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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

Luciano dos Santos

Liturgia e vida:

A vida na Celebração Dominical da Palavra de Deus

nos Documentos 43 e 52 da CNBB

MESTRADO EM TEOLOGIA

Dissertação apresentada à Banca Examinadora


da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, como exigência parcial para obtenção do
título de MESTRE em Teologia, sob a
orientação do Prof. Dr. Pe. Valeriano Santos
Costa.

SÃO PAULO

2011
2

Banca Examinadora

_____________________________________

_____________________________________

_____________________________________
3

Agradecer é preciso:

ao Deus da vida, terno e compassivo, doador de todos os dons;

aos meus pais, Albertina e Dionésio dos Santos, pelo inefável amor e pelos inúmeros

sacrifícios para dar conforto e estudo aos filhos;

às minhas irmãs e cunhados, pelo enorme carinho e apoio incondicional;

a Dom Irineu Roque Scherer, bispo diocesano de Joinville, pela oportunidade de aprimorar

os conhecimentos, favorecendo os meios para realizar

o curso de mestrado em Teologia Sistemática com concentração em Liturgia;

aos companheiros presbíteros da Diocese de Joinville,

pela frutuosa amizade, liberação e apoio recebido;

ao Prof. Dr. Pe. Valeriano Santos Costa, orientador desta dissertação,

pela sabedoria, amabilidade e capacidade de interlocução;

aos demais Professores da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,

pela dedicação e zelo com que exercem o magistério;

a todos os que, com indizível disponibilidade e ternura,

me ajudaram, de qualquer forma, na realização deste trabalho.


4

RESUMO

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, por meio dos Documentos 43 e 52,

anima as comunidades eclesiais e orienta suas celebrações. Incentiva as comunidades a

celebrar o Mistério Pascal de Cristo que envolve as suas vidas, a celebrar a Páscoa dos fiéis na

Páscoa de Cristo, através da Celebração Dominical da Palavra de Deus presidida por leigos e

leigas.

Porém, nota-se com frequência que há uma separação entre a vida pessoal, social e a

religião, afetando o modo de celebrar de nossas comunidades, onde a vida das pessoas não

incide na liturgia e esta, por sua vez, não incide na vida das pessoas. A vida do fiel e a história

da humanidade não são compreendidos como Páscoa na Páscoa de Jesus.

Por isso, ao analisar os Documentos 43 e 52 da CNBB e alguns elementos da tradição

litúrgica e do magistério geral da Igreja sobre a vida na celebração, pretende-se destacar

elementos que incentivem a integração entre vida e liturgia, especialmente no que diz respeito

à Celebração Dominical da Palavra de Deus. Buscar-se-á, também, verificar que a liturgia

celebra a Páscoa acontecendo na vida das pessoas e na história sem que seja instrumentalizada

em sua autenticidade e que a própria autenticidade da Celebração Dominical da Palavra de

Deus está em celebrar a vida como um processo pascal, como uma passagem da morte para

vida, graças à libertadora intervenção de Deus. Deseja-se, ainda, apresentar que a relação

entre liturgia e vida auxilia o povo de Deus, que participa das celebrações, a penetrar

existencialmente no Mistério, manifestando-o depois na própria conduta de vida.

Palavras-chave: liturgia e vida, Celebração Dominical da Palavra de Deus, Documento 43

da CNBB, Documento 52 da CNBB, Mistério Pascal.


5

ABSTRACT

The National Conference of Bishops of Brazil, by means of Documents 43 and 52,

inspires the ecclesial communities and guides their celebrations. It encourages communities to

celebrate the Paschal Mystery of Christ that involves their lives, to celebrate the Passover of

Christ along with the congregation Passover, through the Sunday Celebration of God´s Word

conducted by laypeople.

However, it is often noticed that there is a separation among personal, social life and

religion, affecting the way communities celebrate, where people's lives are not tied to the

liturgy and the latter, in turn, is not tied to people´s lives The believer´s life and the history of

the humanity are not understood as Passover connected to the Passover of Jesus.

Therefore, by analyzing documents 43 and 52 of the Brazilian Bishops and some

elements of the liturgical tradition, as well as in the Church General Magisterium about life in

the celebration, the aim of this paper is to highlight elements that encourage the integration

between life and liturgy, especially regarding the Sunday Celebration of God´s Word. Such

search will also verify that the liturgy celebrates the Passover happening in people's lives and

history without making use of its authenticity and that the Sunday Celebration of God‟s

Word authenticity resides in celebrating life as a Paschal process, as a passage from death to

life, thanks to the liberating intervention of God. This paper also intends to state that the

relation between liturgy and life helps the People of God, who participate in the celebrations,

to existentially penetrate in the Mystery, manifesting it later on in their own lives‟ conducts.

Keywords: liturgy and life, Sunday Celebration of the God’s Word, Document 43 of the

CNBB, Document 52 of the CNBB, the Paschal Mystery.


6

SUMÁRIO

SIGLAS E ABREVIAÇÕES.................................................................................................. 09

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 10

CAPÍTULO I - APRESENTAÇÃO DA GÊNESE E ESTUDO

DOS DOCUMENTOS 43 E 52 DA CNBB ........................................................................... 13

1 Gênese do Documento 43 da CNBB: Animação da vida litúrgica no Brasil ............... 14

2 A vida na Celebração Dominical da Palavra de Deus no Documento 43 da CNBB .... 18

2.1 A vida na Celebração Dominical da Palavra de Deus e o Mistério Pascal................... 20

2.2 A vida na Celebração Dominical da Palavra de Deus e a ação do Espírito Santo ........ 21

2.3 Deus intervém na vida do seu povo através da Palavra ................................................ 22

2.4 A vida nos passos de preparação de uma celebração.................................................... 23

2.4.1 Primeiro passo: situar o Mistério Pascal de Cristo no Mistério Pascal da vida da

comunidade ................................................................................................................... 24

2.4.2 Segundo passo: aprofundar a Palavra, os acontecimentos da vida e o Mistério

celebrado ....................................................................................................................... 26

2.5 A vida nos ritos que compõem a Celebração Dominical da Palavra de Deus .............. 27

2.5.1 A vida nos ritos iniciais da celebração.......................................................................... 28

2.5.2 A vida na liturgia da Palavra......................................................................................... 30

2.5.3 A vida na liturgia de ação de graças ............................................................................. 32

2.5.4 A vida nos ritos finais da celebração ............................................................................ 33

3 Gênese do Documento 52: Orientações para a celebração da Palavra de Deus ........... 34

4 A vida na Celebração Dominical da Palavra de Deus no Documento 52 da CNBB .... 36


7

4.1 A vida na Celebração Dominical da Palavra de Deus e o Mistério Pascal................... 36

4.2 A vida na Celebração Dominical da Palavra de Deus e a ação do Espírito Santo ........ 38

4.3 Deus intervém na vida do seu povo através da Palavra ................................................ 39

4.4 A vida nos passos de preparação de uma celebração.................................................... 40

4.5 A vida nos ritos que compõem a Celebração Dominical da Palavra de Deus .............. 41

4.5.1 A vida nos ritos iniciais da celebração.......................................................................... 42

4.5.2 A vida na liturgia da Palavra......................................................................................... 44

4.5.3 A vida na liturgia de ação de graças ............................................................................. 46

4.5.4 A vida nos ritos finais da celebração ............................................................................ 47

4.6 A vida em um roteiro de celebração da Palavra apresentado pelo Documento 52 ....... 48

CAPÍTULO II - ALGUNS ELEMENTOS DA TRADIÇÃO LITÚRGICA

E DO MAGISTÉRIO GERAL DA IGREJA SOBRE A VIDA NA CELEBRAÇÃO ..... 51

1 Alguns elementos das Sagradas Escrituras sobre a vida na celebração ........................ 53

1.1 No Antigo Testamento .................................................................................................. 54

1.2 No Novo Testamento .................................................................................................... 62

2 Alguns testemunhos da patrística sobre a vida na celebração ...................................... 69

3 Alguns elementos sobre a vida na celebração no magistério geral da Igreja ............... 83

3.1 Em documentos do Concílio Vaticano II ...................................................................... 84

3.2 No Missal Romano ....................................................................................................... 82

3.3 No Catecismo da Igreja Católica .................................................................................. 92

3.4 Nas Conferências do Episcopado Latinoamericano ..................................................... 94

3.5 No Diretório para as Celebrações Dominicais na Ausência do Presbítero ................... 99

3.6 Na Diocese de Rio do Sul em Santa Catarina ............................................................. 100

3.7 Em escritos de João Paulo II e Bento XVI ................................................................. 102


8

CAPÍTULO III – A VIDA NA CELEBRAÇÃO DOMINICAL

DA PALAVRA DE DEUS .................................................................................................... 106

1 A vida nos ritos iniciais da celebração ....................................................................... 108

2 A vida na liturgia da Palavra....................................................................................... 118

3 A vida na liturgia de ação de graças ........................................................................... 131

4 A vida nos ritos finais da celebração .......................................................................... 134

CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 137

BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................. 141


9

SIGLAS E ABREVIAÇÕES

CEBs Comunidades Eclesiais de Base

CELAM Conselho Episcopal Latinoamericano

CELEBRA Rede de Animação Litúrgica

CIC Catecismo da Igreja Católica

CNBB Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

CRB Conferência dos Religiosos do Brasil

IGMR Instrução Geral do Missal Romano

OLM Introdução ao Lecionário


10

INTRODUÇÃO

Ó Deus, auxiliai sempre


os que alimentais com o vosso sacramento
para que possamos colher os frutos da redenção
na liturgia e na vida1.

A Igreja, comunidade dos que seguem a Jesus Cristo, celebra o plano eterno de Deus,

suas intervenções históricas, a antiga aliança de Deus com o seu povo e a aliança nova e

definitiva estabelecida em Cristo. Na celebração litúrgica, a Igreja faz memória de Jesus

Cristo: “Façam isto em memória de mim” (1Cor 11,23-26; Lc 22,19-20). A liturgia cristã é

celebração memorial da morte e ressurreição de Jesus Cristo, do seu Mistério Pascal. Este

Mistério é celebrado na espera da vinda e intervenção definitiva do Senhor na história.

No Brasil, a Conferência Nacional dos Bispos constatou que 70% das comunidades

eclesiais celebram aos domingos o Mistério de Cristo sem a presença do ministro ordenado.

E, por meio dos Documentos 43 e 52, intitulados respectivamente: “Animação da vida

litúrgica no Brasil” e “Orientações para a celebração da Palavra de Deus”, a CNBB anima as

comunidades eclesiais e orienta suas celebrações.

Com estes documentos, a CNBB incentiva as comunidades a celebrar o Mistério

Pascal de Cristo que envolve as suas vidas, a celebrar com a Páscoa de Cristo também a

Páscoa dos fiéis, através da Celebração Dominical da Palavra de Deus presidida por cristãos

leigos. Manifesta que celebrar a Páscoa de Cristo é celebrar a vida do povo de Deus, tendo

como referencial a vida, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo. Expressa a necessidade de

situar a celebração na realidade da vida, ligando a Páscoa de Jesus Cristo aos acontecimentos

1
Missal Romano. 25º Domingo do Tempo Comum: Oração depois as comunhão. 9. ed. São Paulo: Paulus, 2004,
p. 369.
11

concretos da existência, incentivando, assim, a integração entre liturgia e vida. Apresenta as

Celebrações Dominicais da Palavra de Deus como fonte que alimenta a vida cristã e o cume

da experiência de Deus.

Porém, frequentemente a vida do fiel e a história da humanidade não são

compreendidas como Páscoa na Páscoa de Jesus. Há uma separação entre a vida pessoal,

social e a religião, afetando o modo de celebrar de nossas comunidades, no qual a vida das

pessoas não incide na liturgia e esta, por sua vez, não incide na vida das pessoas.

Por isso, ao analisar os Documentos 43 e 52 da CNBB, pretende-se destacar elementos

que justifiquem e incentivem a integração entre vida e liturgia, especialmente no que diz

respeito à Celebração Dominical da Palavra de Deus. Buscar-se-á, também, verificar que a

liturgia celebra a Páscoa que acontece na vida das pessoas e na história, sem que seja

instrumentalizada em sua autenticidade e que a própria autenticidade da Celebração

Dominical da Palavra de Deus está em celebrar a vida como um processo Pascal, como uma

passagem da morte para vida, graças à libertadora intervenção de Deus. Deseja-se, ainda,

apresentar que a relação entre liturgia e vida auxilia o povo de Deus a penetrar

existencialmente no Mistério, manifestando-o depois na própria conduta de vida.

Para alcançar o proposto, esta dissertação apresenta três capítulos: o primeiro aborda a

gênese dos Documentos 43 e 52 da CNBB e um estudo destes documentos referentes à vida e

à história na Celebração Dominical da Palavra de Deus: elementos que justifiquem e

incentivem a integração da vida e a Celebração Dominical da Palavra de Deus; a ligação entre

a Páscoa de Jesus Cristo com os acontecimentos concretos da existência humana; a integração

entre a liturgia e a vida e, ainda, a Celebração Dominical da Palavra como celebração do

Mistério Pascal.

O segundo capítulo trata de alguns elementos da tradição litúrgica e do magistério

geral da Igreja sobre a vida na celebração. Serão considerados a herança judaica, a


12

experiência das primeiras comunidades cristãs, os Santos Padres, o Concílio Vaticano II, o

Missal Romano e sua Instrução, o Catecismo da Igreja Católica, os documentos do

Episcopado Latinoamericano, a experiência da Diocese catarinense de Rio do Sul e escritos

dos papas João Paulo II e Bento XVI.

O terceiro e último capítulo apresenta sugestões de como realizar esta integração da

vida e da história nos ritos que compõem a Celebração Dominical da Palavra de Deus. Busca

perceber a repercussão da liturgia celebrada com as orientações dos Documentos 43 e 52 da

CNBB na vida das pessoas e das comunidades cristãs e as consequências desta celebração

para o povo de Deus.

No desenvolvimento da dissertação, optou-se pela expressão “vida”, em vez das

expressões “vida e história” porque a vida não se faz sem história, e esta já é aquela em ato.

Este estudo é o início de um aprofundamento que, sem dúvida, deverá ter

continuidade. Algumas questões poderão ser mais bem abordadas por um futuro trabalho, por

exemplo, a Celebração Dominical da Palavra de Deus e a Liturgia das Horas; a Celebração

Dominical da Palavra de Deus como celebração da Páscoa de Cristo; a Celebração Dominical

da Palavra de Deus e a inculturação. Porém, estudar a relação da vida com a Celebração

Dominical da Palavra de Deus nos Documentos 43 e 52 da CNBB reflete o desejo das

comunidades eclesiais de celebrar a Páscoa de Cristo e a sua Páscoa mesmo na ausência dos

presbíteros.
13

CAPÍTULO I

APRESENTAÇÃO DA GÊNESE E ESTUDO DOS DOCUMENTOS 43 E 52 DA CNBB

Através deste primeiro capítulo, será apresentada a gênese do Documento 43,

“Animação da vida litúrgica no Brasil”, e do Documento 52, “Orientações para a celebração

da Palavra de Deus”, assim como um estudo destes mesmos documentos no que se referem à

vida na Celebração Dominical da Palavra de Deus.

O primeiro passo a ser seguido neste capítulo será descrever a gênese do Documento

43, “Animação da vida litúrgica no Brasil”. O segundo passo será apresentar o que este

mesmo documento expressa sobre a vida na Celebração Dominical da Palavra de Deus,

mencionando alguns aspectos relevantes na preparação e nos ritos da celebração.

Através do terceiro passo, será apresentada a gênese do Documento 52, “Orientações

para a celebração da Palavra de Deus”. O quarto e último passo apresentará o que narra este

documento sobre a vida na celebração. Especialmente serão apresentados aspectos relevantes

que o documento destaca em relação à vida na Celebração Dominical da Palavra de Deus,

desde a preparação até a celebração litúrgica. Por fim, serão apreciados dois elementos

presentes em um roteiro de celebração da Palavra de Deus intitulado de “Roteiro F”,

apresentado no anexo do documento.

Enfim, este primeiro capítulo apresentará elementos que incentivem a integração da

vida e da história com a celebração litúrgica; a ligação entre a Páscoa de Jesus Cristo com os

acontecimentos concretos da existência; a integração entre a liturgia e vida, e ainda, a

Celebração Dominical da Palavra como celebração do Mistério Pascal.


14

1 Gênese do Documento 43 da CNBB: Animação da vida litúrgica no Brasil

A Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia, o primeiro

documento do Concílio Ecumênico Vaticano II, foi promulgada no dia 4 de dezembro de

1963. Depois da promulgação desta Constituição, houve uma grande reforma litúrgica na

Igreja. Geraldo Lyrio Rocha, bispo responsável pela Liturgia na CNBB nos anos de 1995 a

2003 e presidente do Departamento de Liturgia do CELAM nos anos de 1999 a 2003, afirma

que a reforma litúrgica impulsionada pela Sacrosanctum Concilium foi “a maior e a mais

profunda acontecida ao longo de toda a história da Igreja”2. Clemente Isnard, bispo que tomou

parte no Concílio Ecumênico Vaticano II, expressa que a Constituição sobre a Sagrada

Liturgia impulsionou não somente a reforma da liturgia na Igreja, como também impulsionou

“uma verdadeira reforma da Igreja, completada pelos outros documentos conciliares” 3.

No Brasil, a Constituição Sacrosanctum Concilium impulsionou o povo de Deus a

participar na liturgia e provocou nas comunidades eclesiais muito entusiasmo. Quase 20 anos

após a promulgação desta mesma Constituição, a Dimensão Litúrgica da CNBB, intitulada

Linha 4, através do projeto 4.19, “Novo impulso para a renovação litúrgica no Brasil”,

expressava:

A celebração dos 20 anos da Constituição sobre a Sagrada Liturgia é um


momento oportuno para suscitar, em todos os níveis e entre as diversas
categorias dos responsáveis pela liturgia, uma reflexão profunda sobre os
princípios do Vaticano II, com respeito à liturgia, para chegar a celebrações
mais imbuídas do espírito do Concílio e mais adaptadas à índole do povo do
Brasil4.

2
Palavras de Dom Geraldo Lyrio Rocha ao apresentar a publicação da coleção Estudos da CNBB, 87: CNBB. A
Sagrada Liturgia 40 anos depois. São Paulo: Paulus, 2003, p. 5. (Estudos da CNBB, 87).
3
ISNARD, Clemente. A Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium. In: CNBB. A Sagrada Liturgia 40
anos depois. São Paulo: Paulus, 2003, p. 21. (Estudos da CNBB, 87).
4
CNBB. 7º Plano bienal dos organismos nacionais 1983/1984. São Paulo: Paulinas, 1983, p. 50. (Documentos
da CNBB, 29).
15

Os liturgistas reunidos em Encontro Nacional nos dias 7 a 11 de julho de 1983, em

Salvador, Bahia, inspirados por esse projeto 4.19 da Dimensão Litúrgica da CNBB, tiveram a

ideia de realizar um levantamento avaliativo da realidade litúrgica do Brasil através de um

questionário a ser enviado às comunidades eclesiais. Neste encontro, foi elaborado o primeiro

esboço das perguntas do questionário.

Os bispos responsáveis pela liturgia nos Regionais da CNBB5, reunidos durante os

dias 22 a 25 de setembro de 1983, acolheram a ideia e aperfeiçoaram as perguntas do

questionário elaboradas pelos liturgistas no Encontro Nacional. Estes mesmos bispos pediram

à Dimensão Litúrgica da CNBB para enviar o questionário a todas as Dioceses e, através da

CRB, aos superiores maiores das ordens e congregações religiosas no Brasil. O questionário

foi enviado no dia 26 de outubro de 1983.

As respostas começaram a chegar, sobretudo a partir do segundo trimestre de 1984.

Ary Pintarelly, frei franciscano, tabulou e sintetizou as 2.042 respostas recebidas até julho de

1984. Estas respostas tabuladas e sintetizadas foram distribuídas a vários liturgistas. Entre

estes liturgistas, realizou-se uma verdadeira análise das respostas. Alguns sistematizaram as

respostas com poucas observações pessoais e outros ofereceram orientações para o agir.

O resultado das análises do questionário e contribuições foi publicado pela CNBB na

coleção Estudos, no ano de 1986, com o título: “Liturgia, 20 anos de caminhada pós-

conciliar”6. Na primeira parte desta publicação, são encontradas as 13 perguntas do

questionário enviado às Dioceses e as contribuições dos liturgistas. Dentre as 13 perguntas, a

questão número cinco era a seguinte: “A liturgia tem celebrado o Mistério Pascal não somente

5
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil está organizada em 17 Regionais. Mais informações sobre a
organização da Igreja no Brasil podem ser encontradas em CNBB. Diretório da Liturgia e da Organização da
Igreja no Brasil 2011. Brasília: CNBB, 2010, p. 209-430.
6
CNBB. Liturgia, 20 anos de caminhada pós-conciliar. São Paulo: Paulinas, 1986, 172 p. (Estudos da CNBB,
42).
16

revivendo a Páscoa de Cristo, mas também a nossa participação, isto é, a liturgia está ligando

a fé com a vida do povo em suas diversas situações? Como?” 7

Os padres Maucyr Gibin e Luís Mórgano, responsáveis por comentar esta questão8,

depois de apresentarem um comentário de forma abrangente, demonstraram que a

Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia enfoca “o Mistério Pascal

como síntese de toda a obra salvífica realizada por Deus, em Jesus de Nazaré que se torna o

Cristo glorioso e libertador da humanidade”9. A história da salvação não é algo estático, mas

adquire novo vigor, atualiza-se, renova-se “mediante o Espírito Santo que opera a atualização

desse Mistério (SC 5)”10. Concluindo o comentário da questão de número cinco, os padres

apresentaram a relação entre liturgia e vida do seguinte modo:

[...] não se trata de uma justaposição a ser feita e menos ainda querer
privilegiar um ou outro termo. Se a vida não entra, não há celebração do
Mistério Pascal; se o Mistério Pascal na história de um povo e na vida de Jesus
não for essencial às nossas celebrações litúrgicas, simplesmente não haverá
liturgia. Julgo que não se trata de disjunção ou de integração artificial. Ambos
os elementos são essenciais para que haja celebração da fé cristã 11.

A segunda parte da publicação “Liturgia, 20 anos de caminhada pós-conciliar”,

intitula-se: “A Liturgia no Mundo”. Esta parte contém o resumo das exposições do Congresso

Internacional de Liturgia em Roma, comemorativo dos 20 anos de promulgação da

Sacrosanctum Concilium12, que reuniu cerca de 200 presidentes e secretários de quase 100

Comissões Nacionais de Liturgia no mês de outubro de 1984, durante os dias 23 a 28. A

segunda parte contém, ainda, o relatório sobre os 20 anos da reforma litúrgica no Brasil,

7
CNBB. Liturgia, 20 anos de caminhada pós-conciliar. São Paulo: Paulinas, 1986, p. 12. (Estudos da CNBB,
42).
8
A análise completa das respostas à questão de número 5 do questionário para o levantamento da realidade
litúrgica no Brasil feita pelos padres Maucyr Gibin e Luís Mórgano pode ser encontrada em Ib. p. 47-51.
9
Ib. p. 48.
10
Ib. p. 48.
11
Ib. p. 51.
12
Mais informações sobre o Congresso podem ser encontradas na REVISTA DE LITURGIA. São Paulo, n. 67,
jan./fev. 1985.
17

elaborado pela Dimensão Litúrgica da CNBB e apresentado em Roma durante o Congresso

Internacional comemorativo sobre a Sacrosanctum Concilium13.

A publicação na Coleção Estudos da CNBB da obra “Liturgia, 20 anos de caminhada

pós-conciliar”, resultado do imenso trabalho de avaliação da caminhada litúrgica que

envolveu muitas pessoas, possui um conjunto valioso de informações, depoimentos e

afirmações sobre a situação da liturgia no Brasil. Esta publicação fez suscitar um novo

impulso para a renovação litúrgica das comunidades eclesiais.

Como fruto do trabalho realizado na implantação das decisões do Concílio e do

levantamento da realidade litúrgica do Brasil, os bispos reunidos na 27ª Assembleia Geral, em

abril de 1989, ano comemorativo dos 25 anos de promulgação da Constituição Sacrosanctum

Concilium sobre a Sagrada Liturgia, aprovaram o Documento 43 da CNBB, “Animação da

vida litúrgica no Brasil”14, e entregaram a esta Igreja preciosos elementos de pastoral litúrgica.

O Documento 43 da CNBB não pretende ser um manual de liturgia ou um diretório

dos sacramentos. Porém, é uma contribuição para a promoção e animação da pastoral litúrgica

“na formação dos agentes de Pastoral, para dinamizar as celebrações, para a constituição de

suas equipes e para impulsionar a adaptação litúrgica conforme os apelos do Espírito na

Igreja”15.

Este documento é constituído de 335 artigos distribuídos em duas grandes partes. A

primeira com dez capítulos intitula-se: “A vida litúrgica”. E a segunda com dois capítulos:

“Orientações pastorais sobre a celebração Eucarística”. Ione Buyst faz uma apresentação e

uma apreciação sucinta do documento ao afirmar:

13
“Em preparação deste encontro, a Congregação enviou, em abril de 1984, aos presidentes das comissões
nacionais de liturgia um questionário, visando um relatório, sobre os seguintes itens: Línguas e livros litúrgicos;
Adaptações da liturgia à índole dos diversos povos; Pastoral litúrgica; Funções dos leigos na liturgia; Outros
eventuais problemas; Expectativas com relação à Congregação para o Culto Divino”. COMUNICADO
MENSAL DA CNBB, n. 383, p. 1135, [31 out.] 1984.
14
CNBB. Animação da vida litúrgica no Brasil. Elementos de Pastoral Litúrgica. 17. ed. São Paulo: Paulinas,
2002, 116 p. (Documentos da CNBB, 43).
15
Doc. 43 da CNBB, n. 3.
18

Como todo documento eclesial, o documento sobre a animação litúrgica foi


escrito por muitas mãos e muitas cabeças diferentes. Ele revela a necessária
pluralidade dentro de uma procurada unidade. [...] percebemos [...] o sopro do
Espírito: com alegre e entusiasta esperança, característica da Igreja dos pobres,
consegue colocar na sombra resquícios de uma concepção a-histórica,
eclesiocêntrica, formalista, jurisdicista... da liturgia 16.

O Documento 43 foi um passo expressivo para a pastoral litúrgica no Brasil,

consagrando os caminhos percorridos e abrindo espaços para um maior avanço na reflexão e

na prática. Também foi “um instrumento de animação e formação de agentes e das

comunidades para dinamizar as celebrações; impulsionar a adaptação litúrgica (3); celebrar os

acontecimentos da vida inseridos no Mistério Pascal de Cristo (50) e chegar à aculturação e

inculturação (195)”17.

Enfim, o Documento 43 da CNBB, publicado no Brasil após aprovação da 27ª

Assembleia Geral dos Bispos, foi traduzido para o espanhol pelo CELAM e mereceu uma

carta elogiosa da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos18.

2 A vida na Celebração Dominical da Palavra de Deus no Documento 43 da CNBB

A vida na celebração é o fio condutor que perpassa todo o Documento 43 da CNBB,

“Animação da vida litúrgica no Brasil”. A inter-relação liturgia e vida é quase refrão de cada

capítulo. Este fio condutor, afirma Paludo, brota da aspiração “das comunidades eclesiais e

dos grupos de cristãos mais conscientes na prática de sua fé”19. Os bispos brasileiros chegam a

expressar, através do documento, a alegria em acolher “o atual anseio de, nas ações litúrgicas,

celebrar os acontecimentos da vida inseridos no Mistério Pascal de Cristo”20. O destaque dado

16
BUYST, Ione. Liturgia, acontecimento teologal. Revista de Liturgia, São Paulo, n. 95, p. 150, set./out. 1989.
17
SIVINSKI, Marcelino. Elementos de pastoral litúrgica. Revista de Liturgia, São Paulo, n. 97, p. 28, jan./fev.
1990.
18
Cf. COMUNICADO MENSAL DA CNBB, n. 441, p. 754, [abr. e maio] 1990.
19
PALUDO, Faustino. Ler o documento a partir da fé vivida e celebrada. Revista de Liturgia, São Paulo, n. 95,
p. 135, set./out. 1989.
20
Doc. 43 da CNBB, n. 50.
19

à vida na celebração pelas comunidades eclesiais no Brasil brota “de uma nova expressão

litúrgica ligada à vida”21.

Porém, o documento também expressa que existem muitas comunidades indiferentes à

relação entre o compromisso da fé, Palavra e vida ao celebrar. Esta realidade da vida litúrgica

atual é um dos “desafios mais urgentes”22 encontrados na caminhada litúrgica pós-conciliar. O

Documento 43, ao afirmar que a “Palavra de Deus é sempre eficaz e transformadora” 23, chega

a perguntar sobre “o que falta para que as assembléias litúrgicas levem a maior compromisso

de fé e melhor ligação entre fé, Palavra e vida?” 24

O Documento 43 não explicita somente a vida na Celebração Dominical da Palavra de

Deus25, mas também, a celebração Eucarística, liturgia à qual é confiada toda a segunda parte

do documento intitulada: “Orientações Pastorais sobre a Celebração Eucarística”. A relação

entre Eucaristia, vida e história é afirmada da seguinte maneira: “na Eucaristia-Páscoa do

Senhor, é onde a vida se articula mais com a celebração; pois a missa é que melhor celebra a

Morte e Ressurreição de Cristo, acontecimento fundante não só da Liturgia, mas de toda a

História”26.

Por isso, esta parte da dissertação, ao estudar a vida na Celebração Dominical da

Palavra de Deus, conforme o Documento 43, apresentará o que este documento explicita em

sua primeira parte sobre os elementos da Celebração da Palavra e depois, quando houver

necessidade, considerará a segunda parte do documento que, ao tratar dos elementos da

21
Doc. 43 da CNBB, n. 15.
22
Doc. 43 da CNBB, n. 28.
23
Doc. 43 da CNBB, n. 31.
24
Doc. 43 da CNBB, n. 31.
25
A prática da Celebração Dominical da Palavra de Deus foi introduzida em 1898 em Burundi e em 1930 no
Togo, ambos os países africanos. Em 1943, a Celebração Dominical da Palavra de Deus tornou-se obrigatória em
áreas não frequentadas pelos missionários. Nos últimos anos, estas Celebrações difundiram-se nos países da
Ásia, África e América Latina e atualmente já não se trata mais de um fenômeno restrito às terras de missão,
sendo conhecidas em comunidades da Europa. Cf. CHUPUNGCO, Anscar. Liturgias do futuro: processos e
métodos
26
de inculturação. São Paulo: Paulinas, 1992, p. 202. (Liturgia e teologia).
Doc. 43 da CNBB, n. 204.
20

Celebração Eucarística, oferece algumas informações sobre elementos comuns à Celebração

Dominical da Palavra de Deus.

2.1 A vida na Celebração Dominical da Palavra de Deus e o Mistério Pascal

O Documento 43 afirma que a liturgia é celebração do Mistério Pascal de Cristo, é

“memória do acontecimento fundante do povo de Deus, isto é, a morte e ressurreição do

Senhor, que perpetua na História a salvação que Cristo veio trazer a todos”27. Ao se referir à

Celebração Dominical da Palavra de Deus, afirma, também, que através da Palavra as

comunidades celebram o Mistério Pascal:

No Brasil a maioria do povo fiel, em milhares de comunidades, que não


contam ordinariamente com o presbítero, através da Palavra celebra o Mistério
de Cristo em suas vidas. E sendo a Palavra de per si, depois dos sacramentos,
o modo mais importante de celebrar, temos mais de um motivo para refletir
sobre esta forma de celebração, como o vem fazendo, aliás, a própria Sé
Apostólica em nível universal28.

O documento manifesta que a Celebração Dominical da Palavra de Deus é celebração

do Mistério de Cristo. Este Mistério é o “objeto e conteúdo principal”29 da ação litúrgica, por

isso mesmo, da Celebração Dominical da Palavra de Deus. É centro da história da salvação,

“envolve toda a vida de Cristo e a vida de todos os cristãos” 30. Por isso, o documento também

manifesta que as comunidades “celebram o Mistério de Cristo em suas vidas”31 ao celebrar a

Palavra.

O Mistério Pascal, diz o Documento 43, “celebrado e atualizado em cada sacramento

deve ressoar e completar-se na vida, toda a Liturgia deve levar a um compromisso social. [...]

Por outro lado, na medida em que as comunidades estão comprometidas com a transformação
27
Doc. 43 da CNBB, n. 39.
28
Doc. 43 da CNBB, n. 93.
29
Doc. 43 da CNBB, n. 48.
30
Doc. 43 da CNBB, n. 48.
31
Doc. 43 da CNBB, n. 93.
21

do mundo, seu engajamento repercute na Liturgia, fonte e ápice de toda a vida cristã”32. O

Mistério celebrado compromete o fiel com a transfiguração da história, principalmente dos

mais pobres e necessitados, e esta vida pascalizada do cristão ressoa na Celebração Dominical

da Palavra de Deus. Há coerência entre o que é celebrado e o que é vivido.

Enfim, a Celebração Dominical da Palavra de Deus é celebração do Mistério, da

presença e da ação do Ressuscitado na vida cotidiana. O Mistério Pascal envolve a vida de

Cristo e a história de toda a humanidade, dá sentido à celebração e à existência cristã33. É a

“Páscoa de Cristo na Páscoa da gente, Páscoa da gente na Páscoa de Cristo”34.

2.2 A vida na Celebração Dominical da Palavra de Deus e a ação do Espírito Santo

A presença e a ação do Espírito Santo atualizam o Mistério Pascal na celebração. O

próprio Documento 43 expressa que “sem a ação do Espírito Santo não pode haver Liturgia.

A Páscoa de Cristo que celebramos é fruto do Espírito Santo que impulsionou o Filho de Deus

a realizar a vontade do Pai até as últimas consequências”35. É este mesmo Espírito que

envolve no Mistério de Cristo, celebrado pelos cristãos através da Palavra de Deus, a vida, as

lutas, as esperanças de todas as pessoas e a história de toda a humanidade36.

A ação do Espírito Santo “[...] pela Palavra, dinamiza a vida das comunidades” 37. É a

ação do Espírito Santo, também, através da Celebração Dominical da Palavra de Deus, que

enche de vida, sentido e luz a história de “milhares de homens e mulheres individual ou

comunitariamente, [...] revivendo nela [na história] o Mistério Pascal de Jesus Cristo”38.

32
Doc. 43 da CNBB, n, 157.
33
Cf. BECKHÄUSER, Alberto. Os fundamentos da Sagrada Liturgia. Petrópolis: Vozes, 2004, p. 304.
34
Doc. 43 da CNBB, n. 300.
35
Doc. 43 da CNBB, n. 49.
36
Cf. Doc. 43 da CNBB, n. 49.
37
SILVA, José Ariovaldo da. Desafios à vida litúrgica para os próximos decênios. Revista de Liturgia, São
Paulo, n. 94, p. 109, jul./ago. 1989.
38
Doc. 43 da CNBB, n. 65.
22

É o Espírito Santo, ainda, que “continua exortando-nos a que ofereçamos nossa vida e

nosso compromisso de servir aos irmãos na construção do Reino, como hóstias vivas, santas e

agradáveis a Deus”39. Enfim, é o Espírito Santo, dom da Páscoa de Cristo, quem “nos

impulsiona continuamente a viver a nossa Páscoa, que são as múltiplas passagens da morte

para a vida”40.

2.3 Deus intervém na vida do seu povo através da Palavra

Através da Palavra, o próprio Deus fala à comunidade reunida e irrompe na vida e na

história de seu povo. Assim sendo, por meio da Celebração Dominical da Palavra de Deus,

verdadeira ação litúrgica, Deus continua a intervir na vida e na história do ser humano e

comunica-se com o seu povo. O Documento 43, ao referir-se à Palavra de Deus na liturgia, se

expressa da seguinte forma:

[...] a Palavra de Deus, comunicação do próprio Deus, que nos convoca para
celebrar a Aliança, ilumina nosso caminho e alimenta nossa vida. Primeiro
porque Deus mesmo revelou o seu plano através de acontecimentos, cujo
sentido foi captado e transmitido, sob inspiração do próprio Deus, através de
palavras humanas, que hoje constituem o texto sagrado, objeto e alimento de
nossas celebrações41.

A Celebração Dominical da Palavra de Deus é “presença do Mistério de Cristo agindo

aqui e agora, com sua divina proposta, que aguarda nossa resposta concreta e generosa” 42.

Ione Buyst, inspirada pelo Documento 43, expressa que a Palavra na liturgia é celebração do

Mistério Pascal, é um acontecimento teologal e que, através desta Palavra, o Espírito introduz

os fiéis na vida de Cristo:

39
Doc. 43 da CNBB, n. 49.
40
Doc. 43 da CNBB, n. 125.
41
Doc. 43 da CNBB, n. 77.
42
Doc. 43 da CNBB, n. 78.
23

Liturgia da Palavra – seja unida à celebração de um sacramento, seja como


celebração autônoma – não é reunião para estudo da Bíblia. Como toda
celebração litúrgica, ela é celebração do Mistério Pascal. É um acontecimento
teologal. Tem valor e eficácia sacramental. É comunicação de Deus; é
presença do Mistério de Cristo agindo aqui e agora (78). É “Palavra eficaz do
Deus libertador que cria vida nova” (264). Na escuta da Palavra, o Espírito
implanta em nós a vida nova de seguidores de Cristo (158)43.

Na Celebração Dominical da Palavra de Deus, a comunidade ouve e medita a Palavra

e é esta Palavra de Deus ouvida e meditada pelo povo que vai dando seus frutos na vida

comunitária e na história da humanidade. A comunidade atingida por Deus, mediante a

Palavra, responde a Ele, expõe o documento, escolhendo “cuidadosamente palavras que

exprimem sua fé, sua esperança, seus sentimentos e suas necessidades numa primorosa e

venerável coleção de orações e hinos”44.

Como Maria, “[...] nós cristãos nos empenhamos por marcar nossa vida com a escuta

da Palavra, o amor incondicional a Cristo e a caridade solícita para com os irmãos, que

caracterizam a santidade de Maria”45. Por fim, Deus intervém na história do seu povo através

da Palavra e a comunidade responde a Deus através de uma vida pascal.

2.4 A vida nos passos de preparação de uma celebração

A Celebração Dominical da Palavra de Deus exige uma preparação dedicada que

envolva a comunidade de forma ampla e ativa. “Não basta a mera distribuição de tarefas ou

simples escolha de cantos, como muitas vezes ocorre, fazendo o povo ser apenas executor de

funções e não verdadeiro agente da ação litúrgica”46.

43
BUYST, Ione. Liturgia, acontecimento teologal. Revista de Liturgia, São Paulo, n. 95, p. 148, set./out. 1989.
44
Doc. 43 da CNBB, n. 80.
45
Doc. 43 da CNBB, n. 135.
46
Doc. 43 da CNBB, n. 213.
24

O Documento 43, em sua segunda parte, apresenta a sugestão de quatro passos na

preparação de uma celebração Eucarística47: “1º Passo: situar a celebração no Tempo litúrgico

e na vida da comunidade. [...] 2º Passo: Aprofundar as leituras. [...] 3º Passo: Exercício de

criatividade. [...] 4º Passo: Elaborar o roteiro da celebração, levando em conta os passos

anteriores”48.

Estes quatro passos propostos pelo documento contribuem e podem ser usados na

preparação de qualquer liturgia, inclusive na Celebração Dominical da Palavra de Deus.

Porém, os dois primeiros passos põem em evidência a vida e a história na celebração e, por

isso, serão estudados nesta parte da dissertação49.

2.4.1 Primeiro passo: situar o Mistério Pascal de Cristo no Mistério Pascal da vida da

comunidade

O primeiro passo na preparação de uma celebração apresentado pelo Documento 43 é

situar o Mistério Pascal de Cristo no Tempo litúrgico e na vida das pessoas da assembleia e da

história dos povos. O Mistério revelado durante todo o ano através do ciclo do Natal, da

Páscoa e do Tempo Comum, enfim, através do ano litúrgico50 é situado na realidade que

marca a vida dos celebrantes51 e a história do mundo.

47
O documento afirma que existem outros passos a serem seguidos na preparação de uma celebração e que os
indicados são opções entre tantas outras possíveis. Cf. Doc. 43 da CNBB, n. 219.
48
Doc. 43 da CNBB, n. 220-227.
49
Os interessados em aprofundar o terceiro e quarto passo na preparação de uma celebração são convidados a
conferir o próprio documento e uma obra referente ao assunto: Doc. 43 da CNBB, n. 211-228; BARONTO, Luiz
Eduardo. Preparando passo a passo a celebração: um método para as equipes de celebração das comunidades.
8. ed. São Paulo: Paulus, 2003, 42 p. (Celebrar a fé e a vida).
50
Ampla bibliografia sobre o ano litúrgico pode ser encontrada em SILVA, Frei José Ariovaldo da. Bibliografia
para estudar e vivenciar o ano litúrgico. In: CNBB. Liturgia em Mutirão: subsídios para formação. Brasília:
CNBB, 2007, p. 245-248.
51
Entendem-se como celebrantes, não apenas os ministros, ordenados ou não, que presidem as celebrações.
Afirma o Catecismo da Igreja Católica: “É toda a comunidade, o corpo de Cristo unido à sua Cabeça, que
celebra. [...] A assembleia que celebra é a comunidade dos batizados, os quais, „pela regeneração e unção do
Espírito Santo, são consagrados como casa espiritual e sacerdócio santo para oferecer sacrifícios espirituais‟
[Lumen Gentium, n. 10]”. CIC, n. 1140-1141.
25

O documento chama a atenção para a necessidade de “enraizar a celebração no chão

da vida, na história”52 onde o mundo e as pessoas são atingidas pelo Mistério de Cristo.

Como, então, preparar a celebração integrando a vida das pessoas e a história do mundo

hodierno, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem?

O documento sugere, principalmente aos responsáveis na preparação da celebração,

“auscultar os acontecimentos que marcam a vida de nossa comunidade que passaram ou que

vêm: sociais, religiosos; do dia-a-dia, da comunidade, da região; nacionais,

internacionais...”53.

O documento sugere, também, “ver outros acontecimentos que marcam a celebração

[...]”54. São datas especiais, religiosas ou não, apreciadas e lembradas por toda a assembleia ou

não, mas que será convidada a recordar, “[...] por exemplo, uma data especial, dia da Bíblia,

mês de maio, dia das mães, aniversário do pároco e outros [...]”55.

Enfim, o documento sugere, ainda, “ver com quem se vai celebrar”56. As pessoas que

participam numa determinada comunidade e a própria comunidade possuem traços e histórias

distintas de outras assembleias e comunidades que precisam ser observados para situar a

celebração no tempo, na vida e na história. São condições básicas no preparo de uma

celebração o conhecimento de como é a assembleia celebrante, quais suas características

próprias, sem esquecer os grupos minoritários57.

52
Doc. 43 da CNBB, n. 221.
53
Doc. 43 da CNBB, n. 221.
54
Doc. 43 da CNBB, n. 222.
55
Doc. 43 da CNBB, n. 222.
56
Doc. 43 da CNBB, n. 223.
57
Cf. BARONTO, Luiz Eduardo. Preparando passo a passo a celebração: um método para as equipes de
celebração das comunidades. 8. ed. São Paulo: Paulus, 2003, p. 23. (Celebrar a fé a e vida).
26

2.4.2 Segundo passo: aprofundar a Palavra, os acontecimentos da vida e o Mistério

celebrado

O segundo passo na preparação de uma celebração apresentado pelo Documento 43 é

aprofundar as leituras da liturgia da Palavra “[...] à luz dos acontecimentos da vida e do

Mistério celebrado [...]”58. Os fatos da vida e do Mistério celebrado são iluminados pela

Palavra de Deus e a própria realidade torna-se chave de leitura, de aprofundamento e

interpretação da Sagrada Escritura na celebração litúrgica.

