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SAMUEL
PARA VOCÊ
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Angélica Ilacqua CRB-8/7057
Chester, Tim
ISamuel para você I Tim Chester ; tradução de Daniel
Hubert Kroker. —São Paulo : Vida Nova, 2019.
240 p.
Bibliografia
ISBN 978-85-275-0915-2
Título original: ISamuel for you
1 SAMUEL
PARA VOCÊ
Tradução
Daniel Hubert Kroker
ים
VIDA NOVA
'2014, de Tim Chester/ The Good Book Company
Titulo do original: ISamuel for you,
edição publicada pela T he G ood Book C ompany (Epsom, Surrey, Reino Unido).
Todas as citações bíblicas sem indicação da versão foram extraídas da Nova Versão
Internacional. As citações com indicação da versão in loco foram traduzidas
diretamente da English Standard Version (ESV), da New International Version
(NIV), da New American Standard Bible (NASB) e da Revised Standard Version
(RSV) e extraídas da Almeida Revista e Corrigida (ARC), da Almeida Revista e
Atualizada (ARA) e da Almeida Século 21 (A21). Todo grifo nas citações bíblicas é
de responsabilidade do autor.
D ireção executiva
Kenneth I.ee Davis
G erência editorial
Fabiano Silveira Medeiros
Edição de texto
Norma Braga
Rosa M. Ferreira
Preparação de texto
Tatiane Souza
Mareia B. Medeiros
R evisão de provas
Josemar de Souza Pinto
D iagramação
Luciana Di lorio
A daptação da capa
I.ucas Souto
SUMARIO
Prefácio da série.............................................................. 7
Introdução a 1Samuel..................................................... 9
Glossário.......................................................................229
Apêndice 1: Samuel e Salmos.................................... 234
Apêndice 2: Israel na época de lSam uel.................. 237
Bibliografia...................................................................238
PREFACIO DA SÉRIE
C arl L aferton
Editor da série
8
INTRODUÇÃO A !SAMUEL
D u a s o b s e r v a ç õ e s s o b r e o livro
Quem escreveu os livros de 1 e 2Samuel? A resposta curta é
que não sabemos. Eles foram denominados segundo o nome do
profeta Samuel, mas isso não significa que ele os escreveu. Na
versão grega do Antigo Testamento, eles são chamados de “1 e
2Reinos”. E a morte de Samuel é descrita em lSamuel 25.1,
de modo que ele não podería tê-lo escrito após esse momento.
No entanto, Samuel pode ter sido uma fonte para os livros:
1Crônicas 29.29 fala sobre os “registros históricos do vidente
Samuel”. Os livros provavelmente foram compilados com base
em fontes diferentes.
E que tipo de gênero é o desse livro? Uma descrição útil é
que o livro é uma história pregada. Em outras palavras, é histó-
ria real. Não é uma compilação de parábolas ou fábulas — os
acontecimentos que o livro descreve são reais. Mas é mais do
que um relato de acontecimentos. Em lCrônicas 29.29, lemos:
“Os feitos do rei Davi, desde o início até o fim do seu reinado,
estão escritos nos registros históricos do vidente Samuel, do
profeta Natã e do vidente Gade”. Havia outros anais históri-
eos. O autor de Samuel fez mais do que criar um relato histó-
rico: seus escritos têm um propósito. O que ele registra nunca
é menos do que histórico, mas, ao lermos o que ele escreveu,
estamos fazendo muito mais do que lendo história. O seu
relato nos mostra quem é Deus e como ele governa 0 seu povo;
e o seu relato nos mostra Jesus, o seu Cristo.
II
!SAMUEL ■ CAPITULO 1 VERSÍCULOS 1 2 8 ־
1. UM REI VINDOURO
será rei em Israel?”. Logo fica claro que não é ele. Mas é disso
que trata o livro de Samuel: o homem que será o rei de Israel.
A única outra ocasião em que a expressão “certo homem” é
usada na Bíblia é na introdução à história de Sansão (J z 13.2).
Assim, o autor de Samuel imediatamente nos alerta sobre o
fato de que estamos na época dos juizes (e de fato Samuel e
Sansão podem muito bem ter sido contemporâneos). Esta-
mos esperando por um rei. E por isso que Elcana é introdu-
zido com uma longa genealogia (ISm 1.1). Se você estiver
familiarizado com as histórias de reis de Israel (como prova-
velmente seria o caso dos leitores posteriores no período do
Antigo Testamento), perceberá que isso soa como uma intro-
dução a um rei.
Assim, estamos sendo levados à expectativa de que essa é
a história do rei Elcana. Mas não é isso que obtemos. Temos
a expectativa da história de um rei... e recebemos a histó-
ria muito íntima da aflição particular de uma mulher —
tão particular que, na oração que fez, sua voz nem mesmo
era ouvida.
A história de Ana é estruturada segundo um padrão quias-
mático (chamado assim por causa da letra chi, cuja forma é
como um x), em que o primeiro e o último acontecimentos são
paralelos, o segundo e o penúltimo acontecimentos são parale-
los e assim por diante. No centro da história está o surgimento
de Samuel.
A terrív el s it u a ç ã o d e A n a
O texto de ISamuel 1.2 sugere que Ana era a primeira esposa
de Elcana; o versículo 5 diz que ela era o seu primeiro amor.
O nome “Ana” significa “favorecida”. Mas ela é estéril, e,
assim, Elcana toma uma segunda esposa, Penina. Para tornar
as coisas piores para Ana, o nome Penina significa “fértil” e,
em conformidade com o seu nome, Penina tem filhos. Não
ficamos sabendo quantos filhos ela teve, mas o versículo 4 fala
sobre “todos os filhos e filhas dela”. O versículo 2 acentua esse
contraste: “... Penina tinha filhos, Ana, porém, não tinha”.
A esterilidade tinha um significado adicional no Israel do
Antigo Testamento. A promessa de um Salvador a Adão (3.15)
e de descendência a Abraão (Gn 22.17,18) significava que as
pessoas estavam procurando um Salvador que viesse de dentro
de Israel. Sempre que nascia uma criança, surgia a pergunta:
“Será que é este?”. Sem filhos, não havia futuro para o povo de
Deus e fundamentalmente nenhuma esperança para o mundo.
Assim, a esterilidade era uma tragédia pessoal, exatamente
como é hoje. Mas também trazia um sentimento de exclusão
dos propósitos do povo de Deus. O fato de que o interesse
principal de Ana é a participação no futuro do povo de Deus
é talvez reforçado pelo fato de que, ao receber um filho, ela o
devolve a Deus (lSm 1.28).
O versículo 5 é am bíguo . Ele provavelmente significa:
“Embora amasse Ana, ele lhe dava somente uma porção, pois o
S enhor havia fechado o seu ventre” (RSV). Elcana está sendo
escrupulosamente justo. É uma porção por pessoa. Mas isso
significa que Penina recebe várias porções para ela e seus filhos
(v. 4), enquanto Ana recebe somente uma. Isso é justo, mas
acentua a perda de Ana. Todo ano, quando eles vão a Siló para
adorar a Deus, Ana é lembrada mais uma vez de que é estéril
enquanto Penina é fértil. E Penina aproveita a oportunidade,
15
! Sam uel ! . 1־28 ; 2.1 ־11
todo ano, para provocar Ana (v. 6). Ela é chamada de “rival” de
Ana. Essa não é urna familia feliz. E isso “acontecia ano após
ano”; vez após vez, Ana sofria: “... chorava e não comia” (v. 7).
A oração d e A na
O ventre de Ana foi fechado. Mas por qué? Porque “o S enhor
havia fechado o seu ventre” (v. 5, RSV). Deus é soberano ,
portanto ele é soberano sobre nosso sofrimento. Quaisquer
que fossem as causas médicas para a esterilidade de Ana, no
fim das contas era o Senhor que havia fechado o seu ventre.
O que fazemos com esse tipo de informação é fundamental.
V e r d a d e ir a o r a ç ã o
Isso é verdadeira oração. H á um tipo de espiritualidade que
afirma que a verdadeira oração é marcada pela quietude e con-
templação. Às vezes, a implicação é que, quanto mais espiritual
você for, mais calmo e sereno será. Não é verdade. A oração de
Ana — que é uma oração, como veremos, a que Deus responde
— nasce de:
C o m o Ir e m p a z
Eli reconhece isso, pois diz: “... ‘Vá cm paz, e que o Deus de
Israel lhe conceda o que você pediu”’ (v. 17). Ana responde:
"... ‘Possa tua serva achar favor aos teus olhos’” (v. 18, NIV).
Lembre-se, o nome “Ana” significa “favorecida”, de modo que
ela está fazendo um trocadilho com seu nome, dizendo de fato:
“Que a favorecida seja favorecida”.
Então Ana come, sinal de que não está mais angustiada. Diz
o texto que “seu rosto já não estava mais abatido” (v. 18). Isso é
realmente notável. Ana ainda não sabe como Deus responderá
18
!Sam uel 1.1-28; 2.1-11
à sua oração. Mas a questão é que ela orou e agora está con-
tente em deixar isso com ele. Ela é um modelo da verdade
expressa em Filipenses 4.6,7: “Não andem ansiosos por coisa
alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de
graças, apresentem seus pedidos a Deus. E a paz de Deus, que
excede todo o entendimento, guardará o coração e a mente de
vocês em Cristo Jesus”. Ana apresentou seu pedido ao Senhor.
Agora ela conhece a paz de ter derramado seu coração ao Deus
que conhece todas as coisas e cuida de todo o seu povo.
A r esp o sta d e D eu s
A favorecida é favorecida. Ana fica grávida e dá à luz um
menino (lSm 1.19,20).
Nomes muitas vezes são significativos, especialmente quando
o ato de nomear e o significado do nome são descritos no texto.
Ana não somente dá nome a seu filho, mas explica por quê: “...
‘Eu o pedi ao S enh or ’” (v. 20). O nome “Samuel” na verdade
significa “seu nome é Deus”. Mas a palavra hebraica “pedir”
é sa’al, próxima o suficiente para que a explicação de Ana
do nome dele faça sentido. Samuel é o filho que foi pedido
daquele que é Deus.
Essa ênfase em pedir percorre toda a história. No ver-
sículo 17, Eli diz literalmente “o pedido que você pediu”. De
fato, ele diz: “Que Deus te dê o Samuel que você ‘samuelou’”.
Quando cumpre o seu voto e apresenta Samuel para o serviço
no T abernáculo , Ana diz: ‘“Era este menino que eu pedia, e
o S enhor concedeu-me o pedido. Por isso, agora, eu o dedico
ao S e n h o r . Por toda a sua vida será dedicado ao S enhor ’...”
(v. 27,28). Em hebraico, a palavra “dar”, “dedicar” ou “conce-
der” tem a mesma raiz que a palavra “pedir” (porque “conce-
der” é o que você faz em resposta a alguém que pede). Assim,
há quatro referências a pedir nesses dois versículos. Literal-
mente, o que Ana diz é: “O S enhor concedeu-me o pedido
19
!Sam uel 1.1-28; 2.1-11
P e r g u n ta s p a r a r e fle x ã o
1. De que maneira a oração de Ana nos encoraja em nossa
oração?
2. H á algum pedido que você precisa apresentar a Deus em
oração para depois ficar em paz?
20
! Sam uel 1.1־28 ; 2.1-11
SEGUNDA PARTE
O S e n h o r c o n fir m a s u a p a la v r a
A história de Ana não é contada para ilustrar a vida cotidiana
ordinária. A mensagem não é que toda mulher sem filhos que
ora receberá um filho. A história de Ana é contada porque ela
aponta para algo maior, algo “extraordinário”.
Quando Ana pede que Deus dê “atenção à humilhação de
tua serva” (1.11), ela está ecoando a linguagem do relaciona-
mento de Deus com Israel durante o Êxodo. Em Êxodo 3.7,
o Senhor diz: "... ‘De fato tenho visto a opressão sobre o meu
povo no Egito’...”. Então, em Êxodo 4.31, lemos: "... Quando
o povo soube que o S enhor decidira vir em seu auxílio, tendo
visto a sua opressão, curvou-se em adoração”.
O nome de Ana significa “favorecida”, mas ela não é favo-
recida. Do mesmo modo, Israel é favorecido (no sentido de ter
sido escolhido por Deus), mas não é favorecido de fato (pois
está vivendo em crise). Em hebraico, a palavra “favor” também
significa “graça”. Na época de Ana, Israel recebeu a graça de
Deus. Mas, nesse momento em sua história, Israel não é favo-
recido. O fim do livro de Juizes mostra que a nação está em
tumulto. Assim como Ana é estéril, Israel é estéril. A nação
não está dando fruto.
Em ISamuel 1.21, chegou o momento novamente de
Elcana e sua família fazerem sacrifícios em Siló — mas, dessa
vez, Ana tem um menininho e, dessa vez, Ana não vai com seu
21
!Sam uel 1.1-28; 2.1-11
marido (v. 22). No versículo 23, Elcana diz: “... ‘Faça o que lhe
parecer melhor. Fique aqui até desmamá-lo; que o S enhor
apenas confirme a palavra dele!’...”. Isso soa estranho. Ana é
a única que fez um voto que ela precisa confirmar. Deus não
disse absolutamente nada. Qual é a palavra do Senhor que
ele cumprirá? Não houve nenhuma menção a uma palavra de
Deus na história. E não pode ser a dádiva de um filho, pois o
filho já foi dado.
A resposta é que a palavra que o Senhor deu é a sua pala-
vra ao seu povo. Deus prometeu abençoar seu povo e torná-lo
uma bênção às nações. O que está acontecendo a Ana faz parte
dessa palavra maior, um sinal dos propósitos maiores de Deus
para seu povo. O versículo 19 diz: “... o S enhor se lembrou...”.
Isso não significa que Deus é esquecido e que subitamente ele
disse a si mesmo: “Ah, sim. Preciso permitir que Ana fique grá-
vida. Eu havia me esquecido!”. “Lembrar-se” tem um signifi-
cado mais específico. Significa Deus atuando de acordo com as
suas promessas da aliança , como ele fez no início da história
do Êxodo (Êx 2.23-25).
E assim Ana volta ao lugar em que havia clamado por um
filho (lSm 1.24). Dessa vez, no entanto, é muito diferente,
pois ela “levou o menino” (v. 24). Ela é a mulher que Eli viu
orando (v. 26,27); agora ela é a mulher a quem Deus concedeu
o pedido (v. 27). Ela não veio em desespero, mas em gratidão e
para dar o seu filho a ele (v. 28).
O c â n t ic o d e A n a
Então há o cântico ou a oração de Ana, em 1Samuel 2.1-10.
Trata-se de um cântico estranho para uma nova mãe cantar.
Com exceção do versículo 5, não é o cântico de uma mulher
que recebeu um filho. “O arco dos fortes é quebrado...” (v. 4).
“... o S enhor julgará até os confins da terra. Ele dará poder a
22
! Sam uel 1.1־28 ; 2.1-11
seu rei...” (v. 10). Não é assim que eu comporia um cântico para
marcar a chegada de um novo bebê!
Mas nesse cântico as pistas da história de Ana tornam-se
explícitas. A história de Ana é um retrato da história de Israel
— e, de fato, da história da humanidade. Assim como Ana,
somos estéreis e inférteis — no sentido espiritual. Mas o
movimento na história de Ana é de uma mulher estéril para
uma mulher fértil. Vemos Deus gerando vida onde não há
vida. Como Ana, estamos cercados de inimigos. Os inimigos
de Israel eram os filisteus, e eles eram em certo sentido um
retrato dos inimigos que a humanidade enfrenta, os inimigos
do pecado e da morte. Mas o movimento na história de Ana
é o de uma mulher que “sua rival [...] provocava” (1.6) para
uma mulher que pode dizer: “... ‘Minha boca se exalta sobre os
meus inimigos’...” (2.1).
O cântico de Ana é repleto de reversões. Em 1.8, Elcana
pergunta a Ana: “... ‘Por que está triste?’...”. Ou, literalmente:
“Por que o seu coração está triste?”. Agora o cântico de Ana
começa: “... ‘Meu coração exulta’...” (2.1). O chifre na Bíblia
é uma imagem de força. É a imagem de um animal. Imagine
um rinoceronte espetando seu inimigo e depois levantando seu
chifre cheio de sangue como um sinal de vitória. Portanto, Ana
diz, literalmente: “Meu chifre é exaltado”. Ana foi provocada
por sua inimiga (1.6). Agora ela diz: “... ‘Minha boca se exalta
sobre os meus inimigos’...” (2.1). Isso é literalmente: “Minha
boca está aberta contra os meus inimigos” — aberta para se
exaltar em triunfo. Mas talvez (dada a imagem do animal do
chifre no versículo anterior) ela também esteja aberta para
rugir ou até mesmo devorar.
A família de Elcana era um microcosmo de Israel, em
que conviviam os exaltados e os marginalizados, bem como os
orgulhosos e os humildes (ou humilhados). A história de Ana
é a trama dos livros de Samuel em miniatura.
23
! Sam uel 1.1-28; 2.1־11
resignada.
tico com estas palavras: “...
‘Ele dará poder a seu rei e exaltará a força [o chifre] do seu
ungido”’ (2.10). Isso talvez não nos impressione como espe-
cialmente notável. Mas na verdade é uma grande surpresa...
pois nesse momento da história não há rei em Israel! O que o
25
!Sam uel 1.1-28; 2.1-11
O c á n t ic o d e M a r ia
Porém, antes de olharmos para a frente, precisamos olhar para
trás. Ana pôde considerar sua experiência pessoal uma figura
dos propósitos de Deus para seu povo também porque sua
experiência não era nova. Ela não era a primeira mulher esté-
ril a receber um filho. De fato, cada um dos pais fundadores
de Israel (Abraão, Isaque e Jacó) teve uma esposa estéril: Sara
(Gn 15.1-6; 17.17-21; 1 8 . 1 0 2 1 . 1 - 7 ;15) ־, Rebeca (Gn 25.21)
e Raquel (Gn 29.30,31). Os paralelos com Raquel são espe-
cialmente notáveis. Tanto Raquel como Ana têm uma rival
que consegue ter filhos, mesmo que elas mesmas desfrutem do
amor maior de seu marido (Gn 29.30,31).
