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FILOSOFIA – 10º ANO

LÓGICA INFORMAL

Escola Secundária Afonso Lopes Vieira – 2020/2021


Professor Paulo Ramalho
LÓGICA INFORMAL E FALÁCIAS INF0RMAIS
• A lógica informal é aquela que não reduz a análise dos argumentos à sua forma lógica mas
procura avaliar os argumentos a nível do seu conteúdo e da relevância das premissas que são
utilizadas para alcançar determinada conclusão. Os alvos preferenciais deste tipo de lógica são os
argumentos indutivos e é neste contexto que iremos estudar os diferentes tipos de argumentos
indutivos que existem, assim como, algumas das falácias informais conhecidas.”.

• Uma falácia informal é um erro de raciocínio que decorre do conteúdo dos argumentos e da
relevância das premissas que são utilizadas. As falácias informais são muito comuns no nosso
quotidiano e ocorrem nas mais variadas situações e para a sua deteção é fundamental a
sensibilidade crítica do lógico.

As falácias informais estão, geralmente, associadas aos argumentos indutivos. Aristóteles identificou
30 tipos de falácias informais. No entanto, recentemente foi apresentada uma lista de mais de 100
falácias informais o que é um número bastante relevante se tivermos em conta o tipo de situações
em que as mesmas ocorrem.

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LÓGICA INFORMAL
Tipos de argumentos indutivos
• Existem diferentes tipos de argumentos indutivos. Todos eles partilham das mesmas características dos
argumentos indutivos, a saber:
 a informação que está contida na conclusão não está contida nas premissas pelo que os
mesmos aumentam o nosso conhecimento acerca do mundo e/ou permitem-nos criar expectativas
acerca do futuro
 as premissas apenas garantem a probabilidade da conclusão, i.e. não podemos estar certos
da mesma.
 são avaliados como fortes ou fracos. Se a conclusão é muito provável então dizemos que o
argumento indutivo em causa é forte. Se a conclusão é pouco provável então dizemos que o
argumento indutivo em causa é fraco.
 basta um caso que contradiga a conclusão para que um qualquer argumento indutivo tenha
de ser abandonado.
Os diferentes argumentos indutivos que existem são: as generalizações, as previsões, os argumentos
por analogia e os argumentos de apelo à autoridade. Para que tenhamos argumentos fortes e não
falaciosos em cada um destes tipos de argumentos os mesmos deverão obedecer a algumas regras.

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LÓGICA INFORMAL
Critérios gerais de avaliação dos argumentos indutivos.

• Os critérios de avaliação dos argumentos indutivos variam em função do tipo de argumento que
estamos a avaliar. No entanto, é possível isolar dois critérios gerais que, de algum modo, se aplica
todos eles. Esses dois critérios são a quantidade e a relevância. Assim, podemos dizer que:

Quanto maior for a quantidade e relevância dos casos contemplados nas premissas
mais provável é a conclusão.

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LÓGICA INFORMAL
As previsões e critérios de avaliação.

• Uma previsão é um argumento indutivo que parte de um certo número de casos


ocorridos no passado se retira uma conclusão para o futuro.

• Critérios de Avaliação das previsões:


Quanto maior for o número de casos passados contemplados / verificados nas
premissas, maior é a probabilidade da conclusão sem que, no entanto, possamos
estar certos da mesma (argumento indutivo).
.

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LÓGICA INFORMAL
As generalizações e critérios de avaliação.
• Uma generalização é um argumento indutivo em que se parte de alguns casos (amostra), mais ou menos
vasto, para chegar a uma conclusão que pretende abarcar todos os casos (de que os casos mencionados nas
premissas são uma apenas uma parte (amostra)).
• Critérios de Avaliação das previsões:
Para que uma generalização seja forte e não falaciosa a mesma deverá ter em conta os seguintes aspetos:
(a) A amostra (parte) deve ser ampla. Uma generalização que apenas contenha nas premissas premissas um
ou dois casos de muitos possíveis torna-se automaticamente fraco e falacioso.
(b) A amostra deve ser representativa dos casos que pretende contemplar na conclusão. Não basta que a
amostra de que se parte seja ampla, é necessário que a mesma represente a totalidade os casos em relação aos
quais se pretende retirar uma conclusão. Caso a amostra não seja representativa, a generalização torna-se
automaticamente fraca e falaciosa.
(c) A amostra não pode omitir informação relevante. A amostra de que se parte não pode omitir,
intencionalmente, ou não, informação relevante relativa à totalidade dos casos contemplados na conclusão.
Basta que este critério não seja observado para que uma generalização seja fraca e falaciosa.
Rodrigues, Luís, Filosofia – 11º ano, Plátano Editora

