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Marta Leal

1. O que é o conhecimento?
O conhecimento é a relação entre um sujeito- aquele que conhece - e um objeto -aquilo
que é conhecido.

2. Que tipos de conhecimento existe?


O conhecimento por contacto que exige que o sujeito esteja em contacto direto, através
dos seus sentidos, com o objeto conhecido;

O conhecimento prático (ou saber-fazer) que exige que o sujeito saiba executar uma dada
atividade.

O conhecimento proposicional, quando aquilo que sabemos consiste numa proposição


verdadeira acerca da realidade.

3. Qual a definição do conhecimento?


Segundo a definição tripartida do conhecimento, o conhecimento é uma crença verdadeira
e justificada, pois não basta que se acredite numa crença verdadeira por acaso.

4. Quais as possíveis fontes de conhecimento?

As fontes de conhecimento são a justificação do conhecimento.


Dessa forma existem duas fontes:
• Pensamento ou razão - juízos à priori – juízos cuja verdade pode ser conhecida
independentemente da experiência, tendo, portanto, origem no pensamento ou
razão;
São universais (são verdadeiros sempre e em toda a parte) e necessários
(negá-los implicaria entrar em contradição).

• Sentidos (experiência sensível) – juízos a posteriori – juízos cuja verdade pode ser
conhecida através da experiência sensível;
Não são estritamente universais (não são verdadeiros sempre e em toda a
parte) e são contingentes (são verdadeiros, mas poderia ser falsos, nega-los
não implicaria entrar em contradição)

5. Quais os possíveis modos de conhecimento?

Conhecimento a priori – baseia-se em juízos a priori, tendo a sua fonte ou origem no


pensamento ou razão. É justificado pela razão sem nos basearmos em quaisquer dados
empíricos.

Conhecimento a posteriori – baseia-se em juízos a posteriori, tendo a sua fonte ou


origem na experiência. É um conhecimento empírico, justificado pela experiência.

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6. O que são juízos analíticos? E sintéticos?

• Juízos analíticos - não contribuem para aumentar o nosso conhecimento.


• Juízos sintéticos - são extensivos, isto é, ampliam o nosso conhecimento.

7. Formula o problema da possibilidade do conhecimento.

• Será o conhecimento possível?


• Será que o sujeito apreende efetivamente o objeto?

8. Respostas ao problema da possibilidade do conhecimento.

➢ O ceticismo
➢ O Fundacionalismo cartesiano de caráter racional
➢ O Fundacionalismo de David Hume de caráter empirista

9. Formula o problema da origem do conhecimento

• Será que o nosso conhecimento provém fundamentalmente da experiência (é a


posteriori) ou será que provém da razão (a priori)?
• De qual das duas fontes de conhecimento – experiência ou pensamento – tira a
nossa consciência os seus conteúdos?

10. Resposta ao problema da origem do conhecimento.

➢ R. Descartes, a resposta racionalista;


➢ David Hume, a resposta empirista.

11. O que é o ceticismo?

É uma corrente filosófica que afirma que o conhecimento não é possível, ou seja não é
possível ao sujeito apreender, de um modo efetivo ou rigoroso, o objeto.

12. Quais são os vários tipos de ceticismo

Podemos distinguir o ceticismo em radical ou moderado

• O ceticismo radical em que é colocada em a causa a possibilidade de toda e


qualquer espécie de conhecimento.
• O ceticismo moderado é aplicado a apenas a certos tipos ou domínios de
conhecimento.

E podemos distinguir o ceticismo em negativo ou positivo (não tão importante)


• Ceticismo negativo quando o cético se limita a refutar toda e qualquer tentativa de
demonstrar que sabemos alguma coisa;

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• Ceticismo positivo quando o cético considera que temos boas razões para acreditar
que o conhecimento não é possível, defendo esta ideia com argumentos.

