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DE RENÉ DESCARTES À IMMANUEL KANT
l R
ené Descartes
Descartes é considerado o pai do racionalismo. Principalmente na França,
temos uma celebração de alguns teólogos que encaram o ceticismo com
muitos bons olhos, essa coisa da razão se tornando um lugar cada vez maior no
pensamento, na percepção de quem é Deus, de como é a vida, do que é a vida,
das respostas básicas para humanidade. A partir deste momento, a teologia se
separa de uma maneira cada vez mais radical da filosofia.
Lembre-se que o nascimento da filosofia tem tudo a ver com a teologia. A
filosofia nasce para pensar em coisas metafísicas, que vão além dos fenômenos
visíveis, perceptíveis. A metafísica fala daquilo que vai além do que é físico. A
filosofia, por trabalhar questões metafísicas, naturalmente pensa sobre Deus,
sobre a existência, sobre quem é o homem, sobre o que é bom, sobre o Belo e
tudo que tem a ver com esse ser humano se questionando sobre significado.
Vale dizer que Descartes nasceu no período muito importante da história.
Copérnico havia acabado de descobrir que a terra não é o centro do universo, e
existiam muitas pessoas na igreja que afirmavam pensamentos de que a Terra
era o centro de todas as coisas. O nascimento de Descartes então, se dá no meio
de dois eventos muito importantes na história da humanidade, a reforma
protestante e a descoberta de Copérnico. Ele já nasce no ambiente onde o
questionamento é uma coisa que está em alta.
Agora se faz necessário saber o que é verdade, porque não existe somente
alguém te dizendo uma única verdade. A ciência questiona o pensamento, os
protestantes questionam o catolicismo. Agora existe essa possibilidade.
Antes desse período, as coisas eram muito monolíticas, ou seja, eram muito
exclusivas, não tinha opções de crença e, com o surgimento da dúvida, nascem
também as possibilidades.
Descartes trabalha com a ideia do raciocínio dedutivo, que parte de verdades
universais, gerais, abrangentes, para você chegar em algum um ponto
particular, alguma conclusão particular. Assim é um raciocínio indutivo, você
induz através de premissas, para que essas premissas cheguem a uma
conclusão.
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Descartes traz um exemplo dessas premissas que são declarações:
Todo homem é mortal. Isso é uma declaração universal, é visível de observação
no fenômeno na realidade. Homens morrem, então todos os homens são
mortais. Isso é uma declaração universal e todos sabem que isso é verdadeiro.
Essa simples premissa é utilizada para refletir sobre coisas muito complexas.
Sócrates é homem.
Logo, Sócrates é mortal.
Esta é a lógica que hoje utilizamos, e ela começa a ser desenhada, ganha cada
vez mais contornos nesse período.
Ao falar de declarações, elas podem ser verdadeiras ou falsas, mas quando
falamos de silogismo (raciocínio dedutivo), não temos essa ideia de verdadeiro
ou falso e sim válido ou inválido. Logo, se você tem uma premissa que é válida, a
sua conclusão será válida.
Quando Descartes começa a trabalhar este método indutivo, o que fica em
questão é que ele estabelece a dúvida como método. Lembre-se que ele vive em
um período conturbado, existem possibilidades, a igreja protestante, o
movimento na ciência de que a terra não é o centro. Há novas perspectivas, por
isso ele usa a dúvida como método para criar um pensamento científico, que
organize as suas ideias. Descartes é o dono da frase famosa “Penso, logo existo.”
Não se engane! Apesar de pensar na dúvida como método, não significa que
Descartes era ateu, que não acreditava em Deus. Muito pelo contrário, ele trazia
ideia de que apenas um ser perfeito poderia causar um sentimento ou a ideia de
perfeição.
O “penso, logo existo” de Descartes se transforma em “penso, logo Deus existe”,
pois é Deus que provoca esse pensamento de perfeição, de ideia, de verdade,
desse anseio em buscar todas essas coisas.
l John Locke
Existia uma discussão muito importante para entender esse filósofo. O universo
é governado por um Deus ou é o universo mecânico com leis mecânicas,
fechado e sem interferência de Deus?
Locke é o pai do empirismo moderno, questionando o racionalismo, de que as
ideias são inatas. Provavelmente você conhece esse filósofo da ideia de tábula
rasa, de que o ser humano nasce sem ideias existentes, nasce vazio.