Algumas perguntas são apresentadas pelo documento na preparação da liturgia pelas

equipes responsáveis para o aprofundamento da Palavra na realidade: “o que dizem as

leituras? o que significam para a nossa vida? como podem orientar o nosso agir? quais os

desafios de nossa realidade hoje? como a Palavra de Deus ilumina nossa realidade? como

ligamos a Palavra com o Mistério celebrado?”59

Este exercício de aprofundar a Palavra de Deus mediante a situação concreta vivida ou

um fato ocorrido ser iluminado pela Bíblia já era uma prática da comunidade primitiva (cf. At

2; 4,23-31). A Pontifícia Comissão Bíblica expressa em documento que não há novidade

nessa prática:

Já no interior da própria Bíblia [...] pode-se constatar a prática da atualização:


textos mais antigos foram relidos à luz de circunstâncias novas e aplicados à
situação presente do Povo de Deus. Baseada sobre as mesmas convicções, a
atualização continua necessariamente a ser praticada nas comunidades dos
fiéis60.

A vida e a história não são chaves de leitura somente para a Celebração Dominical da

Palavra de Deus, mas também para a interpretação da Bíblia nos estudos que a Igreja realiza

58
Doc. 43 da CNBB, n. 224.
59
Doc. 43 da CNBB, n. 225.
60
PONTIFÍCIA COMISSÃO BÍBLICA. A interpretação da Bíblia na Igreja. Discurso de Sua Santidade o papa
João Paulo II e documento da Pontifícia Comissão Bíblica. 8. ed. São Paulo: Paulinas, 2009, p. 139. (A voz do
papa, 134).
27

através dos seus exegetas. A Igreja acolhe a Sagrada Escritura “como Palavra de Deus que se

dirige a ela e ao mundo inteiro no tempo presente”61, afirma a Pontifícia Comissão Bíblica. O

aprofundamento das leituras da Palavra de Deus à luz da vida na preparação de uma

celebração apresentado pelo Documento 43 pode ser iluminado, ainda, por três etapas

sugeridas aos exegetas para a interpretação da Sagrada Escritura:

1) Escutar a Palavra a partir da situação presente; 2) discernir os aspectos da


situação presente que o texto bíblico ilumina ou coloca em questão; 3) tirar da
plenitude de sentido do texto bíblico os elementos suscetíveis de fazer evoluir
a situação presente de maneira fecunda, conforme a vontade salvífica de Deus
no Cristo62.

Enfim, o povo de Deus ao preparar a liturgia ou participando de uma celebração

litúrgica da Palavra ou estudando esta mesma Palavra é chamado a confrontar a vida das

pessoas e a história presente com a Sagrada Escritura.

2.5 A vida nos ritos que compõem a Celebração Dominical da Palavra de Deus

O Documento 43, em sua primeira parte, apresenta os ritos que compõem a

Celebração Dominical da Palavra de Deus: os ritos iniciais, a liturgia da Palavra, a ação de

graças e os ritos finais63. A segunda parte do documento, porém, apresenta os ritos que

compõem a Celebração Eucarística e possui elementos e detalhes importantes a serem

considerados nesta parte do primeiro capítulo.

Por isso, o estudo sobre “a vida nos ritos que compõem a Celebração Dominical da

Palavra de Deus” irá considerar o que o Documento 43 oferece em sua primeira parte e

61
PONTIFÍCIA COMISSÃO BÍBLICA. A interpretação da Bíblia na Igreja. Discurso de Sua Santidade o papa
João Paulo II e documento da Pontifícia Comissão Bíblica. 8. ed. São Paulo: Paulinas, 2009, p. 139. (A voz do
papa, 134).
62
Ib. p. 143.
63
Cf. Doc. 43 da CNBB, n. 101.
28

considerará os elementos e detalhes importantes encontrados na segunda parte do mesmo

documento.

2.5.1 A vida nos ritos iniciais da celebração

O Documento 43 explicita que o primeiro elemento da Celebração Dominical da

Palavra de Deus é a “reunião dos fiéis para manifestar a Igreja”64 e que os ritos iniciais

“expressam o Senhor, que chama e reúne seu povo, e o povo que alegremente vem e se

apresenta”65. Análogo à Celebração Eucarística, o rito inicial na Celebração Dominical da

Palavra de Deus constitui a assembleia e ajuda os celebrantes a entrarem no clima da

celebração66.

Após a saudação ritual ao povo reunido no início da celebração, “é desejável que [...]

haja uma palavra mais espontânea de introdução”67 e de acolhida realizada por quem preside a

assembleia ou pelo animador ou animadora68. Esta saudação espontânea “lembrará à

comunidade sua união com a Igreja local, onde os irmãos celebram e lutam na construção do

Reino”69, e ainda, “a motivação para a celebração pode incluir intenções da assembléia, ou

acontecimentos a comemorar à luz do Mistério Pascal”70. Desta forma, os celebrantes tomam

consciência de estar unidos com a Igreja local, lugar onde os convocados pelo Senhor,

celebram e lutam, através das suas vidas e história, na edificação do Reino.

64
Doc. 43 da CNBB, n. 99.
65
Doc. 43 da CNBB, n. 101.
66
Cf. Doc. 43 da CNBB, n. 230.
67
Doc. 43 da CNBB, n. 101.
68
Cf. BUYST, Ione. Presidir a celebração do dia do Senhor. São Paulo: Paulinas, 2004, p. 30. (Coleção rede
celebra; 6); CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO. Instrução Geral do Missal Romano. In: Id. Instrução
Geral do Missal Romano e Introdução ao Lecionário. Brasília: CNBB, 2008, n. 74. Mas, quem é o animador ou
animadora na celebração dominical? Penha Carpanedo e Marcelo Guimarães apresentam este serviço na
celebração da seguinte forma: “Chamamos de animadores ou animadoras as pessoas que auxiliam na
coordenação, repartindo entre si tudo o que é comentário, como as monições e indicações para a assembléia [...].
CARPANEDO, Penha; GUIMARÃES, Marcelo. Dia do Senhor: Guia para as Celebrações das Comunidades.
Vol. II: Ciclo Pascal ABC. 2. ed. São Paulo: Paulinas; Apostolado Litúrgico, 2004, p. 31. (Coleção Liturgia no
caminho. Série dominical e santoral).
69
Doc. 43 da CNBB, n. 101.
70
Doc. 43 da CNBB, n. 244.
29

Existem comunidades, porém, que têm o costume de começar as celebrações com “[...]

breves palavras iniciais do(a) animador(a)”71. Esta palavra inicial, expressa o documento,

“mais do que uma exortação ou de uma introdução temática, é preferível situar a celebração

[...] no contexto do Tempo litúrgico e das circunstâncias concretas da vida da comunidade” 72.

O Documento 43 expressa através do artigo 251, após uma apresentação geral sobre o

ato penitencial, que este rito “[...] poderá ser usado com grande flexibilidade. Um ministro

[...] poderá orientar o momento de silêncio com um exame de consciência para cada um olhar

a sua vida e deixar que Deus olhe o seu coração ou orientar as invocações livres do „Senhor,

tende piedade‟”73.

Nesse artigo do Documento 43, somente há referência ao pecado pessoal e as pessoas

e a comunidade não são levadas à reflexão do pecado social. Esta lacuna em relação ao

pecado social é superada pelo documento somente através do posterior artigo 255 que

expressa: “o rito penitencial bem realizado pode tornar-se um lugar importante para o

ministério pastoral da educação sobre o senso do pecado pessoal, comunitário, social e do

ministério da reconciliação de toda a Igreja, que encontra o seu ápice de sacramentalidade no

Batismo e na Penitência”74.

O rito inicial é concluído com a oração do dia conduzida por quem preside, precedida

por um convite à assembleia para rezar: “todos conservam-se em silêncio [...] por alguns

instantes, tomando consciência de que estão na presença de Deus e formulando interiormente

os seus pedidos”75. Na oração do dia, “o tom de voz e a maneira de rezar, o gesto de mãos

abertas, que o povo, eventualmente, poderia acompanhar, uma palavra melhor explicitada,

71
Doc. 43 da CNBB, n. 237.
72
Doc. 43 da CNBB, n. 237.
73
Doc. 43 da CNBB, n. 251.
74
Doc. 43 da CNBB, n. 255.
75
Doc. 43 da CNBB, n. 258. Cf. CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO. Instrução Geral do Missal
Romano. In: Id. Instrução Geral do Missal Romano e Introdução ao Lecionário. Brasília: CNBB, 2008, n. 54.
30

ajudarão a fazer deste momento o lugar de uma verdadeira súplica a Deus Pai, expressão de

sua vida e de sua experiência religiosa”76.

2.5.2 A vida na liturgia da Palavra

O Documento 43, ao se referir à liturgia da Palavra, mostra: “na Liturgia da Palavra,

proclamada e explicada, o Senhor fala da salvação ao seu povo, que responde professando a

fé, pedindo perdão, suplicando, louvando e bendizendo”77. Porém, o documento expressa que

muitas pessoas não possuem a clareza de “que a Palavra de Deus é antes de tudo um Eu que

se dirige ao Tu do seu povo reunido dialogicamente; e, mais ainda, que neste diálogo a

Palavra é, efetivamente, Palavra eficaz do Deus libertador que cria vida nova” 78. Como ajudar

o povo de Deus a ter clareza da finalidade da liturgia da Palavra e celebrar melhor? Duas

práticas são apresentadas pelo documento como caminhos:

O primeiro refere-se às CEBs ou outros grupos mais homogêneos, que


conseguiram uma maior partilha da Palavra no confronto entre Bíblia e vida
das comunidades ou grupos. O segundo caminho, na linha da tradição romana
e mais adequado aos grandes grupos, acentua certos ritos, que não são
necessários nos grupos anteriores79.

Durante toda a proclamação da Palavra, o Espírito vai tocando os corações e

atualizando na vida das pessoas e na história dos povos esta mesma Palavra ouvida. No

entanto, as comunidades onde a “partilha da Palavra” realiza a integração entre a vida das

pessoas, história da humanidade e a Bíblia ajudam o povo de Deus a atingir o objetivo da

76
77
Doc. 43 da CNBB, n. 260.
78
Doc. 43 da CNBB, n. 101.
79
Doc. 43 da CNBB, n. 264.
Doc. 43 da CNBB, n. 265.
31

liturgia da Palavra que é reavivar o diálogo da Aliança entre Deus e o seu Povo, estreitar os

laços de amor e fidelidade, acolher a direção do Senhor para a vida80.

O documento afirma, também, que “é função da homilia atualizar a Palavra de Deus,

fazendo a ligação da Palavra escutada nas leituras com a vida e a celebração” 81. A vida e a

história iluminam a homilia e a homilia ilumina, por sua vez, a realidade82. O documento

sugere que o homiliasta proponha aos celebrantes a participação na homilia através de

depoimentos, fatos da vida, reflexões e atualização da Palavra no concreto da vida e da

história. Até mesmo sugere que o homiliasta faça “algumas perguntas sobre o que falaram as

leituras, como elas iluminam a nossa vida” 83. Estas perguntas ajudam o povo a perceber como

a celebração realiza no presente a Palavra de Deus. A própria Instrução Geral do Missal

Romano expressa que é imprescindível na homilia dar importância ao Mistério celebrado e às

necessidades particulares dos ouvintes84.

A liturgia da Palavra, diálogo entre os parceiros da Aliança, continua através da oração

dos fiéis. A comunidade reunida pelo Senhor tem a convicção de que Ele lhe fala e, na oração

dos fiéis, este povo de Deus reunido exerce sua função sacerdotal e reza por toda a

humanidade85. O Documento 43 sugere que, “na formulação das intenções, sem negligenciar a

abertura para os grandes problemas e acontecimentos da Igreja universal, dar-se-á espaço para

as necessidades mais sentidas pela comunidade”86. Através da oração dos fiéis, as preces, os

pedidos, as angústias e as dores sentidas pela comunidade são elevadas a Deus. Enfim, a vida

é integrada na celebração.

80
Cf. BUYST, Ione. A missa: memória de Jesus no coração da vida. São Paulo: Paulinas, 2004, p. 67; Doc. 43 da
CNBB, n. 262.
81
Doc. 43 da CNBB, n. 276.
82
Ampla bibliografia sobre a homilia pode ser encontrada em SILVA, José Ariovaldo. Bibliografia sobre a
homilia. In: CNBB. Liturgia em Mutirão: subsídios para formação. Brasília: CNBB, 2007, p. 242-244.
83
Doc. 43 da CNBB, n. 279.
84
Cf. CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO. Instrução Geral do Missal Romano. In: Id. Instrução
Geral do Missal Romano e Introdução ao Lecionário. Brasília: CNBB, 2008, n. 65.
85
Cf. Doc. 43 da CNBB, n. 283.
86
Doc. 43 da CNBB, n. 284.
32

2.5.3 A vida na liturgia de ação de graças

O domingo, Dia do Senhor, é caracterizado principalmente pelo louvor, pelo

agradecimento do povo de Deus por causa da ressurreição de Jesus e da salvação que Ele

trouxe. Por isso, o Documento 43 expressa que a ação de graças é um dos elementos

fundamentais na Celebração Dominical da Palavra de Deus, “é um ponto alto, porque a

grande resposta ao Deus que se faz Salvador é o homem e a mulher agradecendo. Por ela se

louva e se bendiz a Deus por seu grande amor”87.

A ação de graças realizada pela comunidade é consequência, é resposta à iniciativa de

Deus que procura, ama e salva o ser humano. Através da ação de graças na celebração, as

comunidades presididas por cristãos leigos bendizem e louvam ao Senhor pela sua Páscoa na

vida e na história da humanidade.

As comunidades, ao louvar a “Deus que se faz Salvador”, integram na ação de graças

os sinais de vida e ressurreição percebidos como intervenção divina na vida das pessoas e na

história dos povos e agradecem “a Deus por seu grande amor” e porque Ele continua a passar

e salvar o seu povo.

A ação de graças na Celebração Dominical da Palavra de Deus possibilita à

comunidade louvar os grandes feitos de Deus na história da salvação e também os pequenos

sinais cotidianos do “grande amor” de Deus na vida das pessoas e na história da comunidade.

Enfim, a comunidade, ao dar graças a Deus, é chamada a reconhecer a intervenção do

Senhor na história e as exigências que a história da salvação comporta e, também, é

convocada a se comprometer com estas exigências.

87
Doc. 43 da CNBB, n. 101.
33

2.5.4 A vida nos ritos finais da celebração

O Documento 43 expressa que, “pelos Ritos de conclusão, os fiéis, que tomaram

consciência de que são enviados, assumem o compromisso da sua missão a serviço do Reino

na vida concreta”88. A vida das pessoas e a história do mundo não são esquecidas pelos ritos

finais na Celebração Dominical da Palavra de Deus.

Precedendo o momento de partir em “missão a serviço do Reino na vida concreta”, os

fiéis, através de sucintos avisos, tomam parte da vida da comunidade na qual estão inseridos

ou até mesmo de outras comunidades e da Igreja universal 89.

A inserção dos cristãos nos acontecimentos e ações na sociedade em geral, ou como

expressa o documento, “a missão a serviço do Reino na vida concreta” inclui e é constituída

de ações na vida eclesial, social, política e econômica.

Nos ritos finais, expressa o documento: “parece ser também o momento mais

adequado para as breves homenagens, que as comunidades gostam de prestar em dias

especiais antes de se dispersarem”90, por exemplo: a delicadeza e o zelo em festejar o

aniversário de vida de um irmão ou irmã; a alegria pelo aniversário de casamento de casais da

comunidade; o agradecimento pelo trabalho voluntário em uma obra da comunidade eclesial

ou do bairro; entre outros fatos da vida e da história de pessoas que fazem parte da assembleia

litúrgica. Estes são gestos de grande cuidado ou preocupação em relação aos irmãos que se

encontram na celebração. São sinais de sensibilidade com a vida e história das pessoas.

Antes da bênção final, o documento sugere a quem preside a celebração estimular a

assembleia através de “uma mensagem final, na qual se exorte a comunidade a testemunhar

pela vida a realidade celebrada”91. Esta mensagem brotará da atualização feita da Palavra do

88
Doc. 43 da CNBB, n. 101.
89
Cf. Doc. 43 da CNBB, n. 327.
90
Doc. 43 da CNBB, n. 328.
91
Doc. 43 da CNBB, n. 329.
34

Senhor pela inspiração do Espírito Santo em sintonia com o Mistério Pascal que “envolve

toda a vida de Cristo e a vida de todos os cristãos”92.

3 Gênese do Documento 52: Orientações para a celebração da Palavra de Deus 93

A pesquisa realizada pela Dimensão Litúrgica da CNBB sobre a situação da vida

litúrgica no Brasil, em 1983, mostrou que “70% das celebrações, no Dia do Senhor, são

realizadas por comunidades que vivem e celebram sua fé sem a presidência de um ministro

ordenado”94.

A Dimensão Litúrgica da CNBB, intitulada de Linha 4, impulsionou a reflexão sobre a

realidade destas comunidades que celebram o Dia do Senhor presididas por cristãos leigos,

através do Projeto 4.4: “Orientações para Celebrações Dominicais presididas por leigos” que

se encontram no 9º Plano bienal de pastoral da CNBB para os anos de 1987 e 1988. Este

projeto expressou:

Muitas comunidades, no domingo, não celebram a Eucaristia, mas reúnem-se


para celebrações presididas por leigos. Serão, pois, necessárias orientações
para uma celebração autêntica do Dia do Senhor, a partir das Diretrizes a
serem baixadas pela Sé Apostólica95.

A Dimensão Litúrgica da CNBB, ao dedicar-se ao Projeto 4.4, elaborou uma pesquisa

referente à Celebração Dominical da Palavra de Deus, através de um questionário que foi

encaminhado e respondido no ano de 1990 em todas as Dioceses do Brasil96. Faustino Paludo,

então assessor da Dimensão Litúrgica da CNBB, ao referir-se às motivações da pesquisa

referente à Celebração Dominical da Palavra de Deus, afirmou:

92
Doc. 43 da CNBB, n. 48.
93
Depois de dedicada pesquisa, percebeu-se a escassez de bibliografia para a contribuição de melhor
apresentação da gênese do Documento 52.
94
Doc. 43 da CNBB, n. 25.
95
CNBB. 9º Plano bienal dos organismos nacionais 1987/1988. São Paulo: Paulinas, 1987, p. 71. (Documentos
da CNBB, 39).
96
Cf. COMUNICADO MENSAL DA CNBB, n. 450, [abr.] 1990, p. 671.
35

[A constatação] de que mais de 70% das comunidades católicas do Brasil


celebram o Dia do Senhor ao redor da Palavra de Deus na ausência do padre
[...] está na base das motivações do projeto de pesquisa. Estas milhares de
comunidades que se reúnem convocadas pela Palavra de Deus e celebram o
Mistério de Cristo em suas vidas [...] nos impulsionam a olhar e conhecer mais
de perto a sua realidade a fim de buscarmos juntos uma resposta” 97.

A Linha 4, após receber as respostas da pesquisa proposta às Dioceses, desencadeou

um imenso trabalho de reflexão, elaboração e produção de um texto a ser apresentado à

Assembleia Geral da CNBB para uma possível aprovação como documento.

Como resultado da tomada de consciência da necessidade de orientações às

comunidades que se reuniam para celebrar o Dia do Senhor presididas por cristãos leigos e,

após o projeto que impulsionou a reflexão sobre a realidade da Celebração Dominical da

Palavra de Deus no Brasil através de uma pesquisa em nível nacional, os bispos reunidos na

32ª Assembleia Geral da CNBB, revisaram o texto que foi entregue a eles, o completaram e o

aprovaram no dia 19 de abril de 1994, como Documento 52 da CNBB, “Orientações para a

celebração da Palavra de Deus”98.

O Documento “Orientações para a celebração da Palavra de Deus”, é constituído de

duas partes. A primeira com 49 artigos, intitulada “Sentido litúrgico da celebração da Palavra

de Deus” e a segunda com 45 artigos, intitulada “Elementos para o roteiro da Celebração”. O

Documento 52 da CNBB possui, além dos 94 artigos, oito roteiros de celebração da Palavra

em seus anexos.

97
PALUDO, Faustino. Relatório referente à pesquisa sobre as celebrações da Palavra de Deus na ausência do
padre. Revista de Liturgia, São Paulo, n. 105, p. 73, maio/jun. 1991.
98
CNBB. Orientações para a celebração da Palavra de Deus. 16. ed. São Paulo: Paulinas, 2004. 52 p.
(Documentos da CNBB, 52). Todos os parágrafos foram aprovados com um mínimo de 225 votos dos 231
votantes. O resultado final da votação do Documento 52 da CNBB encontra-se em COMUNICADO MENSAL
DA CNBB, n. 480, [abr.] 1994, p. 605-607.
36

4 A vida na Celebração Dominical da Palavra de Deus no Documento 52 da CNBB

Os primeiros sete artigos do documento apresentam sucintamente a Celebração

Dominical da Palavra de Deus e expressam que esta celebração “é muito recomendada [...]

para o alimento da fé, da comunhão e do compromisso do povo de Deus” 99 pela tradição

litúrgica. Expressam, também, que a Celebração Dominical da Palavra de Deus “é ação

litúrgica reconhecida e incentivada pelo Concílio Vaticano II” 100. Esses artigos citam, ainda,

os documentos de Medellín e Puebla, os quais destacam o valor e indicam essas celebrações

“como ocasiões propícias de evangelização” 101.

Enfim, retomam o Documento 43, “Animação da vida litúrgica no Brasil”, ao

expressar que, “através da Palavra de Deus, as comunidades celebram o Mistério de Cristo em

sua vida”102 e que frequentemente estas comunidades encontram na celebração da Palavra “o

alimento de sua vida cristã”103 e unem espontaneamente “a Escritura à vida”104.

Nos próximos números deste capítulo, serão apresentadas as integrações feitas pelo

Documento 52 da vida e da história da humanidade entre aspectos relevantes da Celebração

Dominical da Palavra de Deus, entre os passos de preparação de uma celebração e entre os

ritos que compõem esta celebração.

4.1 A vida na Celebração Dominical da Palavra de Deus e o Mistério Pascal

O Documento 52 expressa que a Celebração Dominical da Palavra de Deus é

celebração da Páscoa de Jesus Cristo: é “[...] memória do Mistério Pascal de Cristo morto e

99
Doc. 52 da CNBB, n. 1.
100
Doc. 52 da CNBB, n. 1.
101
Doc. 52 da CNBB, n. 4.
102
Doc. 52 da CNBB, n. 6. Cf. Doc. 43 da CNBB, n. 93.
103
Doc. 52 da CNBB, n. 5. Cf. Doc. 43 da CNBB, n. 97.
104
Doc. 52 da CNBB, n. 5. Cf. Doc. 43 da CNBB, n. 97.
37

ressuscitado”105 presente na vida e na história da humanidade. Este documento reafirma o que

foi expresso em Animação da vida litúrgica no Brasil106, ao declarar que, “através da Palavra

de Deus, as comunidades celebram o Mistério de Cristo em sua vida”107. O Mistério Pascal

abrange a vida das pessoas e a história da humanidade e também através da liturgia este

Mistério é desvelado.

Através da Celebração Dominical da Palavra de Deus, Cristo manifesta a sua Páscoa

na realidade atual da comunidade celebrante e do mundo e a comunidade é chamada a

reconhecer a Páscoa de Cristo atingindo a sua vida. Ione Buyst reafirma que a Celebração

Dominical da Palavra de Deus é celebração do Mistério Pascal de Cristo presente na vida e na

história da humanidade ao expressar:

Para celebrar a memória do Senhor, para celebrar o Mistério Pascal de sua


morte e ressurreição, não basta lembrar e festejar o que aconteceu com Jesus
há dois mil anos, nem agradecer a isso. É preciso participar hoje de seu
Mistério Pascal, na vida do dia-a-dia, morrendo e ressuscitando com ele, e
também na celebração 108.

O Mistério Pascal de Cristo celebrado através da Palavra permite à comunidade

reunida em oração a perceber que a Páscoa de Cristo atinge e envolve a vida das pessoas e a

história de todo o mundo. Por isso, “continuar celebrando uma liturgia que paira acima da

história, por não levar em conta e não expressar a realidade, é negar a força da ressurreição de

Jesus, Senhor da História”109, afirma Buyst.

105
Doc. 52 da CNBB, n. 12.
106
Cf. Doc. 43 da CNBB, n. 93.
107
Doc. 52 da CNBB, n. 6.
108
BUYST, Ione. Celebração do domingo ao redor da Palavra de Deus. São Paulo: Paulinas, 2002, p. 30.
(Coleção Celebrar).
109
Id. Preparando a Páscoa: Quaresma, Tríduo Pascal, Tempo Pascal. São Paulo: Paulinas, 2002, p. 37.
(Coleção Celebrar).
38

4.2 A vida na Celebração Dominical da Palavra de Deus e a ação do Espírito Santo

O Documento 52, ao citar a Introdução do Lecionário, salienta que o Espírito Santo,

por ação inspiradora, age na comunidade durante a proclamação da Palavra. E a Palavra, por

ação do mesmo Espírito, torna-se fundamento, norma e ajuda de vida para toda a comunidade

dos fiéis110.

A Palavra de Deus ouvida por toda a comunidade torna-se alicerce, base sólida que

legitima e autoriza a vida em Cristo. A Palavra, por ação do Espírito Santo, torna-se motivo

de conversão pessoal e comunitária, fundamento da vida do povo. A Palavra de Deus torna-se,

também, norma de vida, princípio e orientação por ação do Espírito Santo e ajuda de vida,

auxílio e socorro ao fiel e à comunidade por ação do mesmo Espírito.

O Espírito Santo, expressa o documento, “introduz os fiéis na celebração e na

experiência cristã da riqueza libertadora da Palavra de Deus e por ele a Palavra se transforma

em acontecimento de salvação no coração da história”111. O Espírito Santo age na vida dos

fiéis que celebram a Palavra de Deus e age da mesma forma na história do mundo que é,

segundo o desígnio de Deus, história da salvação em Cristo. Esta ação do Espírito Santo na

história do mundo acontece no coração do ser humano também através da celebração da

Palavra112.

O Documento 52, também, expressa que “o Espírito Santo agiu na vida de Cristo, ele

está presente e atua na vida dos seguidores do Ressuscitado” 113. Através da Celebração

Dominical da Palavra de Deus, o Espírito está presente, agindo na vida de todo fiel e na

história da humanidade, e se dirige à comunidade eclesial na circunstância histórica em que

ela vive e estabelece um diálogo de salvação. Enfim, “quando Deus comunica a sua Palavra,

110
Cf. Doc. 52 da CNBB, n. 13; OLM, n. 4.
111
Doc. 52 da CNBB, n. 14.
112
Cf. JOÃO PAULO II. Dominum et vivificantem: Carta Encíclica de João Paulo II sobre o Espírito Santo. São
Paulo: Paulinas, 1986, n. 67. (A voz do papa, 112).
113
Doc. 52 da CNBB, n. 15.
39

sempre espera uma resposta, que consiste em escutar e adorar „em Espírito e Verdade‟. O

Espírito Santo age para que a resposta seja eficaz, para que se manifeste na vida o que se

escuta na ação litúrgica”114.

4.3 Deus intervém na vida do seu povo através da Palavra

A história dos seres humanos é a história da sua própria salvação. Na vida das pessoas

e na história da humanidade, se faz presente e atuante o projeto de libertação e da salvação

que vem de Deus. O Documento 52 afirma que esta presença e esta ação de Deus na vida e na

história acontecem através da Palavra:

A Palavra de Deus é um „acontecimento‟ através do qual o próprio Deus entra


no mundo, age, cria, intervém na história do seu povo para orientar sua
caminhada. “Ela é como a chuva e a neve que descem do céu e para lá não
voltam, sem terem regado a terra, tornando-a fecunda e fazendo-a germinar,
dando semente ao semeador e o pão ao que come. Ela não torna a ele sem ter
produzido fruto e sem ter cumprido a sua vontade” [Is 55,10-11]. Ela é poder e
força criadora de Deus que se dirige pessoalmente a cada um, hoje115.

Através da Palavra, Deus intervém na história do seu povo com o propósito de instruir,

guiar e nutrir a vida cristã das comunidades, dando-lhes sustento, alento e incentivo. A

celebração litúrgica da Palavra “proporciona o encontro da comunidade com o próprio Deus

que se comunica e se faz presente em Jesus Cristo”116. O povo de Deus reunido em

comunidade na celebração reconhece que “o centro e a plenitude de toda a Escritura e de toda

a celebração litúrgica é Jesus Cristo, palavra e sinal do amor com que Deus intervém e age

para salvar seu povo: presença divina ativa entre nós”117.

Através da presença de Cristo em sua Palavra no mundo, a comunidade dos fiéis é

chamada a discernir sobre a própria vida para descobrir a presença atuante de Deus na
114
Doc. 52 da CNBB, n. 22.
115
Doc. 52 da CNBB, n. 10.
116
Doc. 52 da CNBB, n. 20.
117
Doc. 52 da CNBB, n. 11.
40

história. A Palavra de Deus está viva e operante hoje na Igreja. Deus continua a falar aos seus

filhos em Jesus Cristo, pelo Espírito Santo118.

4.4 A vida nos passos de preparação de uma celebração

O Documento 52 orienta as equipes de celebração119 sobre os elementos e passos a

serem considerados no momento de preparar a liturgia:

[...] situar a celebração no tempo litúrgico e na realidade de vida da


comunidade; ler e refletir os textos bíblicos, percebendo sua mensagem
central; prever os comentários, as orações, os cantos, os gestos e as expressões
simbólicas que a vida da comunidade e a Palavra de Deus sugerem. Após a
elaboração do roteiro da celebração, a equipe distribua co-responsavelmente
os serviços, visando a participação ativa de toda a assembléia120.

A vida da comunidade e sua história, juntamente com o tempo litúrgico, são inerentes

à Celebração Dominical da Palavra de Deus. Por isso, o documento expressa que é necessário

“situar a celebração no tempo litúrgico e na realidade de vida da comunidade”. Os textos da

Sagrada Escritura, lidos e refletidos pela equipe de celebração na preparação da liturgia, são

atualizados mediante o tempo litúrgico, a realidade de vida da comunidade e o Mistério que

será celebrado121.

O Mistério Pascal de Cristo atinge a vida da comunidade. E a equipe de celebração,

através de uma preparação esmerada da Celebração Dominical da Palavra, ajuda o povo de

Deus a redescobrir através da liturgia os sinais da presença de Deus dentro da realidade da sua

história.

118
Cf. Doc. 52 da CNBB, n. 8.
119
A CNBB, através do Guia Litúrgico-Pastoral, apresenta as equipes de celebração da seguinte forma: “Estas
[as equipes de celebração] são encarregadas diretamente das celebrações da Palavra de Deus, da Eucaristia
(missas), do Batismo, do Matrimônio, das Exéquias e das Bênçãos nas paróquias e comunidades. Destas equipes
fazem parte, especialmente, leitores, ministros da distribuição da sagrada comunhão eucarística, recepcionistas,
salmistas, cantores e instrumentistas, animadores, comentaristas e ministros que presidem”. CNBB. Guia
Litúrgico-Pastoral. 2. ed. rev. ampl. Brasília: CNBB, s.d., p. 123.
120
121
Doc. 52 da CNBB, n. 43.
Cf. Doc. 43 da CNBB, n. 224.
41

Enfim, a celebração do Mistério Pascal, através de uma liturgia preparada pela equipe

de celebração que considera a vida e a história da comunidade, “contribui sumamente para

que os fiéis exprimam em suas vidas e manifestem aos outros o Mistério de Cristo e a genuína

natureza da verdadeira Igreja”122, como expressa a Sacrosanctum Concilium.

4.5 A vida nos ritos que compõem a Celebração Dominical da Palavra de Deus

A segunda parte do Documento 52 intitulada: “Elementos para o roteiro da

Celebração”, começa com a constatação da diversidade de roteiros existentes para a

Celebração Dominical da Palavra de Deus entre as comunidades e incentiva as equipes de

pastoral litúrgica123 das comunidades e Dioceses a darem “sua colaboração na elaboração de

roteiros que expressem, de forma inculturada, a riqueza do Mistério de Deus na vida do

povo”124.

Estas equipes necessitam de sensibilidade para perceber, na vida do povo e na

intervenção de Deus na história, o Mistério Pascal e, assim, preparar um roteiro de celebração

em que a assembleia possa identificar como pertencente à sua realidade, à sua cultura, à sua

vida e história, e dispor-se de forma mais favorável à celebração.

O documento, também, ressalta a necessidade de situar a celebração no tempo

litúrgico e na vida da comunidade, de prestar atenção aos acontecimentos e à realidade das

pessoas e, da mesma maneira, à cultura do povo 125. O Documento 52 da CNBB orienta, ainda,

que, na Celebração Dominical da Palavra de Deus, os elementos constitutivos são: “1º

122
123
Sacrosanctum Concilium, n. 2.
A CNBB, através do Guia Litúrgico-Pastoral, apresenta a meta das equipes de pastoral litúrgica da seguinte
forma: “A meta da equipe de pastoral litúrgica é favorecer a participação ativa nas ações litúrgicas em vista da
edificação da Igreja em comunidades vivas, comprometidas com a missão de Jesus Cristo e com a prática da
caridade. [...] Em síntese, as principais tarefas da equipe de pastoral litúrgica são: animação da vida litúrgica,
planejamento, coordenação, formação, assessoria e avaliação”. CNBB. Guia Litúrgico-Pastoral. 2. ed. rev. ampl.
Brasília: CNBB, s.d., 122 p.
124
Doc. 52 da CNBB, n. 50.
125
Cf. Doc. 52 da CNBB, n. 53.
42

Reunião em nome do Senhor; 2º Proclamação e atualização da palavra; 3º Ação de graças; 4º

Envio em missão”126. Estes elementos compõem a celebração e precisam ser valorizados.

Enfim, a equipe que prepara a celebração e a assembleia que dela participa, ao levar

em conta essas orientações apresentadas e os elementos constitutivos da Celebração

Dominical da Palavra de Deus, farão a liturgia entrar nas dimensões mais profundas da

realidade127.

4.5.1 A vida nos ritos iniciais da celebração

A vida é recordada no começo da Celebração Dominical da Palavra de Deus através

dos ritos iniciais. O Documento 52 lembra que é importante a apresentação das “pessoas que

tomam parte pela primeira vez, ou que estão em visita ou de passagem pela comunidade; a

lembrança das pessoas ausentes por motivos de enfermidade, de trabalho ou de serviço em

favor da comunidade; a recordação dos falecidos e seus familiares enlutados” 128. Quem

preside, os que possuem algum ofício específico na celebração e os que dela participam

necessitam de abertura e sensibilidade para que a liturgia não seja um momento a-histórico,

desligada da realidade. A vida das pessoas presentes ou ausentes na celebração é constituinte

da ação litúrgica. Não é mera informação, mas elemento constitutivo que compõe a

celebração e ajuda as pessoas a bem celebrar.

Porém, os acontecimentos e realidades da história da humanidade em sua totalidade

também podem fazer parte da Celebração Dominical da Palavra de Deus, não só os

acontecimentos das pessoas presentes ou ausentes na celebração que pertencem à

comunidade. O Mistério presente nas alegrias e nas tristezas, nas conquistas e nos insucessos,

126
Doc. 52 da CNBB, n. 54.
127
Cf. Doc. 52 da CNBB, n. 56.
128
Doc. 52 da CNBB, n. 58.
43

nas vitórias e nas desgraças da humanidade é celebrado pelos fiéis. Alguns destes

acontecimentos devem ser destacados na celebração e outros podem ser pronunciados.

O documento expressa a possibilidade de recordar estes acontecimentos da

comunidade e do mundo nos ritos iniciais, estabelecendo conexão com o Mistério Pascal: “a

recordação de acontecimentos da semana ligados à vida das pessoas, famílias, comunidades,

Diocese, país e do mundo, ligando a Páscoa de Jesus Cristo com os acontecimentos da

vida”129.

Outra sugestão que se encontra no documento para integrar a vida na Celebração

Dominical da Palavra de Deus, através do rito inicial, é iniciar a celebração com uma

procissão onde pessoas entram com faixas, cartazes e símbolos expressivos da realidade e da

vida de fé dos presentes130.

Quanto ao rito penitencial, o documento expressa que este momento da celebração

deve permitir à assembleia reconhecer as “situações de pecado pessoal e social”131. O ser

humano reconhece-se pequeno e limitado diante da grande misericórdia e ternura de Deus que

intervém na vida e na história do seu povo.

Enfim, ao concluir os ritos iniciais, o presidente da celebração convida a assembleia à

oração e “poderá solicitar aos presentes, após uns instantes de oração silenciosa, que

proclamem os motivos de sua oração – fatos da vida, aniversários, falecimentos, problemas,

alegrias e esperanças”132, depois conclui com a oração do dia.

129
Doc. 52 da CNBB, n. 59.
130
Cf. Doc. 52 da CNBB, n. 62.
131
Doc. 52 da CNBB, n. 63.
132
Cf. Doc. 52 da CNBB, n. 64.
44

4.5.2 A vida na liturgia da Palavra

Através da celebração da Palavra, Deus convoca o seu povo e o reúne em comunidade.

Os ritos iniciais, primeiro elemento da celebração, manifestam esta ação convocatória de

Deus ao povo que prontamente comparece133.

Por meio da liturgia da Palavra, segundo elemento da celebração, o Senhor se dirige à

comunidade convocada e reunida por Ele “e a interpela no hoje da história” 134. Deus se dirige

ao seu povo através de sua Palavra e o povo confronta sua vida e sua história com a Palavra

de Deus proclamada.

Quanto à escolha das leituras para a Celebração Dominical da Palavra de Deus, o

Documento 52 orienta as comunidades que, “nos dias de festa e nos domingos dos tempos

fortes do Ano Litúrgico [...], é importante que as leituras Bíblicas sejam as indicadas para as

celebrações Eucarísticas, pois elas muitas vezes parecem ser um providencial „recado‟ de

Deus para a situação concreta da comunidade”135. A comunidade se coloca à escuta da Palavra

de Deus e permite que ela ilumine sua realidade.

Porém, quando fatos determinantes da vida e da história do povo de Deus exigirem um

destaque na celebração litúrgica da Palavra, o documento explicita que “a equipe de liturgia

pode escolher os textos bíblicos à luz dos acontecimentos da vida da comunidade.

Acontecimentos esses que devem ser refletidos e celebrados pela comunidade, na perspectiva

da fé e tendo como ponto de referência a Sagrada Escritura”136. A vida do povo de Deus que é

envolta pelo Mistério, torna-se critério de escolha e interpretação das leituras da liturgia da

Palavra.

133
Cf. Doc. 52 da CNBB, n. 54.
134
Doc. 52 da CNBB, n. 66.
135
Doc. 52 da CNBB, n. 67.
136
Doc. 52 da CNBB, n. 67.
45

O Documento 52, ao referir-se à homilia, deixa claro que “ela atualiza a Palavra de

Deus, de modo a interpelar a realidade da vida pessoal e comunitária, fazendo perceber o

sentido dos acontecimentos, à luz do plano de Deus, tendo como referencial a pessoa, a vida,

a missão e o Mistério Pascal de Jesus Cristo”137. Para que a Palavra de Deus proclamada possa

ser atualizada pela homilia, há necessidade de escutar esta Palavra a partir da situação

presente, buscando discernir os aspectos da realidade que esta Palavra ilumina ou coloca em

questão.

O documento expressa, também, a possibilidade de a homilia ser partilhada. Quem

preside a celebração motiva a comunidade celebrante à participação “por meio do diálogo,

aclamações, gestos, refrões apropriados. Segundo as circunstâncias, quem preside convida os

presentes a dar depoimentos, contar fatos da vida, expressar suas reflexões, sugerir aplicações

concretas da Palavra de Deus”138. O homiliasta e a comunidade celebrante, à luz da salvação

que vem de Deus, realizada em Jesus por ação do Espírito Santo, vão realizando a integração

entre a vida e a Palavra. Assim o Mistério Pascal que envolve todas as realidades é

manifestado e celebrado.

A relação entre a Palavra de Deus e a vida é também realizada através da homilia,

pouco importando “se o ponto de partida seja a Bíblia ou os fatos da vida” 139. O que importa é

que esta “explicação viva da Palavra de Deus motiva a assembléia a participar na oração de

louvor e na vivência da caridade, buscando realizar a ligação entre a Palavra de Deus e a

vida”140.

Através da participação na oração dos fiéis, ou oração universal, a liturgia da Palavra é

concluída. Esta oração “brota do coração da comunidade animada pelo Espírito Santo, pela

Palavra ouvida e pela vida. Por isso, não é coerente a simples leitura de intenções de um

137
Doc. 52 da CNBB, n. 75.
138
Doc. 52 da CNBB, n. 77.
139
BUYST, Ione. Homilia, partilha da Palavra. 5. ed. São Paulo: Paulinas, 2004, p. 19. (Coleção rede celebra,
3).
140
Doc. 52 da CNBB, n. 75.
46

folheto”141. É momento de a comunidade, de maneira simples e espontânea, elevar a Deus as

suas súplicas, os seus pedidos nascidos na iluminação que resultou do encontro entre a

Palavra e a vida da humanidade.

4.5.3 A vida na liturgia de ação de graças

A ação de graças é um ponto alto e um elemento fundamental na Celebração

Dominical da Palavra de Deus. É a resposta do ser humano que reconhece a salvação operada

pelo Senhor142. A vida no louvor elevado a Deus durante a celebração é expressa pelo

documento da seguinte maneira: “A comunidade sempre tem muitos motivos para agradecer

ao Senhor, seja pela vida nova que brota da Ressurreição de Jesus, como pelos sinais de vida

percebidos durante a semana na vida familiar, comunitária e social”143.

A ação de graças provém da experiência pascal feita pelo ser humano que reconhece a

salvação que vem de Deus, realizada em Jesus por ação do Espírito Santo. Os agradecimentos

nascem da Páscoa de Cristo que atinge a vida e a história, lugar onde acontece a Páscoa da

humanidade. Este Mistério presente no hoje das comunidades é percebido nos “sinais de vida”

que expressa o documento.

Enfim, os fiéis, ao realizar e reconhecer a experiência feita do Mistério Pascal que

reúne fé e vida, a “Páscoa de Cristo na Páscoa da gente, Páscoa da gente na Páscoa de

Cristo”144, são impelidos ao louvor, à ação de graças na Celebração Dominical da Palavra de

Deus.

141
Doc. 52 da CNBB, n. 81.
142
Cf. Doc. 52 da CNBB, n. 83.
143
Doc. 52 da CNBB, n. 84.
144
Doc. 43 da CNBB, n. 300.
47

4.5.4 A vida nos ritos finais da celebração

O último elemento da Celebração Dominical da Palavra de Deus é o rito final. Através

deste rito, “a assembléia toma consciência de que é enviada a viver e testemunhar a Aliança

no seu dia-a-dia e nos serviços concretos na edificação do Reino”145. A celebração leva a

comunidade a um compromisso com a história, a uma vida pascal.