Nota: é importante sermos um pouco céticos, dessa forma não iremos acreditar em tudo o que
que ouvimos e também porque dessa forma procuramos sempre arrecadar o máximo de
conhecimento possível.

13. Em que se baseiam os céticos para afirmarem que o conhecimento não é


possível?

Os céticos baseiam-se no Argumento Cético da Regressão Infinita para demonstrar que


o conhecimento não é possível, este argumento afirma que:

• As nossas crenças justificam-se com base noutras crenças.

• Se as nossas crenças se justificam com base noutras crenças, então caímos numa
cadeia de justificações.

• Se caímos numa cadeia de justificações, então ou paramos arbitrariamente numa


crença injustificada, ou voltamos a um ponto anterior da cadeia, de um modo
viciosamente circular, ou regredimos infinitamente.

• Assim nenhuma das nossas crenças está devidamente justificada.

• Se as nossas crenças não estão justificadas, então não temos conhecimento.

14. Quais são as objeções ao ceticismo?

• O ceticismo é autorrefutante – ao afirmar que o conhecimento é impossível os céticos


afirmam a possibilidade de um conhecimento.

• Crítica de Bertrand Russel – o ceticismo é insustentável num ponto de vista racional e


teórico. É impossível duvidar em simultâneo de todas as crenças sem pegar noutra
crença qualquer para justificar a suspensão global do conhecimento.

• Crítica de David Hume – o ceticismo é insustentável no ponto de vista pratico. Se


puséssemos permanentemente em causa as ideias que no nosso dia-a-dia assumimos
como garantidamente verdadeiras, acabaríamos por tornar impossível a própria ação
humana.

15. O que é o fundacionalismo?

Os fundacionalistas rejeitam a primeira premissa do argumento da regressão infinita.


Para estes autores, nem todas as nossas crenças se justificam com base noutras

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crenças, pois existem crenças que são de tal modo evidentes que podemos considerar
que se justificam a si mesmas.
Assim rejeitam o ceticismo através da distinção entre duas crenças: as básicas e as
não-básicas:

• As crenças básicas, são de tal modo evidentes que não precisam de ser justificadas
por outras crenças, justificam-se a si mesmas, são evidentes.

• As crenças não-básicas não são autoevidentes, são inferidas a partir de outras


crenças, com base nas quais se justificam.

Visto que as crenças básicas não carecem de justificação, elas podem justificar as
crenças não básicas sem que seja necessário apresentar razões adicionais que, por sua
vez, as justifiquem. Deste modo embora as crenças não básicas se justifiquem em com
base noutras crenças, dando origem a uma cadeia de justificações, essa cadeia não
está, a partida condenada ao fracasso, pois pode desaguar numa crença básica (ou
fundacional), que, sendo autoevidente põe um ponto final na regressão da
justificação.

16. O que é o Racionalismo?

É uma corrente filosófica que privilegia o conhecimento a priori, isto é o papel da razão
na construção do conhecimento. A razão é a fonte principal do conhecimento -
conhecimento universal e necessário.
O modelo do conhecimento é nos dado pela matemática, para Descartes, a origem do
conhecimento não residir nos nossos sentidos já que os sentidos não são fonte
credível de conhecimento seguro.
Todo o conhecimento infalivelmente justificado, encontra o seu fundamento no
pensamento ou razão. O racionalismo tem uma posição otimista relativamente à
possibilidade do conhecimento. Recorrendo à dúvida metódica acabamos por
descobrir o cogito e depois por provar que Deus existe. A existência de Deus garante
que pelo bom das nossas faculdades será possível conhecer toda a realidade. As ideias
fundamentais são inatas, descobrem-se por intuição intelectual e o conhecimento
constrói-se de forma dedutiva.