Os paralelos não se limitam aos patriarcas. Sansão também
nasce de uma mulher que anteriormente era estéril (Jz 13).
Números 6 faz provisão para um voto “nazireu” especial, que era
formalmente temporário. Mas Sansão será um nazireu perma-
nente e, embora Samuel não seja descrito como um nazireu, ele
também é apresentado como um nazireu permanente (ISm 1.28).
E então, quando olhamos adiante na história bíblica, a outra
pessoa que parece ser um nazireu permanente é João Batista. E ele
também nasce de uma mulher anteriormente estéril (Lc 1.5-25,
57-80). O paralelo entre Ana e I sabel é especialmente signi-
ficativo. Se Isabel é a nova Ana, então João precisa ser o novo
Samuel, que preparou o caminho para Davi. João prepara o
caminho para Jesus, o novo Davi. Jesus é o rei vindouro.
Ao longo de toda a história, Deus dá filhos a mulheres esté-
reis, o que indica que a salvação será realizada somente por
meio de seu poder e graça. Deus promete um povo a Abraão,
e este abençoará todas as nações. Mas, se Abraão não pode ter
26
!Sam uel 1.1-28; 2.1-11
Q u a l la d o d a h is tó r ia ?
Essa história nos deixa com uma pergunta: “De qual lado da
história você está?”. Há dois reinos na história do mundo: o
27
!Sam uel 1.1-28; 2.1-11
P e r g u n ta s p a r a r e fle x ã o
1. Qual expressão da oração de Ana encoraja você especial-
mente hoje?
2. Como o seu pecado está humilhando você ou como o
mundo está zombando de você neste exato momento?
3. Em que área de sua vida você precisa se lembrar: Vale a
pena? Como você permitirá que a verdade de que o Rei de
Deus chegou faça diferença para você hoje?
29
!SAMUEL■ CAPITULO 2 VERSÍCULOS 11-36
■ CAPÍTULO 4 VERSÍCULO 1
2. UM SACERDOTE E
PROFETA VINDOURO
Os filh o s ím p io s
O versículo 11 de 1 Samuel 2 faz a transição da historia de
Ana para a historia de Eli, com Samuel sendo a ligação entre
elas. A historia da família de Eli começa assim: “Os filhos de
Eli eram ímpios; não se importavam com o S enh or ” (v. 12).
“ímpios” é a tradução da NVI para “filhos de Belial” ou “filhos
da iniquidade”. A expressão “os filhos de” é muitas vezes usada
metaforicamente para indicar o caráter de alguém. Mas “os
filhos de Eli eram filhos da iniquidade” também sugere que Eli
era cúmplice na iniquidade deles.
A primeira ofensa dos sacerdotes é contra o povo (v. 13,14).
Os sacerdotes tinham direito ao peito e à coxa direita dos
sacrifícios (Lv 7.31,32; D t 18.3). Mas Hofni e Fineias estão
explorando o povo ao qual deveriam estar servindo. Mandam
seu servo se apropriar de tudo o que possa pegar com um garfo.
A palavra do versículo 13 traduzida por “prática” ou “costume”
na NIV (bem como na ARC, ARA e A21) é literalmente “jus-
tiça” (tem a mesma raiz que a palavra usada para descrever “os
juizes”). Essa é a justiça de Hofni e Fineias — roubar a comida
que era oferecida para sacrifício.
O versículo 15 de lSamuel2começacom“alémdisso”(ESV).
Havia mais em seus crimes. Por quê? Eles também estavam
maltratando Deus, na verdade roubando-o (v. 15,16). A gor-
dura do animal era a porção do Senhor (Lv 3.3,4,9,10,14-16),
chamada de “as ofertas de comida do S enh or ” e “o pão de seu
Deus” (Lv 21.21,22, ESV). Mas Hofni e Fineias insistiam em
tomar o alimento junto com a gordura ainda nele, roubando a
porção do Senhor — por força, se necessário (lSm 2.16). O
veredito é claro: “O pecado desses jovens era muito grande à
31
!Sam uel 2.11-36; 3.1-21; 4.1
O p a i c o m p la c e n t e
Eli ouve o que seus filhos estão fazendo e os confronta (v. 22-25).
Mas sua liderança é ineficaz (v. 25). Talvez estejamos tentados
a ter empatia com ele. Afinal de contas, a maioria dos pais
conhece a frustração de lidar com filhos que não ouvem. Mas
Deus lhe pede contas;"... ‘Por que você honra seus filhos mais
do que a mim, deixando-os engordar com as melhores partes
de todas as ofertas feitas por Israel, o meu povo?’” (v. 29). Eli
honrou seus filhos mais do que a Deus. De fato, a implicação
do versículo 29 é que Eli se beneficiava conscientemente dos
crimes deles, também engordando com a gordura do sacri-
fício. Talvez fosse um pai que não conseguia mudar o coração
de seus filhos; mas também era um sumo sacerdote que pode-
ria impedir o trabalho de seus filhos no Tabernáculo. Mas
não impediu.
Em 1.16,Eli acusou Anade ser uma “mulher vadia”(“mulher
sem valor”, A21), literalmente “uma filha da iniquidade” (“filha
de Belial”, ARA). Mas em 2.12 seus próprios filhos são verda-
deiramente “filhos da iniquidade” (“filhos de Belial”, ARA).
Talvez Eli tenha confundido a oração de Ana com embriaguez
simplesmente porque o problema era extremamente comum
em Siló. Eli repreendeu Ana como uma filha da iniquidade,
ainda que ela não fosse, mas se recusava a repreender seus
filhos como filhos da iniquidade, ainda que fossem.
32
!Sam uel 2.11-36; 3.1-21; 4.1
O ju íz o d a f a m ília
Em seu cântico, Ana canta: “Não falem tão orgulhosamente,
nem saia de suas bocas tal arrogância, pois o S enhor é Deus
sábio; é ele quem julga os atos dos homens” (v. 3). Os atos da
família de Eli estão prestes a ser julgados e encontrados em falta.
Um homem de Deus vai a Eli (v. 27). Ele começa descre-
vendo o que Deus tem feito pela família de Eli:
A a sc e n sã o d e Sam uel
Entrelaçados em toda a história estão pequenos fragmentos
sobre a ascensão de Samuel. À primeira vista, isso poderia pare-
cer um uso malfeito das fontes de informação, com diversos
34
!Sam uel 2.11-36; 3 . 1 4 . 1 ;21־
2 . 35 , 36 : Um novo
2 . 27- 34 : A família de
sacerdote servirá para
Eli acab ará
sempre
3 . 1: Samuel ministra
Um s a c e r d o t e p a r a s e m p r e
A ascensão de Samuel é um sinal da queda da família de Eli.
Mas também é um sinal de que Deus pode levantar para si
mesmo um sacerdote fora da família de Arão. E isso é preci-
sámente o que Deus promete por meio do homem de Deus
em 2.35: “Levantarei para mim um sacerdote fiel, que agirá
de acordo com o meu coração e o meu pensamento. Edificare!
firmemente a família dele, e ele ministrará sempre perante o
meu rei ungido”.
Talvez haja aqui uma alusão direta a Zadoque e sua famí-
lia sacerdotal, que adquirem legitimidade sob Davi e Salomão
(2Sm 8.17; lRs 1 . 7 , 8 , 3 2 4 . 1 - 4 ;2.26,27 ;34)־. Mas fu
mentalmente essa é uma alusão a Jesus, que não é da famí-
lia de Arão. Esse era um sacerdócio falho (Hb 7.11), incapaz
de salvar completa e eternamente. Até mesmo os melhores
desse sacerdócio precisavam continuar repetindo os sacrifícios.
Assim, Deus promete um sacerdote vindouro, Jesus.
Jesus é um sacerdote melhor porque é eterno (Hb 7.11-19,
23-25). Seu sacerdócio é baseado em sua ressurreição: "... o
poder de uma vida indestrutível” (Hb 7.16). E Jesus é um sacer-
dote melhor porque é designado diretamente pelo juramento
de Deus (Hb 7.20-22,28). O resultado é que Jesus apresenta
“uma esperança superior” (Hb 7.19) e é “a garantia de uma
aliança superior” (Hb 7.22).
Conforme declara Hebreus 7.26,27: “É de um sumo sacer-
dote como este que precisávamos: santo, inculpável, puro, sepa-
rado dos pecadores, exaltado acima dos céus. Ao contrário dos
outros sumo sacerdotes, ele não tem necessidade de oferecer
37
!Sam uel 2.11-36; 3 . 1 4 . 1 ;21־
P e r g u n ta s |para reflexão
1. Suas atividades religiosas são feitas para você mesmo, e não
para Deus? De que modo?
2. Considerar Jesus como o seu sumo sacerdote ajuda você a
apreciar mais plenamente o que ele fez e faz por você?
3. De que maneira você precisa pedir que Jesus interceda em
seu favor hoje?
SEGUNDA PARTE
Um p r o fe ta v in d o u r o
A história de um profeta vindouro em lSam uel2.ll—3.1 começa
e termina do mesmo modo: “O menino Samuel ministrava
39
!Sam uel 2 . 1 1 4 . 1 ;21 ־36 ; 3.1 ־
A p a la v r a d o S e n h o r é ra ra
Em 3.1, o autor não somente diz que a palavra de Deus era
rara, mas que “as visões não eram frequentes”. Então imediata-
mente, quanto a Eli, ficamos sabendo que seus olhos “estavam
ficando tão fracos que já não conseguia mais enxergar” (v. 2). Eli
não consegue enxergar nem fisicamente nem espiritualmente.
O versículo 3 diz: “A lâmpada de Deus ainda não havia
se apagado...”. Em certo sentido, essa era simplesmente uma
referência ao período do dia. A lâmpada no Tabernáculo deve-
ria ficar acesa durante toda a noite (Ex 27.20,21; Lv 24.1-4).
40
!Sam uel 2.11-36; 3 . 1 4 . 1 ;21־
A p a la v r a d e D e u s v e m
Os filhos de Eli “não conheciam o S enhor ” (2.12, ESV). Em
3.7, lemos que “Samuel ainda não conhecia o S enhor ”. Mas a
situação deles é muito diferente. Os filhos de Eli têm um pro-
blema moral que os cegou ao conhecimento de Deus. Samuel
está esperando para ser chamado por Deus. Enquanto Eli está
“deitado em seu próprio lugar” (v. 2, ESV), Samuel “estava dei-
tado no santuário do S enh or ” (v. 3), o lugar em que ele minis-
tra perante o Senhor e onde Deus está presente (2.11,18,21;
3.1). O autor também nos lembra de que esse é o local da arca
de D eus (v. 3). A arca continha as tábuas de pedra sobre as
quais a aliança havia sido escrita. Assim, ela atuava como um
lembrete a Deus e ao povo das promessas da aliança que os
unia. O cenário está pronto. Samuel está na presença de Deus
com um lembrete da aliança de Deus.
Samuel ouve o que presumivelmente é uma voz audível
chamando-o. “... ‘Eis-me aqui’...”, ele responde (v. 4, NIV). Ele
pressupõe que Eli o está chamando e, assim, vai até Eli, que
diz: “...‘Não o chamei; volte e deite-se’...” (v. 5). A mesma coisa
acontece pela segunda vez (v. 6). A história está adquirindo um
tom quase cômico.
41
!Sam uel 2.11-36; 3.1-21; 4.1
A p a la v r a d e D e u s s e e s p a l h a e
v e m a n ó s h o je
Israel estava em uma crise desesperadora. Não havia governo,
e a casa de Deus estava horrivelmente comprometida. O que
Deus fez? Ele enviou a sua palavra. Ele levantou um profeta.
Deus sempre atua assim para mudar o status quo. Ele envia a
sua palavra. No princípio, Deus criou o mundo por meio de sua
palavra. Ele falou às trevas e houve luz. Ele produziu ordem do
caos e plenitude do vazio por meio de sua palavra. Criou vida
por meio de sua palavra e governou o seu povo por meio de
sua palavra. E continua governando a história por meio de sua
palavra. Ele ainda traz luz por meio de sua palavra. Ele ainda
traz vida por meio de sua palavra. Assim como criou por meio
de sua palavra, ele também recria por meio de sua palavra.
Assim, do que mais precisamos em uma crise? Da Palavra
de Deus. E precisamos de confiança na Palavra de Deus.
Nas crises de sua vida, você precisa da Palavra de Deus. A
Palavra de Deus revigora a alma, torna-nos sábios, restaura a
alegria em nosso coração e traz luz aos nossos olhos (SI 19.7,8).
Precisamos ler continuamente a Bíblia, envolver-nos com a
pregação de nossa igreja, falar a Palavra uns aos outros e lem-
brar o nosso próprio coração da Palavra de Deus. Lembro-me
de haver pastoreado um casal cujo casamento estava em crise.
Quanto mais falávamos, pior ficava. A recriminação e as diver-
gências pareciam somente ser amplificadas com nossa conversa
sobre a situação. Mas, ao orarmos usando a Palavra de Deus, o
coração deles suavizou-se e eles choraram em arrependimento.
De que eles mais precisavam em seu momento de crise? De
que Deus enviasse a sua palavra.
44
!Sam uel 2 . 1 1 4 . 1 ;3.1-2
P e r g u n ta sjp a r a r e íle x a o
1. Quando e por que você fica tentado a perder a confiança no
poder da palavra de Deus?
2. A palavra de Deus é rara porque você não fala? O que você
fará a respeito disso?
3. De que modo a ordem de Deus a Samuel e a ordem de
Paulo a Timóteo tanto inspiram como desafiam você?
46
!SAMUEL - CAPÍTULO 4 VERSÍCULOS 1-22
3. O PESO DE GLÓRIA
V ocê n ã o p o d e u sa r D eu s
Em lSamuel 4.1, os israelitas saem para lutar contra os filis-
teus, nação que descendia dos egípcios (Gn 10.14; lC r 1.12).
Nesse momento em sua história, eles haviam se estabelecido
no litoral da Palestina, em cinco cidades-Estado, tornando-se
com isso a principal ameaça para Israel.
A história não começa bem. Israel é leviano com Deus. Em
lSamuel 4.1,2, Israel vai para a batalha sem Deus... e perde.
O povo se vê desnorteado: “...‘Por que o S enhor deixou que
48
!Sam uel 4.1-22; 5 . 1 7 . 1 - 1 7 ;6.1
V o c ê n ã o p o d e r o u b a r a g ló r ia d e D e u s
A notícia da derrota e da morte de seus filhos chega a Eli
(v. 12-17). E ela o mata: “Quando ele [o mensageiro] mencio-
nou a arca de Deus, Eli caiu da cadeira para trás, ao lado do
portão, quebrou o pescoço, e morreu, pois era velho e pesado.
Ele liderou Israel durante quarenta anos”(v. 18). Sua nora grá-
vida ouve a notícia e entra em trabalho de parto (v. 19,20). Ela
morre ao dar à luz, mas não antes de dar nome a seu filho. Essa
derrota é perpetuada em um nome, “Icabode”, que significa
“Onde está a glória?”. O raciocínio dela é: “A glória se foi de
Israel” (v. 21,22).
A pergunta feita toda vez que essa criança for chamada pelo
nome será: “Onde está a glória?”. A resposta é: “A glória se foi”.
Onde está a glória? Em certo sentido, ela foi roubada pela
família de Eli. A derrota de Israel é um juízo contra a corrup-
ção da família de Eli. Seus filhos abusaram dos sacrifícios e
tiveram relações com mulheres no Tabernáculo, e Eli não deu
um basta nisso. Como Deus advertira antes em 2.30, aque-
les que desprezaram Deus agora estão sendo tratados com
desprezo por Deus. Os sacerdotes não honraram Deus. Eles
51
!Sam uel 4.1-22; 5.1-12; 6.1-21; 7.1-17
V o c ê n ã o p o d e ter a f e i ç õ e s c o n c o r r e n te s
Onde está a glória? Em 1Samuel 4.22, a mulher de Fineias
diz: "... A glória se foi de Israel, pois a arca de Deus foi
tomada’”. A glória de Deus representada pela arca de Deus
está na cidade filisteia de Asdode (5.1).
O que acontece ali? a mão do S enhor pesou sobre o
povo de Asdode e dos arredores, trazendo devastação sobre
eles e afligindo-os com tumores” (v. 6). A mão do S enhor
pesou sobre eles. O peso da glória do Senhor os esmagou.
Os filisteus colocam a arca no templo de Dagom, o deus
filisteu (v. 2). O objetivo era declarar a superioridade de Dagom
sobre o Deus de Israel. Mas, de manhã, eles encontram a está-
tua de Dagom prostrada diante da arca de Deus (v. 3). Assim,
eles põem o seu deus de pé. Na manhã seguinte, a mesma coisa
acontece novamente — só que dessa vez Dagom está decapi-
tado! A cabeça e as mãos da estátua foram quebradas (v. 4).
O establishment religioso filisteu nunca se esqueceu disso (v. 5).
Diante de Deus todos os outros deuses precisam cair.
Somente Ya h w e h , o Deus de Israel, tem peso. Somente Deus
tem substância. Todos os outros deuses precisam de ajuda para
ser colocados de pé. Quais são os seus deuses? O que concorre
com Deus em seu coração? Você está levando o peso da glória
53
!Sam uel 4.1-22; 5.1-12; 6.1-21; 7.1-17
P e r g u n ta s p a r a r e fle x ã o
1. Você está levando Deus a sério? Até que ponto?
2. “A função de Deus não é nos servir. Estamos aqui para
ele.” Quando é mais fácil se esquecer dessa verdade que
nos humilha?
3. Como o episódio do templo de Dagom encoraja você a
continuar seguindo e adorando o Deus da Bíblia?
SEGUNDA PARTE
Gtuem p o d e p e r m a n e c e r firm e?
O povo de Asdode decide enviar a arca à cidade filisteia de
Gate (5.7,8). Será que Gate vai conseguir lidar com o peso da
glória de Deus? Mas também ali Deus envia tumores (v. 9).
Assim, eles enviam a arca à cidade filisteia de Ecrom (v. 10).
Ocorre o mesmo. Querem mandar a arca embora, pois “havia
pânico mortal em toda a cidade; a mão de Deus pesava muito
sobre ela”(v. 11). Ninguém fica sem ser afetado (v. 12). Deus os
está esmagando sob o peso da arca.