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LÓGICA INFORMAL
Os argumentos por analogia e critérios de avaliação.
• Um argumento por analogia é um argumento indutivo em que se parte de uma ou mais semelhanças
conhecidas entre dois ou mais objetos, acontecimentos, fenómenos, etc. diferentes para se inferir, na conclusão,
uma outra semelhança que se supõe também existir.).

A forma geral dos argumentos por analogia é esta:


Os objetos x têm as propriedades A, B, C, D. Os x são E.
Os objetos y, tal como os x, têm as propriedades A, B, C, D. Os y são como os x
Os x têm ainda a propriedade E. Logo, os y são E
Logo, os y têm também a propriedade E (Domingos Faria)

• Critérios de avaliação dos argumentos por analogia:


Para que um argumento por analogia não seja fraco ou falacioso o mesmo deverá ter em conta os seguintes aspetos:
(a) A amostra deve ser ampla, i.e., os objetos acontecimentos, fenómenos, etc. que são aludidos nas premissas sejam poucos.

(b) O número de semelhanças deve ser suficiente, i.e., não basta que se verifiquem poucas semelhanças entre os “objetos”
contemplados nas premissas.

(c) As semelhanças verificadas devem ser relevantes, i.e., as propriedade comuns têm de ser importantes para a conclusão
que se pretende retirar.

Rodrigues, Luís, Filosofia – 11º ano, Plátano Editora


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LÓGICA INFORMAL
Os argumentos de apelo à autoridade e critérios de avaliação.
• Um argumento de apelo à autoridade é um argumento indutivo em que a nível das premissas se recorre à
autoridade de uma pessoa, conjunto de pessoas ou organização para daí retirar uma dada conclusão.

A forma geral dos argumentos de apelo à autoridade é esta:

Uma autoridade, especialista ou testemunha afirmou que P.


Logo, P. (Domingos Faria)

• Critérios de avaliação dos argumentos de apelo à autoridade:


Para que um argumento de apelo à autoridade seja forte é necessário que:
a) As pessoas ou organização a que se recorre sejam especialistas na matéria em que se enquadra a
conclusão.

b) Tem de haver um consenso entre os especialistas acerca do conteúdo da conclusão.

Caso um argumento de apelo à autoridade não obedeça a algum destes dois critérios o argumento torna-se
automaticamente fraco e falacioso.
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LÓGICA INFORMAL
Falácias Informais
• Atualmente conhecem-se mais de cem falácias informais. Iremos estudar apenas as seguintes:

- Falácia da falsa generalização ou generalização precipitada

- Falácia do apelo à autoridade.

- Falácia do apelo à ignorância.

- Falácia da causa falsa.

- Falácia da petição de princípio ou argumento circular.

- Falácia do falso dilema ou falsa dicotomia.

- Falácia da derrapagem ou bola de neve.

- Falácia do boneco de palha (ou espantalho).

- Falácia do ataque ao homem ou argumentum ad hominem.

- Falácia de apelo à popularidade ou argumentum ad populum.

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LÓGICA INFORMAL
Falácia da falsa generalização ou generalização precipitada.

• A falácia da falsa analogia ou generalização precipitada é um argumento por analogia em que (1) a amostra
não é suficiente, (a) as semelhanças são escassas e/ou (2) as semelhanças constantes nas premissas não são
relevantes. Qualquer um destes casos torna o argumento por analogia falacioso.

Exemplo:
1) Cada uma das pessoas que eu conheço usa óculos e é inteligente. (conheço três pessoas)
2) O António usa óculos.
 O António é inteligente.

