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Introduçã o à Liturgia

Ano Litú rgico, Liturgia das Horas e Espiritualidade Litú rgica


Textos e exercícios
Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro
Escolas de Fé e Catequese – Escola Mater Ecclesiae
Núcleo Jacarepaguá – Freguesia
Liturgia 1A

Sumário
I. Motu Proprio Tra le Sollicitude ..........................................................................................................3
II. Carta Encíclica Mediator Dei ............................................................................................................6
III. Constituição Apostólica Sacrosanctum Concilium ...........................................................................11
IV. Doutrina do Mistério ....................................................................................................................14
V. Experimentar a Liturgia – dimensão corporal ..................................................................................19
VI. Instrução Geral sobre a Liturgia das Horas ....................................................................................21
VII. Ano Litúrgico..............................................................................................................................26
VIII. Carta Apostólica Dies Domini .....................................................................................................31
IX. Espiritualidade Litúrgica ...............................................................................................................40
X. Estudo Dirigido – 1........................................................................................................................43
XI. Diretório para Celebrações Dominicais na Ausência do Presbítero ...................................................44
XII. Estudo Dirigido – 2 .....................................................................................................................51
XIII. Vocabulário Prático de Liturgia ...................................................................................................52
XIV. Exercício sobre o Vocabulário Prático ..........................................................................................53
XV. Revisão ......................................................................................................................................54
Bibliografia .......................................................................................................................................56
Oração para antes dos estudos ..........................................................................................................57

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Liturgia 1A

I. Motu Proprio Tra le Sollicitude


São Pio X, sobre a Música Sacra

INTRODUÇÃO

Entre os cuidados do ofício pastoral, não somente desta Suprema Cátedra, que por imperscrutável
disposição da Providência, ainda que indigno, ocupamos, mas também de todas as Igrejas particulares,
é, sem dúvida, um dos principais o de manter e promover o decoro da Casa de Deus, onde se celebram
os augustos mistérios da religião e o povo cristão se reúne, para receber a graça dos Sacramentos,
assistir ao Santo Sacrifício do altar, adorar o augustíssimo Sacramento do Corpo do Senhor e unir-se à
oração comum da Igreja na celebração pública e solene dos ofícios litúrgicos.

Nada, pois, deve suceder no templo que perturbe ou, sequer, diminua a piedade e a devoção das fiéis,
nada que dê justificado motivo de desgosto ou de escândalo, nada, sobretudo, que diretamente ofenda o
decoro e a santidade das sacras funções e seja por isso indigno da Casa de Oração e da majestade de
Deus.

Não nos ocupamos de cada um dos abusos que nesta matéria podem ocorrer. A nossa atenção dirige-se
hoje para um dos mais comuns, dos mais difíceis de desarraigar e que às vezes se deve deplorar em
lugares onde tudo o mais é digno de máximo encômio para beleza e suntuosidade do templo, esplendor
e perfeita ordem das cerimônias, frequência do clero, gravidade e piedade dos ministros do altar. Tal é o
abuso em matéria de canto e Música Sacra. E de fato, quer pela natureza desta arte de si flutuante e
variável, quer pela sucessiva alteração do gosto e dos hábitos no correr dos tempos, quer pelo funesto
influxo que sobre a arte sacra exerce a arte profana e teatral, quer pelo prazer que a música diretamente
produz e que nem sempre é fácil conter nos justos limites, quer, finalmente, pelos muitos preconceitos,
que em tal assunto facilmente se insinuam e depois tenazmente se mantêm, ainda entre pessoas
autorizadas e piedosas, há uma tendência contínua para desviar da reta norma, estabelecida em vista do
fim para que a arte se admitiu ao serviço do culto, e expressa nos cânones eclesiásticos, nas ordenações
dos Concílios gerais e provinciais, nas prescrições várias vezes emanadas das Sagradas Congregações
Romanas e dos Sumos Pontífices Nossos Predecessores.

Com verdadeira satisfação da alma nos apraz recordar o muito bem que nesta parte se tem feito nos
últimos decênios, também nesta nossa augusta cidade de Roma e em muitas Igrejas da Nossa pátria,
mas em modo muito particular em algumas nações, onde homens egrégios e zelosos do culto de Deus,
com aprovação desta Santa Sé e dos Bispos, se uniram em florescentes sociedades e reconduziram ao
seu lugar de honra a Música Sacra em quase todas as suas Igrejas e Capelas. Este progresso está
todavia ainda muito longe de ser comum a todos; e se consultarmos a nossa experiência pessoal e
tivermos em conta as reiteradas queixas, que de todas as partes Nos chegaram neste pouco tempo
decorrido, desde que aprouve ao Senhor elevar a Nossa humilde Pessoa à suprema culminância do
Pontificado Romano, sem protrairmos por mais tempo, cremos que é nosso primeiro dever levantar a voz
para reprovação e condenação de tudo que nas funções do culto e nos ofícios eclesiásticos se reconhece
desconforme com a reta norma indicada.

Sendo de fato nosso vivíssimo desejo que o espírito cristão refloresça em tudo
e se mantenha em todos os fiéis, é necessário prover antes de mais nada à
santidade e dignidade do templo, onde os fiéis se reúnem precisamente para
haurirem esse espírito da sua primária e indispensável fonte: a participação
ativa nos sacrossantos mistérios e na oração pública e solene da Igreja. E
debalde se espera que para isso desça sobre nós copiosa a bênção do Céu,
quando o nosso obséquio ao Altíssimo, em vez de ascender em odor de
suavidade, vai pelo contrário repor nas mãos do Senhor os flagelos, com que
uma vez o Divino Redentor expulsou do templo os indignos profanadores.
Portanto, para que ninguém doravante possa alegar a desculpa de não
conhecer claramente o seu dever, e para que desapareça qualquer equívoco
na interpretação de certas determinações anteriores, julgamos oportuno
indicar com brevidade os princípios que regem a Música Sacra nas funções do São Pio X
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culto e recolher num quadro geral as principais prescrições da Igreja contra os abusos mais comuns em
tal matéria.

E por isso, de própria iniciativa e ciência certa, publicamos a Nossa presente instrução; será ela como que
um código jurídico de Música Sacra; e, em virtude da plenitude de Nossa Autoridade Apostólica,
queremos que se lhe dê força de lei, impondo a todos, por este Nosso quirógrafo, a sua mais escrupulosa
observância.

I. Princípios gerais

1. A música sacra, como parte integrante da Liturgia solene, participa do seu fim geral, que é a glória de
Deus e a santificação dos fiéis. A música concorre para aumentar o decoro e esplendor das sagradas
cerimônias; e, assim como o seu ofício principal é revestir de adequadas melodias o texto litúrgico
proposto à consideração dos fiéis, assim o seu fim próprio é acrescentar mais eficácia ao mesmo texto, a
fim de que por tal meio se excitem mais facilmente os fiéis à piedade e se preparem melhor para receber
os frutos da graça, próprios da celebração dos sagrados mistérios.

2. Por isso a música sacra deve possuir, em grau eminente, as qualidades próprias da liturgia, e
nomeadamente a santidade e a delicadeza das formas, donde resulta espontaneamente outra
característica, a universalidade.

Deve ser santa, e por isso excluir todo o profano não só em si mesma, mas também no modo como é
desempenhada pelos executantes.

Deve ser arte verdadeira, não sendo possível que, doutra forma, exerça no ânimo dos ouvintes aquela
eficácia que a Igreja se propõe obter ao admitir na sua liturgia a arte dos sons. Mas seja, ao mesmo
tempo, universal no sentido de que, embora seja permitido a cada nação admitir nas composições
religiosas aquelas formas particulares, que em certo modo constituem o caráter específico da sua música
própria, estas devem ser de tal maneira subordinadas aos caracteres gerais da música sacra que
ninguém doutra nação, ao ouvi-las, sinta uma impressão desagradável.

II. Gêneros de Música Sacra

3. Estas qualidades se encontram em grau sumo no canto gregoriano, que é por consequência o canto
próprio da Igreja Romana, o único que ela herdou dos antigos Padres, que conservou cuidadosamente no
decurso dos séculos em seus códigos litúrgicos e que, como seu, propõe diretamente aos fiéis, o qual
estudos recentíssimos restituíram à sua integridade e pureza.

Por tais motivos, o canto gregoriano foi sempre considerado como o modelo supremo da música sacra,
podendo com razão estabelecer-se a seguinte lei geral: uma composição religiosa será tanto mais sacra e
litúrgica quanto mais se aproxima no andamento, inspiração e sabor da melodia gregoriana, e será tanto
menos digna do templo quanto mais se afastar daquele modelo supremo.

O canto gregoriano deverá, pois, restabelecer-se amplamente nas funções do culto, sendo certo que uma
função eclesiástica nada perde da sua solenidade, mesmo quando não é acompanhada senão da música
gregoriana.

(...)

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III. Texto Litúrgico

(...)

9. O texto litúrgico tem de ser cantado como se encontra nos livros aprovados, sem posposição ou
alteração das palavras, sem repetições indevidas, sem deslocar as sílabas, sempre de modo inteligível.

(...)

VII. Amplitude da Música Sacra

22. Não é licito, por motivo do canto, fazer esperar o sacerdote no altar mais tempo do que exige a
cerimônia litúrgica. Segundo as prescrições eclesiásticas, o Sanctus deve ser cantado antes da elevação,
devendo o celebrante esperar que o canto termine, para fazer a elevação. A música da Glória e do Credo,
segundo a tradição gregoriana, deve ser relativamente breve.

23. É condenável, como abuso gravíssimo, que nas funções eclesiásticas a liturgia esteja dependente da
música, quando é certo que a música é que é parte da liturgia e sua humilde serva.

(...)

Dado em o Nosso Palácio do Vaticano, na festa da Virgem e Mártir Santa Cecília, 22 de novembro de
1903, primeiro ano do nosso pontificado.

PAPA PIO X

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II. Carta Encíclica Mediator Dei


Papa Pio XII, sobre a Sagrada Liturgia
INTRODUÇÃO
1
1. "O mediador entre Deus e os homens" , o grande pontífice que penetrou
2
os céus, Jesus filho de Deus , assumindo a obra de misericórdia com a qual
enriqueceu o gênero humano de benefícios sobrenaturais, visou sem dúvida
a restabelecer entre os homens e o Criador aquela ordem que o pecado
tinha perturbado e a reconduzir ao Pai celeste, primeiro princípio e último
fim, a mísera estirpe de Adão, infeccionada pelo pecado original. E por isso,
durante a sua permanência na terra, não só anunciou o início da redenção e
declarou inaugurado o reino de Deus, mas ainda cuidou de promover a
salvação das almas pelo contínuo exercício da pregação e do sacrifício, até
que, na cruz, se ofereceu a Deus qual vítima imaculada para "purificar a
3
nossa consciência das obras mortas, para servir a Deus vivo" . Assim, todos
os homens, felizmente chamados do caminho que os arrastava à ruína e à
perdição, foram ordenados de novo a Deus, a fim de que, com sua pessoal
colaboração na obra da própria santificação, fruto do sangue imaculado do
Papa Pio XII Cordeiro, dessem a Deus a glória que lhe é devida.

2. O Divino Redentor quis, ainda, que a vida sacerdotal por ele iniciada em seu corpo mortal com as suas
preces e o seu sacrifício, não cessasse no correr dos séculos no seu corpo místico, que é a Igreja; e por
4
isso instituiu um sacerdócio visível para oferecer em toda parte a oblação pura , a fim de que todos os
homens, do oriente ao ocidente, libertos do pecado, por dever de consciência servissem espontânea e
voluntariamente a Deus.

3.
A Igreja, pois, fiel ao mandato recebido do seu Fundador, continua o ofício sacerdotal de Jesus Cristo,
sobretudo com a sagrada liturgia. E o faz em primeiro lugar no altar, onde o sacrifício da cruz é
5
perpetuamente representado e renovado, com a só diferença no modo de oferecer; em seguida, com os
sacramentos, que são instrumentos particulares por meio dos quais os homens participam da vida
6
sobrenatural; enfim, com o tributo cotidiano de louvores oferecido a Deus ótimo e máximo . "Que
jubiloso espetáculo – diz o nosso predecessor de feliz memória Pio XI – oferece ao céu e à terra a Igreja
que reza, enquanto continuamente dia e noite, se cantam na terra os salmos escritos por inspiração
divina: nenhuma hora do dia transcorre sem a consagração de uma liturgia própria; cada etapa da vida
tem seu lugar na ação de graças, nos louvores, preces e aspirações desta comum oração do corpo
7
místico de Cristo, que é a Igreja."

4. Certamente conheceis, veneráveis irmãos, que, no fim do século passado e nos princípios do presente,
houve singular fervor de estudos litúrgicos; já por louvável iniciativa de alguns particulares, já sobretudo
pela zelosa e assídua diligência de vários mosteiros da ínclita ordem beneditina; assim que não somente
em muitas regiões da Europa, mas ainda nas terras de além-mar, se desenvolveu a esse respeito uma
louvável e útil emulação, cujas benéficas consequências foram visíveis, quer no campo das disciplinas
sagradas, onde os ritos litúrgicos da Igreja oriental e ocidental foram mais ampla e profundamente
estudados e conhecidos, quer na vida espiritual e íntima de muitos cristãos. As augustas cerimônias do
sacrifício do altar foram mais conhecidas, compreendidas e estimadas; a participação aos sacramentos
maior e mais frequente; as orações litúrgicas mais suavemente saboreadas e o culto eucarístico tido,

1
Tm 2,5.
2
Cf. Hb 4,14.
3
Cf. Hb 9,14.
4
Cf. Ml 1,11.
5
Cf. Conc. Trid., sess. XXII, c.l.
6
Cf. Ibid., c.2.
7
Carta. Encicl. Caritate Christi, de 3 de maio do ano 1932.
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como verdadeiramente o é, por centro e fonte da verdadeira piedade cristã. Além disso, pôs-se em mais
clara evidência o fato de que todos os fiéis constituem um só e compacto corpo de que é Cristo a cabeça,
com o consequente dever para o povo cristão de participar, segundo a própria
condição, dos ritos litúrgicos.

(...)
7. Ora, se de uma parte verificamos com pesar que em algumas regiões o sentido,
o conhecimento e o estudo da liturgia são às vezes escassos ou quase nulos; de
outra, notamos, com muita apreensão, que há algumas pessoas muito ávidas de
novidades e que se afastam do caminho da sã doutrina e da prudência. Na intenção
e desejo de um reavivamento litúrgico, esses inserem muitas vezes princípios que,
em teoria ou na prática, comprometem esta santíssima causa, e frequentemente até
a contaminam de erros que atingem a fé católica e a doutrina ascética. (...)

PRIMEIRA PARTE: NATUREZA, ORIGEM E PROGRESSO DA LITURGIA

I. A liturgia é culto público

17. A Igreja (...) tem em comum com o Verbo encarnado o escopo, o empenho e a função de ensinar a
todos a verdade, reger e governar os homens, oferecer a Deus o sacrifício, aceitável e grato, e assim
restabelecer entre o Criador e as criaturas aquela união e harmonia que o apóstolo das gentes
claramente indica por estas palavras: "Não sois mais hóspedes ou adventícios, mas concidadãos dos
santos e membros da família de Deus, educados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, com
o próprio Jesus Cristo por pedra angular, sobre a qual todo o edifício bem ordenado se levanta para ser
um templo santo no Senhor, e sobre ele vós sois também juntamente edificados em morada de Deus,
8
pelo Espírito" . Por isso a sociedade fundada pelo divino Redentor não tem outro fim, seja com a sua
doutrina e o seu governo, seja com o sacrifício e os sacramentos por ele instituídos, seja enfim com o
ministério que lhe contou, com as suas orações e o seu sangue, senão crescer e dilatar-se sempre mais –
o que se dá quando Cristo é edificado e dilatado nas almas dos mortais, e quando, vice-versa, as almas
dos mortais são educadas e dilatadas em Cristo; de maneira que, neste exílio terreno prospere o templo
no qual a divina majestade recebe o culto grato e legítimo. Em toda ação litúrgica, junto com a Igreja
está presente o seu divino Fundador: Cristo está presente no augusto sacrifício do altar, quer na pessoa
do seu ministro, quer por excelência, sob as espécies eucarísticas; está presente nos sacramentos com a
virtude que neles transfunde, para que sejam instrumentos eficazes de santidade; está presente, enfim,
nos louvores e súplicas dirigidas a Deus, como vem escrito: "Onde estão duas ou três pessoas reunidas
9
em meu nome aí estou no meio delas" . A sagrada liturgia é, portanto, o culto público que o nosso
Redentor rende ao Pai como cabeça da Igreja, e é o culto que a sociedade dos fiéis rende à sua cabeça,
e, por meio dela, ao Eterno Pai. É, em uma palavra, o culto integral do corpo místico de Jesus Cristo, ou
seja, da cabeça e de seus membros.

18. A ação litúrgica inicia-se com a fundação da própria Igreja. Os primeiros cristãos, com efeito, "eram
10
assíduos aos ensinamentos dos apóstolos, e à comum fração do pão e à oração" . Em toda a parte onde
os pastores possam reunir um núcleo de fiéis, erigem um altar sobre o qual oferecem o sacrifício, e em
torno dele vêm dispostos outros ritos adaptados à santificação dos homens e à glorificação de Deus.
Entre esse ritos estão, em primeiro lugar, os sacramentos, isto é, as sete principais fontes de salvação;
depois, está a celebração do louvor divino, com o qual os féis reunidos obedecem à exortação do
Apóstolo: "Instruindo-vos e exortando-vos uns aos outros com toda a sabedoria, cantando a Deus em
11
vosso coração, inspirados pela graça, salmos, hinos e cânticos espirituais" ; depois, ainda, a leitura da
Lei, dos Profetas, do Evangelho e das epístolas apostólicas; e, enfim, a prática com a qual o presidente
da assembleia recorda e comenta utilmente os preceitos do divino Mestre, os acontecimentos principais
de sua vida, e admoesta todos os presentes com exortações oportunas e exemplos. (...)

8
Ef 2,19-22.
9
Mt 18,20.
10
At 2,42.
11
Cl 3,16.
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II. A liturgia é culto externo e interno

20. Todo o conjunto do culto que a Igreja rende a Deus deve ser interno e
externo. É externo porque o exige a natureza do homem composto de corpo e
alma; porque Deus dispõe que "pelo conhecimento das coisas visíveis sejamos
12
atraídos ao amor das invisíveis" ; porque tudo o que vem da alma é
naturalmente expresso pelos sentidos; e ainda porque o culto divino pertence
não somente ao particular mas também à coletividade humana e
consequentemente é necessário que seja social, o que é impossível, no âmbito
religioso, sem vínculos e manifestações exteriores; e, enfim, porque é um meio
que põe particularmente em evidência a unidade do corpo místico, acrescenta-
lhe santos entusiasmos, consolida-lhe as forças, intensifica-lhe a ação: "se bem que, com efeito, as
cerimônias, em si mesmas, não contenham nenhuma perfeição e santidade, são todavia atos externos de
religião que, como sinais, estimulam a alma à veneração das coisas sagradas, elevam a mente à
realidade sobrenatural, nutrem a piedade, fomentam a caridade, aumentam a fé, robustecem a devoção,
instruem os simples, ornam o culto de Deus, conservam a religião e distinguem os verdadeiros dos falsos
13
cristãos e dos heterodoxos .

21. Mas o elemento essencial do culto deve ser o interno. É necessário, com efeito, viver sempre em
Cristo, dedicar-se todo a ele, a fim de que nele, com ele e por ele, se dê glória ao Pai. A sagrada liturgia
requer que estes dois elementos estejam intimamente ligados; o que ela não se cansa jamais de repetir
toda vez que prescreve um ato externo de culto. Assim, por exemplo, a propósito do jejum, nos exorta:
14
"a fim de que se opere de fato em nosso íntimo o que a nossa observância professa externamente" . De
outro modo, a religião se torna um formalismo sem fundamento e sem conteúdo. Sabeis, veneráveis
irmãos, que o divino Mestre considera indignos do templo sagrado e expulsa dele os que creem honrar a
Deus somente com o som de bem construídas palavras e com atitudes teatrais e estão persuadidos de
15
poder prover de modo adequado à sua salvação sem arrancar da alma os vícios inveterados" .
(...)

III. A liturgia é regulada pela hierarquia eclesiástica

35. Para melhor compreender, ainda, a sagrada liturgia é necessário considerar outro seu caráter
importante.

A Igreja é uma sociedade; exige, por isso, uma autoridade e hierarquia próprias. Se todos os membros
do corpo místico participam dos mesmos bens e tendem aos mesmos uns, nem todos gozam do mesmo
poder e são habilitados a cumprir as mesmas ações. O divino Redentor estabeleceu, com efeito, o seu
16
reino sob fundamentos da ordem sagrada, que é reflexo da hierarquia celeste . Somente aos apóstolos e
àqueles que, depois deles, receberam dos seus sucessores a imposição das mãos, é conferido o poder
sacerdotal em virtude do qual, como representam diante do povo que lhes foi confiado a pessoa de Jesus
Cristo, assim representam o povo diante de Deus. Esse sacerdócio não vem transmitido nem por
herança, nem por descendência carnal, nem resulta da emanação da comunidade cristã ou de delegação
popular. Antes de representar o povo, perante Deus, o sacerdote representa o divino Redentor, e porque
Jesus Cristo é a cabeça daquele corpo do qual os cristãos são membros, ele representa Deus junto do
povo. O poder que lhe foi conferido não tem, pois, nada de humano em sua natureza; é sobrenatural e
17 18
vem de Deus: “assim como o Pai me enviou, assim eu vos envio” ; “quem vos ouve, a mim ouve” ;
19
“percorrendo todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura; quem crer e for batizado, será salvo” .

12
Missal Romano. Prefácio da Natividade.
13
I. Card. Bona, De divina psalmodia, c 19, § 3,1.
14
Missal Romano. Secreta da féria V depois do II Domingo da Quaresma.
15
Cf. Mc 7,6 e Is 29,13.
16
Cf. 2Cor 6,1.
17
Jo 20,21.
18
Lc 10,16.
19
Mc 16,15-16.
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58. (...) Ninguém se arrogue o direito de ser lei para si mesmo e de impô-la aos outros por sua vontade.
Somente o sumo pontífice, na qualidade de sucessor de Pedro, ao qual o divino Redentor confiou o
20
rebanho universal , e juntamente os bispos, que sob a dependência da Sé Apostólica "o Espírito Santo
21
colocou para reger a Igreja de Deus" , têm o direito e o dever de governar o povo cristão. (...)

SEGUNDA PARTE: O CULTO EUCARÍSTICO

I. Natureza do sacrifício eucarístico

59. O mistério da santíssima eucaristia, instituída pelo sumo sacerdote


Jesus Cristo e, por vontade sua, perpetuamente renovada pelos seus
ministros, é como a súmula e o centro da religião cristã. Em se tratando do
ápice da sagrada liturgia, julgamos oportuno, veneráveis irmãos, deter-nos
um pouco, chamando a vossa atenção para esta importantíssima temática.

(...)
61. O augusto sacrifício do altar não é, pois, uma pura e simples
comemoração da paixão e morte de Jesus Cristo, mas é um verdadeiro e
próprio sacrifício, no qual, imolando-se incruentamente, o sumo Sacerdote
faz aquilo que fez uma vez sobre a cruz, oferecendo-se todo ao Pai, vítima
agradabilíssima. "Uma... e idêntica é a vítima: aquele mesmo, que agora
oferece pelo ministério dos sacerdotes, se ofereceu então sobre a cruz; é
22
diferente apenas, o modo de fazer a oferta" .

62. Idêntico, pois, é o sacerdote, Jesus Cristo, cuja sagrada pessoa é representada pelo seu ministro.
Este, pela consagração sacerdotal recebida, assemelha-se ao sumo Sacerdote e tem o poder de agir em
23
virtude e na pessoa do próprio Cristo ; por isso, com sua ação sacerdotal, de certo modo, "empresta a
24
Cristo a sua língua, e lhe oferece a sua mão" .
(...)

II. Participação dos fiéis no sacrifício eucarístico

73. É necessário, pois, veneráveis irmãos, que todos os fiéis tenham por seu principal dever e suma
dignidade participar do santo sacrifício eucarístico, não com assistência passiva, negligente e distraída,
mas com tal empenho e fervor que os ponha em contato íntimo com o sumo sacerdote, como diz o
25
Apóstolo: "Tende em vós os mesmos sentimentos que Jesus Cristo experimentou" , oferecendo com ele
e por ele, santificando-se com ele.
(...)