Nos ritos finais, antes de encerrar a celebração, podem ser apresentados os avisos

dados à comunidade reunida que já se prepara para o envio que o Senhor lhe fará. O

documento expressa que “valorizem-se os avisos e as notícias que dizem respeito à vida da

comunidade, da paróquia ou da Diocese. Esses avisos podem ser uma forma de ligação entre o

ato litúrgico e os compromissos da semana”146. A vida da comunidade e a história da

humanidade integram-se aos avisos de maneira informativa ou através da recordação do

compromisso despertado pelo Senhor durante toda a celebração. É uma confirmação da vida

em Deus ou chamada de conversão e mudança de vida.

A bênção do rito final é explicada pelo documento da seguinte forma: “é um ato de

envio para a missão e de despedida com a graça de Deus. É de suma importância que todos

retornem às suas casas e ao convívio social, com um compromisso, com esperança, com a

experiência de ter crescido na fraternidade e com a decisão de ser testemunhas do Reino”147.

A assembleia é enviada e despedida em paz e os que foram chamados e enviados pelo Senhor

através da celebração voltam ao cotidiano da vida148.

145
Doc. 52 da CNBB, n. 92.
146
Doc. 52 da CNBB, n. 93.
147
Doc. 52 da CNBB, n. 94.
148
Cf. TABORDA, Francisco. Fazei isto em meu memorial: a Eucaristia como sacramento da unidade. In:
CNBB. A Eucaristia na vida da Igreja. Subsídios para o Ano da Eucaristia. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2005, p.
86. (Estudos da CNBB, 89).
48

4.6 A vida em um roteiro de celebração da Palavra apresentado pelo Documento 52

A CNBB apresenta oito roteiros de celebração da Palavra como “Anexos” do

Documento 52. Estes roteiros foram selecionados dentre os vários roteiros presentes nas

comunidades que se reúnem para celebrar o Mistério Pascal ao redor da Palavra de Deus e

sugeridos como modelos para todas as comunidades que, na ausência de um ministro

ordenado, servem-se da celebração da Palavra “para o alimento da fé, da comunhão e do

compromisso do povo de Deus”149.

Dentre os oito roteiros de celebração da Palavra presentes no Documento 52, o

“Roteiro F” tem como título: “Celebração onde são proclamados os sinais de sofrimento, os

sinais de vida, de ressurreição e de esperança”150.

O título deste “Roteiro F”, para a celebração da Palavra, propõe a proclamação dos

sinais da manifestação e da passagem de Deus pela vida e pela história. É a celebração da

Páscoa em todos os fatos, em todos os acontecimentos da vida humana e sua história. No hoje

da realidade, a comunidade é convidada a perceber a ação salvadora e pascalizadora de Deus.

O Documento 52 apresenta o “Roteiro F” com a seguinte estrutura:

Ritos Iniciais:
 Canto de Entrada
 Saudação e motivação
 Oração
Partilhando a vida vivida
Comparando a vida com a Bíblia
Rito Penitencial
Oração dos Fiéis:
 Pai-nosso,
 Louvor e ação de graças
 Profissão de fé,
Comunhão
Partilha Fraterna
Avisos, Bênção, despedida, Abraço da Paz

149
Doc. 52 da CNBB, n. 1.
150
Doc. 52 da CNBB, n. 50.
49

A proclamação dos sinais de sofrimento, dos sinais de vida, dos sinais de ressurreição

e dos sinais de esperança pode ser realizada durante os vários elementos que compõem a

Celebração Dominical da Palavra de Deus pela comunidade reunida. Porém, esta dissertação

se ocupará com dois elementos apresentados na estrutura do “Roteiro F”: “Partilhando a vida

vivida” e “Comparando a vida com a Bíblia”. A maioria dos outros elementos do roteiro já

foram estudados nesta dissertação quando foram analisadas “a vida e a história nos ritos que

compõem a Celebração Dominical da Palavra de Deus”.

Através do elemento: “Partilhando a vida vivida”, acontece a “recordação de

acontecimentos da semana ligados à vida das pessoas, famílias, comunidades, Diocese, país e

do mundo, ligando a Páscoa de Jesus Cristo com os acontecimentos da vida”151.

Este elemento pode ser realizado de modo variado. Quem preside pode motivar e

convidar a assembleia a expressar de forma espontânea “fatos da vida, aniversários,

falecimentos, problemas, alegrias e esperanças”152. Ou a equipe de celebração poderá preparar

“faixas, cartazes e símbolos expressivos da realidade e da vida de fé dos presentes” 153 para

serem apresentados nesse momento. Ou, ainda, a equipe que prepara a celebração poderá

escolher um acontecimento específico da vida da comunidade e manifestar o Mistério Pascal

de Cristo.

O “Roteiro F” não determina como realizar o “Partilhando a vida vivida”, por isso,

haverá outras descobertas criativas pelas equipes responsáveis em preparar a liturgia em que

os acontecimentos da vida da comunidade podem ser partilhados na Celebração Dominical da

Palavra de Deus.

Através do outro elemento apresentado pelo “Roteiro F”: “Comparando a vida com a

Bíblia”, acontece a escuta atenta e amorosa da Palavra de Deus e a atualização desta Palavra

para a realidade da comunidade celebrante. As leituras Bíblicas proclamadas na Celebração

151
Doc. 52 da CNBB, n. 59.
152
Doc. 52 da CNBB, n. 64.
153
Doc. 52 da CNBB, n. 62.
50

Dominical da Palavra de Deus foram “as indicadas para as celebrações Eucarísticas, pois elas

muitas vezes parecem ser um providencial „recado‟ de Deus para a situação concreta da

comunidade”154.

Porém, a realidade da comunidade e a história atual da humanidade, por exemplo,

festas do padroeiro, catástrofes podem levar a equipe de celebração155 a escolher as leituras

Bíblicas para a liturgia, como mostra o Documento 52: “a equipe de liturgia pode escolher os

textos bíblicos à luz dos acontecimentos da vida da comunidade. Acontecimentos esses que

devem ser refletidos e celebrados pela comunidade, na perspectiva da fé e tendo como ponto

de referência a Sagrada Escritura”156. A história da comunidade é iluminada pela liturgia da

Palavra através de leituras específicas, escolhidas para a situação concreta evidenciada.

Concluindo, no primeiro capítulo desta dissertação foi apresentado a gênese dos

Documentos 43 e 52 da CNBB e os estudou, buscando identificar a integração entre a vida e a

Celebração Dominical da Palavra de Deus. Com os documentos estudados, percebeu-se que a

celebração da Páscoa de Cristo na vida das pessoas, na história da humanidade como história

de salvação, permite aos celebrantes reconhecer que Deus Pai, através da Palavra, por ação do

Espírito Santo, pascaliza todas as coisas e que as Celebrações Dominicais da Palavra “atuam e

frutificam à medida que há uma resposta de vida, de fé, de esperança e de caridade da parte

dos que escutam”157. A Celebração Dominical da Palavra de Deus é contemplação do Mistério

de Cristo que envolve a vida do povo de Deus, por ação do Espírito Santo, e impulsiona os

celebrantes ao compromisso libertador e pascalizador da vida e da história, a responder

fielmente a Deus através da prática da justiça e da misericórdia.

154
Doc. 52 da CNBB, n. 67.
155
Os interessados em estudar as equipes de liturgia e celebração são convidados a conferir: BUYST, Ione.
Equipe de liturgia. São Paulo: Paulinas, 2006. 93 p. (Coleção Celebrar).
156
Doc. 52 da CNBB, n. 67.
157
Doc. 52 da CNBB, n. 24.
51

CAPÍTULO II

ALGUNS ELEMENTOS DA TRADIÇÃO LITÚRGICA E

DO MAGISTÉRIO GERAL DA IGREJA SOBRE A VIDA NA CELEBRAÇÃO

Este segundo capítulo mostrará que a integração entre vida e celebração não é

novidade da liturgia cristã. Os primeiros seguidores de Jesus receberam, adaptaram e

aperfeiçoaram as experiências celebrativas de outros povos, principalmente dos judeus.

Porém, não se afirmará que a liturgia cristã é uma síntese de elementos vindos do mundo

judaico e do mundo religioso pagão, porque os primeiros cristãos criaram novos conteúdos

aos ritos herdados e novas expressões para prestar culto a Deus e receber dele a

santificação158. E mais, ainda, fizeram de suas próprias vidas um culto agradável a Deus159.

É importante salientar que, ao apresentar a vida na celebração em alguns elementos da

tradição litúrgica e do magistério geral da Igreja, o segundo capítulo não quer realizar uma

separação entre celebração e vida. A vida de acordo com a vontade de Deus é culto agradável

ao Senhor (cf. Rm 12,1) e a liturgia ritual é cume e fonte da liturgia existencial160, como

expressa Castellano:

158
Para melhor compreensão do termo „culto‟ faz-se necessário expor a precisão com que ele é usado, através de
um artigo de Gregório Lutz sobre a Celebração Dominical da Palavra de Deus: “Antes do Concílio Vaticano II,
„culto‟ era um termo frequentemente usado para definir a liturgia. Mas o culto que a pessoa humana presta a
Deus, é apenas uma dimensão da liturgia, como ela é vista pelo Concílio e pela Igreja hoje. A liturgia é
santificação da pessoa humana e glorificação de Deus (cf. SC 5 e 7). Ela tem, portanto, uma linha descendente e
uma linha ascendente. O „culto‟, porém, abrange somente a linha ascendente. Por isso, não convém usar este
termo para a liturgia dominical das comunidades sem padre. Pois também nestas celebrações Deus santifica o
seu povo, e somente santificado pelo Espírito de Deus, o povo pode glorificar o Pai”. LUTZ, Gregório. Teologia
da liturgia dominical da comunidade sem padre. Revista de Liturgia, São Paulo, n. 52, p. 13, jul./ago. 1982.
159
Cf. MARSILI, Salvatore. A liturgia, momento histórico da salvação. In: NEUNHEUSER, Burkhard; et al. A
Liturgia, momento histórico da salvação. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 1987, p. 62. (Anámnesis, 1); MARTÍN,
Julián López. No espírito e na verdade. Vol. I: Introdução teológica à liturgia. Petrópolis: Vozes, 1996, p. 24.
160
Cf. Sacrosanctum Concilium, n. 10.
52

A liturgia, como celebração de santificação e de culto, permanece aberta à


existência do cristão, no lugar onde ele tem que viver sua própria vocação.
Seus sentimentos devem estar impregnados daquele dom que teve sua fonte na
liturgia, mas que exige uma continuidade existencial. Com efeito, a liturgia é
dinâmica, já que impele os fiéis a que “exprimam em suas vidas e aos outros
manifestem o Mistério de Cristo e a genuína natureza da verdadeira Igreja”
(SC 2), segundo aquela límpida frase da liturgia romana, síntese de uma
autêntica espiritualidade litúrgica: “ut sacramentum vivendo teneant quod fide
perceperunt” (conservem em sua vida o que receberam pela fé) (cf. SC 10)161.

É a litúrgica ritual “aberta” à realidade da vida dos cristãos que “impregnados” pela

liturgia ritual são conduzidos à liturgia existencial. A liturgia ritual tende com todo seu

dinamismo para a liturgia vivida 162. Marsili, ao apresentar a novidade da liturgia dos

primeiros cristãos, expressa: “os ritos cristãos eram verdadeiramente uma „novidade‟ em

matéria de culto, porque este não se revelava uma ação organizada ao lado da vida, mas

constituía a própria razão de ser cristãos, isto é, criava homens que viviam em Cristo”163.

Portanto, sem a liturgia ritual a vida cristã é impossível164 e, por sua vez, sem a liturgia

existencial, a liturgia ritual é vazia, “porque não acolhe o compromisso de viver em Cristo

segundo as exigências de obediência ao Pai e de serviço aos irmãos” 165, como expressa

Castellano. O cristão é chamado a fazer de toda a sua vida, a exemplo de Jesus, um culto

agradável a Deus. Ou como explicita Julian López: “não se pode dissociar celebração e vida,

rito e fé, ação litúrgica e compromisso pela justiça e pelo amor fraterno” 166.

É importante salientar que, além das Celebrações Dominicais da Palavra de Deus,

serão citadas neste capítulo outras celebrações, como, por exemplo, a da Eucaristia. Com a

apresentação dos elementos presentes nas Sagradas Escrituras, nos testemunhos dos santos

padres, em alguns documentos do Concílio Vaticano II e, após este Concílio, no magistério


161
CASTELLANO, Jesús. Liturgia e vida espiritual: teologia, celebração, experiência. São Paulo: Paulinas,
2008, p. 61. (Coleção liturgia fundamental).
162
Cf. CORBON, Jean. A fonte da liturgia. Lisboa: Paulinas, 1999, p. 89. (Dessedentar, 1).
163
MARSILI, Salvatore. A liturgia, momento histórico da salvação. In: NEUNHEUSER, Burkhard; et al. A
Liturgia, momento histórico da salvação. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 1987, p. 62. (Anámnesis, 1)
164
Cf. CORBON, Jean. A fonte da liturgia. Lisboa: Paulinas, 1999, p. 89. (Dessedentar, 1).
165
CASTELLANO, Jesús. Liturgia e vida espiritual: teologia, celebração, experiência. São Paulo: Paulinas,
2008, p. 74. (Coleção liturgia fundamental).
166
MARTÍN, Julián López. No espírito e na verdade. Vol. I: Introdução teológica à liturgia. Petrópolis: Vozes,
1996, p. 22.
53

geral da Igreja sobre a presença da vida do fiel, da comunidade e da humanidade na

celebração, o leitor alcançará maior clareza na apresentação dos Documentos 43 e 52 da

CNBB sobre a vida na liturgia e da liturgia na existência cristã.

1 Alguns elementos das Sagradas Escrituras sobre a vida na celebração 167

A liturgia e as Escrituras nasceram do chão da vida do povo de Deus. De um povo que

experimentou Deus em sua vida, em suas lutas, vitórias e derrotas 168. As Sagradas Escrituras

testemunham o povo contar, recontar, cantar e celebrar suas alegrias e esperanças, aflições e

desesperos, conquistas e perdas169. Testemunham, também, que a liturgia cristã provém da

grande tradição litúrgica judaica contida no Antigo Testamento.

Por isso, o estudo da celebração judaica para a celebração litúrgica cristã é de suma

importância. Seria inviável estudar a vida na celebração cristã no Novo Testamento sem situá-

la em sua origem170. Da mesma forma, a liturgia cristã não seria compreendida corretamente

sem o estudo da liturgia judaica do tempo de Jesus e das primeiras comunidades.

167
Para aprofundar a liturgia nas Sagradas Escrituras conferir, além das obras citadas neste item da dissertação,
as seguintes: ARGÁRATE, Pablo. A Igreja celebra Jesus Cristo: introdução à celebração litúrgica. São Paulo:
Paulinas, 1997, p. 7-20. (Liturgia e participação); AUGÉ, Matias. Espiritualidade Litúrgica: “Oferecei vossos
corpos em sacrifício vivo, santo, agradável a Deus”. São Paulo: Ave-Maria, 2002, p. 25-39; AZCARATE,
Andres. La flor de la liturgia renovada: manual de cultura y espiritualidad litúrgicas. 9. ed. Buenos Aires:
Editorial Claretiana, 1982, p. 13-16; BASURKO, Xavier. Historia de la liturgia. Barcelona: Centre de Pastoral
Litúrgica, 2006, p. 21-69. (Biblioteca Litúrgica, 28); CENTRO DE LITURGIA. Liturgia em tempo de opressão:
à luz do Apocalipse. 2. ed. São Paulo: Paulus, 1996, p. 15-40. (Cadernos de Liturgia, 1); Id. Liturgia e cultura
dos oprimidos no meio urbano. São Paulo: Paulinas, 1993, p. 52-55. (Cadernos de Liturgia, 2); MOLY, Eugene.
A interação do mundo e do culto nas Escrituras. Concilium, Petrópolis, p. 159-167, 1971; NEUNHEUSER,
Burkhard. História da liturgia através das épocas culturais. São Paulo: Loyola, 2007, p. 39- 57; SILVA, José
Ariovaldo. A celebração do Mistério de Cristo ao longo da história: panorama histórico geral da liturgia. In:
CELAM. Manual de liturgia. Vol. IV: Outras expressões celebrativas do Mistério Pascal e a liturgia na vida da
Igreja. São Paulo: Paulus, 2007, p. 448-452. (Manual de Liturgia).
168
Cf. CNBB. Ele está no meio de nós! O Semeador do Reino. O Evangelho de Mateus. São Paulo: Paulus,
1998, p. 9.
169
As orações do povo de Deus, as expressões rituais e os seus cultos a Deus encontram-se em toda a Bíblia.
“Neste sentido, a Bíblia é um grande relato litúrgico”. SOUZA, Marcelo de Barros. Celebrar o Deus da vida.
Tradição litúrgica e inculturação. São Paulo: Loyola, 1992, p. 41.
170
Segundo Salvatore Marsili, “a Liturgia cristã encontra sua „pré-história‟ na Liturgia do AT; e certamente seria
metodologicamente errado pretender pesquisar as origens da Liturgia cristã partindo apenas dos dados históricos
colhidos nos livros do NT”. MARSILI, Salvatore. Das origens da Liturgia cristã às caracterizações rituais. In: Id;
et al. Panorama histórico geral da Liturgia. São Paulo: Paulinas, 1986, p. 11. (Anámnesis, 2).
54

Assim sendo, este item apresentará alguns elementos das Sagradas Escrituras sobre a

vida na celebração, focalizando a integração entre liturgia e vida no Antigo Testamento e, a

partir das atitudes de Jesus e da prática litúrgica das primeiras comunidades cristãs, salientará

a relação entre liturgia e vida no Novo testamento.

1.1 No Antigo Testamento

O ser humano relaciona-se com Deus através de palavras e gestos, em espaços e

tempos. A sua vida cotidiana é carregada de simbolismos e torna-se lugar privilegiado de

comunicação com Deus. O povo de Israel, fundamentando-se na intervenção e presença de

Deus na sua história, buscou celebrar esta realidade. Por isso, a celebração de Israel no Antigo

Testamento é histórica, profética e a relação com a vida constitui a sua essência 171.

Porém, estudar com honestidade a vida na celebração no Antigo Testamento, mesmo

apenas alguns elementos, requer a distinção das diferentes etapas da história do povo de Israel

e suas celebrações correspondentes. Tarefa árdua, mas necessária.

O povo judeu remete sua origem e sua fé a um tempo antigo 172. Diversos grupos de

pessoas seminômades, pastores, peregrinos foram seus ancestrais. Estes pais e mães de Israel

integravam na celebração sua luta, sua sobrevivência, sua vida e história. A sua experiência de

Deus, espiritualidade e celebração são apresentadas por Zabatiero da seguinte forma:

171
Cf. AUGÉ, Matias. Liturgia. História, celebração, teologia, espiritualidade. 3. ed. São Paulo: Ave-Maria,
2007, p. 16-20.
172
Informações sobre a origem do ritual israelita; o valor religioso do sacrifício; os atos secundários do culto; o
calendário litúrgico; as festas antigas de Israel; as festas posteriores; os santuários semíticos; os primeiros
santuários de Israel; o templo de Jerusalém; a centralização do culto; a função sacerdotal; o levitismo; o
sacerdócio de Jerusalém sob a monarquia; o sacerdócio após o Exílio; o altar; o ritual dos sacrifícios e a história
do sacrifício israelita podem ser encontrados em VAUX, Roland de. Instituições de Israel no Antigo Testamento.
São Paulo: Teológica, 2003, p. 307-553.
55

Deus pessoal, da família, migrante, seminômade. Acima de tudo, deus ativo na


preservação da vida. As formas visíveis de sua espiritualidade eram simples e
rústicas. Um altar de pedra, um toco de árvore – era o suficiente para celebrar
a vida. Em cada novo local onde se instalavam, celebravam a presença de seu
deus173.

Os escravos fugitivos do Egito relatados principalmente no livro do Êxodo eram,

também, pais e mães de Israel. A sua experiência de Deus passava pelo cotidiano e sua

celebração envolvia os acontecimentos comuns do dia a dia, abrangia a vida e a atingia. A

libertação da escravidão era celebrada como intervenção de Deus que viu a miséria, ouviu o

clamor, conheceu o sofrimento e desceu para libertá-los (cf. Ex 3,7-8). Essa experiência de

Deus, realizada pelos antepassados do povo judeu, foi diferente de todos os outros povos

conhecidos na época, como relata Luiz José Dietrich:

Não se conhecia nenhum deus libertador dos pobres e oprimidos dentro das
teologias até então existentes. Os escravos do Egito é que serão os portadores
desta revelação: Existe um Deus contrário à opressão e a exploração. Um
Deus que milita para libertar os oprimidos174.

A celebração dos pais e mães de Israel irrompeu da distinta experiência de Deus.

Celebravam a certeza da presença e intervenção de Deus nos conflitos, nas adversidades, nas

vitórias, nas diferentes situações da vida do povo 175. Esta celebração subverteu o modelo

religioso, político, social e econômico do Faraó. A celebração jorrava da resistência das

parteiras que se opunham à ordem do Faraó e confessavam a fé no Deus dos escravizados e o

temiam (cf. Ex 1,15-19). E a festa da Páscoa celebrava esta intervenção de Deus na história

dos que saíram do Egito: “Este dia será para vós um memorial, e o celebrareis como uma festa

para Iahweh; nas vossas gerações a festejareis; é um decreto perpétuo” (Ex 12,14). A
173
ZABATIERO, João Paulo Tavares. Conflitos de Espiritualidade. Reflexões sobre a memória espiritual do
povo de Deus no AT. Estudos Bíblicos, Petrópolis, n. 30, p. 10, 1991.
174
DIETRICH, Luiz José. Raízes da leitura popular da Bíblia. Estudos Bíblicos, Petrópolis, n. 96, p. 16, 2007.
175
Nas religiões pagãs dos povos vizinhos de Israel, a manifestação de seus deuses dava-se através da natureza e
os próprios elementos da natureza eram cultuados como deuses. Para estas religiões, não é a história que revela
Deus, que revela o divino, mas a natureza. A distinta descoberta do povo judeu é que a história revela Deus. Cf.
DUMOULIN, Annette. A romaria em Juazeiro do Norte. Estudos Bíblicos, Petrópolis, n. 28, p. 52, 1990;
MARTÍN, Julián López. No espírito e na verdade. Vol. I: Introdução teológica à liturgia. Petrópolis: Vozes,
1996, p. 26.
56

celebração da Páscoa é ordem do Senhor, memorial da passagem de Deus pela vida de seu

povo e passagem do povo, graças à intervenção de Deus, da escravidão para a liberdade 176.

Os ancestrais do povo judeu libertos organizaram-se em tribos, em uma sociedade de

iguais. O povo nesta época prestava culto a Deus que luta e liberta, que acompanha a família,

que faz brotar as sementes, traz as chuvas, fala através dos trovões, cavalga os raios 177. Deus

envolvia-se com a vida do seu povo e manifestava-se no ordinário, nas coisas simples do

cotidiano e aí era celebrado. Shigeyuki Nakanose, ao comentar o livro de Deuteronômio,

apresenta a liturgia dos judeus já constituídos como povo e suas consequências para a vida:

A liturgia era a fonte de abastecimento da memória da libertação (Dt


16,1.3.6.12) e do compromisso da aliança. [...] Como memória de libertação
de uma situação de injustiça para uma situação de fraternidade, a liturgia
torna-se um espaço de conscientização e abertura para as questões sociais: a
partilha e a solidariedade são consequências da aliança com Deus. A gratidão
ao Deus vivo e libertador tem que ser expressa não só com o culto, mas com o
serviço aos irmãos mais pobres e necessitados: o estrangeiro, o pobre, o órfão
e a viúva (Dt 24,4-5), para concretizar uma sociedade em que não haja pobres
(Dt 15,4)178.

As festas, os sacrifícios e ritos celebravam a intervenção divina na história do povo e

comprometia os participantes com as classes mais necessitadas da época. A celebração

sustentava a aliança com Deus e o compromisso com uma sociedade de iguais. A celebração

“ajudava a intensificar a esperança em novos e melhores cumprimentos das promessas

divinas”179.

Com o passar do tempo, porém, Israel afastou-se da sociedade tribal e instituiu a

monarquia. O estado monárquico apoderou-se das leis que regulavam a vida do povo e as

176
Cf. GELINEAU, Joseh. Celebrar a libertação pascal. Concilium, Petrópolis, p. 249-259, 1974; SANTOS,
Luciano. A festa da Páscoa: um olhar panorâmico em sua gênese e evolução. Revista de Cultura Teológica, São
Paulo, v. 18, n. 72, p. 171-186, out./dez. 2010; VANNUCCHI, Aldo. Liturgia e libertação. 2. ed. São Paulo:
Loyola, 2005, p. 32.
177
Cf. ZABATIERO, João Paulo Tavares. Conflitos de Espiritualidade. Reflexões sobre a memória espiritual do
povo de Deus no AT. Estudos Bíblicos, Petrópolis, n. 30, p. 12, 1991.
178
NAKANOSE, Shigeyuki. Para entender o livro do Deuteronômio. Uma lei a favor da vida? RIBLA,
Petrópolis; São Leopoldo, n. 23, p. 178, 1996.
179
MARTÍN, Julián López. No espírito e na verdade. Vol. I: Introdução teológica à liturgia. Petrópolis: Vozes,
1996, p. 27.
57

modificou segundo seus interesses. A liturgia oficial do templo, construído na monarquia,

tornou-se ritualista e desligada da vida180. Muitas pessoas acreditavam que estavam próximas

de Deus simplesmente pelo fato de fazer sacrifícios e jejuns181.

Principalmente os profetas, os oprimidos e esquecidos pelo estado e religião,

denunciaram e combateram a falsidade da liturgia oficial da monarquia em Israel. Eles

anunciaram que o verdadeiro culto não está no cumprimento da lei do sacrifício e, sim, na

prática da justiça social e do amor ao próximo182. Enganam-se os que pensam que os profetas

condenavam o culto. Eles condenavam a prática ritual desligada da vida e fundamentavam

suas denúncias na experiência de Deus que através da história encontrou-se com o seu povo.

O primeiro Isaías183, por exemplo, realizou pronunciamentos enérgicos contra Israel.

Os chefes da nação e o próprio povo consideravam-se fiéis a Deus, mas o profeta comparava-

os com Sodoma e Gomorra: “Ouvi a palavra de Iahweh, chefe de Sodoma, prestai atenção à

instrução do nosso Deus, povo de Gomorra!” (Is 1,10). Ele reprovava as próprias oferendas

cultuais dos que não possuíam um compromisso ético e as manifestava como detestáveis aos

olhos de Deus:

Que me importam os vossos inúmeros sacrifícios?, diz Iahweh. Estou farto de


holocaustos de carneiros e da gordura de bezerros cevados; no sangue de
touros, de cordeiros e de bodes não tenho prazer. Quando vindes à minha
presença quem vos pediu que pisásseis meus átrios? Basta de trazer-me
oferendas vãs: elas são para mim incenso abominável. Lua nova, sábado e
assembléia, não posso suportar falsidade e solenidade! Vossas luas novas e
vossas festas, minha alma detesta: elas são para mim um fardo; estou cansado
de carregá-lo (Is 1,11-14).

180
Cf. LUTZ, Gregório. Celebrar em espírito e verdade. Elementos de uma teologia litúrgica. 3.ed. São Paulo:
Paulus, 2005, p. 10. (Coleção Celebrar a fé e a vida).
181
Cf. CENTRO BÍBLICO VERBO. Levanta-te e vai à grande cidade. Entendendo o livro de Jonas. São Paulo:
Paulus, 2010, p. 81.
182
Ib. p. 81.
183
“O livro do profeta Isaías é formado por um conjunto de 66 capítulos. Aí se encontram três livros de épocas
diferentes[...]: - Primeiro Isaías (1-39). Esta profecia é do século VIII a.C. O grupo enfrenta conflitos com a
monarquia e o império assírio. – Segundo Isaías (40-55). No contexto do exílio, por volta de 540 a.C., o povo
vive sob a tirania do império babilônico. – Terceiro Isaías (56-66). Surge em Judá, entre os anos 520 e 450 a.C.
No processo de reconstrução de Jerusalém, o grupo profético denuncia a corrupção e a exploração das elites
judaicas e do império persa”. Id. Sonhar de novo. Segundo e Terceiro Isaías (40-66): Roteiros e orientações para
encontros. São Paulo: Paulus, 2004, p. 11.
58

Este texto severo é contra os que oprimiam os pobres e confiscavam as suas terras

como consequência da não capacidade de pagamento dos altos tributos 184. O resultado era

desolador, a pobreza alastrava-se entre muitos e a riqueza se ilhava entre poucos que tentavam

na celebração, através de múltiplas oferendas, persuadir o Senhor para os seus interesses

egoístas. Contudo, o profeta Isaías afirmou que a celebração distante da vida e do auxílio aos

necessitados não é estimada por Deus: “Quando estendeis vossas mãos, desvio de vós meus

olhos; ainda que multipliqueis a oração não vos ouvirei. [...] Tirai da minha vista vossas más

ações! Cessai de praticar o mal, aprendei a fazer o bem! Buscai o direito, corrigi o opressor!

Fazei justiça ao órfão, defendei a causa da viúva!” (Is 1,15-17).

O profeta Amós foi outro exemplo de crítica ao formalismo religioso, às celebrações,

estipuladas e fomentadas pelos sacerdotes, desligadas da prática do direito e da justiça:

Eu odeio, eu desprezo as vossas festas e não gosto de vossas reuniões. Porque,


se me ofereceis holocaustos..., não me agradam as vossas oferendas e não olho
para o sacrifício de vossos animais cevados. Afasta de mim o ruído de teus
cantos, eu não posso ouvir o som de tuas harpas! Que o direito corra como a
água e a justiça como o rio caudaloso (Am 5,21-24)!

Amós alertava que Deus não aceita o culto vazio e formalista. Ele, profeta no santuário

estatal do reino do norte em Betel, tinha palavras terríveis contra os santuários oficiais e seus

cultos (cf. Am 4,4; 5,4-6.21-24). Amós considerava imprescindível a sintonia entre a

celebração e a prática do direito e da justiça, entre a liturgia e a vida.

E Miquéias, homem simples do campo que profetizou no reino do sul, constatou que

os chefes do povo, os sacerdotes e os profetas oficiais estavam se corrompendo e se afastando

da vontade do Senhor (cf. Mq 3,9-11a). Ele dizia que estes líderes estavam preocupados em

agradar a Deus por meio de sacrifícios e se esqueciam de viver coerentemente:

184
Cf. VANNUCCHI, Aldo. Liturgia e libertação. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2005, p. 33.
59

Terá Iahweh prazer nos milhares de carneiros ou nas libações de torrentes de


óleo? Darei eu meu primogênito pelo meu crime, o fruto de minhas entranhas
pelo meu pecado? Foi-te anunciado, ó homem, o que é bom, e o que Iahweh
exige de ti: nada mais do que praticar a justiça, amar a bondade e te sujeitares
a caminhar com o teu Deus (Mq 6,6-8)!

Miquéias denunciou a exploração praticada pelos sacerdotes contra os pobres,

profetizou a destruição do templo como castigo de Deus e anunciou que o que agrada a Deus

é a prática do direito e da justiça. Por isso foi preso e por pouco escapou com vida 185.

Enfim, muitos outros profetas, durante a monarquia, colocaram-se às portas dos

santuários e do templo de Jerusalém para lembrar ao povo a aliança com Deus, criticar a

celebração alheia à vida, à prática do direito e da justiça: “Porque é amor que eu quero e não

sacrifício, conhecimento de Deus mais do que holocaustos” (Os 6,6).

No século VI a.C., iniciava-se nova etapa histórica e cultual do povo de Deus. A

Babilônia invadiu e destruiu Jerusalém e a monarquia em Israel. O templo, lugar dos

sacrifícios, ficou em ruínas e muita gente foi levada ao exílio. Os fiéis exilados na

Babilônia186, sem templo e sacrifícios, começaram a se reunir aos sábados e a celebração do

povo judeu passou a ser mais em torno da Palavra e do memorial do Senhor, do que da pureza

ritual187. As celebrações aconteciam nas recém-instituídas sinagogas onde o povo ouvia a

Palavra de Deus e respondia com a vida e a oração188.

Todavia, Babilônia foi derrubada pela Pérsia e um grupo de judeus retornou a

Jerusalém. O templo foi reconstruído e o culto oficial israelita no pós-exílio voltou a ser

185
Cf. MARSILI, Salvatore. A Liturgia, momento histórico da salvação. In: NEUNHEUSER, Burkhard; et al. A
Liturgia, momento histórico da salvação. 2 ed. São Paulo: Paulinas, 1987, p. 52. (Anámnesis, 1).
186
Muitos abandonaram o Deus de Israel ao alegar que não havia benefícios e privilégios em prestar culto a um
deus derrotado que nem pode proteger seu povo. O exilado profeta Ezequiel relatou que estes judeus aderiram ao
culto babilônico e levavam imagens dos deuses vencedores para suas casas (cf. Ez 14,1s). Consultavam
feiticeiras que coziam faixas para os pulsos e davam véus mágicos para o povo que vinha consultá-las (cf. Ez
13,18). Os que permaneceram fiéis aprenderam a relacionar-se de forma gratuita com Deus e não pelos
benefícios e privilégios que Deus lhes proporcionava. Cf. SOUZA, Marcelo de Barros. Celebrar o Deus da vida.
Tradição litúrgica e inculturação. São Paulo: Loyola, 1992, p. 51.
187
Cf. Id. O reencontro do primeiro amor. A inculturação do culto na Bíblia. Estudos Bíblicos, Petrópolis, n. 35,
p. 19, 1992.
188
Cf. LUTZ, Gregório. Celebrar em espírito e verdade. Elementos de uma teologia litúrgica. 3. ed. São Paulo:
Paulus, 2005, p. 12. (Coleção Celebrar a fé e a vida).
60

ritualista e centro de exploração do povo como no tempo da monarquia. Mas não faltou quem

gritasse contra as celebrações alienantes do templo neste novo período. Através do terceiro

Isaías189, Deus dirigiu-se às pessoas que pensavam estar próximas dele e que se reuniam para

celebrar não observando sua vontade. O capítulo 58 do profeta Isaías apresentou a pergunta

destas pessoas diante do comportamento indiferente de Deus da seguinte forma: “Por que

jejuamos e tu não o vês? Mortificamo-nos e tu não tomas conhecimento disso?” (Is 58, 3).

A resposta de Deus foi sem rodeios: “A razão está em que, no dia mesmo do vosso

jejum, correis atrás dos vossos negócios e explorais os vossos trabalhadores; a razão está em

que jejuais para entregar-vos a contendas e rixas, para ferirdes com punho perverso” (Is 58,1-

4). Através do profeta, Deus respondeu que a prática formal do jejum não encobria as

situações de injustiça social e opressão provocadas pelos que cultuavam a Deus. Os

responsáveis pela miséria e exploração dos trabalhadores eram os que se reuniam para

celebrar190. Porém, a celebração que agrada a Deus conduz ao compromisso com os

necessitados:

Por acaso não consiste nisto o jejum que escolhi: em romper os grilhões da
iniquidade, em soltar as ataduras do jugo e pôr em liberdade os oprimidos e
despedaçar todo o jugo? Não consiste em repartir o teu pão com o faminto, em
recolheres em tua casa os pobres desabrigados, em vestires aquele que vês nu
e em não te esconderes daquele que é tua carne (Is 58,6-7)?

O profeta anunciou que o culto agradável a Deus reclamava olhos abertos para a vida

dos empobrecidos e esquecidos pela sociedade e exigia a partilha dos bens. Portanto, como

afirma Matias Augé, “os profetas do Antigo Testamento já tinham lembrado a exigência de

uma correspondência profunda entre a vida e a celebração cultual” 191. As celebrações

desvinculadas da vida, censuradas principalmente pelos profetas do Antigo Testamento,

189
Cf. nota de rodapé número 183.
190
Cf. CENTRO BÍBLICO VERBO. Sonhar de novo. Segundo e Terceiro Isaías (40-66): Roteiros e orientações
para encontros. São Paulo: Paulus, 2004, p. 131.
191
AUGÉ, Matias. Domingo: festa primordial dos cristãos. São Paulo: Ave-Maria, 2000, p. 15-16.
61

assumiam uma dimensão moral e comprometedora que se encarnava na vida concreta e

cotidiana dos participantes.

Outros livros pós-exílicos trazem informações sobre a vida na celebração no Antigo

Testamento. No livro de Levítico, por exemplo, a celebração perpassa a vida cotidiana dos

israelitas, define os espaços para os puros e impuros e rege a vida social definindo a exclusão

ou a inclusão dos indivíduos (cf. Lv 12-15).

A própria literatura sapiencial e poética dos últimos séculos do Antigo Testamento

busca a manifestação de Deus não mais em acontecimentos extraordinários, mas na

experiência do dia a dia, como apresenta o livro do Eclesiástico ao referir-se aos trabalhadores

manuais: “Não brilham nem pela cultura nem pelo julgamento, não se encontram entre os

criadores de máximas. Mas asseguram uma criação eterna, e sua oração tem por objeto os

problemas de sua profissão” (Eclo 38,38-39). Estes trabalhadores não se encontravam no

conselho do povo e na assembleia não sobressaiam, mas a sua vida unia-se à celebração.

Muitos Salmos apresentam o templo como lugar do encontro com o Senhor e da

observância da lei na vida de cada pessoa. Outros, irrompem da vida do povo e muitas destas

orações são gritos contra a situação de dor e sofrimento192. Através dos Salmos, as situações

vividas pelo povo de Israel convertem-se em oração. As alegrias e sucessos, decepções e

fracassos, dores e traições sofridas constituem a oração. Através da oração litúrgica dos

Salmos, revive-se a história de Israel e dos orantes do Antigo Testamento, atingem-se toda a

vida humana, seus altos e baixos e a multiforme história dos seres humanos com Deus 193.

Ana Flora e Frei Gorgulho explicam que a formação do povo de Deus, sua história e

vida são sustentadas pela liturgia: “A celebração das festas agrícolas, e as celebrações na casa,

e no Templo, foram fatores integrantes, e força de libertação para constituir o Povo como

192
Cf. CENTRO BÍBLICO VERBO. Sonhar de novo. Segundo e Terceiro Isaías (40-66): Roteiros e orientações
para encontros. São Paulo: Paulus, 2004, p. 137.
193
Cf. MARSILI, Salvatore. A Liturgia, momento histórico da salvação. In: NEUNHEUSER, Burkhard; et al. A
Liturgia, momento histórico da salvação. 2 ed. São Paulo: Paulinas, 1987, p. 51. (Anámnesis, 1).
62

comunhão real, que supera a dominação e a dispersão de seus membros na base da vida e das

lutas do dia-a-dia”194. Os profetas denunciaram esta anomalia e os abusos e manifestaram a

vontade divina todas as vezes que Israel se desviou da mútua integração e vitalização entre

celebração e vida. Por isso, com este estudo de alguns elementos do Antigo Testamento sobre

a vida na celebração, têm-se base sólida e possibilidade de proveitoso estudo da liturgia nas

primeiras comunidades cristãs contida no Novo Testamento.

1.2 No Novo Testamento

Primeiramente é importante salientar que o Novo Testamento raramente emprega o

termo culto, liturgia, oferenda, sacrifício e templo para a celebração cristã 195. Porém, estes

termos são empregados pelas primeiras comunidades ao referir-se ao ministério da pregação e

à fé dos gentios que creram (cf. Rm 15,15-16), ao serviço dos pobres (cf. 2Cor 9,12), ao

martírio (cf. Fl 2,17) e à vida dos cristãos (cf. Rm 12,1; 1Pd 2,5; 1Cor 3,16-17; Cl 3,17)196.

Para a teologia litúrgica presente no Novo Testamento, o verdadeiro culto é a vida

cristã concreta a exemplo de Jesus. Para os primeiros cristãos, segundo Claude Duchesneau ,

“a vida do cristão não é uma vida como as outras que cadencia, de vez em quando, um tempo

que se consagre a Deus. É uma vida inteiramente consagrada a ele, na integralidade de seu

194
GORGULHO, Frei Gilberto; ANDERSON, Ana Flora. Celebração e libertação. A força libertadora do
sagrado. [São Paulo]: s.n, p. 5, s.d.
195
Os escritores sagrados não quiseram servir-se destes termos para indicar as celebrações próprias dos cristãos
para não causar confusão nas primeiras comunidades cristãs. O culto que conheciam, ou era judaico e eles
sabiam bem suas deficiências, ou era romano imperial idólatra e opressor. Somente no séc. II, voltou-se a
empregar o vocabulário cultual da Bíblia grega para designar a liturgia cristã. Cf. AUGÉ, Matias. Liturgia.
História, celebração, teologia, espiritualidade. 3. ed. São Paulo: Ave-Maria, 2007, p. 11-16; BASURKO, Xavier;
GOENAGA, José Antonio. A vida litúrgico-sacramental da Igreja em sua evolução histórica. In: BORÓBIO,
Dionisio (Org). A celebração na Igreja. Vol. I: Liturgia e sacramentologia fundamental. 2. ed. São Paulo:
Loyola, 2002, p. 52; MARSILI, Salvatore. Das origens da Liturgia cristã às caracterizações rituais. In: Id; et al.
Panorama histórico geral da Liturgia. São Paulo: Paulinas, 1986, p. 21. (Anámnesis, 2); MARTÍN, Julián
López. No espírito e na verdade. Vol. I: Introdução teológica à liturgia. Petrópolis: Vozes, 1996, p. 22; SOUZA,
Marcelo de Barros. Celebrar o Deus da vida. Tradição litúrgica e inculturação. São Paulo: Loyola, 1992, p. 57.
196
Cf. MARTÍN, Julián López. No espírito e na verdade. Vol. I: Introdução teológica à liturgia. Petrópolis:
Vozes, 1996, p. 38-39.
63

tempo e de seu conteúdo”197. Oferenda e ação de graças a Deus são o conjunto da existência.

Diferente do ritualismo vazio e desligado da vida de grupos judeus e pagãos, a vida cristã

torna-se liturgia, culto espiritual198.

Os Evangelhos relatam que Jesus, em continuidade com a genuína espiritualidade

profética do Antigo Testamento, reprovava os ritualismos, as liturgias desligadas da vida 199.

Os Evangelhos mostram Jesus indo a Jerusalém, mas ao invés de ir ao templo, ele ia até a

piscina para curar os doentes (cf. Jo 2,13-2) e o povo fazia experiência de Deus fora do

templo. Jesus mostrou que a celebração precisa considerar a vida e a necessidade das pessoas,

já que nisto estava a validade da Palavra de Deus.

O Evangelho de Marcos, por exemplo, mostra que Jesus não se preocupou com os

sacrifícios de holocaustos (cf. Mc 2,28; 11,15-17; 12,33) e até desautorizou o sistema

sacrifical do templo (cf. Mc 7,11-12)200. No Evangelho de João, Jesus participou da festa das

tendas indo ao templo e revelando que o culto sacrifical é ineficaz. No lugar das abluções

rituais e da busca da água lustral, Jesus disse: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba

aquele que crê em mim‟ (Jo 7,37). Vai diante dos candelabros, que cada noite da festa são

acesos, e proclama: „Eu sou a luz do mundo‟ (Jo 8,12s)”201.

