Pascal, ela é o coração de todo o ano litúrgico e dela se irradiam todas as outras
celebrações. Nesta noite Santa, a Igreja celebra de modo sacramental mais pleno a obra da
redenção e da perfeita glorificação de Deus e de seu Filho Jesus Cristo, tornado para nós um
novo Adão, ao pagar nossa culpa se entregando à morte e morte de cruz.

A Solene Vigília Pascal tem origem na primeira páscoa, a noite em que, do Egito, o
Senhor retirou os filhos de Israel. Esta celebração tinha o caráter de memória-presença-
expectativa. Os hebreus esperavam o cumprimento das promessas de Deus de tirá-los da terra
estrangeira, levá-los à terra prometida e enviar o Messias. Na Páscoa Cristã, a estrutura
teológica da Vigília Pascal (memória-presença-expectativa) não muda, mas se enriquece com
a realidade que é Cristo, o Ressuscitado que passou pela cruz, que nos ensina que para chegar
à ressurreição da vigília, deve-se antes passar pela morte da Sexta-feira Santa, ou seja, não
há vida nova e ressuscitada sem a cruz, que o Ressuscitado nos apresenta como a chave para
todas as portas e a cura para todos os nossos males, a manifestação mais plena do poder de
Deus e do seu Amor.

Diz o “Exultet”: “Esta é a noite em que Jesus rompeu o inferno, ao ressurgir da morte
vencedor.” De fato, esta é a grande noite. Nela, somos feitos livres de todo o pecado que nos
trouxe à morte, graças a um tão grande Redentor, que em si mesmo destruiu o pecado e
rompeu o inferno. Nesta noite, a coluna luminosa dissipa toda a treva e, congrega um povo
novo, fruto da obra do Ressuscitado que passou pela cruz. Por isso, Santo Agostinho já dizia:
“esta é a mãe de todas as vigílias!”

Como já dissemos antes, a celebração desta vigília é repleta de símbolos que


necessitam ser compreendidos se queremos celebrar bem esta noite Santa. É exatamente isso
que iremos discorrer nesta segunda parte.

Desenvolvimento da Vigília Pascal

A Ressurreição de Cristo é o fundamento da nossa fé. Por meio do Batismo e do


Crisma, fomos inseridos no mistério pascal de Cristo. A celebração do mistério desenvolve-
se do seguinte modo: após o “lucernário”23 e o “precônio” (I parte da vigília), a Santa Igreja
medita as maravilhas que o Senhor fez para o Seu povo desde o início (II parte ou liturgia da
Palavra), até o momento em que, com seus membros regenerados no Batismo (III parte da
vigília), é convidada à mesa que o Senhor preparou para o Seu povo, memorial de sua morte
e Ressurreição, em expectativa para Sua vinda gloriosa (IV parte da vigília). Este esquema
não pode ser alterado.

I Parte – Solene Início da Vigília ou Lucernário

A primeira parte da vigília celebra a luz, Cristo, que de um modo particular com a
sua Ressurreição é a luz do mundo (cf. Jo 1,9). Cada um de nós que tomamos parte nos
sacramentos somos constituídos “luz do Senhor” (Ef 5,8). Na luz do Círio, são acesas as
velas do povo, enquanto se canta três vezes sucessivas: “Eis a luz e Cristo” ao que o povo
responde: “Demos graças a Deus”. A Igreja vai sendo inundada da Luz de Deus e então se
proclama solenemente a Páscoa com o precônio pascal.

23
Celebração da luz.
II Parte – Liturgia da Palavra

A Igreja agora medita nas maravilhas que Deus realizou em favor de Seu povo. Nesta
noite, cumprem-se em Jesus Cristo morto e Ressuscitado as grandes obras de Deus,
anunciadas no Antigo testamento. O símbolo do Círio dá lugar à realidade de Cristo, presente
em sua Palavra. A Igreja, começando por Moisés e todos os profetas, interpreta o mistério
pascal de Cristo. Para esta celebração, são propostas nove leituras (sete do Antigo Testamento
e duas do Novo, sendo uma das Cartas de São Paulo e outra do Evangelho). Terminadas as
leituras do Antigo Testamento, canta-se solenemente o Glória e pronuncia-se a oração coleta.
Após esta oração, leem-se as leituras do Novo testamento, em sinal da passagem do Velho
para o Novo, da Morte à Vida em Jesus Cristo.

Neste dia, voltamos a cantar o Aleluia, que é entoado solenemente pelo sacerdote
presidente. Após a proclamação do Evangelho, o presidente da celebração faz a homilia.

III Parte – Liturgia Batismal

Segundo uma antiquíssima tradição, nesta noite, os catecúmenos recebiam, após uma
intensa preparação, o Sacramento do Batismo e eram de fato admitidos à fé da Igreja. O
Batismo nos torna um com Cristo, nos insere em seu Corpo. Pela graça deste sacramento,
somos sepultados e ressuscitados com o Senhor. Os fiéis já batizados, nesta noite, renascem
com Cristo por meio da renovação das promessas batismais para a vida ressuscitada.

IV Parte – Liturgia Eucarística

Este é o ápice da vigília, sendo, de maneira plena, o sacrifício da Páscoa, isto é, o


memorial do sacrifício da cruz e da presença do Ressuscitado, plenitude da iniciação cristã e
antecipação da Páscoa eterna.

A Eucaristia é de fato o Sacramento do Ressuscitado. Por ela, o Senhor realiza a Sua


promessa de estar sempre conosco até o fim. Pela Eucaristia, rendemos a ação de graças e o
sacrifício perfeito: pão da vida eterna e cálice da bênção: Jesus Cristo, o Filho do Deus vivo,
Ressuscitado que passou pela cruz.24

Subsídio para pregação:

24
O TRÍDUO PASCAL. Comshalom. Disponível em: <https://www.comshalom.org/o-triduo-pascal/>. Acesso
em 18 dez. 2019.
O “ainda não” da vida na Graça

Cocrucificados, em uma permanente união a Cristo, hoje mergulhamos no silêncio


do Sábado Santo, junto de toda a Igreja, Esposa de Cristo. O sétimo dia da semana, para a
teologia judaica, é o dia do descanso de Deus. Para nós cristãos, este sábado em particular, é
o dia de um “grande silêncio, porque o Rei dorme” 25.
Mas o Senhor afirmou, antes de morrer: “Meu Pai trabalha até agora e eu também
trabalho” (Jo 5,17). Sendo verdade que Deus não dorme nem cochila (cf. Sl 121,4), sobretudo
nesse dia, Ele, vindo como um ladrão (cf. Mt 24,43-43), assalta os infernos, para resgatar
aqueles que O esperavam, como Adão e Eva, que, criados para a comunhão, gozavam da
amizade com Deus, pelo pecado caíram em desgraça. Nesse dia, Jesus foi ao encontro deles,
e os libertou.
Este é o dia em que nosso Senhor vitorioso deseja vir ao encontro de cada um de nós,
que jazemos em nossa angústia e tristeza mortais, em nosso Hades pessoal. Ele nos toma pela
mão, pelo pulso, para nos fazer passar, para nos conduzir por essas horas que nos separam da
consumação do Mistério Pascal, na Vigília do Fogo Novo. Nesta meditação, tomados pela
mão pelo próprio Bom Pastor, que deu a vida por Suas ovelhas (cf. Jo 10,1-21), unidos pela
graça ao nosso Redentor, encontraremos a fé da Virgem Maria e a esperança de Jó. Pela graça
da união com o nosso Redentor, acolheremos a graça da vivência das virtudes teologais.