17. O que é o Empirismo?

É uma corrente filosófica que privilegia o conhecimento a posteriori, ou seja, o papel


da experiência na construção do conhecimento. Para Divid Hume todas as ideias têm
origem nos dados da experiência sensível. A experiência é fonte principal do
conhecimento. Não existem ideias inatas. Isto é as nossas ideias derivam das nossas
impressões e por isso não nascem com as pessoas.
David Hume tem uma posição moderadamente cética relativamente à possibilidade do
conhecimento, nomeadamente em suposições que não conseguiu justificar:
• a suposição de que a natureza é uniforme;
• a suposição de que o mundo exterior é real.

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1. Qual o projeto de Descartes?

Construir um sistema de verdades indubitáveis em que de uma verdade que seja


impossível considerar falsa possamos deduzir outras verdades que sejam certezas
absolutas.

2. Qual o objetivo de Descartes?

Em suma, o objetivo de Descartes era estabelecer um conhecimento seguro e


indubitável, ou seja, encontrar pelo menos uma crença básica que pudesse servir de
fundamento para o conhecimento.

3. Quais as razões de ser do projeto?

• O sistema dos ditos conhecimentos do seu tempo era constituído por verdades e
falsidades.

• Temos de separar o verdadeiro do falso e justificar que o que acreditamos ser


verdadeiro é absolutamente verdadeiro.

• O sistema dos ditos conhecimentos do seu tempo não tinha bases firmes e estava
desorganizado, a tal ponto que havia falsidades na base do sistema e verdades
noutros pontos desse sistema.

• Temos de encontrar uma verdade indubitável que sirva como base ao sistema dos
conhecimentos e permita organizá-lo firme e seguramente.

4. Função da dúvida metódica

Vamos submeter ao exame rigoroso da dúvida as bases em que assentava o sistema


dos conhecimentos estabelecidos.

• Consideraremos falso o que não for absolutamente verdadeiro ou indubitável.

• Consideraremos enganadora qualquer faculdade que alguma vez nos tenha


enganado ou de cujo funcionamento correto possamos por muito pouco que
seja suspeitar.

A dúvida será por isso aplicada de forma hiperbólica.

As bases do sistema dos ditos conhecimentos que vamos examinar implacavelmente


são:
• a crença nos órgãos dos sentidos como fonte de conhecimento;

• a crença na existência da realidade;

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• a crença na razão como fonte de conhecimento seguro;

O que passar neste exame rigoroso será indubitavelmente verdadeiro.

5. Quais as características da dúvida metódica?

• Metódica e provisória – É um meio para atingir a certeza e a verdade, não


constituindo um fim em si mesma.

• Hiperbólica – Rejeita como se fosse falso tudo aquilo em que se note o mínimo
suspeita de incerteza.

• Universal e radical – Incide não só sobre o conhecimento geral, como também sobre
os seus fundamentos e as suas raízes.

6. Quais os níveis de aplicação da dúvida?

• As ilusões dos sentidos – é o 1º nível de aplicação da dúvida que afirma que os


sentidos não são fonte segura de conhecimento. Pois estes enganam-nos algumas
vezes, aplicando o princípio hiperbólico da dúvida segundo a qual rejeitamos tudo o
que seja minimamente duvidoso, Descartes conclui que não temos justificação para
acreditar em nada que tenha origem nos sentidos.

• A indistinção (ou confusão) vigília e sono – é o 2º nível de aplicação da dúvida que


afirma que há razões para acreditar que o mundo físico (incluindo a existência do
próprio corpo) é uma ilusão.

Descartes considera que devemos duvidar da experiência sensível, pois, por vezes,
acreditamos que estamos a ter uma determinada experiencia, quando na realidade
estamos apenas a sonhar.
Assim Descartes não encontra um critério que nitidamente distinga a realidade do
sono.

• Erros de raciocínio - é o 3º nível de aplicação da dúvida que afirma que há razões para
acreditar que o nosso entendimento confunde o verdadeiro com o falso. Pois existem
tópicos mais complexos acerca dos quais podemos sempre cometer erros de
raciocínio.
Assim Descartes aplicando mais uma vez o princípio hiperbólico da dúvida, decide
rejeitar mesmo as crenças que têm origem nos raciocínios mais elementares.