83. Para não dar ensejo a erros perigosos neste importantíssimo argumento, é necessário precisar com
exatidão o significado do termo "oferta". A imolação incruenta por meio da qual, depois que foram
pronunciadas as palavras da consagração, Cristo está presente no altar no estado de vítima, é realizada
só pelo sacerdote enquanto representa a pessoa de Cristo e não enquanto representa a pessoa dos fiéis.
Colocando, porém, no altar a vítima divina, o sacerdote a apresenta a Deus Pai como oblação à glória da
SS. Trindade e para o bem de todas as almas. Dessa oblação propriamente dita os fiéis participam do
modo que lhes é possível e por um duplo motivo: porque oferecem o sacrifício não somente pelas mãos
do sacerdote, mas, de certo modo ainda, junto com ele; e ainda porque com essa participação também a
oferta feita pelo povo pertence ao culto litúrgico. Que os fiéis oferecem o sacrifício por meio do
sacerdote, é claro, pois o ministro do altar age na pessoa de Cristo enquanto Cabeça, que oferece em

20
Cf. Jo 21,15-17.
21
At 20,28.
22
Conc. Trid., Sess. XXII. c, 2.
23
Cf. s. Tomás, Summa Theol., III, q. 22, a. 4.
24
João Cris. In Joan. Hom., 86,4.
25
Fl 2,5.
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nome de todos os membros; pelo que, em bom direito, se diz que toda a Igreja, por meio de Cristo,
realiza a oblação da vítima. Quando, pois, se diz que o povo oferece juntamente com o sacerdote, não se
afirma que os membros da Igreja de maneira idêntica à do próprio sacerdote realizam o rito litúrgico
visível – o que pertence somente ao ministro de Deus para isso designado – mas sim que une os seus
votos de louvor, de impetração, de expiação e a sua ação de graças à intenção do sacerdote, aliás do
próprio sumo pontífice, a fim de que sejam apresentados a Deus Pai na própria oblação da vítima,
embora com o rito externo do sacerdote. É necessário, com efeito, que o rito externo do sacrifício
manifeste, por sua natureza, o culto interno; ora, o sacrifício da nova Lei significa aquele obséquio
supremo com o qual o próprio principal ofertante, que é Cristo, e com ele e por ele todos os seus
membros místicos, honram devidamente a Deus.
(...)

III. A comunhão eucarística

111. Certamente a pública assembleia da comunidade está dissolvida, mas é necessário que os indivíduos
unidos com Cristo não interrompam na sua alma o cântico de louvor, "agradecendo sempre tudo em
26
nome de nosso Senhor Jesus Cristo a Deus e Pai" . A isso nos exorta ainda a própria liturgia do sacrifício
eucarístico, quando nos manda rezar com estas palavras: "Concede, nós te pedimos, render-te contínuas
27 28
graças e não cessar jamais de louvar-te" . Se se deve, pois, sempre agradecer a Deus e jamais cessar
29
de louvá-lo, quem ousaria repreender e desaprovar a Igreja que aconselha aos seus sacerdotes e aos
fiéis entreterem-se ao menos um pouco de tempo depois da comunhão em colóquio com o divino
Redentor, e que inseriu nos livros litúrgicos oportunas orações enriquecidas de indulgências com as quais
os sagrados ministros se possam convenientemente preparar antes de celebrar e de comungar e,
acabada a santa missa, manifestar a Deus a sua ação de graças? A sagrada liturgia, longe de sufocar os
íntimos sentimentos particulares dos cristãos, os facilita e estimula a que sejam assimilados a Jesus Cristo
e por meio dele dirigidos ao Pai; portanto ela mesma exige que aquele que se aproxima da mesa
eucarística agradeça devidamente a Deus. O divino Redentor compraz-se em ouvir as nossas orações,
falar conosco de coração aberto e oferecer-nos refúgio no seu Coração ardente.
(...)
QUARTA PARTE: DIRETRIZES PASTORAIS

160. A essas múltiplas formas de piedade não pode ser estranha a inspiração e a ação do Espírito Santo;
elas, com efeito – se bem que de várias maneiras – visam todas a voltar e dirigir para Deus as nossas
almas, porque as purificam dos pecados, as dispõem à conquista da virtude e as estimulam à verdadeira
piedade, habituando-as à meditação das verdades eternas, e tornando-as mais capazes da contemplação
dos mistérios da natureza humana e divina de Cristo. Além disso, nutrindo intensamente nos fiéis a vida
espiritual, preparam-nos para participar das sagradas funções com fruto maior, e evitam o perigo de se
reduzirem as orações litúrgicas a um ritualismo vão.
(...)

Dado em Castel Gandolfo, junto de Roma, no dia 20 de novembro do ano de 1947, IX do nosso
pontificado.

PIO PP. XII

26
Ef 5,20.
27
Missal Romano. Postcommunio do Domingo da Oitava da Ascensão.
28
Ibidem, Postcommunio do Domingo I depois de Pentecostes.
29
CIC, cân. 810.
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III. Constituição Apostólica Sacrosanctum Concilium


Constituição Conciliar sobre a Sagrada Liturgia

CAPÍTULO I: PRINCÍPIOS GERAIS EM ORDEM À REFORMA E INCREMENTO DA LITURGIA

I - NATUREZA DA SAGRADA LITURGIA E SUA IMPORTÂNCIA NA VIDA DA IGREJA

Jesus Cristo salvador do mundo

5. Deus, que “quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,4),
“tendo falado outrora muitas vezes e de muitos modos aos nossos pais pelos profetas” (Hb 1,1), quando
chegou a plenitude dos tempos, enviou o Seu Filho, Verbo feito carne, ungido pelo Espírito Santo, a
30 31
evangelizar os pobres, curar os contritos de coração , como médico da carne e do espírito , mediador
32
entre Deus e os homens . A sua humanidade foi, na unidade da pessoa do Verbo, o instrumento da
nossa salvação. Por isso, em Cristo “se realizou plenamente a nossa reconciliação e se nos deu a
33
plenitude do culto divino” .

Esta obra da redenção dos homens e da glorificação perfeita de Deus, prefigurada pelas suas grandes
obras no povo da Antiga Aliança, realizou-a Cristo Senhor, principalmente pelo mistério pascal da sua
bem-aventurada Paixão, Ressurreição dos mortos e gloriosa Ascensão, em que “morrendo destruiu a
34
nossa morte e ressurgindo restaurou a nossa vida” . Foi do lado de Cristo adormecido na cruz que
35
nasceu o sacramento admirável de toda a Igreja .

Pelo sacrifício e pelos sacramentos

6. Assim como Cristo foi enviado pelo Pai, assim também Ele enviou os Apóstolos, cheios do Espírito
36
Santo, não só para que, pregando o Evangelho a toda a criatura , anunciassem que o Filho de Deus,
37
pela sua morte e ressurreição, nos libertara do poder de Satanás e da morte e nos introduzira no Reino
do Pai, mas também para que realizassem a obra de salvação que anunciavam, mediante o sacrifício e os
sacramentos, à volta dos quais gira toda a vida litúrgica. Pelo Batismo são os homens enxertados no
38
mistério pascal de Cristo: mortos com Ele, sepultados com Ele, com Ele ressuscitados ; recebem o
espírito de adoção filial que “nos faz clamar: Abba, Pai” (Rm. 8,15), transformando-se assim nos
39
verdadeiros adoradores que o Pai procura . E sempre que comem a Ceia do Senhor, anunciam
40
igualmente a sua morte até Ele vir . Por isso foram batizados no próprio dia de Pentecostes, em que a
Igreja se manifestou ao mundo, os que receberam a palavra de Pedro. E «mantinham-se fiéis à doutrina
dos Apóstolos, à participação na fração do pão e nas orações... louvando a Deus e sendo bem vistos pelo
povo» (Act. 2, 41-47). Desde então, nunca mais a Igreja deixou de se reunir em assembleia para
celebrar o mistério pascal: lendo “o que se referia a Ele em todas as Escrituras” (Lc 24,27), celebrando a

30
Cfr. Is 61,1; Lc 4,18.
31
S. Inácio de Antioquia aos Efésios, 7, 8: F. X. Funk, Patres Apostolici, I, Tubinga, 1901, p. 218.
32
Cfr. 1Tm 2,5.
33
Sacramentário de Verona (Leoniano): ed. C. Mohlberg, Roma, 1956, n.° 1265, p. 162.
34
Missal Romano, Prefácio pascal.
35
Cfr. S. Agostinho, Enarr. in Ps. CXXXVIII, 2: Corpus Christianorum XL, Tournai, 1956, p. 1991; e a
oração depois da segunda leitura de Sábado Santo antes da reforma da Semana Santa, no Missal
Romano.
36
Cfr. Mc 16,15.
37
Cfr. At 26,18.
38
Cfr. Rm 6,4; Ef 2,6; Cl 3,1; 2Tm 2,11.
39
Cfr. Jo 4,23.
40
Cfr. 1Cor 11,26.
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41
Eucaristia, na qual “se torna presente o triunfo e a vitória da sua morte” , e dando graças «a Deus pelo
Seu dom inefável (2Cor 9,15) em Cristo Jesus, “para louvor da sua glória” (Ef 1,12), pela virtude do
Espírito Santo.

Presença de Cristo na Liturgia

7. Para realizar tão grande obra, Cristo está sempre presente na sua igreja, especialmente nas ações
litúrgicas. Está presente no sacrifício da Missa, quer na pessoa do ministro – “O que se oferece agora
42
pelo ministério sacerdotal é o mesmo que se ofereceu na Cruz” -quer e sobretudo sob as espécies
eucarísticas. Está presente com o seu dinamismo nos Sacramentos, de modo que, quando alguém batiza,
43
é o próprio Cristo que batiza . Está presente na sua palavra, pois é Ele que fala ao ser lida na Igreja a
Sagrada Escritura. Está presente, enfim, quando a Igreja reza e canta, Ele que prometeu: “Onde
estiverem dois ou três reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles” (Mt 18,20).

Em tão grande obra, que permite que Deus seja perfeitamente glorificado e que os homens se
santifiquem, Cristo associa sempre a si a Igreja, sua esposa muito amada, a qual invoca o seu Senhor e
por meio dele rende culto ao Eterno Pai.

Com razão se considera a Liturgia como o exercício da função sacerdotal de Cristo. Nela, os sinais
sensíveis significam e, cada um à sua maneira, realizam a santificação dos homens; nela, o Corpo Místico
de Jesus Cristo - cabeça e membros - presta a Deus o culto público integral.

Portanto, qualquer celebração litúrgica é, por ser obra de Cristo sacerdote e do seu Corpo que é a Igreja,
ação sagrada par excelência, cuja eficácia, com o mesmo título e no mesmo grau, não é igualada por
nenhuma outra ação da Igreja.

A Liturgia terrena, antecipação da Liturgia celeste

8. Pela Liturgia da terra participamos, saboreando-a já, na Liturgia celeste celebrada na cidade santa de
Jerusalém, para a qual, como peregrinos nos dirigimos e onde Cristo está sentado à direita de Deus,
44
ministro do santuário e do verdadeiro tabernáculo ; por meio dela cantamos ao Senhor um hino de
glória com toda a milícia do exército celestial, esperamos ter parte e comunhão com os Santos cuja
memória veneramos, e aguardamos o Salvador, Nosso Senhor Jesus Cristo, até Ele aparecer como nossa
45
vida e nós aparecermos com Ele na glória .

Lugar da Liturgia na vida da Igreja

9. A sagrada Liturgia não esgota toda a ação da Igreja, porque os homens, antes de poderem participar
na Liturgia, precisam de ouvir o apelo à fé e à conversão: “Como hão de invocar aquele em quem não
creram? Ou como hão de crer sem o terem ouvido? Como poderão ouvir se não houver quem pregue? E
como se há de pregar se não houver quem seja enviado?” (Rm 10, 14-15).

É por este motivo que a Igreja anuncia a mensagem de salvação aos que ainda não têm fé, para que
todos os homens venham a conhecer o único Deus verdadeiro e o Seu enviado, Jesus Cristo, e se
46
convertam dos seus caminhos pela penitência . Aos que creem, tem o dever de pregar constantemente

41
Conc. Trento, Sess. XIII, 11 Out. 1551, Decr. De ss. Eucharist., ci 5: Concilium Tridentinum, Diariorum,
Actorum, Epistolarum, Tractatuum nova collectio, ed. Soc. Goerresiana, t. VII. Actas: Parte IV, Friburgo
da Brisgóvia, 1961, p. 202.
42
Conc. Trento, Sess. XXII, 17 Set. 1562, Dout. De ss. Missae sacrif., c. 2: Concilium Tridentinum, ed.
cit., t. VIII, Actas: Parte V, Friburgo da Brisgóvia, 1919, p. 960.
43
Cfr. S. Agostinho, In Joannis Evangelium Tractatus VI, c. I, n.° 7: PL 35, 1428.
44
Cfr. Ap 21,2; Cl 3,1; Hb 8,2.
45
Cfr. Fl 3,20; Cl 3,4.
46
Cfr. Jo 17,3; Lc 24,47; At 2,38.
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a fé e a penitência, de dispô-los aos Sacramentos, de ensiná-los a guardar tudo o que Cristo mandou ,
de estimulá-los a tudo o que seja obra de caridade, de piedade e apostolado, onde os cristãos possam
mostrar que são a luz do mundo, embora não sejam deste mundo, e que glorificam o Pai diante dos
homens.

10. Contudo, a Liturgia é simultaneamente a meta para a qual se encaminha a ação da Igreja e a fonte
de onde promana toda a sua força. Na verdade, o trabalho apostólico ordena-se a conseguir que todos
os que se tornaram filhos de Deus pela fé e pelo Batismo se reúnam em assembleia para louvar a Deus
no meio da Igreja, participem no Sacrifício e comam a Ceia do Senhor.
48
A Liturgia, por sua vez, impele os fiéis, saciados pelos “mistérios pascais”, a viverem “unidos no amor” ;
49
pede “que sejam fiéis na vida a quanto receberam pela fé” ; e pela renovação da aliança do Senhor com
os homens na Eucaristia, e aquece os fiéis na caridade urgente de Cristo. Da Liturgia, pois, em especial
da Eucaristia, corre sobre nós, como de sua fonte, a graça, e por meio dela conseguem os homens com
total eficácia a santificação em Cristo e a glorificação de Deus, a que se ordenam, como a seu fim, todas
as outras obras da Igreja.

A participação dos fiéis

11. Para assegurar esta eficácia plena, é necessário, porém, que os fiéis celebrem a Liturgia com retidão
de espírito, unam a sua mente às palavras que pronunciam, cooperem com a graça de Deus, não
50
aconteça de a receberem em vão . Por conseguinte, devem os pastores de almas vigiar por que não só
se observem, na ação litúrgica, as leis que regulam a celebração válida e lícita, mas também que os fiéis
participem nela consciente, ativa e frutuosamente.

II - EDUCAÇÃO LITÚRGICA E PARTICIPAÇÃO ATIVA

28. Nas celebrações litúrgicas, limite-se cada um, ministro ou simples fiel, exercendo o seu ofício, a fazer
tudo e só o que é de sua competência, segundo a natureza do rito e as leis litúrgicas.

30. Para fomentar a participação ativa, promovam-se as aclamações dos fiéis, as respostas, a salmodia,
as antífonas, os cânticos, bem como as ações, gestos e atitudes corporais. Não deve deixar de observar-
se, a seu tempo, um silêncio sagrado.

A língua litúrgica: traduções

36. § 1. Deve conservar-se o uso do latim nos ritos


latinos, salvo o direito particular.

§ 2. Dado, porém, que não raramente o uso da língua


vulgar pode revestir-se de grande utilidade para o povo,
quer na administração dos sacramentos, quer em outras
partes da Liturgia, poderá conceder-se à língua vernácula
lugar mais amplo, especialmente nas leituras e
admonições, em algumas orações e cantos, segundo as
normas estabelecidas para cada caso nos capítulos
seguintes.

Roma, 4 de dezembro de 1963


PAPA PAULO VI

47
Cfr. Mt 28,20.
48
Oração depois da comunhão na Vigília Pascal e no Domingo da Ressurreição.
49
Oração da missa de terça-feira da Oitava de Páscoa.
50
Cfr. 2Cor 6,1.
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IV. Doutrina do Mistério


CASEL, Odo. O Mistério do Culto no Cristianismo.
São Paulo: Edições Loyola, 2009, p. 18-20 e 55-68.

Mas o que é o Mistério divino? O sentido dessa expressão, embora sendo no fundo muito simples,
apresenta três aspectos.

1. O Mistério divino é antes de tudo Deus nele mesmo. É o infinito e o inacessível, três vezes Santo, de
quem nenhum homem pode se aproximar sem morrer. É o Senhor, diante de quem tudo é impuro,
segundo a palavra do Profeta: “Eu sou um homem de lábios sujos e moro no meio de um povo de lábios
sujos; meus olhos viram o Rei, o Senhor dos exércitos!” (Is 6,5). E esse Santo dos Santos revela seu
mistério, desce até sua criatura a ela revelando-se. Mas essa revelação ainda se dá no mistério, isto é,
Deus se manifesta numa plenitude de graça aos pobres escolhidos por ele, àquele que tem o coração
puro. Ele continua sempre se escondendo aos soberbos, àqueles que estão cheios de si. Eis por que esta
revelação vem a ser ela mesma um profundo mistério, pois ela não se dirige abertamente ao mundo
profano, ela mesma se esconde diante deste mundo, doando-se aos eleitos.
O Ser de Deus em sua majestade está infinitamente acima do mundo, mais, misericordiosamente, habita
sua criatura, a humanidade. Ele é ao mesmo tempo transcendente e imanente; e, por sua natureza,
ultrapassa infinitamente toda criatura; por sua ubiquidade e seu todo-poder, penetra em todas as coisas.
(...)

2. Para o Apóstolo São Paulo, o mistério é a maravilhosa revelação de Deus em Cristo. O Deus que
permanecia escondido no eterno silêncio, aquele que habita uma luz inacessível, que nenhum homem
não viu nem pode ver (1Tm 6,16), é aquele que apareceu em natureza humana.
(...)
Cristo é o mistério em pessoa, manifestando em nossa carne humana a divindade que nós não podemos
ver. Suas ações humanas, sobretudo sua morte e seu sacrifício na cruz, são um mistério porque aí Deus
se revela de um modo que ultrapassa todo entendimento humano. Sua ressurreição e sua ascensão são
um mistério porque a glória divina se manifesta no homem Jesus. Mas tudo isso se reveste de uma
maneira escondido ao mundo e conhecida apenas pela fé. Os apóstolos anunciaram esse Mistério de
Cristo, e a Igreja o transmite a todas as gerações. Contudo, da mesma forma que a economia da
salvação não compreende apenas um ensinamento, mas acima de tudo a obra redentora de Cristo,
assim, a Igreja não conduz a humanidade à salvação apenas com a palavra, mas também com ações
sagradas. É pela fé e pelos mistérios que o Cristo vive sempre na Igreja.

3. Assim, um terceiro sentido completa os dois primeiros. Desde que o Cristo já não está visível entre
nós, “as presenças do Senhor e Redentor passaram para os mistérios” (“quod redemptoris nostri
conspicuum fuit, in sacramenta transivit”), como se exprime São Leão Magno. A pessoa do Senhor, sua
obra redentora, a operação de sua graças, tudo isso possuímos nos mistérios do culto, segundo a palavra
que Santo Ambrósio dirige a Cristo: “É em vossos mistérios que eu vos encontro” (“In tuis te invenio
sacramentis”).

(...)

A liturgia dos mistérios

No Mistério de Cristo é Deus que se revela em seu Verbo encarnado para a salvação e a santificação da
Igreja. Desde a Ascensão do Homem-Deus até a Parusia final, o Mistério de Cristo continua plenamente
no Mistério do culto, atingindo nele todos os membros da Igreja espalhados no espaço e no tempo. No
Mistério do culto, Cristo, imperceptível aos nossos sentidos, permanece presente de modo espiritual e
ativo, oferecendo sua redenção a todos os homens, que se tornaram objeto da benevolência de Deus (Lc
2,14).
Portanto, é o próprio Senhor quem opera o Mistério do culto. Mas ele não opera sozinho, como cumpriu o
Mistério da cruz. Ele aí associa a Igreja, Esposa que conquistou com seu sangue (Ef 5,14ss). Ele entregou
a ela o depósito de todos os seus tesouros, a fim de que ela os transmita e distribua a todos os seus
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filhos, àqueles que pela virtude de seu Esposo ela dará a vida. Desde a Encarnação, aquele que quer ter
Deus como Pai deve ter a Igreja por Mãe. Da mesma forma que no Paraíso a mulher foi tirada do lado do
primeiro Adão, para se tornar sua auxiliar semelhante a ele, assim a Igreja foi formada do lado de Cristo
adormecido na cruz, para ser daí por diante sua associada e sua auxiliar na obra da redenção divina.
Mas, segundo o ensinamento dos Padres, no momento em que nasceu a Igreja, também os mistérios
brotaram, no sangue e na água, do lado do Senhor, de seu coração transpassado. A Igreja e o mistério
nasceram ambos do sangue de Cristo morrendo e permanecem inseparavelmente unidos. É neste fato
que encontramos a razão última pela qual o mistério do culto torna-se liturgia.
Em grego, a palavra “liturgia” (ληιτουργία) significa em sua origem uma prestação individual de serviço ao
Estado, como por exemplo o encargo de equipar um navio de guerra ou, ainda, o de criar um coro para
as tragédias em honra do deus Dionísio. Designava ainda o “serviço” em geral e, especialmente, o serviço
a Deus no culto oficial. As Sagradas Escrituras do Antigo e do Novo Testamento empregaram-na com
este último sentido. Zacarias, por exemplo, cumpria a “liturgia” no Templo (Lc 1,23), quando o anjo lhe
anunciou o nascimento de são João Batista. Em sua Epístola aos Coríntios, são Clemente de Roma fala da
liturgia sob a Lei e estabelece que a ordem desta liturgia deve ser a figura e o modelo daquela da Nova
Aliança. Se, com Cristo, toda a vida tornou-se um serviço a Deus, fica estabelecido então que as diretivas
deste Padre da Igreja têm em visto sobretudo o serviço divino da comunidade cristã reunida para o culto.
(...)
Comparados entre eles, os termos “mistério” (se o tomamos no sentido de
mistério do culto) e “liturgia” significam a mesma coisa, mas de um ponto
de vista diferente. O “mistério” antes de tudo coloca à luz toda a própria
essência da ação sagrada, isto é, a obra redentora que o Senhor glorioso
opera e aplica pelos ritos sagrados que instituiu. O termo “liturgia”, de
acordo com sua etimologia (função do povo, serviço), designa mais
especificamente a parte que toca à Igreja nessa ação redentora de Cristo.
Vimos acima como Cristo e sua Igreja estão estreita e inseparavelmente
unidos na ação do Mistério. Podemos, todavia, pela palavra “mistério”
caracterizar, antes, a parte do Esposo, e pela palavra “liturgia” a parte da
Esposa, sem toca, contudo, o fundo das coisas. Pois a ação da Igreja
também é mistério; é ela que cumpre os ritos exteriores e sensíveis,
enquanto Cristo opera neles e por eles. Contudo, permitimo-nos reservar o termo “liturgia” para
expressar mais especialmente a atividade cultual da Igreja.
Coloca-se agora a questão de como o mistério da Nova Aliança tornou-se liturgia.
Acima já entrevimos a resposta de como Cristo remeteu e confiou seus mistérios à Igreja. Eis como o
santo Concílio de Trento se expressa sobre este aspecto:

“O novo sumo sacerdote, Jesus Cristo, devia, de uma vez por todas, sofrendo a morte da cruz, oferecer-
se a Deus, seu Pai, a fim de para todos operar uma Redenção eterna. Mas esta morte nunca deveria
extinguir seu sacerdócio. Eis por que, na última Ceia, na noite mesma de sua entrega, ele quis deixar à
Igreja, sua Esposa amada, um sacrifício que tomou presente e comemorou, até o final dos tempos,
aquele que deveria cumprir, de uma vez por todas, de maneira sangrenta na cruz. Um sacrifício que
aplicava a virtude redentora à remissão dos pecados que cometemos todos os dias. Expressando que ele
foi constituído sacerdote para a eternidade, como Melquisedec, ele ofereceu a Deus, seu Pai, sob as
espécies do pão e do vinho, seu corpo e seu sangue e, sob as figuras dessas mesmas espécies, ele deu
aos seus apóstolos de comer e de beber. Ao mesmo tempo, ele os instituía sacerdotes da Nova Aliança,
a estes sacerdotes como aos seus sucessores, ele ordenava que se oferecesse o mesmo sacrifício. Como
sempre acreditou e ensinou a Igreja católica, ele lhes ordenou com estas palavras: Fazei isto em minha
memória. Com efeito, depois de ter celebrado a antiga páscoa que o povo dos filhos de Israel imolava
em memória da saída do Egito, Jesus Cristo instituiu a Páscoa nova: isto era sua própria imolação
realizava sob sensíveis sinais, que a Igreja, pelas mãos dos sacerdotes, deveria repetir em memória de
sua passagem deste mundo para o Pai; assim que pela efusão de seu sangue ele nos remia e nos
arrancava do poder das trevas, introduzindo-nos no seu reino.”

