O conhecimento se dar através da experiência, porém nem tudo pode se
derivar desta experiência.
Kant indaga a seguinte reflexão “Pois bem poderia o nosso próprio
conhecimento por experiência ser um composto do que recebemos através das impressões sensíveis e daquilo que a nossa própria capacidade de conhecer (apenas posta em ação por impressões sensíveis) produz por si mesma, acréscimo esse que não distinguimos dessa matéria-prima, enquanto a nossa atenção não despertar por um longo exercício que nos torne aptos a separá- los”.
Se existe um conhecimento independente da experiência e impressão
de sentidos, define-se como a priori esse conhecimento. E diferenciando-se do empírico, cujo é baseado na experiência, denomina-se como a posteriori.
Disto isto, alguns conhecimentos, provenientes de fontes da experiência,
que deles somos capazes ou os possuímos a priori, porque os não derivamos imediatamente da experiência, mas de uma regra geral, que, todavia, fomos buscar à experiência.
Em primeiro lugar, se encontrarmos uma proposição que apenas se
possa pensar como necessária, estamos em presença de um juízo a priori; se, além disso, essa proposição não for derivada de nenhuma outra, que por seu turno tenha o valor de uma proposição necessária, então é absolutamente a priori.
Em segundo lugar, a experiência não concede nunca aos seus juízos
uma universalidade verdadeira e rigorosa, apenas universalidade suposta e comparativa (por indução), de tal modo que, em verdade, antes se deveria dizer: tanto quanto até agora nos foi dado verificar, não se encontram exceções a esta ou àquela regra.
Certos conhecimentos saírem do campo de todas as experiências
possíveis e, mediante conceitos, aos quais a experiência não pode apresentar objeto correspondente, aparentarem estender os nossos juízos para além de todos os limites da experiência.
O autor cita algumas prerrogativas como problemática no campo da
razão do conhecimento, que são: Deus, a liberdade e a imortalidade e a ciência que, com todos os seus requisitos, tem por verdadeira finalidade a resolução destes problemas chama-se metafísica. O seu proceder metódico é, de início, dogmático, isto é, aborda confiadamente a realização de tão magna empresa, sem previamente examinar a sua capacidade ou incapacidade.
Todos os juízos quando relacionados entre um sujeito e predicado,
ambos possuem duas possibilidades. Ou o predicado B pertence ao sujeito A como algo que está contido (implicitamente) nesse conceito A, ou B está totalmente fora do conceito A, embora em ligação com ele.
O primeiro caso, o autor chama de juízo analítico e o segundo de
sintético. Portanto, os juízos (os afirmativos) são analíticos, quando a ligação do sujeito com o predicado é pensada por identidade; aqueles, porém, em que essa ligação é pensada sem identidade, deverão chamar-se juízos sintéticos.
Os juízos matemáticos são todos sintéticos, cumpre observar que as
verdadeiras proposições matemáticas são sempre juízos a priori e não empíricos, porque comportam a necessidade, que não se pode extrair da experiência.
A ciência da natureza (physica) contém em si, como princípios, juízos
sintéticos a “priori”. O fato da metafísica até hoje se ter mantido em estado tão vacilante entre incertezas e contradições é simplesmente devido a não se ter pensado mais cedo neste problema, nem talvez mesmo na distinção entre juízos analíticos e juízos sintéticos.
A salvação ou a ruína da metafísica assenta na solução deste problema
ou numa demonstração satisfatória de que não há realmente possibilidade de resolver o que ela pretende ver esclarecido.
A crítica da razão acaba, necessariamente, por conduzir à ciência, ao
passo que o uso dogmático da razão, sem crítica, leva, pelo contrário, a afirmações sem fundamento, a que se podem opor outras por igual verossímeis e, consequentemente, ao cepticismo.
Com essas colocações origina-se a ideia de uma ciência particular,
chamada de Crítica da razão pura. Porque a razão é a faculdade que fornece os princípios do conhecimento a priori.
Um organon da razão pura seria o conjunto desses princípios, pelos
quais são adquiridos todos os conhecimentos puros a priori e realmente constituídos.
Kant propõe que a síntese transcendental é o processo pelo qual nossa
mente organiza os dados sensoriais em objetos e experiências coerentes. Isso envolve a aplicação das categorias e formas a priori para dar sentido ao mundo.
O autor explora os limites do conhecimento metafísico, argumentando
que tentativas de chegar a conhecimentos sobre a realidade última ou a alma imortal através da razão pura resultam em contradições e antinomias.
Kant é frequentemente associado ao idealismo transcendental, que
afirma que nosso conhecimento é moldado pelas estruturas da mente humana. Ele argumenta que a experiência é um produto da interação entre os dados sensoriais e as estruturas a priori da mente.
À crítica da razão pura pertence, pois, tudo o que constitui a filosofia
transcendental; é a ideia perfeita da filosofia transcendental, mas não é ainda essa mesma ciência, porque só avança na análise até onde o exige a apreciação completa do conhecimento sintético a priori.
Na divisão desta ciência dever-se-á, sobretudo, ter em vista que nela
não entra conceito algum que contenha algo de empírico, ou seja, vigiar para que o conhecimento a priori seja totalmente puro. Por isso, a filosofia transcendental outra coisa não é que uma filosofia da razão pura simplesmente especulativa. Pois tudo o que é prático, na medida em que contém móbiles, refere-se a sentimentos que pertencem a fontes de conhecimento empíricas.
Kant diferencia entre a “Crítica da Razão Pura” e a “Crítica da Razão
Prática”. Enquanto a primeira lida com os limites e possibilidades do conhecimento teórico, a segunda lida com a moralidade e a ética prática, onde Kant defende o imperativo categórico como fundamento da ação moral.
A Crítica da Razão Pura, escrita por Immanuel Kant no século XVIII, é
uma obra filosófica de grande importância, que explora a capacidade da razão humana de conhecer e compreender o mundo.
Kant tentou superar o impasse entre o racionalismo e o empirismo,
porém considerou que a razão pura poderia apresentar juízos sintéticos a priori, concluindo que parte da ciência natural e a Matemática seriam conhecimentos certos por não necessitarem de recorrer à experiência. KANT, Immanuel. Crítica da Razão Pura. Trad. Manuela Pinto dos Santos e Alexandre Fradique Morujão. 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001. ISBN: 972-31-0623-X (Introdução - pp. 62 – 83).