A hipótese do Deus enganador (depois mudada para génio maligno pois Deus é
sumamente bom e dizer que é enganador seria entrar numa com tradução) vem
mostrar mais uma vez que as verdades obtidas pela razão não estão imunes à dúvida,

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pois pode existir um ser superior que por maldade coloque nas nossas mentes as
ideias que bem entendesse, incluindo ideias erradas.

7. O que resiste à dúvida?


O cogito.
Há pelo menos uma verdade, «penso, logo, existo», que resiste a todas as dúvidas,
mesmo as mais radicais. Essa verdade é justificada pela própria dúvida. Quando
duvidamos, estamos a pensar e, se pensamos, somos necessariamente alguma coisa.
Assim sabemos com toda a certeza que existimos como ser pensante.

8. Operações da razão

• Intuição – ato de apreensão direta e imediata de noções simples evidentes e


indubitáveis.

• Dedução- Encadeamento de intuições, envolvendo um movimento do pensamento,


desde os princípios evidentes até às consequências necessárias.

9. Quais as características dos cogito?

• É um princípio evidente e indubitável, uma certeza inabalável;

• Obtêm-se por intuição de modo inteiramente racional e a priori;

• Serve de modelo de conhecimento: fornece critério de verdade (clareza e


distinção);

• É uma crença básica ou fundacional relativamente a todo o sistema do saber;

• Representa o triunfo do conhecimento sobre o ceticismo;

• Revela a natureza do sujeito como substância pensante distinta do corpo.

10. Critério de verdade para Descartes

O que trona o cogito uma crença tão evidente não é mais do que o seu elevado grau
de clareza e distinção, por isso estas duas características serão adotadas como critério
de verdade.

• Clareza - presença da ideia ao espírito

• Distinção - separação de uma ideia relativamente a outras: não lhe estão associados
elementos que não lhe pertençam.

11. Teoria das ideias (tipos de ideias)

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• Adventícias- tem origem na experiência sensível


• Factícias- São fabricadas pela imaginação.
• Inatas - são ideias constitutivas da própria razão. (já vinham quando nascemos)

12. Quais as verdades indubitáveis que deduzimos da primeira (cogito)

12.1. A alma é distinta do corpo.


Todas as coisas sensíveis – incluindo o meu corpo – podem não passar de realidades que
só existem em sonho. Mas existo, e disso não posso duvidar. Se não preciso do corpo para
existir, então a alma – o que eu sou – é distinta do corpo e mais fácil de conhecer do que
este.

12.2. Existência de Deus / Argumento da marca

Se duvido e nada conheço a não ser que existo e sou um ser pensante, então sou
imperfeito. Mas se sou um ser imperfeito como é que posso ter a ideia de perfeito?
Sabemos que pela lei da causalidade a causa deve ter pelo menos tanta realidade
quanto os seus efeitos. Ou seja, um ser imperfeito não poderia causar a ideia de
perfeição.
Assim esta ideia deve ter origem em algo pelo menos tão perfeito quanto ela, ou seja,
Deus.
Nota: é chamado de argumento da marca pois Deus ao criar-nos introduziu-nos na
mente a ideia de perfeição, como uma espécie de marca, assinatura.

13. Argumento Ontológico

O argumento ontológico é uma tentativa de mostrar que a existência de Deus se


segue necessariamente da definição de Deus como o ser supremo. Porque esta
conclusão pode ser retirada sem recorrer à experiência, diz-se que é um argumento a
priori.
De acordo com o argumento ontológico, Deus define-se como o ser mais perfeito que
é possível imaginar;
A existência seria um dos aspetos desta perfeição ou grandiosidade. Um ser perfeito
não seria perfeito se não existisse. Consequentemente, da definição de Deus seguir-se-
ia que Deus existe necessariamente.
Este argumento, que tem sido usado por muitos filósofos, incluindo René Descartes
(1596-1650), na quinta das suas meditações, não convenceu muita gente; mas não é
fácil de ver exatamente o que há de errado nele.”