Seria de um interesse real expor, com a ajuda de um exemplo, esta evolução do mistério para a liturgia.
Mas devemos nos contentar em esboçar este desenvolvimento em seus traços gerais.
O Senhor exige em renascimento para nos conceder a entrada em seu reino, pois o homem, em seu
estado natural, não pode se aproximar de Deus sem antes ter sido transformado. O velho homem deve
morrer; o novo, nascido de Deus deve ressuscitar. Aquele que não nascer da água e do Espírito não pode
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entrar no reino de Deus. O Espírito é o sopro da vida divina, de onde procede nossa vida sobrenatural;
ele é o próprio Deus, mas ele é também a vida divina insuflada, que habita no homem novo. Isto mostra
que não se trata de uma conversão da vontade que nos torna cristãos, mas uma maneira de ser
totalmente nova, uma vida nova, uma “participação na natureza divina”, segundo São Pedro.
Até aqui permanecemos no reino da graça e da invisível vida divina. Mas Nosso Senhor disse que o
homem deveria nascer de novo, renascer “da água”. Assim aparece portanto o Mistério do culto. Pois
esse renascimento pela água, no domínio da ação divina e sobrenatural, é a expressão exterior e sensível
do nascimento interior e espiritual pelo Espírito. O renascimento pela água tem um valor simbólico e não
um valor próprio e natural. No entanto, o Senhor declarou esse símbolo absolutamente indispensável.
Com efeito, sem esse ato exterior não seria possível reconhecer a operação divina, interior e invisível.
Esse ato necessário, objetivo, discernível aos nossos sentidos, essa imersão na água é requisitada porque
ela garante a realidade da regeneração divina e espiritual. Ao mesmo tempo, diante da comunidade, ela
produz um testemunho indispensável – um novo membro nasceu.
Contudo, seria um grave erro acreditar que uma imersão pura e simples na água pudesse significar a
graça divina. A água é um elemento da terra, muito material, para em si ordenar tal fim, sozinha ela não
pode significar coisa de uma ordem tão elevada. É preciso que haja um elemento superior, vindo do alto,
para determinar, precisar e informar o ato material. Justamente aqui está o papel do Espírito, que o
Senhor menciona ao mesmo tempo que a água. O que há de mais expressivo que a palavra para
significar o Espírito, tão etéreo e simples, segundo o Senhor em São João? A palavra é a expressão alada
do pensamento. Ela é o logos dos antigos, isto é, o espírito expresso, e como tal ela é aparentada ao
próprio espírito, pois frequentemente logos e pneuma são equivalentes. A palavra, que é do alto, anuncia
com clareza o que o elemento material significa de uma maneira sensível. É preciso o concurso de
ambos: a água e a palavra, para formar o Mistério. “Se eliminarmos a palavra, resta somente a água. À
palavra acrescenta-se a matéria e a realidade do mistério aparece, sendo ele como uma palavra visível.
De onde tira a água uma tal virtude que, tocando o corpo, purifica o coração? Evidentemente, do poder
da palavra”.

(...)

A essência do Mistério, o que constitui o mysterium propriamente dito, significa as ações e as palavras
instituídas pelo Senhor. Mas o Senhor, para ensinar e espargir a salvação conquistada ao preço de seu
sangue, não quis criar algo absolutamente novo. Ele antes quis se conformar à velha tradição, extraída
do próprio coração humano. Ele serviu-se dos costumes e das formas consagradas por um consentimento
universal das religiões antigas. Mas a tudo isso ele trouxe um novo clarão, uma nobreza e uma dignidade
até então desconhecidas. Todo simbolismo antigo, sob a ação de Cristo, sofreu uma reformulação
completa. Ao longo de toda a história da humanidade, encontramos, por exemplo, a ideia e mesmo a
forma de um certo batismo, mais ou menos vivas, segundo a necessidade de purificação e o desejo de
uma vida santa que buscavam sua realização no símbolo. Os ritos exteriores, assim como os elementos
que entram em sua realização, impõem-se por eles mesmos, por assim dizer. De um lado, são gestos
simples, tirados da vida humana, por outro produtos naturais da terra. A água é sempre água; quer
utilizada nas cerimônias de purificação profanas, quer adotada para os atos altamente simbólicos, ela
sempre guarda sua natureza e seus efeitos próprios.
A palavra é mais livre, imaterial, mas permanece ligada a uma língua estabelecida. Para fazer-se
compreender, Deus se revela aos homens numa linguagem humana. A liturgia faz a mesma coisa; ela
emprega expressões, formas e gestos que tornam inteligível o que se cumpre espiritualmente no Mistério
divino. Quanto aos textos rituais, a liturgia os escolheu no depósito incomparável das Sagradas
Escrituras, neste tesouro em que o próprio Espírito de Deus anuncia o Evangelho da salvação por meio
da língua dos homens. Um grande número de passagens das Escrituras passou, assim, sem nenhuma
modificação para a liturgia e aí encontraram um quadro novo e uma nova vida. Liberadas da letra morta,
muitas dessas palavras sagradas reencontraram sua primeira vitalidade. Isso se aplica sobretudo aos
textos do Antigo Testamento, pois eles só recebem sua definitiva luz e revelam sua riqueza maravilhosa
graças à liturgia do Mistério do Cristo. Por exemplo, na noite de Natal, quando lemos as passagens de
Isaías que falam do mistério da Encarnação, toda a realidade torna-se presente e concreta; assistimos,
de certa forma, ao admirável cumprimento das profecias longínquas e obscuras. A exposição alegórica e
espiritual da Escritura encontra aqui a mais elevada aplicação de toda a sua razão de ser. A aparição de
Cristo é a chave de todas as coisas. Já não nos chama a atenção unicamente a letra, que mata, mas por
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trás dela percebemos e sentimos o Espírito que vivifica. O caráter pneumático das Sagradas Escrituras
revela-se verdadeiramente melhor na liturgia. Na liturgia, todas as palavras cantam o louvor e a glória do
Mistério de Cristo; elas pintam a vida dos fiéis em seu Senhor e Salvador. A palavra dos Livros sagrados
renasce assim do coração da Igreja e dela recebe um crescimento de poder e vida. Nas palavras dos
Profetas agora soa a voz de Cristo, e a voz da Esposa se une à do Esposo. A palavra humana se apaga e
passa ao momento mesmo em que nasce. A Palavra de Deus, ao contrário, possui a imutabilidade divina;
ela guarda sempre a sua virtude e sem cessar é sempre gravada nas almas santas e fiéis que vivem na
Igreja. Ela forma um depósito venerável e nas almas ela brota como uma juventude eterna, como se a
cada instante acabasse de ser proferida pelo Espírito, que sopra onde quer. Objeta-se frequentemente
que as fórmulas antigas na oração perdem sua espontaneidade, impedindo o elo do coração. Seja como
for, não é o caso da oração litúrgica, pois na liturgia as antigas palavras surgem frescas e límpidas do
coração da Igreja, do coração da Esposa eternamente jovem, virginal e sem rugas.

(...)

Toda a humanidade e toda a criação “serviam ao mistério de Cristo”, como se expressa o Ritual romano
da bênção da água. Da mesma forma que cada elemento material apresentava à liturgia suas
propriedades, assim também a humanidade oferecia formas religiosas tais que os povos, as raças e as
diversas épocas lhe tinham oferecido. O cristianismo é tão “católico”, isto é, universal, que, malgrado sua
intangível unidade dogmática e moral, lhe é possível e mesmo natural expressar-se por meio de uma
grande diversidade de formas. O mesmo acontece com a expressão litúrgica, diferentemente daquela da
antiga Roma: séria e refletida, sóbria e apaixonada por grandeza; da do oriental: penetrante, mística e
efervescente; da dos gauleses: fina, poética, leve e expansiva; enfim, da dos germânicos: profunda,
voluntária e sonhadora. Citamos apenas algumas, mas cada povo possui seus traços e suas
características próprios, manifestando seu gosto e suas preferências até mesmo na liturgia, oferecendo
assim sua originalidade em homenagem ao Senhor.

(...)

É verdadeiramente toda a Igreja e não só o clero que deve tomar


parte ativamente na liturgia, contudo segundo sua ordem sagrada,
no setor e na medida estabelecida. Todos os membros são de
maneira físico-sacramental unidos e incorporados ao Chefe, à
Cabeça que é Cristo. Pelo caráter sacramental do Batismo e pela
Confirmação, cada fiel participa do sacerdócio de Cristo.
Isso quer dizer que o leigo não pode se contentar com uma piedade
individualista, com uma oração privada, quando ele participa da
liturgia que o padre celebra. Em virtude de sua incorporação ao
Corpo místico de Cristo, ele é membro necessário e indispensável, de certa forma, à comunidade cultual
e litúrgica. E para dar sua perfeita participação o fiel deve evidentemente atualizar seu sacerdócio
objetivo e viver em comunhão de modo pessoal com o mistério. A experiência psicológica nos ensina que
a reação interior e vital é cada vez maior e mais forte quando o ato exterior correspondente se coloca
com mais consciência e vontade. Podemos assim viver um canto escutando-o, mas se o executamos nós
mesmos a alma vibra diferente e mais facilmente.
Na liturgia, a participação interior, sem dúvida, deve ter um papel decisivo – o que não exige
absolutamente uma parte exterior. Mas, se queremos tornar intensa e viva a comunhão interior, se
queremos dar todo seu significado à expressão simbólica, tudo indica que a participação exterior à ação
litúrgica se impõe realmente.
Todavia se requer, conforme as leis fundamentais do próprio Corpo místico, que cada membro observe o
seu papel e se mantenha nos limites de suas atribuições, agindo segundo a medida das graças que lhe
são distribuídas. Os leigos nunca devem se arrojar a exercer funções próprias dos sacerdotes. Cada
estado deve guardar a ordem estabelecida; as coisas não estão indistintamente postas ao serviço de todo
mundo. Não é preciso também que tenhamos acesso a tudo, por mais proveitoso que possa ser, nem
que seja lícito a cada um entrar por sua própria vontade nos segredos do santuário. O Mistério
permanecerá sempre Mistério, e ele só se revela às almas puras e humildemente desejosas de encontrar
o Senhor. A elas, ele se manifestará, mas sempre progressiva e organicamente. Não pregamos, aqui,
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nenhum “esoterismo”, mas evidentemente não é pela formação intelectual ou pela cultura estética que
alcançamos a verdadeira inteligência dos Mistérios cristãos, mas pela humildade, pela pureza do coração
e pelo abandono a Cristo e à Igreja. A natureza mesma dos Mistérios tem, aliás, algo de muito popular,
pois o povo ama as coisas concretas e a elas se prende e, ao mesmo tempo, entrega de bom grado sua
fé ao misterioso, no qual ele percebe o divino.
Segundo os Padres da Igreja, o conhecimento dos Mistérios comporta graus e para simbolizar tais graus
somente os sacerdotes ocupam o santuário ao redor do altar, os monges e as virgens consagradas
ocupam lugares atrás, enquanto o povo fiel se mantém na nave.

(...)

Devemos encorajar a louvável intenção de levar o povo à participação ativa na liturgia divina, sim, mas é
preciso que esse esforço não degenere numa tendência democrática de colocar todo mundo em pé de
igualdade. A hierarquia, a ordem sagrada das dignidades e dos valores devem ser conservadas e
mantidas em nossa santa liturgia. Somente assim cria-se a verdadeira comunidade da Igreja, pois a
comunidade não é formada sobre uma comunicação de bens pura e simples, mas sobre uma mútua
solidariedade. A razão da comunidade, com efeito, não é que tenham todos a mesma coisa, mas que se
dê o supérfluo àquele que não tem e que ele preencha sua própria indigência pela abundância do
outrem. Essa entreajuda recíproca constitui o princípio do exercício da caridade. Esses dons possuídos e
comunicados mutuamente contribuem para a edificação do Corpo místico, como afirma São Paulo: ...
unido e coordenado por todos os laços dos membros, que se prestam mútuo auxílio, e dentro da
atividade proporcionada a cada um, todo o corpo cresce e se aperfeiçoa na caridade (Ef 4,16).
O santo Mistério é a representação mais concreta do Corpo místico, ao mesmo tempo em que é a
suprema atividade: a Cabeça e os membros se unem e não formam senão um, para oferecer o sacrifício
ao Pai, para o qual sobem, pelo Filho e no Espírito Santo, toda honra e toda glória. Do Pai descem sobre
a Ecclesia, por Cristo, no Espírito, todas as graças e bênçãos. Eis por que a inteligência cada vez mais
profunda e a participação cada vez mais viva no mysterium devem tornar-se o centro mesmo da vida
cristã e constituir este sacrifício soberanamente agradável a Deus, como diz um sermão pascal de São
Gregório Nazianzeno:

“Nós temos de apresentar uma oferenda àquele que sofreu e ressuscitou por nós. Não pensais que eu
sonho com o ouro e a prata, ou com algum tecido de valor, ou ainda com pedras preciosas e brilhantes
– tudo isso é matéria terrestre e efêmera e, com frequência, nas mãos dos maus e dos escravos do
mundo. O que queremos oferecer é nós mesmos, o único dom precioso e agradável a Deus. Ofereçamos
ao nosso divino Modelo o que é digno dele, nosso estado de semelhança; reconheçamos nossa própria
dignidade e esforcemo-nos para honrar nosso divino Modelo; penetremos no sentido e no poder do
Mistério e compreendamos por que Cristo morreu. Sejamos como Cristo, tornemo-nos semelhantes a
ele, pois ele se fez semelhante a nós. Elevemo-nos até a sua divindade, por causa dele, pois ele mesmo
se fez homem por nós... Que cada um ofereça, portanto, tudo que possui àquele que se ofereceu em
troca de nós e como resgate por nós. Não podemos oferecer nada melhor que o dom total de nós
mesmos numa inteligência perfeita do Mistério e na vontade de tornar-se por amor a Cristo aquilo que
ele mesmo se tornou por nós.”

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V. Experimentar a Liturgia – dimensão corporal


Romano Guardini:
FLORES, Juan Javier. Introdução à Teologia Litúrgica.
São Paulo: Paulinas, 2006, p. 132 a 138.

No prefácio da obra “Os sinais sagrados”, Romano Guardini declara que “na liturgia não se trata de
conceitos, mas de realidades presentes, de realidades humanas em figura e gesto”. Também em sua
obra “Espírito da Liturgia”, de 1918, tratou da capacidade simbólica, que com o progresso da história se
foi perdendo gradualmente, e nisso vê a causa da decadência da vida litúrgica. Entre outras coisas, falou
precisamente da relação simbólica que seria propriamente a relação alma-corpo:

“O símbolo surge quando o interno e espiritual encontra sua expressão externa e sensível. No entanto,
não basta o fato de que um conteúdo de ordem espiritual esteja arbitrariamente ligado a algo material,
por convênio consuetudinário, como, por exemplo, a ideia de justiça, representada por uma balança.
Para que o símbolo exista, é precisa que a transposição, que a projeção do interno para o exterior se
verifique com caráter de necessidade essencial e obedeça a uma exigência da natureza. Dessa maneira,
o corpo, por sua própria condição natural, transforma-se em imagem expressiva da alma.”

A implicação de todo o ser humano é possível precisamente porque a liturgia tem em si mesma uma
força simbolizadora que se expressa em gestos religiosos, em ações rituais e também em objetos que
intensificam e ampliam no espaço gestos e ações.

Por ser a liturgia uma realidade de vida, não podemos nos aproximar dela como de um objeto que tem
de ser explicado, como se fosse um elemento isolável e depois analisável. Também não é suficiente uma
pesquisa histórica carente da paixão hermenêutica. O único método é o de reviver a experiência e, ao
revivê-la, deixá-la falar. Portanto, para captar o sentido verdadeiro da liturgia, o único método é realizar
o mesmo ato, isto é, reviver o que se realiza na ação litúrgica e deixar falar o que no ser humano se vê,
que corresponde ao que se realiza; o método é uma tarefa vital. A liturgia é mestra. Introduz plenamente
na verdade, mediante a oração; mais ainda, ela mesma não é mais do que o dogma orado, “a verdade
revivida orando”.

“A liturgia é um mundo de acontecimentos misteriosos e santos transformados em figura sensível: por


isso tem um caráter sobrenatural. O caminho que conduz à vida litúrgica não se explica através da mera
instrução teórica, mas é oferecido, sobretudo, pela prática.”

“Seja-me permitido narrar uma pequena experiência minha. Faz muitos anos, encontrava-me no Sábado
Santo, no maravilhoso Duomo de Monreale, em Palermo. A liturgia desenvolvia-se com toda solenidade.
Crianças eram batizadas, sacerdotes eram ordenados. Depois de várias horas, eu estava no limite da
minha capacidade receptiva, confesso. Mas o povo certamente não estava. Ninguém tinha em suas mãos
um livro, um rosário, mas todos estavam vivamente presentes. Num dado momento, voltei-me e olhei
todos aqueles olhos dirigidos para a função sagrada. Nunca mais esqueci os aspectos daqueles olhos
abertos: afastei-me imediatamente deles, como se não me fosse permitido olhá-los. Ali estava ainda a
antiga capacidade de viver olhando. Naturalmente, aquelas pessoas também pensaram e oraram;
olhando, porém, e sua oração era oração contemplativa.
Uma capacidade semelhante com o progresso da história foi-se perdido em grande parte. De olhar
passou-se a observar e comprovar, com os quais se vai ordenando e elaborando o trabalho do intelecto
abstrato. Porém desse modo não se realizava toda a essência da liturgia e essa foi a causa da decadência
da vida litúrgica.
Essa capacidade, porém, não pode nem deve ser perdida para sempre. O ser humano continua sendo ser
humano. Seu olho é um olho de ser humano, dado pelo Pai das luzes e destinado a ser transformado.”

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Bento XVI:
Discurso no Encontro com Sacerdotes da diocese de
Albano, em Castelgandolgo, 31.08.2006.

Ars celebrandi: também neste aspecto diria que existem diversas dimensões. A primeira é que a
celebratio é oração e diálogo com Deus: Deus está conosco e nós com Deus. Portanto, a primeira
exigência para uma boa celebração é que o sacerdote entre realmente neste diálogo. Anunciando a
Palavra, sente-se ele mesmo em diálogo com Deus. É ouvinte da Palavra e anunciador da Palavra, no
sentido de que se torna instrumento do Senhor e procura compreender esta Palavra de Deus que depois
de deve transmitir ao povo. É um diálogo com Deus, porque os textos da Santa Missa não são textos
teatrais ou algo semelhante, mas são orações, graças às quais, juntamente com a assembleia, falo com
Deus. Portanto, entrar neste diálogo é importante. São Bento, na sua Regra, diz aos monges, falando da
recitação dos salmos: “Mens concordet voci”. A vox, as palavras precedem a nossa mente. Normalmente
não é assim: primeiro temos que pensar e depois o pensamento torna-se palavra. A Sagrada Liturgia dá-
nos as palavras; nós devemos entrar nessas palavras, encontrar a concórdia com esta realidade que nos
precede.

Além disto, devemos também aprender a compreender a estrutura da Liturgia e por que está articulada
desta forma. A Liturgia cresceu em dois milênios e também depois da reforma não se tornou algo
elaborado apenas por alguns liturgistas. Ela permaneceu sempre continuação deste crescimento
permanente da adoração e do anúncio. Assim, é muito importante, para nos podermos sintonizar bem,
compreender esta estrutura que cresceu no tempo e pensar com a nossa mens na vox da Igreja. Na
medida em que interiorizamos esta estrutura, compreendemos esta estrutura, assimilamos as palavras da
Liturgia, podemos entrar nesta consonância interior e assim não só falar com Deus como pessoas
individualmente, mas entrar no “nós” da Igreja que reza. Desta forma transformamos também o nosso
“eu” entrando no “nós” da Igreja, enriquecendo, alargando este “eu”, rezando com a Igreja, com as
palavras da Igreja, estando realmente em diálogo com Deus.

Esta é a primeira condição: nós próprios devemos interiorizar a estrutura, as palavras da Liturgia, a
Palavra de Deus. Assim o nosso celebrar torna-se realmente um celebrar “com” a Igreja: o nosso coração
alarga-se e nós não fazemos algo, mas estamos “com” a Igreja em diálogo com Deus.

Parece que as pessoas sentem se nós estamos verdadeiramente em diálogo com Deus, com elas e, por
assim dizer, atraímos os outros nesta nossa oração comum, atraímos os outros para a comunhão com os
filhos de Deus; ou se, ao contrário, fazemos apenas algo de aparente. O elemento fundamental da
verdadeira ars celebrandi é esta consonância, esta concórdia entre o que dizemos com os lábios e o que
pensamos com o coração. O Sursum corda, que é uma antiquíssima palavra da Liturgia, deveria ser já
antes do prefácio, antes da Liturgia, o “caminho” do nosso falar e pensar. Devemos elevar ao Senhor o
nosso coração, não só como uma resposta ritual, mas como expressão de quanto acontece neste
coração, que se eleva e, na elevação, atrai também os outros.

Por outras palavras, a ars celebrandi não pretende convidar para uma espécie de teatro, de espetáculo,
mas para uma interioridade que se faz sentir e se torna aceitável e evidente para o povo que assiste.

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VI. Instrução Geral sobre a Liturgia das Horas


CAPÍTULO 1: IMPORTÂNCIA DA LITURGIA DAS HORAS OU
O OFÍCIO DIVINO NA VIDA DA IGREJA

1. A oração pública e comunitária do povo de Deus é com razão considerada uma das principais funções
da Igreja. Daí que, logo no princípio, os batizados “eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à união
fraterna, à fração do pão e às orações” (At 2, 42). Da oração unânime da comunidade cristã nos dão
repetidos testemunhos os Atos dos Apóstolos.
Que também os fiéis se costumavam entregar à oração individual em determinadas horas do dia,
provam-no igualmente os documentos da primitiva Igreja. Depois foi-se introduzindo muito cedo, aqui e
além, o costume de consagrar à oração comunitária alguns tempos especiais, por exemplo, a última hora
do dia, ao entardecer, no momento em que se acendiam as luzes, e a primeira hora da manhã, quando,
ao despontar o astro do dia, a noite chega ao seu termo.
Com o decorrer dos tempos, foram-se ainda santificando pela oração comunitária outras horas, que os
Padres viam insinuadas na leitura dos Atos dos Apóstolos. Assim, os Atos falam-nos dos discípulos
reunidos [para a oração] à terceira hora; o Príncipe dos Apóstolos “sobe ao terraço da casa para orar, por
volta da sexta hora” (10, 9); “Pedro ... e João sobem ao templo, para a oração da hora nona” (3, 1); “a
meio da noite, Paulo e Silas, em oração, entoavam louvores a Deus” (16, 25).

2. Estas orações, feitas em comunidade, foram-se progressivamente organizando, até que vieram a
constituir um ciclo horário bem definido. Esta Liturgia das Horas, ou Ofício Divino, embora enriquecida de
leituras, é antes de mais oração de louvor e de súplica: oração da Igreja, com Cristo e a Cristo.

I. A ORAÇÃO DE CRISTO

Cristo, Orante do Pai

3. Vindo ao mundo para comunicar aos homens a vida divina, o Verbo que procede do Pai como
esplendor da sua glória, “Sumo Sacerdote da Nova e Eterna Aliança, Cristo Jesus, ao assumir a natureza
humana, introduz nesta terra de exílio o hino que eternamente se canta no Céu”. Desde aquele
momento, ressoa no coração de Cristo o louvor divino expresso em termos humanos de adoração,
propiciação e intercessão. E tudo isto Ele apresenta ao Pai, como Cabeça da nova humanidade, Mediador
entre Deus e os homens, em nome de todos, para benefício de todos.

4. O próprio Filho de Deus, que é “um com o Pai” (cf. Jo 10, 30) e
que, ao entrar no mundo, disse: “Eu venho, ó Deus, para cumprir a
tua vontade” (Hb 10, 9; cf. Jo 6, 38), quis-nos deixar também
exemplos da sua oração. E assim é que os Evangelhos no-l’O
apresentam com muita frequência a orar: quando pelo Pai é revelada
a sua missão, antes de chamar os Apóstolos, quando bendiz a Deus na
multiplicação dos pães, no monte, aquando da sua transfiguração,
quando opera a cura do surdo-mudo e ressuscita a Lázaro, antes da
confissão de Pedro, quando ensina os discípulos a orar ao regressarem
os discípulos da sua missão, ao abençoar as criancinhas, quando roga
por Pedro.
A sua atividade quotidiana vemo-la estreitamente ligada à oração,
como que nasce da oração; levanta-Se alta madrugada ou fica pela
noite além, até à quarta vigília, entregue à oração a Deus.
Temos, além disso, justos motivos para crer que tomava parte nas
orações que publicamente se faziam nas sinagogas, onde «tinha por
costume» ir aos sábados, ou no templo, ao qual chamava casa de
coração, e bem assim nas orações que os piedosos israelitas costumavam fazer diariamente em
particular. Recitava também às refeições as tradicionais “bênçãos” a Deus, como expressamente vem
narrado na multiplicação dos pães, na última Ceia, na ceia de Emaús; e (na última Ceia) cantou os
salmos com os discípulos.
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Até aos derradeiros momentos da sua vida — próximo já da Paixão, na última Ceia, na agonia, na Cruz —
o Divino Mestre apresenta-nos a oração como sendo a alma do seu ministério messiânico e do termo
pascal da sua vida. Assim, “nos dias da sua vida mortal, apresentou orações e súplicas, entre clamores e
lágrimas, Àquele que O podia livrar da morte, e foi atendido pela sua piedade” (Hb 5, 7); e, mediante a
oblação perfeita consumada na ara da cruz, “realizou a perfeição definitiva daqueles que são
santificados” (Hb 10, 14); finalmente, ressuscitado de entre os mortos, continua sempre vivo a interceder
por nós.