Ele se entrega para nos reconciliar


A caridade é a forma de todas as virtudes. Com ela, a fé e a esperança, constituem
graças teologais irmãs. Porém, estas duas, particularmente, são “gêmeas” 26. Elas supõem um
entendimento, ou inteligência sobrenatural, de uma verdade e de “um futuro : não é que
conheçam (os cristãos) em detalhe o que os espera, mas sabem em termos gerais que a sua
vida não acaba no vazio”27. Enquanto a fé “vê dentro”, a esperança “vê além”, ela contempla
o “não ainda” do Mistério Divino, oculto aos nossos sentidos exteriores, mas acessível ao
sentido da fé. Por isso, ouçamos desde o início deste dia a exortação do apóstolo: “Não deveis
entristecer-vos como os outros que não têm esperança” (1Ts 4,13).
Contemplemos a fé-esperança da Mãe de Deus neste dia de luto e de luta, de espera
contra toda esperança. Como vive esse dia Aquela que é feliz porque “creu, pois o que foi
dito da parte do Senhor será cumprido” (Lc 1,45), que ouviu do anjo Gabriel e guardou em
seu coração a verdade de que “para Deus nada é impossível” (Lc 1,37)?
Ela o vive no abandono que exercitou - porque a fé é um dom e um exercício para os
nossos músculos espirituais28 - ao longo de toda a sua vida, na Anunciação, na fuga para o
Egito, na perda do menino Jesus no Templo, em Caná, nas vicissitudes apostólicas de Jesus,
no mistério de Deus que sempre a ultrapassou.
Mas a Virgem Maria “vê dentro” e “vê além” dos acontecimentos, porque sua fé-
esperança opera em uma memória imaculada e, portanto, reconciliada com o tempo. Não é
questão de quantidade, mas da qualidade do que ela guarda: “Alegra-te, cheia de graça! Para

25
CIC 635.
26
Cf. PAPA BENTO XVI. Spe salvi. 2. 2007. Disponível em: <http://bit.ly/EncSpeSalvi>. Acesso em 18 de
dez. de 2019.
27
PAPA BENTO XVI. Op. cit.
28
“O Senhor quer fortalecer a musculatura da nossa fé.” (Escuta: Conversão à santidade, 2019, p. 17).
Deus nada é impossível! Nada!” Tal que, em Maria, nenhuma palavra de Deus é
desperdiçada.
Maria não é poupada, contudo, de viver intensamente a dor no tempo, suportando
silenciosamente o “ainda não”. Mas ela colhe o sentido de ofertar a dor, de viver a Páscoa, a
passagem, porque seu coração está em sintonia com a eternidade. 29 Ela cresce na fé,
percorrendo o caminho da vida, “guardando tudo em seu coração”, entesourando as verdades
que lhe foram confiadas em seu trajeto. Maria caminha na verdade de Deus, caminha nas
alturas (cf. Hab 3,19); não vive somente a partir do que veem os seus sentidos exteriores, mas
vive da fé, vive na Graça, na união com Deus.
Assim, a morte e a tragédia não têm a última palavra, nem a dor. Quem detém a última
palavra é Aquele - assegurou-lhe o Arcanjo: que “Reinará para sempre sobre a família de
Jacó, e seu reino não terá fim” (Lc 1,33). Ela não sabe como, mas sabe que seu filho e Senhor
reina e reinará para sempre, não apesar, mas exatamente através da derrota da cruz, do
mistério da cruz gloriosa. 30 Maria contempla, pela fé, os dois lados da cruz, a síntese do
mistério pascal.
Nossa memória não é imaculada, e por isso mesmo precisa ser purificada. Cada um
de nós é chamado a viver um processo de cura e de reconciliação da memória, pelo dom da
fé. Quais promessas, palavras, verdades que conhecemos pela fé, nós precisamos repetir,
rezar, entesourar, com elas louvar a Deus, nesse dia, para vivermos essa purificação da
memória, para sermos reerguidos de todo abatimento causado pela carência de fé-esperança?
O silêncio de Maria é o silêncio da fé expectante, não é a mudez da desconfiança. O
nosso silêncio é mais parecido com o silêncio da Virgem Maria ou com a mudez de Zacarias?
Ambos ouviram um anúncio angelical, mas o silêncio da Esposa do Espírito é bem distinto
da pouca fé do pai de João Batista, que assustado, recebe de Gabriel essa repreensão: “Eu
sou Gabriel; assisto diante de Deus e fui enviado para anunciar-te essa boa nova. Eis que
ficarás mudo e sem poder falar até o dia em que isso acontecer, porquanto não creste em
minhas palavras, que se cumprirão no tempo oportuno” (Lc 1,19-20). Quantas vezes as
promessas do Senhor se cumpriram no tempo oportuno e nós, constrangidos, tivemos de
reconhecer que não cultivamos a fé e a confiança Nele durante a prova? Se o nosso calar
diante do Senhor é a mudez da secura de palavras de confiança Nele, deixemos que Ele nos
seduza e nos desperte, como a uma alma esposa, humilhada por suas baixezas e constrangida
pelo amor do Esposo, que a emudece diante da sua fidelidade incondicional, e nos ajude a
preparar nossos bálsamos e aromas, e planejar nossa ida até Ele, para honrá-Lo, como fez
Maria Madalena naquele sábado santo (Cf. Lc 23,56).

No sofrimento, a esperança em um Goel

O livro de Jó fala da relação do homem com Deus, que tem uma natureza e um modo
de agir acima dos nossos paradigmas e categorias. Deus não é um ser igual ao homem:
“Imaginas que eu seja como tu? (...) porque eu sou Deus e não um homem, eu sou santo no
meio de ti” (Sl 50,21; Os 11,9). O Santo, cuja face o homem não pode ver sem morrer, é “um

