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Apresentação
O pensamento moderno é marcado pelo discurso racional e pela busca pelos fundamentos do
conhecimento. Assim, se até durante a Idade Média, tinha-se uma reflexão voltada e respaldada no
argumento teocêntrico — e mesmo o exercício filosófico tinha como finalidade a conciliação entre
fé e razão —, desde o seu início, a Modernidade é inaugurada graças a uma ruptura entre essas duas
instituições: a do saber e a religiosa/teológica. Nesse contexto, a filosofia volta-se para a razão
humana como único fundamento capaz de conduzir à verdade sobre as coisas. Esse período é
compreendido entre os séculos XVII e XVIII e ficou conhecido como “a era da razão” ou Iluminismo.
Immanuel Kant foi um dos filósofos responsáveis por fundamentar as concepções iluministas e
ficou reconhecido como o filósofo mais importante do movimento. Suas teorias principais versam
sobre a ética, a estética, a teologia e a epistemologia. Em relação a esse último eixo, o
epistemológico, convém destacar que a sua concepção acerca da razão transcendental, que, por sua
vez, funda o idealismo transcendental e o criticismo, é uma das teses que mais transformou a forma
como se pensavam as possibilidades e os limites do conhecimento humano.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai entender quais são as principais reflexões kantianas.
Compreenderá a importância e a transformação que essa teoria causou na tradição filosófica
moderna. Por fim, verá como a razão está absolutamente relacionada à teoria moral kantiana.
Bons estudos.
O criticismo kantiano foi capaz de resolver a oposição entre teoria racionalista e teoria empirista —
o que, de modo geral, consiste na oposição entre a razão e a experiência como fonte de
conhecimento da realidade. De um lado, tem-se Descartes, que entende que as sensações podem
enganar e, por isso, a razão é o fundamento do conhecimento, isto é, que pode conduzir à verdade
do fenômeno. De outro lado, estão os empiristas, que defendem que o conhecimento só pode ser
formulado a partir da experiência — afinal, como pode um bebê, por exemplo, ter um conhecimento
acerca da temperatura de algo ou mesmo do que é temperatura?
A partir dessas teorias, a argumentação central da teoria de conhecimento kantiana fica posta no
juízo que ele denomina como "sintético a priori". Segundo esse juízo, o conhecimento é construído
de tal modo que não se fixa no espaço e no tempo, isto é, se consegue desenvolver raciocínios que
apresentam uma verdade sem a necessidade de recorrer à dimensão espacial ou temporal. Um
exemplo desse tipo de raciocínio é o matemático.
Considerando esse contexto, imagine que você é professor de filosofia e solicita de seus alunos um
exemplo matemático ou geométrico que demonstre como o raciocínio matemático corresponde ao
juízo sintético kantiano a priori.
Esse exemplo deve ser justificado. Além do exemplo ("os triângulos têm três lados iguais"), o aluno
deve explicar por que, para fornecer esse exemplo, não é necessário que se conheça um triângulo a
priori.
Infográfico
Até mesmo a ciência, que, de fato, trabalha com comprovações empíricas de suas hipóteses, induz a
pensar que todo o conhecimento, para sê-lo, deve ser testado. Entretanto, o que dizer a respeito do
conhecimento que não pode ser comprovado?
A leitura kantiana do filósofo inglês David Hume foi precedida pela leitura que Kant fez de Leibniz.
Tal fato é importante porque é graças ao contato com a obra de Hume que Kant desenvolve a sua
síntese entre empirismo e racionalismo, dando origem ao criticismo. Nesse sentido, Kant afirmava
que Hume o “despertou do sono dogmático”. Isto é, foi em contato com a filosofia humeniana que
ele foi levado a questionar a realidade como fonte de conhecimento verdadeiro e a considerar a
metafísica em suas possibilidades. Foi assim que a razão passou a ser estruturada e elaborada em
suas possibilidades epistemológicas.