Este argumento é falacioso uma vez que incorre na falácia da falsa analogia. Se conheço apenas três pessoas com
óculos e inteligentes a amostra não é suficiente. Por sua vez, as semelhanças são escassas e não são relevantes
para se retirar a conclusão de que o António também será inteligente. O uso de óculos é apenas uma semelhança, a
qual, não é relevante para determinar a inteligência de alguém.

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LÓGICA INFORMAL
Falácia do apelo à autoridade.

• A falácia do apelo à autoridade consiste em apelar à autoridade uma pessoa, grupo de pessoas ou organização sem
que (1) as mesmas sejam autoridades no assunto de que se pretende retirar uma conclusão ou que (2) haja um
consenso entre os especialistas sobre tal assunto..

Exemplo:
1) A Cláudia Schiffer afirma que os automóveis da marca Porsche são bons.
 Os automóveis da marca Porsche são bons.

Neste argumento, procura-se defender que determinada marca de automóveis é boa devido ao facto de uma
suposta autoridade na matéria – a modelo Claudia Schiffer - o dizer. Ora, Claudia Schiffer não é uma autoridade no
que se refere à qualidade dos carros o que torna automaticamente o argumento falacioso. Por sua vez, as razões
que levam os automóveis daquela marca a serem bons não residem no facto da Cláudia Schiffer o ter afirmado, logo
este apelo à autoridade não é relevante para a conclusão a que se pretende chegar. .

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LÓGICA INFORMAL
Falácia do apelo à ignorância.

• A falácia do apelo à ignorância consiste em argumentar que uma proposição é verdadeira simplesmente porque ainda
não se provou que é falsa ou argumentar que uma proposição é falsa simplesmente porque ainda não se provou que é
verdadeira.

Exemplo:
1) Ainda não se provou que é falso que o Mário seja homossexual.
 É verdade que o Mário é homossexual.

Este argumento incorre na falácia do apelo à ignorância. Do facto de ainda não se ter provado que alguém é
homossexual não se segue que é verdade que o seja.

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LÓGICA INFORMAL
Falácia da causa falsa.

• A falácia da causa falsa é um argumento que apresenta como causa de algo, aquilo que aparentemente pode
parecer a causa (por exemplo por proximidade temporal) mas que não é realmente a sua causa (ou causa única).

Exemplo:
1) O Sporting perdeu o jogo arbitrado pelo árbitro X.
 O árbitro X é a causa da derrota do Sporting.

Este argumento é falacioso uma vez que incorre na falácia da causa falsa. Do facto de o árbitro X ter arbitrado o
jogo no qual o Sporting perdeu não se segue que ele seja o responsável (a causa) da derrota. A verdadeira causa
pode ter sido, por exemplo, o facto de os jogadores do Sporting terem jogado mal, da tática do treinador não ter sido
a mais adequada para aquele jogo, etc.

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LÓGICA INFORMAL
Falácia da petição de princípio ou argumento circular.

• A falácia da petição de princípio ou argumento circular é um argumento indutivo em que se assume algo
como verdadeiro (nas premissas) aquilo que procuramos provar ser verdadeiro (na conclusão). Ou seja, a falácia
da petição de princípio consiste em usar, implicitamente, a conclusão como premissa.

Exemplo:
Deus existe porque é a Bíblia que o afirma e eu sei que isso é verdade porque foi Deus, afinal, quem a
escreveu.

Este argumento tem como premissas, (1) A Bíblia é verdadeira porque Deus a escreveu e (2) a Bíblia diz que Deus
existe e como conclusão Deus existe. Aquilo que se pretende provar - a existência de Deus - é usado nas premissas
e tomado como verdade. Ou seja, se Deus escreveu a Bíblia é porque Deus existe, logo o argumento assume nas
premissas o que está a tentar provar, isto é, a existência de Deus.

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LÓGICA INFORMAL
Falácia do falso dilema ou falsa dicotomia.

• A falácia do falso dilema ou da falsa dicotomia consiste em partir de duas alternativas, que são apresentadas
como as únicas possíveis (quando de fato não são), para daí retirar uma dada conclusão.