II. ORAÇÃO DA IGREJA

Preceito da oração

5. Aquilo que Jesus fez, isso mesmo ordenou fizéssemos nós. “Orai” — diz repetidas vezes — “rogai”,
“pedi”, “em meu nome”. E até nos deixou, na oração dominical, um modelo de oração. Inculca a
necessidade da oração, oração humilde, vigilante, perseverante e cheia de confiança na bondade do Pai,
feita com pureza de intenção, consentânea com a natureza de Deus.
Os Apóstolos, por sua vez, apresentam-nos com frequência, em suas Epístolas, fórmulas de oração,
mormente de louvor e ação de graças, e exortam-nos a orar no Espírito Santo, pela mediação de Cristo,
ao Pai, com perseverança e assiduidade; sublinham a eficácia da oração para alcançar a santidade;
exortam à oração de louvor, de ação de graças, de súplica, de intercessão por todos os homens.

A Igreja continuadora da oração de Cristo

6. Vindo o homem inteiramente de Deus, é seu dever reconhecer e confessar a soberania do seu Criador.
Assim o fizeram, através da oração, os homens piedosos de todos os tempos.
Mas a oração dirigida a Deus tem de estar ligada a Cristo, Senhor de todos os homens, único Mediador, o
único por quem temos acesso a Deus. Ele une a Si toda a comunidade dos homens, e de tal forma que
entre a oração de Cristo e a de toda a humanidade existe uma estreita relação. Em Cristo, e só n’Ele, é
que a religião humana adquire valor salvífico e atinge o seu fim.

7. É totalmente peculiar e profunda a união que existe entre Cristo e aqueles que, pelo sacramento da
regeneração, Ele assume como membros do seu Corpo que é a Igreja. Deste modo, partindo da Cabeça,
por todo o Corpo se difundem todas as riquezas pertencentes ao Filho: a comunicação do Espírito, a
verdade, a vida, a participação na sua filiação divina, que se manifestava em toda a sua oração enquanto
viveu no meio de nós.
O sacerdócio de Cristo é também participado por todo o Corpo da Igreja. Os batizados, mediante a
regeneração e a unção do Espírito Santo, são consagrados como casa espiritual e sacerdócio santo; e por
esta forma, ficam habilitados a exercer o culto da Nova Aliança, culto este proveniente, não das nossas
forças, mas dos méritos e dom de Cristo.
“Nenhum dom poderia Deus ter feito aos homens mais valioso do que este: ter-lhes dado por Cabeça o
seu Verbo pelo qual criou todas as coisas, e tê-los unido a Ele como membros seus; ter feito com que Ele
seja ao mesmo tempo Filho de Deus e Filho do homem, um só Deus com o Pai e um só homem com os
homens. Deste modo, quando falamos a Deus na oração, não podemos separar d’Ele o Filho; e, quando
ora o Corpo do Filho, não pode separar de Si mesmo a Cabeça. E assim, é Ele próprio, o Salvador único
do seu Corpo, Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, quem ora por nós, ora em nós e a Ele nós
adoramos. Ora por nós, como nosso Sacerdote; ora em nós, como nossa Cabeça; a Ele oramos, como
nosso Deus. Reconheçamos, pois, n’Ele a nossa voz, e a voz d’Ele em nós”.
E é nisto que assenta a dignidade da oração cristã: em participar da piedade mesma do Filho Unigênito
para com o Pai e daquela oração que Ele, durante a sua vida cá na terra expressou por palavras e
continua agora, sem interrupção, em toda a Igreja e em cada um dos seus membros, em nome e para
salvação de todo o gênero humano.

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Ação do Espírito Santo

8. A unidade da Igreja orante é realizada pelo Espírito Santo, o mesmo que está em Cristo, em toda a
Igreja e em cada um dos batizados. “É o próprio Espírito que vem em auxílio da nossa fraqueza”; é Ele
que “ora por nós com gemidos inefáveis” (Rom 8,26); é Ele mesmo, como Espírito do Filho, que infunde
em nós “o espírito da adoção filial, no qual clamamos: Abba, Pai” (Rm 8,15; cf. Gl 4,6; 1Cor 12,3; Ef
5,18; Jd 20). Nenhuma oração, portanto, se pode fazer sem a ação do Espírito Santo, o qual, realizando
a unidade de toda a Igreja, conduz pelo Filho ao Pai.

Caráter comunitário da oração

9. O exemplo e o preceito do Senhor e dos Apóstolos, de orar incessantemente, hão de considerar-se,


não como regra puramente legal, mas como um elemento que faz parte da mais íntima essência da
própria Igreja, enquanto esta é uma comunidade e deve expressar, inclusive pela oração, a sua natureza
comunitária. Daí que, quando nos Atos dos Apóstolos se fala, pela primeira vez, da comunidade dos fiéis,
esta nos aparece reunida precisamente em oração, “com as mulheres, com Maria, Mãe de Jesus, e seus
irmãos” (At 1,14). “A multidão dos crentes era um só coração e uma só alma” (At 4,31); e esta
unanimidade assentava na palavra de Deus, na comunhão fraterna, na oração e na Eucaristia.
É certo que a oração feita a sós no quarto, portas fechadas, é necessária e recomendável, e não deixa
nunca de ser oração de um membro da Igreja, por Cristo, no Espírito Santo. Todavia, a oração
comunitária possui uma dignidade especial, baseada nestas palavras de Cristo: “Onde estiverem dois ou
três reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles” (Mt 18,20).

III. A LITURGIA DAS HORAS

Consagração do tempo

10. Cristo disse: “É preciso orar sempre, sem desfalecimento” (Lc 18,1). E a Igreja, seguindo fielmente
esta recomendação, não cessa nunca de orar, ao mesmo tempo que nos exorta com estas palavras: “Por
Ele (Jesus), ofereçamos continuamente a Deus o sacrifício de louvor” (Hb 13,15). Este preceito é
cumprido, não apenas com a celebração da Eucaristia, mas também por outras formas, de modo
particular com a Liturgia das Horas.
Entre as demais ações litúrgicas, esta, segundo a antiga tradição cristã, tem como característica peculiar
a de consagrar todo o ciclo do dia e da noite.

11. Ora, uma vez que o fim da Liturgia das Horas é a santificação do dia e de toda a atividade humana, a
sua estrutura teve que ser reformada, no sentido de repor cada uma das Horas, tanto quanto possível,
no seu tempo verdadeiro, tendo em conta o condicionalismo da vida moderna.
Por isso, “já para santificar realmente o dia, já para rezar as próprias Horas com fruto espiritual, importa
recitá-las no momento próprio, quer dizer, naquele que mais se aproxime do tempo verdadeiro
correspondente a cada Hora canônica”.

Relação entre a Liturgia das Horas e a Eucaristia

12. A Liturgia das Horas alarga aos diferentes momentos do dia o louvor e ação de graças, a memória
dos mistérios da salvação, as súplicas, o antegozo da glória celeste, contidos no mistério eucarístico,
“centro e vértice de toda a vida da comunidade cristã”.
A própria celebração eucarística tem na Liturgia das Horas a sua melhor preparação, porque esta suscita
e nutre da melhor maneira as disposições necessárias para uma frutuosa celebração da Eucaristia, quais
são a fé, a esperança, a caridade, a devoção, o espírito de sacrifício.

Exercício da função sacerdotal de Cristo na Liturgia das Horas

13. “A obra da redenção e da perfeita glorificação de Deus” realiza-a Cristo no Espírito Santo por meio da
Igreja. E isto, não somente na celebração da Eucaristia e na administração dos Sacramentos, mas

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também, e dum modo primacial, na Liturgia das Horas. Nela está Cristo presente, quando a assembleia
está reunida, quando é proclamada a palavra de Deus, quando “ora e salmodia a Igreja”.

Santificação do homem

14. Na Liturgia das Horas, opera-se a santificação do homem e presta-se culto a Deus, por forma a
estabelecer uma espécie de intercâmbio, um diálogo entre Deus e o homem: “Deus fala ao seu povo, ...
e o povo responde a Deus no canto e na oração”.
Aqueles que tomam parte na Liturgia das Horas podem colher dela abundantíssimos frutos de
santificação, em virtude da palavra de Deus que nela ocupa lugar importantíssimo. Efetivamente, é da
Escritura Sagrada que são tiradas as leituras; aos salmos se vão buscar as palavras de Deus cantadas na
sua presença; duma forte inspiração bíblica estão repassadas todas as preces, orações e cânticos.
Não só quando se lê “aquilo que foi escrito para nossa edificação” (Rm 15,4), mas também quando a
Igreja ora e canta, é alimentada a fé dos participantes e os seus corações elevam-se para Deus, a fim de
Lhe oferecerem a homenagem espiritual e d’Ele receberem a graça em maior abundância.

Louvor prestado a Deus, em união com a Igreja celeste

15. Na Liturgia das Horas, a Igreja exerce a função sacerdotal da sua Cabeça, “oferecendo
ininterruptamente a Deus o sacrifício de louvor, ou seja, o fruto dos lábios que glorificam o seu nome”.
Esta oração é “a voz da Esposa a falar ao Esposo, e também, a oração que o próprio Cristo, unido ao seu
Corpo, eleva ao Pai”. Consequentemente, “todos os que assim rezam desempenham, por um lado, o
ofício da própria Igreja, e, por outro, participam da excelsa honra da Esposa de Cristo, enquanto estão,
em nome da Igreja, diante do trono de Deus, a cantar os divinos louvores”.

16. Cantando os louvores de Deus nas Horas canônicas, a Igreja associa-se àquele hino de louvor que
por toda a eternidade é cantado na celeste morada. Ao mesmo tempo antegoza as delícias daquele
celestial louvor que João nos descreve no Apocalipse e que ressoa ininterruptamente diante do trono de
Deus e do Cordeiro. Realiza-se a nossa estreita união com a Igreja celeste, quando “concelebramos em
comum exultação os louvores da Divina Majestade, quando todos os que fomos resgatados no sangue de
Cristo, de todas as tribos, línguas, povos e nações (cf. Ap 5,9), congregados numa só Igreja,
engrandecemos a Deus, uno e trino, no mesmo cântico de louvor”.
Esta liturgia celeste, já os profetas a anteviram na vitória do dia sem noite, da luz sem trevas: “Já não
será o sol a tua luz durante o dia, nem a claridade da lua será a tua luz durante a noite, porque o Senhor
será a tua luz eterna” (Is 60,19; cf. Ap 21,23.25). “Será um dia contínuo, conhecido somente do Senhor,
sem alternância do dia e da noite; ao entardecer, brilhará a luz” (Zc 14,7). Ora, “a última fase dos
tempos chegou já para nós (cf. 1 Cor 10,11); a restauração do mundo encontra-se irrevogavelmente
realizada e, em certo sentido, antecipada já no tempo presente”. Pela fé somos instruídos acerca do
sentido da própria vida temporal, de tal modo que vivemos, com a criação inteira, na expectativa da
manifestação dos filhos de Deus. Na Liturgia das Horas, proclamamos a nossa fé, exprimimos e
fortalecemos a nossa esperança, e tomamos parte já, de certo modo, na alegria do louvor perene, do dia
que não conhece ocaso.

Súplica e intercessão

17. Mas, na Liturgia das Horas, a par do louvor divino, a Igreja expressa igualmente os votos e anseios
de todos os cristãos; mais ainda: roga a Cristo e, por Ele, ao Pai pela salvação do mundo inteiro. E esta
voz não é somente a voz da Igreja; é também a voz de Cristo, uma vez que todas as orações são
proferidas em nome de Cristo – “por Nosso Senhor Jesus Cristo”. Deste modo, a Igreja prolonga aquelas
preces e súplicas que o mesmo Cristo fazia nos dias da sua vida mortal; daí, a sua particular eficácia. Não
é, portanto, somente pela caridade, pelo exemplo, pelas obras de penitência, mas também pela oração,
que a comunidade eclesial exerce uma verdadeira maternidade para com as almas, no sentido de as
conduzir a Cristo.
Isto diz respeito principalmente a todos aqueles que receberam mandato especial de celebrar a Liturgia
das Horas, isto é: os bispos e presbíteros, que têm por dever de ofício orar pela grei que lhes está
confiada e por todo o povo de Deus, os outros ministros sagrados e os religiosos.
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Liturgia 1A

Ápice e fonte da atividade pastoral

18. Aqueles que tomam parte na Liturgia das Horas contribuem, através duma misteriosa fecundidade
apostólica, para o incremento do povo de Deus. Efetivamente, o objetivo do trabalho apostólico é
conseguir que “todos aqueles que pela fé e pelo batismo se tornaram filhos de Deus se reúnam em
assembleia, louvem a Deus na Igreja, participem no sacrifício, comam a Ceia do Senhor”.
Por esta forma, os fiéis exprimem na sua vida e manifestam aos outros “o mistério de Cristo e a genuína
natureza da verdadeira Igreja, que tem como característica peculiar o ser (...) visível e dotada de
riquezas invisíveis, ardorosa na ação e dedicada à contemplação, presente no mundo e, todavia,
peregrina”.
Por outro lado, as leituras e as preces da Liturgia das Horas são fonte de vida cristã. Esta vida alimenta-
se na mesa da Escritura Sagrada e nas palavras dos Santos e robustece-se na oração. O Senhor, sem o
qual nada podemos fazer, quando O invocamos, dá eficácia e incremento às nossas obras; e assim, dia
após dia, vamos sendo edificados como templo de Deus no Espírito, até atingirmos a medida da idade
perfeita de Cristo; ao mesmo tempo, vamos robustecendo as nossas energias para podermos anunciar
Cristo àqueles que estão fora.

Que a mente concorde com a voz

19. Para que esta oração seja própria de cada um daqueles que nela tomam parte, seja fonte de piedade
e da multiforme graça divina e sirva também de alimento à oração pessoal e à atividade apostólica,
importa celebrá-la com dignidade, atenção e devoção, e fazer com que o espírito concorde com a voz. É
necessário que todos cooperem com a graça divina, para que não a recebam em vão. Buscando a Cristo
e esforçando-se por aprofundar o seu mistério na oração, louvem a Deus e elevem as suas súplicas com
o mesmo espírito com que orava o Divino Salvador.

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VII. Ano Litúrgico


CARTA ENCÍCLICA MEDIATOR DEI (PAPA PIO XII)

150. Assim o ano litúrgico, que a piedade da Igreja alimenta e acompanha, não é uma fria e inerte
representação de fatos que pertencem ao passado, ou uma simples e nua evocação da realidade de
outros tempos. É, antes, o próprio Cristo, que vive sempre na sua Igreja e que prossegue o caminho de
imensa misericórdia por ele iniciado, piedosamente, nesta vida mortal, quando passou fazendo o bem!
(Cf. At 10,38) com o fim de colocar as almas humanas em contato com os seus mistérios e fazê-las viver
por eles, mistérios que estão perenemente presentes e operantes, não de modo incerto e nebuloso, de
que falam alguns escritores recentes, mas porque, como nos ensina a doutrina católica e segundo a
sentença dos doutores da Igreja, são exemplos ilustres de perfeição cristã e fonte de graça divina pelos
méritos e intercessão do Redentor; e porque perduram em nós no seu efeito, sendo cada um deles, de
modo consentâneo à própria índole, a causa da nossa salvação. Acresce que a pia Madre Igreja,
enquanto propôs à nossa contemplação os mistérios de Cristo, invoca com as suas preces os dons
sobrenaturais pelos quais os seus filhos se compenetram do espírito desses mistérios por virtude de
Cristo. Por influxo e virtude dele podemos, com a colaboração da nossa vontade, assimilar a força vital
como ramos da árvore, como membros da cabeça, e progressiva e laboriosamente transformar-nos
"segundo a medida da idade plena de Cristo" (Ef 4,13).

SACROSANCTUM CONCILIUM – CAPÍTULO V: O ANO LITÚRGICO

Sua natureza: o ciclo do tempo

102. A santa mãe Igreja considera seu dever celebrar, em determinados dias do ano, a memória sagrada
da obra de salvação do seu divino Esposo. Em cada semana, no dia a que chamou domingo, celebra a da
Ressurreição do Senhor, como a celebra também uma vez no ano na Páscoa, a maior das solenidades,
unida à memória da sua Paixão.

Distribui todo o mistério de Cristo pelo correr do ano, da Encarnação e Nascimento à Ascensão, ao
Pentecostes, à expectativa da feliz esperança e da vinda do Senhor.

Com esta recordação dos mistérios da Redenção, a Igreja oferece aos fiéis as riquezas das obras e
merecimentos do seu Senhor, a ponto de os tornar como que presentes a todo o tempo, para que os
fiéis, em contato com eles, se encham de graça.

As festas da Virgem e dos Santos

103. Na celebração deste ciclo anual dos mistérios de Cristo, a santa Igreja venera com especial amor,
porque indissoluvelmente unida à obra de salvação do seu Filho, a Bem-aventurada Virgem Maria, Mãe
de Deus, em quem vê e exalta o mais excelso fruto da Redenção, em quem contempla, qual imagem
puríssima, o que ela, toda ela, com alegria deseja e espera ser.

104. A Igreja inseriu também no ciclo anual a memória dos Mártires e outros Santos, os quais, tendo pela
graça multiforme de Deus atingido a perfeição e alcançado a salvação eterna, cantam hoje a Deus no céu
o louvor perfeito e intercedem por nós. Ao celebrar o “dies natalis” (dia da morte) dos Santos, proclama
o mistério pascal realizado na paixão e glorificação deles com Cristo, propõe aos fiéis os seus exemplos,
que conduzem os homens ao Pai por Cristo, e implora pelos seus méritos as bênçãos de Deus.

Exercícios de piedade

105. Em várias épocas do ano e seguindo o uso tradicional, a Igreja completa a formação dos fiéis
servindo-se de piedosas práticas corporais e espirituais, da instrução, da oração e das obras de
penitência e misericórdia.
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Por isso, aprouve ao sagrado Concílio determinar o seguinte:


Domingo e festas do Senhor

106. Por tradição apostólica, que nasceu do próprio dia da Ressurreição de Cristo, a Igreja celebra o
mistério pascal todos os oito dias, no dia que bem se denomina dia do Senhor ou domingo. Neste dia
devem os fiéis reunir-se para participarem na Eucaristia e ouvirem a palavra de Deus, e assim
recordarem a Paixão, Ressurreição e glória do Senhor Jesus e darem graças a Deus que os “regenerou
para uma esperança viva pela Ressurreição de Jesus Cristo de entre os mortos” (1Pd 1,3). O domingo é,
pois, o principal dia de festa a propor e inculcar no espírito dos fiéis; seja também o dia da alegria e do
repouso. Não deve ser sacrificado a outras celebrações que não sejam de máxima importância, porque o
domingo é o fundamento e o centro de todo o ano litúrgico.

107. Reveja-se o ano litúrgico de tal modo que, conservando-se ou reintegrando-se os costumes
tradicionais dos tempos litúrgicos, segundo o permitirem as circunstâncias de hoje, mantenha o seu
caráter original para, com a celebração dos mistérios da Redenção cristã, sobretudo do mistério pascal,
alimentar devidamente a piedade dos fiéis. Se acaso forem necessárias adaptações aos vários lugares,
façam-se segundo os art. 39 e 40.

108. Oriente-se o espírito dos fiéis em primeiro lugar para as festas do Senhor, as quais celebram
durante o ano os mistérios da salvação e, para que o ciclo destes mistérios possa ser celebrado no modo
devido e na sua totalidade, dê-se ao Próprio do Tempo o lugar que lhe convém, de preferência sobre as
festas dos Santos.

A Quaresma

109. Ponham-se em maior realce, tanto na Liturgia como na catequese litúrgica, os dois aspectos
característicos do tempo quaresmal, que pretende, sobretudo através da recordação ou preparação do
Batismo e pela Penitência, preparar os fiéis, que devem ouvir com mais frequência a Palavra de Deus e
dar-se à oração com mais insistência, para a celebração do mistério pascal. Por isso:

a) utilizem-se com mais abundância os elementos batismais próprios da liturgia quaresmal e retomem-se,
se parecer oportuno, elementos da antiga tradição;

b) o mesmo se diga dos elementos penitenciais. Quanto à catequese, inculque-se nos espíritos, de par
com as consequências sociais do pecado, a natureza própria da penitência, que é detestar o pecado por
ser ofensa de Deus; nem se deve esquecer a parte da Igreja na prática penitenciai, nem deixar de
recomendar a oração pelos pecadores.

110. A penitência quaresmal deve ser também externa e social, que não só interna e individual. Estimule-
se a prática da penitência, adaptada ao nosso tempo, às possibilidades das diversas regiões e à condição
de cada um dos fiéis. Recomendem-na as autoridades a que se refere o art. 22.

Mantenha-se religiosamente o jejum pascal, que se deve observar em toda a parte na Sexta-feira da
Paixão e Morte do Senhor e, se oportuno, estender-se também ao Sábado santo, para que os fiéis
possam chegar à alegria da Ressurreição do Senhor com elevação e largueza de espírito.

As festas dos santos

111. A Igreja, segundo a tradição, venera os Santos e as suas relíquias autênticas, bem como as suas
imagens. É que as festas dos Santos proclamam as grandes obras de Cristo nos seus servos e oferecem
aos fiéis os bons exemplos a imitar.

Para que as festas dos Santos não prevaleçam sobre as festas que recordam os mistérios da salvação,
muitas delas ficarão a ser celebradas só por uma igreja particular ou nação ou família religiosa,
estendendo-se apenas a toda a Igreja as que festejam Santos de inegável importância universal.
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O Domingo

“Devido à tradição apostólica que tem origem no próprio dia da ressurreição de Cristo, a Igreja
celebra o mistério pascal a cada oitavo dia, no dia chamado com razão o dia do Senhor, ou
domingo. O dia da ressurreição de Cristo é ao mesmo tempo o primeiro dia da semana, memorial do
primeiro dia da criação, e o oitavo dia, em que Cristo, depois do seu repouso do grande sábado,
inaugura o dia que o Senhor fez, o dia que não conhece ocaso. A Ceia do Senhor é o seu centro, pois
é aqui que toda a comunidade dos fiéis se encontra com o Senhor ressuscitado, que os convida ao seu
banquete.” (CIgC 1166)

Quando meditamos, ó Cristo, as maravilhas que foram operadas neste dia de domingo da vossa
santa ressurreição, dizemos: Bendito é o dia do domingo, pois foi nele que se deu o começo da
criação, a salvação do mundo, a renovação do gênero humano. É nele que o céu e a terra rejubilam e
que o universo inteiro foi repleto de luz. Bendito é o dia do domingo, pois nele foram abertas as
portas do paraíso para que Adão e todos os banidos entrem nele sem medo.
Ofício sírio-antioqueno

GUARDINI, Romano. El domingo, ayer, hoy y siempre. Buenos


Aires: Editorial Lumen, 1992, p. 33 a 37, tradução não oficial.