14. A importância da existência de Deus como ser perfeito (mostrar que as nossas
crenças são verdadeiras pois Deus não nos enganaria)

• Sabemos que Deus é perfeito por isso criou-nos com livre-arbítrio, assim como
temos a capacidade de fazer escolhas, elas podem ser boas ou más. Assim Descartes

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conclui que os erros não vêm de Deus, mas sim de nós. Assim só devemos acreditar
no que concebemos clara e distintamente.

• Uma vez provado que Deus existe, e não é enganador (pois essa seria uma
imperfeição), a hipótese do Génio Maligno pode ser afastada.

Sabemos que é verdadeiro tudo aquilo que concebemos, clara e distintamente.


Deus é a “verdadeira raíz da árvore do saber”, porque só a sua veracidade, garante a
verdade dos conhecimentos do sujeito pensante.

• Supera-se, em parte, o solipsismo.


Com efeito, Deus é um ser cuja existência não depende do sujeito pensante.

• Deus é o fundamento metafísico das crenças verdadeiras. Garante-as


absolutamente porque garante que as evidências atuais são realmente indubitáveis
e também que o serão sempre. O conhecimento torna-se assim um conjunto de
verdades objetivas, independentes do sujeito pensante.

15. Explica a fase construtiva do fundacionalismo cartesiano

Depois de descobrir a existência de Deus, Descartes pode deduzir muitas verdades,


desde que as conceba clara e distintamente, assim voltamos a ter confiança naquilo
que obtemos através da razão (como falei anteriormente).

Para além disso Descartes volta a acreditar nos sentidos (não de forma completa,
sabemos que para Descartes a razão é mais credível que a experiencia)

Como vimos quando os sentidos nos enganam é porque nos precipitamos a dar o
nosso assentimento há coisas que não concebemos claro distintamente, mas sim de
modo confuso.
Contudo mesmo que os nossos sentidos estejam sujeitos ao erro, Deus concedeu-nos
a possibilidade de os corrigirmos através de um uso reto das nossas faculdades
racionais. (ou seja, mesmo acreditando novamente nos sentidos a confiança não é
completa)

Descartes volta também a acreditar na existência do mundo físico

16. Objeções ao argumento da marca

O Argumento da Marca enfrenta vários problemas.

• Em primeiro lugar, o argumento pressupõe, na primeira premissa, que temos a ideia


de Deus, ou Ser Perfeito, mas esta ideia está longe de ser consensual alguns
afirmam que a perfeição de Deus desafia a nossa compreensão, pois somos seres
finitos e limitados, pelo que nem sequer podemos considerar que temos a ideia de
Deus.

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• Em segundo lugar, Descartes pressupõe que duvidar é menos perfeito do que saber,
podemos considerar que duvidar é mais perfeito do que possuir a totalidade do
conhecimento?

• Em terceiro lugar, o princípio no qual se baseia o argumento – tem de haver pelo


menos tanta realidade na causa de algo como no efeito – é contestável. Nesta
ordem de ideias, a vida só poderia ser causada por coisas vivas. Ora, os cientistas
afirmam hoje em dia que a vida evoluiu a partir de matéria inanimada. E não se vê
como pode a existência de Deus ser uma evidência tão clara e distinta como a do
sujeito pensante.

17. O círculo cartesiano

O Círculo Cartesiano é, talvez, a mais poderosa objeção que o fundacionalismo


cartesiano enfrenta. Esta objeção consiste na acusação de que enfrenta Descartes
incorre numa petição de princípio.