29
CIC 163: “A fé, portanto, é já o princípio da vida eterna”.
30
A cruz gloriosa: que traz de um lado Cristo crucificado e do outro, o Cristo Ressuscitado, símbolo da dinâmica
e unicidade do mistério pascal; Palavra do Senhor no Retiro de Escuta do Conselho Geral 2019: “Não tenham
medo! Não tenham medo de olhar para a cruz, de amar a Cruz, de se apaixonar pela Cruz, porque a Cruz é
fonte de paz e ressurreição para vocês e para o mundo inteiro. Não tenham medo! Eu já venci o pecado, o
mundo e o demônio!” (Escuta, 2019, p. 54).
Deus que se esconde” (Is 45,15), mas Ele se comunica com o homem, movido por sua
lealdade, através da Revelação. Mesmo na tempestade, antes de poder falar face a face, Deus
conversa com Jó, Seu amigo, depois de ter insuflado nele o anseio e a esperança em um
Resgatador, ou Goel (palavra hebraica que significa “redentor”).
Antes da Encarnação, no Antigo Testamento, o homem justo que sofre
incompreensivelmente as dores e as demoras de Deus, se coloca diante Dele e sente a
vertigem do abismo criado pelo pecado, não podendo ainda ver alguém que tenha o direito
de representá-lo diante do juízo divino, um parente próximo que tenha o “direito de resgate”,
que o defenda diante do Deus Altíssimo e Santo. No antigo Israel, o redentor era aquele que
reivindicava um direito que um de seus parentes já não podia exercer por si mesmo (Cf. Lv
25,25; Rt 4,4). Jó lamenta: “Não existe árbitro entre nós, que ponha a mão sobre nós dois”;
mas também expressa uma certeza: “Tenho agora uma testemunha nos céus, possuo um
fiador lá nas alturas”; e pede: “Defenda ele contra Deus o homem, como o ser humano
intervém por um seu igual” (Cf. Jó 9,33;16,19; 16,21).
Sentado sobre as cinzas, raspando suas próprias feridas, Jó geme sua esperança.
Assim todo homem, todo pecador, espera com ânsia por alguém que, como Deus, desça do
céu até ele, e que, como homem, desça pela morte aos infernos, e de lá possa agir como quem
detém as chaves da vida e da morte, do paraíso e do Hades (cf. Ap 1,18). Jó parece ver nesse
Goel alguém tão humano e ferido como ele e alguém tão Divino e justo quanto Deus. Este
Goel, para Adão, Eva, Jó, e para nós, como o sabemos, é Jesus Cristo, verdadeiro Deus e
verdadeiro homem, consubstancial ao Pai e morto para nos remir dos nossos pecados. Ele é
o Resgatador que, no “sábado santo” de nossas esperas, das promessas de Deus que
“demoram” para se cumprir, da vitória de Deus que ainda não é clara para nós, do silêncio
de Deus que desafia - prova para comprovar - nossa fé-esperança, vem estender sua mão
transpassada e ressuscitada.

“Deus está morto e nós O matamos”


O ateísmo moderno ameaça destruir os fundamentos da religião cristã. Para
Feuerbach, a religião não é nada além de projeção dos próprios ideais, e a sua filosofia
reduziu a teologia à antropologia: não é Deus que cria o homem à Sua imagem e semelhança,
mas o homem quem cria Deus à própria imagem, projetando ao infinito os seus desejos. Para
Marx, a religião é o ópio do povo: existe para anestesiar os pobres no seu sofrimento e
impedir-lhes de lutar contra a opressão capitalista. Nietzsche é o profeta da morte de Deus,
que antecipa a crise de sentido do século XX, definindo a religião cristã como ressentimento
e compensação.
Até onde chega a influência dessas filosofias em nossa vida hoje? Para muitos, parece
mesmo que Deus morreu, que está mudo, sem rosto. Jesus Cristo, como figura histórica,
permanece no sepulcro, como qualquer outro mortal. Permanecemos no “sábado santo” da
história.
Em 1968, Joseph Ratzinger lia os sinais dos tempos: “Durante a sexta-feira santa o
olhar permanece fixo sobre o crucifixo, enquanto o sábado santo é o dia da ‘morte de Deus’,
o dia que prevê a inaudita experiência do nosso tempo, dado que Deus parece simplesmente
ausente, porque o sepulcro o esconde, porque ele não acorda mais, não fala mais, tanto que
não é preciso nem mesmo negá-lo, mas se pode facilmente esquecer dele. “Deus morreu e
nós o matamos.” Esta frase de Nietzsche pertence, do ponto de vista linguístico, à tradição
cristã da paixão: exprime o valor intrínseco do Sábado Santo, o ‘Desceu à mansão dos
mortos’.31
Parece que a zombaria de Elias sobre os profetas de Baal recai sobre nós hoje:
“Nenhum grito parece poder acordar Deus. O racionalista parece poder dizer tranquilamente:
rezem com mais força, talvez vocês consigam acordar o vosso Deus. ‘Desceu à mansão dos
mortos’: quanto isso reflete a verdade da nossa era, a descida de Deus na mudez, no obscuro
silêncio da ausência.”32
Para aquele que seria Papa, a esta passagem pode ser acrescentada uma outra, do Novo
Testamento. Ratzinger nos ajuda a voltar o olhar sobre a história dos discípulos de Emaús,
que esperam passar o sábado para poderem voltar atrás33 (Lc 24,13-35). Os discípulos falam
da morte de sua esperança. Cristo morreu e, portanto, o vazio é total. Eles não percebem que
essa mesma esperança está no meio deles. A imagem de Deus que eles tinham deveria ser
destruída, para que pudessem ver, para além de tudo, que a grandeza de Deus permanece. Da
revelação de Deus, faz parte não somente o Seu falar, mas também o Seu calar. “Deus não é
somente a Palavra compreensível, mas também a causa silenciosa e inacessível,
incompreendida e incompreensível, que nos escapa”34.
Eis o verdadeiro rosto de Deus: um Deus próximo ao homem, que sofre com ele,
participa até o fim do seu destino, para realizar esse comércio inesperado: agora seremos nós
a participar da sua Divindade e eternidade. Este silêncio de Deus, em vez de provar a tese
ateísta, é o argumento que inverte a perspectiva: Deus salva com a fraqueza, com o
sofrimento da cruz e com a proximidade aos sofredores de todos os tempos. Eis a graça que
nos salva: Cristo quis participar da realidade humana até as últimas consequências, como
verdadeiro homem. Eis o que move a nossa fé-esperança: verdadeiramente Ele morreu e foi
sepultado, não respirava, não se movia, seu coração não batia mais e permaneceu no sepulcro,
até o momento que separa a história humana em duas partes: antes e depois da Ressurreição.