O dia do Senhor na nova Aliança

Como aparece o dia do Senhor na ordenação do Cristianismo? O Filho do Pai eterno se fez homem,
obedecendo à sua vontade, em tudo semelhante a nós. Assumiu o mundo em sua existência. Sem
pecado, ele mesmo se colocou na situação que vem do pecado e experimentou-a sofrendo. Nesta
existência, amou o Pai com amor perfeito e, com isso, voltou a orientar o mundo a Deus, que, segundo a
ideia de Santo Agostinho, precipitou-se ao nada, apartando-se de Deus. O que ocorreu assim no espírito,
no coração, no amor de Jesus, era a Redenção na essência, dada com a própria existência do Deus-
homem. Ao contrário, a forma histórica que havia de encontrar a Redenção dependia de como
receberiam os homens a mensagem de Deus. Conforme sua conduta, Ele aceitaria a vontade do Pai.
Jesus não fez nada para influenciar sua tomada de posição; nada que não fosse a pura manifestação da
verdade de Deus, da evidenciação de seu amor, da irradiação da sua santidade. Nada de violência, de
excesso de persuasão, de tática ou de astúcia. Manteve-se disposto para tudo o que lhe coubesse
segundo o acontecimento da hora. O que se viu foi o rechaço dos homens.
O povo da Aliança devia tê-lo recebido; então a Redenção haveria de se desenvolver na fé e no amor dos
homens. Significaria julgar de forma muito reduzida o que representou o infinito sofrimento interior de
Jesus, ao passar pelo mundo desgarrado de Deus, caso se pretendesse dizer que isso não haveria sido o
bastante para expiar a culpa do mundo. Porém os homens “não o receberam” (Jo 1,11). Recusaram a fé,
voltaram-se contra Ele e Ele aceitou a consequência que disso derivava. Assim Ele morreu e sua morte se
converteu na forma definitiva em que se cumpriu a Redenção. Logo foi posto no sepulcro; mas no
terceiro dia, o dia depois do sabbat da Páscoa, levantou-se dentre os mortos. Cristo fundou uma nova
existência.
(...)
A ação redentora de Cristo encontra seu monumento comemorativo na estrutura da semana. Durante
muito tempo continuou vigorando o sabbat como dia do descanso, mas ao seu lado aparece, “como
primeiro dia depois do sábado”, aquele dia em que se celebra a memória da Ressurreição. Logo se
reúnem ambos significados. Surge o dia do Senhor (dominica), do Redentor entronizado, tal como hoje o
conhecemos, o primeiro dia da semana cristã, segundo o qual os demais se contam como segundo,
terceiro, etc.
O momento de descanso, de tomar fôlego sem a carga do trabalho e da liberdade para Deus,
permaneceu, mas se acrescentou algo novo: o domingo se converteu na memória da Ressurreição de
Cristo. Com solenidade expressamente litúrgica, esta memória se celebra como festa da Páscoa, o
primeiro domingo do equinócio da primavera [do hemisfério norte]. Seu conteúdo, bem entendido, forma
a síntese da fé cristã em geral: a vitória do amor de Deus sobre o pecado e a morte, e nesta vitória, a
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revelação de quem é Deus. Portanto, a Páscoa constitui a festa cristã por


antonomásia. Penetra pelo ano inteiro ao fazer-se reviver de novo em cada
dia do Senhor. Todos os domingos são Páscoa.
Contudo, também pela Redenção a mesma ação recebe um caráter novo.
Permanecem seus deveres naturais e permanece também o que há de ser
elevado em consequência da culpa original. Mas revela-se o mistério da
providência, de que tudo o que acontece constitui uma parte do grande
processo do novo nascimento. Portanto, o trabalho já não é somente a luta
pela vida e a obra, carregada de maldição, mas também a forma como vai
crescendo, dia a dia, através de toda atividade e esforço, o homem
conformado a Cristo. Com isso, o trabalho adquire uma nova plenitude de
valor, de dignidade e confiança. E uma nova alegria que vai além daquela
que brota do uso da energia, de conquista do mundo e do sucesso da obra. É
a alegria pela vinda do novo céu e da nova terra, de que falam o Apocalipse e o capítulo oitavo da
Epístola aos Romanos, isto é, a criação renascida pela Redenção e pela fé.
No dia do Senhor, o cristão fica livre do trabalho e deve voltar sempre a se dar conta, nessa liberdade, de
que está redimido. Por isso é tão grande a importância do dia. Enquanto o crente deixa de vivê-lo
conforme seu sentido, o transitório inunda sua consciência de eterno; sua consciência de Deus, mas
também de sua própria essência mais profunda. Pois, com efeito, ele não tem só que crer em Deus, mas
também no que é ele mesmo a partir de sua Redenção. Isso fica continuamente recoberto pela vida
cotidiana: perde realidade pela debilidade, fica confuso pelo seu enredo, se diminui em seu valor pela
maldade; mas no domingo deve voltar sempre a consolidar o que o cristão tem de sua autêntica
existência. Quando o domingo não o exortar a isso, desaparece isso da consciência.
A experiência assim demonstra. Já o homem crente, pelas mais diversas razões, se vê tentando em
converter o dia santo em dia de trabalho; o que ocorre muito mais para o indeterminado ou indiferente
na religião. Empresários e comerciantes, agricultores e propagandistas declaram que a produção
necessita do domingo e que os clientes deveriam poder comprar. Todos os argumentos insistem para que
se explore economicamente o domingo e a regra cristã parece um desperdício sem sentido. Porém, isso
representa uma grande miopia; pois se esse dia é o que há assinalado nossa consideração dos ritmos
naturais da vida, então tais opiniões calculam mal. Com o trabalho contínuo se perde o que se chamou
de pausa criadora, o soltar-se e esponjar-se internamente; com isso, sofrem tanto a vida, quanto a
produção. Mas por trás do cálculo equivocado, há outro perverso: o instinto da inimizade à fé sabe que
se obtém sucesso em desarraigar o domingo; o homem perde a consciência religiosa e fica entregue aos
poderes econômicos e políticos.

O domingo e a integridade do homem

O problema do domingo está em conexão com outro que alcança às raízes de nossa existência. Surge do
fato de que o homem da época moderna pagou o enorme sucesso científico e técnico deste último século
com a perda de cuja importância cada vez nos damos conta de forma mais aguda: tornou-se um ativista,
durante muito tempo considerou-se seu ativismo como ascensão a um valor vital superior e a uma
responsabilidade moral mais séria. Porém um número crescente de pessoas se dá conta do que havia de
falso nesta opinião. Certamente, ganhou-se algo grande, mas também se perdeu algo importante; a
saber, tudo aquilo que pode se chamar de valores contemplativos; as energias da quietude e da
concentração; do saber mais profundo, que vem do fundo da alma; do sentido para as indicações e os
avisos procedentes de um domínio que está muito mais no interior do que a mera razão e a utilidade. O
homem moderno perdeu calado em tudo. Sua vida se torna cada vez mais artificial; seu instinto cada vez
mais frágil. Cada vez se perde mais nesse conjunto de instalações mecânicas que enche seu mundo. Algo
análogo ocorre em relação ao poder do Estado. Pelo mundo inteiro perpassa essa tendência totalitária,
não só pelo mundo comunista, mas também pelo liberal: só que aqui adquire um novo caráter:
recordemos o aparato autoritário que invade cada vez mais territórios da vida; a imprensa, que
condiciona as ideias, os juízos, as atitudes da população; a cunhagem do sentido da vida e o gosto por
parte do cinema e do rádio; a crescente publicidade de toda a vida, que destrói o terreno privado. Contra
tudo isso, o homem moderno se torna cada vez mais frágil, porque constantemente diminui nele a
energia de resistência da pessoa, enraizada em sua própria profundidade, a capacidade de ser senhor de
si mesmo, a conexão com os valores absolutos que lhe dão a firmeza.
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Uma pedagogia autêntica tem, pois, a importante tarefa de recuperar os valores perdidos. Mas para isso
é de máxima importância obter um âmbito em que seja possível a existência sem intenções, no livre
repouso em si mesma; e para isso serve, acima de tudo, o domingo. Não é só ausência de trabalho e
possibilidade de recuperação, mas sim festa: uma situação da vida em que se eleva à altura de Deus e se
liberta os homens. Se o domingo desaparece, isso representa um passo maior e mais decisivo até a
exteriorização da vida. Mas a perda de substâncias humanas e o enfraquecimento da energia autêntica,
formadora da história, que se derivaram disso, não se compensariam com nenhuma vantagem técnica ou
econômica. Dessa forma, ainda aqueles para quem o núcleo cristão do domingo já não é válido devem
levar em consideração esse elemento e não considerar somente o domingo mediante pontos de vista
técnicos ou de paridade formal, mas a partir de outros mais profundos.
Por outro lado, caso afirme-se que no dia de descanso alternado alguém pode aprofundar-se na religião,
só resta contestar que quem assim fala não conhece nem a natureza do domingo, nem a natureza do
homem. Realmente acredita que esse ponto do dia do Senhor, que vigora há mais de três mil anos, se
pode substituir por uma expressão do calendário que, por mandato das mais modernas utilidades, salta
de um dia semana a outro? E que a alma do homem responderá a esse artifício técnico-econômico,
aprofundando-se religiosamente nele? Só o Senhor de todos os dias pode tornar firme o seu dia e dar-lhe
essa santidade que percebe a intimidade disposta à fé, e da qual participam também aqueles que não
creem nele, de forma que não se dão conta.
(...)
Portanto só resta a luta. Os cristãos fariam bem em dar-se conta claramente disto. Dirão que são
atrasados; que têm interesses, por algum motivo, ou estão sendo pagos por alguém que o tenha; que
não compreendem o homem que trabalha, etc.; através da série de falseamento de motivos, tal qual
sempre vão surgindo. Na verdade, trata-se de algo simplesmente decisivo e não se pode ceder.

Uma questão de consciência

Entretanto, finalmente deve-se dizer algo mais; melhor, deve-se perguntar e é preciso fazê-lo com toda
franqueza. As manifestações da Igreja e a educação religiosa e moral têm feito tudo o que haviam de
fazer? Mais precisamente, não se há colocado o dever de santificação do domingo somente sob a
perspectiva do mandamento e da obrigação?
Obviamente, por trás do dia do Senhor está o terceiro mandamento da Lei de Deus. Não só – já se disse
– deve ele exercer mais importante influxo, mas também que nele reside o caráter de sua altura, que
encontra expressão no mandamento: “lembra-te de santificar o dia do Senhor”. Isso é verdade e não se
pode discutir de modo algum. Porém a promulgação e instrução ocuparam-se suficientemente também
de elaborar os valores do domingo e de apresentá-los convincentemente? O dia do Senhor se apresenta,
para o homem atual, em relação com sua vida, como realmente está, de tal modo que ele se sinta
compreendido e veja a ajuda que se lhe oferece aqui? Ou teve que perceber o mandamento do domingo
como algo que se herdou de um mundo pretérito, tendo sido imposto ao seu mundo atual? O
ensinamento e a prática ocuparam-se bastante em mostrar como se pode preencher o domingo com
elementos plenos de valor e que dão alegria?

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VIII. Carta Apostólica Dies Domini


João Paulo II, sobre a santificação do domingo

1. O dia do Senhor — como foi definido o domingo, desde os tempos apostólicos — mereceu sempre, na
história da Igreja, uma consideração privilegiada devido à sua estreita conexão com o próprio núcleo do
mistério cristão. O domingo, de fato, recorda, no ritmo semanal do tempo, o dia da ressurreição de
Cristo. É a Páscoa da semana, na qual se celebra a vitória de Cristo sobre o pecado e a morte, o
cumprimento n'Ele da primeira criação e o início da “nova criação” (cf. 2Cor 5,17). É o dia da evocação
adorante e grata do primeiro dia do mundo e, ao mesmo tempo, da prefiguração, vivida na esperança,
do “último dia”, quando Cristo vier na glória (cf. At 1,11; 1Ts 4,13-17) e renovar todas as coisas (cf. Ap
21,5).

7. O domingo é um dia que está no âmago mesmo da vida cristã. Se, desde o início do meu Pontificado,
não me cansei de repetir: “Não tenhais medo! Abri, melhor, escancarai as portas a Cristo”, hoje neste
mesmo sentido, gostaria de convidar vivamente a todos a redescobrirem o domingo: Não tenhais medo
de dar o vosso tempo a Cristo! Sim, abramos o nosso tempo a Cristo, para que Ele possa iluminá-lo e
dirigi-lo. É Ele quem conhece o segredo do tempo e o segredo da eternidade, e nos entrega o “seu dia”,
como um dom sempre novo do seu amor. Há de se implorar a graça da descoberta sempre mais
profunda deste dia, não só para viver em plenitude as exigências próprias da fé, mas também para dar
resposta concreta aos anseios íntimos e verdadeiros existentes em todo ser humano. O tempo dado a
Cristo, nunca é tempo perdido, mas tempo conquistado para a profunda humanização das nossas
relações e da nossa vida.

CAPÍTULO 1 – DIES DOMINI

8. O domingo, segundo a experiência cristã, é sobretudo uma festa pascal, totalmente iluminada pela
glória de Cristo ressuscitado. É a celebração da “nova criação”. Este seu caráter, porém, se bem
entendido, é inseparável da mensagem que a Escritura, desde as suas primeiras páginas, nos oferece
acerca do desígnio de Deus na criação do mundo. Com efeito, se é verdade que o Verbo Se fez carne na
“plenitude dos tempos” (Gl 4,4), também é certo que, em virtude precisamente do seu mistério de Filho
eterno do Pai, Ele é origem e fim do universo. Afirma-o S. João, no Prólogo do seu Evangelho: “Tudo
começou a existir por meio d'Ele, e sem Ele nada foi criado” (1,3). Também S. Paulo, ao escrever aos
Colossenses, o sublinha: “N'Ele foram criadas todas as coisas, nos Céus e na Terra, as visíveis e as
invisíveis [...]. Tudo foi criado por Ele e para Ele” (1,16). Esta presença ativa do Filho na obra criadora de
Deus revelou-se plenamente no mistério pascal, no qual Cristo, ressuscitando como “primícia dos que
morreram” (1Cor 15,20), inaugurou a nova criação e deu início ao processo que Ele mesmo levará a cabo
no momento do seu retorno glorioso, “quando entregar o Reino a Deus Pai [...], a fim de que Deus seja
tudo em todos” (1Cor 15,24.28).

Portanto, já na aurora da criação, o desígnio de Deus implicava esta “missão cósmica” de Cristo. Esta
perspectiva cristocêntrica, que se estende sobre todo o arco do tempo, estava presente no olhar
comprazido de Deus quando, no fim da sua obra, “abençoou o sétimo dia e santificou-o” (Gn 2,3). Nascia
então — segundo o autor sacerdotal da primeira narração bíblica da criação — o “sábado”, que
caracteriza profundamente a primeira Aliança e, de algum modo, preanuncia o dia sagrado da nova e
definitiva Aliança. O mesmo tema do “repouso de Deus” (cf. Gn 2,2) e do repouso por Ele oferecido ao
povo do êxodo, com o ingresso na terra prometida (cf. Ex 33,14; Dt 3,20; Js 21,44; Sl 95[94],11), é
relido no Novo Testamento sob uma luz nova, a do “repouso sabático” definitivo (cf. Hb 4,9), onde
entrou Cristo com a sua ressurreição e também o Povo de Deus é chamado a entrar, perseverando na
senda da sua obediência filial (cf. Hb 4,316). É necessário, portanto, reler a grande página da criação e
aprofundar a teologia do “sábado”, para chegar à plena compreensão do domingo.

“Recordar” para “santificar”


16. O mandamento do Decálogo, pelo qual Deus impõe a observância do sábado, tem, no livro do êxodo,
uma formulação característica: “Recorda-te do dia de sábado, para o santificares” (20,8). E mais adiante,
o texto inspirado dá a razão disso mesmo, apelando-se à obra de Deus: “Porque em seis dias o Senhor
fez o céu, a terra, o mar e tudo quanto contém, e descansou no sétimo; por isso o Senhor abençoou o
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dia de sábado e santificou-o” (v. 11). Antes de impor qualquer coisa a ser praticada, o mandamento
indica algo a recordar. Convida a avivar a memória daquela grande e fundamental obra de Deus que é a
criação. É uma memória que deve animar toda a vida religiosa do homem, para depois confluir no dia em
que ele é chamado a repousar. O repouso assume, assim, um típico valor sagrado: o fiel é convidado a
repousar não só como Deus repousou, mas a repousar no Senhor, devolvendo-Lhe toda a criação, no
louvor, na ação de graças, na intimidade filial e na amizade esponsal.

Passagem do sábado para o domingo


18. Por esta dependência essencial que o terceiro mandamento tem da memória das obras salvíficas de
Deus, os cristãos, apercebendo-se da originalidade do tempo novo e definitivo inaugurado por Cristo,
assumiram como festivo o primeiro dia depois do sábado, porque nele se deu a ressurreição do Senhor.
De fato, o mistério pascal de Cristo constitui a revelação plena do mistério das origens, o cume da
história da salvação e a antecipação do cumprimento escatológico do mundo. Aquilo que Deus realizou
na criação e o que fez pelo seu povo no êxodo, encontrou na morte e ressurreição de Cristo o seu
cumprimento, embora este tenha a sua expressão definitiva apenas na parusia, com a vinda gloriosa de
Cristo. N'Ele se realiza plenamente o sentido “espiritual” do sábado, como o sublinha S. Gregório Magno:
“Nós consideramos verdadeiro sábado a pessoa do nosso Redentor, nosso Senhor Jesus Cristo”. Por isso,
a alegria com que Deus, no primeiro sábado da humanidade, contempla a criação feita do nada, exprime-
se doravante pela alegria com que Cristo apareceu aos seus, no domingo de Páscoa, trazendo o dom da
paz e do Espírito (cf. Jo 20,19-23). De fato, no mistério pascal, a condição humana e, com ela, toda a
criação, que geme e sofre as dores de parto até ao presente (cf. Rm 8,22) conheceu o seu novo “êxodo”
para a liberdade dos filhos de Deus, que podem gritar, com Cristo, “Abba, Pai” (Rm 8,15; Gl 4,6). À luz
deste mistério, o sentido do preceito veterotestamentário do dia do Senhor é recuperado, integrado e
plenamente revelado na glória que brilha na face de Cristo Ressuscitado (cf. 2 Cor 4,6). Do “sábado”
passa-se ao “primeiro dia depois do sábado”, do sétimo dia passa-se ao primeiro dia: o dies Domini
torna-se o dies Christi!

CAPÍTULO 2 – DIES CHRISTI

19. “Nós celebramos o domingo, devido à venerável ressurreição de nosso


Senhor Jesus Cristo, não só na Páscoa, mas inclusive em cada ciclo
semanal”: assim escrevia o Papa Inocêncio I, nos começos do século V,
testemunhando um costume já consolidado, que se tinha vindo a
desenvolver logo desde os primeiros anos após a ressurreição do Senhor. S.
Basílio fala do “santo domingo, honrado pela ressurreição do Senhor,
primícia de todos os outros dias”. S. Agostinho chama o domingo
“sacramento da Páscoa”.

Esta ligação íntima do domingo com a ressurreição do Senhor é fortemente


sublinhada por todas as Igrejas, tanto do Ocidente como do Oriente. De
modo particular na tradição das Igrejas Orientais, cada domingo é a
anastàsimos hemèra, o dia da ressurreição, e precisamente por esta sua
característica, é o centro de todo o culto.

À luz desta tradição ininterrupta e universal, vê-se com toda a clareza que, embora o “dia do Senhor”
tenha as suas raízes, como se disse, na mesma obra da criação, e mais diretamente no mistério do
“repouso” bíblico de Deus, contudo é preciso fazer referência especificamente à ressurreição de Cristo
para se alcançar o pleno sentido daquele. É o que faz o domingo cristão, ao repropor cada semana à
consideração e à vida dos crentes o evento pascal, donde mana a salvação do mundo.

Progressiva distinção do sábado


23. É precisamente sobre esta novidade que insiste a catequese dos primeiros séculos, procurando
distinguir o domingo do sábado hebraico. O sábado, para os judeus, impunha o dever da reunião na
sinagoga e exigia a prática do repouso prescrito pela Lei. Os Apóstolos, e de modo particular S. Paulo,
continuaram de início a frequentar a sinagoga, para poderem anunciar lá Jesus Cristo, ao comentar “as
profecias que são lidas todos os sábados” (At 13,27). Em algumas comunidades, podia-se registrar a
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coexistência da observância do sábado com a celebração dominical. Bem cedo, porém, se começou a
diferenciar os dois dias de forma cada vez mais nítida, sobretudo para fazer frente às insistências
daqueles cristãos que, vindos do judaísmo, eram favoráveis à conservação da obrigação da Lei Antiga. S.
Inácio de Antioquia escreve: “Se os que viviam no antigo estado de coisas passaram a uma nova
esperança, deixando de observar o sábado e vivendo segundo o dia do Senhor, dia em que a nossa vida
despontou por meio d'Ele e da sua morte [...], mistério do qual recebemos a fé e no qual perseveramos
para sermos reconhecidos discípulos de Cristo, nosso único Mestre, como poderemos viver sem Ele, se
inclusive os profetas, que são seus discípulos no Espírito, O aguardavam como mestre?”. E S. Agostinho,
por sua vez, observa: “Por isso, o Senhor também imprimiu o seu selo no seu dia, que é o terceiro após a
paixão. Porém, no ciclo semanal, aquele é o oitavo depois do sétimo, isto é, depois do sábado, e o
primeiro da semana”. A distinção entre o domingo e o sábado hebraico vai-se consolidando sempre mais
na consciência eclesial, mas em certos períodos da história, devido à ênfase dada à obrigação do
descanso festivo, registra-se uma certa tendência à “sabatização” do dia do Senhor. Não faltaram,
inclusive, sectores da cristandade em que o sábado e o domingo foram observados como “dois dias
irmãos” (S. Gregório de Nissa).

O dia da nova criação


25. O domingo, com efeito, é o dia em que, mais do que qualquer outro, o cristão é chamado a lembrar
da salvação que lhe foi oferecida no batismo e que o tornou homem novo em Cristo. “Sepultados com Ele
no batismo, foi também com Ele que ressuscitastes pela fé no poder de Deus, que O ressuscitou dos
mortos” (Cl 2,12; cf. Rm 6,4-6). A liturgia põe em
evidência esta dimensão batismal do domingo, quer
exortando a celebrar os batismos, para além da
Vigília Pascal, também neste dia da semana “em
que a Igreja comemora a ressurreição do Senhor”
(Ritual do Batismo de Crianças), quer sugerindo,
como oportuno rito penitencial no início da Missa, a
aspersão com a água benta, que evoca
precisamente o evento batismal em que nasce toda
a existência cristã.

O oitavo dia, imagem da eternidade


26. Por outro lado, o fato de o sábado ser o sétimo dia da semana fez considerar o dia do Senhor à luz
de um simbolismo complementar, muito apreciado pelos Padres: o domingo, além de ser o primeiro dia,
é também “o oitavo dia”, ou seja, situado, relativamente à sucessão setenária dos dias, numa posição
única e transcendente evocadora, não só do início do tempo, mas também do seu fim no “século futuro”.
S. Basílio explica que o domingo significa o dia realmente único que virá após o tempo atual, o dia sem
fim, que não conhecerá tarde nem manhã, o século imorredouro que não poderá envelhecer; o domingo
é o prenúncio incessante da vida sem fim, que reanima a esperança dos cristãos e os estimula no seu
caminho. Nesta perspectiva do dia último, que realiza plenamente o simbolismo prefigurativo do sábado,
S. Agostinho conclui as Confissões falando do eschaton como “paz tranquila, paz do sábado, que não
entardece”. A celebração do domingo, dia simultaneamente “primeiro” e “oitavo”, orienta o cristão para a
meta da vida eterna.

CAPÍTULO 3 – DIES ECCLESIAE

46. Sendo a Eucaristia o verdadeiro coração do domingo, compreende-se por que razão, desde os
primeiros séculos, os Pastores não cessaram de recordar aos seus fiéis a necessidade de participarem na
assembleia litúrgica. “No dia do Senhor, deixai tudo — declara, por exemplo, o tratado do século III
denominado Didaskália dos Apóstolos — e zelosamente correi à vossa assembleia, porque é o vosso
louvor a Deus. Caso contrário, que desculpa terão junto de Deus aqueles que não se reúnem, no dia do
Senhor, para ouvir a palavra de vida e nutrir-se do alimento divino que permanece eternamente?”.
Geralmente o apelo dos Pastores foi recebido na alma dos fiéis com uma convicta adesão, e, se não
faltaram tempos e situações em que diminuiu a tensão ideal no cumprimento deste dever, não se pode,
todavia, deixar de recordar o autêntico heroísmo com que sacerdotes e fiéis observaram esta obrigação

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em muitas situações de perigo e restrição da liberdade religiosa, como se pode constatar desde os
primeiros séculos da Igreja até aos nossos dias.

47. Esta obrigação de consciência, baseada numa necessidade interior que os cristãos dos primeiros
séculos sentiam tão intensamente, a Igreja nunca cessou de a afirmar, embora, num primeiro tempo,
não tenha julgado necessário prescrevê-la. Só mais tarde, face à tibieza ou à negligência de alguns, teve
de explicitar o dever de participar na Missa dominical: a maior parte das vezes fê-lo sob forma de
exortação, mas às vezes recorreu também a disposições canônicas concretas. Assim aconteceu em
diversos Concílios particulares, do século IV em diante (por exemplo, no Concílio de Elvira, do ano 300,
não se fala de obrigação, mas de consequências penais depois de três ausências) e, sobretudo, a partir
do século VI (como sucedeu no Concílio de Agde, de 506). Estes decretos de Concílios particulares
desembocaram num costume universal de caráter obrigatório, como algo completamente óbvio.

O Código de Direito Canônico, de 1917, compilou pela primeira vez a tradição numa lei universal. O
Código atual confirma-a, dizendo que “no domingo e nos outros dias festivos de preceito, os fiéis têm
obrigação de participar na Missa”. Essa lei foi normalmente entendida como implicando obrigação grave:
assim o ensina o Catecismo da Igreja Católica, sendo fácil de compreender o motivo, quando se
considera a importância que o domingo tem para a vida cristã.

Outros momentos do domingo cristão


52. Se a participação na Eucaristia é o coração do domingo, seria contudo restritivo reduzir apenas a isso
o dever de “santificá-lo”. Na verdade, o dia do Senhor é bem vivido, se todo ele estiver marcado pela
lembrança agradecida e efetiva das obras de Deus. Ora, isto obriga cada um dos discípulos de Cristo a
conferir, também aos outros momentos do dia passados fora do contexto litúrgico — vida de família,
relações sociais, horas de diversão —, um estilo tal que ajude a fazer transparecer a paz e a alegria do
Ressuscitado no tecido ordinário da vida. Por exemplo, o encontro mais tranquilo dos pais e dos filhos
pode dar ocasião não só para se abrirem à escuta recíproca, mas também para viverem juntos algum
momento de formação e de maior recolhimento. Porque não programar, inclusive na vida laical, quando
for possível, especiais iniciativas de oração — de modo particular a celebração solene das Vésperas — ou
então eventuais momentos de catequese, que, na vigília do domingo ou durante a tarde deste, preparem
ou completem na alma do cristão o dom próprio da Eucaristia?