Finalmente, após sete meses, os filisteus decidem enviar a
arca de volta a Israel com uma “oferta pela culpa” de cinco
tumores de ouro e cinco ratos de ouro — uma para cada uma
das cidades da Filístia (6.1-6,17,18 — a palavra “tumor” tam-
bém significa “cidade fortificada”). Os filisteus podem ter sido
afetados pela peste bubônica, que causa inchaço dos nodulos
linfáticos e é disseminada por ratos. Isso pode explicar por que
eles devolvem a arca com tumores e ratos de ouro. Os filisteus
54
!Sam uel 4.1-22; 5 . 1 7 . 1 - 1 7 ;6.1-21
C o m o p e r m a n e c e r fir m e n a p r e s e n ç a d e D e u s
O povo volta a Deus (7.2). Mas Samuel diz que, se esse arre-
pendimento é genuíno, eles devem se livrar de seus deuses
estrangeiros (v. 3). O povo não só confessa seus pecados, mas
também age, livrando-se de seus baalins e astarotes . Passa
a servir “somente ao S enh or ” (v. 4). Isso é verdadeiro arrepen-
dimento. Não são só palavras (6.6). São ações. O povo foge da
tentação. Se você estiver verdadeiramente arrependido, então
fará tudo o que puder para evitar o pecado.
57
!Sam uel 4.1-22; 5.1-12; 6.1-21; 7.1-17
L e v a n ta r n o s s o E b e n é z e r
O arco narrativo passa da tirania (4.1,2) à paz (7.14). Ambos
os extremos desse arco são perpetuados em um nome. O exí-
lio de Deus foi perpetuado no nome “Icabode” (4.21). Agora
a vitória de Deus é perpetuada em outro nome, “Ebenézer”
(7.12). “Ebenézer” era o local da derrota de Israel em 4.1-11.
Agora ele se torna o local de vitória. “Icabode” recebeu esse
nome porque “a gloria se foi de Israel”. Em contraste, “Ebe-
nézer” significa “pedra de ajuda”, e a explicação é: “Até aqui o
S enhor nos ajudou”. Isso funciona como uma promessa da
libertação futura de Deus, se Israel se arrepender de sua idola-
tria e colocar sua fé no sacrificio.
O hino Fonte és tu de toda bênção, de Robert Robinson
(1735-1790),1 contém os versos:
1Tradução de Justus Henry Nelson, com adaptação para este livro, Hiná-
rio para o culto cristão (Rio de Janeiro: JUERP, s.d.), hino 17.
61
!Sam uel 4.1-22; 5 . 1 7 . 1 - 1 7 ;6.1-21 ;12־
P e r g u n ta s p a r a r e fle x ã o
1. Reflita sobre a semana que passou. Você tem se arrependido
de verdade dos seus pecados?
2. Você pode permanecer firme diante da glória de Deus por
causa da cruz. Como se sente por saber isso?
3. Você está se sentindo perdido, desesperado, ameaçado ou
abandonado? Como a cruz será seu Ebenézer nessa área da
sua vida?
62
!SAMUEL ■ CAPITULO 7 VERSÍCULOS 15-17
4. UM REI COMO OS
DAS NAÇÕES
Identidade rejeitada
Observe por que o povo pede um rei: "... ‘Tu já estás idoso,
e teus filhos não andam em teus caminhos; escolhe agora
um rei para que nos lidere, à semelhança das outras nações’”
(ISm 8.5). Há uma ausência de lógica nesse pedido. Eles que-
rem resolver o problema do fracasso da liderança hereditária
instalando... a liderança m onárquica hereditária!
Mas a questão real é mais profunda e mais séria do que o
raciocínio ilógico. O povo não está pedindo pelo rei que Deus
prometeu, mas por um rei “à semelhança das outras nações”.
Quando Samuel descreve “quais direitos reivindicará” um
rei desse tipo (v. 9-18), o povo repete insistentemente sua
demanda por um rei: “Seremos como todas as outras nações;
um rei nos governará, e sairá à nossa frente para combater em
nossas batalhas” (v. 20).
Por que eles querem um rei como o têm todas as outras nações?
Porque eles querem que Israel seja uma nação “como todas as
outras nações”. Em essência, eles não querem mais ser Israel.
65
!Sam uel 7.15-17; 8.1-22; 9.1-27
SEGUNDA PARTE
A unção do rei
Apesar da nota sinistra com respeito à monarquia em 1Samuel 8,
nos capítulos 9 a 11 o homem destinado a ser esse rei, Saul, é
apresentado sob uma luz positiva. Diferentemente dos filhos
72
!Sam uel 7.15-17; 8.1-22; 9.1-27
A ascensão do rei
Em ISamuel 9.25—10.1, Samuel unge Saul e diz: “...Ό S enhor
o ungiu como líder da herança dele’” (10.1). Samuel tem a preo-
cupação de garantir que seja uma unção secreta, de modo que
ordena aos seus servos que sigam à frente deles (9.27). Saul tam-
bém está preocupado com preservar esse sigilo. Em 10.13-16,
seu tio o pressiona por informações sobre seu tempo com
Samuel, mas Saul se recusa a comentar a unção como rei.
Talvez Saul ainda esteja aprendendo a lidar com seu novo
destino. Mas e quanto a Samuel? Por que esse sigilo? Isso não é
claro. Mas o próximo rei de Israel também será ungido em
segredo (16.13). Quando Deus ordena que Samuel vá ungir
um dos filhos de Jessé como o sucessor de Saul, Samuel objeta:
“... ‘Como poderei ir? Saul saberá disto e me matará”’. Deus
ordena que ele vá sob pretexto de oferecer um sacrifício (16.2).
75
!Sam uel 7 . 1 5 2 7 ־17; 8.1-22 ; 9.1 ־
77
!SAMUEL ■CAPITULO 10 VERSÍCULOS 1-12
5. O REI SAUL
Sinais de confirmação
Imagine que eu bata em sua porta certa noite. Você mc convida
para entrar e me oferece uma bebida. No final da noite, digo-lhe
que tenho uma mensagem de Deus: “Você será o próximo rei
da Grã-Bretanha”. Suspeito que você não acreditaria em mim!
De fato, muito provavelmente questionaria minha sanidade.
Faria sentido você exigir alguma evidência.
Samuel tem um tanto mais de prestígio do que eu! Mas,
ainda assim, é muito para Saul processar. Você ser informado
de que será rei já é extraordinário o suficiente. Mas, a essa
¡Sam uel 10.1-12; 11.1-15; 12.1-25
altura, tal posição nem mesmo existe! Em 9.20, Samuel faz uma
indagação um tanto c rítica sobre o futuro de Saul: “... Έ a
quem pertencerá tudo o que é precioso em Israel, senão a você
e a toda a família de seu pai?’”. Como acaba ficando evidente,
ele quer dizer que Saul será rei. Saul satisfará o desejo de Israel
por um rei. Saul entende isso no momento? Ou ele simples-
mente pensa que Samuel está sugerindo que ele tem um papel
importante a desempenhar para a nação? Assim, ele responde:
“... ‘Acaso não sou eu um benjamita, da menor das tribos de
Israel, e não é o meu clã o mais insignificante de todos os
clãs da tribo de Benjamim? Por que estás me dizendo tudo
isso?”’ (v. 21). Quando seu tio pergunta a Saul o que ele estava
fazendo, Saul é evasivo, aparentemente relutante em declarar
até mesmo à sua família que foi ungido como rei (v. 13-16).
Para preencher essa lacuna de cred ibilid ad e , Samuel
envia Saul para sua jornada com a promessa de três sinais que
demonstrarão que “Deus está com você” (10.7).
Seleção pública
As sortes recaem sobre Saul após Samuel repreender novamente
0 povo por rejeitar a Deus como rei (ISm 10.17-19). A esco-
lha secreta de Deus agora é tornada pública. No capítulo 9,
81
!Sam uel 10.1-12; 11.1-15; 12.1-25
Proclamação vitoriosa
O reino de Saul começa em marcha lenta. Ele volta para casa
(lSm 10.26), mas alguns “vadios”(literalmente,“filhos de Belial”
ou “filhos da impiedade”) questionam publicamente suas habi-
lidades e o desprezam; Saul fica quieto (v. 27). O leitor fica na
expectativa de que Saul se mude para um palácio e se veja cer-
cado de uma corte real. No entanto, na próxima vez em que
encontramos Saul, ele está “trazendo o gado do campo” (11.5).
Porém, quando ouve sobre a situação terrível de Jabes-
-Gileade, Saul entra em ação imediatamente. A cidade israe-
lita foi cercada por Naás, rei dos amonitas (v. 1). Ele lhes deu
um ultimato: deixará que façam um tratado de paz somente
se concordarem em que o olho direito de cada um deles seja
arrancado (v. 2). Sua intenção é clara: “humilhar todo o Israel”.
Naás concorda com uma suspensão temporária para averiguar
se qualquer um de Israel virá para defender a cidade e proteger
a honra de Israel (v. 3). Assim que a notícia alcança Gibeá,
parece não haver esperança alguma (v. 4). Mas Saul somente
ouve a notícia ao voltar de seu campo (v. 5). Como o novo rei
de Israel reagirá?
“Quando Saul ouviu isso, o Espírito de Deus apoderou-se
dele, e ele ficou furioso” (v. 6). Saul reúne todo o Israel para
lutar como um só (v. 7,8). Não é de admirar que os habitan-
tes de Jabes-Gileade tenham se alegrado ao ouvir essa notícia
(v. 9). Sua mensagem a Naás dá a entender que se renderão
e talvez desperte nele um falso senso de complacência. Mas
trata-se de uma afirmação ambígua. Eles dizem literalmente:
“Amanhã nós sairemos a vocês” (v. 10). As mesmas palavras
são usadas na expressão que inclui o termo “sair”, que o povo
empregou em seu pedido por “um rei [que] nos governará,
e sairá à nossa frente para combater em nossas batalhas” em
8.20. “Nós sairemos a vocês” poderia soar como uma rendição,
83
!Sam uel 10.1-12; 11.1-15; 12.1-25
P e r g u n ta s para reflexão
1. Você às vezes se vê rejeitando a liderança de Deus, mas
pedindo a ajuda dele, como Israel faz quando busca Saul?
2. Quando você considera empecilhos, tende a chorar em deses-
pero ou olhar com esperança para o Rei escolhido por Deus?
85
!Sam uel 10.1-12; 11.1-15; 12.1-25
SEGUNDA PARTE
O julgamento de Samuel
A história da nomeação de Saul como rei termina como come-
çou: com um discurso de advertência feito por Samuel. A seção
pode ser estruturada de acordo com um padrão quiástico que
realça esse começo e fim paralelos:
O reconhecimento
l|| riam dizer. Mas Samuel diz:
“Vocês são pecadores, mas
§
do pecado pode 11 não precisam permanecer
m
confirmar as pessoas pecadores. Esse juízo não
em seu pecado se elas precisa confirmá-los como
acharem que náo têm
esperança alguma.
I alguém que ‘deixou de seguir
o Senhor’”.
Em segundo lugar, ele
diz: “Não se desviem, para seguir ídolos inúteis, que de nada
valem nem podem livrá-los, pois são inúteis” (v. 21).
Tendemos a imaginar ídolos como estátuas em templos.
Mas não há menção alguma a imagens ou deuses estrangeiros
nessa história. Assim, quais são os ídolos a respeito dos quais
Samuel adverte? A idolatria de uma estrutura humana, talvez?
Ou a idolatria do autogoverno? Esses ídolos não pertencem à
Antiguidade. Diferentemente de estátuas, que podemos loca-
fizar facilmente em outras épocas e culturas, esses ídolos atra-
vessam todas as divisões culturais e históricas. Isso nos obriga a
perguntar: “Quais são os meus ídolos?”. No versículo 21, Samuel
nos fornece dois critérios para identificar ídolos na nossa vida:
P e r g u n ta s para reflexão
1. Com quais ídolos você trava sua maior luta para não cair
em idolatria neste exato momento?
2. Você consegue identificar a promessa falsa desse ídolo e
como ele na verdade não lhe fará bem algum?
3. Como será se você voltar para o Deus vivo e adorar somente
a ele?
92
1SAMUEL■ CAPÍTULO 13 VERSÍCULOS 1-15
6. ADÃO REVISITADO
Anos mais tarde, Davi refletirá sobre o que Dcus fez por ele.
“Por amor de tua palavra e de acordo com tua vontade, reali-
zaste este feito grandioso e o revelaste ao teu servo”(2Sm 7.21).
“De acordo com tua vontade” é literalmente “segundo o teu
coração”— exatamente a mesma expressão usada em lSamuel
13.14. Davi foi exaltado por causa do que estava no coração
de Deus — sua vontade soberana e graciosa. “Saul” significa
“[aquele que foi] pedido”. Ele é o rei que o povo pediu. Ele
é a escolha do povo. E o seu reino acaba em fracasso. Davi
será a escolha de Deus. E dessa dinastia virá o novo Adão, o
esmagador da serpente.
O F ilh o q u e s a lv a
Jônatas nos é apresentado em 13.2, mas não ficamos sabendo
que ele é o filho de Saul até o versículo 16. Mas a esta altura
já sabemos que ele não herdará o trono de Saul. A iro-
nia é que, em uma história de filhos dissolutos, Jônatas é a
brilhante exceção.
Um tema fundamental nos capítulos 13 e 14 é o contraste
entre medo e fé. Saul perde o reino por ter agido com incredu-
lidade. O medo motivou suas ações, de modo que suas ações
foram desobedientes. Jônatas é o oposto: a fé o motiva e con-
duz. Ele irá para o “outro lado” com fé (14.1), enquanto Saul
“estava sentado”, com medo (v. 2).
Jônatas está em desvantagem numérica e precisa subir um
penhasco íngreme. Os dois penhascos se chamam literalmente
“escorregadio” (Bozez) e “espinhento” (Seneh), nomes nada
encoraj adores para alguém que começa uma escalada sob ata-
que (v. 4,5)!
Mas Jônatas age com base na fé. Ele descreve os filisteus
como “ incircuncisos ” (v. 6). Considera essa não somente uma
batalha entre Israel e a Filístia, mas entre o povo da aliança
de Deus e os inimigos de Deus. Ele continua: “... ‘Talvez o
98
!Sam uel 1 3 . 1 3 5 ־15; 14
i
por Deus” (v. 15, NIV). Saul Jônatas desce ao
vê o exército filisteu “se dis- túmulo antes de voltar
persando” e, assim, passa o
a subir e trazer vitória.
exército em revista para pre-
pará-lo para um ataque (v. 16,17). Os desertores voltam ao com-
bate (v. 20-22), e “o S enhor concedeu vitória a Israel naquele
dia” (v. 23).
A linguagem que o autor usa para narrar o ataque de
Jônatas é extremamente significativa. Ele descreve o terreno
com alguns detalhes. Jônatas precisa descer um penhasco e
subir outro para alcançar o destacamento filisteu. Ou seja,
precisa descer para subir. Ambos os penhascos são descritos
99
!Sam uel 1 3 . 1 3 5 ־15; 14.1־52 ; 15.1־
O F ilh o p r e c is a m orrer
Há um anexo à história da batalha de Micmás. Saul obrigou
os homens a não comer nada até a batalha terminar (v. 24).
Enquanto Jônatas considerava que a batalha era para a honra do
Senhor, Saul exclama que ela não terminará até que “eu tenha
me vingado de meus inimigos!” (v. 24). Em consequência desse
juramento insensato, os soldados estavam “exaustos”. É a mesma
palavra traduzida por “muito pressionado” em 13.6. No capí-
tulo 13, o exército estava sendo muito pressionado porque estava
diante de um exército inimigo gigante. Mas agora, no capítulo
14, eles estão muito pressionados por causa de seu próprio rei.
Não é nada fácil lutar de estômago vazio.
Até mesmo quando as tropas encontram mel num bosque,
ninguém ousa comê-lo por causa do juramento (14.25,26).
Jônatas, no entanto, estava longe atacando o destacamento
filisteu quando Saul deu a ordem de não comer; dessa forma,
ele avança e come o mel (v. 27). Até mesmo quando é infor-
mado, continua comendo, rejeitando a ordem de seu pai como
insensata (v. 28-30). Em vez de trazer maldição, como Saul
100
!Sam uel 13.1-15; 14.1-52; 15.1-35
Perguntas p a r a r e fle x ã o
1. Você consegue pensar em momentos em que o senso comum
se opõe a obedecer a Deus?
2. Como as ações de Jônatas ajudam você a se entusiasmar
com o cjue Jesus fez em seu favor?
3. Como o exemplo de Jônatas impele você a tentar realizar atos
de bravura para Deus? O que você está sendo chamado a fazer?
102
!Sam uel 1 3 . 1 3 5 ־15; 14
SEGUNDA PARTE
S a u l e o s a m a le q u it a s
Em 14.16-52, o autor resume as vitórias de Saul e de sua famí-
lia. A impressão com que ficamos é que, em muitos aspectos,
Saul foi um rei que teve êxito: ele infligia castigo aos inimigos
de Israel (v. 47). “Lutou corajosamente e derrotou os amale-
quitas...” (v. 48). Os povos que outrora saqueavam o povo de
Deus foram derrotados pelo rei de Deus. Ele confrontou os
filisteus em “guerra acirrada” (v. 52).
No entanto, no capítulo 15, Deus rejeitará Saul como rei.
Portanto, essas vitórias não são descritas detalhadamente por-
que o interesse do autor é outro. Ele quer mostrar por que o
reino de Saul foi tomado dele.
No capítulo 15, Samuel leva uma mensagem de Deus a
Saul. Aqui está a mensagem: Deus punirá os amalequitas por
terem maltratado os israelitas quando escaparam do Egito
(15.1,2; Êx 17.8-16). Saul deve atacá-los e destruir completa-
mente tudo o que lhes pertence: homens, mulheres, crianças e
animais (lSm 15.3).
Para ouvidos modernos, isso dispara um alarme e soa a Um-
peza étnica. Mas o que temos aqui é limpeza ética, e não limpeza
étnica. E um ato de juízo contra o pecado. A destruição virá aos
amalequitas não porque são amalequitas, mas porque são peca-
dores. Em certo sentido, isso deveria nos alarmar. Não porque
é injusto, mas porque é justo; e porque, embora não sejamos
amalequitas, somos pecadores. A destruição deles é um retrato
do que a humanidade merece, e recebe, de Deus. Quando o
juízo vier, não sobrará nada. Nada.