31
RATZINGER, JOSEPH. Perché siamo ancora nella Chiesa. Milão: Rizzoli Editrice, 2008, 61. Tradução
nossa.
32
Ibid., 62.
33
“Não tenham medo! (...) Caminhem, caminhem, caminhem! Tenham fé e caminhem! (...) não
desertem diante da cruz!” (Revista Escuta, 2019, 55.)
34
RATZINGER, JOSEPH. Op. cit., 63.
CELEBRAÇÃO PARA O SÁBADO SANTO
Esta celebração tem o objetivo de nos mergulhar na morte de Cristo e na sua descida a mansão
dos mortos para reconhecer que “o Filho de Deus se entregou por mim. ” Gl2,20. Por isso é
um momento voltado para a cura interior, mas também para o louvor ao Cristo que desceu
aos infernos para derrotar a morte.
INÍCIO35
V. Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
R. Socorrei-me sem demora.
Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.
Neste momento com o lugar às escuras e iluminado apenas o ícone da descida a mansão dos
mortos faz-se uma breve invocação ao Espírito Santo e em seguida, sem motivação alguma
a leitura do texto antiga homilia do Sábado Santo.
O que está acontecendo hoje? Um grande silêncio reina sobre a terra. Um grande silêncio e
uma grande solidão. Um grande silêncio, porque o Rei está dormindo; a terra estremeceu e
ficou silenciosa, porque o Deus feito homem adormeceu e acordou os que dormiam há
séculos. Deus morreu na carne e despertou a mansão dos mortos.
Ele vai antes de tudo à procura de Adão, nosso primeiro pai, a ovelha perdida. Faz questão
de visitar os que estão mergulhados nas trevas e na sombra da morte. Deus e seu Filho vão
ao encontro de Adão e Eva cativos, agora libertos dos sofrimentos.
O Senhor entrou onde eles estavam, levando em suas mãos a arma da cruz vitoriosa. Quando
Adão, nosso primeiro pai, o viu, exclamou para todos os demais, batendo no peito e cheio de
admiração: O meu Senhor está no meio de nós. E Cristo respondeu a Adão: “E com teu
espírito.... E tomando-o pela mão, disse: Acorda, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos,
e Cristo te iluminará.
Eu sou o teu Deus, que por tua causa me tornei teu filho; por ti e por aqueles que nasceram
de ti, agora digo, e com todo o meu poder, ordeno aos que estavam na prisão: ‘Saí!’; e aos
que jaziam nas trevas: ‘Vinde para a luz!’; e aos entorpecidos: ‘Levantai-vos!’
Eu te ordeno: Acorda, tu que dormes, porque não te criei para permaneceres na mansão dos
mortos. Levanta-te dentre os mortos; eu sou a vida dos mortos. Levanta-te, obra das minhas
mãos; levanta-te, ó minha imagem, tu que foste criado à minha semelhança. Levanta-te,
saiamos daqui; tu em mim e eu em ti, somos uma só e indivisível pessoa.
Por ti, eu, o teu Deus, me tornei teu filho; por ti, eu, o Senhor, tomei tua condição de escravo.
Por ti, eu, que habito no mais alto dos céus, desci à terra e fui até mesmo sepultado debaixo
da terra; por ti, feito homem, tornei-me como alguém sem apoio, abandonado entre os mortos.
Por ti, que deixaste o jardim do paraíso, ao sair de um jardim fui entregue aos judeus e num
jardim, crucificado.
Vê em meu rosto os escarros que por ti recebi, para restituir-te o sopro da vida original. Vê
na minha face as bofetadas que levei para restaurar, conforme à minha imagem, tua beleza
corrompida.

35
Neste dia não há sinal da Cruz.
Vê em minhas costas as marcas dos açoites que suportei por ti para retirar de teus ombros o
peso dos pecados. Vê minhas mãos fortemente pregadas à árvore da cruz, por causa de ti,
como outrora estendeste levianamente as tuas mãos para a árvore do paraíso. Adormeci na
cruz e por tua causa a lança penetrou no meu lado, como Eva surgiu do teu, ao adormeceres
no paraíso. Meu lado curou a dor do teu lado. Meu sono vai arrancar-te do sono da morte.
Minha lança deteve a lança que estava dirigida contra ti.
Levanta-te, vamos daqui. O inimigo te expulsou da terra do paraíso; eu, porém, já não te
coloco no paraíso mas num trono celeste. O inimigo afastou de ti a árvore, símbolo da vida;
eu, porém, que sou a vida, estou agora junto de ti. Constituí anjos que, como servos, te
guardassem; ordeno agora que eles te adorem como Deus, embora não sejas Deus.
Está preparado o trono dos querubins, prontos e a postos os mensageiros, construído o leito
nupcial, preparado o banquete, as mansões e os tabernáculos eternos adornados, abertos os
tesouros de todos os bens e o reino dos céus preparado para ti desde toda a eternidade.
Após a leitura inicia-se imediatamente este responsório 36
Ó Cristo, ó Vida, foste colocado num túmulo,
e os Exércitos Angélicos ficaram estupefatos,
glorificando a tua benevolência.
Como podes morrer, ó Vida, como podes habitar num túmulo?
Na verdade, porém, aniquilaste o poder da morte
e despertaste os mortos nos infernos.
Ressuscita, ó Misericordioso
e ressuscita-nos contigo do bárbaro inferno.
É justo glorificar-te, ó Doador da vida,
que estendendo teus braços na Cruz,
derrubaste o poder do inimigo.
É justo glorificar-te, ó Criador de todos,
pois, por teus sofrimentos,
ficamos livres dos sofrimentos e salvos da corrupção
Ressuscita, ó Misericordioso
e ressuscita-nos contigo do bárbaro inferno.
Adão escondeu-se quando Deus andou no paraíso;
mas agora alegra-se, quando ele chegou aos infernos
pois, levanta-se, depois de ter caído
Ressuscita, ó Misericordioso
e ressuscita-nos contigo do bárbaro inferno.
Em seguida inicia-se a procissão da Santa Cruz37, a cruz deve passar por todo o lugar com
tranquilidade enquanto se canta o cântico 38 de Is 38,10-14.17-20. A cruz seja levada por

36
Esse responsório é retirado de uma liturgia grega, que venera a sepultura do Senhor, deve ser musicado e
o refrão cantado por todos da assembleia como uma grande súplica.
37
Utilize-se uma cruz como a que foi elaborada para o retiro dos padres da CV em 2019 (ela deve ser áspera,
as marcas dos pregos devem ser vasadas, e deve conter sangue.
38
Pode-se utilizar a melodia das Laudes ou outra, contando que o refrão proposto seja igual (Senhor salvai-
me, vinde logo em meu auxílio...)
uma pessoa vestindo uma veste39A partir daqui inicie-se uma oração de cura interior,
invocando o poder da cruz de Cristo que pode libertar-nos das garras da morte e da corrupção
do pecado. Essa oração seja aberta ao uso dos dons e carismas do espírito Santo. A Cruz deve
ser posta no Centro do lugar e todos devem ser chamados a aproximarem-se dela. No local
onde a cruz será depositada, devem haver alguns tecidos vermelhos bem longos que se
espalham pelo chão, lembrando o sangue vertido de Cristo. Se for oportuno, pode-se motivar
que as pessoas ao aproximarem-se da cruz deponham aos seus pés os seus vícios (cigarros,
drogas etc..) ou se já tiverem anotado suas prisões e seus pecados podem depositá-los em um
recipiente aos pés da cruz onde pode haver fogo para queimar esses materiais, porém sabemos
que nem em todos os lugares isso seria possível.
Senhor, salvai-me! Vinde logo em meu auxílio,
e a vida inteira cantaremos nossos salmos, *
agradecendo ao Senhor em sua casa.
Eu dizia: “É necessário que eu me vá *
no apogeu de minha vida e de meus dias;
– para a mansão triste dos mortos descerei, *
sem viver o que me resta dos meus anos”.
= Eu dizia: “Não verei o Senhor Deus †
sobre a terra dos viventes nunca mais; *
nunca mais verei um homem neste mundo!”
– Minha morada foi à força arrebatada,
desarmada como a tenda de um pastor.
– Qual tecelão, eu ia tecendo a minha vida, *
mas agora foi cortada a sua trama.
– Vou me acabando de manhã até à tarde,
passo a noite a gemer até a aurora.
– Como um leão que me tritura os ossos todos,
assim eu vou me consumindo dia e noite.
– O meu grito é semelhante ao da andorinha,
o meu gemido se parece ao da rolinha.
– Os meus olhos já se cansam de elevar-se, *
de pedir-vos: “Socorrei-me, Senhor Deus!”
– Mas vós livrastes minha vida do sepulcro, *
e lançastes para trás os meus pecados.
– Pois a mansão triste dos mortos não vos louva,
nem a morte poderá agradecer-vos;
– para quem desce à sepultura é terminada
a esperança em vosso amor sempre fiel.
– Só os vivos é que podem vos louvar,
como hoje eu vos louvo agradecido.

