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Sermão de Santo António aos

peixes
O que é um sermão?
• Um sermão é um discurso oral , ou seja, de oratória, ou religioso feito por um profeta ou
membro do clero sobre temas bíblicos, teológicos, religiosos ou morais, normalmente
sustentando uma crença, lei ou comportamento humano num contexto presente ou
pretérito. Os elementos da pregação incluem exposição, exortação e aplicação prática. O
sermão é por muitos considerado como sinônimo da homilia.
• Em contextos não religiosos, o sermão é um discurso de chamada de atenção ou repreensão,
de um superior hierárquico (ex.: pais, patrões).
O autor: Padre António Vieira
o O padre António Vieira (Lisboa, 6-2-1608-Brasil,Colégio da Baia, 18-7-1697) foi para
o Brasil com apenas seis anos, indo estudar para o colégio dos Jesuítas na Baía.
o Aos quinze anos entrou na Companhia de Jesus; formou-se noviço em 1625
passando a lecionar humanidades e retórica na Companhia de Pernambuco;
ordenou-se sacerdote em 1635, na Baía.
o Em 1641, acompanhando a Portugal o filho de vice-rei, tornou-se intimo de D. João
IV que o nomeou pregador da corte, seu confessor e conselheiro.
o Em 1643 teve a missão de negociar a conquista das colónias.
o A partir de 1646, desempenhou numerosas missões diplomáticas e politicas em
países como: Paris, Haia, Londres e Roma.
o Conseguiu o apoio do rei, como missionário, para a libertação dos índios.

o Não foi bem aceite pelos colonos, contra os quais pregou vários sermões, como o
sermão : “Santo António aos Peixes” e “Sexagésima”.
o Em 1656, com a morte de D. João IV, viu-se perseguido pela inquisição,
conseguindo a sua liberdade com a subida ao trono de D. Pedro II, passando cerca
de 5 anos em Roma sob a protecção da Rainha Cristina da Suécia.
o A partir de 1675 de regresso a Portugal dá inicio à publicação dos Sermões.

o Fernando Pessoa Chamou-lhe “Imperador da Língua Portuguesa”, pela excelência


que tinha como orador, missionário, diplomata, politico e prosador.
o A sua obra, um verdadeiro “titulo de glória de Vieira”, é constituída por 200
Sermões, 500 Cartas e diversos ensaios de caracter politico, social, cultural e
literário como “Esperanças de Portugal”, “Clavis Prophetarum” e “História do
Futuro”
Razões para o título:
o Homenagear Santo António (por ter sido pregado no dia de Santo António)

o Aproveita os exemplos do sermão pregado aos peixes por Santo António

o Tal com Santo António tentou converter os hereges (para que conseguissem
expulsar os demónios dentro de si ), também Padre António Vieira tenta convencer
os colonos portugueses no Brasil a mudar o seu comportamento.
Objetivos a atingir com o sermão:
o Agitar as consciências;

o Conduzir à reflexão;

o Evitar o mal;

o Preservar o bem.
As partes do Sermão
• Exórdio: Capitulo I

o Conceito predicável - “Vos estis sal terrae”( “Vós sois


o sal da terra”)
o Exploração do tema da metáfora do sal – (“Santo
António foi…”)

Exposição do o Elogio a Santo António como modelo a seguir


plano a o Invocação à Virgem Maria no final do capítulo –
desenvolver e das
ideias a defender “Ave-Maria”

Nota: Embora não fosse obrigatório, os sermões podiam


conter também uma invocação ( pedido de auxílio
divino).
Louvores aos peixes em geral

Capítulo II
(Exposição)
• Exposição e confirmação : Louvores aos peixes em particular:
o Peixe de Tobias
Capítulo III o Rémora
(Confirmação)
o Torpedo
(Desenvolvimento da
argumentação “para o Quatro – olhos
que procedamos com
clareza, dividirei,
peixes, o vosso sermão Repreensões aos peixes em geral:
Capítulo IV
- Denúncia de casos de
em dois pontos: no (Exposição)
antropofagia social
primeiro louvar-vos-ei
as vossas atitudes, no
segundo repreender- Repreensões aos peixes em
particular :
vos-ei os vossos vícios”)
Capítulo V o Roncadores
(Confirmação)
o Pegadores
o Voadores
o Polvo
• Peroração :
Capitulo VI o Apelo aos ouvintes numa