Kant é visto como crítico a Hume, sendo que este buscava incessantemente justificar a indução. O
filósofo o contraria, afirmando que há outras formas válidas de construir o conhecimento, em que,
segundo o pensador alemão, a mente ordenaria a experiência de modo conjunto, de maneira a
situar o princípio causal verdadeiro nessa experiência — o que determinaria que a experiência
fizesse a relação causal entre A e B seria a mente, por meio de juízos sintéticos a priori, existentes
independentemente da própria experiência, mas a partir dela.
No capítulo O criticismo kantiano, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai entender
como Kant estrutura e compreende a razão humana como fundamento de conhecimento. Verá
como sua teoria sintetiza os argumentos empírico e racionalista. E, por fim, compreenderá a relação
entre moral, ética e razão.
Boa leitura.
FILOSOFIA
Introdução
A filosofia de Immanuel Kant (1724–1804) compreende duas fases prin-
cipais: a pré-crítica ou dogmática (até 1770), composta por trabalhos
nas áreas da matemática, da sismologia, da astronomia e da filosofia; e
a crítica, que se inicia por volta dos 46 anos de Kant, depois que ele lê a
obra de David Hume (1711–1776), sua maior fonte de inspiração para a
Crítica da Razão Pura.
Na primeira fase do seu pensamento, sob a influência de Gottfried
Leibniz (1646–1716) e Christian Wolff (1679–1754), Kant baseia as suas
reflexões na filosofia dogmática, com preceitos certos e indiscutíveis.
Já na segunda fase da sua obra, impulsionado por Hume, Kant se de-
clara despertado do sono dogmático, colocando a razão sob suspeita
e questionando o que se pode realmente conhecer. A partir da crítica
das ideias metafísicas da razão, Kant admite que o conhecimento vem
de fora, ou seja, da experiência (a posteriori), antecedida pelo que ele
chama de a priori.
A filosofia de Kant
A primeira fase do pensamento de Kant é conhecida como “pré-crítica” ou “dog-
mática”. Ela durou até 1770. Nessa fase, influenciado pelo racionalismo de Gottfried
Leibniz e Christian Wolff, Kant desenvolveu uma filosofia dogmática. Nesse
período, a sua obra não incluía um questionamento racional a respeito da realidade.
2 O criticismo kantiano
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Religião
O contexto atual possibilita uma reflexão coerente a partir de Kant no que diz
respeito à religião e à política. Considerada um problema antigo, a intolerância
religiosa é um assunto que a filosofia moral pode iluminar, indicando modos
de agir e propondo uma racionalidade que vá além dos aspectos históricos e
culturais.
A filosofia kantiana propõe condições de justificar e legitimar a liberdade
religiosa. Kant, em seu livro A Religião nos Limites da Simples Razão, conde-
nou e combateu a intolerância religiosa, refletindo sobre o caráter da crença
religiosa e o status teórico e moral da própria religião (SANTOS, 2017). A
tolerância é considerada como ação compassiva no que se refere ao erro dos
outros, enquanto o intolerante é aquele que não consegue suportar a imperfeição
dos outros sem ódio e, por isso, ele próprio não pode ser suportado sem ódio.
Partindo dessa reflexão, a tolerância é um dever universal em relação a todas
as pessoas, nas mais diversas religiões, numa dinâmica de suporte aos defeitos
uns dos outros, em favor da vida útil em sociedade.
Kant elencou (SANTOS, 2017) três princípios propondo o significado e a
legitimidade da liberdade da religião. Veja a seguir.
10 O criticismo kantiano
Política
A política deve ser pensada a partir da concepção do direito relacional constitu-
ído pela razão em relação às inclinações naturais do homem. Nessa perspectiva,
o homem reflete sobre o progresso da vida em sociedade, baseado na ação e
no dever, por meio das orientações racionais nele contidas.
O homem, por meio da sua liberdade, tem capacidade de legislar sobre a
própria lei a que se submete, como uma faculdade universal que possui, esta-
belecendo os seus direitos. Porém, partindo da ideia cosmopolita, o homem
necessita do Estado para o cumprimento das leis, mediante as quais também
são regidos os deveres que deve assumir, no sentido da garantia da própria
liberdade. Na concepção de Kant, “[...] as virtudes políticas servem apenas para
a construção de uma possível constituição republicana perfeita. Por isso, seu
fim [...] é imanente à política e não faz indicação à esfera moral [...]” (KLEIN,
2013, documento on-line).
