Você está na página 1de 7

CENTRO DE ESTUDOS SUPERIORES

“SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS”

JEAN MIGUEL EVARISTO

Curso: 3º Ano de Filosofia


Disciplina: Filosofia da Religião
Docente: Padre José Luís Garcia de Albuquerque

AVALIAÇÃO 3º E 4º BIMESTRE
KANT: A RACIONALIDADE MODERNA E A RELIGIÃO

São José do Rio Preto - SP


2021
Kant: a racionalidade moderna e a religião.
 
Com quais objetivos e como Kant nos apresenta a questão do conhecimento, da
religião e de Deus?
Ele o faz através da “Crítica da Razão Pura” e a “Crítica da Razão Prática”.
Descreva estes dois momentos da filosofia da religião em Kant e quais as suas
consequências.

Os objetivos que Immanuel Kant (1727-1804) utiliza para apresentar a questão


do conhecimento, da religião e de Deus se encontra a partir da Crítica da Razão Pura
e da Crítica da Razão Prática.
Kant realizou o giro copernicano no campo da teoria do conhecimento
enquanto diz que doravante nosso conhecimento não se orientará mais nos objetos,
mas esses devem orientar-se em nosso conhecimento. Houve uma reviravolta
kantiana caracterizada pela palavra transcendental.
O filósofo afirma que pensar transcendentalmente é indagar pelas condições
de possibilidade do conhecimento de objeto determinado no próprio sujeito deste
conhecimento. Para o filósofo, o ponto de partida do conhecimento humano é a razão
que imprime suas forças puras (categorias) nos objetos para assim constituí-los.
Kant parte do a priori transcendental, ou seja, pergunta pelas condições de
possibilidade do conhecimento em geral. Sua obra é essencialmente crítica, pois
questiona a perspectiva objetivista. Na questão da existência de Deus tenta um
caminho entre a afirmação dogmática e a demonstração racional concludente.
Para Kant a lógica afirma que a verdadeira filosofia consiste em responder a
quatro perguntas: a) que posso saber? b) que devo fazer? c) que posso esperar? d)
que é o homem? Segundo ele, a metafísica, a moral, a religião e a antropologia
ocupam-se dessas perguntas. A última resume as três primeiras.
Descrevendo esses dois momentos tão importantes para a filosofia da religião,
a Crítica da Razão Pura e a Crítica da Razão Prática, observando suas
consequências, e a origem desses pensamentos por Immanuel Kant. Logo
percebemos que desde a juventude, ele de maneira especial, se aprofundou por duas
questões. De um lado, o tema moral e religioso, profundamente vivido desde a infância
e, de outro, a ciência físico-matemática como a explicara Newton e havia estudado na
universidade.
Na Crítica da razão pura Kant diz que Deus, liberdade e imortalidade sempre
foram “objetivos supremos de nossa existência” e, por isso, são problemas
importantes para sua filosofia. Se na Crítica da razão pura Kant chega à conclusão de
que a metafísica é impossível como ciência teorética, conclui, outrossim, que o
conhecimento científico na razão prática é apenas uma atividade ao lado de outras
como é o viver, o trabalhar, o produzir.
A Crítica da Razão Pura: Nessa crítica Kant aborda dois objetivos: mostrar os
limites do conhecimento humano sobre o mundo, nossa capacidade de apreensão e
também agir como “árbitro” das especulações metafísicas a partir do seu sistema.
Kant divide a cognição entre análise racional e percepção sensorial.
Kant tentará responder a três perguntas na Crítica da razão pura: a) Como são
possíveis os juízos sintéticos a priori na matemática? b) Como são possíveis os juízos
sintéticos a priori na física? c) São possíveis os juízos sintéticos a priori na metafísica?
Nas duas primeiras partes responde as duas primeiras perguntas. Na dialética
transcendental (terceira parte) tenta responder à terceira.
Segundo a metafísica tradicional, a razão busca três conhecimentos
fundamentais: a) a alma (síntese das vivências subjetivas); b) o universo (síntese das
vivências objetivas) e c) Deus (síntese final e suprema). Kant constata que nenhum
desses objetos pode ser conhecido pela razão pura, pois todos eles estão além da
experiência possível, de acordo com as condições acima expostas. Por isso Kant
afirma que os juízos sintéticos a priori não são possíveis na metafísica. Portanto, a
metafísica como ciência é impossível. Nos Prolegômenos afirma simplesmente:

“Se existisse realmente uma metafísica que pudesse afirmar-se como


ciência, poder-se-ia dizer: aqui está a metafísica, deveis aprendê-la e
ela convencer-se-á irresistível e invariavelmente de sua verdade” (p.
31)