Jesus relativizou, também, o sábado. No conflito com os herodianos, ele manifestou

liberdade em relação ao repouso sabático e ensinou que a lei do sábado terminava quando a

vida estivesse ameaçada. Jesus seguiu os judeus piedosos que no passado agiram desta forma,

197
DUCHESNEAU, Claude. A celebração na vida cristã. São Paulo: Paulinas, 1977, p. 117.
198
Cf. CASTELLANO, Jesús. Liturgia e vida espiritual. Teologia, celebração, experiência. São Paulo: Paulinas,
2008, p. 63.
199
Cf. LUTZ, Gregório. Celebrar em espírito e verdade. Elementos de uma teologia litúrgica. 3. ed. São Paulo:
Paulus, 2005, p. 16. (Coleção Celebrar a fé e a vida).
200
Jesus fez oposição à organização sócio-econômico-política do templo que beneficiava e legitimava a
dominação romana. O templo era lugar do tesouro e do comércio controlados pelos sacerdotes latifundiários, do
sinédrio controlado pelos saduceus e das decisões políticas. Diante desta realidade, Jesus referiu-se a si mesmo
como sendo o verdadeiro caminho de acesso ao Pai e relativizou o templo como lugar do encontro com Deus. Cf.
FREYNE, Sean. Jesus peregrino. Concílium, Petrópolis, n. 266, p. 28, 1996; NAKANOSE, Shigeyuki;
MARQUES, Maria Antônia. Jesus e seus opositores. RIBLA. Petrópolis; São Leopoldo, n. 47, p. 100, 2004.
201
SOUZA, Marcelo de Barros. O reencontro do primeiro amor. A inculturação do culto na Bíblia. Estudos
Bíblicos, Petrópolis, n. 35, p. 25, 1992.
64

como narram Shigeyuki Nakanose e Maria Antônia: “Depois da guerra dos Macabeus (1Mc

2,41), após um massacre sem qualquer resistência dos judeus em dia de sábado, entrou o

costume de violar a lei em vista da defesa da vida”202. Jesus insistiu que o sábado era para dar

vida ao povo e não para impedir que fossem garantidas a dignidade e as necessidades do ser

humano (cf. Mc 2,27)203.

No Evangelho de Mateus, Jesus revelou que a condição para uma celebração válida é a

relação de amor e de justiça para com o próximo: “Portanto, se estiveres para trazer a tua

oferta ao altar e ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa a tua

oferta ali diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e depois virás apresentar

tua oferta” (Mt 5, 23-24)204.

No diálogo com a samaritana, Jesus anunciou um culto “em espírito e verdade” (Jo

4,23). E Jesus, afirma Julián López Martín, não só instruiu que se devia adorar a Deus em

espírito e verdade, “mas também inaugurou ele próprio essa adoração, unindo culto e vida e

sintetizando essa unidade na oração que aflorava constantemente aos seus lábios: Abba, Pai

(cf. Mc 14,36; Mt 11,25-26; Jo 12,27-28; 17,1.11.25)”205. Aos seguidores de Jesus exige-se

que integrem oração e vida, celebração e existência. Aqueles que multiplicam as palavras em

suas orações e não procuram o cumprimento da vontade de Deus não serão ouvidos em seus

cultos vazios e vãos, distanciados da vida (cf. Mt 7,7-14)206.

Jesus, também, convidou os seus seguidores a dar suas vidas e partilhá-las como ele

mesmo fez207. No Evangelho de João, segundo Xavier Léon-Dufour, Jesus na Ceia com seus

202
NAKANOSE, Shigeyuki; MARQUES, Maria Antônia. Jesus e seus opositores. RIBLA, Petrópolis; São
Leopoldo, n. 47, p. 105, 2004.
203
MARSILI, Salvatore. Das origens da Liturgia cristã às caracterizações rituais. In: Id; et al. Panorama
histórico geral da Liturgia. São Paulo: Paulinas, 1986, p. 14. (Anámnesis, 2).
204
VANNUCCHI, Aldo. Liturgia e libertação. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2005, p. 35.
205
MARTÍN, Julián López. No espírito e na verdade. Vol. I: Introdução teológica à liturgia. Petrópolis: Vozes,
1996, p. 34.
206
Cf. MARSILI, Salvatore. Das origens da Liturgia cristã às caracterizações rituais. In: Id; et al. Panorama
histórico geral da Liturgia. São Paulo: Paulinas, 1986, p. 14. (Anámnesis, 2).
207
Cf. FOUREZ, Gérard. Os sacramentos celebram a vida. Celebrar as tensões e as alegrias da vida. Petrópolis:
Vozes, 1984, p. 44.
65

discípulos pediu dois tipos de memória: uma ação litúrgica e um comportamento de serviço.

“A convergência entre as duas memórias se impôs de tal forma que até o século XIII o lava-

pés foi considerado como um sacramento”208. A presença de Jesus no meio dos seus

discípulos não acontece somente através da liturgia, mas na caridade, no serviço, na doação da

própria vida. A celebração litúrgica não é negligenciada, é edificada sobre a vida de caridade

que caracteriza o cristão209.

E foi isto que as primeiras comunidades cristãs, após a morte e ressurreição de Jesus,

buscaram viver: glorificar o Pai mediante a santidade de vida, constância no ensinamento dos

apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e nas orações210. O texto de Atos dos

Apóstolos é muito significativo para caracterizar a vida e a celebração na comunidade cristã

primitiva:

Eles mostravam-se assíduos ao ensinamento dos apóstolos, à comunhão


fraterna, à fração do pão e às orações. Todos os que tinham abraçado a fé
reuniam-se e punham tudo em comum: vendiam suas propriedades e bens, e
dividiam-nos entre todos, segundo as necessidades de cada um. Louvavam a
Deus e gozavam da simpatia de todo o povo (At 2,42.44-45.48).

Através deste texto é retratada a inter-relação entre Palavra, culto e caridade presente

nas primeiras comunidades. A conversão se exprime por um novo modelo de vida que é sinal

para “todo o povo”: partilha do pão, da Palavra, dos bens e a comunhão fraterna. Porém,

houve dificuldades de realização deste ideal de vida cristã na Igreja primitiva. A passagem

mais conhecida talvez seja a advertência de Paulo à comunidade cristã presente em Corinto.

Ele chamou a atenção para o banquete que precedia a ceia na comunidade que já não era mais

testemunho de partilha, mas tornou-se sinal de ostentação e discriminação dos mais pobres

208
LÉON-DUFOUR, Xavier. O partir do pão eucarístico segundo o Novo Testamento. São Paulo: Loyola, 1984,
p. 317-318.
209
Cf. Id. O Pão da Vida. Um estudo teológico sobre a Eucaristia. Petrópolis: Vozes, 2007, p. 59;
D‟ANNIBALE, Miguel Ángel. A celebração eucarística. In: CELAM. Manual de liturgia. Vol. III: A celebração
do Mistério Pascal. Os sacramentos: sinais do Mistério Pascal. São Paulo: Paulus, 2005, p. 178.
210
Cf. BASURKO, Xavier; GOENAGA, José Antonio. A vida litúrgico-sacramental da Igreja em sua evolução
histórica. In: BORÓBIO, Dionisio (Org). A celebração na Igreja. Vol. I: Liturgia e sacramentologia
fundamental. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2002, p. 49; MARTÍN, Julián López. No espírito e na verdade. Vol. I:
Introdução teológica à liturgia. Petrópolis: Vozes, 1996, p. 29.
66

(cf. 1Cor 11,17-34). São Paulo admoestou que não tem sentido a partilha do pão eucarístico se

não há partilha na vida comunitária e concluiu que a “Ceia do Senhor” é a proclamação da sua

morte (cf. 1Cor 11,26), é comunhão de seu corpo e sangue (cf. 1Cor 10,16-17), e comunhão

fraterna (cf. 1Cor 11,20). A Eucaristia está ligada à vida, é expressão e celebração da vida211.

A ação de graças de Paulo flui das notícias que chegam de toda parte, dos encontros,

das visitas, da comunhão fraterna e da partilha da vida. A oração brota, também, da vida das

igrejas e da preocupação dele por todas elas (cf. Fl 4,6). René Guerre mostra a capacidade de

Paulo em perceber a ação de Deus na história e a partir da vida dar graças da seguinte forma:

Para Paulo Deus age no coração na vida humana. É no interior da existência


dos homens, nas suas relações concretas, no seu destino pessoal que Deus
realiza a sua ação. É daí, desta realidade, que parte a oração de Paulo: A ação
de graças de quem se maravilha pelo que Deus opera nas pessoas e a súplica
insistente para que essa ação divina acabe com as resistências e oposições à
212
graça, e produza frutos .

A ação de graças brota do dia a dia de Paulo, de sua vida pessoal com seus altos e

baixos, alegrias e tristezas, vitórias, angústias e fracassos. Paulo “não separa o culto cristão da

vida, o serviço de Deus do serviço dos irmãos. O culto, como a oração, sustenta toda a vida,

em todas as suas fases, a todas as horas” 213, como expressa Hamman. Paulo chamou de “ajuda

litúrgica” a própria coleta organizada para ajudar os irmãos de Jerusalém (cf. 2Cor 9,12).

Convidou os romanos a um culto novo: “Exorto-vos, portanto, irmãos, pela misericórdia de

Deus, a que ofereçais vossos corpos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: este é o

211
O repreensível em Corinto era que “para se assentarem à mesa, muitos não esperavam que todos estivessem
presentes; chegavam ao ponto de se embriagarem enquanto outros passavam fome. Daí os choques de que Paulo
tinha sido informado, choques que produziam muito provavelmente entre os fiéis mais abastados e as pessoas de
condição modesta, quer porque estas chegassem tarde, retidas por seu trabalho, quer porque fossem afastadas das
mesas melhor abastecidas”. LÉON-DUFOUR, Xavier. O partir do pão eucarístico segundo o Novo Testamento.
São Paulo: Loyola, 1984, p. 247.
212
GUERRE, René. A oração das primeiras comunidades. Estudos Bíblicos, Petrópolis, n. 10, p. 51, 1989.
213
HAMMAN, Adalbert. Liturgia e apostolado. Petrópolis: Vozes, 1968, p. 21.
67

vosso culto espiritual” (Rm 12,1). A existência cristã, vivida na fidelidade ao Espírito de

Cristo, converte-se em culto perfeito, em culto espiritual214.

O autor da carta aos Hebreus diz que esta liturgia, ou seja, o sacrifício da vida, o

engajamento em favor dos outros, está unida ao sacrifício de Cristo: “Por meio dele [Jesus],

ofereçamos continuamente um sacrifício de louvor a Deus, isto é, o fruto dos lábios que

confessam o seu nome. Não vos esqueçais da beneficência e da comunhão, porque são estes

os sacrifícios que agradam a Deus” (Hb 13,15-16). A vida cristã é considerada como liturgia,

como “uma imensa procissão litúrgica de peregrinos em direção ao santuário onde habita

Deus” 215, diz Vaggagini ao comentar a carta aos Hebreus.

O apóstolo Tiago, também, ensinou que a celebração da Palavra inclui compromisso

que se expressa em atitudes concretas: “Tornai-vos praticantes da Palavra e não simples

ouvintes” (Tg 1,22). Ele destaca que o verdadeiro culto a Deus é este: “visitar os órfãos e as

viúvas em suas tribulações e guardar-se livre da corrupção do mundo” (Tg 1,27). Tiago queria

mostrar que o serviço fraterno é ato de culto216.

Tiago chegou a ironizar a saudação da paz separada do compromisso concreto: “Se um

irmão ou uma irmã não tiverem o que vestir e lhes faltar o necessário para a subsistência de

cada dia, e alguém dentre vós lhes disser: „Ide em paz, aquecei-vos e saciai-vos‟, e não lhes

der o necessário para a sua manutenção, que proveito haverá nisso?” (Tg 2,15-16). Portanto,

para Tiago, a fé sem obras é morta e o culto que não leva ao compromisso com os pobres e

marginalizados é vazio. Para ele, culto e caridade, sacrifício e ação, liturgia e vida são

complementares e uma celebração da Palavra que não leva em consideração a vida e não

promove um compromisso não possui fundamentos.

214
Cf. BASURKO, Xavier; GOENAGA, José Antonio. A vida litúrgico-sacramental da Igreja em sua evolução
histórica. In: BORÓBIO, Dionisio (Org). A celebração na Igreja. Vol. I: Liturgia e sacramentologia
fundamental. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2002, p. 47.
215
VAGGAGINI, Cipriano. O sentido teológico da liturgia. São Paulo: Loyola, 2009, p. 234.
216
Cf. PORTO, Humberto. Liturgia judaica e liturgia cristã. São Paulo: Paulinas, 1977, p. 88-89.
68

O último livro do Novo Testamento, o Apocalipse, retrata a realidade das primeiras

comunidades cristãs através de diversos hinos e orações. Cada oração é uma liturgia da vida e

cada hino envolve toda a vida da Igreja. Segundo Ferreira, “cada hino do Apocalipse surge

envolvendo toda a vida da Igreja. Um a um é reflexo da resistência dos atribulados”217. O

Apocalipse é um testemunho litúrgico de uma comunidade perseguida. De modo primoroso,

Ferreira apresenta, da seguinte forma, a liturgia a partir da vida presente no livro do

Apocalipse:

Esta comunidade ora a resistência, reza a vitória do Cordeiro com todo o seu
ser. Ela celebra a vida com garra, apesar dos sofrimentos impostos por
Domiciano. Ela sabe que muitos cristãos foram e serão torturados e
assassinados. Vê que o sangue continua ser derramado. Ela vence o desespero
e o medo e reza com toda a fé a história passada (saída do Egito) e a presente
(julgamento de Roma e vitória dos perseguidos). Reza para si própria para
superar os momentos terríveis da tribulação e reza para toda a Igreja em
qualquer ponto do império para não esmorecer218.

Através da liturgia, os cristãos perseguidos compreendiam que a história é conduzida

por Deus (cf. Ap 4-5), encontravam força para resistir, celebravam a vida, rezavam suas

derrotas e conquistas219. No Apocalipse, a liturgia celebra todas as dimensões da vida diária,

dando-lhes um sentido cristão, celebra a certeza da intervenção de Deus na história e a

esperança dos cristãos por dias melhores. O Apocalipse integra liturgia e vida, celebração e

realidade histórica.

Em síntese, o Novo Testamento mostra que, no ensinamento de Jesus e na vivência

das primeiras comunidades cristãs, a ação litúrgica está profundamente ligada à vida cotidiana

e é testemunho público de comunhão com os mais necessitados. É na celebração litúrgica que

se pode experimentar e crer que amar é servir, partir o pão é partilhar a vida, comungar o

217
Cf. FERREIRA, Joel Antônio. É possível rezar em tempo de perseguição? A Liturgia da Vida no Apocalipse.
Estudos Bíblicos, Petrópolis, n. 35, p. 59, 1992.
218
Ib. p. 65.
219
“Uma vez soltos [Pedro e João], foram para junto dos seus e referiram tudo o que lhes disseram os chefes dos
sacerdotes e os ancião. Ouvindo isto, todos juntos elevaram a voz a Deus, dizendo: „Soberano Senhor, foste tu
que fizeste o céu, a terra, o mar, e tudo o que neles existe [...]‟” (At 4,23-24).
69

corpo e o sangue de Cristo é comungar com os mais pobres e necessitados, e celebrar o

Mistério de Cristo compromete, na caridade para com os irmãos, aquele que celebra220.

O Novo Testamento ensina, ainda, que a autêntica liturgia da comunidade cristã é a

sua diakonia221. O cuidado com os pobres foi parte integrante da vida de Jesus e seus

seguidores e é pelo compromisso profético que os primeiros cristãos foram considerados “os

que andaram revolucionando o mundo inteiro” (At 17,6). Assim, o Novo Testamento mostra

que a vida do cristão, além de ser prolongamento da liturgia ritual, é culto agradável a Deus, é

liturgia existencial222.

2 Alguns testemunhos da patrística sobre a vida na celebração223

A tarefa de pesquisar alguns testemunhos da patrística sobre a vida na celebração

exige enorme labuta e prudência. Porém, informações extra-bíblicas das comunidades pós-

apostólicas, testemunhos dos padres da Igreja, textos litúrgicos ou até mesmo canônicos

ajudam no estudo sobre a vida na celebração no início do cristianismo. Isto atesta Jesús

Castellano:

220
Cf. BOROBIO, Dionisio. Liturgia y compromiso social. Phase, Barcelona, n. 181, p. 58, 1991; HAMMAN,
Adalbert. Liturgia e apostolado. Petrópolis: Vozes, 1968, p. 9-45.
221
BOROBIO, Dionisio. Liturgia y compromiso social. Phase, Barcelona, n. 181, p. 61, 1991.
222
Cf. AUGÉ, Matias. Liturgia. História, celebração, teologia, espiritualidade. 3. ed. São Paulo: Ave-Maria,
2007, p. 20-25; Id. Espiritualidade Litúrgica. “Oferecei vossos corpos em sacrifício vivo, santo, agradável a
Deus”. São Paulo: Ave-Maria, 2002, p. 25-39.
223
Para aprofundamento da liturgia nos Santos Padres conferir, além das obras citadas neste item da dissertação,
as seguintes: ARGÁRATE, Pablo. A Igreja celebra Jesus Cristo: introdução à celebração litúrgica. São Paulo:
Paulinas, 1997, p. 20-33. (Liturgia e participação); AZCARATE, Andres. La flor de la liturgia renovada:
manual de cultura y espiritualidad litúrgicas. 9. ed. Buenos Aires: Editorial Claretiana, 1982, p. 17-18;
BASURKO, Xavier; GOENAGA, José Antonio. A vida litúrgico-sacramental da Igreja em sua evolução
histórica. In: BORÓBIO, Dionisio (Org). A celebração na Igreja. Vol. I: Liturgia e sacramentologia
fundamental. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2002, p. 56-83; BASURKO, Xavier. Historia de la liturgia. Barcelona:
Centre de Pastoral Litúrgica, 2006, p. 71-184. (Biblioteca Litúrgica, 28); NEUNHEUSER, Burkhard. História da
liturgia através das épocas culturais. São Paulo: Loyola, 2007, p. 59-84; SILVA, José Ariovaldo. A celebração
do Mistério de Cristo ao longo da história: panorama histórico geral da liturgia. In: CELAM. Manual de liturgia.
Vol. IV: Outras expressões celebrativas do Mistério Pascal e a liturgia na vida da Igreja. São Paulo: Paulus,
2007, p. 452-459. (Manual de Liturgia).
70

Nos testemunhos da liturgia primitiva podemos observar o fenômeno de uma


continuidade íntima entre celebração litúrgica e a vida dos cristãos: o âmbito
cultual é o centro das relações concretas de fraternidade, caridade,
testemunho; a vida cristã em suas expressões mais genuínas de comunhão de
bens, trabalho, hospitalidade e testemunho de fé até o martírio é a lógica do
prolongamento de sua vida cultual224.

Geralmente para os primeiros cristãos não existia contradição entre reunir-se para o

serviço litúrgico e o serviço no mundo. O seu testemunho de convergência entre liturgia e

vida realizava-se no martírio, na caridade fraterna e na celebração. Aliás, a caridade é

exigência de celebração autêntica e prolongamento de seus efeitos225.

Fora das Sagradas Escrituras do final do século I, os primeiros testemunhos da oração

cristã e da transmissão do depósito da fé, dos apóstolos às primeiras gerações pós-apostólicas

são a Carta de São Clemente Romano aos Coríntios e a Didaqué. São escritos

contemporâneos a alguns do Novo Testamento.

Na Carta de São Clemente226 aos Coríntios, por exemplo, encontra-se a primeira

oração cristã extra-bíblica227. Clemente iniciou essa oração, após orientar penitência ou exílio

aos responsáveis por provocar desordem na comunidade de Corinto, para que a harmonia

fosse restabelecida entre os fiéis. A oração foi proferida da seguinte forma:

Nós Te pedimos, Senhor, que sejas o nosso auxílio e proteção.


Salva os que entre nós estão atribulados e tem piedade dos humildes,
levanta os que caíram e ajuda os necessitados,
cura os enfermos e converte os transviados do teu povo,
sacia os famintos e liberta os nossos prisioneiros,
fortalece os fracos e anima os pusilânimes 228.

224
CASTELLANO, Jesús. Liturgia e vida espiritual. Teologia, celebração, experiência. São Paulo: Paulinas,
2008, p. 75.
225
Cf. HAMMAN, Adalbert. A vida cotidiana dos primeiros cristãos (95-197). São Paulo: Paulus, 1997, p. 205-
206.
226
Clemente possuía grande autoridade na antiguidade, tanto que a Igreja siríaca contou seu escrito entre as
Sagradas Escrituras e o mesmo foi inserido no Codex Alexandrinus da Bíblia que se encontra em Londres. Cf.
CLEMENTE ROMANO. Carta aos coríntios. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1984, p. 7.
227
Cf. Ib. p. 60.
228
CLEMENTE ROMANO. Carta aos Coríntios, 59,4. In: SECRETARIADO NACIONAL DE LITURGIA
(Org). Antologia Litúrgica. Textos litúrgicos, patrísticos e canónicos do primeiro milénio. Fátima [Portugal]:
Coimbra, 2004, p. 91.
71

Esta oração de Clemente pertence às mais belas e perfeitas orações comuns da

antiguidade229. É uma súplica ao Senhor a favor dos atribulados, caídos, necessitados,

enfermos, famintos, prisioneiros, fracos e desanimados. Esta oração não pertence a uma

celebração, mas virá a tornar-se modelo de oração dos fiéis na liturgia da Palavra. É

importante salientar que a oração de Clemente originou-se da realidade, das necessidades

observadas por ele na comunidade cristã de Corinto230.

A Didaqué231 inspira-se no Evangelho de Mateus232, declarando a necessidade de vida

íntegra e relações harmônicas aos participantes da celebração litúrgica: “Quem tiver alguma

desavença com o seu irmão, não se reúna convosco antes de se reconciliar, para que não seja

profanado o vosso sacrifício”233. Para o desconhecido autor desta instrução, a vida do fiel

precisa estar em conformidade com as exigências da celebração. Vida e liturgia

correspondem-se e interpenetram-se. A celebração exige, da mesma forma, a caridade do

cristão: “se partilhais os bens da imortalidade, com maior razão deveis fazê-lo quanto aos

bens corruptíveis”234. A caridade e o testemunho que emanam da celebração não são

possibilidades para quem celebra, mas são necessidades e obrigações da vida cristã.

Alguns textos do século II revelam que o compromisso ético e vida de caridade brotam

da liturgia e são celebrados por ela. São testemunhos de Inácio de Antioquia, Aristides de

Atenas, Justino, Minúcio Félix e da Carta a Diogneto.

229
Análise de Dom Paulo Evaristo Cardeal Arns em: CLEMENTE ROMANO. Carta aos coríntios. 3. ed.
Petrópolis: Vozes, 1984, p. 10.
230
Jungmann ao citar a obra Stromata de Clemente expressa: “cabe ao cristão perante Deus uma ação de Graças
ao longo de toda a sua vida; esta é a expressão da verdadeira adoração de Deus”. JUNGMANN, Josef Andreas.
Missarum Sollemnia: origens, liturgia, história e teologia da missa romana. São Paulo: Paulus, 2009, p. 41.
231
Do tempo dos apóstolos, este texto foi escrito entre os anos 90-100 d.C., na Síria, na Palestina ou em
Antioquia. Cf. DIDAQUÉ. Catecismo dos primeiros cristãos. 9. ed. Petrópolis: Vozes, 2009, p. 13.
232
Cf. Mt 5,23-24
233
DIDAQUÉ. 14,2. In: Antologia Litúrgica, op. cit. p. 98-99.
234
DIDAQUÉ. 4,8. In: Antologia Litúrgica, op. cit. p. 94.
72

Inácio235, através da sua Carta aos Esmirnenses, afirmou que os docetas236 negavam a

encarnação e, como consequência, não valorizavam a oração e a Eucaristia237. Inácio chegou a

relacionar o abandono da caridade aos necessitados com o abandono da liturgia: “Não lhes

[aos docetas] importa a caridade com as viúvas e os órfãos, os oprimidos, os prisioneiros ou

os libertos, nem com os que padecem fome ou sede”238. Para ele, a celebração impulsionava

os cristãos a viver a caridade.

Aristides de Atenas foi um dos apologistas gregos que mais se destacou. Sua apologia

dirigida ao imperador Adriano procurou demonstrar que os cristãos possuíam o culto

verdadeiro ao verdadeiro Deus e, por isso, a vida moral destes fiéis não era nociva ao império:

Amam-se uns aos outros, não desprezam as viúvas, defendem o órfão das
mãos de quem o trata com violência, e aquele que possui bens dá sem inveja
ao que não tem... Quando sabem que algum dos seus está na prisão ou é
oprimido por causa do nome de Cristo, socorrem com solicitude a sua
necessidade, e, se é possível libertá-lo, libertam-no... Se entre eles alguém é
pobre e passa necessidades, e os outros não têm abundância de meios, jejuam
dois ou três dias para satisfazer a falta de alimento daquele que não tem... 239.

Para Aristides, o culto dos judeus era superficial, a religião pagã era inconciliável com

o verdadeiro conceito de Deus e nociva para o império. Somente a celebração cristã dava

acesso à conduta ou ao comportamento pautado pelo princípio da caridade. Até mesmo o

jejum, pertencente às três práticas judaicas de piedade240, era direcionado para a caridade aos

necessitados como exigiam os profetas no Antigo Testamento (cf. Is 58,6-7).

235
Inácio foi bispo de Antioquia durante o governo do imperador Trajano (98-117 d.C). Segundo a tradição,
havia sido levado prisioneiro da Síria a Roma para ser dilacerado pelas feras na arena. Durante a viagem, Inácio
escreveu sete cartas, quatro desde Esmirna e três de Trôade.
236
Doutrina existente nos séculos II e III que negava a existência de um corpo material a Jesus Cristo, que seria
apenas espírito.
237
“Abstêm-se da Eucaristia e da oração, porque não acreditam que a Eucaristia é a carne do nosso Salvador
Jesus Cristo, carne que sofreu pelos nossos pecados e que o Pai, em sua bondade, ressuscitou”. INÁCIO DE
ANTIOQUIA. Inácio aos Esmirnenses, 7,1. In: Antologia Litúrgica, op. cit. p. 112.
238
INÁCIO DE ANTIOQUIA. Inácio aos Esmirnenses, 6,2. In: Antologia Litúrgica, op. cit. p. 112.
239
ARISTIDES DE ATENAS. Apologia, 15, 5-7. In: Antologia Litúrgica, op. cit. p. 124.
240
O jejum, a caridade e a oração são as três práticas judaicas de piedade. Cf. CENTRO BÍBLICO VERBO.
Sonhar de novo. Segundo e Terceiro Isaías (40-66): Roteiros e orientações para encontros. São Paulo: Paulus,
2004, p. 122-137.
73

Justino foi outro brilhante apologista do século II. Para ele, defender o cristianismo e

apresentar a Eucaristia das Igrejas no século II ao imperador Antonino Pio era, também,

explicitar que as ofertas dos fiéis colocadas em comum estavam à disposição dos

necessitados241 e que não havia celebração sem compromisso com os pobres:

Os que vivem em abundância e querem repartir, dão, cada um o que lhe apraz
e parece bem. E o que se recolhe é deposto aos pés daquele que preside, e ele,
por seu turno, presta assistência aos órfãos, às viúvas, aos doentes, aos pobres,
aos prisioneiros, aos estrangeiros de passagem, numa palavra, a todos os que
sofrem necessidade242.

Justino afirmava que o verdadeiro culto a Deus provinha daqueles que não queimavam

as ofertas e, sim, as ofereciam como alimento aos necessitados243. Ele expressou, ainda, aos

que buscavam o Batismo: “Se entre vós há um ladrão deixe de o ser, se há um adúltero, faça

penitência, se há um mentiroso, que se converta” 244. Quem quiser seguir Jesus Cristo precisa

converter-se e viver integramente. Somente assim, testemunhará a Palavra do Senhor

celebrada.

Minúcio Félix respondeu, ao pagão Cecílio, à acusação feita aos cristãos de “seita

deplorável”245 e de ausência de elementos nos seus cultos que caracterizavam os cultos pagãos

da seguinte forma:

Não temos templos nem altares... Mas que templo poderei eu construir a Deus,
se o mundo inteiro, obra das suas mãos, não O pode conter?... Não será
possível dedicar-Lhe um templo no espírito e no fundo do coração?... São
estes os nossos sacrifícios. É este o culto que nós prestamos a Deus, e, para
nós, é mais religioso aquele que é mais justo [...]. Em qualquer parte que nos
encontremos, Deus não só está perto de nós, mas está em nós mesmos [....].
Não só agimos sob o seu olhar, mas vivemos n´Ele 246.

241
CASTILHO, José Maria. Onde não há justiça não há Eucaristia. In: ALONSO, José; et al. Fé e justiça. São
Paulo: Loyola, 1990, p. 129.
242
JUSTINO. Apologia I, 67,6. In: Antologia Litúrgica, op. cit. p. 141.
243
Cf. JUSTINO. Apologia I, 13,1. In: Antologia Litúrgica, op. cit. p. 137. “A única homenagem que lhe [a Deus
Pai] é digna é, usar seus dons em prol de nós e dos pobres”. JUNGMANN, Josef Andreas. Missarum Sollemnia:
origens, liturgia, história e teologia da missa romana. São Paulo: Paulus, 2009, p. 42.
244
JUSTINO. Diálogo com Trifão, 12,3. In: Antologia Litúrgica, op. cit. p. 143.
245
MINÚCIO FÉLIX. Octávio, 8. In: Antologia Litúrgica, op. cit. p. 154.
246
MINÚCIO FÉLIX. Octávio, 32. In: Antologia Litúrgica, op. cit. p. 155.
74

Minúcio afirmou que aquele que pratica a justiça é quem apresenta fortes elementos de

adoração, veneração e culto a Deus. Desta forma, ele vinculou a celebração à vida íntegra do

cristão que a apresentou como modesta, inocente e pautada pelo amor. Os pagãos, ao

contrário, vivem no ódio, na inveja e no desconhecimento dos necessitados 247.

Quanto à Carta a Diogneto, não se conhecem nem o autor e nem o destinatário, apenas

que este autor desconhecido do século II respondeu à pergunta como os cristãos cultuam a

Deus e quem são eles248. No capítulo 10 da apologética Carta, dentre outros assuntos, o autor

descreveu a possibilidade de o ser humano ser imitador de Deus e que a felicidade de quem o

imita não está “em oprimir o próximo, em querer estar acima dos mais fracos, em tornar-se

rico e ser violento com os inferiores”249. A Carta indica que os cristãos cultuam a Deus e

tornam-se seus imitadores quando levam o fardo do próximo e procuram fazer o bem ao que

menos possui250.

No século III, o Império Romano viveu uma decadência dos costumes do povo e do

exército, gerada por uma grave crise econômica caracterizada por uma espantosa inflação

monetária e uma legislação que pretendia controlá-la. A perseguição aos cristãos tornou-se

oficial, diferente do século II, que era limitada. Neste contexto, encontram-se escritos

expressivos sobre a vida na celebração nos seguintes autores ou obras do século III: Ireneu de

Lião, Tertuliano, Hipólito de Roma, Didascália dos Apóstolos, Orígenes e Cipriano de

Cartago.

Ireneu de Lião251, “doutor da Igreja” por ter sido o primeiro a apresentar uma visão de

conjunto da doutrina cristã, destacou a importância da integração entre a prática da justiça e o

culto ritual. Ireneu ressaltou, também, que onde não existe testemunho de vida cristã não

247
Cf. MINÚCIO FÉLIX. Octávio, 31. In: Antologia Litúrgica, op. cit. p. 155.
248
Cf. LIBANIO, João Batista. Olhando para o futuro. Prospectivas teológicas e pastorais do Cristianismo na
América Latina. São Paulo: Loyola, 2003, p. 154.
249
CARTA A DIOGNETO. 10,5. In: Antologia Litúrgica, op. cit. p. 159.
250
Cf. CARTA A DIOGNETO. 10,6. In: Antologia Litúrgica, op. cit. p. 159.
251
O seu martírio é apresentado nas obras de São Jerônimo e de São Gregório de Tours.
75

existe verdadeira celebração e Eucaristia agradável a Deus. Afirmou, ainda, que o sacrifício se

torna estéril quando oferecido por pessoas divididas entre si252.

Tertuliano253, no capítulo 39 do Apologeticum, descreveu uma ágape em que aparece

de modo claro a preocupação que a comunidade cristã tinha com os necessitados:

Cada qual, em dia fixo do mês ou quando quiser (se quiser e se puder),
contribui com uma pequena quantia, mas ninguém é obrigado: a contribuição
é espontânea. Estes são como que os fundos comuns da piedade [...], para
alimentar e sepultar os pobres, crianças, donzelas órfãs, criados já velhos e
também os náufragos... Aqueles que estiveram nas minas, nas ilhas e nas
prisões, desde que tenha sido só pela causa de Deus, passam a ser sustentados
pela fé que confessaram 254.

Ao referir-se à ágape, Tertuliano afirmou que “até pelo nome, mostra a sua razão de

ser. Chamamo-la pelo nome que entre os Gregos significa “amor”. [...] com esta refeição

vamos ao socorro de toda a sorte de necessitados..., dado que, junto de Deus, é muito grande a

estima em que são tidos os pequenos”255. A celebração da ágape está associada à vida dos

mais pobres e exige assistência dos que celebram.

Para Hipólito de Roma, a vida cristã é alimentada pela liturgia e flui na caridade para

com próximo. Ao término da celebração dos sacramentos da iniciação cristã, ele instruiu os

neófitos a apressarem-se “a fazer boas obras, a agradar a Deus e a viver de maneira digna,

pondo-se à disposição da Igreja, fazendo o que aprenderam e progredindo na piedade” 256. A

celebração reclama pressa na prática da caridade, na honestidade e coerência de vida. Para

Hipólito, existe uma verdadeira e profunda comunicação entre celebração e vida.

A urgência na prática da caridade torna-se perceptível, também, na instrução que

Hipólito transmitiu aos diáconos, servidores dos necessitados: “Se alguém receber dons para

levar a uma viúva, a um doente ou a alguém que se ocupa das coisas da Igreja, levá-los-á no

252
Cf. IRENEU DE LIÃO. Contra as heresias, IV, 18,3. In: Antologia Litúrgica, op. cit. p. 171.
253
Tertuliano nasceu em Cartago e recebeu sólida instrução intelectual. Foi advogado em Roma e em 193 d.C.
converteu-se ao cristianismo, pondo toda a sua cultura a serviço da fé cristã.
254
TERTULIANO. Apologético, 39,5-6. In: Antologia Litúrgica, op. cit. p. 190.
255
TERTULIANO. Apologético, 39,16. In: Antologia Litúrgica, op. cit. p. 191.
256
HIPÓLITO DE ROMA. Tradição Apostólica, 21. In: Antologia Litúrgica, op. cit. p. 236.
76

mesmo dia. Se o não fizer, leve-os no dia seguinte, acrescentando algo do que é seu ao que

havia, por ter permanecido em sua casa o pão dos pobres”257. Quem não possui o mínimo

necessário para sobreviver e é dependente da benevolente oferenda dos cristãos na celebração,

não pode esperar. Os servidores precisam de forte disposição, diligência e empenho na

realização de seu serviço.

Um dos testemunhos mais importantes da relação entre a liturgia ritual e a vivência da

justiça e da solidariedade, encontrado no século III, vem da Didascália dos Apóstolos. O autor

orientava para não se receber na celebração ofertas dos ricos que tratavam mal seus criados e

oprimiam os pobres, dos comerciantes injustos, dos que dão falso testemunho, dos que

traficam com condenações ilegais, dos magistrados que proferiram sentenças de morte e dos

homicidas. Dessas pessoas e, em geral, do dinheiro que provém da injustiça, o altar de Deus

não pode depender258. É preferível morrer de fome a viver das ofertas dos iníquos e dos que

cometem injustiças259.

A Didascália dos Apóstolos afirma, também, que “se houver pessoas em litígio entre si

ou em processo judiciário contra alguém”260 presentes na celebração, o bispo possui a

obrigação de convencê-las a fazer a paz, porque onde há divisão, a celebração não tem valor e

não é aceita por Deus. Afirma, ainda, que o próprio bispo precisa ser o primeiro a dar

testemunho da caridade à comunidade reunida para celebrar: “Se chega um pobre, homem ou

mulher, da tua paróquia ou de fora, sobretudo se for avançado em idade, e não houver lugar

para ele, dá-lhe um lugar de todo coração, ó bispo, mesmo que precises sentar-te no chão”261.

Não se trata de um simples gesto de atenção, mas o pobre é sacramento de Deus e o bispo,

como pai dos pobres, deve reconhecer e estimar o Senhor naqueles em situação inferior.

257
HIPÓLITO DE ROMA. Tradição Apostólica, 24. In: Antologia Litúrgica, op. cit. p. 237.
258
Cf. LA DIDASCALIA de los Apóstoles. IV, 5,2. Phase, Barcelona, n. 132, 1991.
259
Cf. LA DIDASCALIA de los Apóstoles. IV, 8,2. Phase, Barcelona, n. 132, 1991.
260
DIDASCÁLIA DOS APÓSTOLOS. II, 54,1. In: Antologia Litúrgica, op. cit. p. 246.
261
DIDASCÁLIA DOS APÓSTOLOS. II, 58,6. In: Antologia Litúrgica, op. cit. p. 248.
77

Um dos pensadores cristãos mais originais de todos os tempos foi Orígenes262. Ao ser

questionado pelos cristãos sobre o jejum a praticar, orientava-os a evitar o pecado, as más

ações, as palavras maldosas e os pensamentos perversos. Expressava, também, que o jejum

agradável a Deus é aquele que beneficia a vida dos desprovidos:

Mas há ainda outro motivo, igualmente religioso, que alguns Apóstolos


louvam nas suas Cartas. Encontramos, com efeito, num livro que foi ditado
pelos Apóstolos: Feliz aquele que jejua também para alimentar o pobre. O
jejum (desse homem) é mais agradável a Deus do que outro qualquer263.

Orígenes ensinou publicamente aos cristãos que o mais importante e sagrado é a vida

íntegra e de caridade que eles podiam ter: “o santuário do Senhor não deve ser procurado num

lugar, mas nas tuas ações, na tua vida, nos teus costumes” 264. Celebrando e vivendo desta

maneira, os cristãos convertem-se em pedras idôneas para o altar265.

Para Cipriano266, a celebração mais agradável a Deus era a vida sem divisão, reflexo

da unidade que existe entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Ele afirmava que a liturgia é

rejeitada por Deus quando é celebrada na discórdia e dissensão. Cipriano ensinava que a

Eucaristia exigia unidade e que “Deus não aceita o sacrifício do que vive em discórdia e

manda-o retirar-se do altar para ir primeiro reconciliar-se com seu irmão, porque só as orações

de um coração pacífico poderão obter a reconciliação com Deus”267.

Cipriano assegurou que a celebração dominical e a caridade afetam-se e influenciam-

se: “Aqueles que oram não devem apresentar-se diante de Deus com preces estéreis e nuas. É

vã a súplica quando se ora a Deus com orações sem obras... Depressa sobem para Deus as

262
Orígenes foi mártir na perseguição de Sétimo Severo, doutor e sábio de destaque da Igreja antiga, homem de
conduta intacta e de erudição enciclopédica.
263
ORÍGENES. Homilias sobre o Levítico, Homilia 10,2. In: Antologia Litúrgica, op. cit. p. 256.
264
ORÍGENES. Homilias sobre o Levítico, Homilia 12,4. In: Antologia Litúrgica, op. cit. p. 256.
265
Cf. ORÍGENES. Homilias sobre Josué, Homilia 9,2. In: Antologia Litúrgica, op. cit. p. 260.
266
Cipriano nasceu em uma família pagã abastada. Influenciado pelo presbítero Cecílio, converteu-se ao
cristianismo. Durante o tempo de catecumenato, decidiu viver na pobreza e castidade como forma de imitação de
Cristo para chegar até Deus.
267
CIPRIANO. A oração dominical, 23. In: Antologia Litúrgica, op. cit. p. 280.
78

orações que apresentam a Deus os méritos das nossas obras” 268. É ineficaz e falsa a

celebração de quem presta culto a Deus sem correspondente vida de caridade e doação. Nem

as mulheres ricas, que participavam da celebração durante a peste que se estendeu por toda a

região de Cartago no outono de 252, escapavam de sua crítica: “Sendo opulenta e rica, pensas

que celebras a Ceia do Senhor, tu que nem sequer olhas para a caixa, que vens à celebração

sem oferenda e recebes parte da oferenda que o pobre apresentou?” 269 Ele denunciou a falta

de sensibilidade e empatia destas mulheres com os sofredores e atingidos pela epidemia. Elas

não veem os pobres e moribundos por possuírem os olhos cobertos de pinturas negras. Assim,

ficam envolvidas pelas trevas e falta-lhes a caridade, ironiza Cipriano.

A liberdade que a Igreja desfrutava em relação ao império nos séculos IV e V permitiu

que ela desenvolvesse suas instituições e estruturas, tanto em sua organização hierárquica

como em sua dimensão litúrgica, pastoral e monástica. A partir da reflexão sistemática sobre

os conteúdos da fé, surgiram numerosos tratados e obras de um valor perene. Nestes dois

séculos, surgiram homens de Igreja excepcionais: pastores zelosos, doutores de notável

sabedoria e grandes santos.

Um destes homens foi Comodiano. Seu conselho aos que exercem um trabalho

específico na celebração litúrgica, especialmente os leitores270, é uma provocação para que

estes possam oferecer aos seres humanos um verdadeiro testemunho de vida:

Aconselho aos leitores [...] a ajudarem os outros com o exemplo de vida. Fugi
de disputas e de quaisquer outros litígios, espremei o tumor e nunca sejais
soberbos. [...] E sede, com as vossas boas obras, lírios entre espinhos. Vós sois
flores no meio do povo, sois lâmpadas de Cristo. Guardai o que sois e podereis
recordar-vos (de tudo isso)271.

268
CIPRIANO. A oração dominical, 32-33. In: Antologia Litúrgica, op. cit. p. 280-281.
269
CIPRIANO. As obras e as esmolas, 15. In: Antologia Litúrgica, op. cit. p. 281.
270
Os interessados em aprofundar o ministério do leitor na história da liturgia do primeiro milênio:
SECRETARIADO NACIONAL DE LITURGIA. O livro do leitor. Fátima [Portugal]: Coimbra, 2007, p. 51-99.
271
COMODIANO. Instruções, II, 67,22. In: Antologia Litúrgica, op. cit. p. 326.
79

Estas instruções de Comodiano permitem perceber a importância de uma vida

irrepreensível e exemplar aos que exercem ofícios na celebração e os convida a eliminar

qualquer ato que possa fazer o Evangelho ser desacreditado.

Outro expoente foi Eusébio de Cesaréia272. Em sua obra História Eclesiástica, através

das cartas festais de Dionísio273, explicitou a vida litúrgica dos cristãos em tempo de

perseguição da seguinte forma: “Cada lugar de tribulação se converteu para nós em lugar de

assembléia festiva: campo, deserto, barco, albergue, cárcere. Mas a mais esplendorosa de

todas as festas celebram-na os mártires perfeitos, jubilosos com o festim do céu”274. Segundo

testemunho de Eusébio, as tribulações e dificuldades da vida não impediam os cristãos de

celebrar, antes os conduziam à admirável liturgia que tinha como modelo a liturgia dos

mártires com seu testemunho de fidelidade.

