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Immanuel Kant (1724 — 1804)

foi um filósofo prussiano. Amplamente considerado como o principal filósofo da era moderna, Kant
operou, na epistemologia, uma síntese entre o racionalismo continental (de René Descartes, Baruch
Espinoza e Gottfried Wilhelm Leibniz, onde impera a forma de raciocínio dedutivo), e a tradição empírica
inglesa (de David Hume, John Locke, ou George Berkeley, que valoriza a indução).

Kant fundou uma nova teoria do conhecimento, chamada idealismo transcendental, e a sua filosofia,
como um todo, fundou o criticismo, corrente crítica do saber filosófico que visava, como queria Kant, a
delimitar os limites do conhecimento humano. As obras de Kant possuem uma rara erudição, um estilo
literário único e um rigor metodológico e filosófico inigualável.

O grande pensador da Modernidade não se dizia ateu, mas sempre manteve uma relação polêmica com
a religião por defender, em seu criticismo, que somente podemos conhecer aquilo que podemos intuir,
ou seja, aquilo que podemos ver, ouvir, de fato experimentar.

Aos 16 anos de idade, Immanuel Kant entrou para o curso de Teologia da Universidade de Königsberg,
onde começou a aprofundar os seus estudos em Filosofia, principalmente em Leibniz. Também se
interessou por Física e Matemática, inclusive escrevendo sobre Ciências Naturais.

Kant foi proibido de escrever sobre religião pelo Rei Frederico Guilherme II, da Prússia, devido às suas
teses polêmicas, que levariam a uma espécie de agnosticismo intelectual. Kant publicou textos sobre
religião somente em 1797, após a morte do rei.

Em 1784, no seu ensaio "Uma resposta à questão: o que é o Iluminismo?", Kant visava vários grupos que
tinham levado o racionalismo longe demais: os metafísicos que pretendiam tudo compreender acerca de
Deus e da imortalidade; os cientistas que presumiam nos seus resultados a mais profunda e exata
descrição da natureza; os cépticos que diziam que a crença em Deus, na liberdade, e na imortalidade,
eram irracionais.

Nessa obra, ele sintetiza a possibilidade do homem seguir sua própria razão, o qual seria, ao mesmo
tempo, a saída do homem de sua menoridade.
Essa é definida como a incapacidade do homem de fazer uso do seu próprio entendimento.

Ou seja, o fato de não ousar pensar, por motivos de covardia e a preguiça, principais motivos do
permanecimento humano na menoridade.

Em 1795, no livro Das Ende aller Dinge ("O fim de todas as coisas"), a perspectiva é já completamente
diferente. Kant toma agora em consideração a possibilidade de que, a par do fim natural de todas as
coisas, se verifique também um fim contrário à natureza, perverso:

"Se acontecesse um dia chegar o cristianismo a não ser mais digno de amor, então o pensamento
dominante dos homens deveria tomar a forma de rejeição e de oposição contra ele; e o anticristo [...]
inauguraria o seu regime, mesmo que breve (baseado presumivelmente sobre o medo e o egoísmo). Em
seguida, porém, visto que o cristianismo, embora destinado a ser a religião universal, de facto não teria
sido ajudado pelo destino a sê-lo, poderia verificar-se, sob o aspecto moral, o fim (perverso) de todas as
coisas"

Kant mantinha-se no entanto optimista, começando por ver na Revolução Francesa uma tentativa de
instaurar o domínio da razão e da liberdade. Toda a Europa do iluminismo contemplava então fascinada
os acontecimentos revolucionários em França.

A Revolução Francesa, no entanto, foi um marco de viragem, também na filosofia de Kant. Observando a
evolução e as realizações práticas, Kant volta a reflectir sobre a prometida razão e liberdade.

Alguns dos principais livros de Kant são: Crítica da razão pura, Crítica da razão prática, Crítica da
faculdade de julgar e Fundamentação da Metafísica dos costumes. Extremamente rigoroso e metódico, o
filósofo nunca se casou e não teve filhos, dedicando-se, quase integralmente, à pesquisa e à docência
em Filosofia. Curiosamente, o pensador prussiano nunca saiu de sua cidade natal, e sua extrema
erudição e seu conhecimento geral eram obtidos por meio de leituras e contato com pessoas de fora.