Dessa forma, isso não torna a história nem um pouco menos
alarmante. Pois apresenta um retrato da intenção de Deus
contra todo pecado e, portanto, contra toda a humanidade.
103
!Sam uel 13.1-15; 14.1-52; 15.1-35
As d e s c u lp a s p a r a o p e c a d o
A vitória de Saul sobre os amalequitas é decisiva (v. 4-9).
E, assim, quando Samuel vai a ele após a batalha, Saul diz:
“... Ό S enhor te abençoe! Eu segui as instruções do S enh or ’”
(v. 13). Parece que Saul foi de fato obediente.
Mas, na verdade, a obediência de Saul não é verdadeira.
Como sabemos? Porque podemos ouvir o balido das ovelhas.
“Samuel, porém, perguntou: ‘Então que balido de ovelhas é
esse que ouço com meus próprios ouvidos? Que mugido de
bois é esse que estou ouvindo?”’ (v. 14). “Como estou ouvindo
sons de animais se todos os animais estão mortos?”
Saul confessa o que fez. Até parece que Saul está verdadei-
ramente arrependido. “‘Pequei. [...] Violei a ordem do S enhor
e as instruções que tu me deste’...” (v. 24).
Mas o arrependimento de Saul não é sincero. Como sabe-
mos? A resposta seguinte de Saul nos revela: “...‘Tive medo
dos soldados e os atendi. Agora eu te imploro, perdoa o meu
pecado e volta comigo, para que eu adore o S en h o r ”’(v. 24,25).
É tudo tão fácil. “Sim, sim, errei. Eu estava sob muita pressão.
Perdoemos e esqueçamos. Vamos deixar isso para trás. Por que
todo esse rebuliço?”
No entanto, o pecado é algo sério; talvez não para Saul, mas
para Deus é. Assim, Saul não pode estabelecer as condi-
ções para o seu perdão; ele não pode exigi-lo. Samuel repete
sua palavra de juízo: “... ‘Não voltarei com você. Você rejeitou a
palavra do S e n h o r , e o S enhor o rejeitou como rei de Israel!”’
(v. 26). “Está ouvindo o que estou dizendo?”, ele parece per-
guntar. “Não percebe a seriedade?” Samuel enxerga a verdade
104
!Sam uel 13.1-15; 1 4 . 1 1 5 . 1 - 3 5 ;52־
2. “Todos fizeram igual” (v. 15,21). Saul fala sobre o que “os
soldados” fizeram. “Você está implicando comigo, mas
não fui só eu”, poderiamos dizer. “Todo mundo faz a
mesma coisa.” Ou: “Eu sei que fiz algo errado, mas os
outros são piores do que eu”. No entanto, isso não é des-
culpa para o pecado. Imagine que você tenha sido pego
furtando. Você não podería dizer: “Muita gente rouba
coisas de lojas. Há quem use até armas. Assim, eu deve-
ria ser solto”. O argumento não funcionaria em um tri-
bunal, nem funciona com Deus. Ele considera cada um
de nós responsável pelas próprias ações. Não devemos
adotar nossos padrões nem justificar nossas ações com
base em uma comparação com outras pessoas, mas, sim,
com base na palavra de Deus.
3. “Parecia o mais sensato a fazer (v. 15). Matar todos aque-
les animais parecia tamanho desperdício que decidimos
que havia um uso melhor para eles. Certamente você
consegue perceber que essa era a melhor coisa a ser feita
nessas circunstâncias.” Ouvi a história de uma igreja com
uma licença de software para um computador que usava
o software em várias máquinas. Parecia fazer sentido, mas
era roubo. O senso comum não está acima da palavra de
Deus. De fato, é quando a palavra de Deus não “faz sen-
tido” que descobrimos aquilo a que de fato obedecemos e
nos submetemos, os caminhos dele ou os nossos.
4. “Eu fiz isso para Deus (v. 21).Tecnicamente pode ter sido
um pecado, mas os meus motivos eram bons. Eu fiz isso
para Deus.”As pessoas fofocam e então dizem: Achei que
alguém precisava saber. As pessoas ultrapassam o limite
de velocidade a fim de não se atrasar para uma reunião
na igreja. As pessoas exageram a fim de fazer o seu tes-
temunho soar mais impressionante. Tudo “para Deus”.
106
!Sam uel 13.1-15; 14.1-52; 15.1-35
Tudo isso é pecado contra ele. Deus não precisa que vio-
lemos suas leis a fim
de que a vontade dele Deus não precisa que
seja feita. violemos suas leis a fim
5. “Eu estava com medo de que a vontade dele
dos outros” (v. 24). seja íeita.
Saul realmente esta-
va com medo? Talvez isso fosse apenas uma desculpa.
Mas, na realidade, não faz diferença. Medo de outros
não é justificativa para o pecado. Jesus expressou isso de
forma muito direta e também brilhante: “Não tenham
medo dos que matam o corpo, mas não podem matar a
alma. Antes, tenham medo daquele que pode destruir
tanto a alma como o corpo no inferno” (Mt 10.28). O
medo dos outros é uma razão subjacente comum para
o pecado. Tememos a rejeição de outras pessoas e
desejamos sua aceitação. Faremos todo o necessário
para participar do grupo, ser aceitos ou afirmados,
mesmo que nos coloquemos em uma posição em que
tudo o que mereçamos de Deus seja exclusão, rejeição
e condenação.
O p r o b le m a d a b la s f ê m ia
O real problema por trás de todas essas desculpas é que nos
encarregamos de decidir o que é certo e o que é errado, o que
importa e o que não importa. Julgamos os outros por suas que-
das e desculpamos as nossas próprias falhas. Brincamos de ser
Deus. Achamos que somos melhores do que Deus. Agimos
como se fôssemos o juiz do mundo.
Devemos chamar esse comportamento pelo nome: blas-
FÊM1A. As desculpas não tornam nosso pecado melhor; na
verdade, o tornam pior. Não somente pecamos, mas decidi-
mos o que é certo e errado. Não confiamos na palavra de Deus
como verdadeira e boa.
O problema de Saul era sua blasfêmia orgulhosa. Samuel
diz: "... ‘Embora pequeno aos seus próprios olhos, você não se
tornou o líder das tribos de Israel? O S enhor o ungiu como
rei sobre Israel’” (ISm 15.17; veja também v. 1). Mesmo Saul
achava que não era ninguém até que Deus o designasse rei.
Mas agora Saul está cheio de si. Após a batalha, Samuel deseo-
bre que Saul foi para o Carmelo, “onde ergueu um monumento
em sua própria honra” (v. 12). Saul deve tudo o que é à bondade
de Deus, mas pensa que é mais sábio do que Deus, que merece
honra. De fato, pensa que é melhor do que Deus.
Mesmo para nós, ao lermos essa passagem, é tentador julgar
a Deus. É legítimo questionar a instrução de Deus para des-
truir tudo. Podemos oferecer aqui algumas respostas.
A g ló r ia d e I s r a e l
Samuel descreve a glória de Deus com base em sua coerência:
“Aquele que é a Glória de Israel não mente nem se arrepende,
pois não é homem para se arrepender” (lSm 15.29). Deus é
leal ao seu caráter: não se arrepende. E leal à sua palavra: não
mente. O Deus gracioso é sempre gracioso. O Deus santo
é sempre santo. O Deus amoroso é sempre amoroso. O Deus
fiel sempre cumpre sua palavra.
No entanto, no versículo 11, Deus “se arrepende” de ter tor-
nado Saul rei. Como isso é possível, se ele é o Deus que nunca
se arrepende? Essas palavras parecem contraditórias. Mas a
chave é que Saul mudou, e não Deus. “Aflijo-me por ter posto
Saul como rei, pois ele me abandonou e não cumpriu minhas
instruções” (v. 11, NIV 1984). Saul muda seu caráter e, assim,
110
!Sam uel 1 3 . 1 1 5 . 1 - 3 5 ;14.1-
Deus muda suas ações a fim de ser coerente com seu cará-
ter. Deus não muda de ideia; ele muda sua reação.
Deus não muda. Ele não é temperamental. E coerente. É
fiel. Essa é sua glória e também nossa glória. Deus é a glória de
seu povo. Nossa glória é a fidelidade de Deus.
A coerência de Deus significa que ele julga aqueles que não
se arrependem. Ele sempre julga todo pecado. Mas a coerência
de Deus também significa que ele salva aqueles que se arre-
pendem. Quando nos voltamos para ele, ele mostra miseri-
córdia, pois é isso que prometeu àqueles que se arrependem.
As ações dele mudam não porque ele mudou seu caráter, mas
porque mudamos nossa atitude.
A rejeição de Saul não significa a rejeição do plano de Deus
ou do povo de Deus. Deus será fiel às suas promessas. No capí-
tulo seguinte, veremos que Deus orienta Samuel a ungir um
novo rei — o rei Davi. E um dia o Filho de DaviJesus, resgatará
seu povo dos pecados. A coerência de Deus significa a conde-
nação para os que não se arrependem, pois ele sempre julga jus-
tamente. Mas sua coerência é a esperança — a única esperança
— dos que se arrependem, pois ele é fiel à sua promessa de salvar
por meio da morte de Jesus aqueles que se arrependem.
Perguntas p a r a r e fle x ã o
1. Como você responde à ordem de Deus para exterminar os
amalequitas? Você precisa orar sobre isso e/ou refletir mais
sobre isso?
2. Você consegue identificar as desculpas de Saul para a deso-
bediência dele em sua própria vida? Como?
3. Seu arrependimento inclui as três características identifica-
das na página 110?
111
!SAMUEL ■CAPITULO 16 VERSÍCULOS 1 2 3 ־
7. O REI PASTOR
O novo rei
Então a história dá uma guinada. Há um novo começo, cujos
efeitos sentimos até hoje. “O S enhor disse a Samuel: Até quando
você irá se entristecer por causa de Saul? Eu o rejeitei como rei
de Israel. Encha um chifre com óleo e vá a Belém; eu o enviarei a
Jessé. Escolhi um de seus filhos para fazê-lo rei’” (16.1).
“Vá”, Deus diz a Samuel. O ministério de Deus muitas vezes
é doloroso e repleto de decepções. Mas mais cedo ou mais tarde o
tempo de se entristecer acaba. Chegou o momento de recomeçar.
!Sam uel 16.1-23
E s c o lh e n d o u m rei
Deus orienta Samuel (ISm 16.1) para ir a Jessé, especifi-
cando: “... ‘Escolhi um de seus filhos para fazê-lo rei’”. No
hebraico, a palavra “escolhido” (raah) também pode significar
“ver” ou “olhar”. Ela é repetida sete vezes no capítulo: “escolhi”
(v. 1), “viu” (v. 6), “vê”, “vê” e “vê” (v. 7), “encontrem” (v. 17)
e “conheço” (v. 18). Deus diz: "... ‘Conheço [vi] um filho de
Jessé’...”, pois Deus “vê o coração”. Em 8.5, o povo pediu que
Samuel ungisse um rei “para nós”(ESV). Samuel se refere a ele
como “o vosso rei, que vós mesmos escolhestes para vós” (8.18,
ESV). Agora Deus está como que dizendo: “Providenciei um
rei para mim” (16.1, ESV).
E isso estabelece o princípio de que Deus rebaixa os de
posição elevada e ergue aqueles que estão rebaixados. Obvia-
mente, os que têm “altura” aqui refere-se aos orgulhosos, e
os rebaixados, aos humildes. Mas a altura física de Saul e de
Eliabe simboliza essa verdade. Eliabe é ignorado — e isso não
é fácil quando alguém é alto. Davi é descrito como o “caçula”,
embora a palavra também possa significar “menor” (v. 11). No
último encontro de Saul com Samuel (ou antes, com o espírito
de Samuel), ouviremos, literalmente: “Imediatamente, Saul
caiu com toda a extensão no chão, atemorizado pelas palavras
115
!Sam uel 16.1-23
O r ei p a s to r
Quando fomos apresentados a Saul, ele havia perdido as
jumentas de seu pai (lSm 9.3). Ele era, por assim dizer, um
pastor fracassado. Quando somos apresentados a Davi, ele está
“cuidando das ovelhas” (16.11). No capítulo seguinte, deseo-
brimos que ele é um ótimo pastor, pois se arrisca para proteger
as ovelhas (17.34-37).
Então Deus faz sua aliança com Davi: “... ‘Eu o tirei das
pastagens, onde você cuidava dos rebanhos, para ser o sobe-
rano de Israel, o meu povo’” (2Sm 7.8; veja também 5.2;
24.17). Quando Davi se torna rei, a descrição de seu traba-
lho não mudou. O que mudou foi seu rebanho. Ele passou do
pastoreio do rebanho de Jessé ao pastoreio do povo de Deus.
Jessé não achava que um menino-pastor pudesse ser escolhido
como rei. Mas, na verdade, Deus chamaria seu rei para ser jus-
tamente um pastor, ainda que estivesse em um trono em vez
de estar no campo.
Em todo o restante do Antigo Testamento, essa imagem de
liderança do tipo pastoreio aparece em destaque. Em Ezequiel 34,
Deus apresenta uma acusação contra os líderes de Israel:"... Ai
dos pastores de Israel que só cuidam de si mesmos! Acaso os
pastores não deveriam cuidar do rebanho?’” (Ez 34.2). Eles
exploraram o rebanho tendo em vista ganhos próprios em vez
de protegê-lo. “As minhas ovelhas vaguearam por todos os
montes e por todas as altas colinas. Foram dispersas por toda a
terra, e ninguém se preocupou com elas nem as procurou” (v. 6)
— portanto, Deus removerá esses falsos pastores. Mas quem
pode substituí-los? Só pode haver uma resposta: “Porei sobre
elas um pastor, o meu servo Davi, e ele cuidará delas; cuidará
117
!Sam uel 16.1-23
delas e será o seu pastor” (v. 23). Deus promete um novo Davi,
o bom Rei-Pastor.
Marcos ecoa Ezequiel 34.6 em sua explicação da alimen-
tação dos cinco mil: “Quando Jesus saiu do barco e viu uma
grande multidão, teve compaixão deles, porque eram como ove-
lhas sempastor...”(M.c 6.34). Jesus é 0 Rei-Pastor. Davi demons-
trou que era um bom pastor, pois estava disposto a arriscar sua
vida pelas ovelhas. Jesus demonstra que ele é o supremo Bom
Pastor, pois dá a vida por suas ovelhas: “Eu sou o bom pastor.
O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas” (Jo 10.11).
Aqui está o rei de que precisamos. Israel descobriu, pri-
meiro sob o governo de Saul e depois sob o de Davi, que o rei
que decidimos querer, o rei que escolhemos para nossa vida,
não é o regente certo para nós. Precisamos de alguém que
governará humildemente. Precisamos de alguém que cuidará
de ovelhas que vagueiam, alguém que morrerá para nos prote-
ger. Todos nós precisamos escolher um rei para governar nosso
coração, nossa vida e nosso
Todos nós precisamos futuro. Seguindo uma ten-
escolher um rei para dência natural, escolhemos
Saul. Mas Deus nos dá um
governar nosso
Rei-Pastor, um Davi maior.
coração, nossa vida e
Ser cristão não significa em
nosso futuro. primeiro lugar ter de viver
em submissão a suas regras, mas poder viver sob seu reinado
humilde; trata-se da segurança e alegria de saber que temos
o Rei de que precisamos, escolhido pelo Senhor e dado a nós.
P e r g u n ta s p a r a r e fle x ã o
1. Como você reage a decepções, especialmente no ministé-
rio? Você precisa ouvir as palavras de Deus a Samuel em
16.1 (“vá”) para ser encorajado?
118
!Sam uel 16.1-23
SEGUNDA PARTE
O reí ungido
“Samuel apanhou o chifre cheio de óleo e o ungiu na presença
de seus irmãos, e, a partir daquele dia, o Espírito do S enhor
apoderou-se de Davi...” (lSm 16.13).
Os reis israelitas não eram coroados com uma coroa, mas
ungidos com óleo. Óleo era derramado sobre sua cabeça.
Assim, o rei era “o ungido”. A palavra hebraica para tal pessoa
é messiah, e a palavra grega é christos. Saul havia sido o ungido.
Agora Davi se torna o ungido — o messias ou o cristo.
Após a morte de Davi, à medida que os reis de Israel
demonstraram ser falsos pastores, cresceu a expectativa de
que vina um novo rei, um novo ungido, um messias. Isso foi
estimulado, como veremos, pela aliança de Deus com Davi,
prometendo que um de seus filhos reinaria para sempre sobre
o povo de Deus. Um novo Davi, um novo messias, viria para
resgatar o povo de Deus.
Essas esperanças e promessas são cumpridas em Jesus.
Jesus é o Cristo. Essa é a descrição de seu trabalho. Em algu-
mas aldeias do País de Gales, em que muitas pessoas tinham
o mesmo sobrenome, elas muitas vezes eram conhecidas por
suas profissões. Você poderia se referir a “James, o Padeiro” ou
“Bob, o Construtor”.Jesus é “Jesus, o Cristo”. Ele é o Ungido, o
Rei sobre o povo de Deus, que nos resgata de nossos inimigos.
119
!Sam uel 16.1-23
O r ei u n g id o p e lo E sp irito
Quando Davi é ungido, lemos que, “a partir daquele dia, o
Espírito do S enhor apoderou-se de Davi”. O significado lite-
ral é: “O Espírito do Senhor o tomou de assalto”. Ao mesmo
tempo, já no versículo seguinte ficamos sabendo: “O Espírito
do S enhor se retirou de Saul...” (v. 14).
A unção com óleo era simbólica, e esses versículos suge-
rem que ela simbolizava uma unção com o Espírito de Deus.
No Antigo Testamento, o Espírito descia sobre pessoas a fim
de capacitá-las para tarefas específicas: liderar, profetizar ou
construir. Tal unção era orientada para tarefas. No caso do rei,
o Espírito lhe fornecia tanto a autoridade quanto a capacidade
para governar. Saul permaneceu o rei ungido de Deus (como
Davi repetidamente, a grande custo, reconhecerá). Mas, sem o
Espírito, sua autoridade e capacidade para governar começam
a se desvanecer.