(“Com esta última última advertência aos


advertência vos
despido, ou me peixes(cf. “Peixes, dai muitas
despido de vós, meus graças a Deus de vos livrar
(Utilização de um peixes. E para que
desfecho forte para vades consolados do deste perigo[…]”)
impressionar o sermão, que não sei
auditório) – quando ouvireis outro, o Retrato dele próprio como
conclusão com uma quero-vos aliviar de
uma desconsolação pecador
última advertência
mui antiga, com que o Hino de Louvor a Deus (cf.
aos peixes; retrato
todos ficastes desde o
dele próprio como tempo em que se Repetição anafórica “Louvai a
pecador; hino de publicou o Levítico”)
louvor. Deus”)
Louvores aos peixes
Louvores em Geral:
O Padre António Vieira faz referencia às:
- Obrigações do sal;
- Indicação das virtudes dos peixes em geral;
- Crítica aos homens.

oRetoma as duas propriedades do sal “conservar o são e preservá-lo para que se não corrompa”
oPretende repreender os vícios dos homens, opostos às virtudes dos peixes.
oCritica os homens por analogia com os peixes, como está expresso nesta passagem irónica: “Ao

menos têm os peixes duas boas qualidades de ouvintes: ouvem e não falam”.
oAfastamento do Padre António Vieira dos homens para se aproximar de Deus .

 
Louvores em Particular:
Na confirmação o Padre António Vieira louva os peixes em particular:

oO Peixe Tobias – cujas entranhas têm a virtude de curar a cegueira dos homens e expulsa os demónios;
oA Rémora - que possui a força de impedir uma nau de seguir o seu caminho. Comparável à língua de Santo António que serve de guia às pessoas;
oO Torpedo – que produz descargas eléctricas, que fazem tremer o braço do pescador que o tenta capturar. Representa a conversão;
oO Quatro-Olhos – que tem a capacidade de se defender dos outros peixes e das aves. Representa a capacidade de diferenciação do bem e do mal (Céu/Inferno).

Os quatro peixes, possuem características que na sua totalidade se podem identificar com as principais virtudes de Santo António.

 
Repreensões aos peixes
Capitulo IV: Vieira repreende os peixes em geral pois os peixes grandes comem os
pequenos (alegoricamente é referida a antropofagia social, isto é, os homens
poderosos aniquilam os mais frágeis, os marginalizados da sociedade).

o Mas os homens também se comem uns aos outros mesmo dentro da mesma
classe social, porque cobiçam os bens uns dos outros, são interesseiros:

«Pois tudo aquilo é andarem buscando os homens como hão de comer e como se hão
de comer. Morreu algum deles, vereis logo tantos sobre o miserável a despedaçá-lo e a
comê-lo. Comem-nos os herdeiros, comem-no (…) ainda o pobre defunto o não comeu
a terra, e já o tem comido toda a terra.»
o Os peixes comem-se uns aos outros no mar por razões de sobrevivência, mas os
seres humanos aniquilam-se e desprezam-se por amor excessivo ao dinheiro.

o Esta constatação leva a uma 2ª repreensão geral aos peixes alegoria dos homens:
Estes dão a vida por insignificâncias, «um retalho de pano», mas os bens terrenos
são ilusórios e fonte de discórdias; o costume de se aproveitarem dos bens dos
naufragados é condenável: «Pode haver maior ignorância e mais rematada
cegueira que esta?» Deviam seguir o exemplo de Santo António que, tendo
nascido rico, abandonou tudo para imitar Jesus Cristo.
Capítulo V
Principais recursos estilísticos
o Alegoria: todo o sermão é alegórico ou uma extensa alegoria, a partir do cap. II (os peixes são
alegorias dos homens e vícios destes).
o Anáfora e Paralelismo sintático ou estrutural : «Os peixes, pelo contrário, lá se vivem nos
seus mares e rios, lá se mergulham nos seus pegos, lá se escondem nas suas grutas»
o Apóstrofes : «Vindo pois, irmãos, às vossas virtudes (…)»
o Antíteses : «tanto mais unido com Deus, quanto mais apartado dos homens»
o Enumerações : «(…) que também nelas há falsidades, enganos, fingimentos, embustes,
ciladas e muito maiores e mais perniciosas traições»
o Comparações : «O polvo com aquele seu capelo na cabeça, parece um monge; com aqueles
seus raios estendidos parece uma estrela (…)»

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