O idealismo transcendental kantiano construiu uma complexa teia de conceitos para explicar que nem o
empirismo estava certo e nem o racionalismo explicava plenamente o conhecimento humano. Para Kant,
o conhecimento é obtido com base na percepção do que ele chamou de “coisa em si”, que é o objeto.

Esse processo dá-se pelo que o pensador denominou intuição, e é a racionalidade, por meio das
faculdades mentais, que proporciona ao ser humano o conhecimento, pois a nossa mente é capaz de
relacionar conceitos puros aos dados da percepção.

Para Kant, há a coisa em si e o conceito transcendental, sendo a nossa relação com esses dois elementos
estritamente pessoal e psicológica, mas o fato de haver um conceito universal, que serve de parâmetro,
impede que a teoria kantiana seja relativista.

Principais ideias

Criticismo: filosofia voltada para estabelecer os limites do conhecimento humano com base em um
intenso exercício filosófico, estabelecendo uma crítica revisionista da Filosofia.

Idealismo transcendental: doutrina filosófica voltada para entender como ocorre o conhecimento
humano, com base em noções como juízo analítico, juízo sintético e juízo estético.

Iluminismo: a indicação de uma iluminação por meio do conhecimento é o requisito para a formação de
uma mente autônoma.

Imperativo categórico: é a formulação de uma lei moral, máxima da ação ética em qualquer situação. O
imperativo kantiano pode ser formulado da seguinte maneira: age de tal maneira a tornar a sua ação
uma lei universal. Isso significa que a ação deve ser universalmente correta ou estar, em qualquer
situação, em correspondência com o dever. Há também a máxima: age de tal modo a utilizar a natureza
e as pessoas como fim e nunca como meio. Isso significa que há uma obrigação moral de não usar as
pessoas como meio para que se consiga algo.

Por conseguinte, Kant formula o "juízo sintético" para tratar da experimentação enquanto garantia dos
conhecimentos verdadeiros. Segundo ele, não se pode alcançar à verdade apenas pela análise de suas
proposições.

Já o "juízo analítico", por outro lado, está fundado no princípio de identidade. Nele, o predicado aponta
um atributo contido no sujeito e, quando se nega o sujeito, se nega o predicado (vice-versa).

O "juízo estético", por sua vez, somente seria possível para aqueles com a faculdade de julgar. Esses
seriam os únicos capazes de uma investigação crítica a respeito do conceito de "belo".

Citações

“Não se pode aprender Filosofia alguma. [...] Só se pode aprender a filosofar, isto é, exercitar o talento
da razão na observância de seus princípios universais.”

"A guerra é má, por originar mais homens maus do que aqueles que mata."

"A felicidade não é um ideal da razão mas sim da imaginação."

"A moral, propriamente dita, não é a doutrina que nos ensina como sermos felizes, mas como devemos
tornar-nos dignos da felicidade."

A IDÉIA DE DEUS EM IMMANUEL KANT

Kant antes de apresentar sua idéia sobre Deus entende a necessidade de criticar o teísmo e seus
conceitos acerca do Ser Supremo. O primeiro ponto a ser questionado é a impossibilidade de uma prova
ontológica da existência de um Ser Supremo.Para o filósofo em questão, o Ser Supremo a princípio não
passa de uma necessidade da razão.Pois esta, urge em apresentar algo que possa servir de estrado
sólido para seus conceitos mais diversos.Na busca por estratificar o conceito, a consciência é submetida
de forma insistente a criar um ser ideal que seja a causa para as demais coisas.Não somente as
coisas ,mas também os conceitos são submetidos ao mesmo processo em que tudo necessita de ter uma
sustentação e causa original e necessária. [1]Segundo essa prova, admitindo-se que algo exista, isto só
pode ser concebido de modo que se afirme [2]sua necessidade.Sendo assim,”(...) se existe algo, seja o
que for, tem de admitir-se também que algo existe necessariamente.”
Seguindo o raciocínio dado até então, é inevitável afirmar, uma sucessão quase que infindável de causas
necessárias das coisas existentes e dos conceitos dados sobre as mesmas. Isto se multiplica até que a
razão esbarre em seu limite, ou “encontre” a causa necessária e primeira de todas as demais. Naquilo
que essa busca, não encontrar de forma alguma, causa ou necessidade para existir em determinada
coisa, deduz-se daí que esta coisa seja afirmada então como causa absolutamente necessária.
Também.Esta causa original, de existência incondicionada, não pode ser outra coisa, senão o Ser
Supremo, e chegando-se a esta conclusão, pode-se afirmar então, uma teleologia como base para a
razão especulativa.