39
Uma veste rustica, nada parecido com uma veste litúrgica, mas a ideia é que seja um homem que nas
vestes já pré-anuncia a ressurreição (não deve ser gloriosa), como Cristo que entra na mansão nos mortos
levando a cruz.
– O pai há de contar para seus filhos
vossa verdade e vosso amor sempre fiel.
= Senhor, salvai-me! Vinde logo em meu auxílio,
e a vida inteira cantaremos nossos salmos, *
agradecendo ao Senhor em sua casa.
Outros salmos40 para auxiliar na oração estão colocados abaixo. Eles podem ser cantados
ou não segundo o discernimento de quem coordena.

Salmo 15(16)

= 1Guardai-me, ó Deus, porque em vós me refugio! †


2Digo ao Senhor: “Somente vós sois meu Senhor: *
nenhum bem eu posso achar fora de vós!”
– 3Deus me inspirou uma admirável afeição *
pelos santos que habitam sua terra.
– 4Multiplicam, no entanto, suas dores *
os que correm para os deuses estrangeiros;
– seus sacrifícios sanguinários não partilho, *
nem seus nomes passarão pelos meus lábios.
– 5Ó Senhor, sois minha herança e minha taça, *
meu destino está seguro em vossas mãos!
– 6Foi demarcada para mim a melhor terra, *
e eu exulto de alegria em minha herança!
– 7Eu bendigo o Senhor, que me aconselha, *
e até de noite me adverte o coração.
– 8Tenho sempre o Senhor ante meus olhos, *
pois se o tenho a meu lado não vacilo.
=9Eis por que meu coração está em festa, †
minha alma rejubila de alegria, *
e até meu corpo no repouso está tranquilo;
– 10pois não haveis de me deixar entregue à morte, *
nem vosso amigo conhecer a corrupção.
=11Vós me ensinais vosso caminho para a vida; †
junto a vós, felicidade sem limites, *
delícia eterna e alegria ao vosso lado!

Salmo 142(143),1-11

40
Podem-se utilizar outras músicas também.
– 1Ó Senhor, escutai minha prece, *
ó meu Deus, atendei minha súplica!
– Respondei-me, ó vós, Deus fiel, *
escutai-me por vossa justiça!
=2Não chameis vosso servo a juízo, †
pois diante da vossa presença *
não é justo nenhum dos viventes.
– 3O inimigo persegue a minha alma, *
ele esmaga no chão minha vida
– e me faz habitante das trevas, *
como aqueles que há muito morreram.
– 4Já em mim o alento se extingue, *
o coração se comprime em meu peito! –
=5Eu me lembro dos dias de outrora †
e repasso as vossas ações, *
recordando os vossos prodígios.
=6Para vós minhas mãos eu estendo; †
minha alma tem sede de vós, *
como a terra sedenta e sem água.
– 7Escutai-me depressa, Senhor, *
o espírito em mim desfalece!
= Não escondais vossa face de mim! †
Se o fizerdes, já posso contar-me *
entre aqueles que descem à cova!
– 8Fazei-me cedo sentir vosso amor, *
porque em vós coloquei a esperança!
– Indicai-me o caminho a seguir, *
pois a vós eu elevo a minha alma!
– 9Libertai-me dos meus inimigos, *
porque sois meu refúgio, Senhor!
– 10Vossa vontade ensinai-me a cumprir, *
porque sois o meu Deus e Senhor!
– Vosso Espírito bom me dirija *
e me guie por terra bem plana!
– 11Por vosso nome e por vosso amor *
conservai, renovai minha vida!
– Pela vossa justiça e clemência, *
arrancai a minha alma da angústia!
Terminado esse momento, quem coordena motiva um grande louvor pela descida do
Senhor a mansão dos mortos, pelo Filho de Deus que se entregou por mim, que cada um
reconheça do que foi liberto, do que foi salvo pela cruz de Cristo que abriu definitivamente
as portas da região da morte. Pode-se utilizar também uma música para este momento.
Na região tenebrosa da morte,
Levantou-se uma luz.
Essa luz para mim, é Jesus, é Jesus.
Cordeiro Imolado, vitorioso,
Meus lábios querem cantar a Tua glória.
Viver a Teu lado, cantar teus louvores,
E proclamar bem alto és Senhor. (2x)
Viver pra te amar, é o meu desejo,
Na cruz me amou, na cruz do amor.
Seu sangue derramado, em nossas cabeças,
Das chagas abertas, feridas de amor.
Encerrado o este momento de louvor o coordenador convida todos a se voltarem para o
ícone ou a imagem de Nossa senhora das dores e honrar a Virgem Maria cantando e
consagrando a ela a feliz espera da iminente ressurreição de Nosso Senhor.
Não, não há, Maria,
alma esposa que não se una a ti,
Esposa das esposas.
Não, não há um olhar que
contemple e ame o
Filho fora do teu olhar.
Não, não há coração que
se una ao dEle sem ser
um com o teu coração.
Tem olhos para nós qual
chagas de dor e amor são
janelas pelas quais passa
A luz da verdade, do amor
com que Deus ama o mundo,
Do amor com que Deus ama, ama...
Maria...
Quem coordena encerra dizendo:
- Bendigamos o Senhor!
R- Demos graças a Deus!