Uma política pode ser considerada útil de acordo com os termos em
que se propõe junto à sociedade. Ela não deve ser dominada por preceitos
moralizantes dos seus agentes, contrários aos direitos, uma vez que o
governo deve ser pensado de forma autêntica por um político moral, não
como uma simples disposição de ânimo demonstrada pelo legislador ou
O criticismo kantiano 11
executivo político. Segundo Klein (2013), Kant aponta, assim, que as leis
justas devem ser criadas e aplicadas corretamente, não de modo eventual,
mas de forma constante e sistemática. Para isso, uma boa disposição moral
é imprescindível.
KANT, I. Crítica da razão pura. 4. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1997.
KLEIN, J. T. Kant sobre o progresso na história. ethic@, Florianópolis, v. 12, n. 1, p. 67–100,
2013. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/ethic/article/viewFile/1677-
-2954.2013v12n1p67/25273. Acesso em: 28 ago. 2019.
PUC-RIO. Kelsen e Kant: limites e possibilidades da razão. [2010]. Disponível em: https://
www.maxwell.vrac.puc-rio.br/15781/15781_3.PDF. Acesso em: 28 ago. 2019.
SANTOS, L. R. Kant, sua interpretação moral do Cristianismo e raízes bíblico-cristãs da
sua ética. Conjectura: Filosofia e Educação, Caxias do Sul, v. 22, n. 2, p. 226–278, 2017.
Disponível em: http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/conjectura/article/view/5039/
pdf. Acesso em: 28 ago. 2018.
Leituras recomendadas
BONJOUR, L. Filosofia: textos fundamentais comentados. 2. ed. Dados eletrônicos.
Porto Alegre: Artmed, 2010.
KANT, I. A paz perpétua: um projecto filosófico. Covilhã: Universidade da Beira Interior,
2008.
VASCONCELOS, V. V. Conhecimento em Kant e inteligência artificial. Belo Horizonte:
UFMG, 2005.
Dica do Professor
A possibilidade de conhecimento está fundamentalmente ligada à razão, mas isso não exclui o
conhecimento relacionado à experiência. Isso porque a razão é estruturada em dois juízos que
consistem em um universal e outro particular. O mesmo se diz a respeito da possibilidade de esses
juízos serem sintéticos ou analíticos a priori e a posteriori.
Nesta Dica do Professor, você vai compreender como a razão é pensada por Kant.
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Exercícios
1) Apesar de a leitura que Kant fez de Hume ter reorientado a forma como o filósofo alemão
pensava a filosofia e a relação entre sujeito e objeto no sentido epistemológico, existe, em
relativa medida, uma crítica kantiana direcionada ao dogmatismo presente também na teoria
humeniana.
D) Kant busca permitir que os raciocínios indutivos passem a ser os elementos centrais do
conhecimento.
A partir dessa explicação, avalie as alternativas a seguir e assinale aquela que apresenta um
juízo sintético. Lembre-se de que o juízo sintético corresponde àquele cujo predicado
acrescenta algo ao sujeito.
E) Uma reta traçada do centro de um círculo a qualquer uma de suas extremidades sempre terá
o mesmo comprimento.
D) A filosofia kantiana buscou romper com a ideia de que racionalismo e empirismo seriam
extremos.
5) Desde os gregos, o modo como se alcança a verdade ou, ainda, o caminho para o
conhecimento – que leva o nome de epistemologia – é uma das questões de maior
relevância. Afinal, não há como afirmar que se conhece sem avaliar o modo pelo qual se
conhece. É por essa razão que Kant também se dedica a essa problematização. Nesse
sentido, as razões a posteriori são baseadas ou derivadas da experiência.
A) conhecimento suprassensível.
B) conhecimento empírico.
C) juízo sintético.
D) juízos analíticos.
E) argumentos indutivos.
Na prática
É refletindo sobre essa oposição (razão e experiência) que Amanda decide estudar a filosofia
kantiana. Acompanhe, neste Na Prática, como se deu esse estudo.
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Saiba mais
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:
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