Segundo Kant, a metafísica quer conhecer o incognoscível, ele conclui que,


então, é simplesmente impossível falar de realidades metafísicas como Deus e alma?
Absolutamente não. Para Kant existe não apenas a ciência, mas também a
consciência moral, não só a razão pura, mas também a razão prática. A
metafísica é impossível como conhecimento teorético ou especulativo. Mas pode
haver outros caminhos de acesso aos objetos da metafísica.
Na Crítica da razão pura diz: "Só há três formas possíveis de provar a
existência de Deus pela razão especulativa”, ou seja, a) a prova ontológica (da ideia
do Ser perfeitíssimo deduz-se analiticamente a existência); b) a prova cosmológica (da
contingência do mundo infere a existência do Ser necessário); c) a prova físico-
teleológica (da ordem e da harmonia existentes no universo infere a existência de
Deus como mente ordenadora). Para Kant, as duas últimas pressupõem a prova
ontológica, isto é, a passagem da ideia do Ser necessário à sua existência. Examina
as três e mostra que não são concludentes.
Kant diz que o argumento ontológico considera a proposição “Deus existe”
como analítica, ou seja, admite que o predicado da existência esteja contido na
essência do sujeito. Observa:

“Já tereis cometido uma contradição, quando no conceito de uma


coisa a que vós desejásseis pensar unicamente na sua possibilidade,
teríeis introduzido, seja mesmo sob nome oculto, o conceito de sua
existência”.

Para Kant, é impossível demonstrar racionalmente a existência de Deus.


Somos incapazes de juízos científicos sobre Deus porque ele não ocorre no espaço e
no tempo. Juízos científicos devem dizer uma verdade que é, ao mesmo tempo,
necessária (a priori) e nova (sintética), ou seja, “juízos sintéticos a priori que, embora
não fundados na experiência sensível (a priori), contudo ampliam nosso conhecimento
(sinteticamente) e não apenas explicam (analiticamente)”. Segundo Kant, apenas são
possíveis na matemática e na ciência natural e não na metafísica tradicional, que é
apenas metafísica das aparências.
A crítica de Kant não significa resignação da razão, e sim a convicção ético-
religiosa de que devem ser respeitados os limites da razão. Assim a distinção das
provas da existência de Deus não destrói a fé em Deus nem funda o ateísmo. Kant
afirma que a razão humana tem a tendência natural de ultrapassar esses limites. Em
outras palavras, afirma uma necessidade metafísica arraigada no ser do próprio
homem. Nesta perspectiva, a ideia de Deus permanece como ideal, como conceito
teórico necessário e limite.
A crítica da razão conduz, por fim, necessariamente, à ciência; o uso
dogmático da razão sem crítica conduz, pelo contrário, a afirmações infundadas, que
sempre podem ser contraditadas por outras não menos verossímeis, o que conduz ao
ceticismo.
A Crítica da Razão Prática: Nessa crítica com Aristóteles, Kant chama a
consciência moral e seus princípios de razão prática para mostrar que, na consciência
moral, atua algo que não é a razão especulativa, mas são princípios racionais. Trata-
se de princípios aplicados à ação.
Através da análise desses princípios da consciência moral, Kant chega aos
qualificativos morais: bom, mau, moral etc. Esses qualificativos, a rigor, não se podem
predicar das coisas, mas só da pessoa humana. O homem pratica atos e neles pode
distinguir-se o que faz efetivamente daquilo que quer fazer. Uma vez feita essa
distinção, vemos que os predicados morais se originam daquilo que o homem quer
fazer. Em outras palavras, o que pode ser realmente bom ou mau é a vontade
humana.