Exemplo:
1) Ou estou com os meus amigos ou tenho maus resultados na escola.
2) Como não quero ter maus resultados na escola.
 Não posso estar com os meus amigos.

Este argumento incorre na falácia do falso dilema, uma vez que, na premissa (1) parte de duas alternativas
como se as mesmas fossem as únicas possíveis. No entanto, não é incompatível estar com os amigos e não ter
maus resultados na escola. Por sua vez, é possível estudar com os amigos.

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LÓGICA INFORMAL
Falácia da derrapagem ou bola de neve.

• A falácia da derrapagem consiste num argumento que contém nas premissas diferentes relações prováveis para
se concluir uma relação que é menos provável do que aquelas que estão contidas nas premissas.

Exemplo:

1) Se sair à rua posso molhar-me. 1) Se A então B. (provável)


2) Se ficar molhado posso ficar constipado. 2) Se B então C. (provável)
3) Se ficar constipado, posso ficar com gripe. 3) Se C então D. (provável)
4) Se ficar com gripe posso ter de faltar às aulas. 4) Se D então E. (provável)
 Se sair à rua posso ter de faltar às aulas. [☺] Se A então E. (- provável)

Este argumento incorre na falácia da derrapagem, uma vez que, parte de premissas (1 a 4) que contêm relações
apenas prováveis para se retirar uma conclusão () que é menos provável do cada uma das premissas.

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LÓGICA INFORMAL
Falácia do boneco de palha ou do espantalho.
• Na falácia do boneco de palha ou do espantalho o argumentador, em vez de atacar o melhor argumento do seu
opositor, ataca um argumento diferente, mais fraco, que é tendenciosamente interpretado. Infelizmente é uma das
"técnicas" de argumentação mais usadas. [O argumento do outro é convertido num espantalho mais fácil de “derrubar”].

Exemplos (Stephen Downes)


1. As pessoas que querem legalizar o aborto, querem prevenção irresponsável da gravidez. Mas nós queremos
uma sexualidade responsável. Logo, o aborto não deve ser legalizado.

2. Devemos manter o recrutamento obrigatório. As pessoas não querem o fazer o serviço militar porque não lhes
convém. Mas devem reconhecer que há coisas mais importantes do que a conveniência.

Quer o argumento (1) quer o argumento (2) incorrem na falácia do boneco de palha. A estratégia em ambos os
casos é atacar um argumento mais fraco (boneco de palha) que resulta de uma interpretação tendenciosa.

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LÓGICA INFORMAL
Falácia do ataque ao homem ou argumentum ad hominem.
• A falácia do ataque ao homem é uma falácia que vulgarmente ocorre na troca de argumentos e consiste em não discutir
o assunto que está em causa mas em desqualificar o outro interveniente por causa da idade, do sexo, da família, da
roupa, da religião etc.

Exemplo:
Suponha-se que dois amigos, de diferentes idades, discutem acerca do problema da liberdade de imprensa e um
deles utiliza o seguinte argumento: “Tu não podes falar do problema de liberdade de imprensa, uma vez que, ainda
és muito novo para falares de problemas desses.”

Neste caso, um dos intervenientes da discussão incorre na falácia do ataque ao homem. Em vez de apresentar
razões acerca do problema que está a ser debatido, procura atacar o outro interveniente desqualificando-o. Ou
seja, não se discute o problema que está em causa, e que deveria constituir o alvo da argumentação, mas ataca-se
o outro interveniente pessoalmente a partir da idade do mesmo.

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LÓGICA INFORMAL
Falácia de apelo à maioria ou argumentum ad populum.

• A falácia do apelo à maioria é uma falácia que consiste em explorar os sentimentos, opções e/ou desejos da
maioria para fazer adotar o ponto de vista de quem argumenta.

Exemplo:
Suponha-se que um qualquer político que dirigindo-se aos seus eleitores argumenta: “A maioria de vós já decidiu a
importância das nossas propostas. Por essa razão, as nossas propostas são as melhores.”

Neste exemplo, o argumento do político incorre na falácia do apelo à maioria. O político que argumenta tenta
fazer crer que a suposta decisão da maioria leva a que as suas propostas sejam consideradas as melhores o que,
como é óbvio, pode não ser o caso.

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