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AVALIAÇÃO 3º E 4º BIMESTRE
KANT: A RACIONALIDADE MODERNA E A RELIGIÃO
Kant diz que todo o ato voluntário se apresenta à consciência sob a forma de
mandamento ou imperativo: tem que fazer isto, isto deve ser feito. Tais imperativos
podem ser hipotéticos ou categóricos. Os primeiros são condicionais: “Se quiseres
viver, deves alimentar-te”. Os segundos são incondicionais: “não mates o semelhante”.
Em síntese, uma ação é moral, para Kant, quando feita simplesmente por respeito ao
dever, independentemente de seu conteúdo empírico. Esta é a lei moral universal: o
imperativo categórico.
O segundo postulado da razão prática é a imortalidade. Se o mundo inteligível
não está sujeito às formas do espaço e do tempo nem das categorias, a vontade pura
justifica a crença na imortalidade da alma.
Este é um postulado que requer uma unidade sintética superior entre esse ser
e o dever ser. A essa síntese unitária Kant chama Deus. Além do mundo fenomênico
deve haver, pois, um ente no qual nossa aspiração se realize. Tal ente é Deus. Enfim,
a primazia da razão prática sobre a teor ética permite-nos o acesso à verdade
metafísica. Enquanto a razão teorética nos permite conhecer este mundo real
fenomênico, a razão prática nos conduz até Deus, ao reino das almas livres e imortais.
Na questão da existência de Deus, Kant apela à razão prática, que se
manifesta na ação moral do homem. Compreende o homem não apenas como ser,
mas como dever ser. Rejeita as provas puramente racionais da existência de Deus.
Fala da existência de Deus como postulado da razão prática. Mostra que, pela razão
crítica ou pura, não se demonstra a existência de Deus nem sua não-existência. Deus
é, para Kant, a condição (transcendental) de possibilidade da moral e da felicidade.
A razão prática, segundo Kant, depende apenas do imperativo categórico ou
incondicional. Tal imperativo não é ordem exterior que massacre a liberdade, mas algo
que brota da lei moral interior que postula a liberdade do homem. Assim o primeiro
postulado da razão prática, que garante a moralidade, é a liberdade humana. O
segundo postulado é a imortalidade da alma. O terceiro postulado é a existência de
Deus, o bem supremo. Esses três postulados são exigências necessárias, embora não
demonstráveis. Neles baseia-se toda a ética de Kant.
Sendo o caminho da razão pura insuficiente, Kant opta pela prova moral da
existência de Deus. Estuda “a existência de Deus como um postulado da razão
prática”. O suporte, para esta prova, está no bem supremo, que reúne em si
moralidade e felicidade e que constitui o objeto adequado da lei moral.
A razão não tolera alguma separação definitiva entre virtude e felicidade,
porque o valor moral enquanto valor absoluto e a dignidade desejada são
materialmente idênticos. Confirma esta interpretação do postulado de Deus pela nova
concepção na crítica do juízo. A visão teleológica da realidade é tal que a
subordinação da natureza à realização do bem supremo conduz a uma teologia moral.
A palavra de Deus não é revelação divina, mas o imperativo moral dentro de nós.
Para Kant o fundamento de nossa fé não depende das provas da existência de
Deus, nem coincide com o fundamento da demonstração. Este último é teórico-
especulativo e o primeiro é ético-prático. Neste sentido Kant diz: “Tive, pois, de
suprimir o saber (de Deus) para obter lugar para a fé”.
O argumento de Kant, baseado na necessidade da razão prática, conduz a “um
conhecimento de Deus, mas só numa relação prática”. Kant estabelece uma
metafísica de fundamento prático. Entretanto, a realidade dessas ideias metafísicas
permanece problemática para a razão pura.
Desde a conclusão da Crítica da Razão Pura (1781-1787), Kant já havia
afirmado que “sem dúvida o fim último da natureza, a qual se ocupa sabiamente de
nós ao constituir a nossa razão, está voltado exclusivamente ao interesse moral” e
ainda na Crítica da Razão Prática (1788), depois de ter demonstrado que esse
interesse moral atinge a sua plenitude somente na absoluta autonomia da razão
prática, a qual se torna lei para si mesma como dever puro e incondicional, chegará a
indicar a inevitável e necessária relação que existe entre a moralidade e a religião, ou
melhor, o percurso que, a partir da moral e tendo-a como fundamento, conduz (e deve
conduzir) à religião.
Partindo justamente da religião considerada como “outra” em relação à razão
pura, vale dizer, a religião na sua forma historicamente revelada, o cristianismo, para
demonstrar afinal que a essência necessária dessa religião positiva assenta
exclusivamente no puro imperativo moral que a razão dá a si mesma.
Para Kant a teologia deve ser independente da fé, mas não certamente porque
ela diga respeito ao conhecimento racional de Deus, mas porque considera
exclusivamente a aplicação do conceito de Deus à moralidade: “Eu não sei e nunca
poderei saber quem é Deus e se de fato ele existe; mas devo postulá-lo e devo crer
por fé moral nele”.
Portanto Kant diz que moralmente é necessário aceitar a existência de Deus.
Assim o que não se pode provar pela razão pura torna-se um postulado da razão
prática. Depois de eliminar Deus da ordem do pensamento e da realidade, postula a
existência de um Deus justo que fundamente a relação entre virtude e felicidade.
Referência Bibliográfica:
ZILLES, Urbano. Filosofia da Religião. Coleção Filosofia. São Paulo: Paulus, 1991.