Esta forma assaz tradicional de “santificação do domingo” tornou-se talvez mais difícil, em muitos
ambientes; mas, a Igreja manifesta a sua fé na força do Ressuscitado e no poder do Espírito Santo
mostrando, hoje mais do que nunca, que não se contenta com propostas minimalistas ou medíocres no
plano da fé, e ajudando os cristãos a cumprirem aquilo que é mais perfeito e agradável ao Senhor. Aliás,
a par das dificuldades, não faltam sinais positivos e encorajadores. Graças ao dom do Espírito, nota-se,
em muitos ambientes eclesiais, uma nova exigência de oração na múltipla variedade das suas formas.
Retomam-se também antigas formas de religiosidade, como, por exemplo, a peregrinação: muitas vezes
os fiéis aproveitam o descanso dominical para irem aos Santuários, talvez mesmo com a família inteira,
passar algumas horas mais de intensa experiência de fé. São momentos de graça que é preciso alimentar
com uma adequada evangelização e guiar com verdadeira sabedoria pastoral.

CAPÍTULO 4 – DIES HOMINIS

O dia do descanso
64. Durante alguns séculos, os cristãos viveram o domingo apenas como dia do culto, sem poderem
juntar-lhe também o significado específico de descanso sabático. Só no século IV é que a lei civil do
Império Romano reconheceu o ritmo semanal, fazendo com que, no “dia do sol”, os juízes, os habitantes
das cidades e as corporações dos diversos ofícios parassem de trabalhar. Grande contentamento
sentiram os cristãos ao verem assim afastados os obstáculos que, até então, tinham tornado por vezes
heroica a observância do dia do Senhor. Podiam agora dedicar-se à oração comum, sem qualquer
impedimento.

65. Por outro lado, a ligação entre o dia do Senhor e o dia do descanso na sociedade civil tem uma
importância e um significado que ultrapassam o horizonte propriamente cristão. De fato, a alternância de
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trabalho e descanso, inscrita na natureza humana, foi querida pelo próprio Deus, como se deduz da
perícope da criação no livro do Gênesis (cf. 2,2-3; Ex 20,8-11): o repouso é coisa “sagrada”, constituindo
a condição necessária para o homem se subtrair ao ciclo, por vezes excessivamente absorvente, dos
afazeres terrenos e retomar consciência de que tudo é obra de Deus. O poder sobre a criação, que Deus
concede ao homem, é tão prodigioso que este corre o risco de esquecer-se que Deus é o Criador, de
quem tudo depende. Este reconhecimento é ainda mais urgente na nossa época, porque a ciência e a
técnica aumentaram incrivelmente o poder que o homem exerce através do seu trabalho.

67. Graças ao descanso dominical, as preocupações e afazeres quotidianos podem reencontrar a sua
justa dimensão: as coisas materiais, pelas quais nos afadigamos, dão lugar aos valores do espírito; as
pessoas com quem vivemos, recuperam, no encontro e diálogo mais tranquilo, a sua verdadeira
fisionomia. As próprias belezas da natureza — frequentemente malbaratadas por uma lógica de domínio,
que se volta contra o homem — podem ser profundamente descobertas e apreciadas. Assim o domingo,
dia de paz do homem com Deus, consigo mesmo e com os seus semelhantes, torna-se também ocasião
em que o homem é convidado a lançar um olhar regenerado sobre as maravilhas da natureza, deixando-
se envolver por aquela estupenda e misteriosa harmonia que, como diz S. Ambrósio, por uma “lei
inviolável de concórdia e de amor”, une os diversos elementos do universo num “vínculo de união e de
paz”. Então, o homem torna-se mais consciente, segundo as palavras do Apóstolo, de que “tudo o que
Deus criou é bom, e não é para desprezar, contanto que se tome em ação de graças, pois é santificado
pela palavra de Deus e pela oração” (1Tm 4,4-5). Portanto, se depois de seis dias de trabalho — para
muitos, na verdade, reduzidos já a cinco — o homem procura um tempo para relaxe e para cuidar melhor
dos outros aspectos da própria vida, isso corresponde a uma real necessidade, em plena harmonia com a
perspectiva da mensagem evangélica. Consequentemente, o crente é chamado a satisfazer esta
exigência, harmonizando-a com as expressões da sua fé pessoal e comunitária, manifestada na
celebração e santificação do dia do Senhor.

Dia de solidariedade
69. O domingo deve dar oportunidade aos fiéis para se dedicarem também às atividades de misericórdia,
caridade e apostolado. A participação interior na alegria de Cristo ressuscitado implica a partilha total do
amor que pulsa no seu coração: não há alegria sem amor! O próprio Jesus no-lo explica, ao pôr em
relação o “mandamento novo” com o dom da alegria: “Se guardardes os meus mandamentos,
permanecereis no meu amor, do mesmo modo que Eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai, e
permaneço no seu amor. Digo-vos isto para que a minha alegria esteja em vós, e a vossa alegria seja
completa. O meu mandamento é este: Que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei” (Jo 15,10-12).

Assim, a Eucaristia dominical não só não desvia dos deveres de caridade, mas, pelo contrário, estimula os
fiéis “a tudo o que seja obra de caridade, de piedade e apostolado, onde os cristãos possam mostrar que
são a luz do mundo, embora não sejam deste mundo, e que glorificam o Pai diante dos homens”.

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Breve 51
Percurso pelo Ano Litúrgico
“Como a estrada que serpenteia ao redor da montanha e assim lentamente a escala até chegar ao cume escarpado,
assim nós, voltando a cada ano, devemos recomeçar o mesmo caminho, atingindo sempre uma altitude mais
elevada, até que alcancemos finalmente o objetivo, Cristo.”

CASEL, Odo. O Mistério do Culto no Cristianismo. São Paulo: Edições Loyola, 2009, p.85.

Quadro Ilustrativo do Ano Litúrgico (Fonte: Apostolado Litúrgico)

TEMPO DO ADVENTO (JR)

“Advento” não significa “aguardar” como se poderia estar disposto a admitir, mas é a tradução do
termo grego “parusia”, que significa “presença” ou, mais exatamente, “chegada”, isto é, presença
iniciada. Na Antiguidade, a palavra era o termo técnico para a presença de um rei ou monarca, ou
também do deus o culto que concede aos seus o tempo de sua “parusia”. Portanto, Advento significa
presença iniciada – a saber, de Deus mesmo. Por isso, o Advento nos lembra duas coisas: primeiro,
que a presença de Deus no mundo já começou, que ele está presente de modo oculto; segundo, que a
sua presença precisamente apenas começou, ainda não está consumada, mas ainda a crescer, a devir, a
amadurecer.

Pode-se dizer que a liturgia do Advento forma uma espécie de tríptico. Num quadro desse altar de três
partes está João Batista como a grande figura que domina o Advento. O outro quadro mostra Maria,
a Mãe do Senhor. Ambos apontam para o quadro central: Jesus Cristo. São João Batista e Maria
Santíssima são os dois grandes tipos da existência segundo o Advento. Por isso dominam a sua liturgia.

51
Anotações extraídas de RATZINGER, Joseph [JR]. Dogma e Anúncio. 2ª ed. São Paulo, Edições
Loyola: 2008, páginas 271 a 369; e de BOROBIO, Dionisio [DB] (org.). A Celebração Cristã. Vol. 3. São
Paulo, Edições Loyola: 2000, páginas 31 a 252.
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TEMPO DO NATAL (DB)

Não se pode fazer teologia do Natal e da Epifania apenas


do ponto de vista do nascimento de Jesus, mas
deve-se evidentemente apoiar-se no aspecto da manifestação
do Senhor. É certo que o início de sua manifestação é
seu nascimento segundo a carne, mas só será plena essa
manifestação com sua morte-ressurreição-ascenção e efusão
do Espírito Santo; e mais, só culminará sua manifestação em
sua segunda vinda no fim dos tempos.

Temos que elaborar sobre esse paradigma a teologia do Natal


e da Epifania, contemplando o nascimento do Senhor não
como
acontecimento isolado, mas como acontecimento plenamente conjugado com a páscoa e a parusia. É
claro que os textos da celebração litúrgica desses mistérios nos devem servir de base e fonte para sua
teologia.

Natal: memória ou mistério?


Essa questão foi suscitada por Agostinho ao afirmar que o Natal não é mistério (sacramento) da
mesma forma que a Páscoa; o Natal para Agostinho é mera recordação (memória) do nascimento de
Jesus, ainda que a data dessa memória não seja a data aniversária mas apenas data propícia para recordar
o acontecimento por causa do simbolismo da luz.

Leão, ao contrário, não considera a festa do Natal somente memória, mas também mistério, ou
seja, sacramentum. A argumentação de Leão fundamenta-se na contemplação complexiva do único
mysterium salutis que se atualiza cada vez que se celebra algum de seus aspectos; por isso, Leão
contempla a festa do Natal em relação com a Páscoa, e vê nela o início de nossa redenção.

TEMPO DA QUARESMA (JR)

A palavra Quaresma com que designamos os dias entre a Quarta-Feira de


Cinzas e a Páscoa não diz nada do que a Igreja quer com esse tempo.
Originariamente era o tempo da administração do Batismo, quer dizer, o
tempo de tornar-se cristão, o que não se acredita ser possível realizar num
breve momento, mas apenas por um caminho de transformação, de
conversão que o homem deve percorrer passo a passo. Se mais tarde
nesse caminho foram incluídos os penitentes e, finalmente, toda a Igreja,
então se exprime a convicção de que esse caminho não se pode percorrer de
uma vez até o fim; ele abrange toda a nossa vida, deve ser percorrido
sempre de novo. Assim, a quaresma quer conservar presente na nossa
lembrança e na nossa vida que o ser cristão sempre se pode realizar apenas
como novo tornar-se cristão, que nunca é um processo terminado que fique
atrás de nós, mas exige sempre um novo exercício.

 Ser cristão significa em primeiro lugar que reconhecemos a nossa insuficiência, que deixamos
que Ele, o Deus que é outro, disponha de nós.
 O nosso mundo está de tal modo atravancado de coisas superficiais e de primeiro plano que
sempre estamos em perigo de só vermos ainda as partes e não mais o todo. É preciso vencer a
si mesmo, para ver mais fundo e tornar-se livre da ditadura das coisas só de primeiro plano. (...)
Precisamos de um jejum que nos liberte de nós mesmos, nos liberte para Deus, tornando-nos
livres para os outros.
 O fato de que o jejum cristão tem que ser um sair libertador do próprio eu inclui a exigência de
que o tempo do jejum também fosse um tempo de fecundidade em boas ações.
 A Igreja no deserto, a Igreja na Quadragesima, é a nossa experiência: exposição no vazio, num
mundo que religiosamente parece ter-se tornado sem palavra, nem imagem, nem som.
Exposição a um mundo no qual o céu acima de nós é escuro, distante e intangível.
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TRÍDUO PASCAL (DB)

Esse Tríduo [não se constitui numa preparação para a celebração da Páscoa anual, mas] é a própria
realidade da Páscoa do Senhor celebrada sacramentalmente em três dias, cujo centro de gravitação se
acha obviamente na Vigília Pascal com sua celebração eucarística. As Normas gerais sobre o ano
litúrgico precisam, com efeito, que o “tríduo pascal da paixão e ressurreição do Senhor tem seu início na
missa da Ceia do Senhor, seu ápice na vigília pascal e seu termo nas vésperas do domingo da
ressurreição”.

TEMPO PASCAL (JR)

No seu grandioso quadro da ressurreição, Matthias


Grünewald representou a Cristo que ressuscita como
teofania: como o aparecimento de Deus no homem que
passou pelo sacrifício. Assim traduziu para a pintura um
pensamento básico da teologia bíblica e paleocristã da
ressurreição, dando-lhe uma força de expressão, como as
palavras não a podem alcançar. De fato, o sentido
propriamente dito é este: a ressurreição de Cristo nos dá a
certeza de que Deus existe e que como Pai de Jesus Cristo é o
Deus dos homens. A ressurreição de Jesus é a teofania
definitiva, a resposta triunfal à pergunta sobre quem agora reina
propriamente, a morte ou a vida. Deus existe – é esta a mensagem
propriamente dita da Páscoa. Quem, ao menos, começa a
compreender o que isso quer dizer, sabe o que significa ser
redimido. Sabe, por que a Igreja neste dia, nas suas orações,
canta quase interminavelmente aleluia – o júbilo sem palavras
que é grande demais para ser articulado em palavras da
linguagem de cada dia, porque abrange toda a nossa vida,
tanto o que se pode dizer como o que é inefável. Aprender
alguma coisa dessa alegria significa celebrar a Páscoa!
A Ressurreição, por Matthias Grünewald (1516)

TEMPO COMUM52

O tempo comum é uma grande oportunidade para integrar as situações mais comuns da vida dos homens
no mistério de Cristo. É o que alguns autores chamam a teologia do “tempo cotidiano”. A
chave da espiritualidade desse tempo é sempre o mistério de Cristo no dia tomado como unidade
básica, santificado pela celebração eucarística e pela Liturgia das Horas. O começo de cada dia traz a
recordação da nova criação inaugurada na Ressurreição do Senhor, as horas médias evocam a vinda do
Espírito em Pentecostes (nove horas), a crucificação (doze horas) e a Morte de Jesus (quinze horas).
As vésperas convidam a se unir ao sacrifício vespertino da cruz consagrado na última Ceia. E, no
centro, a Eucaristia, verdadeira Páscoa cotidiana na qual o cristão pode se unir à ação sacerdotal de
Cristo e apresentar sua própria vida como oferenda pura, agradável a Deus e culto espiritual (cf. Rm
12,1).

Os Anos A, B e C
A Igreja estabeleceu uma sequência de leituras bíblicas que se repetem a cada três anos, nos domingos e
nas solenidades. As leituras desses dias são divididas nos anos A, B e C. No ano A lê-se o
Evangelho de São Mateus; no ano B, o de São Marcos e no ano C, o de São Lucas; contemplando,
assim, os Evangelhos Sinóticos. Já o Evangelho segundo São João é reservado para ocasiões especiais,
como o Tempo Pascal, e dias de Festas e Solenidades.

52
Extraído de MARTÍN, Julián López. A Liturgia da Igreja. São Paulo: Paulinas, 2006, p. 390.
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As Cores Litúrgicas

Na SC 122, lemos que “a Santa Mãe Igreja sempre foi amiga das belas-artes e de seu nobre ministério”. A
arte está expressa de diferentes maneiras no culto cristão: através da música, das imagens sacras e,
também, através das sagradas alfaias, que exprimem, pela sua cor, o sentimento que deve brotar no
coração daquele que ora ao longo dos diferentes momentos do Ano Litúrgico. Trata-se de contribuir para
a celebração sensorial: o uso do incenso, os ritmos musicais, o abraço fraterno, o pão da eucaristia e as
cores litúrgicas visam a envolver aquele que celebra de maneira completa através dos sentidos para que
possam chegar ao transcendente – aquele que ultrapassa todos os sinais materiais, tão necessários para a
realidade humana.
Pode-se perceber que as alfaias que adornam o altar, o tabernáculo, o ambão e mesmo os paramentos
do clero seguem algumas cores (fixadas no séc. XII) que procuram convergir com o mistério celebrado.
Assim, toda a Igreja (salvo exceção devido a alguma diferença cultural) usa uma única cor, quando
celebra a mesma liturgia, manifestando claramente a unidade profunda do Corpo Místico de Cristo.

 Branco – sinal de alegria, ressurreição, pureza, vitória. Usado na Páscoa, no Natal, nas
solenidades e festas do Senhor e de Maria e dos santos (a exceção dos Apóstolos e Mártires);

 Vermelho – recorda o fogo do Espírito e o sangue derramado, por isso é usado nas
solenidades dos Apóstolos e Mártires, no Domingo de Ramos, na Sexta-Feira Santa e na
solenidade de Pentecostes;

 Verde – traz à mente o crescimento dos vegetais, que recorda a expansão da fé, da Igreja,
da Palavra de Deus em nosso meio, sendo usado no Tempo Comum;

 Roxo – como símbolo de penitência e conversão, é usado no Advento e na Quaresma;


podendo também ser usado nas missas dos fiéis defuntos e no sacramento da Reconciliação;

 Rosa – facultado ao 3º Domingo do Advento (Gaudete) e ao 4º Domingo da Quaresma


(Laetare), o rosa recorda que o Sol se aproxima pelo Natal e pela Páscoa, o que torna o roxo mais
suave e ameno, anunciando a chegada da Luz;

 Preto – símbolo de tristeza e luto, era a cor das celebrações dos fiéis defuntos, mas
com a renovação do Concílio Vaticano II, que ordenou uma revisão nas celebrações das
exéquias (SC 81), caiu em desuso, embora não seja proibido.

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IX. Espiritualidade Litúrgica


Juan 53
Javier Flores

Uma reflexão “espiritual” a partir do dado litúrgico

Com o Concílio Vaticano II chegou-se, finalmente, a sintetizar todos


os anseios do movimento litúrgico, de seus pioneiros, de seus
teóricos, de suas obras, que desembocaram numa autêntica teologia
da liturgia, até o ponto de, no dizer de Marsili, dever-se falar de uma
verdadeira “teologia da celebração litúrgica”, superando, assim,
preconceitos e precompreensões infundadas. Tal é a liturgia que hoje
nos afeta e nos interpela diretamente. A liturgia é a forma e o modo
que Deus nos oferece para falar com ele.

A reflexão que temos de fazer deve conduzir-nos a uma


espiritualidade litúrgica, que, por sua vez, nos abra à experiência
divina. Portanto, o único caminho possível parte da teologia da
celebração litúrgica e desemboca numa espiritualidade que leva
diretamente à vida vivida.

Desde o momento em que a espiritualidade é a reflexão teológica


sobre o viver cristão e a liturgia é a celebração do mistério pascal de
Cristo, sabendo que “Cristo é a plenitude do culto divino” (SC, n. 5),
essa celebração e a consequente reflexão sobre Cristo (como plenitude do culto) devem fundir-se numa
experiência cheia de sentimentos e de vivência espiritual. Nessa experiência a dimensão pessoal não
anula a comunitária, tampouco deve haver ruptura entre a dimensão interior e a exterior, desde o
momento em que ambos os elementos são realidades indissolúveis do ser humano e, portanto, se
colocam em relação em tudo o que nos leva a entrar em contato com a divindade.

A essa visão comunitária da celebração não se opõe de modo algum à vivência interpessoal de cada
membro, porque está carregada de elementos espirituais, desde o momento em que não podemos
esquecer que não pode haver uma liturgia sem a dimensão mais pessoal do ser humano. Essa dimensão,
que adquire força na vida, supõe um prolongamento existencial da liturgia.

Partindo do princípio de que “toda celebração litúrgica, pois, como obra de Cristo sacerdote e de seu
corpo, a Igreja, é ação sagrada por excelência, cuja eficácia, com o mesmo título e no mesmo grau, não
a iguala nenhuma outra ação da Igreja” (SC, n. 7), toda comunidade eclesial deve realizar o esforço por
centrar suas melhores forças na celebração litúrgica, com uma especial consideração da eucaristia.

A oração é um momento particular de nossa existência, no qual se realiza uma especial relação com
Deus, que nenhuma outra reunião ou assembleia humana poderá substituir. Na oração, feita mais de
silêncio do que de palavras, é o Espírito que fala em nós, fazendo com que nossos sentimentos se
insiram no fluxo de amor eterno que o Pai dá ao Filho e este, por sua vez, em ação de graças, devolve ao
Pai. Com a oração, entramos em comunhão com Deus, vivemos sua vida divina, tornamo-nos
contemplativos dos mistérios de sua vida humano-divina, que celebramos na ação litúrgica. O conceito de
oração pode revelar o tipo de espiritualidade ao qual estamos habituados ou no qual recebemos certa
54
educação. O Catecismo da Igreja Católica diz que todo tipo de oração encontra seu sentido e sua razão
na liturgia. Se, quando se fala de oração, se continua vendo unicamente o contato íntimo e pessoal com
o Senhor, onde a dimensão comunitária está ausente, corremos o risco de reduzi-la e minimiza-la.

Se, ao contrário, entendemos por oração uma ação comunitária e eclesial, que invade toda a celebração,
então a oração constituirá o substrato de toda celebração e seu elemento catalisador, evitando tanto uma
celebração que se transforme em um “acontecimento” como um conjunto de rubricas perfeitamente
53
FLORES, Juan Javier. Introdução à Teologia Litúrgica. São Paulo : Paulinas, 2006, p. 398 a 405.
54
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desenvolvidas e celebradas na própria oração, que, ao carecer da dimensão orante, carece de


fundamento.

Apesar da clareza com a qual se expressam os textos pós-conciliares e os documentos do magistério, não
se chegou, ainda, à meta fixada. Embora com os novos livros litúrgicos tenhamos chegado a uma
descoberta da celebração litúrgica que deu esperanças motivadas de renovação, não conseguimos
traduzir o conteúdo desses livros em nossa espiritualidade eclesial presente concretamente na vida cristã
(de cada fiel).

Continua aberto, portanto, o problema da relação entre a vida espiritual e a vida litúrgica e da
consequente experiência de Deus. Toda experiência divina tem sua fonte e seu modo de ser na
celebração litúrgico-sacramental. Sobre isso, poderiam ser feitas as seguintes propostas de
espiritualidade litúrgica como desejo de esclarecer as relações entre teologia, celebração e vida:

1. A espiritualidade litúrgica é comunitária, mas não exclui a vivência pessoal: a dimensão


comunitária deve acontecer continuamente. Da dimensão comunitária à dimensão pessoal há um fluxo
recíproco que supõe um intercâmbio de experiências de natureza interior. Celebra-se em comum e adora-
se em particular, mas sem que a dimensão privada deixe de ser interior e, ao mesmo tempo,
comunitária. Para tornar concretos os princípios da constituição sobre a sagrada liturgia, promulgou-se a
instrução geral Inter oecumenici, a fim de aplicar devidamente a Sacrosanctum concilium (26 de julho de
1965), na qual se estabelece que, para que os fiéis se acostumem a participar plenamente na celebração
litúrgica e para alimentar através dela sua própria vida espiritual para comunicá-la depois aos demais,
devem ser levados à prática seus conteúdos nos seminários e nas casas de estudo e de formação. Trata-
se, portanto, de assimilar a celebração na vida e de inserir nesta sua força renovadora. Essa contínua e
recíproca relação entre tais dimensões, que vão além da simples celebração e superam a vida cotidiana,
introduz-nos no tempo de Deus.

2. A centralidade eucarística não pode ficar à margem da vida espiritual de uma comunidade
cristã: trata-se de chegar a um maior entendimento da celebração eucarística e de traduzir em realidade
o que santo Tomás, a propósito da eucaristia, dizia: “o efeito próprio desse sacramento é a conversão do
ser humano a Cristo, vindo a dizer com o apóstolo: Vivo, mas não eu, na verdade, é Cristo que vive em
mim” (Gl 2,20). O grande mérito da reforma litúrgica promovida pelo Papa Paulo VI e continuada por
João Paulo II consistiu em abrir as portas para uma autêntica espiritualidade litúrgica. A eucaristia foi
definida como “fonte e vértice de toda a vida cristã”. Graças à espiritualidade litúrgica não podemos
permanecer nos aspectos históricos ou rubricistas – certamente importantes – mas temos de tentar
chegar ao coração da celebração para beber da fonte de onde indiscutivelmente brota a totalidade da
vida da Igreja.

3. Deve-se conhecer, celebrar, viver e assimilar o melhor possível todo o mistério eucarístico,
centro da liturgia cristã, e fazer dele o centro da comunidade cristã:
a centralidade da eucaristia exige um esforço notável de atingimento de
toda a comunidade, pois é o paradigma de uma ação celebrativa que
constitui a vida da comunidade no espaço e no tempo, no passado e no
hoje, desde os primeiros séculos até o momento atual. Na eucaristia realiza-
se cada igreja diocesana e particular; nela cada comunidade cristã faz-se
universal, aberta às dimensões missionária e contemplativa.

4. Com a eucaristia chegamos ao núcleo mais original e autêntico


da espiritualidade cristã, numa chave litúrgico-experiencial: na
celebração eucarística encontramos realizada em grau máximo a presença
do Senhor e de sua obra salvífica. A passagem da celebração para a vida é
fundamental. O papa Leão Magno expressava-o com estas palavras: “Que se
complete a obra celebrada no sacramento”.

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5. A primazia da eucaristia consiste numa celebração memorial de Cristo como Salvador,


mediante a qual nos tornamos co-herdeiros e comensais à espera do banquete eterno: a
comunidade eucarística torna-se uma só com a celebração. Uma expressão de são João Crisóstomo
denota essa simbiose: “Não queremos somente aderir a Cristo, mas queremos também nos unir a ele,
porque, se nos separarmos dele, pereceremos”. Na celebração eucarística, fazendo-nos comensais da
mesa de Cristo, introduzimo-nos no mesmo mistério eucarístico no qual comungamos. A participação na
vida gloriosa do Deus feito homem, Jesus Cristo, é-nos concedida já na forma de banquete neste mundo,
como antecipação do banquete escatológico, desde o momento no qual a eternidade age já entre o
tempo e a plenitude de Cristo, até chegar a nós.