Ainda dentro do mesmo raciocínio, a busca da razão para um sentido da existência humana, necessita
afirmar um conceito que sirva para sustentar a idéia de que tudo o que existe tem um télos, já em sua
origem. “É verdade que daqui não pode inferir-se seguramente, que o que não contém em si a mais alta
e em todos os aspectos a mais completa condição tenha por isso de ser condicionado quanto à
existência.” [5]Desta forma, para se estabelecer um conceito de Ser Supremo que atenda à razão
também nesse aspecto, é necessário que esse ser seja, um ser incondicionalmente necessário. De
acordo essa afirmativa o Ser Supremo não pode ser condicionado por nada nem por ninguém.

Kant diz que a razão nesse processo de busca, convence-se da importância desse ser
absolutamente necessário. E é ela mesma, a razão, que estabelece o que é fundamental para que o
conceito sobre esse ser seja aceito de forma plausível. Também importa, que toda a realidade conhecida
esteja contida nesse ser, e que ele seja a sustentação da totalidade da realidade. Afirmativa esta, que
possibilita o fundamento de um sentido teleológico a todas as coisas. Esse ser encontrado então,seria
concluído como ser absolutamente necessário, e daí, afirmá-lo como Ser Supremo seria uma mera
tautologia.

A tese apresentada inicialmente, de que o Ser Supremo pensado como absolutamente necessário
não passa de fruto da razão especulativa. E que o produto dessas conjecturas não passa do
reconhecimento dos limites humanos, e apresentação de uma realidade e de um ser idealizado, dotados
de uma perfeição inalcançável. Esta conclusão é possível a partir também da fala kantiana:

”(...)Um ser absolutamente necessário é um conceito puro da razão, isto é, uma simples idéia, cuja
realidade objectiva está longe de ser provado pelo facto de a razão necessitar dela. E, aliás, não faz outra
coisa que não seja indicar-nos uma perfeição inacessível.” [6]
A prova ontológica da existência de um ser supremo, para Kant, não agrega nenhum conhecimento para
aqueles que se debruçam sobre o tema. Pois, o conceito de ser supremo já afirmado como idéia, por
mais utilidade que alguém possa lhe atribuir continuará no mesmo nível de idéia. Além de poder induzir
a razão a uma falsa percepção da realidade, e desta forma, chegar a entender uma união sintética de as
coisas com o ser absolutamente necessário,algo impossível de se comprovar.[7]

Kant afirma também a impossibilidade de uma prova cosmológica da existência de Deus. Pois esta prova,
parte da mesma premissa da ontológica. Teoria essa que, tenta estabelecer uma ligação intrínseca da
necessidade absoluta com a realidade suprema. Mas com uma diferença básica, ao invés de tomar como
ponto de partida a realidade suprema para posteriormente se chegar à necessidade da existência, a
prova cosmológica parte da necessidade incondicionada e previamente dada de cada ser para chegar a
sua realidade ilimitada. A lógica dessa prova consiste em afirmar que se alguma coisa existe de fato,
também existe sua necessidade para que esta possa existir,e mais,há que existir o ser absolutamente
necessário como condição de possibilidade de existência.Ou seja,um retorno aos conceitos da prova
ontológica.[8]

O raciocínio da prova cosmológica da um passo à frente e afirma que o ser supremo só pode ser
afirmado por um único e conclusivo predicado. Sendo assim, o único conceito possível para essa prova é
que o define o Ser Absoluto como Ens Realissimun. Esse teoria que define o Ser dessa forma, é melhor
entendido enquanto se pensa o ser necessário pelo viés do conceito de soberanamente real.