Da seguinte forma: Deus existe porque concebemos clara e distintamente a sua


existência, e tudo aquilo que concebemos clara e distintamente é verdadeiro. Tudo
aquilo que concebemos clara e distintamente é verdadeiro, porque Deus existe.

Gera-se, assim, uma circularidade viciosa ou uma petição de princípio.

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1. Qual o projeto de David Hume?

Investigar as capacidades e os limites do entendimento humano no que respeita ao


conhecimento do mundo de modo a evitar especulações inúteis e a determinar se e o
que podemos saber.

2. Qual a sua estratégia?


Analisar os conteúdos da mente.
3. Quais os elementos do conhecimento para David Hume (perceções /
conteúdos da mente)?

Hume escolheu o termo “perceções” para designar o conteúdo das nossas mentes.
Segundo Hume, as nossas perceções podem ser de dois tipos: impressões e ideias

• Impressões (maior grau de vivacidade) – são as perceções vividas e fortes,


obtidas pela experiência, como as sensações, as emoções, a paixão.

• Ideias (pensamentos) (menos graus de vivacidade) - são representações das


impressões, ou as suas imagens enfraquecidas, que surgem quando
recorremos à memória.

4. Explica o princípio da cópia

Segundo o Princípio da Cópia, as ideias são cópias das impressões. As cópias são
menos intensas e vívidas do que as impressões que estão na sua origem.
As ideias são cópias de impressões e são por isso causadas por estas. Têm uma origem
empírica. As nossas ideias formam-se todas a partir da experiência.

Se as ideias não fossem cópias das impressões, quem não possuísse a capacidade de
ter a experiência da cor formaria a ideia de cores, o que é absurdo. Uma pessoa cega
de nascença não poderá ter a ideia de branco porque nunca terá a impressão de
branco.

5. Será que Hume tem razão? Não haverá ideias que não correspondem a
nenhuma impressão? Afinal de contas, se esse fosse o caso, como
poderíamos ter as ideias de centauro, sereia, quimera, etc?

A explicação que Hume apresenta para esta aparente inconsistência da sua teoria
baseia-se na distinção entre ideias simples e complexas.
Segundo Hume:

• As ideias simples correspondem impressões simples (que fornecem apenas


uma impressão, como um determinado ruído, cheiro, paladar, etc.)

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• As ideias complexas por sua vez correspondem a combinações de duas ou


mais impressões simples, ou seja, corresponde a impressões complexas
(fornecem várias impressões em simultâneo, como a observação de uma
mochila, a cor, a dimensão, a composição, etc.)

6. Em que consiste a Bifurcação de Hume?

Hume reduz todo o conhecimento humano a dois tipos: relações de ideias e questões
de facto.
Como considera que existem apenas dois caminhos a seguir, esta divisão ficou
conhecida como A Bifurcação de Hume.

Assim, podemos apresentar a distinção entre relações de ideias e questões de facto:

• Relações de ideias: é o tipo de conhecimento que pode ser obtido apenas


mediante a análise do significado dos conceitos envolvidos numa proposição.
Este conhecimento é característico de áreas como a matemática, a geometria
e a lógica.

• Questões de facto: é o tipo de conhecimento que só pode ser obtido através


de impressões, ou seja, através da experiência, e que nos fornece informação
verdadeira acerca do mundo.
Este tipo de conhecimento expressa verdades contingentes - isto é,
proposições que são verdadeiras, mas que poderiam não o ser - e é
característico de ciências da natureza como a Física.

Importante: Hume sustenta que apenas o conhecimento sobre questões de facto nos
pode fornecer informações sobre o mundo, pois as relações de ideias, embora
expressem verdades necessárias, referem-se apenas às relações entre o significado das
ideias envolvidas, mas nada dizem acerca do que existe.
Assim, todo o nosso conhecimento do mundo baseia-se necessariamente em
impressões

7. Princípios de associação de ideias

Na opinião de Hume existem três tipos de associações de ideias, a saber:

• A semelhança – quando duas ideias são semelhantes, a consideração de uma


delas conduz-nos à consideração da outra.