Kant diz que todo o ato voluntário se apresenta à consciência sob a forma de
mandamento ou imperativo: tem que fazer isto, isto deve ser feito. Tais imperativos
podem ser hipotéticos ou categóricos. Os primeiros são condicionais: “Se quiseres
viver, deves alimentar-te”. Os segundos são incondicionais: “não mates o semelhante”.
Em síntese, uma ação é moral, para Kant, quando feita simplesmente por respeito ao
dever, independentemente de seu conteúdo empírico. Esta é a lei moral universal: o
imperativo categórico.
O segundo postulado da razão prática é a imortalidade. Se o mundo inteligível
não está sujeito às formas do espaço e do tempo nem das categorias, a vontade pura
justifica a crença na imortalidade da alma.
Este é um postulado que requer uma unidade sintética superior entre esse ser
e o dever ser. A essa síntese unitária Kant chama Deus. Além do mundo fenomênico
deve haver, pois, um ente no qual nossa aspiração se realize. Tal ente é Deus. Enfim,
a primazia da razão prática sobre a teor ética permite-nos o acesso à verdade
metafísica. Enquanto a razão teorética nos permite conhecer este mundo real
fenomênico, a razão prática nos conduz até Deus, ao reino das almas livres e imortais.
Na questão da existência de Deus, Kant apela à razão prática, que se
manifesta na ação moral do homem. Compreende o homem não apenas como ser,
mas como dever ser. Rejeita as provas puramente racionais da existência de Deus.
Fala da existência de Deus como postulado da razão prática. Mostra que, pela razão
crítica ou pura, não se demonstra a existência de Deus nem sua não-existência. Deus
é, para Kant, a condição (transcendental) de possibilidade da moral e da felicidade.
A razão prática, segundo Kant, depende apenas do imperativo categórico ou
incondicional. Tal imperativo não é ordem exterior que massacre a liberdade, mas algo
que brota da lei moral interior que postula a liberdade do homem. Assim o primeiro
postulado da razão prática, que garante a moralidade, é a liberdade humana. O
segundo postulado é a imortalidade da alma. O terceiro postulado é a existência de
Deus, o bem supremo. Esses três postulados são exigências necessárias, embora não
demonstráveis. Neles baseia-se toda a ética de Kant.
Sendo o caminho da razão pura insuficiente, Kant opta pela prova moral da
existência de Deus. Estuda “a existência de Deus como um postulado da razão
prática”. O suporte, para esta prova, está no bem supremo, que reúne em si
moralidade e felicidade e que constitui o objeto adequado da lei moral.
A razão não tolera alguma separação definitiva entre virtude e felicidade,
porque o valor moral enquanto valor absoluto e a dignidade desejada são
materialmente idênticos. Confirma esta interpretação do postulado de Deus pela nova
concepção na crítica do juízo. A visão teleológica da realidade é tal que a
subordinação da natureza à realização do bem supremo conduz a uma teologia moral.
A palavra de Deus não é revelação divina, mas o imperativo moral dentro de nós.
Para Kant o fundamento de nossa fé não depende das provas da existência de
Deus, nem coincide com o fundamento da demonstração. Este último é teórico-
especulativo e o primeiro é ético-prático. Neste sentido Kant diz: “Tive, pois, de
suprimir o saber (de Deus) para obter lugar para a fé”.
O argumento de Kant, baseado na necessidade da razão prática, conduz a “um
conhecimento de Deus, mas só numa relação prática”. Kant estabelece uma
metafísica de fundamento prático. Entretanto, a realidade dessas ideias metafísicas
permanece problemática para a razão pura.
Desde a conclusão da Crítica da Razão Pura (1781-1787), Kant já havia
afirmado que “sem dúvida o fim último da natureza, a qual se ocupa sabiamente de
nós ao constituir a nossa razão, está voltado exclusivamente ao interesse moral” e
ainda na Crítica da Razão Prática (1788), depois de ter demonstrado que esse
interesse moral atinge a sua plenitude somente na absoluta autonomia da razão
prática, a qual se torna lei para si mesma como dever puro e incondicional, chegará a
indicar a inevitável e necessária relação que existe entre a moralidade e a religião, ou
melhor, o percurso que, a partir da moral e tendo-a como fundamento, conduz (e deve
conduzir) à religião.
Partindo justamente da religião considerada como “outra” em relação à razão
pura, vale dizer, a religião na sua forma historicamente revelada, o cristianismo, para
demonstrar afinal que a essência necessária dessa religião positiva assenta
exclusivamente no puro imperativo moral que a razão dá a si mesma.
Para Kant a teologia deve ser independente da fé, mas não certamente porque
ela diga respeito ao conhecimento racional de Deus, mas porque considera
exclusivamente a aplicação do conceito de Deus à moralidade: “Eu não sei e nunca
poderei saber quem é Deus e se de fato ele existe; mas devo postulá-lo e devo crer
por fé moral nele”.
Portanto Kant diz que moralmente é necessário aceitar a existência de Deus.
Assim o que não se pode provar pela razão pura torna-se um postulado da razão
prática. Depois de eliminar Deus da ordem do pensamento e da realidade, postula a
existência de um Deus justo que fundamente a relação entre virtude e felicidade.
Referência Bibliográfica:
ZILLES, Urbano. Filosofia da Religião. Coleção Filosofia. São Paulo: Paulus, 1991.

Você também pode gostar