6. A participação no único pão eucarístico realiza a unidade da comunidade celebrante,


fazendo dela uma só em Cristo: como os grãos de trigo, antes dispersos, se unem no pão, agora,
mediante o pão eucarístico, os seres humanos de todos os tempos e de todos os povos transformam-se
em um só corpo, que é a Igreja. Desse corpo eclesial faz parte a comunidade celebrante, que, durante o
tempo e no hoje, reúne-se no banquete do Senhor, vivendo, assim, a experiência de sua presença
permanente. Nesse hoje da celebração realiza-se o mistério do tempo nem tríplice nível: como
categorização do hoje, como relação mais íntima entre a celebração e a divindade e como fato admirável,
segundo o qual a dimensão divina, entrando na história, deixa-a carregada de eternidade. Na celebração
encontramos o tempo pleno do acontecimento salvífico, sabendo que este é já, em sai mesmo,
celebração.

7. A celebração do louvor divino transforma os elementos eucarísticos em chave orante e


estende-se para a vida: existe um modo privilegiado de penetrar na experiência religiosa que
poderíamos chamar sacramentalidade em chave orante. Trata-se de penetração-compreensão de toda a
realidade mistérica numa dimensão de súplica e de louvor, portanto, oracional. Por isso, “no vértice de
sua celebração litúrgica, a Igreja reconhece-se na presença mística do sacrifício de Cristo como mistério
de sua fé”, acontece a unidade e a identificação entre o mistério original e o mistério do culto, entre a
paixão e cada celebração da eucaristia, que se abrem para novas perspectivas, onde o mistério de Cristo
entra no louvor oracional da Igreja de maneira sinérgica.

8. Uma reflexão “vivificante” a partir do dado litúrgico: a vida espiritual da Igreja passa através da
liturgia. Assim o expressava João Paulo II: “Na liturgia, a Igreja compreende-se a si mesma, alimenta-se
na mesa da Palavra e do pão da vida, recupera forças todos os dias para continuar o caminho que deve
conduzi-la à alegria e à paz da terra prometida”.

A liturgia não se esgota na celebração, mas existe um antes e um depois que devem ser cuidados com
atenção. Se a celebração é a fonte e o vértice da vida da Igreja, sua preparação será muito importante e
não será menos importante seu prolongamento. Assim, da celebração passamos para a vida. Não pode
haver divórcio entre celebração e vida. A celebração litúrgica exige e postula uma vida litúrgica, que,
imersa na celebração das coisas sagradas, busca seu prolongamento na vida espiritual e na experiência
do viver cotidiano.

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X. Estudo Dirigido – 1
Leia o Catecismo da Igreja Católica (§ 1066 a 1112) e responda às seguintes questões:

1. Na Liturgia, toda a oração cristã encontra sua __________________ e seu ___________________.

2. A bênção divina penetra na história da humanidade a partir de _________________________.

3. A dupla dimensão da liturgia consiste em que, de um lado, a Igreja bendiga a ________________ e,

de outro, Deus envie o seu _________________________________ sobre a Igreja.

4. Ao derramar sobre os Apóstolos seu Espírito, Cristo lhes concede o poder de ____________________.

5. É o Espírito Santo que prepara a assembleia: dá aos leitores e ouvintes a compreensão da

_____________________________; recorda à comunidade tudo aquilo que ________________ fez por

nós; e torna presente o mistério celebrado.

Leia o livro “Liturgia – Mistério da Salvação”, do Monsenhor Guido Marini, e responda às seguintes
questões:

6. Devemos acolher a Liturgia da Igreja como um ______________ e nos deixarmos transformar por ela,

visto que trata-se de uma ação _____________________ por excelência.

7. Entendida dessa forma, fica claro que a Liturgia não pode ser manipulada e renunciamos a procurar

nela nossa _________________________________.

8. Rezar voltado para o Oriente expressa de forma visível que nosso coração está voltado a

____________________.

9. Tudo na Liturgia deve nos levar à ____________________ e à união com Deus.

10. Ter a _________________________ como meta é o testemunho mais expressivo de uma

participação ____________________ na Liturgia.

Pergunta final:
O que você entende pela frase: “a Liturgia é um dom que nos precede”?

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XI. Diretório para Celebrações Dominicais na Ausência do Presbítero


Congregação para o Culto Divino
2 de junho de 1988

O "Diretório para as celebrações dominicais na partida o n. 106 da Constituição Sacrosanctum


ausência do presbítero" é uma resposta a Concilium (n. 8).
diversos fatores convergentes. O primeiro deles A segunda parte prevê as condições necessárias
é a realidade atual: nem sempre e em toda a para decidir destas assembleias na ausência do
parte é possível realizar uma celebração plena do presbítero, numa diocese, de maneira habitual.
domingo (n. 2). Outro fator é: o pedido de várias Do ponto de vista orientativo e prático é a parte
conferências episcopais, que nos últimos anos mais importante do documento. Quanto aos
solicitaram à Santa Sé orientações para esta leigos prevê-se, em tal caso, a sua colaboração.
situação de fato (n. 7). Em terceiro lugar o fator Trata-se dum exemplo das responsabilidades que
experiência: a Santa Sé, através de indicações e os pastores podem entregar a membros da sua
orientações gerais, e vários bispos nas suas comunidade.
Igrejas particulares, ocuparam-se deste assunto. A terceira parte é uma descrição breve do rito
O Diretório beneficiou-se da experiência de todas das celebrações dominicais da Palavra com
estas intervenções ao avaliar as vantagens e ao distribuição da Eucaristia.
mesmo tempo os possíveis limites de tais Como noutros documentos semelhantes, a
celebrações. aplicação deste Diretório depende de cada bispo,
O pensamento fundamental de todo o Diretório é de acordo com a situação da sua Igreja, e,
o de assegurar, da melhor maneira e em cada quando se trata de normas mais amplas,
caso, a celebração cristã do domingo, sem depende da Conferência Episcopal.
esquecer que a Missa permanece a sua O que é importante é assegurar às comunidades
celebração própria, mas reconhecendo ao que se encontram em tais situações a
mesmo tempo a presença de elementos possibilidade de se reunirem no domingo, tendo
importantes, mesmo quando ela não pode ser a preocupação de inserir estas reuniões na
celebrada. celebração do ano litúrgico (n. 36) e de as
Este documento não pretende promover e ainda relacionar com a parte da comunidade que
menos facilitar de maneira desnecessária ou celebra a Eucaristia à volta do próprio pastor (n.
artificial as assembleias dominicais sem 42).
celebração da Eucaristia. Ele quer apenas Em todos os casos, o fim pastoral do domingo
orientar e regulamentar aquilo que convém fazer segundo as afirmações de Paulo VI (n. 21) e de
quando as circunstâncias reais reclamam uma João Paulo II (n. 50) continua a ser o de
decisão deste gênero (n. 21, 12). sempre: celebrar e viver o domingo de acordo
A primeira parte do Diretório é inteiramente com a tradição cristã.
dedicada à apresentação, de modo esquemático,
do sentido do domingo e toma como ponto de Cidade do Vaticano, junho de 1988.

PROÊMIO
1. A Igreja de Cristo, desde o dia de Pentecostes, após a descida do Espírito Santo, sempre se reuniu
fielmente para celebrar o mistério pascal, no dia que foi chamado "domingo", em memória da
ressurreição do Senhor. Na assembleia dominical a Igreja lê aquilo que em todas as Escrituras se refere a
55
Cristo e celebra a Eucaristia como memorial da morte e ressurreição do Senhor, até que Ele venha.
2. Todavia nem sempre se pode ter uma celebração plena do domingo, pelo que muitos têm sido e ainda
são os fiéis aos quais, "por falta do ministro sagrado ou por outra causa grave, se torna impossível
56
participar na celebração eucarística" .
3. Em diversas regiões, depois da primeira evangelização, os bispos confiaram aos catequistas o encargo
de reunir os fiéis no dia de domingo e de dirigir a sua oração na forma dos exercícios de piedade. Com
efeito, os cristãos, tendo aumentado em número, achavam-se dispersos em muitos lugares, por vezes até
afastados, de modo que o sacerdote não podia reuni-los cada domingo.

55
Cf. Lc 24,27.
56
CIC. cân. 1248, parágr. 2.
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4. Noutros lugares, por causa da perseguição contra os cristãos, ou por outras severas limitações
impostas à liberdade religiosa, é totalmente proibido aos fiéis reunirem-se no domingo. E tal como
57
outrora houve cristãos, que se mantiveram fiéis à participação na assembleia dominical até ao martírio ,
assim hoje há os que tudo fazem por se reunir no domingo para orar, em família ou em pequenos
grupos, mesmo quando privados da presença do ministro sagrado.
5. Por outro lado, nos nossos dias, em várias regiões, cada paróquia já não pode usufruir da celebração
da Eucaristia em cada domingo, porque o número dos sacerdotes diminuiu. Além disso, em virtude das
circunstâncias sociais e econômicas, muitas paróquias despovoaram-se. Por tal motivo, a muitos
presbíteros foi entregue o encargo de celebrar a Missa várias vezes no domingo, em igrejas dispersas e
distantes entre si. Mas tal costume não parece sempre oportuno, nem para as paróquias privadas de
pastor próprio, nem para esses mesmos sacerdotes.
6. Por isso, em algumas Igrejas particulares, nas quais se verificam as condições acima referidas, os
bispos julgaram necessário estabelecer outras celebrações dominicais, na falta do presbítero, para que a
reunião semanal dos cristãos se realize do melhor modo possível, e seja assegurada a tradição cristã no
domingo.
Não raro, sobretudo em terras de missão, os próprios fiéis, conscientes da importância do domingo, com
a cooperação dos catequistas e dos religiosos, reúnem-se para ouvir a palavra de Deus, para orar e por
vezes também para receber a sagrada comunhão.
7. Consideradas atentamente todas estas razões, e tidos em conta os documentos promulgados pela
58
Santa Sé , a Congregação do Culto Divino, secundando aliás os desejos das Conferências Episcopais,
julga oportuno recordar alguns elementos doutrinais sobre o domingo, e estabelecer as condições que
tornam legitimas tais celebrações e ainda fornecer algumas indicações para o correto desenvolvimento
das mesmas.
Será da competência das Conferências Episcopais, conforme for sendo oportuno, determinar
posteriormente as próprias normas e adaptá-las à índole dos diversos povos e às várias circunstâncias, e
disso informar a Sé Apostólica.

Capítulo I – O DOMINGO E A SUA SANTIFICAÇÃO

8. "Por tradição apostólica, que nasceu do próprio dia da ressurreição de Cristo, a Igreja celebra o
mistério pascal todos os oito dias, naquele que se denomina, com muita razão, dia do Senhor ou
59
domingo" .
60
9. Testemunhos da assembleia dos fiéis, no dia que já no Novo Testamento é chamado "domingo" ,
61
aparecem explicitamente nos antiquíssimos documentos dos séculos primeiro e segundo , entre os quais
se salienta o de São Justino: "No chamado dia do sol, todos, que habitem na cidade ou no campo, se
62
reúnem num mesmo lugar... " . Como o dia em que os cristãos se reuniam não coincidia com os mais
festivos do calendário grego e romano, tal fato constituía, mesmo para os outros cidadãos, um certo sinal
do nome cristão.
10. Desde os primeiros séculos os pastores nunca cessaram de inculcar nos fiéis a necessidade de se
reunirem no domingo: "Não queirais separar-vos da Igreja, pelo fato de não vos reunirdes, vós sois
membros de Cristo... não queirais tornar-vos negligentes, nem separar o Salvador dos seus membros,
63
nem rasgar e desmembrar o seu corpo... " Isso mesmo recordou recentemente o Concílio Vaticano II
com as palavras: "Neste dia os fiéis devem reunir-se em assembleia para ouvir a palavra de Deus e
participarem na Eucaristia, e assim fazerem memória da paixão, da ressurreição e da glória do Senhor

57
Cf. Acta Martyrum Bytiniae, em D. Ruíz Bueno. Actas de los Martyres, BAC 75 (Madrid 1951) 973.
58
SCR e Consilium, Instrução Inter oecumenict (26 de setembro 1964). n. 37, AAS 56 (1964) 884-885;
C.D.C. 1248 parágrafo 2.
59
Conc. VAT. II, Constituição sobre a Sagrada Liturgia Sacrosanctum Concilium, n. 100. Cf. ibid.
Apêndice. Declaração do Conc. VAT. II sobre a reforma do calendário.
60
Cf. Ap 1,10. Cf. também Jo 20,19.26; At 20,7-12; 1Cor 16,2; Hb 10,24. 25.
61
Didaqué 14, 1; ed. F. X. FUNK, Doctrina duodecim Apostolorum, p. 42.
62
S. Justino, Apologia I, 67, PG 6, 430.
63
Cf. Didascália dos Apóstolos, 2, 59, 1-3; ed. F, X. FUNK 1, p. 170.
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Jesus, e darem graças a Deus que os regenerou na esperança viva pela ressurreição de Jesus Cristo de
64
entre os mortos" .
11. A importância da celebração do domingo na vida dos fiéis é assim definida por Santo Inácio de
Antioquia: "(Os cristãos) já não celebram o sábado, mas vivem segundo o domingo, no qual até mesmo a
65
nossa vida ressurgiu por Ele (Cristo) e pela sua morte" . O sentido cristão dos fiéis, quer no passado,
quer hoje em dia, teve sempre em tão grande honra o domingo, que mesmo nos tempos de perseguição
e nas regiões de culturas afastadas ou até opostas à fé cristã, de modo nenhum aceitou substituir o dia
do Senhor.
12. Os elementos requeridos para haver assembleia dominical são principalmente os seguintes:
a) reunião dos fiéis para manifestar que a Igreja não é uma assembleia formada espontaneamente, mas
convocada por Deus, ou seja, o povo de Deus organicamente estruturado, ao qual preside o sacerdote na
pessoa de Cristo Chefe;
b) instrução sobre o mistério pascal por meio das Escrituras que são lidas e que o sacerdote ou o diácono
explicam;
c) celebração do sacrifício eucarístico, a se realizar pelo sacerdote na pessoa de Cristo e oferecida em
nome de todo o povo cristão, pela qual se torna presente o mistério pascal.
13. O cuidado pastoral há de procurar principalmente que o sacrifício da Missa seja celebrado cada
66
domingo, pois só por ele se perpetua a Páscoa do Senhor e a Igreja se manifesta plenamente. "O
domingo é o principal dia de festa a propor e a inculcar na piedade dos fiéis... Não lhe devem ser
antepostas outras celebrações, a não ser que sejam de máxima importância, porque o domingo é o
67
fundamento e o núcleo de todo o ano litúrgico" .
14. É necessário que tais princípios sejam inculcados desde o inicio da formação cristã, para que os fiéis
observem voluntariamente o preceito da santificação do dia de festa, e compreendam o motivo pelo qual
se reúnem cada domingo para celebrar a Eucaristia, convocados pela Igreja e não apenas por sua
devoção privada. Assim os fiéis poderão fazer a experiência do domingo como sinal da transcendência de
Deus acima do trabalho do homem e não apenas como simples dia de repouso; e poderão ainda, graças
à assembleia dominical, perceber mais profundamente e mostrar exteriormente que são membros da
68
Igreja .
15. Os fiéis devem poder encontrar nas assembleias dominicais, como na vida da comunidade cristã, quer
uma participação ativa quer uma verdadeira fraternidade, e devem ter a oportunidade de se revigorarem
espiritualmente conduzidos pelo Espírito. Desse modo se protegerão também mais facilmente contra os
atrativos das seitas, que lhes prometem ajuda no sofrimento da solidão e mais profunda satisfação das
suas aspirações religiosas.
16. Por fim, a ação pastoral deve favorecer as iniciativas que visam tornar o domingo "também dia de
69
alegria e de repouso do trabalho" , de modo que na sociedade atual a todos ele apareça como sinal de
liberdade, e consequentemente como dia instituído para o bem da própria pessoa humana, a qual, sem
dúvida, tem mais valor do que os negócios e os processos produtivos.
17. A palavra de Deus, a Eucaristia e o ministério sacerdotal, são dons que o Senhor apresenta à Igreja,
sua Esposa. Devem ser acolhidos, e também solicitados, como graça de Deus. A Igreja, que possui estes
70
bens sobretudo na assembleia dominical, nela dá graças a Deus , enquanto espera a alegria perfeita do
71
dia do Senhor "diante do trono de Deus e na presença do Cordeiro" .

64
Conc. Vat. II, Constituição sobre a Sagrada Liturgia Sacrosanctum Concilium, n. 106.
65
S. Inácio de Antioquia, Carta aos magnésios 9, 1; ed. F. X. FUNK I, p. 199 (Cartas de Santo Inácio de
Antioquia, Intr., trad. e notas de Dom Paulo Evaristo Arns, Editora Vozes 19843, p. 53).
66
Cf. Paulo VI. Alocução a alguns bispos da França em visita ad sacra limina. 26 de março de 1977, AAS
69 (1977) 465: "O objetivo deve continuar a ser a celebração do sacrifico da Missa. única e verdadeira
realização da Páscoa do Senhor".
67
Conc. VAT. II. Constituição sobre a Sagrada Liturgia Sacrosanctum Concilium, n. 106.
68
Cf. SCR, Instrução Eucharisticum mysterium (25 de maio de 1967), n. 25, AAS 59 (1967) 555.
69
Ibid., Conc. VAT. II, Constituição sobre a Sagrada Liturgia Sacrosanctum Concilium. n. 106.
70
Cf. "O sentido do domingo numa sociedade pluralista. Reflexões pastorais da Conferência dos Bispos
do Canadá" em La Documentation Catholique, n. 1935 (1987) 273-276.
71
Ap 7,9.
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Capítulo II – CONDIÇÕES PARA AS CELEBRAÇÕES DOMINICAIS

NA AUSÊNCIA DO PRESBÍTERO
18. Quando em alguns lugares não for possível celebrar a Missa no domingo, veja-se primeiro se os fiéis
não podem deslocar-se à igreja dum lugar mais próximo e participar aí na celebração do mistério
eucarístico. Tal solução é de recomendar também nos nossos dias, e até de conservar quanto possível;
isso exige, todavia, que os fiéis sejam devidamente instruídos acerca do sentido pleno da assembleia
dominical e aceitem de bom grado as novas situações.
19. É para desejar que, mesmo sem a Missa, aos fiéis reunidos em diversas circunstâncias no dia do
domingo, sejam abertos com largueza os tesouros da Sagrada Escritura e da oração da Igreja, a fim de
não serem privados das leituras que são lidas no decurso do ano durante a Missa, nem das orações dos
tempos litúrgicos.
20. Entre as formas que se encontram na tradição litúrgica, quando a celebração da Missa não é possível,
72
é muito recomendada a celebração da palavra de Deus , que, se for oportuno, pode ser seguida da
comunhão eucarística. Desse modo os fiéis podem alimentar-se ao mesmo tempo da Palavra e do Corpo
de Cristo. "Na verdade, escutando a palavra de Deus reconhecem que as suas maravilhas, ali anunciadas,
atingem a plenitude no mistério pascal, cujo memorial se celebra sacralmente na Missa, e no qual
73
participa pela comunhão" . Além disso, nalgumas circunstâncias, pode unir-se a celebração do dia do
Senhor e a celebração de alguns sacramentos, e principalmente dos sacramentais, segundo as
necessidades de cada comunidade.
21. É necessário que os fiéis percebam com clareza que tais celebrações têm caráter supletivo, e não
venham a considerá-las como a melhor solução das novas dificuldades ou concessão feita à
74
comodidade . Por isso as reuniões ou assembleias deste gênero nunca podem realizar-se no domingo
naqueles lugares onde a Missa já foi ou será celebrada nesse dia, ou foi celebrada na tarde do dia
anterior, mesmo noutra língua; e não convém repetir tal assembleia.
22. Evite-se com cuidado qualquer confusão entre as reuniões deste gênero e a celebração eucarística.
Tais reuniões não devem diminuir, mas aumentar nos fiéis o desejo de participar na celebração
eucarística e devem torná-los mais diligentes em frequentá-la.
23. Compreendam os fiéis que não é possível a celebração do sacrifício eucarístico sem o sacerdote e que
a comunhão eucarística, que eles podem receber em tais reuniões, está intimamente unida ao sacrifício
da Missa. Partindo daqui pode mostrar-se aos fiéis quão necessário é orar "para que se multipliquem os
75
dispensadores dos mistérios de Deus, e sejam perseverantes no seu amor" .
24. Compete ao bispo diocesano, ouvindo o parecer do Conselho Presbiteral, estabelecer se na sua
diocese devem realizar-se regularmente reuniões dominicais sem a celebração da Eucaristia, e definir
para elas não só normas gerais, mas também particulares, tendo em conta os lugares e as pessoas.
Portanto, não se constituam assembleias deste gênero, a não ser por convocação do bispo e sob
ministério pastoral do pároco.
25. "Nenhuma comunidade cristã se edifica sem ter a sua raiz e o seu centro na celebração da santíssima
76
Eucaristia" . Por isso, antes do bispo estabelecer que se realizem reuniões dominicais sem a celebração
eucarística, devem ser examinadas, além do estado das paróquias (cf. n. 5), as possibilidades de recorrer
a presbíteros, mesmo religiosos, não diretamente dedicados à cura de almas, e a frequência às Missas
77
celebradas nas diversas igrejas e paróquias . Mantenha-se a primazia da celebração eucarística sobre
todas as outras ações pastorais, especialmente no domingo.
26. O bispo, pessoalmente ou por meio de outrem, instruirá a comunidade diocesana com uma catequese
oportuna sobre as causas determinadas desta provisão, mostrando a sua gravidade e exortando à
corresponsabilidade e à cooperação. Ele designará um delegado ou uma comissão especial que vele pela
correta realização das celebrações, escolherá aqueles que as hão de promover e providenciará para que

72
Cf. Conc. VAT. II, Constituição sobre a Sagrada Liturgia Sacrosanctum Concilium, n. 35, 4.
73
Ritual Romano, A Sagrada Comunhão e o Culto do Mistério Eucarístico fora da Missa, n. 26.
74
Cf. Paulo VI, Alocução a alguns bispos de França em visita ad sacra limina, 26 de março de 1977, AAS
69 (1977) 465: "Avançai com discernimento, mas sem multiplicar este tipo de assembleias, como se
fosse a melhor solução e a última oportunidade".
75
Missal Romano, Pelas vocações às ordens sacras, oração sobre as oblatas.
76
Conc. VAT. II, Decreto sobre a vida e o ministério dos presbíteros, Presbyterorum ordinis, n. 6.
77
SCR, Instrução Eucharisticum mysterium (25 de maio de 1967), n. 26, AAS 59 (1967) 555.
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eles próprios sejam devidamente instruídos. Todavia terá sempre a preocupação de que esses fiéis
possam participar na celebração eucarística algumas vezes durante o ano.
27. Compete ao pároco informar o bispo sobre a oportunidade de tais celebrações, a realizar na área da
sua jurisdição, preparar os fiéis para elas, visitá-los de vez em quando durante a semana, celebrar-lhes
os sacramentos no tempo devido, sobretudo a Penitência. Tal comunidade poderá assim experimentar
verdadeiramente o modo como no dia do domingo se reuniu não "sem presbítero", mas somente "na sua
ausência", ou melhor, "na expectativa da sua vinda".
28. Quando a celebração da Missa não for possível o pároco tomará providências para que a sagrada
comunhão possa ser distribuída. Fará as coisas de modo que em cada uma das comunidades se faça a
celebração da Eucaristia no tempo estabelecido. As hóstias consagradas devem ser renovadas com
frequência e guardadas num lugar seguro.
29. Para dirigir estas reuniões dominicais chamem-se os diáconos, como primeiros colaboradores dos
sacerdotes. Ao diácono, ordenado para apascentar o povo de Deus e para o fazer crescer, compete dirigir
78
a oração, proclamar o Evangelho, fazer a homilia e distribuir a Eucaristia .
30. Quando estão ausentes quer o presbítero quer o diácono, o pároco deve designar leigos, aos quais
confiará o cuidado das celebrações, isto é, a responsabilidade da oração, o serviço da Palavra, e a
distribuição da sagrada comunhão.
Sejam eleitos por ele em primeiro lugar os acólitos e os leitores, instituídos para o serviço do altar e da
palavra de Deus. Na falta destes, podem ser designados outros leigos, homens e mulheres, que pela
79
força do Batismo e da Confirmação podem exercer este múnus . Devem ser escolhidos tendo em
atenção as suas qualidades de vida, em consonância com o Evangelho, e tenha-se também em conta que
possam ser aceitos pelos fiéis. Habitualmente a designação será feita por um período determinado de
tempo e deve ser manifestada publicamente à comunidade. Convém que se faça por eles uma oração a
80
Deus numa celebração .
O pároco tenha o cuidado de dar a estes leigos uma formação adaptada e contínua, e prepare com eles
celebrações dignas (cf. Capítulo III).
31. Os leigos designados devem considerar o múnus que lhes foi confiado não tanto como uma honra,
mas principalmente como um encargo, e em primeiro lugar como um serviço em favor dos irmãos, sob a
autoridade do pároco. O seu múnus. não lhes é próprio, mas supletivo, pois o exercem "quando a
81
necessidade da Igreja o sugere, na falta dos ministros" . "Façam tudo e só o que pertence ao ofício que
82
lhes foi confiado" . Exerçam o seu múnus com piedade sincera e com ordem, como convém ao seu ofício
83
e como justamente deles exige o povo de Deus .
32. Se no domingo não for possível fazer a celebração da palavra de Deus com distribuição da sagrada
comunhão, recomenda-se vivamente aos fiéis "que se entreguem durante um tempo razoável,
84
pessoalmente ou em família ou, segundo as circunstâncias, em grupos de famílias" à oração. Nestes
casos as transmissões televisivas das celebrações sagradas podem ser uma boa ajuda.
33. Tenha-se, sobretudo, presente a possibilidade de celebrar alguma parte da Liturgia das Horas, por
exemplo Laudes matutinas ou Vésperas, nas quais podem inserir-se as leituras do domingo. Com efeito,
quando "os fiéis são convocados e se reúnem para celebrar a Liturgia das Horas, pela união das vozes e
85
dos corações manifestam a Igreja que celebra o mistério de Cristo" . No fim desta celebração pode ser
distribuída a comunhão eucarística (cf. n. 46).
34. "A graça do Redentor não falta de modo nenhum a cada um dos fiéis ou às comunidades, que por
causa das perseguições ou por falta de sacerdotes se veem privadas, por muito ou pouco tempo, da
celebração da sagrada Eucaristia. Com efeito, animados interiormente pelo desejo do sacramento e
unidos na oração com toda a Igreja, invocam o Senhor e elevam para Ele os seus corações, e assim, pela

78
Cf. Paulo VI, Motu proprio Ad pascendum (15 de agosto de 1972), no I, AAS 64 (1972) 534.
79
CIC cân. 230. parágrafo 3.
80
Ritual Romano. De Benedictionibus, cap. II, I, B.
81
CIC cân. 230. parágrafo 3.
82
Conc. Vat. II, Constituição sobre a Sagrada Liturgia Sacrosanctum Concilium, n. 28.
83
Cf. ibid., n 29.
84
CIC. cân. 1248, parágr. 2.
85
Instrução Geral sobre a Liturgia das Horas, n. 22.
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força do Espírito Santo, participam da comunhão com a Igreja, corpo vivo de Cristo, e com o próprio
86
Senhor... e têm parte, desse modo, no fruto do sacramento" .