A retirada do Espírito de Deus não representa a remoção da
salvação de Saul. É difícil discernir se Saul era um crente verda-
deiro (porém perturbado), embora 10.9 diga: “... Deus mudou o
coração de Saul...”. A remoção do Espírito de Deus é a remo-
ção de sua unção para governar, tanto de sua autoridade quanto
de sua capacidade para ser rei sobre o povo de Deus. Mais tarde,
quando Davi peca, ele orará: “Devolve-me a alegria da tua salva-
ção...” (SI 51.12). Ele não está pedindo que Deus restaure sua
salvação, que depende da graça de Deus, mas que restaure a
experiência dessa salvação. No entanto, Davi também ora: "...
nem tires de mim o teu Santo Espírito” (v. 11). Uma vez que
ele não está pedindo uma restauração de sua salvação, sua ora-
ção pelo Espírito deve ser uma oração para que Deus continue
capacitando-o a governar. Com base em sua experiência de pri-
meira mão, a história de Saul, ele sabe 0 que acontece quando
Deus retira sua unção com o Espírito para governar.
120
! Sam uel 16.1־23
O C risto e s e u s c r is to s
Jesus é o cumprimento único da promessa divina de um rei ungi-
do. Somente ele é o Cristo com “C” maiusculo. Nós não somos.
Mas aqueles que estão em Cristo participam de sua iden-
tidade. Em ljoão 2.18-27, João adverte seus leitores acerca do
anticristo vindouro. Já naquela época ele diz: “... muitos anti-
cristos tem surgido...” (v. 18). O espírito do anticristo já está
atuando naqueles que deixaram a igreja, pois eles negam a ver-
dade sobre Jesus. E, nesse contexto, falando a cristãos, João diz:
P e r g u n ta s jp a r a r e fle x ã o
1. Como o conhecimento de que Isaías 11 se cumpre e se
cumprirá em Jesus encoraja você hoje?
2. Como considerar-se um “cristo”, um ungido pelo Espírito
para espalhar o reinado de Jesus, o “Cristo”, muda sua visão
do que você faz e diz hoje?
3. “Apontamos para ele, e não para nós mesmos.” Como você
pode fazer isso hoje?
125
!SAMUEL ■CAPITULO 17 VERSÍCULOS 1-58
8. ENFRENTANDO
GIGANTES
E n fr e n ta n d o g i g a n t e s
Em ISamuel 17, o povo de Deus enfrenta um problema que
é literalmente gigantesco: os israelitas enfrentam um gigante.
Os israelitas e os filisteus estão posicionados em colinas opos-
tas (v. 1-3). Os filisteus têm um defensor, Golias. “...Tinha dois
metros e noventa centímetros de altura” (v. 4). O homem mais
alto da história recente foi Robert Wadlow, que tinha 2,72
metros. Golias era um pouco maior, mas era um dos últimos
membros de uma raça antiga de homens altos.
Todo dia, Golias lança um desafio pelo vale. Ele convida
Israel a escolher um lutador para um combate representativo
e pessoal. Eles lutarão em nome de seus respectivos exércitos,
e a nação do perdedor ficará sob o domínio da do vencedor
(v. 8-10). Previsivelmente, “ao ouvirem as palavras do filisteu,
Saul e todos os israelitas ficaram atônitos e apavorados” (v. 11).
Essa não é a primeira vez que Israel enfrenta gigantes —
e seu histórico não é lá muito bom. Deus resgatou Israel da
escravidão no Egito e conduziu os israelitas à entrada da Terra
Prometida de Canaã. Em Números 13, Moisés enviou doze
espiões à frente para explorarem a terra. “É uma terra onde
manam leite e mel”, relataram. Mas dez deles concluíram: “...
‘Não podemos atacar aquele povo; é mais forte do que nós’
[...]. ‘A terra para a qual fomos em missão de reconhecimento
127
!Sam uel 17.1-58
E sm a g a n d o a ser p e n te
Mas Golias não é simplesmente um gigante. Também é uma
serpente. Embora raramente descreva a armadura de alguém, o
130
!Sam uel 17.1-58
p a r a r e fle x ã o
1. Você se enxerga como alguém que segue o Cristo que esma-
gou o Diabo e derrotou a morte? Como isso influencia seu
pensamento e suas emoções quanto à sua vida?
2. Como será sua vida se você reagir à tentação e à oposição
com fé, e não com medo?
3. Como você usaria a história de Davi e Golias para explicar
o evangelho de Jesus Cristo a um não cristão?
SEGUNDA PARTE
O n d e n o s a c h a m o s n e s s a h is tó r ia ?
Quando Davi corta a cabeça do gigante (lSm 17.51) e os filis-
teus recuam e fogem, enquanto Israel os persegue e saqueia
133
!Sam uel 17.1-58
(v. 52,53), a pergunta que fica para nós é: O que nós somos
nessa historia?
Talvez seja tentador pensar que somos chamados para
sermos como Davi, indo lutar contra os gigantes que pertur-
bam nossa vida. Essa é uma tentação perigosa. Se a historia
o encoraja a lutar com seu valentão perturbador local, tal-
vez você descubra que 0 resultado o persuadirá a adotar uma
interpretação alternativa!
Deixe-me contar sobre quando conheci o messias. Uma
mulher que estava frequentando nossa igreja apareceu certa
noite à nossa porta com duas crianças pequenas. Ela havia sido
vítima de violência doméstica, e o ex-parceiro tinha saído da
prisão havia pouco tempo. Agora ele a estava perseguindo, e
ela veio a nós para se refugiar. Rápida como um raio, minha
esposa a puxou para dentro da casa e me empurrou para fora.
“Eu cuido dela”, resolveu. “Você cuide dele.” Assim, lá estava
eu minutos depois, fora de casa, descalço, conversando com
um homem grande e nervoso. Como se isso não fosse suficien-
temente perturbador, em nossa conversa ficou claro que ele
achava que era o messias que voltou à terra e que só foi preso
porque estava sendo perseguido. Pela graça de Deus, consegui
acalmá-lo e convencê-lo a ir embora.
Essa foi a única vez em que conheci alguém que afirmava
ser o messias. Mas conheci muito mais pessoas que agiam
como uma figura messiânica, como se fossem o salvador do
mundo, de si mesmos ou da família. De fato, eu mesmo me
comportei assim, muitas vezes. Obviamente, essas pessoas
conseguem fazer muita coisa boa. Porém, mais cedo ou mais
tarde, um complexo de messias esmagará você ou esmagará as
pessoas que o cercam.
A mensagem da Bíblia não é que somos chamados para sal-
var o mundo, mas, sim, que temos um Salvador. A mensagem
de 1Samuel 17 não é que somos chamados para ser como Davi,
mas que temos um Davi.
134
!Sam uel 17.1-58
V o c ê n ã o c o n q u is t o u a v itó r ia
Quem somos na história? A verdade é que muitas vezes somos
como Eliabe. Não confiamos em Cristo para nos livrar da serpente.
Ou talvez sejamos Israel. Imagine-se como um dos solda-
dos israelitas na colina acima do vale de Elá. Por quarenta dias,
Golias tem saído toda manhã e toda noite para zombar de
você, e você se sente impotente. Em algum momento, haverá
um desfecho, e não parece que será bom. Então Davi dá um
passo à frente. A situação não parece boa. Golias anda na dire-
ção dele (v. 41); em comparação com 0 gigante, Davi parece
pequeno demais, “só um rapaz” (v. 42). Gerações antes, os dez
espiões haviam dito que os gigantes de Canaã os faziam pare-
cer como gafanhotos; e hoje Davi novamente parece um gafa-
nhoto. Se isso é tudo o que você tem, então você não tem nada,
com certeza.
Mas então Davi carrega sua atiradeira com a pedra e, num
piscar de olhos, tudo acaba. Golias está estendido no campo
e Davi lhe corta a cabeça com a espada que desembainhou
da cintura do gigante. Na colina oposta, os zombadores filis-
teus silenciam e começam a fugir (v. 51). Então, com os outros
homens de Israel e Judá, você se lança para a frente com um
grito para persegui-los e saquear o acampamento (v. 52,53).
Do mesmo modo, nós, por assim dizer, estamos na colina,
acompanhando o desenrolar da história humana. Lá embaixo
no vale vemos nosso Cristo, Jesus, ingressando na batalha
armado somente com uma viga de madeira presa aos ombros.
Nós o vemos enfrentando a serpente que tiranizou nossa vida,
ao ser pendurado na cruz. Ali está Jesus, como Davi, parecendo
pequeno em comparação com o poder do Império Romano,
parecendo pequeno em comparação com o poder da serpente.
Mas ele ingressa na batalha de forma muito valente. Ele se
confia a Deus.
135
!Sam uel 17.1-58
D e sfr u te d a v itó r ia
Há um chamado à ação nesse capítulo, mas não é um cha-
mado para lutar com gigantes. Jesus é Davi. Nós não somos
o Cristo. Mas, como vimos quando examinamos 1Samuel 16,
somos cristos com c minúsculo. Somos cristãos, palavra que
vem de Cristo, ungidos pelo Espírito para proclamar a vitória
de Cristo. Somos chamados para imitar o Cristo e seguir o
exemplo da fé de Davi.
Saul e os israelitas ficam “atônitos e apavorados” por causa
da zombaria de Golias (17.11). Mas Davi sente-se ofendido
por essa zombaria. Seis vezes no capítulo, vemos que Golias
desafia ou desonra Israel (v. 10,25, duas vezes nos v. 26,36,45).
Quatro dessas menções vêm da boca de Davi. Davi leva extre-
mámente a sério a honra do Senhor. “... ‘Quem é esse filisteu
incircunciso para desafiar os exércitos do Deus vivo?’”, pergunta
ele (v. 26). Golias cometeu blasfêmia, a qual era uma ofensa
capital que demandava morte por apedrejamento. E apedrejar
é precisamente o que Davi vai fazer.
Saul é um rei como os das nações, usando uma armadura
como Golias. Em todo o restante da história, ele nunca está
longe de uma lança — exatamente como Golias. Mas Davi é
um rei sob Deus, dependendo do poder de Deus para a vitória.
Ele marcha contra Golias sem armadura, pois é protegido por
Deus. Ele toma para si a armadura de Golias e coloca as armas
dele “em sua própria tenda” (v. 54) — um sinal de que a vitória
pertence a ele. Mas, em 21.9, descobrimos que a espada de
Golias está no santuário. A certa altura, Davi deu o despojo a
Deus — um sinal de que a vitória pertence ao Senhor.
138
!Sam uel 17.1-58
poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como
não nos dará juntamente com ele, e de graça, todas as coisas?”.
Após a morte de Golias, ainda há uma tarefa a ser realizada
(ISm 17.52). Os homens de Israel e Judá “deram o grito de
guerra” para perseguir os filisteus e saquear seu acampamento
(v. 52,53). Há uma batalha, mas eles lutam sabendo que a ação
decisiva já foi realizada (v. 45-47). Hoje é a mesma coisa. A
vitória decisiva foi conquistada por meio da cruz e da ressurrei-
ção. A serpente está amarrada, e nossa tarefa é saquear seu
acampamento, enquanto proclamamos a vitória de Cristo e
chamamos as pessoas para
A vitória decisiva já se submeterem ao seu reino
foi conquistada. Nossa libertador. Isso é uma bata-
tarefa é saquear o lha. Muitas vezes nos vemos
enfrentando a hostilidade e
acampamento.
a zombaria que Davi enfren-
tou (v. 10,43,44). Mas podemos lutar bravamente, pois a vitó-
ria é nossa em Cristo. Podemos ter fé por causa da fidelidade
do nosso Guerreiro.
Cristo nos diz: “Que ninguém fique abatido por causa
dessa serpente; eu fui e lutei contra ela”. E podemos dizer:
“Não é pela espada ou lança que o Senhor salva; pois a batalha
é do Senhor”.
Portanto, não fomos chamados para ser como Pauline
ou Sofia, esgotando-nos enquanto tentamos em vão salvar o
mundo. Não devemos agir como se tudo dependesse de nós.
Em nosso evangelismo, na vida familiar ou nas causas que
assumimos, talvez achemos que precisamos conquistar a vitó-
ria, que conseguimos carregar o peso do mundo. Porém, mais
cedo ou mais tarde, ele nos esmagará. Ele nos levará a uma
atividade interminável, pois nunca conseguimos fazer o sufi-
ciente para salvar o mundo. Ou isso esmagará aqueles que nos
cercam, ao projetarmos culpa sobre os outros por não salvarem
140
!Sam uel 17.1-58
P e r g u n ta s p a r a r e fle x ã o
1. Você realmente vê Jesus como sua única esperança para o
livramento da morte, como Israel via Davi quando ele foi
ao encontro de Golias?
2. Medite sobre a verdade de que Jesus é o nosso “homem
intermediário”. Como isso leva você a louvá-lo e adorá-lo?
3. Você é mais parecido com Pauline, Sofia ou Colin? Como
o conhecimento de que Jesus venceu a batalha liberta e ao
mesmo tempo desafia você?
141
!SAMUEL ■CAPITULO 18 VERSÍCULOS 1-30
VERSÍCULOS 23
VERSÍCULOS 1-42
9. TOMANDO PARTIDO
Urna das coisas que nossa famñia gosta de fazer quando temos
visitantes de outros países é oferecer marmite para eles prova-
rem. Para quem não sabe, marmite é urna pasta de extrato de
levedura para passar no pão. Tem um sabor muito diferente.
Para os não iniciados, a primeira mordida é sempre uma sur-
presa. O slogan revela algo sobre o produto: “Marmite: ou você
ama, ou você odeia!”.
O mesmo se poderia dizer a respeito de Davi nesses capí-
tulos: Davi: ou você o ama, ou você o odeia. E a maioria o ama,
mas nem todos.
A n tig o h e r d e ir o , n o v o h e r d e ir o
Imediatamente após os filisteus terem sido derrotados,“Jónatas”,
filho de Saul, “tornou-se um em espírito com Davi, e Jônatas
o amou como a si próprio” (18.1, NIV). “Um em espirito” é li-
teralmente “costurados um ao outro”. A mesma palavra é usada
para descrever o relacionamento de Jaco com Benjamim, seu
filho predileto. Somos informados de que a vida de Jacó estava
“fortemente ligada à vida do menino” (Gn 44.30, NIV). E o
mesmo acontecerá com Jônatas e Davi. Davi essencialmente
!Sam uel 18.1-30; 19.23; 20.1-42
O s s o ld a d o s , a s m u lh e r e s e D a v i
“Fosse qual fosse a missão que Saul lhe desse, Davi era tão
bem-sucedido que Saul lhe deu um posto elevado no exército.
Isso agradou a todas as tropas, bem como aos conselheiros de
Saul” (lSm 18.5, NIV). O exército ama Davi — tanto os sol-
dados rasos quanto os oficiais superiores.
E as mulheres de Israel também o amam. Após Golias
ser morto e os filisteus serem completamente derrotados, en-
quanto os homens do exército voltam triunfantemente com
Saul como seu líder, as mulheres os saúdam “com cânticos e
danças, com tamborins, com músicas alegres e instrumentos
de três cordas. As mulheres dançavam e cantavam: ‘Saul matou
milhares, e Davi, dezenas de milhares”’ (v. 6,7). Vimos como a
ascensão de Saul ao trono incluiu a participação em uma quase
festa de casamento em ISamuel 9. Como rei, ele estava se tor-
nando, por assim dizer, o marido de Israel. Mas é Davi que
agora é reconhecido como o verdadeiro marido do povo de
Deus, protegendo as mulheres de ameaças. Isso aponta incons-
cientemente para Jesus, o Marido supremo, que dá sua vida
pela sua esposa, a igreja (E f 5.22-33).
Em ISamuel 18.16, é “... Davi [...] [que] os conduzia em
suas batalhas”, portanto “todo o Israel e todo o Judá [...] gos-
tavam de Davi...”. Conduzir o povo de Deus em suas batalhas
deveria ser o papel de Saul (9.16), mas agora é Davi que está
fazendo isso e sendo amado por causa disso.
Em poucas palavras, Davi é um sucesso. Faz tudo o que lhe
pedem com grande êxito (18.5), com mais êxito do que qual-
quer outro oficial (v. 30). Mas Davi não é simplesmente
um bom guerreiro. O segredo é que o Senhor está com ele.
“Ele tinha êxito em tudo o que fazia, pois o S enh or estava
com ele” (v. 14; veja também v. 28). Ainda mais significativo
é o versículo 12: “... o S enhor [...] havia abandonado [Saul]
e agora estava com Davi”.
144
!Sam uel 18.1-30; 19.23; 20.1-42
Um h o m em n ã o a m a D avi
Todos amam Davi... exceto Saul. Quando as mulheres de Israel
cantam:"... ‘Saul matou milhares, e Davi, dezenas de milhares’”
(v. 7), é improvável que seu cântico intencionalmente exalte
Davi acima de Saul. O hebraico muitas vezes junta termos, e
a palavra “milhares” literalmente é “m i rí ades ” (talvez suben-
tendendo que os dois, Saul e Davi, mataram “muitíssimas
pessoas”). Mas, ainda assim, Saul entende o fato como um
menosprezo. Somos informados de que “Saul ficou muito irri-
tado...”. Por quê? Ele ponderou: “...‘A tribuíram a Davi dezenas
de milhares, mas a mim apenas milhares. O que mais lhe falta
senão o reino?”’ (v. 8). Saul está claramente com inveja de Davi
e passa a vigiá-lo de perto (v. 9).
Mas não se trata somente de inveja. Ele também está com
medo — e esse medo cresce ao longo do capítulo. Afinal,
“... o S enhor o havia abandonado e agora estava com Davi”
(v. 12), que “tinha êxito em tudo o que fazia” (v. 14). Seu temor
aumenta ainda mais quando ele vê o amor que sua filha Mical
devotava a Davi (v. 28). Assim, Saul continuou a ser seu ini-
migo pelo resto da vida (v. 29). Não era somente falta de afeto,
mas ódio.
