Você está na página 1de 4

Filosofia – UFFS

Filosofia Moderna
Prof. Flávio Zimmermann
Bernardo Padilha

Terceiro Ensaio
Qual a crítica de Kant às filosofias empirista e racionalista e qual a sua proposta de
superação delas?

Inicialmente, já não é novidade que o racionalismo e o empirismo travam uma


“disputa” para ver qual é o mais coerente quanto às teorias de conhecimento, me parece que
ambos estavam muito concentrados em suas teses a tal ponto de esquecerem que não eram as
únicas, bem como poderiam ser complementadas. Pois Kant resolverá isso, mas antes, como um
bom filósofo, elaborará uma crítica à ambas, levando em conta principalmente as antinomias da
razão pura.
Para Kant, o indivíduo deve ter papel ativo no que tange a busca pelo
conhecimento (deve ter vontade de aprender), tendo interação entre o objeto e sujeito, o que não
vimos nas filosofias racionalistas e empiristas, sendo que em ambas o sujeito praticamente não
tem vontade própria, obtém o conhecimento respectivamente pela inatez/razão pura ou
simplesmente pela experiência sensível do mundo exterior. Kant desenvolve categorias do
conhecimento, denominadas a priori e a posteriori.
Conhecimento a priori em síntese diz respeito ao conhecimento que independe da
experiência, precedente. São as noções puras do entendimento, no caso, as capacidades que o
sujeito tem desde que nasceu, como por exemplo, a de aprendizado.
Conhecimento a posteriori intuitivamente é o contrário de conhecimento a priori.
Diz respeito ao conhecimento obtido após a experiência.
Como um exemplo prático, a priori, qualquer um conseguiria desenhar um
quadrado apenas com a descrição de um, ou, vendendo o peixe de Descartes, chegar à
conclusão de que existo. Agora, por outro lado, desenhar um quadrado e pinta-lo de azul requer
certa experiência sensorial do que/ como é a cor azul.
No racionalismo, o indivíduo é passivo do conhecimento pois em tese, já nasce
com ele. Apenas deverá fazer uso rigoroso do seu intelecto para alcança-lo e aperfeiçoa-lo. É
defendida a ideia de que a verdade é produto exclusivo da razão pura do sujeito, o que me
parece incoerente, já que vivemos em um mundo tangível, rodeados de sensações, percepções
que simplesmente entram em nossa mente de maneira empírica, independendo da nossa
vontade.
Indo na mesma mão, o empirismo continua com a passividade do sujeito, que
desta vez obtém conhecimento pela experiência sensível do mundo. Como um ótimo exemplo,
em outras palavras dirá John Locke que nascemos como uma tábula rasa, e todo o
conhecimento adquirido nos molda posteriormente. Aproveitando a deixa, assim como o
racionalismo, o empirismo também possui limites. Não podemos conhecer deus (se é que
existe), pela experiência, por exemplo.
Em seu livro “Crítica da Razão Pura”, Kant busca delimitar a capacidade de
conhecer, não levando mais em conta a questão de “onde o conhecimento se encontra, e como
devemos acha-lo”, mas “Seria o conhecimento possível?”.
De início, criticando o racionalismo, Kant afirma que a razão pura nada pode
conhecer. Criticava a crença cega de que as capacidades da razão poderiam suprir qualquer
outro meio, descredibilizando os sentidos e os fatores externos, experiências. Como exemplo,
para Kant, a razão era como uma vara de pesca que nos permitia alcançar o conhecimento até
certo ponto, estabelecendo assim limites do conhecimento intitulado a priori.
Kant afirma: “a razão pura, independente da relação com outros objetos, nada
pode conhecer. Sem validar suas investigações em testes práticos, torna-se dogmática.”
Quanto à filosofia empirista, Kant critica a concepção de que o conhecimento é
originado da experiência, não se fazendo necessário o uso das faculdades intelectuais.

“Não resta dúvida de que todo o nosso conhecimento começa pela experiência;
efectivamente, que outra coisa poderia despertar e pôr em acção a nossa capacidade de
conhecer senão os objectos que afectam os sentidos e que, por um lado, originam por si
mesmos as representações e, por outro lado, põem em movimento a nossa faculdade
intelectual e levam-na a compará-las, ligá-las ou separá-las, transformando assim a
matéria bruta das impressões sensíveis num conhecimento que se denomina
experiência? Assim, na ordem do tempo, nenhum conhecimento precede em nós a
experiência e é com esta que todo o conhecimento tem o seu início” – KANT, Crítica
da Razão Pura. Pág. 36, Introdução.

Apesar da crítica, concordará que o conhecimento começa efetivamente pela


experiência, mas dessa vez, posteriormente o será desenvolvido pelas capacidades racionais,
como visto acima. Dirá Kant:
“Sem sensibilidade nenhum objeto nos seria dado, e sem entendimento nenhum
seria pensado”
Como proposta de superação à esse embate, Kant desenvolverá a teoria de que o
ser tem a capacidade de entendimento inata em si, e que essa capacidade de conhecimento
dialoga com o conhecimento proveniente das experiências sensíveis, tornando o “produto final”
do conhecimento como algo semelhante à uma junção empírica e racional, e me surpreende o
fato de que nenhum outro filósofo tenha pensado nisso.
Para superar particularmente o racionalismo, Kant estabeleceu limites para o
conhecimento a priori afirmando haverem coisas as quais não se pode conhecer sem que as
experimentemos de fato, como por exemplo uma sensação física específica ou até mesmo
conhecimentos universais, como o exemplo do quadrado mais acima.
Para o empirismo, afirmou a possibilidade do conhecimento a priori. Como
exemplo, diz que se retirássemos da experiência tudo o que diz respeito aos sentidos, ainda
ficariam certos conceitos a priori, tornando o empirismo de certo modo insuficiente por si só,
fazendo assim necessário o uso das faculdades a priori da mente.
Além das críticas às filosofias, Kant diz que o mundo que conhecemos não é de
fato o mundo em si, mas uma representação do que nosso entendimento produz dele, um
fenômeno. Será assim impossível dizer o que é um objeto em si, apenas podemos dizer o que
entendemos que ele é (semelhante à algum cético que conheço). Mas se essa concepção é
adotada, como seria possível o conhecimento?
Kant responde que a tentativa de busca-lo nas coisas em si é sem sentido,
contraditória. Partirá para o estudo do mundo das aparências e das estruturas inatas da mente
(capacidades), que determinam a natureza da experiência, concluindo que a realidade é
incognoscível.
Adotada agora a nova maneira de busca do conhecimento (abandono do estudo
das coisas em si), o sujeito se torna a peça central, o principal meio para o conhecimento, visto
que todo conhecimento baseara-se em si próprio e no funcionamento de sua mente, tornando-o
por fim efetivamente ativo.
REFERÊNCIAS

https://gulbenkian.pt/publication/critica-da-razao-pura/
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/938729/mod_resource/content/1/-Prolego%CC
%82menos%20a%20toda%20metafi%CC%81sica%20futura.Kant.pdf

Você também pode gostar