Dentre inúmeras orações para a liturgia, uma oração litânica cuja utilização deve ser

muito antiga, é encontrada em Serapião, bispo de Themuis no Baixo Egito. Os pedidos

diversos desta oração são pelos “que têm fé e reconheceram o Senhor Jesus Cristo; [...] por

todas as autoridades; [...] pelos homens livres e escravos, pelos homens e pelas mulheres,

pelos velhos e crianças, pelos pobres e pelos ricos; [...] por todos os viajantes; [...] pelos

doentes”275. Através desta oração, a vida e a história da comunidade é recordada de modo

celebrativo.

Da mesma forma, as Constituições Apostólicas possuem grande coleção litúrgica da

antiguidade, e apresentam uma riquíssima Oração Universal, em que aos pedidos de Serapião

do parágrafo anterior, acrescenta-se uma prece pelos que, “na santa Igreja, trazem oferendas e

272
Eusébio teve sua atividade literária interrompida pela violenta perseguição dos cristãos desencadeada em 303
e esteve preso em Tiro e Egito. Por volta de 313, tornou-se bispo de Cesaréia e por sua sabedoria, influenciou o
imperador Constantino. A obra que o imortalizou foi sua História Eclesiástica, em 10 volumes, abrangendo
desde a fundação da Igreja até a vitória de Constantino sobre Licínio.
273
Eram cartas em que se anunciava a data da festa da Páscoa, porque a sua determinação levantava muitas
dificuldades.
274
EUSÉBIO DE CESARÉIA. História Eclesiástica, VII, 22,4. In: Antologia Litúrgica, op. cit. p. 346.
275
SERAPIÃO DE THEMUIS. Eucológio, 5,4-10. In: Antologia Litúrgica, op. cit. p. 372.
80

pelos que dão esmolas aos pobres”276. A própria oração eucarística traz a realidade da

assembleia e intercede por ela: “por esta cidade e seus habitantes, pelos enfermos, pelos

escravos tratados com dureza, os desterrados, os proscritos, os navegantes e caminhantes: vem

em socorro de cada um, sê o defensor e protetor de todos”277. A oração eucarística comporta a

vida e a história da comunidade e intercede a Deus pelas diversas pessoas e realidades.

Segundo comentários do célebre orador africano, Mário Vitorino, a breve citação, a

seguir, é da primeira oração eucarística romana em grego: “Purifica para ti este povo, que se

mantém à volta da vida, zeloso de boas obras, e que se reúne à volta da tua substância”278. A

assembleia litúrgica é constituída por pessoas que se mantêm comprometidas com uma vida

aplicada à caridade. Circundar o altar e envolver-se com a realidade da comunidade devem ser

características marcante do povo de Deus.

Ao comparar, aos neófitos, o sacrifício oferecido aos deuses e o sacrifício ao Deus dos

cristãos, Zenão de Verona expressou que “se aos deuses corporais convém o sacrifício

corporal, certamente o sacrifício feito a Deus espiritual também deve ser espiritual. Este não

nasce da bolsa [não se compra com dinheiro], mas do coração; não se compra com rebanhos

mal cheirosos, mas com vidas honestas” 279. O que agrada a Deus é uma vida honrada,

descente e ornada de boas obras.

A descrição, sobre a liturgia e a catequese em Jerusalém no século IV, foi realizada

por Etéria, a peregrina, em seu diário de viagem. Neste documento, encontram-se a celebração

e vida dos cristãos, a liturgia diária, semanal, anual e as grandes festas de Jerusalém. Segundo

Beckhäuser, Etéria narrou que “o culto comunitário era realmente expressão da fé, da piedade

e do amor dos cristãos. [...] Familiaridade com a Bíblia, aplicada à vida, a união na oração e a

276
CONSTITUIÇÕES APOSTÓLICAS. VIII, 10,12. In: Antologia Litúrgica, op. cit. p. 429.
277
CONSTITUIÇÕES APOSTÓLICAS. VIII, 12,45. In: Antologia Litúrgica, op. cit. p. 435.
278
MÁRIO VITORINO. Contra Ário, 1,30. In: Antologia Litúrgica, op. cit. p. 379.
279
ZENÃO DE VERONA. Tratados, I, 15,5. In: Antologia Litúrgica, op. cit. p. 383.
81

Celebração da Eucaristia constituíam uma bela expressão da vida da Igreja de Jerusalém” 280.

A celebração, seja do Ofício ou da Eucaristia, ligava e aplicava a Palavra de Deus à vida

prática dos fiéis através da pregação281.

Ambrósio de Milão282 instruía os novos batizados para que se comportassem na vida

como convinha “à nova condição de batizados” 283 e expressava que ao cristão era exigida a

integridade de vida, fruto da perseverança na fé284. Ao explicar a história de Nabot (cf. 1Rs

21,1-29) em uma homilia, Ambrósio condenou a vida sem caridade dos ricos que

participavam da celebração e exploravam os pobres dizendo: “Ouves, ó rico, o que diz o

Senhor Deus? E tu vens à igreja, não para dar qualquer coisa a quem é pobre, mas para te

aproveitares”285. A vida íntegra é condição para participar da Eucaristia e a ninguém, nem

mesmo ao imperador, é concedida a oportunidade de celebrar sem coerência de vida:

“Persuado-te, rogo-te, exorto-te, aviso-te... Vence o Demônio, enquanto ainda tens com que

vencê-lo. Não acrescentes outro pecado ao teu pecado... Se quiseres assistir ao sacrifício, eu

não ousaria oferecê-lo”286. Ambrósio reconhece o zelo da fé e o temor de Deus presente no

imperador. Porém, reconhece a sua natureza impulsiva e o convida a vencer as suas tentações

como condição para participar da liturgia.

São João Crisóstomo, zeloso com os pobres e doentes, tinha sob seus cuidados três mil

viúvas, virgens e enfermos. Para ele, a atenção aos necessitados pertencia à essência do ser

280
Comentário de Alberto Beckhäuser em: ETÉRIA. Peregrinação de Etéria: Liturgia e catequese em Jerusalém
no Século IV. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2004, p. 27.
281
Cf. ETÉRIA. Peregrinação ou Diário de Viagem, 25,1. In: Antologia Litúrgica, op. cit. p. 449; ETÉRIA.
Peregrinação de Etéria: Liturgia e catequese em Jerusalém no Século IV. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2004, p. 34.
282
Ambrósio, governador da Ligúria e da Emília, com residência em Milão, presenciou violentas perturbações
que agitaram os católicos e os arianos de Milão por ocasião da eleição do novo bispo, depois da morte do bispo
ariano Auxêncio. Quando Ambrósio acudiu para manter a ordem, ambos partidos aclamaram-no, de surpresa,
bispo. Ele relutou, fugiu e se escondeu, mas, encontrado, foi trazido a Milão e ele, então consentiu. Ele era
apenas catecúmeno, mas foi ordenado bispo oito dias depois de seu Batismo. Distribuiu sua grande fortuna aos
pobres, levando uma vida estritamente ascética. Acessível a todos, em tempo integral e sem formalismo, era
continuamente procurado por aqueles que vinham pedir auxílio. Como pregador, conforme testemunho de
Agostinho, teve êxito extraordinário.
283
AMBRÓSIO DE MILÃO. Os mistérios, 1. In: Antologia Litúrgica, op. cit. p. 528.
284
Cf. AMBRÓSIO DE MILÃO. Os mistérios, 9,55. In: Antologia Litúrgica, op. cit. p. 537.
285
AMBRÓSIO DE MILÃO. A história de Nabot, 10,45. In: Antologia Litúrgica, op. cit. p. 539.
286
AMBRÓSIO DE MILÃO. Cartas, 51, 4.11-13. In: Antologia Litúrgica, op. cit. p. 548.
82

cristão que, se não fizer o bem a alguém, é como fermento que não fermenta ou perfume sem

odor. Crisóstomo dizia que a oferta deve ser resultado de um trabalho justo e digno e que a

participação na Eucaristia só é autêntica quando se colocam em prática a caridade e a justiça.

Atender aos pobres e necessitados é atender ao próprio Cristo, porque eles são o Cristo 287.

Quem cumpre este dever realiza, segundo Crisóstomo, uma verdadeira ação sacerdotal.

João Crisóstomo entendia a Eucaristia como expressão e realização sacramental da

caridade e da justiça que a precedia, a acompanhava e devia continuar no amor e na atenção

ao pobre. O pobre para ele é uma Eucaristia viva. Vannucchi, ao comentar Crisóstomo,

afirma: “A missa nada representa, se ela não se prolonga no „sacramento do pobre‟” 288. Ao

narrar um banquete de caridade após o banquete eucarístico, Crisóstomo considerava que os

bens colocados à disposição da comunidade, tanto da oferta quanto do banquete da caridade,

são elementos constitutivos da celebração289.

Há muitos outros textos dos padres da Igreja, porém, julga-se suficiente concluir este

item da dissertação com Santo Agostinho que, em seu livro, A fé e as obras290, acentuou a

necessidade de testemunho de vida do catecúmeno como condição para a celebração dos

sacramentos da iniciação cristã. E, na obra: A cidade de Deus, afirmou que a Igreja, sendo

corpo de Cristo, “aprendeu a oferecer-se a si própria por intermédio d‟Ele”291. A vida do

batizado torna-se liturgia, culto agradável a Deus graças a Cristo. A genuína celebração

litúrgica cristã assume a vida do fiel e faz dela uma oferta a Deus292.

287
Jean Corbon expressa a unidade entre liturgia e vida em São João Crisóstomo da seguinte forma: “São João
Crisóstomo, querendo explicar aos fiéis de Antioquia a unidade misteriosa entre a liturgia que eles estão a
celebrar e aquela que eles terão de viver ao saírem da igreja, diz-lhes que não deixem o altar da Eucaristia a não
ser para ir ao altar dos pobres. O símbolo da continuidade é revelador. O mesmo Corpo de Cristo que servimos
no Memorial da sua paixão e da sua Ressurreição, devemos servi-l‟O agora na pessoa dos pobres. Na celebração,
o altar era o sinal do túmulo, o „não lugar‟ da morte, a origem do espaço novo da Ressurreição; na vida, o pobre
é o sinal de Cristo ressuscitado, aquele donde pode surgir o amor vivificante”. CORBON, Jean. A fonte da
liturgia. Lisboa: Paulinas, 1999, p. 187. (Dessedentar, 1).
288
VANNUCCHI, Aldo. Liturgia e libertação. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2005, p. 88.
289
Cf. HAMMAN, Adalbert. Liturgia e apostolado. Petrópolis: Vozes, 1968, p. 36-37.
290
AGOSTINHO DE HIPONA. A fé e as obras. In: Antologia Litúrgica, op. cit. p. 743-748.
291
AGOSTINHO DE HIPONA. A cidade de Deus, X, 20. In: Antologia Litúrgica, op. cit. p. 805.
292
Cf. AUGÉ, Matias. Espiritualidade Litúrgica: “Oferecei vossos corpos em sacrifício vivo, santo, agradável a
Deus”. São Paulo: Ave-Maria, 2002, p. 30.
83

Essa pesquisa de alguns testemunhos dos santos padres sobre a vida na liturgia

explicitou os dois modos de expressão da vida cristã: a liturgia ritual e a existencial. Este

estudo provoca as Celebrações Dominicais da Palavra de Deus a permanecer brotando,

acompanhando e continuando na vida dos fiéis e na história da humanidade, principalmente

na vida dos pobres, pois estes constituem a lembrança mais viva do Senhor. Durante muitos

séculos, a celebração cristã impulsionou a caridade dos celebrantes para com os que estavam

sós na vida293.

3 Alguns elementos sobre a vida na celebração no magistério geral da Igreja

As perspectivas bíblicas e patrísticas sobre o elo entre celebração e vida, vistas até

agora, encontraram acolhimento em documentos do magistério geral da Igreja que serão

apresentados, principalmente, por ordem cronológica. Há uma progressiva conscientização

para a importância da vida na liturgia e, de modo específico, na Celebração Dominical da

Palavra de Deus. Houve purificação da noção de liturgia e está ficando cada vez mais claro

que não se pode contrastar celebração e vida, rito e fé, ação litúrgica e compromisso pela

justiça e pelo amor fraterno294.

293
Cf. VANNUCCHI, Aldo. Liturgia e libertação. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2005, p. 37.
294
Cf. CASTELLANO, Jesús. Liturgia e vida espiritual: Teologia, celebração, experiência. São Paulo: Paulinas,
2008, p. 83; MARTÍN, Julián López. No espírito e na verdade. Vol. I: Introdução teológica à liturgia. Petrópolis:
Vozes, 1996, p. 22. Os documentos magisteriais posteriores ao Vaticano II retornam com mais intervalos à
temática deste estudo, sobretudo no magistério ordinário dos papas e dos bispos.
84

3.1 Em documentos do Concílio Vaticano II295

O primeiro documento promulgado pelo Concílio foi a constituição sobre a Sagrada

Liturgia. A Sacrosanctum Concilium oficializou e estimulou a Celebração Dominical da

Palavra de Deus com o seguinte artigo: “Promova-se a celebração da Palavra de Deus nas

vigílias das festas mais solenes, em alguns dias feriais do Advento e da Quaresma e nos

domingos e dias de festa, especialmente onde não houver sacerdote”296. Estas celebrações,

centralizadas na Palavra e na oração, eram valorizadas antes do Concílio em contextos

históricos particulares como nas missões297. Após o Concílio, ganharam espaço em toda a

Igreja por inúmeros motivos, tais como: a renovação da eclesiologia e da doutrina sobre os

ministérios; a atenção dedicada da Igreja às novas situações pastorais e a falta de presbíteros.

Porém, o texto do Concílio busca promover a Celebração da Palavra „especialmente‟

nas comunidades em que o padre não pode estar presente, mas o ministro ordenado não é

proibido de presidir a Celebração da Palavra, sobretudo nas vigílias das festas mais

importantes, como expressa o Cerimonial dos Bispos: “principalmente nas vésperas das festas

mais solenes, nalgumas férias do Advento e da Quaresma e nos domingos e dias festivos,

295
Para aprofundamento da liturgia nos documentos do Concílio Vaticano II, conferir, além das obras citadas
neste item da dissertação, as seguintes: BASURKO, Xavier. Historia de la liturgia. Barcelona: Centre de
Pastoral Litúrgica, 2006, p. 447-658. (Biblioteca Litúrgica, 28); BASURKO, Xavier; GOENAGA, José Antonio.
A vida litúrgico-sacramental da Igreja em sua evolução histórica. In: BORÓBIO, Dionisio (Org). A celebração
na Igreja. Vol. I: Liturgia e sacramentologia fundamental. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2002, p. 126-146; LUTZ,
Gregório. O que é Liturgia? A natureza da liturgia à luz da constituição sobre a Sagrada Liturgia do Concílio
Vaticano II. São Paulo: Paulus, 2003, p. 38-39. (Coleção Celebrar a fé e a vida).
296
Sacrosanctum Concilium, n. 35,4. “Este texto foi introduzido no documento conciliar a pedido de dois bispos
argentinos. [...] Eles lembram especialmente a situação da América Latina, onde por falta de sacerdotes
ordenados, muitos fiéis raramente podem participar da missa e nem podem ouvir a palavra de Deus”. LUTZ,
Gregório. Teologia da liturgia dominical sem padre. Revista de Liturgia, São Paulo, n. 52, p. 5, jul./ago. 1982.
297
“Na Europa, a celebração da Palavra de Deus parece ter existido em outros contextos sócio-político-eclesiais:
na Alemanha, na Diocese de Trier, por volta de 1220 a 1630, os presbíteros eram poucos e cada presbítero podia
presidir somente uma missa por dia, de modo que havia as celebrações da Palavra de Deus, presidida pelo
presbítero. Em 1380, o bispo de Brandenburg escreveu sobre o jeito de celebrar a Palavra de Deus, presidida
pelo presbítero”. FERNANDES, Veronice. A dimensão orante da Celebração Dominical da Palavra de Deus.
2002. p. 53. Dissertação (Mestrado em Teologia). Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção,
Centro Universitário Assunção, São Paulo.
85

sobretudo na igreja catedral, se celebre a Palavra de Deus, sob a presidência do Bispo”298. A

Celebração da Palavra é um ato litúrgico completo em si mesmo que o bispo é chamado a

presidir. Esta celebração deve ser vista com o valor que lhe é próprio, não somente com

relação à Eucaristia ou ao sacerdócio ministerial. Ela não é uma imitação da missa e, muito

menos, uma missa truncada299. A Celebração da Palavra de Deus é de máximo valor para a

vida não somente dos fiéis leigos, mas também para os ministros ordenados que são

incentivados a celebrá-la com o seu povo300.

É claro que a santificação do Domingo é realizada de forma plena pela Eucaristia.

Porém, Kémérer expressa que constitui um erro “crer que a santificação do Domingo só é

possível pela celebração da missa. Isto significa condicionar essa santificação à presença do

sacerdote, como se, faltando este, já não houvesse possibilidade de promovê-la. É necessário

combater de toda forma este modo de pensar”301. A Celebração da Palavra de Deus é um meio

próprio e garante à comunidade cristã prestar culto devido a Deus.

Mesmo que na Constituição sobre a Liturgia se encontre incentivo à Celebração da

Palavra, não existe, contudo, um artigo específico sobre a vida na Celebração da Palavra de

Deus. Entretanto, a relação entre vida e liturgia encontra-se logo no início da Sacrosanctum

Concilium quando expressa que a liturgia “contribui sumamente para que os fiéis exprimam

em suas vidas e manifestem aos outros o Mistério de Cristo e a genuína natureza da

298
CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO. Cerimonial dos bispos: Cerimonial da Igreja. 3. ed. São
Paulo: Paulus, 2004, n. 223.
299
Cf. STEINMETZ, Geremias. Análise do documento 52 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil:
orientações para a celebração da Palavra de Deus. 1998, p. 11-12. Thesis ad Licentiam in Sacra Liturgia
[Mestrado em Liturgia] Pontificium Athenaeum S. Anselmi de Urbe. Pontificium Institutum Liturgicum, Romae.
300
Cf. CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO. Cerimonial dos bispos: Cerimonial da Igreja. 3. ed. São
Paulo: Paulus, 2004, n. 222; ISNARD, Clemente. O bispo e a liturgia. Revista Eclesiástica Brasileira, v. 44, n.
176, p. p. 818-834, dez. 1984.
301
KÉMÉRER, Jorge. Celebração da Palavra de Deus sem sacerdote. In: BARAÚNA, Guilherme. A Sagrada
Liturgia renovada pelo Concílio. Petrópolis: Vozes, 1964, p. 508.
86

verdadeira Igreja”302. Por isso, a Celebração Dominical da Palavra de Deus é celebração do

Mistério e envolve a vida do fiel e de toda comunidade cristã303.

A mesma Constituição expressa que “a Liturgia é ápice e fonte da vida da Igreja” 304 e

que “a vida cristã”305 é promovida através da liturgia. A vida cristã nasce, orienta-se, é

expressão da liturgia e tem nesta a sua referência 306. Josef Jungmann apresenta a liturgia

renovada pelo Concílio Vaticano II como “a coroação da vida cristã e a fonte de força que

nunca se esgota e da qual a Igreja bebe eterna juventude”307.

Matias Augé comenta estes artigos da Sacrosanctum Concilium que relacionam

liturgia e vida da seguinte forma: “A celebração litúrgica poderá servir de fonte e cume da

vida se a vida estiver presente na liturgia e a liturgia na vida” 308. Não há possibilidade de o

cristão celebrar plenamente, conscientemente e frutuosamente 309 a liturgia se não vivê-la e é

impossível vivê-la sem celebrá-la310. E Jesús Castellano expressa a necessidade de o cristão

celebrar a vida e a história e conservar na existência o que foi celebrado:

A liturgia é o momento fontal e culminante da vida espiritual, mas seria puro


ritualismo se não fosse vivida com as exigências intrínsecas da vida teologal e
não tivesse uma influência concreta na vida; o culto transformar-se-ia em algo
abstrato se não levasse para Deus os anseios e as preocupações de uma
existência concreta, vivida no dia-a-dia311.

302
Sacrosanctum Concilium, n. 2.
303
Cf. ESTEVES, José Fernando Caldas; CORDEIRO, José Manuel Garcia. Liturgia da Igreja. Lisboa:
Universidade Católica Editora, 2008, p. 210; ROUET, Albert. A missa na história. 2. ed. São Paulo: Paulinas,
1987, p. 125. (Coleção liturgia e teologia, 3).
304
Sacrosanctum Concilium, n. 10.
305
Sacrosanctum Concilium, n. 1.
306
Cf. ESTEVES, José Fernando Caldas; CORDEIRO, José Manuel Garcia. Liturgia da Igreja. Lisboa:
Universidade Católica Editora, 2008, p. 210.
307
JUNGMANN, Josef Andreas. Missarum Sollemnia: origens, liturgia, história e teologia da missa romana. São
Paulo: Paulus, 2009, p. 182.
308
AUGÉ, Matias. Espiritualidade Litúrgica: “Oferecei vossos corpos em sacrifício vivo, santo, agradável a
Deus”. São Paulo: Ave-Maria, 2002, p. 96.
309
Cf. Sacrosanctum Concilium, n. 14.
310
Cf. CORBON, Jean. A fonte da liturgia. Lisboa: Paulinas, 1999, p. 98. (Dessedentar, 1).
311
CASTELLANO, Jesús. Liturgia e vida espiritual. Teologia, celebração, experiência. São Paulo: Paulinas,
2008, p. 54.
87

Esses artigos da Sacrosanctum Concilium afirmam que a celebração litúrgica se torna

ponto alto do dia a dia, da semana e do compromisso de vida daqueles que dela participam.

Através da Celebração Dominical da Palavra, a vida e a liturgia são unidas e o povo de Deus

celebra a força renovadora do Mistério Pascal312. Através desta celebração, a vida é

santificada pela graça divina que flui do Mistério Pascal da paixão, morte e ressurreição de

Jesus Cristo, a vida de cada fiel e a história da comunidade são transformadas, sob a ação do

Espírito Santo, em oferenda agradável ao Pai e num culto espiritual (cf. Rm 12,1-2)313.

Assim sendo, a Celebração Dominical da Palavra de Deus reproduz e atualiza a vida

de Jesus na assembleia litúrgica e transforma o fiel conforme a imagem do Filho de Deus (cf.

Rm 8,29). A participação consciente, plena e frutuosa da celebração do Mistério Pascal e a

inserção da própria vida do fiel neste Mistério de Cristo são condições para formar a vida dos

batizados à imagem e semelhança a Cristo. A participação na celebração litúrgica “prepara os

fiéis do melhor modo possível para receberem frutuosamente a graça, cultuarem devidamente

a Deus e praticarem a caridade”314. É deste modo que a existência do crente torna-se vida em

Cristo e vida no Espírito315.

A Constituição Pastoral sobre a Igreja no mundo de hoje recorda a força

evangelizadora da “caridade fraterna dos fiéis”316, a presença dos cristãos no mundo e o seu

testemunho de fé. A Gaudium et Spes assegura que a celebração do Mistério Pascal é sinal de

fraternidade e move aqueles que celebram ao testemunho de vida e à promoção dos bens

temporais317. Ao evocar os profetas do Antigo Testamento e Jesus Cristo no Novo

Testamento, este documento conciliar afirma que o divórcio entre vida e celebração constitui

312
Cf. AUGÉ, Matias. Espiritualidade Litúrgica: “Oferecei vossos corpos em sacrifício vivo, santo, agradável a
Deus”. São Paulo: Ave-Maria, 2002, p. 99; ESTEVES, José Fernando Caldas; CORDEIRO, José Manuel Garcia.
Liturgia da Igreja. Lisboa: Universidade Católica Editora, 2008, p. 215.
313
Cf. Sacrosanctum Concilium, n. 12.
314
Sacrosanctum Concilium, n. 59.
315
Cf. MARTÍN, Julián López. No espírito e na verdade. Vol. I: Introdução teológica à liturgia. Petrópolis:
Vozes, 1996, p. 337-344.
316
Gaudium et Spes, n. 21.
317
Cf. Gaudium et Spes, n. 38.
88

um dos erros mais graves do tempo atual. Toda a vida do cristão, liturgia ritual e existencial,

deve resultar na glória de Deus318.

A Gaudium et Spes destaca, ainda, que a comunidade dos crentes precisa penetrar “os

sinais dos tempos e interpretá-los à luz do Evangelho”319. Por isso, a Celebração Dominical da

Palavra de Deus precisa de tal modo ser celebrada para que leve o ser humano a perceber os

sinais da presença de Deus nos acontecimentos históricos e ajude o fiel a perceber que sua

vida está inserida no projeto do Pai e faz parte do Reino de Deus que cresce e se desenvolve

nos acontecimentos da história presente320.

A Constituição Dogmática sobre a Igreja vincula fortemente a liturgia à totalidade da

existência dos fiéis ao expressar que, “pela regeneração e unção do Espírito Santo, os

batizados são consagrados para serem edifício espiritual e sacerdócio santo, a fim de, por

todas as obras do cristão, oferecerem sacrifícios espirituais” 321. Por meio da noção de

sacerdócio dos fiéis e de culto espiritual, a Lumen Gentium une a vida inteira dos fiéis à

celebração. Este documento conciliar afirma, ainda, que:

Todas as suas obras, orações e iniciativas apostólicas, a vida familiar e


conjugal, o trabalho cotidiano, o descanso do espírito e do corpo, se forem
realizados no Espírito, e até mesmo as contrariedades da vida, se levados com
paciência, convertem-se em sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus por Jesus
Cristo (cf. 1Pd 2,5)322.

Através da celebração, a vida do cristão e a história da humanidade são oferecidas ao

Pai como oferta de Jesus e toda a existência cristã é configurada à própria vida de Jesus Cristo

318
Cf. CASTELLANO, Jesús. Liturgia e vida espiritual. Teologia, celebração, experiência. São Paulo: Paulinas,
2008, p. 84-85; Gaudium et Spes, n. 43.
319
Cf. Gaudium et Spes, n. 4.
320
Cf. AUGÉ, Matias. Espiritualidade Litúrgica. “Oferecei vossos corpos em sacrifício vivo, santo, agradável a
Deus”. São Paulo: Ave-Maria, 2002, p. 70.
321
Lumen Gentium, n. 10.
322
Lumen Gentium, n. 34.
89

morto e ressuscitado. É na liturgia que o ser humano é chamado a viver em plenitude o

Mistério Pascal de Cristo323.

A Constituição Dogmática sobre a Revelação Divina ensina que a Sagrada Escritura

no contexto da celebração litúrgica é “fonte pura e perene da vida” 324 e alimento que nutre a

fé. A Dei Verbum sustenta, também, que “a Igreja, na sua doutrina, vida e culto, perpetua e

transmite a todas as gerações tudo aquilo que ela própria é e tudo quanto ela acredita”325. A

liturgia está em íntima relação com a doutrina da Igreja e com a existência da assembleia. Há

no processo de transmissão da revelação uma íntima relação entre fé, culto e vida 326.

3.2 No Missal Romano

Os fiéis participam da celebração, cada um conforme sua condição, de forma

consciente, ativa e plena327. Esta participação, direito e dever do povo cristão, será reforçada

se as circunstâncias, lugares, tradições e cultura das pessoas estiverem presentes na

celebração. Porque é neste contexto histórico e nesta realidade situada que os celebrantes

vivem e estão de um modo ou de outro implicados a assumir ou tomar posições no dia a dia

de suas vidas, a partir de sua fé.

As Orações Eucarísticas do Missal Romano328 manifestam as realidades das pessoas

através das palavras: enfermidade, pobreza, exploração, injustiça, solidariedade,

323
Cf. AUGÉ, Matias. Espiritualidade Litúrgica: “Oferecei vossos corpos em sacrifício vivo, santo, agradável a
Deus”. São Paulo: Ave-Maria, 2002, p. 44-46; CASTELLANO, Jesús. Liturgia e vida espiritual: Teologia,
celebração, experiência. São Paulo: Paulinas, 2008, p. 83.
324
Dei Verbum, n. 21.
325
Dei Verbum, n. 8.
326
Cf. AUGÉ, Matias. Espiritualidade Litúrgica: “Oferecei vossos corpos em sacrifício vivo, santo, agradável a
Deus”. São Paulo: Ave-Maria, 2002, p. 70; MARTÍN, Julián López. No espírito e na verdade. Vol. I. Introdução
teológica à liturgia. Petrópolis: Vozes, 1996, p. 342.
327
Cf. IGMR, n. 18; 20.
328
Especialmente na Oração Eucarística sobre a Reconciliação II, nas Orações Eucarísticas para as diversas
circunstâncias VI-A, VI-B, VI-C, VI-D e em muitos prefácios. Segundo Catellano, “especialmente da oração
eucarística, que é fonte, norma e síntese da oração da Igreja, terá que tomar as expressões mais autênticas da
oração cristã: memória e louvor das maravilhas de Deus, ação de graças, oblação, intercessão, compromisso de
vida”. CASTELLANO, Jesús. Liturgia e vida espiritual: Teologia, celebração, experiência. São Paulo: Paulinas,
2008, p. 352.
90

reconciliação, consolo, justiça, paz, unidade e caridade. As Orações mostram, também, que os

pobres e oprimidos receberam especial atenção de Jesus: “Ele sempre se mostrou cheio de

misericórdia pelos pequenos e pobres, pelos doentes e pecadores, colocando-se ao lado dos

perseguidos e marginalizados”329. Apresentam, ainda, a contínua intervenção de Deus na vida

e na história da humanidade. Como consequência, a assembleia irrompe em louvor, sensível e

atenta à obra de seu Senhor:

Nós voz agradecemos, Deus Pai todo-poderoso, e por causa de vossa ação no
mundo vos louvamos pelo Senhor Jesus. No meio da humanidade, divida em
contínua discórdia, sabemos por experiência que sempre levais as pessoas a
procurar a reconciliação. Vosso Espírito move os corações, de modo que os
inimigos voltem à amizade, os adversários se dêem as mãos e os povos
procurem reencontrar a paz. Sim, ó Pai, porque é obra vossa que a busca da
paz vença os conflitos, que o perdão supere o ódio, e a vingança dê lugar à
reconciliação. Por tudo de bom que fazeis, Deus de misericórdia, não podemos
deixar de vos louvar e agradecer 330.

Na celebração, os fiéis recordam como Deus os tem ajudado ao longo da história,

agradecem pelo que já receberam, imploram, suplicam pelas situações atuais e expressam

confiantes seus sonhos de um futuro melhor. A vida e a história da assembleia litúrgica

reunida não se mantêm alheias à celebração. Aliás, a realidade vivida pela assembleia oferece

às celebrações uma dimensão mais participativa e compromete o fiel com a vida de cada dia e

conduz a comunidade a exclamar numa só voz: “Ajudai-nos a criar um mundo novo!”331

Os seguidores de Jesus pedem ao Pai por ação do Espírito Santo que o serviço de Deus

à humanidade seja continuado pelos celebrantes. Eles manifestam a sua disposição, não só em

repartir o pão com os necessitados, como expressa o Prefácio da Quaresma III 332, mas em ser

misericordiosos e solidários com todos e promover a justiça e a paz:

329
Missal Romano. Oração Eucarística VI-D: Jesus que passa fazendo o bem. 9. ed. São Paulo: Paulus, 2004 , p.
860.
330
Op.cit. Oração Eucarística VIII: sobre reconciliação - II. p. 871.
331
Op.cit. Oração Eucarística VI-D: Jesus que passa fazendo o bem. p. 860.
332
Op.cit. Prefácio da Quaresma III: os frutos da abstinência. p. 416.
91

Dai-nos olhos para ver as necessidades dos nossos irmãos e irmãs; inspirai-nos
palavras e ações para confortar os desanimados e oprimidos; fazei que, a
exemplo de Cristo, e seguindo o seu mandamento, nos empenhemos lealmente
no serviço a eles. Vossa Igreja seja testemunha viva da verdade e da liberdade,
da justiça e da paz, para que toda a humanidade se abra à esperança de um
mundo novo333.

Encontram-se no Missal Romano, ainda, diversos formulários de celebração

eucarística que ajudam os fiéis a celebrar o Mistério de Cristo presente em sua realidade: pela

sociedade civil, pelas diversas circunstâncias da vida social, pelo progresso dos povos, pela

justiça e paz. Assim, o trabalho humano, os acontecimentos pessoais, familiares e sociais e a

vida da comunidade não ficam desconhecidos da celebração334.

Enfim, é possível encontrar o diálogo entre liturgia e vida em todo o Missal Romano.

Inúmeras orações presidenciais, sobretudo as orações depois da comunhão, são testemunhas

desta relação: “Ó Deus, auxiliai sempre os que alimentais com o vosso sacramento para que

possamos colher os frutos da redenção na liturgia e na vida”335. A vida do crente e a história

da humanidade ecoam na celebração e a celebração, por sua vez, repercute diretamente na

vida dos que dela participam, como expressa Julián López Martín:

Assim como Jesus não viveu à margem dos problemas humanos e das
aspirações do seu povo em sua vida terrena e fez da solução de alguns um
sinal da vinda do Reino de Deus, a liturgia, como obra da Igreja, também não
pode alienar-se das realidades deste mundo e pretender santificar os homens e
prestar culto a Deus à margem da vida concreta dos beneficiários de sua
336
missão .

É a liturgia existencial que atinge seu “cume” na liturgia ritual que se torna “fonte” de

força para a vida do fiel e da comunidade, como expressou a Sacrosanctum Concilium337. A

333
Missal Romano. Oração Eucarística VI-D: Jesus que passa fazendo o bem. p. 860.
334
O Missal Romano apresenta vários formulários que vão desde os assuntos públicos como a paz, o trabalho, a
inauguração do curso, os governantes e outros, até os assuntos particulares como a concórdia, o perdão dos
pecados, a família, os que nos afligem. Cf. Missal Romano. 9. ed. São Paulo: Paulus, 2004, p. 907-937.
335
Missal Romano. 25º Domingo do Tempo Comum: Oração depois as comunhão. 9. ed. São Paulo: Paulus,
2004, p. 369.
336
MARTÍN, Julián López. No espírito e na verdade. Vol. II. Introdução antropológica à liturgia. Petrópolis:
Vozes, 1997, p. 77.
337
“A Liturgia é ápice e fonte da vida da Igreja”. Sacrosanctum Concilium, n. 10.
92

vida na celebração ajuda o fiel a perceber que a totalidade da existência da humanidade e a

criação são envolvidas pelo Mistério de Cristo. Ajuda a perceber, também, que toda realidade

humana tem em Cristo sua plenitude e consumação. A celebração vivida deste modo torna-se

uma autêntica escola de leitura dos acontecimentos e conduz ao compromisso de

transformação do mundo. É na celebração do Mistério Pascal que os fiéis encontram os

elementos básicos para a interpretação da história338.

3.3 No Catecismo da Igreja Católica339

A estrutura do Catecismo da Igreja Católica, imbuído da grande tradição bíblica e

patrística da Igreja, garante a unidade entre vida e celebração340: a terceira parte do Catecismo

é dedicada à “Vida em Cristo”341. A vida do cristão é entendida como a realização coerente da

“Profissão da Fé”342, primeira parte do Catecismo, e como manifestação da “Celebração do

Mistério Cristão”343, segunda parte.

A estrutura da segunda parte do Catecismo é subdivida da seguinte forma: do

“Mistério Pascal”, capítulo primeiro, passa-se à “Celebração” deste Mistério, segundo

capítulo, e deságua na “Vida em Cristo”, terceira parte 344. Através do Catecismo da Igreja

Católica, pode-se verificar que os fiéis prolongam o Mistério celebrado na vida e produzem

frutos de boas obras quando a evangelização, a fé e a conversão precedem a celebração 345.

338
Cf. MARTÍN, Julián López. No espírito e na verdade. Vol. II. Introdução antropológica à liturgia. Petrópolis:
Vozes, 1997, p. 75-79; TENA, Pere. Celebrar el Misterio. Barcelona: Centre de Pastoral Litúrgica, 2004, p. 23-
25. (Biblioteca Litúrgica, 23).
339
Para aprofundamento da liturgia no Catecismo da Igreja Católica conferir, além das obras citadas neste item
da dissertação, a seguinte: FLORES, Juan Javier. Introdução à teologia litúrgica. São Paulo: Paulinas, 2006, p.
353-363.
340
Cf. ALDAZÁBAL, José. La Eucaristía en el “Catecismo de la Iglesia Católica”. Phase, Barcelona, n. 240, p.
492, nov./dic. 2000.
341
Cf. CIC, n. 1691-2557.
342
Cf. CIC, n. 26-1065.
343
Cf. CIC, n. 1066-1690.
344
Cf. BOROBIO, Dionisio. Cultura, fe, sacramento. Barcelona: Centre de Pastoral Litúrgica, 2002, p. 190.
(Biblioteca Litúrgica, 17).
345
Cf. Ib. p. 191; CIC, n. 1072.
93

No Catecismo encontra-se, também, a afirmação de que a liturgia é “fonte de vida”346,

porque celebra o Mistério de Cristo. E os fiéis celebrantes, com firme propósito, “vivam e

dêem testemunho”347 do Mistério no mundo. Deste modo, a existência cristã deve levar à

doação a Deus e ao próximo, a exemplo de Cristo que fez de sua vida um dom. Na liturgia, os

sacramentos são mais do que o momento de sua celebração ritual: abarcam uma preparação,

uma realização ritual e uma verificação ética, existencial e vital que desemboca no

compromisso social. A transitoriedade da celebração está chamada a converter-se em

permanência litúrgica, em oferenda permanente da vida inteira348.

As Sagradas Escrituras e os Padres da Igreja, já apresentados, insistiam nesta visão

integradora da vida e liturgia. E o Catecismo, muitas vezes, ao beber das fontes, emprega a

palavra “liturgia” para designar não somente a celebração ritual, mas também o anúncio do

Evangelho e a prática da caridade349. A liturgia é entendida como serviço a Deus e aos seres

humanos. “Na celebração litúrgica, a Igreja é serva à imagem do seu Senhor, [...] participando

de seu sacerdócio (culto) profético (anúncio) e régio (serviço de caridade)” 350.

Por último, o Catecismo afirma que na liturgia da Palavra é o Espírito Santo quem

“„recorda‟ à assembléia tudo o que Cristo fez por nós” 351, intervindo na história, tornando-a

história de salvação. Afirma, também, que é ele quem dá vida à Palavra de Deus proclamada à

assembleia reunida em nome do Senhor e move os corações para que esta Palavra seja

recebida e vivida352.

346
CIC, n. 1071.
347
CIC, n. 1068.
348
Cf. BOROBIO, Dionisio. Cultura, fe, sacramento. Barcelona: Centre de Pastoral Litúrgica, 2002, p. 191.
(Biblioteca Litúrgica, 17).
349
Cf. CIC, n. 1397; CASTELLANO, Jesús. Liturgia e vida espiritual. Teologia, celebração, experiência. São
Paulo: Paulinas, 2008, p. 85.
350
CIC, n. 1070.
351
CIC, n. 1103.
352
Cf. CIC, n. 1100.
94

3.4 Nas Conferências do Episcopado Latinoamericano353

As Conferências do Episcopado Latinoamericano enfatizam a integração entre vida e

celebração, principalmente, quando tratam do compromisso cristão e da liturgia. Para estas

conferências, as celebrações não relacionadas com a vida têm pouco a dizer à situação do

pobre sofredor na América Latina. A partir do Evangelho, a Igreja Latinoamericana refletiu e

impulsionou a Celebração Dominical da Palavra de Deus unida à vida do povo e

compreendeu a necessidade de transformar o mundo no Reino de Deus354.

O capítulo 9 de Medellín é dedicado à liturgia e incentiva a Celebração Dominical da

Palavra de Deus, celebração do Mistério Pascal, realizada em toda a América Latina da

seguinte forma: “Incremente-se as sagradas celebrações da Palavra, conservando sua relação

com os sacramentos nos quais ela alcança sua máxima eficácia e particularmente com a

Eucaristia”355. Este mesmo artigo, de modo imperativo, provoca as comunidades a realizar as

celebrações ecumênicas da Palavra. Isto é um enriquecimento e avanço de Medellín em

relação à Sacrosanctum Concilium. O Documento 52 da CNBB, no artigo 19, inspirou-se

neste artigo de Medellín e incentiva as celebrações ecumênicas da Palavra de Deus.

Medellín explicita a relação entre liturgia e libertação sócio-histórica do seguinte

modo: “Como não vivemos ainda a plenitude do Reino, toda celebração litúrgica está

essencialmente marcada pela tensão entre o que já é uma realidade e o que ainda não se

353
Para aprofundamento da liturgia nos documentos das Conferências do Episcopado Latinoamericano conferir,
além das obras citadas neste item da dissertação, as seguintes: BOMBONATO, Vera Ivanise. Liturgias,
celebrações e Eucaristia. In: AMERINDIA (Org). V Conferência de Aparecida: renascer de uma esperança. São
Paulo: Paulinas, 2008, p. 218-225; CARPANEDO, Penha. Celebração Dominical da Palavra. Revista de
Liturgia, São Paulo, n. 206, p. 4-7, mar./abr. 2008; LUTZ, Gregório. A liturgia na V Conferência Geral do
Episcopado Latino-Americano e Caribenho em Aparecida/SP. Revista de Liturgia, São Paulo, n. 203, p. 4-7,
set./out. 2007; PALUDO, Faustino. A celebração da Palavra de Deus. In: CELAM. Manual de liturgia. Vol. IV:
outras expressões celebrativas do Mistério Pascal e a liturgia na vida da Igreja. São Paulo: Paulus, 2007, p. 161-
162. (Manual de Liturgia); SILVA, José Ariovaldo. A celebração do Mistério de Cristo ao longo da história:
panorama histórico geral da liturgia. In: Ibidem, p. 509-518.
354
Cf. BOER, Sjaak. Por uma liturgia libertadora: a unção coletiva dos doentes. São Paulo: Paulinas, 1998, p.
255. (Liturgia e participação); CASTELLANO, Jesús. Liturgia e vida espiritual. Teologia, celebração,
experiência. São Paulo: Paulinas, 2008, p. 426.
355
Medellín, n. 9,14.
95

verifica plenamente”356. A encarnação de Jesus Cristo, segundo Sjaak Boer, é o fundamento

desta celebração profética irradiada por Medellín:

A Palavra não se encarnou meramente para estar conosco, mas principalmente


para contrastar a realidade de nosso mundo com o de Deus. Quando a liturgia
profética fala de libertação da dor e do mal, deveríamos denunciar toda a
situação pecaminosa e dolorosa da violência institucionalizada, da pobreza, da
corrupção etc., pois os profetas denunciaram a pobreza exatamente porque a
viram como fruto da injustiça humana e contrária à vontade de Deus. A
celebração [...] deveria oferecer às pessoas um caminho para fora do pecado e
da dor através da promoção da dignidade de toda pessoa como ser humano e
imagem de Deus357.

A comunidade cristã celebra o Mistério Pascal no Reino já presente, o que foi feito

para a realização deste Reino e o que ainda está faltando para alcançá-lo plenamente. Desse

modo, Medellín enfatiza o processo pascal da história, ressalta a necessidade do compromisso

e engajamento cristão na transformação sócio-política, econômica e cultural. Este

compromisso deve ser vivido na comunidade eclesial e ritualizado na liturgia. Por isso, a vida

e a história são primordiais em qualquer celebração.