O processo em direção ao ódio começa com a sua ira por
causa do cântico nos versículos 8 e 9. “No dia seguinte, um
espírito maligno mandado por Deus apoderou-se de Saul...”
(v. 10). Ele literalmente o “toma de assalto”, exatamente como
o Espírito de Deus havia se apoderado dele (11.6), mas agora
“apoderou-se de Davi” (16.13). Esse espírito maligno o leva a
“profetizar” em sua casa. “Profetizar” em 1Samuel parece se
referir a mais do que simplesmente proferir a palavra de Deus.
Parece que pode incluir qualquer efeito que resulta de ser
dominado por um espírito (como veremos novamente no capí-
tulo 19). Aqui, implica atirar uma lança em Davi — duas vezes
145
!Sam uel 18.1-30; 19.23; 20.1-42
T rês c o n s p ir a ç õ e s d e a s s a s s i n a t o
O capítulo 19 assiste a mais três tentativas de aniquilar
Davi. Nenhuma delas funciona. Na primeira, Jônatas o salva.
Ao tentar apanhar Davi em uma armadilha, Saul ordenou
que seus servos dissessem: “Vê, o rei está satisfeito contigo”
(18.22, ESV). Mas isso é uma mentira. A realidade é que
seu filho, Jônatas, é “quem está muito satisfeito com Davi”
(19.1, ESV). Jônatas adverte Davi de que seu pai está bus-
cando matá-lo (v. 2). Mas ele se dispõe a intervir, proclamando
a inocência de Davi (v. 3,4). Ele mostra diplomaticamente que
é o Senhor que “trouxe grande vitória para todo o Israel” (v. 5).
Por meio da mediação de Jônatas, Saul e Davi se reconciliam e
Davi é restaurado à corte real (v. 6,7).
Mas isso não dura muito. Após mais resultados positivos
de Davi em batalha (v. 8, ARA), a inveja de Saul parece vir à
tona novamente. Mais uma vez, um espírito maligno se apo-
dera de Saul, e novamente ele tenta encravar Davi na parede
com uma lança (v. 9,10, ARA). Davi “feriu” os filisteus no ver-
sículo 8; a mesma palavra é usada duas vezes no versículo 10
para descrever como Saul, em sua tentativa de encravar Davi
na parede, feriu-a com a lança. Saul está tratando Davi como
um inimigo filisteu.
Davi foge para a casa dele. Mas Saul envia homens para
cercarem a casa. No versículo 1, Saul tramou matar Davi,
“Jônatas, porém”, interveio. O padrão agora se repete, mas
dessa vez com Mical. Saul planeja matar Davi, “mas Mical”
intervém (v. 11). Ela organiza a fuga de Davi de uma
janela e ganha tempo para que ele consiga fugir ao esconder
um ídolo em uma cama, para passar a impressão de que Davi
está doente (v. 12-16). Interpelada, ela se defende, afirmando
147
!Sam uel 1 8 . 1 2 0 . 1 - 4 2 ;19.23 ;30־
Perguntas p a r a r e fle x ã o
1. A Bíblia encoraja amizades próximas, confiáveis e honestas
entre cristãos do mesmo sexo. Como você poderia cultivar
esse tipo de amizade?
2. Você reconhece algo de Saul em si mesmo? Como o fato
de encontrar sua identidade, segurança e percepção de valor
em seu relacionamento com Jesus mudará seu coração?
3. Há situações em que você está sendo chamado para desobede-
cer corajosamente a uma autoridade a fim de obedecer a Deus?
150
!Sam uel 18.1-30; 19.23; 20.142־
SEGUNDA PARTE
A am eaça
A incerteza que envolve o lugar de Davi na corte real atinge o
ponto culminante no capítulo 20. A atitude negativa de Saul
para com Davi piora, e Davi precisa decidir se é seguro per-
manecer ali. Parece que, inicialmente, Jónatas está cegó para
a extensão do odio do pai (v. 2,3). Jônatas e Davi decidem
então criar um plano para revelar as intenções de Saul (v. 4-7).
A festa da lúa nova era claramente uma festa crucial, à qual os
membros da corte deveriam comparecer. Assim, eles decidem
que Davi deve ausentar-se deliberadamente. Se Saul aceitar a
ausência, isso mostrará que ainda tem boas intenções quanto
a Davi. Porém, se Saul se zangar, a ameaça a Davi será confir-
mada. Se esse plano é para o benefício de Davi ou de Jónatas
é incerto. Talvez sejam ambas as coisas. Davi reafirma sua
inocencia, chamando Jônatas pessoalmente para matá-10 ali
mesmo caso ele seja culpado de ter cometido traição (v. 8,9).
Mas como Davi saberá qual é a reação de Saul (v. 10)?
Os dois vão a um campo, talvez para que ninguém os ouça
(v. 11). Ali, Jónatas pede que Davi faça uma aliança com ele.
Ele se compromete a fazer tudo o que prometeu e proteger
Davi; ele pede que Davi se comprometa com ele com hesed
(“bondade” — v. 12-14, ARA). Então os dois combinam os
detalhes de como Jónatas avisará Davi, por meio de uma rotina
complicada de arco e flecha.
Talvez essa seja uma reiteração da aliança que eles fizeram
em 18.3,4, cujos conteúdos não foram especificados. Davi está
fugindo de Saul, mas o primeiro lugar para o qual ele vai é a
casa do filho de Saul, Jônatas (20.1). Esse é um passo extraor-
dinário. Mas Davi pode confiar em Jônatas por causa da aliança
que fizeram (18.3). Como ele diz: “Mas mostre bondade a seu
151
!Sam uel 18.1-30; 19.23; 20.1-42
N ã o h á v o lt a
Esse é um momento crucial na narrativa. Em 19.1-7, Jônatas
foi capaz de mediar entre Saul e Davi e, assim, reconciliá-los.
Mas uma mediação não é mais possível. Esse é o momento em
que Jônatas precisa decidir. Saul o acusa de tomar o partido de
Davi (20.30). É hora de decidir.
Jônatas escolhe Davi. “... Ό que ele fez?’” (v. 32) ecoa a
própria pergunta de Davi no versículo 1. Saul responde ati-
rando sua lança contra Jônatas (v. 33), exatamente como havia
feito duas vezes com Davi (18.10,11; 19.9,10). A mensagem é
clara: Jônatas está com Davi, portanto Saul trata Jônatas como
trata Davi.
Conforme prometido,Jônatas realiza sua rotina com o arco e
a flecha a fim de que Davi saiba que está em perigo (20.35-40).
Os dois homens se despedem, chorando (v. 41) — eles não
sabem se algum dia se encontrarão novamente. O capítulo
153
!Sam uel 18.1-30; 19.23; 20.1-42
R e c o n h e c e n d o o rei
Esses capítulos contrastam as atitudes de Saul e Jônatas em
relação a Davi. Saul tem inveja de Davi (lSm 18.8) e descon-
fia de Davi (v. 9). Somos informados repetidamente de que
Saul tem medo de Davi (18.12,15,29). Seu intento assassino
é claro para todos (19.1). Em contraste, Jônatas é “um em
espírito com Davi, e Jônatas o amou como a si próprio” (18.1,
NIV). Ele intervém por Davi e trai seu pai para salvar Davi.
A expressão “um em espírito” é usada por Saul para descrever
154
!Sam uel 18.1-30; 19.23; 20.1-42
Perguntas p a r a r e fle x ã o
1. Com respeito ao rei Jesus, você é mais como Saul ou é mais
como Jônatas? Explique de que maneira.
2 . O que você precisa abandonar ou correr o risco de abandonar
a fim de tornar Jesus digno de sua lealdade e amor supremos?
157
! Sam uel ! 8.1-30 ; 19.23 ; 20.1 ־42
158
1SAMUEL■ CAPÍTULO 21 VERSÍCULOS 1 1 5 ־
10. OS ANOS NO
DESERTO
U m r e in o s a c e r d o t a l
Mas a piada logo perde a graça e se torna amarga. Davi nunca
é recebido na corte; sua vida está em perigo. Daqui em diante,
viverá fugindo. Foge para Nobe, para onde, após a destruição
de Siló, o Tabernáculo parece ter ido (21.1).
O que vem a seguir é um episódio estranho. Na falta de supri-
mentos, Davi e seus companheiros pedem pão (v. 3). Davi mente
!Sam uel 21.1-15; 22.1-23; 23.1-25
de que Saul era o ungido de Deus era que “...‘três homens [...]
subindo ao santuário de Deus em Betei’...”lhe ofereceríam pão
(lSm 10.3,4). Agora é Davi que recebe pão do sacerdote.
Israel praticava uma separação muito clara entre as funções
de rei e sacerdote. Davi não é sacerdote, mas será o rei e o repre-
sentante de um reino sacerdotal. No monte Sinai, Deus havia
declarado que Israel era “um reino de sacerdotes e uma nação
santa” (Ex 19.4-6). Por meio de uma vida regulada pela Lei
de Deus, Israel precisava
demonstrar a bondade do Jesus não está
governo de Deus ao mundo. simplesmente
Os israelitas tinham a fun- argumentando sobre
ção sacerdotal de revelar
a interpretação áa Lei.
Deus às nações c levá-las ao
Ele está afirmando
local de expiação, o Taber-
ser o novo Davi.
náculo. Davi estava se tor-
nando o representante desse reino sacerdotal; c, assim, talvez não
devamos nos admirar de ver que ele está sendo tratado como um
sacerdote em alguns aspectos. No deserto, Deus havia provido a
Israel o pão do céu. O Tabernáculo não era o céu, mas era uma
representação do céu (Hb 8.5). Assim, em certo sentido, Davi,
o verdadeiro representante do povo de Deus, recebe pão do céu.
Há outra nota um tanto ambígua na história: “Aconteceu
que um dos servos de Saul estava ali naquele dia, cumprindo
seus deveres diante do S e n h o r ; era 0 edomita Doegue, chefe
dos pastores de Saul” (lSm 21.7). Não é fornecida nenhuma
explicação adicional. Mas essa linha sinaliza uma notícia não
muito boa, especialmente quando se tem em vista que o nome
“Doeg” soa como a palavra hebraica d'g: “preocupação”.
U m liv r a m e n to e s t r a n h o
Com novos suprimentos, Davi então parte para Gate (v. 10).
Trata-se de uma escolha estranha, pois Gate é uma cidade
161
!Sam uel 21.1-15; 22.1-23; 23.1-25
U m rei in ju s to e u m a g u e r r a p r o fa n a
Quando descobre o que aconteceu, Saul fica fora de si
(ISm 22.6). Ele percebe que a corte dele não o manteve infor-
mado. O autor novamente realça como sua autoridade está
lhe escapando. Saul era da tribo de Benjamim, e agora apela à
lealdade do clã (v. 7). Sem dúvida alguma, eles devem escolher
Saul, um companheiro benjamita, e não esse “filho de Jessé”
(v. 8), o pretendente ao trono da tribo de Judá.
Então Saul apela ao interesse próprio deles: "... ‘Será que o
filho de Jessé dará a todos vocês terras e vinhas? Será que ele
os fará todos comandantes de mil e comandantes de cem?’”
(v. 7). Isso ecoa a advertência de Samuel cm 8.10-14 — de
que o rei tiraria de alguns e daria a outros a fim de fortalecer
seu poder. O que Samuel previu que o rei faria, Saul agora está
prometendo fazer. Saul está se tornando o tipo de rei injusto,
164
!Sam uel 2 1 . 1 2 3 . 1 - 2 5 ;22.1-
Urna n o v a c o r te
Apesar de todos os seus esforços assassinos, o poder continua
escapando das mãos de Saul. Ele não tem autoridade alguma
na própria corte. Seus oficiais não lhe contam o que está acon-
tecendo (v. 8) nem executam as suas ordens (v. 17).
Enquanto isso, a autoridade de Davi está em ascensão
até mesmo quando as circunstâncias que enfrenta não são as
melhores. Ele passará os próximos anos às margens da socie-
dade. E um fu gitiv o , nunca está seguro. Meses antes, foi
ungido por Samuel como rei e matou o gigante Golias. Agora
está em território inimigo, fingindo ser louco. No entanto,
começa a reunir em torno de si uma corte real. Enquanto a
família de Saul se afasta de Saul, a de Davi junta-se a Davi
(22.1). Para mantê-la em segurança, ele a estabelece em
Moabe, a terra natal de sua bisavó Rute (v. 3,4). Enquanto Saul
destrói o sacerdócio, Davi fornece um abrigo para o sacerdote
Aimeleque. Saul diz ao sacerdote Aimeleque: “... ‘Com cer-
teza você será morto, Aimeleque, você e toda a família de seu
pai’” (v. 16). Em contraste, Davi diz ao filho sobrevivente de
Aimeleque: “... você estará a salvo comigo’” (v. 23).
Os primordios do reino de Davi estão começando a tomar
forma. “Também juntaram-se a ele todos os que estavam em
dificuldades, os endividados e os descontentes; e ele se tornou
166
!Sam uel 21.1-15; 22.1-23; 23.1-25
■ g P W g p n p a r a r e fle x ã o
1. Se tiver tempo, leia em parte ou por inteiro estes salmos: 34,
56,57 e 142. Como eles falam hoje à sua vida?
2. Como você enxerga a si mesmo? Você se reconhece como
alguém que, em dificuldades, dívidas ou quando descon-
tente, voltou-se para Jesus Cristo?
3. Você busca esconder suas fraquezas ou permite que elas
enalteçam a graça de Deus e enfraqueçam o orgulho do
mundo? Como?
SEGUNDA PARTE
O rei d a s m a r g e n s
Jesus cresceu na cidade de Nazaré, na parte norte de Israel,
longe dos centros de poder e riqueza. Durante três anos, ele
não teve casa. “... ‘As raposas têm suas tocas e as aves do céu
têm seus ninhos, mas o Filho do homem não tem onde repou-
sar a cabeça’” (Mt 8.20). Ele enfrentou preconceito e rejeição.
Aqui está o problema: o fato de que Jesus vivia às mar-
gens, de que ele não tinha casa, de que as pessoas o odiavam
— todas essas coisas significavam que ele não tinha aparência
de rei. Precisamos sentir a dissonância entre o que o mundo
168
!Sam uel 21.1-15; 22.1-23; 23.1-25
expectativa deve ser que será assim que o rei supremo de Israel
chegará ao trono. Assim, quando queria demonstrar que Aquele
que fora rejeitado e desprezado era na verdade o verdadeiro Rei
de Deus, a igreja primitiva apontava para esse livro.
O c r is to é tr a íd o
Considere o que acontece a Davi, o cristo, no capítulo 23. Essa
é a história de duas traições.
Davi ouve que a cidade israelita de Queila está sendo ata-
cada pelos filisteus (v. 1). Assim, ele consulta o Senhor. O ver-
sículo 6 acrescenta uma palavra de explicação. Quando Abiatar
fugiu de Doegue e foi até Davi, ele levou consigo o colete sacer-
dotal do sumo sacerdote. O colete sacerdotal continha o Urim
e o Tumim (Êx 28.30; Lv 8.8). Não sabemos como o Urim e
0 Tumim eram, mas eram usados para receber revelação de
Deus. Davi, e não Saul, é agora aquele que tem acesso à orien-
tação de Deus. Desse modo, o Senhor diz a Davi para salvar
a cidade (ISm 23.2). Mas o medo torna os homens de Davi
relutantes. Consequentemente, Davi consulta o Senhor pela
segunda vez, e dessa vez o Senhor promete explícitamente a
vitória (v. 3,4).
Portanto, Davi resgata a cidade (v. 5). Saul havia acabado
de atacar uma cidade israelita (Nobe) por meio de um gen-
tio (Doegue). Em contraste, Davi salva uma cidade israelita
(Queila) atacando inimigos gentios (os filisteus).
Quando ouve falar do que Davi fez, Saul conclui: "... ‘Deus
o entregou nas minhas mãos, pois Davi se aprisionou ao entrar
numa cidade com portas e trancas’” (v. 7). Novamente, há um
contraste com Davi. Davi vai a Queila para derrotar os filisteus;
Saul se apressa para cercar Davi ali (v. 8). Davi tem o colete
sacerdotal e, assim, entende os propósitos de Deus. Saul não
tem o colete sacerdotal e, assim, interpreta mal os propósitos
de Deus. Davi usa o colete sacerdotal para descobrir de Deus
172
!Sam uel 21.1-15; 22.1-23; 23.1-25
O c r is to n o d e s e r to
“Davi permaneceu nas fortalezas do deserto e ñas colinas do
deserto de Zife...” (lSm 23.14). Em 26.3, Davi ainda está
no deserto: “Saul acampou ao lado da estrada, na colina de
Haquilá, em frente do deserto de Jesimom, mas Davi perma-
neceu no deserto...”. O texto traça um contraste entre Saul e
Davi. Saul, até mesmo em suas manobras táticas, está no seu
campo, “mas” Davi está no deserto. No fim do capítulo 26,
lemos:"... Assim Davi seguiu seu caminho, e Saul voltou para
casa” (v. 25). Isso é muito significativo. Saul vai para casa, mas
Davi não tem casa alguma para onde ir. Somente pode seguir
“seu caminho”. Davi precisa viver no deserto, escondendo-se
em cavernas. Ele não tem casa, exatamente como Jesus.
Às vezes, nos referimos a algum político que está exilado,
alguém que foi marginalizado e cuja carreira não está indo
a lugar algum. Em 1Samuel 23—26, Davi está no deserto
tanto literalmente quanto no sentido m etafórico . Doze das
quinze referências a deserto em 1Samuel estão nesses capítulos
(23.14,15,24,25; 24.1; 25.1,4,14,21; 26.2,3), e os capítulos 24
a 26 iniciam suas respectivas narrativas com uma referência aos
anos de Davi no deserto. Ele é o cristo marginalizado.
Assim, a história contada em lSamuel e refletida no pri-
meiro livro dos salmos desempenhou um papel fundamental na
apologética da igreja primitiva. É a prova de que o Messias
sofredor é o verdadeiro Messias. Longe de fazer com que sua
identidade seja questionada, a traição e a marginalização sofri-
das confirmam Jesus como o verdadeiro sucessor de Davi.