Capítulo III – A CELEBRAÇÃO

35. A ordem a observar na reunião do dia dominical, quando não há Missa, consta de duas partes, a
saber, a celebração da palavra de Deus e a distribuição da comunhão. Na celebração não deve ser
inserido o que é próprio da Missa, sobretudo a apresentação dos dons e a oração eucarística. O rito da
celebração deve ser organizado de tal modo que favoreça totalmente a oração e dê a imagem duma
assembleia litúrgica e não duma simples reunião.
36. Os textos das orações e das leituras para cada domingo ou solenidade tomam-se habitualmente do
Missal e do Lecionário. Desse modo os fiéis, seguindo o curso do Ano litúrgico, terão possibilidade de orar
e de ouvir a palavra de Deus em comunhão com outras comunidades da Igreja.
37. O pároco, ao preparar a celebração com os leigos designados, pode fazer adaptações, tendo em
conta o número dos participantes e a capacidade dos animadores, e relativamente aos instrumentos que
servem ao canto e à execução musical.
38. Quando o diácono preside à celebração, comporta-se do modo que é próprio ao seu ministério nas
saudações, nas orações, na leitura do Evangelho e na homilia, na distribuição da comunhão e na
despedida dos participantes com a bênção. Paramenta-se com as vestes próprias do seu ministério, isto
é, a alva com a estola, e, se for oportuno, a dalmática, e utilize a cadeira presidencial. 39. O leigo que
orienta a reunião comporta-se como um entre iguais, como sucede na Liturgia das Horas, quando o
ministro é leigo ("O Senhor nos abençoe...", "Bendigamos ao Senhor..."). Não deve usar as palavras que
pertencem ao presbítero ou ao diácono, e deve omitir aqueles ritos, que de modo mais direto lembram a
Missa, por exemplo: as saudações, sobretudo "O Senhor esteja convosco" e a forma de despedida, que
87
fariam aparecer o moderador leigo como um ministro sagrado .
40. Deve usar uma veste que não desdiga do ofício que desempenha, ou vestir aquela que o bispo
88
eventualmente tenha estabelecido . Não deve utilizar a cadeira presidencial, mas prepare-se antes uma
89
outra cadeira fora do presbitério . O altar, que é a mesa do sacrifício e do convívio pascal, deve servir
apenas para sobre ele colocar o pão consagrado antes da distribuição da Eucaristia.
Ao preparar a celebração cuide-se da conveniente distribuição dos serviços, por exemplo, para as
leituras, para os cânticos etc., e da disposição e arranjo dos lugares.
41. O esquema da celebração compõe-se dos seguintes elementos:
a) Os ritos iniciais, cuja finalidade é conseguir que os fiéis, quando se reúnem, constituam a comunidade
e se disponham dignamente para a celebração;
b) a liturgia da palavra, na qual o próprio Deus fala ao seu povo, para lhe manifestar o mistério da
redenção e da salvação; o povo responde mediante a profissão de fé e a oração universal;
c) a ação de graças, com a qual se bendiz a Deus pela sua imensa glória (cf. n. 45);
d) os ritos da comunhão, pelos quais se exprime e realiza a comunhão com Cristo e com os irmãos,
sobretudo com aqueles que, no mesmo dia, participam do sacrifício eucarístico;
e) os ritos da conclusão, através dos quais se indica a relação que existe entre a liturgia e a vida cristã.
A Conferência Episcopal, ou o próprio bispo, tendo em conta as circunstâncias de lugar e de pessoas,
pode determinar melhor a própria celebração, com subsídios preparados pela comissão nacional ou
diocesana de Liturgia. Todavia este esquema de celebração não se deve modificar sem necessidade.
42. Em aviso inicial, ou noutro momento da celebração, o moderador recorde a comunidade com a qual,
naquele domingo, o pároco celebra a Eucaristia e exorte os fiéis a unirem-se a ela em espírito.
43. Para que os participantes possam assimilar a palavra de Deus, haja ou uma certa explicação das
leituras, ou um silêncio sagrado para meditar no que se ouviu. Como a homilia é reservada ao sacerdote
90
ou ao diácono , é para desejar que o pároco entregue a homilia por ele antecipadamente preparada ao

86
Congregação para a Doutrina da Fé, Carta sobre algumas questões relativas ao ministro da Eucaristia
(6 de agosto de 1983). AAS 75 (1983). 1007.
87
Cf. Instrução Geral sobre a Liturgia das Horas, n. 258; cf. Ritual Romano, De Benedictionibus, n. 48,
119, 130, 181.
88
Ritual Romano, A Sagrada Comunhão e o Culto do Mistério Eucarístico fora da Missa. n. 20.
89
Cf. Instrução Geral sobre a Liturgia das Horas, n. 258.
90
Cf. CIC. cân. 766-767.
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moderador do grupo, para que a leia. Observe-se, porém, aquilo que a Conferência Episcopal tiver
estabelecido sobre o assunto.
91
44. A oração universal faça-se de acordo com a série das intenções estabelecidas . Não se omitam as
intenções por toda a diocese, eventualmente propostas pelo bispo. De igual modo, proponha-se com
frequência a intenção pelas vocações às Ordens sacras, pelo bispo e pelo pároco.
45. A ação de graças faz-se de um dos modos aqui indicados:
a) depois da oração universal ou depois da distribuição da comunhão, o moderador convida à ação de
graças pela qual os fiéis exaltam a glória de Deus e a sua misericórdia. Isto pode fazer-se com um salmo
(v. g. Salmos 99, 112, 117, 135, 147, 150), ou com um hino ou um cântico (v. g. "Glória a Deus nas
alturas", "Magnificat"...), ou também com uma prece litânica, que o moderador, de pé com os fiéis,
voltado para o altar, diz juntamente com todos eles;
b) antes da oração do Pai-Nosso, o moderador aproxima-se do sacrário ou do lugar onde se encontra a
Eucaristia e, feita a genuflexão, depõe a píxide com a sagrada Eucaristia sobre o altar; depois, ajoelhado
diante do altar, juntamente com os fiéis, canta o hino, o salmo ou a prece litânica, que, neste caso, é
dirigida a Cristo presente na santíssima Eucaristia.
No entanto, esta ação de graças não deve ter, de modo nenhum, a forma duma oração eucarística. Não
se utilizem os textos do prefácio e da oração eucarística propostos no Missal Romano, e evite-se todo o
perigo de confusão.
46. Para o ordenamento do rito da comunhão, observe-se quando se diz no Ritual Romano da Sagrada
92
Comunhão fora da Missa . Recorde-se com frequência aos fiéis que eles, mesmo quando recebem a
comunhão fora da celebração da Missa, estão unidos ao sacrifício eucarístico.
47. Para a comunhão, utilize-se, se for possível, pão sagrado nesse mesmo domingo, na Missa celebrada
noutro lugar e daí levado pelo diácono ou por um leigo num recipiente (píxide ou caixa), e reposto no
sacrário antes da celebração. Também pode utilizar-se pão sagrado na última Missa aí celebrada. Antes
da oração do Pai-Nosso, o moderador aproxima-se do sacrário, ou do lugar onde a Eucaristia foi reposta,
pega no vaso com o Corpo do Senhor, depõe-no sobre a mesa do altar, e introduz a oração dominical, a
não ser que se faça a ação de graças, da qual se falou n. n. 45, b).
48. A oração dominical é sempre recitada ou cantada por todos, mesmo quando não se distribuí a
sagrada comunhão. Pode se realizar o rito da paz. Depois da distribuição da comunhão "conforme as
circunstâncias, pode-se guardar por algum tempo o silêncio sagrado ou cantar um salmo ou um cântico
93
de louvor" . Pode-se também fazer a ação de graças da qual se falou n. n. 45, a).
49. Antes do fim da reunião, fazem-se os avisos e dão-se as notícias que dizem respeito à vida paroquial
ou diocesana.
50. Nunca se dirá suficientemente a importância capital da assembleia do domingo, quer como fonte de
vida cristã de cada pessoa e das comunidades, quer como testemunho do projeto de Deus: reunir todos
os homens em seu Filho Jesus Cristo.
Todos os cristãos devem estar convencidos de que não é possível viver a sua fé sem participar, de
maneira própria a cada um, na missão universal da Igreja, se não se alimentarem do pão eucarístico. De
igual modo "devem estar convencidos que a reunião do domingo é sinal para o mundo do mistério de
94
comunhão, que é a Eucaristia" .

Este Diretório, preparado pela Congregação do Culto Divino, foi aprovado pelo Sumo Pontífice João Paulo
II no dia 21 de maio de 1988, que o mandou publicar.
Sede da Congregação do Culto Divino, 2 de junho de 1988, na solenidade do SS. Corpo e Sangue de
Cristo.

Paulo Agostinho Card. MAYER, O. S. B. Virgílio NOÉ


Prefeito Arcebispo tit. de Voncária
Secretário

91
Cf. Instrução Geral do Missal Romano, n. 45-47.
92
Ritual Romano, A Sagrada Comunhão e o culto do Mistério Eucarístico fora da Missa, cap. I.
93
Cf. ibid., n. 37.
94
João PAULO II, Alocução a alguns bispos de França em visita ad sacra limina, no dia 27 de março de
1987.
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XII. Estudo Dirigido – 2


Leia o Diretório para Celebrações Dominicais na Ausência do Presbítero e responda as seguintes
questões:

1. O dia da assembleia cristã por excelência é o domingo, que recebe esse nome em memória da
______________________________ de Jesus.

2. Segundo o Diretório, há lugares em que os cristãos são impedidos de se reunirem aos domingos.
Marque os motivos que impedem essa reunião segundo o texto:
( ) dispersão geográfica ( ) falta de vontade dos fiéis ( ) perseguição religiosa

3. Considerando a importância da celebração dominical, os fiéis cristãos ( ) nunca ( ) algumas vezes


substituíram o dia de domingo.

4. A Igreja só se manifesta plenamente no sacrifício da _________________________.

5. Quando não há celebração de Missa no domingo, a primeira opção sempre é deslocar os fiéis para a
igreja do lugar ( ) mais movimentado ( ) mais próximo.

6. Caso não haja celebração da Missa, os fiéis não devem ser privados das ________________________
nem das _______________________ dos tempos litúrgicos.

7. A celebração eucarística tem ___________________________ sobre todas as outras ações pastorais,


especialmente no domingo.

8. Quando a celebração da Missa não for possível o pároco tomará providências para que a
___________________________________ possa ser distribuída.

9. Aos leigos que vierem a ser chamados para conduzir as celebrações na ausência do ministro ordenado,
deve ser dada _________________________ adaptada e contínua.

10. Sempre é indicado que a celebração sem ministro ordenado ocorra em ligação com alguma parte da
_____________________________________________.

11. A celebração sem ministro ordenado possui duas partes: ____________________________________


e _________________________________________.

12. As leituras dessas celebrações devem ser retiradas do _____________________________.

13. O ministro leigo ( ) deve ( ) não deve usar as palavras próprias do ministro ordenado, omitindo os
ritos que façam a celebração parecer uma Missa, sobretudo a saudação:
“____________________________________________________”.

14. O ministro leigo não deve sentar-se na cadeira presidencial, mas deve utilizar um acento fora do
__________________________.

15. Sobre o altar só deve ser colocado cibório com as __________________________________ que
serão distribuídas em comunhão.

16. A celebração é dividida em ( ) quatro ( ) cinco elementos.

17. O cibório com a reserva eucarística é retirado do sacrário e deposto no altar antes da oração do
______________________.

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XIII. Vocabulário Prático de Liturgia


Pe. Luiz Miguel Duarte

1. Altar – mesa destinada à celebração do sacrifício eucarístico.


2. Alva – veste longa, de cor branca, usada pelos ministros sagrados nas
celebrações. 3. Ambão – estante de onde se proclamam as leituras nas
celebrações.
4. Âmbula ou cibório – recipiente para a conservação e distribuição das hóstias aos
fiéis. 5. Aspersório – instrumento com que se joga água benta sobre o povo ou
objetos.
6. Baldaquino – armação ornamental, sustentada por colunas, na cobertura de altar,
trono. 7. Caldeirinha – vasilha onde se coloca a água benta para aspersão.
8. Cálice – recipiente onde se coloca o vinho para ser
consagrado. 9. Candelabro – castiçal para várias velas.
10. Castiçal – utensílio que serve de suporte para uma vela.
11. Casula – espécie de manto que se coloca sobre a alva e a
estola. 12. Cíngulo – cordão que prende a alva ao redor da
cintura.
13. Círio pascal – vela grande que simboliza o Cristo ressuscitado.
14. Corporal – tecido quadrado sobre o qual se coloca o cálice e a patena ou
cibórios. 15. Credência – mesa lateral onde se colocam os objetos a serem usados na
celebração. 16. Crucifixo – cruz com a imagem de Cristo.
17. Custódia – parte do ostensório onde se mostra a hóstia consagrada.
18. Dalmática – veste própria do diácono, colocada sobre a alva e a
estola. 19. Estola – veste colocada ao redor do pescoço.
20. Evangeliário – livro que contém os Evangelhos usados nas
celebrações. 21. Galhetas – recipientes para transportar água e vinho.
22. Hóstia – pedaço de pão não fermentado.
23. Incenso – resina colocada sobre brasas para exalar odor e fumaça.
24. Lavabo – conjunto de bacia e jarra usado para a purificação do sacerdote.
25. Lecionário – livro que contém todas as leituras bíblicas usadas nas
celebrações. 26. Luneta – peça circular do ostensório onde se coloca a hóstia
consagrada.
27. Manustérgio – toalha com que o sacerdote enxuga as mãos durante a missa.
28. Missal Romano – livro que contém as orações a serem usadas nas
celebrações. 29. Naveta – recipiente para transportar o incenso durante a missa.
30. Ostensório – objeto usado para expor a hóstia consagrada aos fiéis.
31. Pala – cartão quadrado, revestido de pano, usado para cobrir a patena e o
cálice. 32. Patena – pequeno prato de metal onde se coloca a hóstia maior usada
na missa.
33. Presbitério – espaço na igreja onde ficam altar e ambão e se realizam os ritos
sagrados. 34. Reserva eucarística – hóstias consagradas guardadas no sacrário.
35. Sacrário ou tabernáculo – pequena urna onde se guarda a reserva Eucarística, ou seja, o
Santíssimo Sacramento.
36. Sanguinho ou purificatório – tecido retangular com o qual o sacerdote purifica os vasos
sagrados e, se preciso, a boca e os dedos.
37. Teca – estojo de metal onde se leva a eucaristia aos
enfermos. 38. Turíbulo – vaso usado para incensações.
39. Véu umeral – manto colocado nos ombros do ministro para a bênção com o ostensório.
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XIV. Exercício sobre o Vocabulário Prático

1 2 3

4 5 6

7 8 9

10 11 12

13 14 15

16 17 18

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XV. Revisão
TRA LE SOLLICITUDE
1. Conforme TS 1, qual o fim geral da música sacra e da liturgia como um todo?
2. Segundo TS 2, quais são as qualidades próprias da liturgia?

MEDIATOR DEI
3. De que forma MD 3 compreende que a Igreja continua o ofício sacerdotal de Cristo?
4. Segundo MD 21, qual o elemento essencial do culto divino?
5. Como MD 73 exemplifica tanto a boa quanto à má participação na liturgia?
6. De acordo com MD 160, qual a relação entre liturgia e atos de piedade?

SACROSANCTUM CONCILIUM
7. Segundo SC 5, qual a relação entre a Encarnação e o culto divino?
8. Com base na SC 6, explique o papel fundamental do Batismo e da Eucaristia no eixo dos
sacramentos da Igreja.
9. Conforme SC 7, de que maneira Cristo está presente nas ações litúrgicas?
10. O que são ações litúrgicas?
11. Leia SC 8 e diga qual o papel da liturgia na espiritualidade cristã.
12. De que maneira se pode explicar a expressão na SC 10: “a liturgia é fonte e cume de toda a ação
da Igreja”?
13. Segundo SC 11, como deve ser a participação dos fiéis na liturgia?
14. O que se entende por “participação ativa”?
15. Qual a orientação da SC sobre a língua litúrgica?

OFÍCIO DIVINO
16. Qual o objetivo do Ofício Divino?
17. Onde a oração cristã encontra o fundamento de sua dignidade? Explique.
18. De que maneira, além da Eucaristia, a Liturgia das Horas também santifica e consagra o tempo?
19. Qual a relação entre o louvor a Deus e a santificação dos homens se identifica na liturgia?

ANO LITÚRGICO
20. O que é Ano Litúrgico?
21. Qual dia é o fundamento de todo o Ano Litúrgico? Explique.
22. Como se deve compreender a repetição contínua do Ano Litúrgico no contexto do
amadurecimento cristão?
23. Quais são os dois grandes ciclos do Ano Litúrgico e quais os cinco tempos?
24. Como são divididos os domingos e os dias da semana do Ano Litúrgico?

ESPIRITUALIDADE LITÚRGICA
25. Para se falar em espiritualidade litúrgica, é possível reduzir a liturgia somente ao sequenciamento
de regras de uma celebração?
26. Qual a relação entre oração e liturgia?
27. Explique porque se diz que a espiritualidade litúrgica é comunitária, sem excluir a vivência
pessoal.
28. Qual o centro da espiritualidade litúrgica? Explique.
29. Descreva o aspecto escatológico da espiritualidade litúrgica.

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DOUTRINA DO MISTÉRIO
30. De que forma o Mistério divino se articula no Antigo Testamento, no Novo e no tempo da Igreja?
31. Qual a relação entre o Mistério do culto e o Mistério de Cristo?
32. Quais as semelhanças e diferenças entre Mistério e Liturgia?
33. De que forma o Mistério de Cristo pode ser expresso em nossas vidas na Liturgia?
34. De que forma todo o povo cristão pode participar do culto divino?
35. Qual o perigo profetizado por Dom Odo Casel na última parte de seu texto?

DIMENSÃO CORPORAL DA LITURGIA


(Verdadeiro ou Falso)
36. ( ) Na Liturgia, devemos vivenciar a verdade celebrada, mais do que elaborar conceitos
abstratos.
37. ( ) De acordo com Romano Guardini, é possível estudar Liturgia somente pela leitura e
pesquisa.
38. ( ) Somente pela observação e comprovação não se pode chegar à essência da Liturgia. A
perda do olhar contemplativo foi a causa da decadência da Liturgia.
39. ( ) Segundo Bento XVI, a Liturgia é um diálogo: o sacerdote fala com Deus e Deus fala
somente com o Sacerdote.
40. ( ) Na oração litúrgica, é preciso que a mente concorde com a voz.
41. ( ) Segundo Bento XVI, quando o sacerdote se dá conta do sentido das palavras que profere, a
ação ritual torna-se naturalmente cheia de significado, capaz de sensibilizar quem o vê.

42. Qual a relação da frase “a liturgia é um mundo de acontecimentos misteriosos e santos


transformados em figura sensível”, de Romano Guardini, com o conceito de Mistério de Odo
Casel?

DIES DOMINI
(Verdadeiro ou Falso)
43. ( ) O domingo guarda pouca relação com a ressurreição de Cristo.
44. ( ) O repouso tem valor sagrado, conforme ensinamento do livro do Êxodo.
45. ( ) Os cristãos somente celebram a Páscoa anualmente.
46. ( ) O domingo é o centro de todo o culto litúrgico.
47. ( ) O domingo expressa também, como oitavo dia, o futuro escatológico da criação.
48. ( ) O domingo cristão é dedicado exclusivamente ao culto.
49. De que forma o domingo expressa mais perfeitamente o conceito de dia do Senhor do AT?
50. Qual a relação do domingo com a criação?
51. Qual a importância do dia do repouso no domingo?

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Bibliografia
AUGÉ, Matias. Liturgia. 3. ed. São Paulo : Editora Ave Maria, 2007.
BETTENCOURT, Estevão. Curso de Liturgia. mimeo.
____________________. Curso sobre os Sacramentos. mimeo.
BOROBIO, Dionisio (org.). A Celebração na Igreja. Vol. I: Liturgia e Sacramentologia Fundamental. 2.
ed. São Paulo : Edições Loyola, 1990.
_____________________. A Celebração na Igreja. Vol. III: Ritmos e Tempos da Celebração. São
Paulo : Edições Loyola, 2000.
FLORES, Juan Javier. Introdução à Teologia Litúrgica. São Paulo : Paulinas, 2006.
MARTÍN, Julián López. A Liturgia da Igreja: teologia, história, espiritualidade e pastoral. São
Paulo : Paulinas, 2006.
RATZINGER, Joseph. Dogma e Anúncio. 2ª ed. São Paulo, Edições Loyola: 2008.
_________________. La Fiesta de la Fe: Ensayo de Teología Litúrgica. 3. ed. Bilbao : Editorial
Desclée de Brouwer, 1999.
TRIACCA, Domenico Sartore e Anchille (Org.). Dicionário de Liturgia. São Paulo : Paulus, 1992.

Lista de siglas
CIC
– Código de Direito Canônico (do latim, Codix Iuris Canonici)
95
CIgC – Catecismo da Igreja Católica
IGLH – Instrução Geral sobre a Liturgia das Horas
LC – Constituição Apostólica Laudis Canticum, sobre o Ofício Divino
MD – Encíclica Mediator Dei, sobre a Sagrada Liturgia
RS – Instrução Redemptionis Sacramentum, sobre alguns aspectos que se devem observar e evitar
acerca da Santíssima Eucaristia, da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos
SC – Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a sagrada liturgia, do Concílio Vaticano II
TS – Motu Proprio Tra Le Sollicitude, sobre a Música Sacra
DD – Carta Encíclica Dies Domini, sobre a santificação do domingo
MF – Carta Encíclica Mysterium Fidei, sobre o culto da Sagrada Eucaristia

95
Para evitarmos a ambiguidade e a dúvida que a sigla CIC geralmente promove (porque também pode
designar o Codex Iuris Canonici, ou seja, o Código de Direito Canônico), utilizaremos a notação CIgC
neste trabalho, embora tenha-se presente que não se trata de uma notação usual.
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Oração para antes dos estudos


Santo Tomás de Aquino

Criador inefável,
que dos tesouros da vossa sabedoria,
estabelecestes três hierarquias de Anjos
e as dispusestes numa ordem admirável
acima dos Céus,
conduzindo-as pelas regiões do universo,
com arte e beleza.

Vós, a quem chamamos


a verdadeira fonte de luz e de sabedoria,
e o Princípio supereminente,
dignai-Vos derramar
Apoteose de Santo Tomás (séc. XVII)
sobre as trevas da minha inteligência
um raio de vossa clareza.

Afastai para longe de mim


a dupla obscuridade na qual nasci:
o pecado e a ignorância.
Vós, que tornais eloquente
a língua das criancinhas,
modelai a minha palavra
e derramai nos meus lábios
a graça de vossa bênção.

Dai-me o dom do discernimento,


a capacidade da memória,
a habilidade para aprender,
a profundidade na interpretação,
e uma graça abundante de expressão.

Orienta o começo do meu trabalho,


dirigi o seu desenvolvimento,
e levai-o à conclusão.
Vós que sois verdadeiro Deus e verdadeiro homem,
e que viveis e reinais pelos séculos dos séculos.

Amém.

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