Domingo de Páscoa

Espírito Litúrgico
No domingo da Ressurreição de Jesus, celebramos a Sua vitória definitiva sobre a
morte. Após dois dias de silêncio e dor, em que os discípulos viram o sofrimento de Jesus e
o silêncio de Deus, Ele surge mais uma vez, glorioso como um homem novo. Ele dá um
sentido profético às ofertas amorosas e generosas dos Apóstolos, dos mártires e de todos os
cristãos, ao longo da rica e bendita história da Igreja, pois cessam todo medo e todo desespero
e a vida dos discípulos e a história da humanidade tomam uma nova direção, todos os tempos
e lugares foram afetados por este acontecimento. A Ressurreição de Jesus muda a vida
daqueles que deixam que Ele penetre profundamente em sua vida, em seu interior, mudando
o seu ser. Sobre a importância da Páscoa de Jesus, São Paulo, vai dizer: “Se Cristo não
ressuscitou, vã é a nossa fé.” (1Cor 15,17)
O pecado fez de nós, seres humanos, perdidos, criaturas decadentes, destinadas à
morte e a dor. Ainda hoje em dia, muitos acreditam que sua existência, tão amada e querida
por Deus, está fadada ao fracasso e não há nada mais a esperar. A morte, em algumas pessoas,
inspira terror e desespero, em outras, um modo, ainda que obscuro e incerto de acabar com o
sofrimento. Victor Frankl, psicólogo que viveu o sofrimento dos campos de concentração
nazista na Segunda Guerra Mundial, diz: “Quem tem sentido de vida pode suportar qualquer
coisa.”
Jesus ressuscitado se apresentou aos Seus discípulos nesse dia. Ao fazê-lo, Jesus
mergulhou Seus amados e fiéis discípulos no bendito e santo oceano da esperança e do amor.
Neste dia, o Ressuscitado, o esposo de nossa alma, deseja se apresentar a cada um de
nós, com toda Sua glória e poder. Que Sua presença amorosa, salvadora e viva revigore,
restaure nossa vida. Que sejamos batizados no mistério da Ressurreição e renovemos nosso
discipulado nos caminhos da paz.

Subsídio para pregação:


Graça e glória: a vida de Deus na carne ressuscitada

Irrompamos, irmãos, em júbilo, hoje, no grito da Ressurreição: Cristo Ressuscitou,


Aleluia! Sim, verdadeiramente ressuscitou, Aleluia! Ele venceu a morte! Ele vive! E
assumamos pessoalmente: Ele vive em mim! “Reconhece, ó cristão, a tua dignidade!” 41.

Ele se entrega para me dar vida nova


O cristão, pelo Batismo, é um outro Cristo: pela graça sacramental que torna atuante
em sua vida a cruz de Cristo, renasce do alto, filho no Filho. Por isso, hoje podemos afirmar
que o cristão é um outro Ressuscitado. Há uma particular manifestação da Ressurreição do
Senhor na existência de cada um que recebe esse nome.
Se Cristo está no mundo – e Ele está –, Sua presença é efetivamente sacramental,
eucarística e eclesial. Cristo não está no mundo como Buda, Maomé, Zaratustra estão no
mundo: apenas através de um legado de conceitos, de ensinamentos e inspiração. Cristo, na
Ascensão, quarenta dias depois da Páscoa, entra nos Céus. Mas isto o que significa

41
“Reconhece, ó cristão, a tua dignidade. Uma vez constituído participante da natureza divina, não penses em
voltar às antigas misérias da tua vida passada. Lembra-te de que cabeça e de que corpo és membro. Não te
esqueças de que foste libertado do poder das trevas e transferido para a luz e para o Reino de Deus”. São Leão
Magno, citado no Catecismo da Igreja Católica, 1691.
concretamente? Que Ele se afasta de nós até entrar nos Céus, ou que a eternidade se aproxima
e envolve o tempo e o espaço deste mundo? Pois “a Ressurreição faz entrever o espaço novo
que abre a história para além dela mesma e cria o definitivo” 42.
Ele inaugura a Plenitude e promete estar conosco até o fim dos tempos! Ele faz novas
todas as coisas, cria um novo tipo de evento, e abre uma porta. Essa porta que dá acesso à
Ressurreição é o Batismo, e cada batizado é chamado a manter essa porta aberta, em si
mesmo, pois é por ela que o Ressuscitado entra no mundo e conquista novos catecúmenos 43.
A esta primeira regeneração, que acontece uma vez por todas, segue, como vimos, a
regeneração cotidiana na vontade, nas ações do dia a dia que, pelo dom gratuito de Cristo e
pela nossa livre adesão, vai nos configurando a Si, vai nos “eucaristizando”, tornando-nos a
carne de Cristo no mundo.
São Paulo, autor da afirmação: “Cristo vive em mim!” (Gl 2,20), aprendeu essa lição
de maneira dramática, quando se chamava ainda Saulo e perseguia os cristãos. No caminho
de Damasco, ele é interrogado pelo próprio Ressuscitado: “Por que me persegues?” (At
9,4b), ou, nas entrelinhas: Não sabes que Eu estou, realmente, nos cristãos, que eles são meu
corpo, meus membros sobre a terra?!44. “Ele tem ‘carne e ossos’ (Lc 24,39), afirma o
Ressuscitado, em Lucas, diante dos discípulos que o tinham considerado um fantasma. Ele
tem um corpo. Está pessoalmente na sua Igreja. ‘Cabeça e Corpo’ formam um único sujeito,
dirá Agostinho. ‘Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo?’, escreve Paulo
aos Coríntios (1Cor 6,15). E acrescenta: assim como, segundo o Livro do Gênesis, o homem
e a mulher se tornam uma só carne, assim Cristo com os seus se torna um só espírito, ou seja,
um único sujeito no mundo novo da ressurreição (cf. 1Cor 6,16ss).”45
Ele nos transubstancia em si, através da santificação ou deificação. A Ressurreição
vai manifestando a sua luz gloriosa no mundo através da santidade da Igreja, dos membros
de Cristo, que também são chamados santos46. O Cristo Ressuscitado, que é o mesmo Cristo
Eucarístico, quer “eucaristizar” a cada um de nós 47, e nos expor ao mundo, para nele gerar
vida nova. Ele se entrega para nos eucaristizar.
Tomemos o exemplo de Charles de Foucauld, beatificado por Bento XVI em 2005,
um homem “eucaristizado”: “Pouco a pouco, a Eucaristia o conduziu a uma vida eucarística,