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A ideia básica é que quando nasce uma criança, a mente é uma página em
branco, não tem nada. Tudo será escrito a partir da sua existência. Todo
conhecimento é aprendido. Isso é muito importante, porque a ciência depende
muito desse pensamento de aprender o conhecimento. Primeiro se existe
depois se aprende.
Claro que hoje possuímos argumentos suficientes para entender que o ser
humano não é esta tábula rasa de Descartes. Todo conhecimento é a posteriori,
nesse pensamento de John Locke.
Note que esses filósofos ainda tem Deus, de alguma forma, em alta, como
próprio Locke defende a ideia de três leis:
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l Immanuel Kant
Kant tenta equilibrar o pensamento do racionalismo com pensamento do
empirismo, fazendo uma síntese dessas epistemologias, que tem a ver com o
conhecimento racionalista e o conhecimento empírico.
Ele passou pelo pietismo, Kant teve uma formação Cristã sólida muito
importante, para essa questão espiritual, da devoção, da busca espiritual. Além
de influenciado pelo petismo, também foi influenciado pelo iluminismo e,
justamente por ter essa formação, Kant afirmava que nada pode destruir a fé em
Deus, começando a fazer uma separação entre o n umenal e o fenomenal.
Numenal é o mundo onde Deus existe e o fenomenal é o mundo físico. O
mundo numenal não pode ser conhecido, Kant se utiliza da ideia de Hume de
que você não pode conhecer o eu empiricamente, levando esse conhecimento
de que nesse mundo metafísico não se tem acesso. Assim, a ciência precisa se
ocupar das coisas que acontecem no mundo f enomenal.
Uma obra muito famosa de Kant é o livro Crítica da Razão Pura, que tira da
razão, o poder de conseguir revelar toda a realidade. No pensamento de Kant, a
razão está fechada, trancada nesse nessa esfera fenomenal, sem competência
de chegar a esfera n umenal.
Embora Kant tenha trazido muitas coisas boas reforço que ele traz à tona o
dualismo de Platão, divisão que fizemos entre mundos.
➔ Deus existe? Mesmo afirmando que não tem como provar racionalmente as
coisas de Deus, Kant afirma a existência de Deus. O curioso é que 80% dos ateus
utilizam-se de levantamentos de Kant para comprovar que Deus não existe. É
muito intrigante que ateus usem um pensador, que tem uma profunda ligação
religiosa, para explicar o seu ateísmo. Se você quiser conversar com essas
pessoas, indico que você conheça um pouco mais da obra desse Pensador.
Kant traz o questionamento de: que tipo de conhecimento é possível?
Ele incorpora a racionalidade e o empirismo, lembra que o empírico é um
método de tentativa e erro. Kant concorda com os empíricos no sentido de que
o conhecimento inicia-se com a experiência, tentar e errar, mas ele diz que nem
todo conhecimento é proveniente da experiência.
Existe algum tipo de conhecimento que é anterior a experiência e ele separa
justamente esses tipos de conhecimentos, os conhecimentos que vêm a priori, a
princípio são do numenal e os conhecimentos da experiência, no mundo
fenomenal, que a razão trabalhará.
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A investigação científica se fixa no fenomenal e cada vez mais a ciência se
desenvolve, porque ela deixa de tratar os elementos metafísicos. Isso teve um
lado muito positivo, mas também teve o lado negativo. Hoje, temos fenômeno
oposto, de que, muitas vezes, alguns cientistas tentam entrar nesse Campo da
religiosidade, da fé, para explicar que Deus não existe.
Existe um grupo neo ateístas chamado Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse, que
usam a ciência para tentar refutar tudo que tem a ver com fé em Deus. São
pessoas com bastante conhecimento, mas extremamente sarcásticos, buscando
usar todos os elementos para tentar convencer que existem provas científicas
para suas afirmações, que, para nós, é uma falácia, é uma mentira bastante
grande.
Nesse sentido, concordo com Kant, que é impossível você usar técnicas
empíricas, técnicas científicas para provar que Deus existe ou não.
Há uma limitação do pensamento humano no que diz respeito a provar a
existência de Deus, mas o que a gente perde no sentido de que a razão pode
dialogar com a fé? Esse é justamente o tema da nossa próxima aula, que crer
também é pensar.
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