Em Medellín ressaltou-se que a celebração não é autêntica se não implica num

compromisso de caridade, num esforço sempre renovado por ter os sentimentos de Cristo

Jesus e para uma contínua conversão. Os celebrantes são convocados ao compromisso com a

justiça e a própria celebração necessita estar em sintonia com a vida do povo 358. No

continente latinoamericano, como mostra o documento, a celebração do Mistério Pascal volta

às origens bíblicas e patrísticas e adquire um significado muito especial:

356
Medellín, n. 9,2.
357
BOER, Sjaak. Por uma liturgia libertadora: a unção coletiva dos doentes. São Paulo: Paulinas, 1998, p. 233.
(Liturgia e participação).
358
Cf. Medellín, n. 9,3.4.7. O documento de Medellín expressa que existe um elo entre celebração e vida, mas
não transmite como a vida pode estar relacionada na celebração.
96

Esta celebração, para ser sincera e plena, deve conduzir tanto às várias obras
de caridade e mútua ajuda como à ação missionária e às várias formas de
testemunho cristão. No momento atual da América Latina, como em todos os
tempos, a celebração litúrgica comporta e coroa um compromisso com a
realidade humana, com o desenvolvimento e com a promoção, precisamente
porque toda a criação está envolvida pelo desígnio salvador que abrange a
totalidade do homem359.

A celebração “coroa” e “comporta” o compromisso cristão com cada pessoa e com a

história da humanidade. É o ponto alto na busca do desenvolvimento, promoção humana e

libertação. A celebração compromete com estas buscas, com Deus e seu projeto de vida em

abundância para todos (cf. João 10,10), porque celebra o Reino já presente na história atual do

povo de Deus.

Como em Medellín, os bispos na Conferência do Episcopado Latinoamericano em

Puebla comprometeram-se em celebrar o Mistério Pascal na realidade histórica, sócio-política

e econômica do povo latinoamericano: “celebrar a fé, na Liturgia, como encontro com Deus e

com os irmãos, como festa de comunhão eclesial, como fortalecimento em nosso peregrinar e

como compromisso de nossa vida cristã” 360. Em Puebla, os bispos insistiram, também, no

compromisso de toda a assembleia litúrgica na transformação das estruturas injustas:

A liturgia, como ação de Cristo e da Igreja, é o exercício do sacerdócio de


Jesus Cristo; é o ápice e a fonte da vida eclesial. É um encontro com Deus e os
irmãos; [...] festa de comunhão eclesial, na qual o Senhor Jesus, por seu
Mistério Pascal, assume e liberta o Povo de Deus e, por ele, toda a
humanidade, cuja história é convertida em história salvífica, para reconciliar
os homens entre si e com Deus. A liturgia é também força em nosso
peregrinar, para que se leve a bom termo, mediante o compromisso
transformador da vida, a realização plena do Reino, segundo o plano de
Deus361.

Celebrar é experienciar a presença do Senhor no meio da comunidade cristã, reunida

em volta da Palavra. É celebrar o Mistério Pascal de Jesus Cristo que envolve a realidade

atual. É comprometer-se com este mesmo Senhor e com a transformação de tudo aquilo que

359
Medellín, n. 9,3-4.
360
Puebla, n. 939.
361
Puebla, n. 918.
97

nesta realidade não é sinal do seu Reino. É manifestar a comunhão com o projeto de Deus

através da promoção da vida em suas diferentes dimensões. Para Puebla, quem vive e celebra

deste modo rompe com a concepção rubricista e jurisdicista da liturgia e é conduzido ao

compromisso com a vida, com o Reino de Deus362.

O documento de Puebla reconheceu a Celebração da Palavra de Deus como autêntica

liturgia da Igreja e instrumento de evangelização realizada por cristãos leigos 363. Estas

celebrações são fomentadas pelo documento como alimento dominical para a vida e a fé dos

fiéis que estão impossibilitados de celebrar o domingo de maneira plena através da Eucaristia.

Por isso, Puebla reconheceu a necessidade de “promover a formação dos agentes de pastoral

litúrgica, por meio duma autêntica teologia, que os leve a um compromisso vital” 364.

Enfim, para o documento final da Conferência Episcopal de Puebla, a integração entre

vida e liturgia acontece naquelas comunidades onde a celebração origina-se da própria vida

coerente com o Evangelho e torna-se uma fonte de dignidade e conforto para o pobre. Quando

o cristão prolonga no dia a dia o que celebra, converte toda a sua existência “em oferenda e

oblação”, em culto agradável a Deus: “O culto que Deus nos pede – expresso na oração e na

liturgia – prolonga-se na vida cotidiana através do esforço que se faz para converter tudo em

oferenda e oblação”365.

O documento final da Conferência de Santo Domingo possui muito pouco sobre

liturgia, mas neste pouco, encontra-se a observação de que a celebração deveria “ajudar a

integrar em Cristo e em seu Mistério os acontecimentos da própria vida”366. O documento

estabelece, também, a relação entre o Mistério Pascal de Cristo e a vida do povo quando diz:

362
Cf. Puebla, n. 194; BOER, Sjaak. Por uma liturgia libertadora: a unção coletiva dos doentes. São Paulo:
Paulinas, 1998, p. 236-238. (Liturgia e participação).
363
Cf. Puebla, n. 900; 944; 946.
364
Puebla, n. 942.
365
Puebla, n. 252.
366
Santo Domingo, n. 52.
98

Assim como a celebração da Última Ceia está essencialmente unida à vida e


ao sacrifício de Cristo na Cruz e o faz cotidianamente presente pela salvação
de todos os homens, assim também, os que louvam a Deus reunidos em torno
do Cordeiro, são os que mostram em suas vidas os sinais testemunhais da
entrega de Jesus (cf. Ap 7,13s). Por isso, o culto cristão deve expressar a dupla
vertente da obediência ao Pai (glorificação) e da caridade com os irmãos
(redenção), pois a glória de Deus é que o homem viva. Com o qual longe de
alienar os homens, os liberta e os faz irmãos 367.

Portanto, a celebração não pode ser paralela, alheia à vida e precisa expressar mais

claramente os compromissos que fluem dela368. A Celebração Dominical da Palavra de Deus

reforça este compromisso com a promoção humana, penetra no coração das culturas e conduz

os celebrantes à fraternidade e à solidariedade.

No documento final da última Conferência do Episcopado Latinoamericano, em

Aparecida, o fio condutor foi o tema central da conferência: discípulos-missionários a serviço

da vida. A liturgia não possui um título ou subtítulo específico no documento, mas aparece

relacionada a aspectos importantes da vida do discípulo-missionário. Em Aparecida, a

Celebração Dominical da Palavra de Deus foi novamente reafirmada e incentivada pelo

episcopado latinoamericano:

Com profundo afeto pastoral, queremos dizer às milhares de comunidades


com seus milhões de membros, que não têm a oportunidade de participar da
Eucaristia dominical, que elas podem e devem viver “segundo o domingo”.
Podem alimentar seu já admirável espírito missionário participando da
“celebração dominical da Palavra”, que faz presente o Mistério Pascal no
amor que congrega (cf. 1Jo 3,14), na Palavra acolhida (cf. Jo 5,24-25) e na
oração comunitária (cf. Mt 18,20)369.

A Celebração Dominical da Palavra de Deus, através da reunião em nome do Senhor,

da proclamação da Palavra e da oração comum, “faz presente o Mistério Pascal”. Este

verdadeiro ato litúrgico é, também, celebração do Mistério presente na vida do fiel e na

história da humanidade, na ação da Igreja e nas transformações da sociedade: “a vida vem se

367
Santo Domingo, n. 34.
368
Cf. Santo Domingo, n. 35; 240.
369
Aparecida, n. 253.
99

transformando progressivamente pelos santos mistérios que se celebram, capacitando o cristão

a transformar o mundo”370. Os bispos afirmaram que aqueles que participam da Celebração

Dominical da Palavra não podem ficar alheios à realidade que está à sua volta, nem à

realidade social. A vida de cada fiel, a vida da Igreja, a história do continente latinoamericano

precisam ser vividas e entendidas como processo pascal, envolvidas pelo Mistério de Cristo,

para que o cristão possa viver no Espírito371.

Portanto, as Conferências do Episcopado Latinoamericano, com seus fundamentos

bíblicos, teológicos e antropológicos, reafirmam a Celebração Dominical da Palavra de Deus

como ação de Cristo e da Igreja. Orientam para que estas mesmas celebrações manifestem a

vida e retornem a ela através do compromisso transformador, da realização plena do Reino. A

celebração que integra a vida torna-se afirmação jubilosa de que a vida pode ser diferente, de

que a sociedade pode ser organizada de outra forma, e de que o Pai, que ressuscitou seu Filho

da morte, garante esta transformação.

3.5 No Diretório para as Celebrações Dominicais na Ausência do Presbítero

O Diretório para Celebrações Dominicais na Ausência do Presbítero, de 02 de junho

de 1988, é uma resposta da Congregação para o Culto Divino às comunidades

impossibilitadas de celebrar a missa e às várias conferências episcopais que pediram

orientações em relação à Celebração Dominical da Palavra de Deus372. O pensamento

fundamental de todo o Diretório é assegurar a celebração cristã do domingo através da

Celebração da Palavra aos fiéis impossibilitados por diversos fatores de participar da missa,

370
Aparecida, n. 290.
371
Cf. BUYST, Ione. Liturgia, acontecimento teologal. Revista de Liturgia, São Paulo, n. 95, p. 141, set./out.
1989.
372
Cf. CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO. Celebrações dominicais na ausência do presbítero.
Petrópolis: Vozes, 1989, n. 2; 7. (Documentos Pontifícios, 224).
100

que permanece como a celebração própria do domingo373. As Celebrações Dominicais da

Palavra de Deus não são promovidas ou facilitadas, apenas orientadas e reguladas, quando

circunstâncias reclamam uma decisão deste gênero 374.

O Diretório constata que as Celebrações Dominicais da Palavra infundem vigor à vida

cristã375 e são recomendáveis nesta situação de carência de ministros ordenados que possam

presidir a Eucaristia: “Entre as formas que se encontram na tradição litúrgica, quando a

celebração da missa não é possível, é muito recomendada a celebração da palavra de

Deus”376.

O Diretório destaca que a Celebração Dominical da Palavra de Deus ressalta “a

importância capital da assembléia do domingo, quer como fonte de vida cristã de cada pessoa

e das comunidades, quer como testemunho do projeto de Deus: reunir todos os homens em

seu Filho Jesus Cristo”377. A Celebração Dominical da Palavra de Deus é “fonte” de vida e de

valorização do domingo. É celebração do Mistério Pascal de Cristo e das comunidades que

prestam culto a Deus e recebem dele a sua santificação.

3.6 Na Diocese de Rio do Sul em Santa Catarina

Tito Buss, bispo da Diocese de Rio do Sul, foi um dos pioneiros no Brasil em

apresentar propostas rituais para a Celebração Dominical da Palavra de Deus. O livro que

recolheu inúmeras propostas de celebração recebeu o título de Culto Dominical e foi editado

em três volumes, um para cada ano do ciclo litúrgico, A, B e C378.

373
Cf. CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO. Celebrações dominicais na ausência do presbítero.
Petrópolis: Vozes, 1989, n. 21. (Documentos Pontifícios, 224).
374
Cf. Ib. n. 5; 6.
375
Cf. Ib. n. 15.
376
Ib. n. 20.
377
Ib. n. 50.
378
Cf. Lutz, Gregório. Teologia da liturgia dominical da comunidade sem padre. Revista de Liturgia, São Paulo,
n. 52, p. 6, jul./ago. 1982.
101

As propostas rituais de celebrações da Palavra para as comunidades onde não havia

possibilidade de celebrar a Eucaristia possuíam uma linguagem simples que refletiam a

realidade da assembleia379. Estas propostas foram oferecidas ao papa Paulo VI e mereceram

elogios e incentivos de sua parte através do cardeal Villot em uma carta endereçada a dom

Tito:

Examinados, com a melhor atenção, esses escritos, foi o teor do mesmo levado
ao conhecimento do Santo Padre. Confiou-me ele o vir exprimir-lhe, ainda
uma vez, o seu apreço por tão acertadas iniciativas e pelo zelo e preocupação
que elas refletem, de catequizar os fiéis dessa grei e de vivificar as suas
manifestações de religiosidade e do seu sentido de Igreja. Bem andaram,
efetivamente, V. Excia. e os seus colaboradores, na escolha e elaboração dos
processos de atuação apostólica, dado o condicionamento. Eles acham-se em
prefeita sintonia com as normas orientadas do recente Concílio Ecumênico II
do Vaticano [...]. A este apreço deseja o sumo pontífice que ajunte uma
benevolente palavra, para todos os que se acham comprometidos em tal
trabalho, de estímulo e encorajamento: a continuarem, com o mesmo
entusiasmo e a mesma atitude de serviço e de contínua busca da maior
proficiência, em ensinar a fé, por meio duma catequese adequada, e em
celebrá-la com uma liturgia conforme a índole, capacidade, idade e condições
de vida do povo [...]380.

O imenso e elogiado trabalho da Diocese de Rio do Sul foi progressivamente

atingindo as comunidades e criando uma nova prática litúrgica. Estas Celebrações Dominicais

da Palavra de Deus integravam fatos da vida e, consequentemente, iluminavam a vida simples

do povo. A homilia preparada e impressa para cada domingo, por exemplo, encorajava os

dirigentes das inúmeras comunidades da Diocese a procurar soluções em relação à “saúde;

melhor alimentação; escola; estradas; orientação na lavoura” 381. Aos fiéis era manifestado o

sofrimento de Jesus que continua, ainda hoje, “no pobre, no doente, no analfabeto, no

encarcerado e em todos os que andam tristes e oprimidos”382. As pessoas uniam seu próprio

sofrimento aos de Jesus e percebiam a presença de Deus no dia a dia de suas vidas.

379
Cf. SECRETARIADO DIOCESANO DE RIO DO SUL. Culto dominical ano a: para as comunidades onde
não há possibilidade de celebrar a Eucaristia. São Paulo: Paulinas, 1974, p. 5.
380
Ib. p. 6. O grifo é nosso.
381
Ib. p. 129.
382
Ib. p. 72.
102

Na Diocese de Rio do Sul, através da Celebração Dominical da Palavra de Deus, os

fiéis foram assumindo na sociedade o seu profetismo, articulando os problemas existentes e

buscando soluções e mudanças. As inúmeras comunidades reuniam-se em nome do Senhor,

partilhavam a Palavra, elevavam o seu culto a Deus e recebiam dele a salvação. A celebração

inspirava interesses comuns e atos de solidariedade. Enfim, através da Celebração Dominical

da Palavra de Deus, a Diocese de Rio do Sul conseguiu integrar a vida das pessoas e das

comunidades na liturgia.

3.7 Em escritos de João Paulo II e Bento XVI

No ano de 1983, em viagem apostólica à América Central, o papa João Paulo II

encontrou-se com ministros que presidiam as Celebrações Dominicais da Palavra de Deus nas

comunidades de Honduras. O papa reconheceu a decisão dos bispos hondurenhos em instituir

pessoas dispostas, preparadas e profundamente conscientes do ministério de servir aos irmãos

e denominou esta iniciativa de louvável. Através desta Celebração, os bispos não privaram o

povo do Pão da Palavra já que estavam privados do Pão da Eucaristia por escassez de

presbíteros383.

Aos bispos brasileiros do Regional Sul-1, João Paulo II destacou o elo profundo

existente entre a liturgia e a vida das pessoas, a Páscoa de Cristo e a Páscoa dos fiéis:

Na liturgia, especialmente na Eucaristia, celebra-se a realidade fundamental


da Páscoa: morte e ressurreição de Jesus Cristo, morte e ressurreição do
batizado, com Cristo. Na ação litúrgica devem encontrar espaço todas as
realidades da vida cotidiana do cristão, pois é com todos os aspectos de sua
pessoa que também ele tem de “passar deste mundo ao Pai”. Ao participar da
celebração, o cristão terá presente suas aspirações, alegrias, sofrimentos,
projetos, bem como os de todos os seus irmãos. E porá todas essa intenções na
Oração que sua comunidade, com toda a Igreja, dirige ao Pai, por Cristo
Salvador, na unidade do Espírito Paráclito 384.

383
“Pero, ¿qué pasa cuando la escasez de presbíteros y diáconos no permite que ese ministerio de la
evangelización de la Palabra llegue a todas partes? ¿La gente se verá privada del pan de la Palabra, como se ve
privada del Cuerpo de Cristo en la Eucaristía? Es una gran cosa, muy conforme con la tradición de la Iglesia, que
vuestros obispos hayan resuelto - recogiendo y evaluando laudables iniciativas - delegar especialmente a
quienes, como vosotros, bien dispuestos, bien preparados y profundamente conscientes de la tarea que asumen,
se ofrecen a responder a este llamado de servir a sus hermanos”. Disponível em:
<http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/homilies/1983/documents/hf_jp-ii_hom_19830308_san-pedro-
sula_sp.html>. Acesso em: 10 dez. 2010, 09:30h.
384
JOÃO PAULO II. Diretrizes aos bispos do Brasil: pronunciamentos do Santo Padre por ocasião da visita ad
limina apostolorum em 1990. São Paulo: Loyola, 1991, p. 44. (Documentos Pontifícios).
103

Na liturgia, a vida das pessoas não é negada, porque é celebração do Mistério de

Cristo no Mistério da vida dos cristãos. Ou como afirma Gregório Lutz: “Devemos celebrar

não apenas a morte e a ressurreição do Cristo de dois mil anos atrás, mas na Páscoa de Cristo

também a Páscoa do povo aqui e agora”385. O Mistério da vida de Cristo na vida de quem

celebra é que dá a razão de celebrar a vida dos fiéis.

No que se refere ao compromisso cristão, o papa João Paulo II descreve a sua

importância, como por exemplo, na Carta Encíclica Sollicitudo rei socialis e na Carta

Apostólica sobre o Grande Jubileu do ano 2000. Na Sollicitudo rei socialis, afirma: “Nos

casos de necessidade, não se podem preferir os ornamentos supérfluos das igrejas e os objetos

do culto divino preciosos; ao contrário, poderia ser obrigatório alienar estes bens para dar de

comer, de beber, de vestir e casa a quem disso está carente”386. Desse modo, João Paulo II

recordou os testemunhos patrísticos que unem a vida litúrgica com a vida social. Na Tertio

millennio adveniente, “com uma sensibilidade nova, destacou o nexo indissolúvel entre vida

litúrgica dos cristãos, manifestada nas celebrações jubilares, e o profundo sentido de uma

comunhão de bens própria da espiritualidade jubilar tanto do AT como do NT e da vida da

Igreja primitiva”387, destaca Castellano.

O papa Bento XVI também se deteve sobre a Celebração Dominical da Palavra de

Deus na Exortação Pós-Sinodal Sacramentum Caritatis e expressou a importância das

reuniões das comunidades cristãs “para louvar o Senhor e fazer memória do dia a ele

dedicado”388, onde o presbítero está impossibilitado de se fazer presente. Nesta carta encíclica

sobre o amor cristão, mesmo não se referindo à Celebração Dominical da Palavra de Deus, o

papa ressaltou a estreita relação que existe entre a Eucaristia e a caridade fraterna quando, de
385
LUTZ, Gregório. Liturgia “fria” ou “quente”. In: COSTA, Valeriano Santos (Org). Liturgia: peregrinação ao
coração do Mistério. São Paulo: Paulinas, 2009, p. 167. (Coleção celebrar e viver a fé).
386
JOÃO PAULO II. Sollicitudo rei socialis. Carta Encíclica de João Paulo II sobre a solicitude social da Igreja.
Petrópolis: Vozes, 1988, n. 31. (Documentos Pontifícios, 218).
387
CASTELLANO, Jesús. Liturgia e vida espiritual: teologia, celebração, experiência. São Paulo: Paulinas,
2008, p.85.
388
BENTO XVI. Sacramentum Caritatis: Exortação Apostólica Pós-Sinodal de Bento XVI sobre a Eucaristia,
fonte e ápice da vida e da missão da Igreja. São Paulo: Paulinas, 2007, n. 75. (A voz do papa, 190).
104

forma muito expressiva, diz que “uma Eucaristia que não se traduza em amor concretamente

vivido é, em si mesma, fragmentária”389. Para ele, celebração e ética, liturgia e vida,

Eucaristia e amor fraterno não devem divergir, mas “Fé, culto e ethos compenetram-se,

mutuamente, como uma única realidade que se configura no encontro com a ágape de Deus.

Aqui, a habitual contraposição entre culto e ética desaparece simplesmente. No próprio

„culto‟, na comunhão eucarística, está contido o ser amado e o amar, por sua vez, os

outros”390.

Como exemplo de pessoa que realizou esta íntima conexão entre Eucaristia e amor ao

próximo, o papa Bento XVI apresentou a beata Tereza de Calcutá e declarou que a capacidade

sempre renovada de amar é resultado do seu encontro com o Senhor através da liturgia.

“Amor a Deus e amor ao próximo são inseparáveis, são um único mandamento”391.

Tereza de Calcutá foi entrevistada e convidada por um apresentador a dar uma

mensagem aos que ajudavam os mais necessitados. “Que celebrem bem a Eucaristia” foi a sua

resposta. O entrevistador insistiu na mensagem, deixando a entender que a beata não tinha

realizado o proposto. Ela repetiu: “Que celebrem bem a Eucaristia. Sabe por que eu me dedico

a cuidar dos mais pobres e enfermos? Porque acabo de comungar. O mesmo Cristo a quem é

comungado na missa é o que vejo na pessoa desse próximo”392.

O papa Bento XVI recordou, ainda, que “na liturgia da Igreja, na sua oração, na

comunidade viva dos crentes, nós experimentamos o amor de Deus, sentimos a sua presença e

aprendemos, assim, a reconhecê-la na nossa vida quotidiana também”393. A necessária relação

entre celebração e vida, liturgia e caridade é expressa pelo papa, seguindo a tradição bíblica,

389
BENTO XVI. Deus caritas est: Carta Encíclica de Bento XVI sobre o amor cristão. São Paulo: Paulinas,
2006, n. 14. (A voz do papa, 189).
390
Ib. n. 14.
391
Ib. n. 18.
392
Cf. Editorial da Phase, Revista de pastoral litúrgica, Barcelona, v. 46, n. 273, p. 300, mai./jun. 2006.
393
BENTO XVI. Deus caritas est. Carta Encíclica de Bento XVI sobre o amor cristão. São Paulo: Paulinas,
2006, n. 17. (A voz do papa, 189).
105

patrística e litúrgica da Igreja. Assim, Bento XVI unificou o sacramento da Eucaristia e o

sacramento do pobre e necessitado394.

Neste segundo capítulo, com descrição de alguns elementos sobre a vida na celebração

encontrados na tradição bíblica, patrística e nos pronunciamentos da Igreja, confirmou-se que

a vida humana se faz história e é parte essencial da liturgia. É claro que muitas fontes fizeram

referência, principalmete, à liturgia eucarística e não especificamente à Celebração Dominical

da Palavra de Deus. Porém, percebeu-se o elo existente entre a vida cristã e liturgia, entre a

liturgia existencial e liturgia ritual e que, por meio de Cristo, a celebração envolve toda a vida

para convertê-la em oferenda santa e agradável a Deus395.

Percebeu-se, também, a plena sintonia dos Documentos 43 e 52 da Conferência

Nacional dos Bispos do Brasil com a Tradição. Constatou-se que a vida deve ressoar na

celebração do Mistério Pascal e este mesmo Mistério celebrado deve conduzir o cristão a uma

vida pascal, como expressou o documento 43 da CNBB: “o cristão celebrante é sinal vivo do

Mistério Pascal e, portanto, instrumento de salvação integral. Na medida em que as

comunidades estão comprometidas com a transformação do mundo, seu engajamento

repercute na liturgia, fonte e ápice de toda a vida cristã”396.

O próximo e último capítulo tratará sobre o Mistério Pascal de Jesus Cristo, realizado

na história e ritualizado na Celebração Dominical da Palavra de Deus, levando em conta a

realidade do povo em seu processo pascal na busca de vida em plenitude. Apresentará

sugestões para que a totalidade da existência humana possa ser integrada nos ritos iniciais, na

liturgia da Palavra, na ação de graças e nos ritos finais e para que as celebrações possam

iluminar a vida do povo de Deus.

394
Cf. CASTELLANO, Jesus. Liturgia e vida espiritual. Teologia, celebração, experiência. São Paulo: Paulinas,
2008, p. 384; ESTEVES, José Fernando Caldas; CORDEIRO, José Manuel Garcia. Liturgia da Igreja. Lisboa:
Universidade Católica Editora, 2008, p. 211.
395
Cf. MARTÍN, Julián López. No espírito e na verdade. Vol. I. Introdução teológica à liturgia. Petrópolis:
Vozes, 1996, p. 47.
396
Doc. 43 da CNBB, n. 157.
106

CAPÍTULO III

A VIDA NA CELEBRAÇÃO DOMINICAL DA PALAVRA DE DEUS

A Constituição Conciliar sobre a Sagrada Liturgia afirma que os cristãos em

assembleia litúrgica precisam tomar consciência do Mistério que celebram para que a liturgia

possa chegar à completa eficácia que é a santificação em Cristo e a glorificação de Deus:

Para chegar a essa eficácia plena, é necessário que os fiéis se acerquem da


sagrada liturgia com disposições de reta intenção, adaptem a mente às
palavras, e cooperem com a graça divina para não recebê-la em vão. Por isso,
é dever dos sagrados pastores vigiar para que, na ação litúrgica, não só se
observem as leis para a válida e lícita celebração, mas que os fiéis participem
dela consciente, ativa e frutuosamente 397.

A participação consciente, ativa e frutuosa desejada pelo Concílio Vaticano II, direito

e obrigação do povo de Deus398, acontece quando a assembleia toma consciência do Mistério

Pascal celebrado por meio de ritos e orações e o relaciona com sua vida. Ao referir-se à

Celebração Dominical da Palavra de Deus, o Documento 52 orienta que estas celebrações

devem ser organizadas de tal modo que favoreçam “a escuta e a meditação da Palavra de

Deus, a oração e o compromisso de vida” 399. A celebração precisa ser preparada de tal forma

que auxilie a participação da assembleia, possibilite o encontro de comunhão do fiel com

Deus e com a comunidade reunida e penetre as dimensões mais profundas da vida do povo de

Deus400.

O papa Bento XVI, na exortação apostólica pós-sinodal sobre a Palavra de Deus na

vida e na missão da Igreja, afirma que a liturgia “constitui, efetivamente, o âmbito

397
Sacrosanctum Concilium, n. 11.
398
Cf. Sacrosanctum Concilium, n. 14.
399
Doc. 52 da CNBB, n. 55.
400
Cf. BIANCHI, Enzo. Presbíteros: Palavra e Liturgia. São Paulo: Paulus, 2010, p. 81; PALUDO, Faustino. A
celebração da Palavra de Deus. In: CELAM. Manual de liturgia. A celebração do Mistério Pascal. Vol. IV:
Outras expressões celebrativas do Mistério Pascal e a liturgia na vida da Igreja. São Paulo: Paulus, 2007, p. 182;
Sacrosanctum Concilium, n. 48.
107

privilegiado onde Deus nos fala no momento presente da nossa vida: fala hoje ao seu povo,

que escuta e responde”401. Por isso, a Celebração Dominical da Palavra de Deus bem

preparada pela equipe de celebração é meio privilegiado de comunicação de Deus com seu

povo, do povo com Deus e do povo entre si.

Porém, este encontro com Deus e com os irmãos através da Celebração Dominical da

Palavra, na maior parte das vezes, não seria possível se a vida do fiel e da comunidade reunida

não estivesse presente. Ratzinger, ao escrever sobre liturgia e vida, assegura que, assim como

o culto faz parte da celebração, “a vida segundo a vontade de Deus também faz parte dela” 402.

A vida de cada pessoa que participa da liturgia e a vida da humanidade são imprescindíveis na

celebração para um verdadeiro culto a Deus. Quando há interação entre vida e liturgia, a

Celebração Dominical da Palavra de Deus vai modelando a imagem de Cristo na assembleia

que aprende a viver o Mistério celebrado. A celebração torna-se uma escola de vida e epifania

do Mistério403.

Através da Celebração Dominical da Palavra, os fiéis são instruídos pela Sagrada

Escritura, fortalecidos na experiência de fé e comunhão, crescem no discernimento, no

seguimento de Jesus Cristo diante das situações desfavoráveis à vida, partilham a realidade

em clima familiar e dão graças a Deus404.

Este terceiro capítulo da dissertação buscará apresentar alguns ritos e orações da

Celebração Dominical da Palavra de Deus, relacionados à vida, que possam promover maior

participação da assembleia na liturgia e na vivência do Mistério celebrado. Sobretudo, ritos e

401
BENTO XVI. Verbum Domini: Exortação Apostólica Pós-Sinodal sobre a Palavra de Deus na vida e na
missão da Igreja. São Paulo: Paulinas, 2010, n. 52. (A voz do papa, 194).
402
RATZINGER, Joseph. Introdução ao espírito da liturgia. 2. ed. Prior Velho [Portugal]: Paulinas, 2006, p. 12-
13. (Dessedentar, 2).
403
Cf. BIANCHI, Enzo. Presbíteros: Palavra e Liturgia. São Paulo: Paulus, 2010, p. 8; JUNGMANN, Josef
Andreas. Missarum Sollemnia: origens, liturgia, história e teologia da missa romana. São Paulo: Paulus, 2009, p.
205; LUTZ, Gregório. Liturgia “fria” ou “quente”. In: COSTA, Valeriano Santos (Org). Liturgia: peregrinação
ao coração do Mistério. São Paulo: Paulinas, 2009, p. 166. (Coleção celebrar e viver a fé).
404
Cf. PALUDO, Faustino. A celebração da Palavra de Deus. In: CELAM. Manual de liturgia. A celebração do
Mistério Pascal. Vol. IV: Outras expressões celebrativas do Mistério Pascal e a liturgia na vida da Igreja. São
Paulo: Paulus, 2007, p. 159; Id. A Palavra de Deus na celebração. In: CELAM. Manual de liturgia. A celebração
do Mistério Pascal. Vol. II: Fundamentos teológicos e elementos constitutivos. São Paulo: Paulus, 2005, p. 153.
108

orações que evidenciem a história da humanidade e a vida do povo de Deus reunido na

celebração.

1 A vida nos ritos iniciais da celebração

O Documento 43 da CNBB apresenta os ritos iniciais da Celebração Dominical da

Palavra de Deus da seguinte forma: “Os Ritos iniciais expressam o Senhor, que chama e reúne

seu povo, e o povo que alegremente vem e se apresenta” 405. Estes ritos bem celebrados

auxiliam os fiéis na conscientização de ser comunidade celebrante, facilitam e estimulam a

participação consciente, ativa e frutuosa da Palavra de Deus. No entanto, é importante que a

vida do fiel e a história da humanidade estejam presentes desde o início da celebração,

expressa Buyst:

Entramos na celebração carregando dentro de nós toda a nossa vida, cheia de


problemas e alegrias, de esperanças e dificuldades, de vitórias e derrotas; não
só nossas, mas de toda a comunidade, do bairro, e até mesmo do país ou de
outros lugares do mundo. É importante que tudo isso esteja bem presente
dentro de nós, porque Deus vai nos falar a respeito dessa realidade, desses
acontecimentos, desta vida. Porque é dentro dela que o Reino de Deus deverá
crescer406.

O povo de Deus se apresenta ao Senhor na celebração principalmente com toda a

realidade vivida nas últimas semanas que ainda esta bem presente na lembrança de todos. A

assembleia torna-se mais receptiva e facilmente participa da Celebração Dominical da Palavra

de Deus quando a vida do fiel e da comunidade cristã é contemplada nos ritos iniciais. Além

de latente, a realidade dos fiéis pode ser manifestada em algum momento no início da

celebração. Porém, como a vida do povo de Deus pode estar presente nos ritos iniciais? Como

relacionar liturgia e vida em alguns elementos no início de uma celebração?


405
Doc. 43 da CNBB, n. 101. Cf. CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO. Celebrações dominicais na
ausência do presbítero. Petrópolis: Vozes, 1989, n. 41. (Documentos Pontifícios, 224); IGMR, n. 46.
406
BUYST, Ione. Celebração do domingo ao redor da Palavra de Deus. São Paulo: Paulinas, 2002, p. 71.
(Coleção Celebrar).
109

O Documento 52 afirma que “a celebração comunitária da Palavra preparada e

realizada num clima de acolhida mútua, de amizade, de simplicidade, de alegria e de

espontaneidade, favorece a comunhão e a participação dos fiéis na escuta da Palavra e na

oração”407. Consequentemente, o cumprimento fraterno entre o povo que está chegando ao

local da celebração, o compartilhar a vida e a semana de alegrias e esperanças, tristezas e

angústias são algumas atitudes simples que manifestam o contentamento das pessoas em rever

a comunidade, são gestos que promovem a união e a participação dos fiéis que se reúnem para

celebrar a Páscoa de Cristo na Páscoa vivida por eles408.

A Instrução Liturgicae Instaurationes da Congregação para o Culto Divino indica que

os cantos para a liturgia, inclusive o de abertura nos ritos iniciais da celebração, devem ser

adequados “às necessidades dos fiéis que os utilizam”409. O canto de abertura, bem escolhido,

inspira a união da assembleia, une sentimentos e experiências vividas, motiva o povo

congregado para a celebração do Mistério e acompanha a procissão de entrada dos

ministros410.

O canto de abertura poderá acompanhar, também, a saudação à Palavra de Deus por

quem preside a assembleia. A tradição antioquena venerava no início da celebração a mesa da

Eucaristia e o evangeliário, símbolos de Cristo e de união entre a Palavra e a Eucaristia. Na

407
Doc. 52 da CNBB, n. 57.
408
A assembleia cristã é a primeira realidade da Celebração Dominical da Palavra de Deus. A reunião dos fiéis é
um valor da celebração porque é sinal de que a Igreja existe e está presente neste lugar. Assim como, no primeiro
dia da semana os seguidores dispersos congregaram-se ao redor do Senhor ressuscitado; hoje os atuais
seguidores de Jesus são reunidos pelo Pai, por ação do Espírito Santo e expressam esta certeza dizendo: “Bendito
seja Deus que nos reuniu no amor de Cristo”. Cf. ALDAZÁBAL, José. Aspectos aclesiológicos de la tercera
edición del misal romano y de los prenotandos de otros libros litúrgicos. In: ASOCIACIÓN ESPAÑOLA DE
PROFESSORES DE LITURGIA. La liturgia, epifanía de la Iglesia. Barcelona: Centre de Pastoral Litúrgica,
2010, p. 54. (Culmen et fons, 6); BUYST, Ione. Celebração do domingo ao redor da Palavra de Deus. São
Paulo: Paulinas, 2002, p. 51. (Coleção Celebrar); Doc. 43 da CNBB, n. 99.
409
CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO. Instrução Liturgicae Instaurationes. n. 3. In:
SECRETARIADO NACIONAL DE LITURGIA. Enquirídio dos documentos da reforma litúrgica. Fátima:
Coimbra, 1998, p. 570.
410
Cf. COSTA, Valeriano Santos. Celebrar a Eucaristia: tempo de restaurar a vida. São Paulo: Paulinas, 2006,
p. 26-27. (Coleção Tabor); Doc. 43 da CNBB, n. 238-239; FONSECA, Joaquim. Cantando a missa e o ofício
divino. São Paulo: Paulus, 2004, 15-17; IGMR, n. 47-48.
110

Celebração Dominical da Palavra de Deus, a saudação ao Evangeliário 411, através da

reverência e do beijo, pode expressar claramente a presença do Senhor, primeiro protagonista

da celebração, que quer falar ao seu povo 412. O beijo é um dos gestos compreensíveis da vida

humana e que possui linguagem eficaz na liturgia413.

Após o canto de abertura e os elementos rituais que este canto acompanha, aquele que

preside saúda a comunidade reunida. A saudação se inicia com o sinal da cruz. A cruz é sinal

de acolhida, amor, vitória, benção, compromisso e esperança. Nos ritos iniciais no Batismo de

criança, quem preside, juntamente com os pais, padrinhos e algumas pessoas da comunidade,

fazem o sinal da cruz na fronte da criança, acolhendo-a: “Assim, N., nós te acolhemos na

comunidade cristã”414. Na celebração de entrada para o catecumenato, os candidatos são

assinalados: na fronte para aprender a conhecer a Cristo e segui-lo; nos ouvidos para que

ouçam a voz do Senhor; nos olhos para que vejam a glória de Deus; na boca para que

respondam à Palavra de Deus; no peito para que Cristo habite pela fé em seus corações; nos

ombros para que carreguem o jugo suave de Cristo. Enfim, os catecúmenos são assinalados

para que tenham a vida eterna415.

As palavras associadas ao sinal da cruz: “Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito

Santo”, foram pronunciadas no Batismo daqueles que estão reunidos em assembleia litúrgica.

Por isso, o sinal da cruz no início da Celebração Dominical da Palavra de Deus recorda à

assembleia que ela está mergulhada em Deus que é Pai, Filho e Espírito Santo. O fiel, ao tocar

o seu corpo em forma de cruz, é motivado a perceber que o Mistério da cruz e da ressurreição

de Jesus envolve e toca a totalidade da vida e da história da humanidade e está sendo

411
A comunidade que não possui o livro dos Evangelhos poderá realizar esta saudação ao Lecionário ou, ainda, à
Bíblia.
412
Cf. BORÓBIO, Dionisio. Eucaristía. Madrid: Biblioteca de autores cristianos, 2005, p. 131. (Sapientia Fidei
– Serie de Manuales de Teología, 23).
413
Cf. ALDAZÁBAL, José. A Eucaristia. In: BORÓBIO, Dionisio (Org). A celebração na Igreja. Vol. II:
Sacramentos. São Paulo: Loyola, 1993, p. 316; COSTA, Valeriano Santos. Celebrar a Eucaristia: tempo de
restaurar a vida. São Paulo: Paulinas, 2006, p. 28. (Coleção Tabor).
414
CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO E A DISCIPLINA DO SACRAMENTO. Ritual do Batismo
de crianças. São Paulo: Paulus, 2003, n. 16; 43-44; 115-116; 182-183; 235-236; 308-309.
415
Cf. Id. Ritual da Iniciação Cristã de Adultos. São Paulo: Paulus, 2001, n. 83-85.
111

celebrado416. Ratzinger afirma que “quando fazemos o sinal da cruz, colocamo-nos sob a sua

proteção, segurando-a ao mesmo tempo diante de nós como um escudo, que nos ampara nas

dificuldades do quotidiano, encorajando-nos a continuar”417. Deus, que está presente, toca os

corações dos fiéis reunidos para que possam perceber a presença da cruz na vida de outras

pessoas, como apresenta Ione Buyst:

Traçando sobre nossos corpos, no início da celebração, a cruz de Jesus,


trazemos presente a cruz daqueles com os quais Cristo se identifica [...].
Trazemos presente o compromisso daqueles que dedicam toda a sua vida para
tentar reverter o quadro de injustiça institucionalizada, de desigualdades
sociais, de guerra... em que vivemos. Trazemos presente a cruz daqueles que
sofrem perseguição por causa do Reino de Deus 418.

O sinal da cruz no início da celebração contribui para que o povo se lembre de que

Jesus continua morrendo nas cruzes que os filhos de Deus carregam, espalhados pelo mundo

inteiro. Se aqueles que celebram ficam emocionados com as dores da Paixão de Jesus,

também não podem ficar indiferentes aos sofrimentos que penalizam tantas pessoas, seus

irmãos. Diante dessas cruzes, a comunidade cristã é chamada a ajoelhar-se, não para adorar,

mas para tratá-las, para eliminá-las da vida de cada um que nasceu para ser feliz já neste

mundo. O sinal da cruz deve aumentar a sensibilidade para as cruzes dos seres humanos e a

coragem de lutar, unir-se aos que sofrem desde dores físicas até os danos impostos por uma

sociedade injusta, cuja dinâmica sempre beneficia os privilegiados e exclui os fracos e

carentes.

Fundamentalmente, o sinal da cruz no início da celebração proclama o Mistério

Pascal, a força de Deus na fraqueza do crucificado, a ação de Deus que vai transfigurando os

desfigurados da sociedade e ressuscitando os crucificados da história. O sinal da cruz, que

desde o Batismo põe a vida do fiel sob o nome e benção da Trindade, mostra o caminho da
416
O Mistério da cruz é a chave de toda a vida cristã e da história da humanidade. Cf. RATZINGER, Joseph.
Introdução ao espírito da liturgia. 2. ed. Prior Velho [Portugal]: Paulinas, 2006, p. 134. (Dessedentar, 2).
417
Ib. p. 132.
418
BUYST, Ione. Liturgia, de coração. Espiritualidade da celebração. ed. ampl. São Paulo: Paulus, 2003, p. 96-
97.
112

vida que é o seguimento de Jesus e imprime na vida do povo de Deus a vida de Jesus que

culmina na cruz e ressurreição419.

A saudação inicial à comunidade reunida dá-se, também, através de uma fórmula ritual

de inspiração bíblica. Com esta saudação, aquele que preside a assembleia toma o primeiro

contato expresso com a comunidade e o faz manifestando a presença do Senhor, dando assim

plenitude à comunidade reunida como sinal da Igreja unida a seu Senhor. A saudação ritual de

quem preside desemboca na resposta da assembleia: “Bendito seja Deus que nos reuniu no

amor de Cristo”420. A promessa de Cristo: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu

nome, ali estou no meio deles” (Mt 18,20), refere-se especialmente a uma comunidade

congregada em seu nome. Por isso, a Celebração Dominical da Palavra de Deus deve ser

realizada com a convicção da presença protagonista do Senhor em meio aos seus e à história

vivida por estes421.

Após a saudação ritual, o Documento 43 sugere “uma palavra mais espontânea de

introdução”422. Quem preside ou outra pessoa confiada pode valer-se da resposta da

assembleia e expressar que esta união não se fundamenta somente na amizade, na afinidade

ou interesse comum. A assembleia reunida firma-se no amor de Cristo, como sugere Ione

Buyst: “é o amor de Deus que circula e que nos faz assumir nossas diferenças e desavenças,

perdoar as faltas uns dos outros, unir nossas vozes num único ritmo de dança na procissão”423.

Desse modo, a introdução espontânea expressa, sobretudo, a vida do povo de Deus, une

liturgia e vida, e poderá desembocar numa saudação mútua e acolhedora.

419
Cf. BIANCHI, Enzo. Presbíteros: Palavra e Liturgia. São Paulo: Paulus, 2010, p. 15; BUYST, Ione. Liturgia,
de coração. Espiritualidade da celebração. ed. ampl. São Paulo: Paulus, 2003, p. 97; COSTA, Valeriano Santos.
Celebrar a Eucaristia: tempo de restaurar a vida. São Paulo: Paulinas, 2006, p. 29. (Coleção Tabor);
RATZINGER, Joseph. Introdução ao espírito da liturgia. 2. ed. Prior Velho [Portugal]: Paulinas, 2006, p. 132.
(Dessedentar, 2).
420
Missal Romano, p. 389.
421
Cf. ALDAZÁBAL, José. La Eucaristía. Barcelona: Centre de Pastoral Litúrgica, 2007, p. 381. (Biblioteca
Litúrgica, 12); IGMR, n. 50.
422
Doc. 43 da CNBB, n. 244.
423
BUYST, Ione. A missa: memória de Jesus no coração da vida. São Paulo: Paulinas, 2004, p. 46. (Coleção
celebrar).
113

Entretanto, antes do canto de abertura e das saudações, o Documento 43 constata que

no Brasil as “celebrações costumam ser precedidas por breves palavras iniciais do (a)

animador (a)”424 que situam a celebração “no contexto do Tempo litúrgico e das

circunstâncias concretas da vida da comunidade”425. Este animador poderá situar o Mistério

Pascal de Cristo no Tempo litúrgico e na vida do povo de Deus. Poderá apresentar as pessoas

que estão participando pela primeira vez da comunidade ou a estão visitando; as crianças que

serão batizadas ou os noivos que se preparam para o matrimônio. O animador poderá

mencionar, também, as pessoas ausentes da comunidade: os doentes e idosos, os obrigados a

trabalhar no Dia do Senhor ou os que estão viajando, os que morreram na semana que passou

ou os familiares enlutados426.