42
PAPA BENTO XVI. Jesus de Nazaré - parte II: da entrada em Jerusalém até a Ressurreição. São Paulo:
Planeta, 2013.
43
“Sofre e morre e, como o Ressuscitado, quer vir para a humanidade apenas através da fé dos seus, aos quais
se manifesta. Continuamente Ele bate suavemente às portas de nossos corações, e, se abrirmos, lentamente nos
tornamos capazes de ‘ver’”. (PAPA BENTO XVI. Jesus de Nazaré, da entrada em Jerusalém até a
Ressurreição.)
44
“Ao perseguir a Igreja, Paulo persegue o próprio Jesus: ‘Tu persegues-me’. Jesus identifica-se com a Igreja
num só sujeito. Nesta exclamação do Ressuscitado, que transformou a vida de Saulo, no fundo já está contida
toda a doutrina sobre a Igreja como Corpo de Cristo. Cristo não se retirou para o céu, deixando na terra uma
multidão de seguidores que se ocupam da ‘sua causa’. Nela, não se trata de uma causa. Nela, trata-se da
pessoa de Jesus Cristo, que também como Ressuscitado permaneceu ‘carne’”. PAPA BENTO XVI. Homilia.
2008.
45
PAPA BENTO XVI. Homilia. 2008.
46
LUMEN GENTIUM, 40: “Os seguidores de Cristo, chamados por Deus e justificados no Senhor Jesus, não
por merecimento próprio mas pela vontade e graça de Deus, são feitos, pelo Batismo da fé, verdadeiramente
filhos e participantes da natureza divina e, por conseguinte, realmente santos. É necessário, portanto, que, com
o auxílio divino, conservem e aperfeiçoem, vivendo-a, esta santidade que receberam.”
47
“O Senhor dá o entendimento de que Ele quer eucaristizar a vida de muitos, com a Eucaristia, santificar
pela Eucaristia, para os tornar Eucaristia para a humanidade. Ele me mostra muitos santos dentro da
Comunidade, com vidas escondidas, muito simples, no ordinário da vida, na simplicidade, ofertando-se com a
vida eucarística (...) e vai sendo gerada vida divina no corpo da Comunidade.” (Escuta 5, 2019, 69.)
na medida em que ele passou da exposição do Santo Sacramento a uma vida exposta” 48.
Tendo vivido uma juventude mundana e dissipada graças à herança de seu avô, o aventureiro
militar e depois explorador do Marrocos, ao retornar a Paris para publicar seu livro, passa a
ter conversas edificantes com sua prima Marie de Bondy e com outros cristãos, que geram
profundos questionamentos em seu coração: “Em Paris, eu me encontrei com pessoas muito
inteligentes, muito virtuosas e muito cristãs. Eu disse a mim mesmo que talvez essa religião
não fosse absurda.”49
Visitando a Igreja de Santo Agostinho, encontra o Abade Huvelin, que o convida ao
sacramento da Reconciliação, e ele o aceita. Esse momento marca sua vida para sempre, e
sua conversão o conduz imediatamente ao abandono na fé: “Tão logo eu cri que havia um
Deus, eu compreendi que eu não podia viver senão para Ele. Deus é tão grande! Que diferença
entre Deus e tudo que não é Ele!” 50 O testemunho, as conversas edificantes e um convite à
confissão foram o gatilho para a geração de uma luminosa conversão!
Charles ingressa na vida religiosa e anseia pela vida do Cristo pobre e misericordioso.
Ele toma consciência que sua vida é um mistério de comunhão e imitação: “Meu apostolado
deve ser o apostolado da bondade. Ao me ver, deveriam dizer: ‘Porque este homem é tão
bom, sua religião deve ser boa’. E se me perguntarem porque eu sou doce e bom, eu devo
dizer: ‘Porque eu sou servidor de um bem melhor que eu mesmo. Se você soubesse como é
bom o meu mestre Jesus!’”51
Ele concebe sua vocação como aquela de “gritar o Evangelho sobre os telhados, não
com palavras, mas com a vida”. No início do século XXI, mais de vinte congregações seguem
a espiritualidade de Charles de Foucauld 52.

Na Carne Ressuscitada, o amor e a alegria


A Ressurreição em si, como evento histórico, não pode ser observada a olho nu, mas
a sua força transformadora, sim, na liturgia da Igreja, nos sacramentos, na vida dos santos.
Na Ressurreição, Jesus Ressuscitado oferece “uma nova possibilidade de ser homem, que
interessa a todos”53. Essa nova possibilidade de ser homem é encarnada pela pessoa que se
abre à Graça e permite que sua existência, sua carne, seja desposada e transfigurada,
ofertando ao mundo como primeiros frutos o amor e a alegria. A glória de Deus é o homem
vivente!54
O esplendor do “Big Bang” da nova criação 55 mostra seus efeitos na vida nova, que
se traduz em santidade. Quando a fé e a liturgia se estendem à vida quotidiana, cada um de

48
BOULANGER, Mgr Jean-Claude. La prière d’abandon Paris; DDB, 2010, p. 140-141.
49
FOUCAULD, Charles de. Lettres à Henry de Castries. Tradução nossa.
50
LAFON, MICHEL. Prier 15 jours avec Charles de Foucauld, 7. Tradução nossa.
51
CHARLES DE FOUCAULD. Carnets de Tamanrasset 1905-1916. Bruyères-le-Châtel: Nouvelle Cité,
1986, 188. Tradução nossa.
52
ANTIER, JEAN-JACQUES. Charles de Foucauld. Paris: Éditions Perrin, novembre 2005 (réimpr. 1997,
2001, 2004), 139. Tradução nossa.
53
PAPA BENTO XVI. Jesus de Nazaré, da entrada em Jerusalém à ressurreição.
54
Santo Irineu de Lyon.
55
“Na Páscoa, ao amanhecer do primeiro dia da semana, Deus disse novamente: ‘Faça-se a luz!’ Antes tinham
vindo a noite do Monte das Oliveiras, o eclipse solar da paixão e morte de Jesus, a noite do sepulcro. Mas,
agora, é de novo o primeiro dia; a criação recomeça inteiramente nova. ‘Faça-se a luz!’: disse Deus. ‘E a luz
foi feita’. Jesus ressuscita do sepulcro. A vida é mais forte que a morte.” (PAPA BENTO XVI. Homilia. 2012.
Disponível em: <http://bit.ly/36QH7Gz>. Acesso em 19 de dez. de 2019.)
nós se torna um Círio Pascal, que transmite luz e calor ao mundo. Deixemo-nos acender pelo
fogo de Cristo e consumir de amor por Ele e pelo homem que jaz nas trevas!56
Assim é a vida na Graça ou vida no Espírito: “Neste amor e nesta alegria consiste a vida
beata; mas a vida beata em parte é escondida, segundo as palavras de Paulo: A nossa vida está
escondida; e em parte é manifesta, como diz o Senhor: “O Espírito sopra onde quer e ouves a sua voz,
e não sabes de onde vem e para onde vai; assim é para cada um que nasceu do Espírito”. Amor e
alegria são manifestos e revelam a graça invisível, antes de tudo porque são frutos da graça: o fruto
do Espírito é o amor, a alegria, e a árvore se conhece pelo fruto; em segundo lugar porque a graça é
o Espírito de adoção filial, e o amor atesta em tais almas a divina conaturalidade, atesta que são filhos
de Deus.”57
Os discípulos “ficaram cheios de alegria por verem o Senhor” (Jo 20,20b), quando
Ele vem desposar a Igreja que ainda se escondia com medo do mundo.