• A contiguidade – quando duas ideias são contíguas no espaço ou no tempo a


consideração de uma delas evoca a consideração da outra. (ex. se é costume
jantar depois do por do sol, é natural que pense em comida enquanto vejo o
sol a pôr-se.

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• A causalidade – quando representamos duas ideias como correspondendo a


uma relação causa-efeito, é natural que a consideração da causa nos leve à
consideração do efeito.

8. Em que consiste o problema da causalidade?

Ao raciocinarmos sobre questões de facto estabelecemos relações de causalidade. A


ideia de causalidade como conexão necessária é a base dos nossos conhecimentos
sobre o mundo.
Acontece que esta ideia não pode ser justificada à priori (não pode ser inferida apenas
com base na razão, independentemente da experiência), nem tão pouco a posteriori
(pois isso implicaria que tivéssemos a impressão correspondente o que não acontece).

A causalidade resulta de uma experiência psicológica, do hábito e do costume de


observarmos repetidamente que dois fenómenos ocorrem conjunta e sucessivamente.

9. Explica o problema da uniformidade da natureza - PUN (ou problema da


indução)

Os raciocínios indutivos, generalizações, previsões, são sempre extrapolações do


conhecido para o desconhecido. Estarão elas justificadas? As nossas inferências
indutivas baseiam-se no princípio da uniformidade da Natureza PUN), isto é, na
seguinte ideia de que a Natureza se comporta de modo regula, sem surpresas («A
causa B» significa que A produz B ou que B é e será sempre seguido de A. Até agora
tem sido assim e assim continuará a ser).

Acontece que o PUN foi ele próprio construído com base nas inferências indutivas.
Porque até hoje a Natureza se comportou de forma regular, admitimos que assim será
sempre. Estamos, pois, perante uma petição de princípios:

• Acreditamos nas nossas inferências indutivas porque a natureza é regular, e


acreditamos que a natureza é regular porque a indução assim o mostra.

O que se obtém por indução não pode ser tomado como absolutamente certo, mesmo
que partamos de premissas verdadeiras.
Isto não significa que vamos abandonar a crença na causalidade, na indução e na
regularidade da Natureza, significa apenas que devemos admitir que estas crenças não
estão racional ou empiricamente justificadas. David Hume é por estas razões um cético
moderado.

10. Explica o problema do mundo exterior

• É um erro confundir os objetos exteriores e o mundo exterior à nossa mente


com as nossas perceções dos mesmos.

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• Aquilo que está presente na nossa mente não são os objetos reais, mas sim
uma imagem ou representações mentais dos mesmos, então não estamos em
contacto direto com o mundo exterior.

• Uma vez que se trata de uma questão que diz respeito à existência, uma
investigação desta natureza deve ser resolvida com recurso à experiência.

• Mas a nossa experiência não pode alguma vez estender-se para além das
nossas impressões, e estas conforme acabámos de constatar, não devem ser
confundidas com os objetos exteriores me si mesmos.

• Assim uma vez que nunca poderemos sair do interior das nossas mentes nunca
seremos capazes de verificar se de facto, existe uma correspondência entre as
nossas perceções e os objetos exteriores, nem tampouco poderemos alguma
vez ter justificação para acreditar na existência dos mesmos.

11. David Hume é considerado um cético moderado, porquê?

Hume evidencia o seu ceticismo ao sublinhar os limites da inteligência humana,


mostrando que a parte mais considerável do nosso saber assenta apenas no costume
ou hábito e em inferências que não conseguimos justificar. Mas apesar da conclusão a
que chegamos relativamente ao problema da causalidade e indução, Hume defende
que não devemos abandonar a nossa crença na regularidade da natureza, pois não
conseguiríamos pensar ou agir na sua ausência. Devemos, contudo, evitar dogmatismo
e especulação.

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