Por que o Cristo precisa sofrer? Jesus poderia ter vindo em
poder e glória, eliminando seus inimigos. O problema é que
por natureza todos nós somos inimigos de Deus. O triunfo
de Jesus teria significado nossa derrota. A vindicação de Jesus
teria significado nosso juízo. Assim, em sua graça, Jesus veio
174
!Sam uel 21.1-15; 22.1-23; 23.1-25
N ó s s o fr e m o s c o m o o C risto
Enquanto isso, sofremos com Cristo, como Cristo e por cama
de Cristo. Davi, o cristo, sofreu. Depois, Jesus, o Cristo, sofreu.
E agora aqueles que estão em Cristo podem ter a expecta-
tiva de sofrer. Cristo disse: “Lembrem-se das palavras que eu
lhes disse: Nenhum escravo é maior do que o seu senhor. Se
me perseguiram, também perseguirão vocês. Se obedeceram à
minha palavra, também obedecerão à de vocês. Tratarão assim
vocês por causa do meu nome, pois não conhecem aquele que
me enviou” (Jo 15.20,21).
Se nosso rei é maltratado, também podemos e devemos ter
a expectativa de ser maltratados. Se Davi teve vinte capítulos
antes de receber a glória, então devemos ter a expectativa de
vinte capítulos na nossa vida antes de receber a glória! Há um
momento na história de Atos em que os apóstolos são açoi-
tados, e aí lemos: “Os apóstolos saíram do S in e d r io , alegres
por terem sido considerados dignos de serem humilhados por
causa do Nome” (At 5.41).
Devemos ter a expectativa de sofrer. Mas, quando sofremos,
podemos nos confiar a Deus. Lemos em 1Samuel23.14: “... Dia
após dia Saul o procurava, mas Deus não entregou Davi em
suas mãos”. Davi podia escolher não usar de violência contra
Saul, pois sabia que Deus estabelecería seu reino. Os cristãos
não usam e não devem usar de violência, pois sabemos que
Deus estabelecerá o reino de Cristo.
175
!Sam uel 2 1 . 1 2 5 ־15; 22.1-23 ; 23.1 ־
P e r g u n ta s p a r a r e fle x ã o
1. Como esta seção encorajou você a ver que Jesus realmente
é o Cristo prometido de Deus?
176
!Sam uel 21.1-15; 22.1-23; 23.1-25
177
1SAMUEL ■ CAPITULO 23 VERSÍCULOS 26-29
11. PERÍODOS DE
PROVAÇÃO
O S e n h o r é a m in h a r o c h a
A montanha é simplesmente designada de a “rocha” (v. 25).
Quando Davi ouve que Saul está indo em sua direção, ele vai
para a “rocha”. O autor comenta: “... Por isso chamam esse
lugar Selá-Hamalecote”, o que significa “rocha da separação”
(v. 28). Essa rocha protegeu Davi, mantendo-o separado de
seu inimigo.
¡Sam uel 23.26-29; 24.1-22; 25.1-44; 26.1-25
A p r im e ir a p r o v a ç ã o n o d e s e r to
Os capítulos 23 a 26 descrevem Davi no deserto, onde ele
enfrenta três provações.
O bando original de quatrocentos homens que se juntaram
a Davi cresceu para seiscentos (23.13). Mas Saul agora vai atrás
dele com três mil homens escolhidos a dedo de todo o Israel
(24.1,2). Davi e seus homens estão se escondendo no fundo
de uma caverna quando Saul entra para fazer suas necessida-
des (v. 3). Há muitas cavernas no deserto de En-Gedi, mas
Saul escolhe aquela em que Davi está. Davi está no fundo da
caverna com seus homens, que cochicham: “Esta é sua chance.
Deus lhe deu a oportunidade de matar Saul”. Em vez disso,
Davi se arrasta e corta a ponta do manto de Saul (v. 4). (Prova-
velmente Saul o havia tirado para evitar sujá-lo!)
Davi tem a oportunidade de matar Saul; mas resiste. No
entanto, ainda acha que o que fez é errado— ele “sentiu bater-lhe
o coração de remorso” (v. 5), “então disse a seus soldados: ‘Que
o S enhor me livre de fazer tal coisa a meu senhor, de erguer a
mão contra ele, pois é o ungido do S enhor ’” (v. 6).
Por que Davi sente o coração bater de remorso quanto a cor-
tar um pedaço do manto de Saul? A resposta pode ser encon-
trada em trechos anteriores da história em que encontramos
mantos. Quando Deus rejeita Saul no capítulo 15, Saul agarra
o manto de Samuel. Quando ele se rasga, Samuel lhe diz que
o reino dele também será rasgado dele e dado a “um de seus
vizinhos — a alguém que é melhor do que você” (15.28, NIV).
181
!Sam uel 23.26-29; 24.1-22; 25.1-44; 26.1-25
P e r g u n ta s p a r a r e fle x ã o
1. Em que situações de sua vida você conheceu do modo mais
claro possível que Cristo é a sua Rocha?
2. Em que situações você sente-se tentado a tirar a justiça das
mãos de Deus e fazê-la com suas próprias mãos? Consegue
aplicar o exemplo e as palavras de Davi para se ajudar a
deixar Deus ser 0 juiz?
3. Que experiência presente você mais gostaria de pular para
“avançar” até a glória eterna? Como poderia obedecer a
Jesus nessa área?
SEGUNDA PARTE
___________________
A segu n d a provação
O capítulo 25 começa com uma breve descrição da morte de
Samuel (v. 1), ainda que ele apareça mais uma vez na história.
Depois a ação volta a Davi.
Davi e seus homens cuidam dos rebanhos de Nabal, um
homem muito rico que também é “rude e mau” (v. 2,3), além de
descendente de Calcbc. Essa última informação é usada para
estabelecer um contraste: Calebe foi um dos dois espiões que
acreditavam que Israel podia capturar a Terra Prometida, ape-
sar do tamanho do povo que vivia ali, pois Deus estava do lado
dos israelitas. Nabal, seu descendente, era totalmente oposto.
184
!Sam uel 23.26-29; 24.1-22; 25.1-44; 26.1-25
Nabal por sua proteção (v. 21) matando a ele e a todos os seus
homens (v. 22).
Quando Abigail alcança Davi, ela se prostra (v. 23), suplica
que ele ouça (v. 24) e diz: ‘“Meu senhor, não dês atenção àquele
homem mau, Nabal. Ele é insensato, conforme o significado do
seu nome; e a insensatez o acompanha’...” (v. 25). Em outras
palavras: “Ele é meio imbecil” (não é a primeira esposa a dizer
isso sobre seu marido — nesse caso, o marido o merece). Ela
ilustra o fato de que nossa obrigação de honrar a autoridade
não é absoluta, a não ser que essa autoridade seja absoluta (isto
é, o próprio Deus). Ela chama Davi de “meu senhor” (v. 24),
expressão muitas vezes usada para um marido (lPe 3.6). A leal-
dade dela ao cristo suplanta a
Nossa obrigação de Ms® lealdade ao seu marido.
honrar a autoridade 1 Trata-se de um discurso
não é absoluta, a não extraordinário. Ela ressalta o
■
ser que essa autoridade fato de que, até agora, Davi
seja absoluta. resistiu à tentação de se vin-
gar com suas próprias mãos
(ISm 25.26). Oferece a Davi os presentes que o marido dela
deveria ter dado (v. 27). Afirma que Deus dará a Davi uma
dinastia duradoura e que Deus o protegerá enquanto viver dessa
forma (v. 28). E diz que a vida dele “será atada no feixe dos que
vivem com o S enhor ” (v. 29, A21). Deus ata os viventes como
um feixe de gravetos, e Davi está atado fortemente no feixe.
O que ela diz, em outras palavras, é: “Deus o tornará rei; por
isso, não se torne rei com sangue nas mãos” (v. 30,31). Davi até
pode pular essa vida de dores, pondo um fim ao preconceito e à
traição que sofreu. Pode até fazer justiça com as próprias mãos.
E será rei. Mas esse não é o caminho de Deus. Se Davi não
aprender misericórdia, que tipo de rei ele se tornará?
Novamente, a realeza é a questão. Somos informados de
que “Nabal [...] estava dando um banquete em casa, como um
186
!Sam uel 2 3 . 2 6 2 6 . 1 - 2 5 ;25.1-
banquete de rei” (v. 36). Nabal age como um rei, mas é um tolo.
Davi age como um tolo, mas é o rei.
A intervenção de Abigail salva a todos (embora não durante
muito tempo, no caso de Nabal). Salva o seu presente marido
de daño e o seu futuro marido de culpa de sangue. Davi louva
a Deus por ela (v. 32) e a abençoa: “Seja você abençoada pelo
seu bom senso e por evitar que eu hoje derrame sangue e me
vingue com minhas próprias mãos” (v. 33). As coisas teriam
sido diferentes se ela não tivesse interferido (v. 34). Ele aceita
os presentes e assegura paz para ela (v. 35).
A história termina com certa dose de humor negro. Naquela
noite, Nabal fica embriagado, de modo que Abigail espera até
de manhã para poder lhe contar o que ela fez quando ele esti-
ver sóbrio. A palavra “sóbrio” no versículo 37 é literalmente “o
vinho havia saído dele”. A palavra hebraica para odre de vinho
é nebel. Temos aí um trocadilho com 0 nome de Nabal —
Nabal é um nebel, um odre de vinho esvaziado. Presumivel-
mente ele urina durante bastante tempo e, enquanto o vinho
sai dele, devemos imaginá-lo murchando como um balão que
é esvaziado. O livro de 1Samuel começa com o cântico de Ana,
no qual ela falou sobre a reversão da sorte vindo para aque-
les “que tinham muito” (2.5). Nabal estava cheio de vinho e
cheio de si mesmo, mas agora está vazio e rebaixado. Quando
Abigail lhe conta o que fez, ele tem um ataque cardíaco e dez
dias depois morre.
Davi toma Abigail como sua esposa (v. 39-42). Uma esposa
“inteligente e bonita” poderia soar como uma boa ideia. Mas
ela não é sua única esposa (v. 43,44). O autor não faz nenhum
comentário aqui sobre a poligamia de Davi, mas Samuel
havia advertido que reis “tomariam” (8.11-18) — e Davi está
“tomando”— esposas para si mesmo. Quando Davi vê a esposa
de outro homem em 2Samuel 11, seu hábito de tomar esposas
demonstrará ser desastroso para sua casa.
187
!Sam uel 23.26-29; 24.1-22; 25.1-44; 26.1-25
A te r c e ir a p r o v a ç ã o
O capítulo 26 parece uma reexibição do capítulo 24. Os zifeus
traem Davi (26.1, exatamente como em 23.19); mais uma
vez Saul o persegue (26.2-4) — suas lágrimas e palavras em
24.16-21 claramente não significaram nada ou foram efêmeras
— e Davi se vê novamente na posição de matar Saul, sem com-
pletar a ação, enquanto Saul expressa certo grau de remorso.
Dessa vez, Davi encontra Saul e os seus homens dormindo
(26.5). Assim, Davie um de seus homens, Abisai, entram escon-
didos no acampamento de Saul (v. 6,7). Abisai diz: “Deixe-me
cravar uma lança em Saul enquanto ele está dormindo”. Mas
Davi responde: "... ‘Não o mate! Quem pode levantar a mão
contra o ungido do S enhor e permanecer inocente?”’ (v. 8,9).
Davi imagina diversos cenários para o futuro de Saul: uma
morte prematura, uma morte natural ou uma morte em bata-
lha (v. 10). Deus tem muitas opções para alcançar seus propó-
sitos e fazer justiça. Não cabe a Abisai ou a Davi escolher a
opção e buscar forçar a mão de Deus.
Muitas vezes me vejo em oração sugerindo a Deus como
ele poderia, ou até mesmo deveria ou precisaria agir. Mas ele
tem opções que nem cabem na imaginação. E ele sabe qual é a
melhor para realizar seus propósitos (que incluem o meu bem,
como o de seu filho; Rm 8.28). O que importa é a fé de Davi
cm que o Senhor estabelecerá seu reino (ISm 26.11). Mais
uma vez, Davi tem a chance de pular aquele acontecimento
doloroso e ir diretamente até seu reinado. Mas esse não é o
caminho de Deus e, assim, não será o de Davi.
Em vez disso, Davi simplesmente pega a jarra de água e a
lança de Saul, talvez.porque elas representem a capacidade de
Saul de se sustentar c se proteger (v. 12). Ele simbolicamente
desarma Saul.
188
!Sam uel 23.26-29; 24.1-22; 25.1-44; 26.1-25
O C risto e o d e s e r to
A provação de três partes no deserto tem ecos antes e depois
na Bíblia. Adão foi provado. Israel foi provado. De fato, assim
como Davi, Israel foi provado no deserto. Um terço das pala-
vras relacionadas aos termos “bem” e “mal” no Antigo Tes-
tamento aparece em ISamuel 24—26, incluindo afirmações
que as combinam (24.17; 25.15,21). É como se Davi fosse o
novo Adão, novamente diante da árvore do conhecimento do
bem e do mal. O cristo é o representante de Israel, que é o
representante da humanidade, originariamente representada
por Adão. Davi recapitula as histórias de Adão e de Israel.
Ele é provado no deserto, identificando-se desse modo como
aquele que pode representar o povo de Deus. E ele passa
em cada teste. No entanto, tomar Abigail como sua esposa
190
!Sam uel 23.26-29; 24.1-22; 25.1-44; 26.1-25
O C risto s o ír e c o m o n o s
Isso significa que temos um rei que sofreu. Temos um Rei que
é como nós. O autor de Hebreus diz: “Ao levar muitos filhos
à gloria, convinha que Deus, por causa de quem e por meio
de quem tudo existe, tornasse perfeito, mediante o sofrimento,
o autor da salvação deles” (2.10). Isso não significa que Jesus
tinha defeitos e precisou ser purificado e corrigido. Isso sig-
nifica que ele precisava ser capacitado ou qualificado para ser
nosso Salvador. Ele precisava saber como era ser humano,
ser um de nós.
Isso é realmente importante. Jesus não foi diretamente para
sua coroação. Para ser nosso Salvador, ele nem mesmo poderia
ir diretamente de seu batismo para a cruz. Ele precisou expe-
rimentar problemas e dor a fim de que pudesse ter empatia
conosco em nossos problemas e nossa dor.
Nós adoramos a Jesus, e isso é certo. Ele é o nosso Rei e o
nosso Deus. Mas há o risco de acabarmos considerando-o não
humano, ou um super-humano, como se ele tivesse flutuado
ao longo de seus anos na terra, indiferente aos tipos de tensões
e questões que enfrentamos todo dia. Não! Jesus é tão humano
quanto você.
Lembro-me de haver conversado com um amigo que desabafou:
— Só quero alguém que entenda o que estou passando.
Respondí:
— Jesus entende.
Meu amigo rebateu:
— Ele não conta. Foi diferente para ele.
Não é verdade! Não foi diferente para Jesus. Ele era ver-
dadeiramente humano. Passou por problemas reais e sofri-
mento real. Foi desprezado e rejeitado. Não foi compreendido
192
!Sam uel 23.26-29; 2 4 . 1 2 6 . 1 - 2 5 ;25.1-4
não pode ser mais do que aquilo que ele experimentou. Uma
vez que ele de fato atravessou o deserto, está apto a ajudar você
a atravessá-lo.
P e r g u n ta s p a r a r e fle x ã o
1. Você às vezes se vê sugerindo a Deus como ele deve agir em
sua vida? Como Davi teria orado em seu lugar?
2. Esta seção mudou sua forma de enxergar Jesus de algum
modo? Como?
3. Elá áreas em sua vida em que você se sente no “deserto” e
sobre as quais precisa conversar com Jesus agora mesmo?
194
!SAMUEL > CAPITULO 27 VERSÍCULSOS 1-12
E x ila d o
Davi conclui: “... Έ melhor fugir para a terra dos filisteus.
Então Saul desistirá de procurar-me por todo o Israel, e esca-
parei dele’” (lSm 27.1). Assim, ele e seus homens “foram até
Aquis, filho de Maoque, rei de Gate” (v. 2).
Toda a ação nos capítulos 23 a 26 ocorreu no deserto. Agora,
toda a ação que envolve Davi ocorre em território gentio. Davi
está “exilado”. O exílio era a punição suprema pela infidelidade
à aliança. Mas Davi é inocente — o seu exílio é imerecido.
Os filisteus eram descendentes dos egípcios (Gn 10.13,14).
Portanto, talvez em certo sentido Davi esteja voltando ao
Egito (veja 27.8). Ele então será o rei que sai do Egito, um
novo Moisés para libertar seu povo.
Para Davi, 0 exílio não é algo insignificante. No capítulo
anterior, ele disse a Saul: “Agora, que o meu sangue não seja
derramado longe da presença do S enhor ’...” (26.20). Davi
havia experimentado a presença e a orientação de Deus fora
das fronteiras de Israel. Mas ele queria morrer na Terra Pro-
metida. Estava sendo punido pelos pecados de outros. Com
considerável tato, sugeriu onde a culpa verdadeira podia estar:
“... ‘Se o S enhor o instigou contra mim, queira ele aceitar uma
oferta; se, porém, são homens que o fizeram, que sejam amai-
diçoados perante o S enhor !’...” (26.19).
Antes, em 1Samuel 4, o próprio Deus foi para o exílio.
Enquanto os filisteus levavam embora a Arca da Aliança como
despojo, a nora de Eli deu ao filho dela o nome de “Icabode”—
A glóriafoipara 0 exílio (v. 21,22). Deus permitiu que ele mesmo
fosse julgado pela infidelidade da aliança cometida pelo seu
povo. Agora, Deus permite que o rei ungido vá para o exílio
por causa do pecado de outros. Mil anos mais tarde, o Cristo
supremo, o Filho maior de Davi, será exilado de Deus, bra-
dando: “... ‘Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste?”’
196
!Sam uel 27.1-12; 28.1-25
(Mc 15.34). Ele será exilado a fim de que possamos voltar para
casa, para Dcus.
L u ta n d o e m fa v o r d e q u e m ?
Davi vai ao rei filisteu, Aquis (1 Sm 27.2-4), que permite a Davi
e seus homens se estabelecerem na cidade de Ziclague (v. 5-7).
Davi conduz ataques contra os inimigos tradicionais do povo
de Deus (v. 8), mas diz a Aquis que está atacando Israel (v. 10).