Cristo se entrega pela Igreja


O Esposo Ressuscitado se apresenta à Igreja, sua Esposa, no dia da Páscoa, trazendo
diversos dons esponsais. Com a palavra – a primeira dirigida aos discípulos depois da
Ressurreição – Ele realiza o pacto e ministra sobre eles a Paz, o Shalom (cf. Jo 20,19-29),
mostrando à Igreja seu Corpo, marcado pelo Amor com que a amou, nas chagas que
testemunham que Ele se ofereceu inteiramente por ela e a ela no leito da cruz.
Ele presenteia a Igreja, então, com o envio missionário, ligado ao Seu envio por parte
do Pai: “Como o Pai me enviou, assim eu também vos envio” (Jo 20,21). Para nós, almas
esposas, o mandato missionário não é somente um mandamento, mas é sobretudo o usufruto
e a participação na comunhão total de bens da Sua mesma missão, testemunhando o vínculo
indissolúvel entre Esposo e esposa, selado pela fé.
Com o sopro do Espírito, como um hálito ou beijo esponsal, Ele antecipa e prepara o
Pentecostes, a festa das Colheitas para a sua esposa, vinha fecunda e santa. O Esposo retira,
com essas graças, todo o medo que os mantinha fechados e com as portas fechadas.
Senhor Ressuscitado, nós Te suplicamos: transforma-nos, recria-nos, regenera-nos
filhos livres, almas esposas apaixonadas! Muda os rumos da história, intervém, estabelece o
Teu Senhorio e a Tua vitória sobre cada um de nós e sobre toda a humanidade! Assim seja!

Domingo da ressurreição
Orientação:
Neste dia o Senhor ressuscitou, nos deu vida nova. Este é o dia que o Senhor fez para nós!
Simbólica:

56
“Na Vigília Pascal, a noite da nova criação, a Igreja apresenta o mistério da luz com um símbolo muito
particular e humilde: o círio pascal. Trata-se de uma luz que vive em virtude do sacrifício: a vela ilumina,
consumindo-se a si mesma; dá luz, dando-se a si mesma. Este é um modo maravilhoso de representar o mistério
pascal de Cristo, que Se dá a Si mesmo e assim dá a grande luz. Uma segunda ideia, que a reflexão sobre luz
da vela nos sugere, deriva do fato de a mesma ser fogo. Ora, o fogo é força que plasma o mundo, poder que
transforma; e o fogo dá calor. E aqui se torna novamente visível o mistério de Cristo: Ele, a luz, é fogo; é
chama que queima o mal, transformando assim o mundo e a nós mesmos. ‘Quem está perto de Mim, está perto
do fogo’: assim reza um dito de Jesus, que nos foi transmitido por Orígenes. E este fogo é ao mesmo tempo
calor: não uma luz fria, mas uma luz na qual vêm ao nosso encontro o calor e a bondade de Deus.” (PAPA
BENTO XVI. Homilia. 2012. Disponível em: <http://bit.ly/36QH7Gz>. Acesso em 19 de dez. de 2019.)
57
CABASILAS. La vita in Cristo, 332.
● O ambiente seja decorado de forma que pareça haver um grande sepulcro aberto ,
com a pedra que deveria estar na frente do sepulcro colocada de lado. (busque-se ao
máximo fazer a decoração em tamanho grande e visível para todos).
● Luzes da assembleia apagadas, apenas velas ou luminárias acesas que podem estar
dentro do sepulcro, espalhadas em pontos estratégicos do espaço que vai ser feita a
decoração, no ícone e as do altar.

Esquete: Antes da adoração caso haja tempo sugerimos uma pequena esquete:
Maria Madalena entra sozinha, se aproxima do sepulcro em silêncio e depois se volta
para o público.
Fala de Madalena: Após um forte suspiro ela se volta olhando fixamente para a
assembleia e diz: Eu era uma pecadora pública ... Desejada e odiada ao mesmo tempo por
muitos. Ele porém, veio amorosamente ao meu encontro, me amou gratuitamente. Ele
restaurou minha dignidade, manchada e ferida. Fez com que eu me sentisse uma mulher e
não mais um objeto público de prazer. Eu corria muitos riscos, mas escolhi ficar com Ele,
mesmo quando todos fugiram.
Cada açoite que Ele sofria, minha alma se contorcia de dor. Meu desejo, era morrer
com Ele! Pensando bem, eu morri... Com certeza, eu morri... Depois do repouso obrigatório
do sábado, que para mim, não foi repouso mais tortura, eu voltei ao sepulcro.
Sentia-me enlouquecida pela dor. Porém, algo dentro de mim, sentia-o não morto, mas
presente, vivo, não sei explicar. Para a minha surpresa e espanto, o sepulcro estava vazio,
chorei... chorei muito. No auge do meu desespero e dor, uma voz forte, ao mesmo tempo
pacífica e doce me interpelou: “Mulher, por que choras?” Eu respondi entre soluços:
“Levaram meu senhor e não sei onde o colocaram!” Porém, tudo mudou... Tudo... tudo
mesmo... quando Ele fez um ato simples. Pronunciou meu nome: Maria! Apenas um Homem,
entre tantos que conheci na minha vida, me chamava pelo nome. É difícil explicar, porém,
algo, novo, vivo, pleno ressurgiu, ou melhor, RESSUSCITOU, dentro de mim. Eu então,
gritei! gritei bem forte: Yeshua! Yeshua! Yeshua! O filho de Deus se entregou por mim! Ele
está vivo!!! (Madalena saí gritando alegremente que Jesus ressuscitou)

Observação: Caso não seja possível a personagem de Madalena decorar o texto ou não seja
possível ele ter um microfone durante a apresentação pode-se usar uma pessoa que faça a
locução e a personagem apenas intérprete interagindo com o público.
Adoração: Logo em seguida a saída de Madalena, inspirado pela alegria dela deve-se
começar um canto que leve as pessoas a louvar a Deus por sua ressurreição:
Celebramos a Cristo, aquele que em nós venceu. ( Cantai 959)
Novo dia surgiu (cantai 753)
Ou outras a livre escolha do coordenador que lembre a força da ressurreição
Condução: Esta adoração deve ser cheia de louvor pela ressurreição do Senhor, pela sua
vitória sobre a morte, por que o Senhor se entregou por mim, por que eu fiz uma experiência
pessoal com o Ressuscitado que passou pela cruz. Este dia é marcado pela alegria e o louvor,
mas esta adoração ainda deve ser aberta aos dons e a ação de Deus, pois muitos terão a sua
experiência somente quando encontrarem o Ressuscitado. Não há muitas orientações para
este momento a pessoa que for conduzi-la deve estar atenta a tudo que Deus falou nos últimos
dias e ser dócil a ação do Espírito tomando cuidado para que ela não se alongue demais.
Preces: Deve ser feita de forma espontânea e simples durante a adoração
● Façamos um momento de intercessão por aqueles que acreditam que sua existência,
tão amada e querida por Deus, está fadada ao fracasso e não há nada mais a esperar.
A morte, em algumas pessoas, inspira terror e desespero, em outras, um modo, ainda
que obscuro e incerto de acabar com o sofrimento.
● Peçamos ao Senhor por todos que ainda não creem na ressurreição ou perderam a
esperança na vida nova que Cristo tem para nos dar.
● Peçamos ao senhor também que nós possamos cheios de amor e da certeza da
ressurreição anunciar ao Senhor que todo fervor e amor.
● Peçamos por todo a Igreja para que cresça unida em um só corpo, como corpo místico
de Cristo
Ao final deste momento se houver um sacerdote ele deve dar a benção do Santíssimo e mais
uma vez a adoração deve nos levar a um louvor vitorioso da obra de Deus em nossa vida.

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