A vida pode ser expressa nos ritos iniciais da Celebração Dominical da Palavra de

Deus, também, através da Recordação da Vida427. No relato da prisão de Pedro e João em

Atos dos Apóstolos (cf. At 4,23-31), a oração da assembleia brotou da recordação da vida dos

apóstolos, como comenta Ione Buyst:

1) Pedro e João contam o que aconteceu com eles; 2) ouvindo o relato, a


comunidade estabelece paralelos com o Salmo 2 e encontra nele uma palavra
de Deus para a situação atual; 3) partindo do salmo, a comunidade ora a Deus,
pedindo que dê coragem para anunciar a palavra e que acompanhe com curas e
sinais; 4) a casa treme, acontece um novo pentecostes: todos ficam cheios do
Espírito e encontram forças para continuar, sem medo, sua missão 428.

Como em Atos dos Apóstolos, a comunidade cristã hoje, à luz do Mistério Pascal,

recorda os acontecimentos do seu dia-a-dia e toma consciência da presença de Deus nestes

acontecimentos. O Ofício Divino das Comunidades, no qual originalmente apareceu o

424
Doc. 43 da CNBB, n. 237. A Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia da CNBB, com uma nota de 6 de
agosto de 2007 aos redatores dos “folhetos litúrgicos”, pede para não mais usar a palavra “comentarista” porque
esta não é a função litúrgica exercida por esta pessoa ou, a palavra “comentário” porque este não é o espírito das
breves palavras iniciais da celebração, da liturgia da Palavra etc. Cf. COMISSÃO EPISCOPAL PARA A
LITURGIA. Os „comentários‟ na liturgia da Palavra. In: CNBB. Liturgia em Mutirão II: subsídios para
formação. Brasília: CNBB, 2009, p. 234-236.
425
Doc. 43 da CNBB, n. 237.
426
Cf. BUYST, Ione. Celebração do domingo ao redor da Palavra de Deus. São Paulo: Paulinas, 2002, p. 51-
52. (Coleção Celebrar); Doc. 52 da CNBB, n. 58.
427
Cf. CNBB. Diretório da Liturgia e da Organização da Igreja no Brasil. Brasília: CNBB, 2011, p. 21.
428
BUYST, Ione. Recordação da Vida. In: A ESPERANÇA dos pobres vive: coletânea em homenagem aos 80
anos de José Comblin. São Paulo: Paulus, 2003, p. 380.
114

elemento ritual que recebeu o nome de Recordação da Vida429, explicita que a vida da

humanidade é sinal para aqueles que contemplam na realidade as intervenções de Deus:

A vida, os acontecimentos de cada dia, as pessoas, suas angústias e


esperanças, suas tristezas e alegrias, as conquistas e revezes da caminhada, as
lembranças marcantes da história, da comunidade, das Igrejas e dos povos, os
próprios fenômenos da natureza são sinais de Deus para quem tem olhos para
ver e ouvidos para ouvir430.

Através da Recordação da Vida nos ritos iniciais, a intervenção do Senhor na realidade

atual é revelada e o povo vai percebendo, desse modo, a ação de Deus na sua história

concreta. Quem preside, ou outra pessoa responsável, poderá motivar e convidar a assembleia

a expressar de forma espontânea “acontecimentos e situações importantes de sua vida. Poderá

tratar-se de fatos acontecidos recentemente ou da recordação de datas e pessoas da

comunidade já falecidas, ou da história do povo ou da Igreja, santos e santas, mártires e heróis

ou de doentes da comunidade”431, propõe Faustino Paludo.

A equipe de celebração poderá preparar faixas, cartazes e símbolos expressivos da

realidade e da vida de fé dos presentes para serem apresentados nesse momento, ou, ainda,

poderá escolher um acontecimento específico da vida da comunidade e manifestar o Mistério

Pascal de Cristo432. Algumas outras sugestões de como partilhar os acontecimentos da vida da

comunidade na Celebração Dominical da Palavra de Deus são enumeradas por Ione Buyst:

A maneira mais simples de fazê-la é lançar uma pergunta: „O que aconteceu


de importante esta semana?‟ (na comunidade, no bairro, na região, no país, no
mundo...?) [...] Podemos fazer da recordação da vida um momento rápido,
citando fatos (principalmente em assembléias numerosas); ou uma conversa
longa, um „cochicho‟ de dois a dois, ou em pequenos grupos, buscando o
sentido desses fatos para o Reino de Deus, procurando discernir neles os sinais
de vida e de morte...433

429
“No Ofício Divino das Comunidades este momento de trazer os fatos da vida está previsto para o início, após
a abertura e antes do hino. Nas reuniões da equipe que pensou e redigiu o Ofício, sentimos a necessidade de
encontrar um nome para este momento. Foi aí que surgiu o termo recordação da vida”. BUYST, Ione.
Recordação da Vida. In: A ESPERANÇA dos pobres vive: coletânea em homenagem aos 80 anos de José
Comblin. São Paulo: Paulus, 2003, p. 378.
430
OFÍCIO divino das comunidades. 12. ed. São Paulo: Paulus, 2002, p. 11. Cf. Gaudium et spes, n. 1.
431
PALUDO, Faustino. A celebração da Palavra de Deus. In: CELAM. Manual de liturgia. A celebração do
Mistério Pascal. Vol. IV: Outras expressões celebrativas do Mistério Pascal e a liturgia na vida da Igreja. São
Paulo: Paulus, 2007, p. 180.
432
Cf. Doc. 43 da CNBB, n. 244; Doc. 52 da CNBB, n. 62; 64.
433
BUYST, Ione. Celebração do domingo ao redor da Palavra de Deus. São Paulo: Paulinas, 2002, p. 76.
(Coleção Celebrar).
115

Portanto, a Recordação da Vida poderá ser realizada de vários modos e em momentos

variados da celebração. Poderá estar situada nos ritos iniciais ou no início da liturgia da

Palavra, antes da proclamação dos textos bíblicos ou ainda na homilia434. Porém, os fatos da

vida lembrados precisam ser relidos à luz do Mistério de Cristo e retomados durante a

Celebração Dominical da Palavra de Deus, principalmente através da homilia, das preces e da

ação de graças435.

Nos ritos iniciais da Celebração Dominical da Palavra de Deus, o rito penitencial

também pode fazer-se presente principalmente quando há distribuição da comunhão 436. O rito

penitencial é uma chamada à conversão mais do que um reconhecimento de culpa e poderá ser

realizado de maneira espontânea. Os fatos acontecidos durante a semana que não

correspondam ao projeto de Deus poderão ser lembrados e toda a comunidade pedirá perdão

ao Senhor. Quem preside deverá estar atento, principalmente quando o ato penitencial for

espontâneo, para que as situações lembradas não sejam apenas de pecados pessoais, mas que

este momento ritual conduza a assembleia a refletir também sobre os pecados sociais437.

Não seria desacertado trocar o lugar do ato penitencial e situá-lo depois da homilia,

sobretudo quando as leituras bíblicas são de tom penitencial e convidam à conversão 438.

Assim acontece oficialmente na quarta-feira de cinzas.

Pode-se substituir o rito penitencial pelo rito da benção e aspersão da água439. O rito da

benção e aspersão da água recorda o Batismo, pelo qual os fiéis deixaram a vida de pecado

para viver a nova vida que veio através de Jesus Cristo e ajuda a assembleia a começar a

434
Cf. BUYST, Ione. Recordação da Vida. In: A ESPERANÇA dos pobres vive: coletânea em homenagem aos 80
anos de José Comblin. São Paulo: Paulus, 2003, p. 378.
435
“No caso de uma celebração eucarística, é na liturgia da Palavra, principalmente na homilia, que se revela a
presença ativa de Deus na história, estabelecendo o „círculo hermenêutico‟ entre os textos bíblicos e a „vida‟,
entre a revelação de Deus nos fatos passados e nos fatos da atualidade”. Ib. p. 384.
436
Cf. BUYST, Ione. Celebração do domingo ao redor da Palavra de Deus. São Paulo: Paulinas, 2002, p. 96.O
Documento 52 possui oito roteiros de sugestões de Celebração da Palavra, como já visto no primeiro capítulo.
Destas oito sugestões, duas não possuem menção alguma de um momento penitencial.
437
Cf. Doc. 43 da CNBB, n. 251; 255; Doc. 52 da CNBB, n. 63; FONTBONA, Jaume. La Cena del Señor,
misterio de comunión. Barcelona: Centre de Pastoral Litúrgica, 2007, p. 235. (Biblioteca Litúrgica, 32).
438
“Alguns roteiros da Celebração da Palavra de Deus prevêem, logo após a homilia, um rito penitencial
motivado pela proclamação e escuta da Palavra”. Doc. 52 da CNBB, p. 35.
439
Cf. IGMR, n. 51.
116

celebração renovando a consciência de ser povo de batizados, povo eleito de Deus, povo

sacerdotal. Através deste elemento ritual, a comunidade cristã pede a Deus que renove a graça

batismal, a vida cristã concedida no dia do Batismo440.

Geralmente, depois do ato penitencial têm-se o Kyrie. O sentido deste canto e a sua

execução são apresentados pela Instrução Geral do Missal Romano: “Tratando-se de um canto

em que os fiéis aclamam ao Senhor e imploram a sua misericórdia, é executado normalmente

por todos, tomando parte nele o povo e o grupo de cantores ou o cantor” 441. O Kyrie não tem,

pois, sentido penitencial, senão de aclamação a Cristo e invocação de sua misericórdia na vida

da assembleia, ou, como afirma Aldazábal: “É uma profissão de fé na onipotência de Cristo e

em sua proximidade misericordiosa”442. É o reconhecimento público da misericórdia do

Senhor vivida pelo povo e, por isso, deverá também ser executado após o rito da benção e

aspersão da água.

O hino do Glória e o Kyrie não foram compostos originalmente para a missa. O Glória

é um cântico entusiasta de glorificação e suplica pelo qual o fiel expressa alegria, humildade e

confiança em Deus que conduz a sua vida e de toda a humanidade443.

Após o Glória, aquele que preside convida a assembleia a orar em silêncio. Em

seguida, recolhe as intenções do povo dirigidas a Deus, através da oração do dia444. Porém,

dependendo da assembleia e das circunstâncias da celebração, o Documento 52 afirma que:

440
Cf. BUYST, Ione. Celebração Dominical. Revista de Liturgia, São Paulo, n. 52, p. 18, jul./ago. 1982;
CARPANEDO, Penha; GUIMARÃES, Marcelo. Dia do Senhor: guia para as celebrações das comunidades. Vol.
IV. São Paulo: Paulinas; Apostolado Litúrgico, 2003, p. 307. (Coleção liturgia no caminho. Série dominical e
santoral); Missal Romano. Rito para benção e aspersão da água. 9. ed. São Paulo: Paulus, 2004, p. 1001-1004.
441
IGMR, n. 52.
442
ALDAZÁBAL, José. A Eucaristia. In: BORÓBIO, Dionisio (Org). A celebração na Igreja. Vol. II:
Sacramentos. São Paulo: Loyola, 1993, p. 320. Cf. BALTHAZAR, Hans Urs Von. Credo: meditações sobre o
Símbolo dos Apóstolos. Coimbra: Gráfica de Coimbra, 1997, p. 53.
443
Cf. COSTA, Valeriano Santos. Celebrar a Eucaristia: tempo de restaurar a vida. São Paulo: Paulinas, 2006,
p. 33-34. (Coleção Tabor); JUNGMANN, Josef Andreas. Missarum Sollemnia: origens, liturgia, história e
teologia da missa romana. São Paulo: Paulus, 2009, p. 344.
444
Para aprofundar a oração do dia nos ritos iniciais da liturgia conferir: BERGER, Rupert. Oração do dia. In:
Dicionário de liturgia pastoral. Obra de consulta sobre todas as questões referentes à liturgia. São Paulo:
Loyola, 2010, p. 277; COSTA, Valeriano Santos. Celebrar a Eucaristia: tempo de restaurar a vida. São Paulo:
Paulinas, 2006, p. 35-36. (Coleção Tabor); PISTÓIA, Alexandre. Compromisso. In: TRIACCA, Achille;
SARTORE, Domenico (Org). Dicionário de liturgia. São Paulo: Paulinas, 1992, p. 206.
117

[...] quem preside poderá solicitar aos presentes, após uns instantes de oração
silenciosa, que proclamem os motivos de sua oração – fatos da vida,
aniversários, falecimentos, problemas, alegrias e esperanças – e, depois,
concluirá a oração proposta, integrando as intenções no conteúdo e no espírito
do tempo litúrgico445.

A oração do dia, dirigida normalmente ao Pai, manifesta a atitude de confiança e

petição dos fiéis no começo da celebração446. Esta oração expressa o diálogo entre Deus e o

povo de Deus, recorda os atributos do Senhor e a história da salvação, pede a atualização

desta história para cada circunstância da existência humana, a renovação da vida, a salvação

eterna e dispõe o fiel à celebração447.

A oração do dia da sexta-feira da oitava da Páscoa, por exemplo, pede para que os fiéis

traduzam na vida o Mistério de Cristo: “Deus eterno e todo poderoso, que no Sacramento

Pascal restaurastes vossa aliança, reconciliando convosco a humanidade, concedei-nos

realizar em nossa vida o Mistério que celebramos na fé”448. A relação entre liturgia e vida é

expressa, também, na oração do Sacramentário Veronense: “Que te louvem, Senhor, as nossas

vozes, louve a alma e louve a vida; e porque é teu o obséquio do que somos, seja teu tudo

quanto vivemos”449.

Aquele que preside cuidará, por exemplo, com o tom de voz, a maneira de rezar, os

gestos de mãos abertas. Enfim, todo o ser do presidente da celebração ajudará o povo “a fazer

445
Doc. 52 da CNBB, n. 64.
446
O Diretório para as Celebrações Dominicais na Ausência do Presbítero orienta que “os textos das orações [...]
para cada domingo ou solenidade tomam-se habitualmente do Missal [...]. Desse modo os fiéis, seguindo o curso
do Ano litúrgico, terão possibilidade de orar [...] em comunhão com outras comunidades da Igreja”.
CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO. Celebrações dominicais na ausência do presbítero. Petrópolis:
Vozes, 1989, n. 36. (Documentos Pontifícios, 224).
447
Cf. ALDAZÁBAL, José. La Eucaristía. Barcelona: Centre de Pastoral Litúrgica, 2007, p. 388. (Biblioteca
Litúrgica, 12); BORÓBIO, Dionisio. Eucaristía. Madrid: Biblioteca de autores cristianos, 2005, p. 134.
(Sapientia Fidei – Serie de Manuales de Teología, 23); NOCENT, Adrien. História da celebração da Eucaristia.
In: MARSILI, Salvatore; et al. A Eucaristia: teologia e história da celebração. São Paulo: Paulus, 1986, p. 222.
(Anámnesis, 3).
448
Missal Romano. Sexta-feira na oitava da Páscoa: oração do dia. 9. ed. São Paulo: Paulus, 2004, p. 301.
449
“Laudet te, domine, ora nostra, laudet anima, laudet et vita; et quia tui muneris est quod sumus, tuum sit
omne quod vivemus: per Christum dominum nostrum”. MOHLBERG, Leo Cunibert (Editor). Sacramentarium
Veronense (Leonianum). Roma: Herder, 1966, n. 1329. (Rerum Ecclesiasticarum Documenta).
118

deste momento o lugar de uma verdadeira súplica a Deus Pai, expressão de sua vida e de sua

experiência religiosa”450, garante o Documento 43.

Diante das possibilidades de diversos elementos rituais para iniciar a celebração,

aqueles que preparam e presidem a liturgia precisam considerar como prioritária a finalidade

destes ritos e não os meios. Os ritos iniciais serão breves, sem repetições desnecessárias e

acessíveis à compreensão dos fiéis. Por isso, sendo a liturgia ponto culminante e fonte da vida

e da ação cristã, a vida e o agir do povo de Deus estarão presentes desde o início da liturgia.

Assim, o povo de Deus participará de forma mais consciente, ativa e frutuosa da Celebração

Dominical da Palavra de Deus451.

2 A vida na liturgia da Palavra

Uma vez constituída a assembleia litúrgica, consciente da presença do Senhor, ela

participa da mesa da Palavra de Deus, coração da celebração e seu fundamento. Por meio da

abertura e escuta da Palavra proclamada na celebração, imprescindível para a vida cristã, a

Páscoa vivida pelo povo é inserida na Páscoa de Cristo. “O incremento da vida litúrgica e, por

consequência, o desenvolvimento da vida cristã não poderão tornar-se realidade, se não se

promover [...] um suave e vivo amor da Sagrada Escritura”452, afirmou o papa João Paulo II.

Através da liturgia da Palavra, Cristo fala aos fiéis, orienta suas vidas, consola-os na realidade

difícil e complicada em que vivem e renova-lhes a esperança.

A assembleia, por ação do Espírito Santo, interpreta sua vida à luz da Palavra

proclamada e, do mesmo modo, capta na história a presença ou não da mensagem evangélica

450
Doc. 43 da CNBB, n. 260.
451
Cf. LUTZ, Gregório. Liturgia “fria” ou “quente”. In: COSTA, Valeriano Santos (Org). Liturgia: peregrinação
ao coração do Mistério. São Paulo: Paulinas, 2009, p. 168. (Coleção celebrar e viver a fé); NOCENT, Adrien.
Em torno da reforma do ordinário da missa. In: BARAÚNA, Guilherme (Org). A Sagrada Liturgia renovada
pelo Concílio. Petrópolis: Vozes, 1964, p. 469.
452
JOÃO PAULO II. Vigesimus Quintus Annus: Carta Apostólica sobre o XXV aniversário da Sacrosanctum
Concilium sobre a Sagrada Liturgia. Petrópolis, 1989, n. 8. (Documentos Pontifícios, 227).
119

proclamada na celebração. A Palavra de Deus na liturgia, expressa o papa Bento XVI,

propicia à assembleia “perceber o agir de Deus na história da salvação e na vida pessoal de

cada um dos seus membros”453. A presença ativa de Cristo e de seu Espírito na liturgia da

Palavra vivifica a celebração, abre o coração dos fiéis para a acolhida da Palavra que é

alimento para a humanidade, faz reconhecer os sinais dos tempos presentes na história,

auxilia-os a traduzir na vida o que escutaram na liturgia e a se comprometerem com o Reino

de Deus454.

Porém, para que esta Palavra repercuta na vida do povo de Deus, a liturgia da Palavra

requer esmero em sua preparação e zelo na celebração. Não basta que a Palavra de Deus seja

proclamada na língua conhecida do povo, ela precisa ser proclamada com entusiasmo e isto

requer preparação prévia, escuta devota e silêncio meditativo para que a Palavra de Deus

impacte a vida do fiel, iluminando-a e transfigurando-a455.

Na preparação e celebração da Palavra, o ambão também merece cuidado. Ele é a

mesa da Palavra de Deus, lugar de onde o Senhor oferece o primeiro e necessário alimento da

vida cristã. Através desta mesa bendita, Deus alimenta seu povo com a Palavra que atua na

vida da assembleia reunida e leva os seus filhos a traduzir a Palavra em suas vidas. Por isso, a

liturgia da Palavra que acontece em torno do ambão, transmite, anuncia e atua vitalmente no

povo de Deus456.

453
BENTO XVI. Verbum Domini: Exortação Apostólica Pós-Sinodal sobre a Palavra de Deus na vida e na
missão da Igreja. São Paulo: Paulinas, 2010, n. 53. (A voz do papa, 194).
454
Cf. ALDAZÁBAL, José. A Eucaristia. In: BORÓBIO, Dionisio (Org). A celebração na Igreja. Vol. II:
Sacramentos. São Paulo: Loyola, 1993, p. 325; D‟ANNIBALE. Miguel Ángel; PALUDO, Faustino. A Palavra
de Deus na celebração. In: CELAM. Manual de liturgia. A celebração do Mistério Pascal. Vol. II: Fundamentos
teológicos e elementos constitutivos. São Paulo: Paulus, 2005, p. 161-162; JUNGMANN, Josef Andreas.
Missarum Sollemnia: origens, liturgia, história e teologia da missa romana. São Paulo: Paulus, 2009, p. 391;
KÉMÉRER, Jorge. Celebração da Palavra de Deus sem sacerdote. In: BARAÚNA, Guilherme (Org). A Sagrada
Liturgia renovada pelo Concílio. Petrópolis: Vozes, 1964, p. 510; MALDONADO, Luis. A homilia: pregação,
liturgia, comunidade. São Paulo: Paulus, 1997, p. 92; MESTERS, Carlos. O apocalipse de São João. Uma chave
de leitura. Curso de verão: IV, São Paulo, p. 35, 1990. (Coleção teologia popular); OLM, n. 9.
455
Cf. JOÃO PAULO II. Mane nobiscum: Carta Apostólica para o Ano da Eucaristia. 4. ed. São Paulo: Paulinas,
2005, n. 13. (A voz do papa, 187); MALDONADO, Luis; FERNADEZ, Pedro. A celebração litúrgica:
fenomenologia e teologia da celebração. In: BORÓBIO, Dionisio (Org). A celebração na Igreja. Vol. I: Liturgia
e sacramentologia fundamental. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2002, p. 193.
456
Cf. AROCENA, Félix María. La celebración de la palabra. Teología y pastoral. Barcelona: Centre de
Pastoral Litúrgica, 2005, p. 126; 136; 169. (Biblioteca Litúrgica, 24); COSTA, Valeriano Santos. Celebrar a
Eucaristia: tempo de restaurar a vida. São Paulo: Paulinas, 2006, p. 41-43. (Coleção Tabor); OLM, n. 32-34.
120

Durante a liturgia da Palavra, assim como em toda a celebração, Deus é quem toma a

iniciativa de falar ao seu povo. Arocena afirma que “se a vida eterna significa contemplar a

Deus que é Luz, também significa ouvir a Deus que é Palavra” 457. Por isso, com a primeira

leitura, a assembleia escuta a Deus. Terminada a proclamação, o leitor dirige-se à assembleia

com a aclamação: “Palavra do Senhor”. A resposta: “Demos graças a Deus”, indica que os

fiéis ouviram o Senhor, entenderam o que ele acaba de dizer e viverão a Palavra458.

A primeira leitura é prolongada e aprofundada, de forma poética e contemplativa,

através de um salmo responsorial459. Nos salmos, a vida e as experiências humanas estão

presentes. Segundo Lauster, “nos salmos repercute toda a diversidade imensa da experiência

de vida humana, que se estende desde a alegria e a gratidão até a dor e sofrimento” 460. Através

do salmo na liturgia da Palavra, a assembleia litúrgica interioriza e apropria-se da Palavra de

Deus. Além disso, o salmo responsorial atinge a vida do povo de Deus e suas relações461.

A segunda leitura geralmente é tirada das cartas apostólicas. Ela possui valor de

testemunho das primeiras comunidades, estimulando os fiéis a viverem o Mistério celebrado e

serem testemunhas atuais de Cristo.

Contudo, o ponto alto da liturgia da Palavra é a proclamação do Evangelho. Cristo fala

à comunidade reunida como falou a seus apóstolos na tarde de sua ressurreição. Por sua vez, o

457
AROCENA, Félix María. La celebración de la palabra. Teología y pastoral. Barcelona: Centre de Pastoral
Litúrgica, 2005, p. 103.
458
“A Palavra é escutada na medida em que é realizada e posta em prática; se não há realização, é porque não
houve escuta”. BIANCHI, Enzo. Presbíteros: Palavra e Liturgia. São Paulo: Paulus, 2010, p. 48.
459
“O salmo responsorial [...] está sempre referido à leitura que o precede. Por isso é responsorial. É Palavra de
Deus, portanto ainda Deus falando, e não resposta da assembléia à Palavra proclamada”. COSTA, Valeriano
Santos. Celebrar a Eucaristia: tempo de restaurar a vida. São Paulo: Paulinas, 2006, p. 44. (Coleção Tabor).
460
LAUSTER, Jörg. Religião como intepretação da vida. São Paulo: Loyola, 2009, p. 66. (Theologica).
461
Cf. AROCENA, Félix María. La celebración de la palabra. Teología y pastoral. Barcelona: Centre de
Pastoral Litúrgica, 2005, p. 99. (Biblioteca Litúrgica, 24); IGMR 18; 39; OLM 21; 22.
121

povo acolhe o Senhor que lhe vai falar com o canto do Aleluia 462 ou outro apropriado,

dependendo do tempo litúrgico463.

Além dos textos bíblicos na liturgia da Palavra, o Documento 52 da CNBB deixa

transparecer a prática de algumas comunidades que preferem lembrar os fatos importantes da

semana como leitura da atuação de Deus na história atual. Bernal defende esta prática e

oferece orientações da seguinte forma:

Se é certo que Deus se revela na vida e nos acontecimentos, não vejo razão
alguma para impedir a possibilidade de ler tudo aquilo que é expoente da vida,
mas com uma condição. Isto é, na condição de que esta leitura não substitua a
leitura da Bíblia. Há de ser precisamente a Escritura o critério mediador que
nos permita estabelecer uma interpretação cristã da vida e dos acontecimentos.
Só à luz do plano de Deus, revelado em Jesus, é possível descobrir a presença
divina no acontecer do mundo464.

Esta prática de algumas comunidades, presente no Roteiro F do Documento 52 da

CNBB, pode parecer estranha para muitas pessoas, mas ainda no fim do século IV, os Atos

dos mártires eram lidos na missa no dia do aniversário da sua paixão. Por mais que a primazia

sempre tenha sido da Sagrada Escritura, existem testemunhos desta prática na África com

462
O Aleluia ressoa quatro vezes nos cantos celestiais do apocalipse (cf. Ap 19,1.3.4.6). O Aleluia é uma
aclamação com uma mensagem: Hallelu Ya! Se forma do imperativo do verbo hebreo Hallel (Louvar) e o nome
de Deus Yahvé, porém, resumido: Ya. Então, Hallelu-Ya equivale a dizer louvado seja Yahvé, louvado seja o
Senhor! Cf. AROCENA, Félix María. La celebración de la palabra. Teología y pastoral. Barcelona: Centre de
Pastoral Litúrgica, 2005, p. 102. (Biblioteca Litúrgica, 24).
463
“No Tempo da Quaresma, no lugar do Aleluia, canta-se o versículo antes do Evangelho proposto no
lecionário. Pode-se cantar também um segundo salmo ou trato, como se encontra no gradual”. IGMR, n. 62.
Segundo Lucien Deiss, o povo poderá, ainda, aclamar o Senhor da seguinte forma: “Mesmo que se celebre
durante a semana diante de uma assembléia reduzida, mesmo que o espaço exíguo não permita uma procissão
solene, dever-se-ia ao menos fazer a ostensio Evangelii, isto é, mostrar o livro dos Evangelhos: o celebrante
toma o livro de cima do altar, mostra-o à assembléia que aclama o Cristo. Essa ostensio é semelhante à da hóstia
consagrada e à do cálice, por ocasião da consagração. Mesmo em situações as mais humildes, o rito conserva seu
luminoso significado”. DEISS, Lucien. A Palavra de Deus Celebrada: Teologia da Celebração da Palavra de
Deus. Petrópolis: Vozes, 1998, p. 151. A Igreja venera a Sagrada Escritura tal como o faz com o Corpo do
Senhor. Tanto que antigamente havia em algumas igrejas dois sacrários: um para guardar a Eucaristia e outro
para guardar a Bíblia. Cf. BUYST, Ione. Celebração do domingo ao redor da Palavra de Deus. São Paulo:
Paulinas, 2002, p. 72. (Coleção Celebrar); Dei Verbum, n. 21.
464
BERNAL, José. Leituras não bíblicas? In: ALDAZÁBAL, José; ROCA, Josep (Org). A arte da homilia. Prior
Velho [Portugal]: Paulinas, 2006, p. 54. Os fatos importantes poderão ser lidos como introdução à liturgia da
Palavra ou intercalados com as leituras ou, ainda, inseridos dentro da homilia.
122

Santo Agostinho, na Gália e em vários outros lugares. Em Milão, ainda hoje, a vida dos santos

é lida nas festas de padroeiros465.

Entretanto, por mais que os textos não bíblicos ajudem a assembleia a compreender a

Palavra de Deus dentro da vida, é importante salientar que os textos bíblicos nunca devem ser

substituídos por texto algum. É melhor citar os textos não bíblicos na homilia. É importante

salientar, ainda, que nenhum acontecimento é de per si Palavra de Deus e que estes

acontecimentos precisam ser interpretados na homilia466.

A homilia apresenta aos fiéis, no decorrer do Ano Litúrgico, os mistérios da fé e as

normas de vida cristã. Através dela, as leituras bíblicas ouvidas são interpretadas e

atualizadas. No entanto, a homilia atualiza a Palavra de Deus quando relaciona três realidades:

a Palavra, a vida e o rito467. Na homilia, a Sagrada Escritura, a vida dos ouvintes e a

celebração estão em mútua exigência, como apresenta Aldazábal:

- o seu enfoque na Palavra bíblica, para a entender e explicá-la à comunidade,


- o seu enfoque na vida, para aplicar a Palavra à história que estamos a viver
hoje e aqui, às pessoas que nos escutam,
- e a sua „passagem ao rito‟, para ajudar a comunidade celebrante a passar da
Palavra ao Sacramento, onde essa mesma Palavra adquire a sua maior
atualidade e a sua eficácia salvadora 468.

A partir das leituras bíblicas, a homilia ilumina a vida do fiel, a realidade da

assembleia e conduz o povo de Deus a celebrar e viver o Mistério de Cristo. Ao interpretar as

experiências da vida e mostrar o verdadeiro sentido da realidade, a homilia propaga a luz da

Palavra na vida do povo de Deus, enchendo a vida dos fiéis de alegria469. Na homilia, a

profundidade bíblico-teológica caminha de mãos dadas com a profundidade da realidade,


465
Cf. JUNGMANN, Josef Andreas. Missarum Sollemnia: origens, liturgia, história e teologia da missa romana.
São Paulo: Paulus, 2009, p. 388; NOCENT, Adrien. Em torno da reforma do ordinário da missa. In:
BARAÚNA, Guilherme (Org). A Sagrada Liturgia renovada pelo Concílio. Petrópolis: Vozes, 1964, p. 479-480.
466
Cf. BUYST, Ione. A missa: memória de Jesus no coração da vida. São Paulo: Paulinas, 2004, p. 72. (Coleção
Celebrar); Id. Celebração do domingo ao redor da Palavra de Deus. São Paulo: Paulinas, 2002, p. 73. (Coleção
Celebrar).
467
Cf. Doc. 43 da CNBB, n. 276.
468
ALDAZÁBAL, José. A homilia, de actualidade. In: Id; ROCA, Josep (Org). A arte da homilia. Prior Velho
[Portugal]: Paulinas, 2006, p. 13. (Dessedentar, 4).
469
Cf. KASPER, Cardeal Walter. Servidores da alegria: existência sacerdotal, serviço sacerdotal. São Paulo:
Loyola, 2008, p. 84-87; MARTÍN, Julián López. No espírito e na verdade. Vol. II: Introdução antropológica à
liturgia. Petrópolis: Vozes, 1997, p. 79; NOCENT, Adrien. Em torno da reforma do ordinário da missa. In:
BARAÚNA, Guilherme (Org). A Sagrada Liturgia renovada pelo Concílio. Petrópolis: Vozes, 1964, p. 469;
OLM, n. 24; Sacrosanctum Concilium, n. 52.
123

porque ela é um serviço à Palavra de Deus e simultaneamente um serviço à assembleia. Só se

converte em homilia uma interpretação da Escritura que tem em vista a vida dos ouvintes 470.

Dos três enfoques, Palavra, vida e rito, o „olhar a vida‟ pertence à dimensão profética da

homilia, dimensão que será mais bem aprofundada na sequência deste trabalho.

O decreto do Concílio Vaticano II sobre o ministério e a vida dos presbíteros,

Presbyterorum ordinis, orienta que a homilia “não deve expor apenas de modo geral e

abstrato a palavra de Deus, mas sim aplicando às circunstâncias concretas da vida a verdade

perene do Evangelho”471. A homilia é o momento privilegiado de revelar a Palavra presente na

realidade, de apontar para a presença oculta do Senhor nos acontecimentos e manifestar os

sinais dos tempos.

A Conferência Latinoamericana de Puebla apresentou a homilia como “ocasião

privilegiada para se expor o Mistério de Cristo no „aqui e agora‟ da comunidade, partindo dos

textos sagrados, relacionado-os com o sacramento e aplicando-os à vida concreta”472. A

homilia não só interpreta os textos bíblicos, mas igualmente os fatos da vida. Não manifesta

só o passado, mas também o presente. Não apresenta só o que Jesus fez e disse, mas o que faz

e diz hoje473.

Na exortação apostólica sobre a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja, o papa

Bento XVI exortou que “a homilia constitui uma atualização da mensagem da Sagrada

Escritura, de tal modo que os fiéis sejam levados a descobrir a presença e a eficácia da

470
Cf. ALBERTON, Elcio. Homilia: arte de ouvir e falar. Revista Eclesiástica Brasileira, Petrópolis, v. 70, n.
278, p. 436-450, abr. 2010; ALDAZÁBAL, José. A Eucaristia. In: BORÓBIO, Dionisio (Org). A celebração na
Igreja. Vol. II: Sacramentos. São Paulo: Loyola, 1993, p. 330; AROCENA, Félix María. La celebración de la
palabra. Teología y pastoral. Barcelona: Centre de Pastoral Litúrgica, 2005, p. 107. (Biblioteca Litúrgica, 24);
BUYST, Ione. Celebração Dominical. Revista de Liturgia, São Paulo, n. 52, p. 19, jul./ago. 1982; COSTA,
Valeriano Santos. Celebrar a Eucaristia: tempo de restaurar a vida. São Paulo: Paulinas, 2006, p. 50-53.
(Coleção Tabor); GUINDA, Francisco Javier Calvo. Homilética. Madrid: Biblioteca de autores cristianos, 2006,
p. 49; 62. (Sapientia Fidei – Serie de Manuales de Teología, 29).
471
Presbyterorum Ordinis, n. 4.
472
Puebla, n. 930.
473
Cf. MALDONADO, Luis. A homilia: pregação, liturgia, comunidade. São Paulo: Paulus, 1997, p. 12; 25.
124

Palavra de Deus no momento atual da sua vida”474. A homilia tem a obrigação de mostrar

como Deus está presente, atuante na história e chama todos à conversão. A homilia precisa

mostrar com fatos atuais que a Palavra de Deus se cumpre e é eficaz hoje475.

Consequentemente, a tarefa da pessoa responsável pela homilia é relacionar a Palavra

de Deus com a celebração e com a realidade dos que o escutam476. O homiliasta, afirma o

Documento 52, “atualiza a Palavra de Deus, de modo a interpelar a realidade da vida pessoal

e comunitária, fazendo perceber o sentido dos acontecimentos, à luz do plano de Deus, tendo

como referencial a pessoa, a vida, a missão e o Mistério Pascal de Jesus Cristo”477. A tarefa da

pessoa responsável pela homilia é ligar liturgia e vida, levar o povo de Deus a um encontro

com Jesus em sua realidade atual478.

O homiliasta precisa, também, preocupar-se com a linguagem usada na homilia. Ele

não deve proferir palavras alheias à vida concreta da assembleia, palavras abstratas, aulas de

Bíblia ou moral479. A linguagem usada na homilia deve ser existencial, simbólica, própria da

liturgia. Por isso, a Recordação da Vida realizada nos ritos iniciais ou no início da liturgia da

Palavra ajudará o homiliasta a situar as leituras no contexto histórico da comunidade reunida

para que ela perceba o que o Senhor solicita a ela. Desse modo, a realidade pessoal,

474
BENTO XVI. Verbum Domini: Exortação Apostólica Pós-Sinodal sobre a Palavra de Deus na vida e na
missão da Igreja. São Paulo: Paulinas, 2010, n. 59. (A voz do papa, 194).
475
Cf. BUYST, Ione. A missa: memória de Jesus no coração da vida. São Paulo: Paulinas, 2004, p. 62. (Coleção
Celebrar); Id. Homilia, partilha da Palavra. 5. ed. São Paulo: Paulinas, 2004, p. 19. (Coleção Rede Celebra, 3).
476
“Em virtude do Batismo e da Confirmação, os fiéis leigos são testemunhas da mensagem evangélica,
mediante a palavra e o exemplo de vida cristã; podem também ser chamados a cooperar com o Bispo e os
presbíteros no exercício do ministério da palavra”. Código de Direito Canônico, can. 759.
477
Doc. 52 da CNBB, n. 75.
478
Cf. ALANIS, Martí. O problema da homilia. In: ALDAZÁBAL, José; ROCA, Josep (Org). A arte da homilia.
Prior Velho [Portugal]: Paulinas, 2006, p. 14; BUYST, Ione. Liturgia, de coração. Espiritualidade da celebração.
ed. ampl. São Paulo: Paulus, 2003, p. 51; Lumen Gentium, n. 35; OLM, n. 24; ZAVAREZ, Maria de Lourdes.
Homilia: “Conversa familiar”, ligando Vida, Palavra de Deus e Celebração. In: CNBB. Liturgia em Mutirão:
subsídios para formação. Brasília: CNBB, 2007, p. 113-117.
479
“A orientação prática e concreta que há de ter a interpretação da Escritura não deve convertê-la em mera
busca de normas morais, que orientem em cada momento a atuação prática do crente. Se a Bíblia não é uma
simples crônica, nem um tratado filosófico ou dogmático, tão-pouco podemos considerá-la como mero manual
de receitas morais”. LLOPIS, Joan. Exegese e homilia. In: ALDAZÁBAL, José; ROCA, Josep (Org). A arte da
homilia. Prior Velho [Portugal]: Paulinas, 2006, p. 32.
125

comunitária e social estará presente na homilia e impulsionará o fiel a uma resposta de

compromisso com o Reino de Deus480.

Por fim, o homiliasta fará a homilia brotar da sua contemplação das leituras bíblicas,

dos textos eucológicos e da realidade. Ele ouvirá e meditará a voz do Senhor antes de

apresentá-la aos fiéis. Contemplará a realidade, maravilhando-se ou entristecendo-se com o

que acontece ao seu redor481. O homilista é um irmão que dirige suas palavras a outros irmãos,

prepara a homilia quando se esforça por viver a riqueza do Evangelho, quando vive o que diz,

quando estuda continuamente a Bíblia e a Teologia, quando conhece a assembleia e está

próximo das pessoas, dos seus problemas, das suas dores, quando lê o jornal e quando ora.

Quanto mais clara é a realidade da comunidade para o responsável pela homilia, tanto mais

poderá a homilia alcançar o povo de Deus e ser frutuosa, de modo que o fiel sinta que se trata

de algo seu, que dá uma resposta a suas interrogações482.

Em comunidades menores, a homilia poderá ser partilhada, conforme sugestão dos

Documentos 43 e 52 da CNBB. A assembleia pode manifestar como a Palavra ilumina a sua

realidade, relatar fatos de vida, expressar suas reflexões e sugerir aplicações concretas da

Palavra de Deus483. No Diretório das missas com crianças também se encontra a sugestão da

homilia partilhada: “a homilia destinada às crianças pode realizar-se, algumas vezes, em

480
Cf. BUYST, Ione. A missa: memória de Jesus no coração da vida. São Paulo: Paulinas, 2004, p. 62. (Coleção
Celebrar); DEISS, Lucien. A Palavra de Deus Celebrada: Teologia da Celebração da Palavra de Deus.
Petrópolis: Vozes, 1998, p. 109; MALDONADO, Luis. A homilia: pregação, liturgia, comunidade. São Paulo:
Paulus, 1997, p. 150.
481
“Para uma adequada „aplicação à vida‟, o pregador deve esforçar-se por conhecer a assembléia: as suas
circunstâncias, a sua ideologia e sensibilidade. Deve entrar em sintonia com a vida da comunidade concreta que
celebra com ele. Tal como refletiu sobre o que diz a Palavra, deverá meditar sobre os aspectos em que a Palavra
interpela, hoje e aqui, estes ouvintes que, provavelmente, serão distintos dos do ano passado. [...] Se foi fiel à
Palavra, deverá também ser fiel à comunidade e à sua vida”. ALDAZÁBAL, José. Aplicação da Palavra ao
„hoje‟ e „aqui‟. In: Id; ROCA, Josep (Org). A arte da homilia. Prior Velho [Portugal]: Paulinas, 2006, p. 50-51.
482
Cf. ALANIS, Martí. O problema da homilia. In: Id; ROCA, Josep (Org). A arte da homilia. Prior Velho
[Portugal]: Paulinas, 2006, p. 16; D‟ANNIBALE. Miguel Ángel; PALUDO, Faustino. A Palavra de Deus na
celebração. In: CELAM. Manual de liturgia. A celebração do Mistério Pascal. Vol. II: Fundamentos teológicos e
elementos constitutivos. São Paulo: Paulus, 2005, p. 181; DEISS, Lucien. A Palavra de Deus Celebrada:
Teologia da Celebração da Palavra de Deus. Petrópolis: Vozes, 1998, p. 108; GUINDA, Francisco Javier Calvo.
Homilética. Madrid: Biblioteca de autores cristianos, 2006, p. 50. (Sapientia Fidei – Serie de Manuales de
Teología, 29).
483
Cf. Doc. 43 da CNBB, n. 279; Doc. 52 da CNBB, n. 77.
126

forma de diálogo com elas”484. A possibilidade de diálogo na homilia é expressa, ainda, na

Instrução acerca de algumas questões sobre a colaboração dos fiéis leigos no sagrado

ministério dos sacerdotes: “A possibilidade do „diálogo‟ na homilia pode, às vezes, ser

utilizada com prudência pelo ministro celebrante, como meio expositivo através do qual não

se delega a outrem o dever da pregação” 485. Em grupos pequenos, onde a comunicação é

facilitada, é possível que quase todos possam partilhar as leituras bíblicas. Porém, a homilia

partilhada não dispensa àquele que preside de preparar e realizar a homilia. A homilia

partilhada facilita a vivência fraternal, estimula o sentimento de pertença à comunidade e

auxilia uma maior participação na Celebração Dominical da Palavra de Deus 486. E o

homiliasta garantirá a autenticidade da interpretação da Palavra de Deus.

Certamente que estes documentos citados no parágrafo anterior não estão incentivando

o subjetivismo. Os documentos querem levar a assembleia a contemplar e admirar a Palavra e

a realidade, assim como fez o homiliasta. Que os fiéis devam preparar-se para a celebração

não é uma exigência atual, mas é uma orientação muito antiga que São João Crisóstomo

transmitiu ao seu povo em uma das suas homilias:

Antes de abordarmos as palavras do Evangelho, tenho um favor a vos pedir.