O autor acrescenta um comentário sobre as áreas em que Davi
está atacando: “... povos que, desde tempos antigos, habitavam
a terra que se estende de Sur até o Egito” (v. 8). Isso sugere que
Davi talvez seja o novo Josué, continuando a tarefa inacabada
de expulsar os cananeus. Em 2Samuel 7.1,11, descobriremos
que Deus dá descanso a Davi de todos os seus inimigos — um
descanso que Josué não conseguiu alcançar (Hb 4.8).
O povo que Davi ataca também poderia ser considerado
inimigo dos filisteus, de modo que em certo nível Davi está
servindo a Aquis. Mas ele está mentindo sobre suas ações.
Para evitar ser descoberto, Davi mata todos, para que nin-
guém possa contar a Aquis o que realmente está acontecendo
(ISm 27.9,11). Consequentemente, Aquis acredita que Davi se
tornou tão odioso para os israelitas que ele realmente mudou de
lado (v. 12). De fato, Aquis torna Davi sua “guarda pessoal
permanente” — literalmente “a guarda de sua cabeça” (28.2).
E extraordinário que um filisteu conceda essa posição a Davi,
quando se leva em conta o que Davi fez à cabeça de um filisteu
em 17.51!
Somos tentados a julgar a moralidade das ações de pes-
soas na narrativa bíblica. Às vezes, os autores bíblicos deixam
claro se as pessoas agem pela fé ou não. Mas muitas vezes eles
descrevem acontecimentos sem acrescentar comentário algum.
Foi errado Davi escapar e pedir proteção a um rei filisteu? Foi
errado Davi mentir ao seu protetor? O interesse do autor está
197
! Samuel 27.1־12; 28.1 ־25
O e n c o n tr o c o m u m a m é d iu m
Qual é sua opinião sobre médiuns e espiritualistas? E sobre
tabuleiros de ouija e sessões espíritas? Talvez seus instintos lhe
digam que é errado brincar com essas coisas. Mas é errado
porque são falsas ou porque são perigosas? As pessoas estão
198
! Sam uel 27.1 ־12; 28.1 ־25
U m a p a la v r a v in d a d a s e p u ltu r a
Assim, o que acontece em En-Dor? En-Dor é uma das pou-
cas vezes na história em que alguém realmente aparece dos
mortos. A médium enxerga um “ser que sobe do chão” (ou
200
!Sam uel 27.1-12; 28.1-25
P e r g u n ta s p a r a r e fle x ã o
1. O que você está falando ao seu coração hoje? Isso está for-
talecendo ou enfraquecendo sua confiança em Deus?
2. Como você usaria a ideia do exílio para explicar a mensa-
gem do evangelho?
3. Quais são suas reflexões sobre a visão bíblica de médiuns e
do contato com mortos?
SEGUNDA PARTE
D e se sp e r a d o p e la p r e se n ç a d e
a lg u é m q u e p a r tiu
Saul está com medo.“Depois que os filisteus se reuniram,vieram
e acamparam em Suném, enquanto Saul reunia todos os israe-
litas e acampava em Gilboa. Quando Saul viu o acampamento
202
!Sam uel 27.1-12; 28.1-25
vez que ele nunca nos deixa e sempre nos ama, ele sempre está
presente quando nos voltamos para ele com fé.
D e s e s p e r a d o p o r u m a p a la v r a d e
c o n fo r to e e n c o r a j a m e n t o
Por que as pessoas consultam médiuns, frequentam sessões
espíritas ou leem horóscopos? Porque querem uma palavra de
conforto e encorajamento que lhes dê a certeza de que o ente
querido está bem e de que tudo no futuro ficará bem.
É o que acontece com Saul. En-Dor fica do outro lado do
acampamento filisteu. Assim, Saul precisou atravessar e dar a
volta ao território inimigo. Está desesperado por uma palavra
de conforto e encorajamento.
Porém, aqui está o problema: Deus está quieto. “Ele con-
sultou o S enh or , mas este não lhe respondeu nem por sonhos
nem por Urim nem por profetas” (v. 6). O nome Saul significa
“[aquele que foi] pedido” — aqui Saul “saúla” ao Senhor. Mas
ele não recebe o que pede. Deus fica quieto.
Esse é um problema pelo qual Saul é completamente res-
ponsável. O Urim era usado para orientação e guardado no
colete sacerdotal, no peitoral do sumo sacerdote. Mas Saul
matou todos os sacerdotes (22.16-19) — só um escapou, e ele
levou o colete sacerdotal a Davi (22.20; 23.6). É por isso que
Deus não responde a Saul pelo Urim! E Deus não responde
por profetas porque Saul rejeitou a palavra do profeta Samuel,
de modo que Samuel rejeitou Saul (15.35).
Em toda a história, o autor estabelece um contraste entre
Saul e Davi. Davi consultou o Senhor: “ele perguntou ao
S enhor ...” (23.2). Davi literalmente “saulou” ao Senhor. Assim,
ele é o verdadeiro “Saul”, que consulta o Senhor usando o
método que Deus tinha dado ao seu povo — o colete sacerdotal.
Em 22.7,8, Saul se queixou de que ninguém lhe dizia
nada. Em contraste, o próprio Deus diz a Davi o que está
204
! Sam uel 27.1-12; 28.1 ־25
O problema não é que Deus não fala, mas que muitas vezes
não queremos ouvir o que ele tem a dizer. Não queremos admi-
tir que precisamos dele e não queremos submeter-lhe nossa
vontade. Queremos conforto sem exigências. Afastamo-nos
do Deus que nos ama e nos jogamos nas mãos de pessoas
que nos exploram ou, pior ainda, nas mãos de demônios que
nos enganam.
Não são só aqueles que consultam médiuns que fazem isso.
Todos nós agimos assim. Só que, em certo sentido, passamos
da alquimia à química.
A alquimia foi a pseudociência que precedeu a química.
Era obcecada por transformar metais básicos em ouro e deseo-
brir 0 elixir da vida eterna. Está associada à magia e ao oeul-
tismo, quando se tentava prever o futuro e controlar vidas.
Hoje, a alquimia foi substituída pela química e outras ciências.
Obviamente, essas ciências trouxeram muitos benefícios. Mas
a ciência também é usada para substituir Deus, descartando-o
de seus discursos e se colocando em seu lugar como soberana
ou salvadora.
A alquimia e a química não são tão diferentes assim quando
são usadas para manipular vidas ou ignorar Deus. Você talvez
não se sinta tentado a consultar um médium, mas talvez bus-
que prever o futuro e con-
A alquimia e a trolar sua vida por meio da
química não são tecnologia, para substituir a
tão diferentes assim confiança em Deus.
Os cristãos não estão imu-
quando são usadas
nes a ignorar e substituir Deus.
para ignorar Deus.
Talvez não consultemos um
médium, mas muitas vezes queremos alguma mensagem extra.
A Bíblia não é suficiente para nós.
Deus se comunica maravilhosamente conosco por meio do
Espírito, que vivifica a Palavra de Deus para nós. O Espírito,
206
!Sam uel 27.1-12; 28.1-25
P r e s e n ç a r e a l e p a la v r a r e a l
As pessoas se voltam para médiuns porque estão desesperadas
pela presença de um ente querido ou por uma palavra de con-
forto e encorajamento.
Mas estas são as boas notícias: alguém voltou dos mortos
com uma palavra de conforto e encorajamento. E essa pessoa
é Jesus. Jesus não é um espírito que vem a nós por meio de um
médium. Ele é uma pessoa real que ressuscitou dos mortos.
Pôde ser visto, tocado e ouvido. E é ouvido ainda hoje.
Por que isso importa? Em primeiro lugar, porque Jesus é a
presença de Deus. Jesus descreveu a si mesmo como o templo
(Jo 2.19-22), que era o grande símbolo da presença de Deus
entre o seu povo. Mas era somente um símbolo. A realidade é
Jesus. Jesus é “Emanuel”, Deus conosco. Deus viveu entre nós.
Agora Jesus voltou dos mortos. De acordo com o Evangelho
de Mateus, a última frase proferida por Jesus antes de subir ao
céu foi: “...Έ eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos”’
(Mt 28.20). Ele está conosco por meio de seu Espírito.
Não posso levar a você uma mensagem de seu ente que-
rido que partiu. Mas, se você se voltar para Cristo, então Deus
estará com você, sempre,
Ninguém mais nos
deu vida dando sua
própria vida por nós. Iem todo lugar, em todas as
situações — a presença de
um Ente querido. De fato,
Jesus é mais do que um ente
querido. Ele é Aquele que nos ama como ninguém mais. Nin-
guém mais nos deu vida dando sua própria vida por nós.
Cristo está especialmente presente conosco na celebra-
ção da ceia. Quando tomamos a ceia do Senhor, o Espírito
torna o Cristo que ascendeu presente entre nós pela fé. É por
208
! Sam uel 27.1 ־12; 28.1-25
210
! Sam uel 27.1־12; 28.1-25
P e r g u n ta s p a r a r e fle x ã o
1. Por que é tão maravilhoso quanto desafiador saber que
Jesus é a presença de Deus e o conforto e encorajamento
de Deus?
2. Você consegue lembrar-se de momentos em sua vida em
que ignorou Deus e depois se queixou de que Deus estava
ignorando você?
3. Há alguma pessoa (talvez você mesmo) que você precise
desafiar quanto ao “relacionamento” dela com um ente que-
rido que partiu?
211
1SAMUEL■ CAPÍTULO 29 VERSÍCULOS 1-11
O d il e m a d e D a v i
Se Davi permanecer fiel ao rei filisteu, Aquis, estará lutando con-
tra seu próprio povo. Se desertar, estará fazendo isso no meio do
exército filisteu. A resposta dele em 28.2 é ambígua, no mínimo:
“... ‘Então tu saberás o que teu servo é capaz de fazer’...”.
No capítulo 29, a ação volta a Davi. Os filisteus eram um
grupo de cinco cidades-Estado. Quando eles lutavam, as forças
dessas cinco cidades-Estado se uniam para formar um só exér-
cito (29.1). É o que eles fazem quando se reúnem em Afeque.
Mas agora Davi aparece com as forças de Aquis (v. 2). Os outros
!Sam uel 29.1-11; 30.1-31; 31.1-13
O m o tim d e D a v i
Davi e seus homens são mandados embora do campo de bata-
lha pelos filisteus. Mas seus problemas estão só começando.
213
!Sam uel 29.1-11; 30.1-31; 31.1-13
A q u ed a d e Saul
No capítulo 31 de 1Samuel, a ação volta novamente a Saul, tra-
tando do que provará ser sua última aparição no monte Gilboa.
A história da batalha é contada em um só versículo: “E acon-
teceu que, em combate com os filisteus, os israelitas foram
postos em fuga e muitos caíram mortos no monte Gilboa”
(v. 1). Daqui em diante, o foco está em Saul. Os filisteus o per-
seguem, matando três de seus filhos, incluindo Jônatas (v. 2).
O próprio Saul é fatalmente ferido (v. 3).
216
!Sam uel 29.1-11; 30.1-31; 31.1-13
O S e n h o r h u m ilh a e e x a lt a
O livro de ISamuel começa com o cântico de Ana, em que ela
canta:
p a r a r e fle x ã o
1. Olhando para trás na sua vida cristã, você consegue identi-
ficar períodos em que, naquele momento, parecia que Deus
não estava fazendo muita coisa, mas nos quais agora você
consegue perceber que ele estava fazendo grandes coisas?
2. Em momentos de crise, você olha para sua própria força
ou para a do Senhor? Como pode olhar ativamente para
o Senhor?
3. Você seguirá o reino de Cristo? Que evidências sua vida
mostra de sua decisão?
SEGUNDA PARTE
D a v i e a h u m a n id a d e
Quando Deus faz sua aliança com Davi em 2Samuel 7, Davi
responde: “E, como se isso não bastasse para ti, ó Soberano
S e n h o r , também falaste sobre o futuro da família deste teu
servo. E esse decreto, ó Soberano S en h o r , é para um mero ser
humano!” (v. 19, NIV). O final dessa expressão também pode
ser traduzido por: “Esse decreto, ó Soberano S en h o r , é para a
raça humana” (NIV 2011, nota de rodapé), ou : “Isso é instru-
ção para a humanidade, ó S enhor Deus!” (ESV).
O original é literalmente torah ha adam: torá, ou lei ou
aliança, para Adão ou para a humanidade. A palavra adam é o
nome do primeiro homem, mas também é um termo para se
referir à humanidade, pois Adão era seu representante. Deus
223
!Sam uel 29.1-11; 30.1-31; 31.1-13
D a v i e o s c r is t ã o s
No Novo Testamento, Jesus é visto repetidamente como o
novo Davi, o sucessor em quem a aliança davídica é cumprida.
Mas, por meio dessa representação, a aliança davídica também
é aplicada aos cristãos — aqueles que estão em Cristo.
Vemos isso, por exemplo, em 2Coríntios 6.1d— 7.1. Paulo
adverte os cristãos: “Não se ponham em jugo desigual com des-
crentes...” (v. 14). “Que acordo há entre o templo de Deus e os
ídolos?...”, pergunta."... Pois somos santuário do Deus vivo...”
(v. 16). E então reforça nossa condição diferente com uma série
de citações do Antigo Testamento. A última citação dele vem
da aliança com Davi em 2Samuel 7.14: “... Como disse Deus:
[...] ‘lhes serei Pai, e vocês serão meus filhos e minhas filhas’,
diz o Senhor todo-poderoso. Amados, visto que temos essas
promessas, purifiquemo-nos de tudo o que contamina o corpo
e o espírito, aperfeiçoando a santidade no temor de Deus”
(2Co 6.16,18—7.1).
O que é notável é como Paulo complementa a citação ori-
ginal. Ele transforma a referência a um filho (singular) em uma
referência a filhos (plural) e acrescenta uma referência a filhas.
226
!Sam uel 29.1-11; 30.1-3!; 31.1-13
P e r g u n ta s p a r a r e fle x ã o
1. Como você resumiría a mensagem de 1Samuel em uma
só frase?
2. Como ISamuel mostra quem é Jesus e nos leva a apreciá-lo
e louvá-lo mais?
3. Como você seguirá o exemplo de Davi em sua própria vida?
228
GLOSSÁRIO
acomodação. Concessão.
aliança. Acordo com obrigações entre duas partes,
ambíguo. Indefinido, incerto.
anais. Registros. Nesse caso, isso incluiría os livros de 1 e 2Reis e
1 e 2Crônicas.
Ancião de Dias. Nome de Deus que se refere a sua natureza eterna,
antiteístas. Pessoas ativamente opostas à convicção de que Deus
existe.
apologética. Argumentação racional.
Arão. Irmão de Moisés; o primeiro sacerdote a servir no Taber-
náculo. Os sacerdotes de Israel eram escolhidos dos deseen-
dentes dele (veja Ex 28 e 29).
arca de Deus. Também chamada de Arca da Aliança. Um baú
que continha as tábuas inscritas com os Dez Mandamen-
tos (Êx 25). Era um símbolo da presença de Deus com os
israelitas.
arcano. Secreto, enigmático, de interesse para poucas pessoas ou
entendido por poucas pessoas,
arco narrativo. A trama geral de uma história,
assertivo. Que demonstra segurança em suas palavras,
auspicioso. Que demonstra um sinal de futuro êxito,
autorrenúncia. Autoncgação.
baalins e astarotes. Falsos deuses pagãos que eram adorados
pelos cananeus que viviam em volta de Israel,
blasfêmia. Desrespeito ou zombaria em relação a Deus.
cânon. A coletânea de textos aceitos como a Palavra de Deus.
casa do Senhor. O Tabernáculo.
colete sacerdotal/éfode. Túnica especial usada por sacerdotes
enquanto ministravam no templo (veja Ex 28).
consagrado. Separado como santo.
GLOSSÁRIO
233
APENDICE 1 S am u el e S alm os
A aliança de Deus
Salmo 78 2Samuel 7
com Davi
A aliança de Deus
Salmo 89 2Samuel 7
com Davi
A aliança de Deus
Salmo 132 2Samuel 7
com Davi
Davi foge de Saul
Salmo 142 1Samuel 22
para a cavern a
Davi foge quando
1Samuel 19 Saul envia homens à Salmo 59
sua casa
1Samuel 21 Davi finge estar louco Salmo 34
Davi é barrado em
!Samuel 21 Salmo 56
Gate pelos filisteus
Davi é traído por
1Samuel 22 Salmo 52
Doegue
Davi foge de Saul
1Samuel 22 Salmo 57
para a caverna
Davi foge de Saul
!Samuel 22 Salmo 142
para a caverna
Davi é traído pelos
1Samuel 23 Salmo 54
zifeus
!Samuel 23 Davi vai para o
Salmo 63
e 24 deserto de Judá
1Samuel Davi recebe um
Salmo 18
23—27 livramento de Saul
1Samuel 11 Davi é confrontado
Salmo 51
e 12 sobre seu adultério
235
APÊNDICE 1
2Samuel 15
Davi foge de Absalão Salmo 3
e ló
A aliança de Deus
2Samuel 7 Salmo 78
com Davi
A aliança de Deus
2Samuel 7 Salmo 89
com Davi
A aliança de Deus
2Samuel 7 Salmo 132
com Davi
2Samuel Davi luta contra os
Salmo 60
8— 10 arameus e edomitas
236
APÉNDICE 2 Isra e l n a é p o c a d e !S a m u el
!0 20 30
1_J____ pj____!______ I
20 30 40 km
M AR DA
GÁULEIA
En-dor·
Monte Gilboa a
Bete-Seã י
M AR
M E D IT E R R Â N E O Bezeque #
Jabes-Gileade
Afeque ,
• Ebenézer
Mispá
יRamataim ·Silo AMOM
·<
·Gilgal
Betel <
Ecrom* יMicmás
Quiriate-Jearim « »Rama
Bete-Semes · Jebus • Gibeé
Asdode . (Jerusalém) «
·N obe
Vale de Elá ·
A d u lã o · Belém
Gate · MAR MORTO
Queila ·
Floresta de Herete י En-Gedi MOABE
Maom
.1ν ’ Horesa (em Zife) · A Co׳ma de naquilá
Carmelo
Ziclague ·
BIBLIOGRAFIA