A crítica de Kant em relação à prova cosmológica, passa necessariamente pelo mesmo caminho da
crítica à prova ontológica. Visto que, o filósofo em questão, já definira anteriormente que as duas provas
tem a mesmo aporte conceitual.Provas estas que, se valem de uma dialética infindável em torno de um
conceito que para Kant não tem nenhuma sustentação.Mesmo que a prova cosmológica tente se
defender por sua base da experiência do ser (eu) para afirmar o Ser Absoluto, na realidade não passa
pressuposições sustentadas pelos argumentos da primeira prova.Sendo estrado conceitual o mesmo, e
já devidamente criticado, afirmar o ser supremo como Ens Realissimun, não o torna mais aceitável
conceitualmente do que o absolutamente necessário.[9]

Agora então, diante da impossibilidade tanto da prova ontológica quanto da cosmológica, Kant
afirma então a impossibilidade de uma prova físico-teológica da existência de Deus. Se também esta
última prova, não passar pelo crivo da razão especulativa, nenhuma outra prova será suficiente para
sustentar a idéia da existência de um ser absoluto transcendental, nos moldes conceituais humanos.[10]
Ora, é próprio do ideal que nenhuma experiência humana, seja apropriada para lhe abarcar ou
definir, pois este perderia o status de ideal sendo reduzido ao campo experimental humano. A idéia de
um ser transcendental, suprema,originário e necessário seria suficiente se não fosse opostamente
incompreensível em sua totalidade à razão.Pois a oposição, está posta da seguinte forma, de um lado
está o conceito experimental sempre condicionado em suas possibilidades empíricas, do outro a causa
necessária de todas as coisas o Ens Realissimunque não está posto a nenhuma prova empírica e do qual
não temos a menor pista plausível para qualquer tipo de análise.[11]

Por isso Kant afirma:

“Assim, a prova físico-teológica tem por fundamento a cosmológica e esta, por sua vez, a prova
ontológica da existência de um único ser originário como Ser Supremo; e, como além destas três vias
nenhuma outra se abre à razão especulativa, a prova ontológica, extraída de simples conceitos puros da
razão, é a única possível, se jamais for possível uma prova de proposição tão extraordinariamente
elevada acima de todo o uso empírico do entendimento.” [12]

Por último, Kant critica todo tipo de teologia que tem como fundamento conceitos da razão
especulativa. Ora, se o entendimento do termo teologia for concebido conhecimento do Ser Absoluto ou
original, segue-se que tal conhecimento procede da razão.Sendo entendida então, como theologia
rationalis, mas a teologia que parte de outro pressuposto, no caso a revelação, será definida por sua vez
como theologia revelata.[13]

Dentro da theologia rationalis, há duas formas de se pensar o seu objeto de estudo. Sendo que, uma
maneira se apresenta pela via da razão pura, mas com conceitos simplesmente transcendentais, tais
como, ens originarium, ens realissimun e ens entium.E a este viés teológico, que é substrato da teologia
em questão, define-se então como teologia transcendental,e de forma subseqüente aquele que assume
esta teologia fica conhecido como deísta.A outra possibilidade que se apresenta dentro da theologia
rationalis, parte da premissa da natureza da nossa “alma”, e define Deus como Inteligência Suprema .Daí
a conceituação dessa vertente teológica, ser definida como teologia natural,e o que reconhece e assume
esta teologia é reconhecido como teísta.[14]

Kant conclui afirmando a tese que perpassa todo seu texto, que o Ser Supremo é um conceito ideal, bem
formado que representa todo o conhecimento humano (razão especulativa) acerca de Deus.
Considerando entretanto, que a realidade objetiva desse conceito não pode ser nem provado, nem
refutado pela mesma razão que o afirma. Sendo assim, todos os predicados que são afirmados como
inerentes ao Ser Supremo, tais como, eternidade, onipresença, onipotência são predicados
simplesmente transcendentais. Desta forma, cabe então apenas à teologia transcendental reafirmá-los
como predicados“divinos”.

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