Não é nada de pesado ou impossível o que vos peço. Se concordardes, vai ser
útil não só a mim, mas sobretudo a vós mesmos que aceitais meu pedido. Mais
ainda, será mais útil a vós que a mim. Qual é esse pedido?
Que no primeiro dia da semana, ou mesmo no sábado, tomeis em mão o texto
do Evangelho que vai ser lido na assembléia (no domingo seguinte). Que
exploreis e examineis o que aí está dito. Que anoteis o que está claro, o que
está obscuro, o que parece opor-se, mesmo que na realidade nada entre em
oposição. Assim vireis à assembléia depois de ter refletido bastante em tudo.
Não será um benefício pequeno que tiraremos juntos deste estudo. Quanto a
nós, não precisaremos mais de muito esforço, para expor a força das palavras
(bíblicas), uma vez que o vosso espírito já estará bem habituado ao
conhecimento do que está sendo dito. E vós mesmos, com um espírito mais
penetrante e mais perspicaz, ouvireis a aprendereis melhor487.

484
CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO. Diretório das missas com crianças, n. 48. In: CNBB.
Pastoral dos Sacramentos da Iniciação Cristã. São Paulo: Paulinas, 1989, p. 134. (Documentos da CNBB, 2a).
485
CONGREGAÇÃO PARA O CLERO; et al. Instrução acerca de algumas questões sobre a colaboração dos
fiéis leigos no sagrado ministério dos sacerdotes. São Paulo: Paulinas, 1997, n. 3,3. (A voz do papa, 154).
486
Cf. GUINDA, Francisco Javier Calvo. Homilética. Madrid: Biblioteca de autores cristianos, 2006, p. 184.
(Sapientia Fidei – Serie de Manuales de Teología, 29).
487
JOÃO CRISÓSTOMO. Homilias sobre São João, 11,1. In: DEISS, Lucien. A Palavra de Deus Celebrada:
Teologia da Celebração da Palavra de Deus. Petrópolis: Vozes, 1998, p. 104.
127

O fiel é convidado a preparar-se para a liturgia lendo, aprofundando e contemplando a

Palavra que toca os seus problemas, sonhos, acertos e desacertos488. Ao aprofundar as leituras

bíblicas através de preparação remota e ao ouvir a Palavra de Deus proclamada na celebração,

a assembleia poderá ouvir novamente de Jesus: “Hoje se cumpriu aos vossos ouvidos essa

passagem da Escritura” (Lc 4,21), ou até mesmo exclamar: “Hoje se cumpriu para nós essa

palavra que acabamos de ouvir”489.

Portanto, a homilia ilumina, alimenta e provoca o fiel e a comunidade reunida a uma

resposta de acolhimento e compromisso. A homilia precisa aplicar a Palavra às circunstâncias

concretas da vida, convidar a assembleia a praticar as exigências da vida cristã e motivar a

assembleia para a ação de graças.

Depois da homilia, a assembleia proclama a fé através do “Creio” que poderá ser

recitado ou cantado. O missal explica a razão de ser do credo: “levar todo o povo reunido a

responder à Palavra de Deus anunciada da Sagrada Escritura e explicada pela homilia, [...]

recordar e professar os grandes mistérios da fé”490. Esta profissão de fé é resposta de aceitação

488
“A leitura orante pessoal e comunitária prepara, acompanha e aprofunda o que a Igreja celebra com a
proclamação da Palavra no âmbito litúrgico. Colocando em relação tão estreita lectio e liturgia, podem-se
identificar melhor os critérios que devem guiar esta leitura no contexto da pastoral e da vida espiritual do Povo
de Deus”. BENTO XVI. Verbum Domini: Exortação Apostólica Pós-Sinodal sobre a Palavra de Deus na vida e
na missão da Igreja. São Paulo: Paulinas, 2010, n. 158. (A voz do papa, 194). Para aprofundamento da Lectio
Divina, confira algumas obras: BARBAN, Alessandro. O caminho espiritual da lectio divina. In: Id; WONG,
Joseph (Org). Como água da fonte: a espiritualidade monástica camaldolense entre memória e profecia. São
Paulo: Loyola, 2009, p. 157-183; BIANCHI, Enzo. Rezar a Palavra. In: GUIGO II, Cartuxo. et. al. Lectio
Divina: ontem e hoje. 3. ed. Juiz de Fora: Subiaco, 2005, p. 35-108; BIANCO, Enzo. Lectio Divina: encontrar
Deus na sua Palavra. São Paulo: Salesiana, 2009; CNBB. Leitura Orante nos seminários e casas de formação:
“Fala Senhor, teu servo escuta”. Brasília: CNBB, 2010. (Documentos da CNBB, 93); COVOLO, Enrico. A
“Lectio” Divina nos padres da Igreja. Revista Benedetina, Juiz de Fora, n. 26/27, p. 31-43, mar./jun. 2008;
GIURISATO, Giorgio. Lectio Divina hoje. In: GUIGO II, Cartuxo; et al. Lectio Divina: ontem e hoje. 3. ed. Juiz
de Fora: Subiaco, 2005, p. 130-169; OLIVERA, Bernardo. A tradição da “Lectio” Divina. Revista Benedetina,
Juiz de Fora, n. 26/27, p. 3-30, mar./jun. 2008; RUIZ, Pilar Avellaneda. A dimensão esponsal na “Lectio”
Divina. Revista Benedetina, Juiz de Fora, n. 26/27, p. 57-70, mar./jun. 2008; TERRA, João Evangelista Martins.
Lectio divina: leitura de meditação e contemplação da Palavra de Deus. São Paulo: Ave-Maria, 2009; TURRA,
Luiz. Leitura Orante da Bíblia. In: CNBB. Liturgia em Mutirão II: subsídios para formação. Brasília: CNBB,
2009, p. 205-207; VINNEL, Albert. A lectio divina. In: GUIGO II, Cartuxo; et al. Lectio Divina: ontem e hoje.
3. ed. Juiz de Fora: Subiaco, 2005, p. 171-195.
489
Cf. BIANCHI, Enzo. Presbíteros: Palavra e Liturgia. São Paulo: Paulus, 2010, p. 60; BUYST, Ione. Homilia,
partilha da Palavra. 5. ed. São Paulo: Paulinas, 2004, p. 19-28; DEISS, Lucien. A Palavra de Deus Celebrada:
Teologia da Celebração da Palavra de Deus. Petrópolis: Vozes, 1998, p. 94; MALDONADO, Luis. A homilia:
pregação, liturgia, comunidade. São Paulo: Paulus, 1997, p. 13; 89; 121.
490
IGMR, n. 67.
128

dos fiéis à Palavra de Deus ouvida nas leituras e na homilia e compromisso de viver esta

Palavra491.

A liturgia da Palavra poderá ser finalizada com a oração universal ou dos fiéis492.

Através desta oração, a Palavra de Deus ouvida, meditada e professada continua sendo

celebrada sob a forma de pedidos. A Palavra semeada começa a se enraizar na vida dos fiéis

através dos pedidos para a Igreja, para a comunidade civil e para todo o mundo. Os fiéis oram

ao Pai para que a salvação, que as leituras anunciaram e atualizaram, seja eficaz e se cumpra

na vida da Igreja e da humanidade inteira.

As orações que os fiéis elevam ao Senhor são frutos da contemplação da Palavra, do

Mistério celebrado e da vida das pessoas493. Não são orações individualistas e intimistas. Na

oração, o pedido pronunciado por um torna-se o pedido de todos: “Senhor, escutai a nossa

prece!” É a prece do povo que exerce sua função sacerdotal e pede a Deus por toda a

humanidade e suas necessidades.

O Documento 43 sugere que, na oração dos fiéis, “sem negligenciar a abertura para os

grandes problemas e acontecimentos da Igreja universal, dar-se-á espaço para as necessidades

mais sentidas pela comunidade”494. Através da oração universal, os fiéis apresentarão ao Pai

os fatos que marcaram o bairro, os acontecimentos que se passaram com alguém da

comunidade ou, até mesmo, o que se consideraria insignificante. Desse modo, tudo poderá

491
COSTA, Valeriano Santos. Celebrar a Eucaristia: tempo de restaurar a vida. São Paulo: Paulinas, 2006, p.
54. (Coleção Tabor).
492
Justino dá testemunho claro desta oração: “Nós o levamos [o neo-batizado] aos que se chamam irmãos, no
lugar em que estão reunidos, a fim de elevar fervorosamente orações em comum por nós mesmos, por aquele que
acaba de ser iluminado e por todos os outros espalhados pelo mundo inteiro, suplicando que se nos conceda, já
que conhecemos a verdade, ser encontrados por nossas obras como homens de boa conduta e observantes do que
nos mandaram, e assim consigamos a salvação eterna”. JUSTINO DE ROMA. Apologia I, 65. In: Id. I e II
Apologias. Diálogo com Trifão. São Paulo: Paulus, 1995. (Coleção patrística, 3).
493
Nocent afirma que a oração dos fiéis “deve estar em relação com a vida concreta de hoje e com as
necessidades sentidas pela comunidade”. NOCENT, Adrien. História da celebração da Eucaristia. In: MARSILI,
Salvatore; et al. A Eucaristia: teologia e história da celebração. São Paulo: Paulus, 1986, p. 240. (Anámnesis, 3).
494
Doc. 43 da CNBB, n. 284.
129

levar os fiéis a elevar os olhos para Deus, comprometê-los com a Palavra e a realidade e, levá-

los a assumir a missão de batizados fazendo a oração retornar à vida495.

A liturgia da Palavra poderá terminar, também, com gestos simbólicos preparados pela

equipe de celebração de acordo com o Evangelho ou com a festa celebrada, ligados à vida da

assembleia, por exemplo: “procissão para o presépio”496 na festa do Natal; recepção da

bandeira da paz em uma vigília pela paz; memória da confirmação ou a recepção da bandeira

do Divino na festa de Pentecostes; unção com óleo perfumado no domingo com o Evangelho

da pecadora pública (cf. Lc 7,36-8,3); estender a mão à cruz no domingo com o Evangelho da

opção radical (cf. Lc 14,25-33); benção da luz e dos filhos da luz no Evangelho que Jesus

convida os discípulos a viver como filhos da luz 497 (Lc 16,1-13); procissão dos fiéis até a

Palavra, beijando-a ou inclinando a sua fronte ou tocando-a com a mão498.

A liturgia da Palavra poderá terminar, ainda, com uma coleta fraterna, sinal de

compromisso da assembleia litúrgica. Através deste sinal, as pessoas põem à disposição

donativos, dinheiro, mantimentos e roupas para as necessidades da comunidade e para os

necessitados. Enquanto a assembleia realiza a coleta fraterna, canta um canto apropriado para

495
Porém, existem comunidades que precisam aprender a rezar: “Infelizmente, em muitas comunidades, a oração
que deveria brotar do coração da comunidade, inspirada pelo Espírito, pela Palavra ouvida e pela vida vivida,
não existe. É substituída, muitas vezes, por uma leitura de „preces‟ e „intenções‟ extraídas de um folheto, feito
com meses de antecedência ou em realidades totalmente diferentes daquela comunidade. Esses „filhos‟, para
falar com seu Pai, escondem-se atrás de papel, atrás de fórmulas de orações escritas por outros”. BUYST, Ione.
Celebração do domingo ao redor da Palavra de Deus. São Paulo: Paulinas, 2002, p. 95. (Coleção Celebrar). Cf.
ALDAZÁBAL, José. Oración universal o de los fieles. In: Id. Vocabulário básico de liturgia. Barcelona: Centre
de Pastoral Litúrgica, 2002, p. 277. (Biblioteca Litúrgica, 3); AROCENA, Félix María. La celebración de la
palabra. Teología y pastoral. Barcelona: Centre de Pastoral Litúrgica, 2005, p. 107; 109. (Biblioteca Litúrgica,
24); AZCARATE, Andres. La flor de la liturgia renovada: manual de cultura y espiritualidad litúrgicas. 9. ed.
Buenos Aires: Claretiana, 1982, p. 68-69; COSTA, Valeriano Santos. Celebrar a Eucaristia: tempo de restaurar
a vida. São Paulo: Paulinas, 2006, p. 55. (Coleção Tabor); FONTBONA, Jaume. La Cena del Señor, misterio de
comunión. Barcelona: Centre de Pastoral Litúrgica, 2007, p. 235. (Biblioteca Litúrgica, 32); IGMR, n. 69;
LLOPIS, Joan. Reza-se de fato em nossas Eucaristias e faz-se rezar os participantes? Concilium, Petrópolis, n.
229, maio, p. 93-105, 1990; SCHALLER, Hans. Pedir e agradecer: unidade significativa. Concilium, Petrópolis,
n. 229, maio, p. 11-18, 1990; VELASCO, Juan Martín. Oração de petição e ação de graças nas religiões.
Concilium, Petrópolis, n. 229, maio, p. 19-30, 1990.
496
CARPANEDO, Penha; GUIMARÃES, Marcelo. Dia do Senhor: Guia para as Celebrações das Comunidades.
Vol. I. São Paulo: Paulinas; Apostolado Litúrgico, 2002, p. 146. (Coleção Liturgia no caminho. Série dominical
e santoral).
497
Cf. Ib. Vol. II, p. 107; 173; 184; 357; 366.
498
Cf. Ib. Vol. V, p. 190; KÉMÉRER, Jorge. Celebração da Palavra de Deus sem sacerdote. In: BARAÚNA,
Guilherme (Org). A Sagrada Liturgia renovada pelo Concílio. Petrópolis: Vozes, 1964, p. 511.
130

o momento499. Porém, para que esta coleta não seja confundida com o momento da

apresentação das oferendas na missa, Gregório Lutz orienta:

Não deve haver numa celebração que não é missa, um „ofertório‟ ou qualquer
oferecimento ritual. Só a missa é sacrifício, é atualização do único sacrifício
do Novo Testamento, ao lado do qual não pode haver outros. Isso não impede
que se faça durante estas celebrações dominicais uma coleta. Mas não
devemos dar a ela um aspecto de oblação. [...] devemos deixar clara a
finalidade deste gesto: a partilha com os pobres ou as necessidades da
comunidade. Assim não se pensa facilmente numa „oferta‟ 500.

A coleta de donativos pode ser concluída com uma oração que expresse a

disponibilidade de viver a partilha, a solidariedade e a vida em comum, como por exemplo: Ó

Deus, pastor das nossas vidas, bendito és pelas graças recebidas, pela maravilha de sermos

teus filhos amados, pelo amor que nos une como irmãos neste dia de domingo e pelos frutos

que recebemos da tua bondade, através da terra e do nosso trabalho que partilhamos

generosamente neste momento. Por Cristo, nosso Senhor. Amém.

Porém, não usar a oração sobre as oferendas da liturgia eucarística. Geralmente estas

orações possuem sentido sacrificial, aspecto que a coleta fraterna na Celebração Dominical da

Palavra de Deus não possui501.

Portanto, através da liturgia da Palavra, o fiel reconhece a sua própria vida, a história

da humanidade e as contempla durante a homilia que ligou as leituras bíblicas, o Mistério

celebrado e a Recordação da Vida feita nos ritos iniciais ou no início da liturgia da Palavra.

Na oração universal, o diálogo com Deus sobre a vida continuou a partir das Sagradas

Escrituras convertendo a comunidade e conduzindo-a ao compromisso com o Reino de Deus.

499
Cf. CARPANEDO, Penha; GUIMARÃES, Marcelo. Dia do Senhor: Guia para as Celebrações das
Comunidades. Vol. II. São Paulo: Paulinas; Apostolado Litúrgico, 2002, p. 45; 48; 51. (Coleção Liturgia no
caminho. Série dominical e santoral).
500
LUTZ, Gregório. Teologia da liturgia dominical sem padre. Revista de Liturgia, São Paulo, n. 52, p. 12,
jul./ago. 1982.
501
Cf. BUYST, Ione. Celebração do domingo ao redor da Palavra de Deus. São Paulo: Paulinas, 2002, p. 58.
(Coleção Celebrar).
131

3 A vida na liturgia de ação de graças

Na Celebração Dominical da Palavra de Deus, principalmente através da liturgia de

ação de graças, o povo reunido e tocado pela imensa misericórdia do Senhor, rende graças ao

Pai por sua intervenção na vida e na história da humanidade. O Documento 52 afirma que “a

ação de graças é um ponto alto e um elemento fundamental na Celebração Dominical da

Palavra de Deus”502. O Domingo é dia do louvor, da ação de graças a Deus que por sua ação

na história humana transformou-a em história de salvação. A ação de graças é a resposta do

ser humano que reconhece em sua vida a salvação operada por Deus. Com a ação de graças, a

assembleia aprende a assumir o encanto do agradecimento a Deus que se inclinou e continua a

assistir o ser humano com grande amor503.

A liturgia de ação de graças que acontece na Celebração Dominical da Palavra de

Deus também é memória da Páscoa de Cristo. Através da ação de graças, os cristãos

agradecem a Deus por sua intervenção decisiva na história que se deu na morte e ressurreição

de Jesus, acontecimento fundante e central da história da salvação. Na Páscoa de Jesus se

resumem e se atualizam todas as intervenções salvadoras de Deus junto ao seu povo que,

através da liturgia, participa deste Mistério Pascal e experimenta a redenção de Cristo. Por

isso, a ação de graças da assembleia é culto de adoração ao Pai pelo Mistério Pascal de Cristo,

pela intervenção de Deus na vida de seu povo504.

Porém, a centralidade do acontecimento Cristo e de seu Mistério Pascal na liturgia de

ação de graças não significa que nela não caibam outros fatos ou acontecimentos. A

celebração da Páscoa de Cristo não é uma simples lembrança do passado, mas uma memória

profética que deixa espaço para inserir a Páscoa do povo. O Mistério de Cristo penetra a vida

502
Doc. 52 da CNBB, n. 83.
503
Cf. Doc. 43 da CNBB, n. 101; Doc. 52 da CNBB, n. 83.
504
Cf. FLORES, Juan Javier. Introdução à teologia litúrgica. São Paulo: Paulinas, 2006, p. 166; RATZINGER,
Joseph. Introdução ao espírito da liturgia. 2. ed. Lisboa: Paulinas, 2006, p. 12-13.
132

da humanidade, impregna da presença de Deus e vivifica a vida do seguidor de Jesus 505. Por

isso, a ação de graças na Celebração Dominical da Palavra de Deus não pode tornar-se um

momento alheio à vida da humanidade, como expressa Martín:

Assim como Jesus não viveu à margem dos problemas humanos e das
aspirações do seu povo em sua vida terrena e fez da solução de alguns um
sinal da vinda do Reino de Deus, a liturgia, como obra da Igreja, também não
pode alienar-se das realidades deste mundo e pretender santificar os homens e
prestar culto a Deus à margem da vida concreta dos beneficiários de sua
missão 506.

Na liturgia de ação de graças, os atuais acontecimentos, como os passados, e a própria

obra de Cristo que foi lembrada, sobretudo na liturgia da Palavra, são retomados na liturgia de

ação de graças e não inseridos ao acaso. A vida das pessoas presentes na Celebração

Dominical da Palavra de Deus e a história em que fazem parte são relacionadas ao Mistério de

Cristo, ponto de referência para interpretar os fatos e para avaliar a história. À memória da

Páscoa de Jesus é associada a Páscoa do povo. Logo, a ação de graças na Celebração

Dominical da Palavra de Deus é, também, memória da Páscoa do povo. Na ação de graças, a

vida da assembleia e de toda humanidade é inserida ao louvor pelo Mistério Pascal de Jesus

Cristo. A ação de graças é memória da Páscoa de Cristo na Páscoa do povo e memória da

Páscoa do povo na Páscoa de Cristo507.

Por isso, além do grande motivo de ação de graças que é a ressurreição de Jesus e a

vida nova que ele trouxe, aquele que preside a assembleia poderá convidar os fiéis a expressar

espontaneamente motivos que possuem para agradecer a Deus. Após a exposição dos fatos

vivenciados pela assembleia e que são motivos de louvor, são elevadas a Deus ações de

505
Cf. BUYST, Ione. Recordação da Vida. In: A ESPERANÇA dos pobres vive: coletânea em homenagem aos 80
anos de José Comblin. São Paulo: Paulus, 2003, p. 379; FLORES, Juan Javier. Introdução à teologia litúrgica.
São Paulo: Paulinas, 2006, p. 22.
506
MARTÍN, Julián López. No espírito e na verdade. Vol. II: Introdução antropológica à liturgia. Petrópolis:
Vozes, 1997, p. 77.
507
Cf. BUYST, Ione. Recordação da Vida. In: A ESPERANÇA dos pobres vive: coletânea em homenagem aos 80
anos de José Comblin. São Paulo: Paulus, 2003, p. 381; CENTRO DE LITURGIA. Liturgia em tempo de
opressão: à luz do Apocalipse. 2. ed. São Paulo: Paulus, 1996, p. 9. (Cadernos de Liturgia, 1); Doc. 43 da
CNBB, n. 300; Doc. 52 da CNBB, n. 84.
133

graças através de cantos, salmos, hinos, orações litânicas, benditos e outras orações inspiradas

na piedade popular508.

A ação de graças termina com a oração do Pai-nosso, que nunca deverá faltar na

Celebração Dominical da Palavra de Deus509. Em seguida, a celebração poderá desenvolver-se

das seguintes formas: com a comunhão eucarística; com a partilha de alimentos ou com os

ritos finais. Antes destes momentos, os fiéis poderão, entre outros elementos rituais, exprimir

entre si a comunhão eclesial e a mútua caridade através do gesto simbólico da paz. Assim, os

fiéis continuam a comprometer-se com Deus, com a realidade humana e manifestam esta

comunhão510.

Portanto, a liturgia de ação de graças “é ao mesmo tempo uma memória da obra

redentora e de todos os grandes e pequenos feitos de Deus em favor dos homens; nela entra a

vida da comunidade, e nem falta um gesto eloquente e popular”511, como afirma Gregório

Lutz. Na ação de graças, a assembleia se lembra da experiência do povo de Deus no passado,

reconhece a sua própria experiência e insere no louvor a Deus os acontecimentos atuais da sua

vida e se compromete em viver o Mistério celebrado512.

508
Cf. Doc. 52, n. 85. Para aprofundar as louvações populares, os benditos da refeição fraterna: LIMA, Jânio
Fernandes de. Uma análise teológico-litúrgica das louvações populares na celebração dominical da Palavra,
uma forma inculturada de ação de graças e louvor. 2002. Dissertação (Mestrado em Teologia) Pontifícia
Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, Centro Universitário Assunção, São Paulo.
509
Cf. COSTA, Valeriano Santos. Celebrar a Eucaristia: tempo de restaurar a vida. São Paulo: Paulinas, 2006,
p. 84-85. (Coleção Tabor); SOARES-PRABHU, George. Falar ao “Abba”: a oração como petição e
agradecimento no ensino de Jesus. Concilium, Petrópolis, n. 229, maio, p. 45-57, 1990.
510
Cf. BUYST, Ione. Celebração do domingo ao redor da Palavra de Deus. São Paulo: Paulinas, 2002, p. 41.
(Coleção Celebrar); Id. Celebração Dominical. Revista de Liturgia, São Paulo, n. 52, p. 19, jul./ago. 1982;
COSTA, Valeriano Santos. Celebrar a Eucaristia: tempo de restaurar a vida. São Paulo: Paulinas, 2006, p. 85-
86. (Coleção Tabor); Doc. 52 da CNBB, n. 89-90; IGMR, n. 82; Medellín, n. 9,3.4.6; Puebla, n. 214-215.
511
LUTZ, Gregório. Teologia da liturgia dominical sem padre. Revista de Liturgia, São Paulo, n. 52, p. 12,
jul./ago. 1982.
512
Cf. BUYST, Ione. Recordação da Vida. In: A ESPERANÇA dos pobres vive: coletânea em homenagem aos 80
anos de José Comblin. São Paulo: Paulus, 2003, p. 379.
134

4 A vida nos ritos finais da celebração

Os ritos finais da Celebração Dominical da Palavra de Deus possuem elementos

expressivos da relação entre liturgia e vida, entre a liturgia ritual e a liturgia existencial. É por

meio dos ritos finais, afirma o Diretório para as celebrações dominicais na ausência do

presbítero, que “se indica a relação que existe entre a liturgia e a vida cristã” 513. Estes ritos

auxiliam os fiéis a passar da celebração para a vida, da liturgia ritual à liturgia existencial,

para que toda a vida cristã seja uma ação de graças: “Glorificai o Senhor com vossa vida” 514.

Este é o imperativo, a missão dos cristãos: esforçar-se por fazer de suas vidas um culto, um

louvor ao Pai, a exemplo de Jesus, por ação do Espírito Santo, como expressa Juan Flores:

A celebração litúrgica não é um momento isolado do qual nos separamos


quando termina. Toda a existência deve ser vivificada mediante a celebração,
começando pela própria vida espiritual, que estará sempre impregnada da
presença de Deus, por meio da celebração litúrgica, desde o momento em que
não pode haver dicotomia entre o celebrar e o viver. As ações sagradas entram
no ser e na experiência cristã, levando em si mesmas a comunhão trinitária 515.

A Celebração Dominical da Palavra de Deus permite que os fiéis revisem suas vidas,

reavivem e renovem o compromisso da missão. E os ritos finais indicam aos cristãos o

compromisso de viver mais unidos, mais solidários, de viver de acordo com a celebração. Os

ritos finais impelem os fiéis a comunicar ao mundo o Mistério que celebraram e os envia para

a missão, para diversas ações na Igreja e na sociedade, de acordo com as suas necessidades 516.

513
CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO. Celebrações dominicais na ausência do presbítero.
Petrópolis: Vozes, 1989, n. 41. (Documentos Pontifícios, 224).
514
Missal Romano, p. 505.
515
FLORES, Juan Javier. Introdução à teologia litúrgica. São Paulo: Paulinas, 2006, p. 405.
516
“Se a Igreja é, por sua própria natureza, missionária, a missão é um constitutivo da assembléia litúrgica”.
FLORISTAN, Casiano. Pastoral Litúrgica. In: BORÓBIO, Dionisio (Org). A celebração na Igreja. Vol. I:
Liturgia e sacramentologia fundamental. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2002, p. 405. Cf. BECKHÄUSER, Alberto.
Liturgia, cume e fonte da vida dos discípulos e missionários de Cristo. In: COSTA, Valeriano Santos (Org).
Liturgia: peregrinação ao coração do Mistério. São Paulo: Paulinas, 2009, p. 133. (Coleção celebrar e viver a fé);
BORÓBIO, Dionisio. Eucaristía. Madrid: Biblioteca de autores cristianos, 2005, p. 386. (Sapientia Fidei – Serie
de Manuales de Teología, 23); BUYST, Ione. Celebração do domingo ao redor da Palavra de Deus. São Paulo:
Paulinas, 2002, p. 59. (Coleção Celebrar); CORBON, Jean. A fonte da liturgia. Lisboa: Paulinas, 1999, p. 152;
155. (Dessedentar, 1); COSTA, Valeriano Santos. Celebrar a Eucaristia: tempo de restaurar a vida. São Paulo:
Paulinas, 2006, p. 89-92. (Coleção Tabor); HAMMAN, Adalbert. Liturgia e apostolado. Petrópolis: Vozes,
1968, p. 89.
135

Porém, antes que a comunidade seja enviada em missão, o Documento 52 afirma que

podem ser transmitidos os avisos sobre a vida e a missão da comunidade: “valorizem-se os

avisos e as notícias que dizem respeito à vida da comunidade, da paróquia ou da Diocese.

Esses avisos podem ser uma forma de ligação entre o ato litúrgico e os compromissos da

semana”517.

Através da Celebração Dominical da Palavra de Deus, o povo fez memória do

Mistério Pascal de Cristo, tornando-o presente. Agora, uma parcela do povo de Deus

participará dos eventos anunciados, outros rezarão pelo seu bom êxito, mas todos procurarão

pautar suas vidas de acordo com o que celebraram518.

Poderá existir, também, um momento para breves homenagens: aniversário de vida ou

casamento de alguém presente na assembleia; agradecimentos por trabalhos prestados à

comunidade eclesial ou do bairro; ou outros fatos da vida que mereçam reconhecimento da

comunidade519.

É importante, ainda, uma mensagem final, diz o Documento 43: “[...] se exorte a

comunidade a testemunhar pela vida a realidade celebrada” 520. É um estímulo daquele que

preside a assembleia para que esta busque a plenitude da sua existência na vivência do

Mistério Pascal celebrado.

Terminados os avisos, homenagens e mensagens, os cristãos alimentados com a

Palavra e às vezes pela Eucaristia, são enviados à sociedade. O livro dos Atos dos Apóstolos

apresenta o envio missionário de Paulo e Barnabé durante uma celebração em Antioquia:

“Celebrando eles o culto em honra do Senhor e jejuando, disse-lhes o Espírito Santo: „Separei

para mim Barnabé e Saulo, para a obra à qual os destinei‟. Então, depois de terem jejuado e
517
Doc. 52 da CNBB, n. 93.
518
“Todos os cristãos, constituídos pelo Batismo e pela Confirmação no Espírito, pregadores da Palavra de Deus,
tendo recebido a graça da audição, devem anunciar essa Palavra de Deus na Igreja e no mundo, pelo menos com
o testemunho de sua vida”. OLM, n. 7. Cf. D‟ANNIBALE. Miguel Ángel. A celebração eucarística. In:
CELAM. Manual de liturgia. A celebração do Mistério Pascal. Vol. III: Os sacramentos: sinais do Mistério
Pascal. São Paulo: Paulus, 2005, p. 158.
519
Cf. Doc. 43 da CNBB, n. 328.
520
Doc. 43 da CNBB, n. 329.
136

orado, impuseram-lhes as mãos e despediram-nos” (At 13, 2-3). Através dos ritos finais, “a

assembléia toma consciência de que é enviada a viver e testemunhar a Aliança no seu dia-a-

dia e nos serviços concretos na edificação do Reino”521, como afirma o Documento 52, recebe

a benção e é enviada para o mundo:

A benção é um ato de envio para a missão e de despedida com a graça de


Deus. É de suma importância que todos retornem às suas casas e ao convívio
social, com um compromisso, com esperança, com a experiência de ter
crescido na fraternidade e com a decisão de ser testemunhas do Reino 522.

Ainda que as pessoas se separem e retornem às suas casas e ao convívio social, através

da benção, o Espírito Santo as enviará para viver a liturgia e as manterá unidas através da

força santificadora da Celebração Dominical da Palavra de Deus. A celebração leva os fiéis ao

compromisso de vida, a conformar sua existência com o Mistério celebrado, como afirma

Jean Corbon: “O mesmo Cristo que nós celebramos é Aquele que vivemos; aqui e lá, é

sempre o seu Mistério”523. Os cristãos partem da celebração em paz e com a certeza da

presença constante do Senhor: “Ide em paz e o Senhor vos acompanhe. Graças a Deus!” 524

Partem com a missão de viver em ação de graças, de fazer de suas vidas um culto agradável a

Deus e produzir frutos que permaneçam525.

521
Doc. 52 da CNBB, n. 92. “Pelos Ritos de conclusão, os fiéis, que tomaram consciência de que são enviados,
assumem o compromisso da sua missão a serviço do Reino na vida concreta”. Doc. 43 da CNBB, n. 101.
522
Doc. 52 da CNBB, n. 94.
523
CORBON, Jean. A fonte da liturgia. Lisboa: Paulinas, 1999, p. 155. (Dessedentar, 1).
524
Missal Romano, p. 505.
525
“Deus todo-poderoso [...] sempre vos alimente com os ensinamentos da fé e vos faça perseverar nas boas
obras”. Bênçãos Solenes. Tempo Comum II. Missal Romano, p. 525.
137

CONCLUSÃO

A Sacrosanctum Concilium afirma que Cristo “está presente na sua palavra, pois é Ele

quem fala quando na Igreja se leem as Sagradas Escrituras”526. Cristo está presente pela

Palavra nos sacramentos e em outras celebrações como nas Celebrações Dominicais da

Palavra de Deus. A Palavra de Deus celebrada é memorial dos mistérios de Cristo, do

Mistério Pascal. A Palavra de Deus celebrada possui caráter sacramental, é anúncio e

realização do plano de salvação de Deus. Assim, as comunidades que celebram o Mistério na

ausência do presbítero não são órfãs. Através da Celebração Dominical da Palavra de Deus,

Cristo está no meio delas e atua com sua graça poderosa.

O Mistério Pascal, centro de toda a história da salvação e da liturgia, envolve toda a

vida de Cristo e a vida de todos os cristãos527. No Brasil, 70% das comunidades celebram este

Mistério através das Celebrações Dominicais da Palavra de Deus 528. Através de palavras e

gestos, em espaços e tempos, os fiéis celebram o Mistério de Cristo que resume e atualiza

todas as intervenções de Deus junto ao seu povo, celebram as intervenções e a presença de

Deus na história529.

Precisamente porque a liturgia é o cume e a fonte da vida da Igreja530, através da

Celebração Dominical da Palavra de Deus, as comunidades celebram semanalmente a Páscoa

de Cristo para que todos os acontecimentos de suas vidas sejam lidos, interpretados,

entendidos e vividos à luz deste Mistério. A vida da Igreja, conjunto dos fiéis que participam

da celebração, deve incidir na celebração junto a tudo o que a vida cotidiana exige e oferece.

526
Sacrosanctum Concilium, n. 7.
527
Cf. Doc. 43 da CNBB, n. 48; Doc. 52 da CNBB, n. 75.
528
Cf. Doc. 43 da CNBB, n. 93; Doc. 52 da CNBB, p. 5.
529
Cf. LLOPIS, Juan. A liturgia celebra a presença de Deus no mundo e seu convite ao homem. Concilium,
Petrópolis, p. 237-244, 1974.
530
Cf. Sacrosanctum Concilium, n. 10.
138

Assim, o povo de Deus celebra o Mistério de Cristo, relacionando-o à sua realidade, à sua

vida cotidiana que também é Páscoa e lugar privilegiado de comunicação com Deus.

Na Celebração Dominical da Palavra de Deus, a comunidade cristã, reunida pelo

Senhor, faz memória dos fatos passados em que Ele atuou em favor de seu povo e das

intervenções na história atual. A comunidade, então, louva e agradece, pede perdão, implora e

suplica, alimenta a esperança e compromete-se com Deus. Na Celebração Dominical da

Palavra de Deus, os fiéis acolhem a Palavra, comprometem-se em praticar o que ouviram e

viver o Mistério Pascal celebrado. Através desta celebração, os fiéis reconhecem a presença

salvadora de Deus em suas vidas que aí são lembradas, vivenciam o mistério de amor e de

comunhão da Trindade e atualizam a sua adesão ao Reino de Deus.

A Celebração Dominical da Palavra de Deus tem em vista a realização concreta deste

Reino, atualizando as ações salvíficas de Deus e de Jesus Cristo no hoje da história. Por isso,

a celebração não é só memória da história da salvação, que tem seu ponto culminante em

Cristo, mas a própria celebração é uma etapa desta mesma história. A celebração une e

engloba anúncio e cumprimento, a primeira e a segunda etapa da história da salvação. Os que

participam da celebração já vivem, antecipadamente e na esperança, a realidade plena de uma

salvação que agora é oferecida sob o véu dos sinais e com as limitações de todos os atos

humanos. A celebração é o ponto de encontro decisivo e santificador para toda a comunidade

com o Pai que salva em Jesus Cristo por ação do Espírito Santo. A celebração torna-se, assim,

momento forte, lugar pascal privilegiado de passagem da morte para a vida.

Através da Celebração Dominical da Palavra de Deus, a comunidade torna-se não só

portadora da Palavra, mas torna-se Palavra de Deus para o mundo, como afirma São Paulo:

“Nossa carta sois vós, carta escrita em vossos corações, reconhecida e lida por todos os

homens. Evidentemente, sois uma carta de Cristo, entregue ao nosso ministério, escrita não

em tinta, mas com o Espírito de Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne,
139

nos corações” (2Cor 3,2-3). Vivendo o Evangelho de Cristo, a comunidade se torna

Evangelho.

É claro que não basta participar da celebração para transformar a comunidade em

Palavra de Deus. Mas, no Brasil, onde 70% das comunidades se reúnem para celebrar o

Mistério Pascal através da Celebração Dominical da Palavra de Deus, sem uma participação

constante e fiel desta celebração não haverá transformação da comunidade em Evangelho

vivo para a humanidade. Quanto mais a comunidade celebrar a Palavra, tanto mais ela terá

oportunidade de identificar-se e configurar-se à Palavra.

A Celebração Dominical da Palavra de Deus provoca a comunidade a viver da Palavra

e na Palavra do Senhor. Na celebração, o povo de Deus assume esta Palavra como luz que

ilumina, alimento que fortalece na caminhada, espírito que gera nova vida. A celebração faz

com que a Igreja continue sendo no mundo sinal sagrado para a humanidade. A vida de cada

fiel e a vida de toda a comunidade cristã se converte em culto espiritual.

Contudo, para que a celebração impulsione com força o fiel, é preciso que as

comunidades lhe possibilitem reviver e exprimir as suas alegrias, esperanças e as contradições

da existência individual e coletiva. É preciso que as comunidades possibilitem que a vida do

fiel apareça nos ritos. Assim, depois da liturgia ritual, o povo de Deus voltará para a vida, que

esteve presente no rito, recebendo a santificação do Mistério celebrado. Viverá o Mistério

Pascal que celebrou e será testemunha da Páscoa no mundo. Assimilará a força renovadora da

celebração na vida. A Celebração Dominical da Palavra de Deus transforma interiormente os

seres humanos no momento da celebração e no dia a dia, porque possui essa força capaz de

renovar, de transformar toda a vida do fiel em liturgia: a liturgia existencial.

Os Documentos 43 e 52 da CNBB expressam que o povo de Deus celebra a Páscoa de

Cristo com a Páscoa de toda a humanidade, explicitando que é essencial a relação entre a vida
140

e a Celebração Dominical da Palavra de Deus531. A interação entre vida e liturgia é vital para

o cristão. A separação entre a vida e a celebração levaria inevitavelmente ao empobrecimento

de ambas. A celebração apreciada por Deus se dá não na fuga da realidade vivida, mas

reconhecendo nela os sinais de vida e de morte, do Reino e do anti-Reino e, principalmente,

as intervenções de Deus na vida e na história da humanidade. Se o Mistério Pascal abraça toda

a história da salvação, a Celebração Dominical da Palavra de Deus estende-se a todos os

momentos da vida do cristão, fazendo de cada um desses momentos uma Páscoa contínua e

prolongada.

531
Cf. Doc. 43 da CNBB, n. 300; Doc. 52 da CNBB, n. 6; 56.
141

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Teologia Nossa Senhora da Assunção, Centro Universitário Assunção, São Paulo.

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2002. 160 p. Dissertação (Mestrado em Teologia) Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa
Senhora da Assunção, Centro Universitário Assunção, São Paulo.
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LIMA, Jânio Fernandes de. Uma análise teológico-litúrgica das louvações populares na
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197 p. Dissertação (Mestrado em Teologia) Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora
da Assunção, Centro Universitário Assunção, São Paulo.

STEINMETZ, Geremias. Análise do Documento 52 da Conferência Nacional dos Bispos do


Brasil: orientações para a celebração da Palavra de Deus. 1998. 161 p. Thesis ad Licentiam in
Sacra Liturgia [Mestrado em Liturgia] Pontificium Athenaeum S. Anselmi de Urbe.
Pontificium Institutum Liturgicum, Romae.

9 Periódicos

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v. 70, n. 278, p. 436-450, abr. 2010.

ALDAZÁBAL, José. La encíclica y la eucaristía. Phase, Barcelona, n. 273, p. 295-301,


mai./jun. 2006.

___. La Eucaristía en el “Catecismo de la Iglesia Católica”. Phase, Barcelona, n. 240, p. 471-


498, nov./dic. 2000.

BOROBIO, Dionisio. Liturgia y compromiso social. Phase, Barcelona, n. 181, p. 49-66,


1991.

BUYST, Ione. Liturgia, acontecimento teologal. Revista de Liturgia, São Paulo, n. 95, p. 138-
150, set./out. 1989.

___. Liturgia na américa latina: celebração da “Páscoa do povo”? Revista de Liturgia, São
Paulo, n. 81, p. 10-16, maio/jun. 1989.

___. Medellín na liturgia. Revista Eclesiástica Brasileira, Petrópolis, v. 48, n. 192, p. 860-
875, dez. 1988.

___. Celebração Dominical. Revista de Liturgia, São Paulo, n. 52, p. 14-24, jul./ago. 1982.

CARPANEDO, Penha. Celebração Dominical da Palavra. Revista de Liturgia, São Paulo, n.


206, p. 4-7, mar./abr. 2008.
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COVOLO, Enrico dal. A “Lectio” Divina nos padres da Igreja. Revista Benedetina, Juiz de
Fora, n. 26/27, p. 31-43, mar./jun. 2008.

DIETRICH, Luiz José. Raízes da leitura popular da Bíblia. Estudos Bíblicos, Petrópolis, n.
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DUMOULIN, Annette. A romaria em Juazeiro do Norte. Estudos Bíblicos, Petrópolis, n. 28,


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FERREIRA, Joel Antônio. É possível rezar em tempo de perseguição? A Liturgia da Vida no


Apocalipse. Estudos Bíblicos, Petrópolis, n. 35, p. 54-67, 1992.

FREYNE, Sean. Jesus peregrino. Concílium, Petrópolis, n. 266, p. 24-34, 1996.

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ISNARD, Clemente. O bispo e a liturgia. Revista Eclesiástica Brasileira, v. 44, n. 176, p.


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LLOPIS, Juan. Reza-se de fato em nossas Eucaristias e faz-se rezar os participantes?


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___. A liturgia celebra a presença de Deus no mundo e seu convite ao homem. Concilium,
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OLIVERA, Bernardo. A tradição da “Lectio” Divina. Revista Benedetina, Juiz de Fora, n.


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___. Ler o documento a partir da fé vivida e celebrada. Revista de Liturgia, São Paulo, n. 95,
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RUIZ, Pilar Avellaneda. A dimensão esponsal na “Lectio” Divina. Revista Benedetina, Juiz
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SANTOS, Luciano. A festa da Páscoa: um olhar panorâmico em sua gênese e evolução.


Revista de Cultura Teológica, São Paulo, v. 18, n. 72, p. 171-186, out./dez. 2010.

SCHALLER, Hans. Pedir e agradecer: unidade significativa. Concilium, Petrópolis, n. 229,


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SILVA, José Ariovaldo da. Desafios à vida litúrgica para os próximos decênios. Revista de
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SOARES-PRABHU, George. Falar ao “Abba”: a oração como petição e agradecimento no


ensino de Jesus. Concilium, Petrópolis, n. 229, maio, p. 45-57, 1990.

SOUZA, Marcelo de Barros. O reencontro do primeiro amor. A inculturação do culto na


Bíblia. Estudos Bíblicos, Petrópolis, n. 35, p. 11-26, 1992.

VELASCO, Juan Martín. Oração de petição e ação de graças nas religiões. Concilium,
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ZABATIERO, João Paulo Tavares. Conflitos de Espiritualidade. Reflexões sobre a memória


espiritual do povo de Deus no AT. Estudos Bíblicos, Petrópolis, n. 30, p. 9-25, 1991.
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

Luciano dos Santos

Liturgia e vida:

A vida na Celebração Dominical da Palavra de Deus

nos Documentos 43 e 52 da CNBB

MESTRADO EM TEOLOGIA

SÃO PAULO

2011

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