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“... Antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração; e estai preparados para
responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em
vós, tendo uma boa consciência, para que, naquilo em que falam mal de vós, como de
malfeitores, fiquem confundidos os que blasfemam do vosso bom procedimento em Cristo”.
A Apologética, como ciência ou disciplina teológica, tem uma abrangência muito maior
do que aparenta. Vê-se, de antemão, que a apologética não se relaciona à organização ou
criação de dogmas ou “leis” teológicas. Pelo contrário, procura defender o pensamento
fundamental do cristianismo frente às questões ou investidas dos que pensam de forma distinta.
Como o cristianismo tem um posicionamento muito específico acerca de alguns temas, tais
quais: o cosmos, o homem, Deus, o pecado, Cristo, etc., cabe hoje à apologética cristã dispor
de meios, argumentos, que corroborem o pensamento bíblico sobre tais temas. Assim, em
última análise, a apologética seria uma defesa do pensamento teológico bíblico cristão, e que
envereda pelos diversos campos do conhecimento.
Devemos ter ciência plena de que o Cristianismo é lógico e verdadeiro, e que o vácuo
deixado por outras “soluções” religiosas para o homem, é completa e perfeitamente
preenchido pelo Cristianismo bíblico. Daí a importância de sabermos também, o que pensam
os grupos religiosos, tanto sobre os conceitos fundamentais do pensamento religioso (como
alguns dos citados acima), bem como sobre o próprio Cristianismo. A forma como
expusermos o Cristianismo fará muita diferença. Cada vez mais, faz-se necessária uma
defesa que englobe concepções acerca de temas e questões para as quais, à princípio, não há
um aparente posicionamento bíblico claro e direto. Problemas modernos, peculiares, os quais
“exigem” que conheçamos mais acerca do mundo que nos rodeia.
Atendo-se a este conceito nós podemos construir, baseados nas leis do pensamento, um
sistema ao qual podemos chamar de verdadeiro. Mas, o que é a verdade? Normam Geisler e
Peter Bocchino assim a definem: “A verdade em si é a expressão ou símbolo ou declaração
que corresponde ao seu objeto ou referente (i.e., aquele ao qual se refere, seja um conceito
abstrato ou a uma coisa concreta).” (Normam Geisler, Fundamentos Inabaláveis, p. 29).
Nosso sistema deve ser, portanto, REAL, isto é, baseado na realidade, para que seja
verdadeiro. E é aí que está a grande questão de uma sociedade pluralista: Se a verdade é
relativa, qual ou quais sistemas são verdadeiros? A resposta comum a esta pergunta seria:
NENHUM, e, ao mesmo tempo, TODOS. “Nenhum”, pois a verdade de tal sistema não teria
aceitação universal. “Todos”, pois, para aqueles que o defendem, tal sistema é “verdadeiro”.
Porém isto é uma proposição que, de acordo com a lógica, se auto anula. A “lei do terceiro
excluído”3, uma das leis fundamentais da lógica, afirma que algo é “A” E não é “-A”. A não
pode ser igual a “A” e ao mesmo tempo a “-A”.
O filósofo e matemático francês, Blaise Pascal, levou a razão humana ao seu limite.
Pascal afirma ser impossível uma comprovação científica da existência de Deus. Para Pascal,
tudo estava baseado na fé e na experiência (do coração). Para Pascal, uma vez que é
impossível comprovar cientificamente a existência de Deus, devíamos nos sujeitar a uma
hipótese razoável, que viria a ser conhecida como a “Aposta de Pascal”. Pascal afirma: “Ou
Deus existe, ou Ele não existe”, e propõe que nós apostemos. Apostar que Deus existe, seria
para o filósofo, uma modesta entrega da razão. Porém, optar que Ele não existe é arriscar a
perda da vida e da felicidade eternas. Para Pascal, o valor da aposta é mínimo, comparado
com o prêmio a ser ganho: Se aquele que apostou na existência de Deus, acertar, ganhará
tudo. Se errar, não perderá nada. Em contrapartida, se aquele que apostou na não existência
de Deus acertar, não ganhará nada. Se errar, perderá tudo.
É fato, porém, que nem tudo o que real é verdadeiro. Porém, tudo o que é verdadeiro é
real. Aqui, a ordem dos fatores altera o produto. A astrologia é algo real, porém será
verdadeiro? A questão é seguir um caminho que leve à realidade verdadeira. Este é o
objetivo de quem se preocupa com os conceitos fundamentais do Cristianismo, e com as
questões polêmicas que nos cercam hoje em dia, para as quais, infelizmente, não temos
resposta justamente por não sabermos o que é verdadeiro quanto a tais questões. Por
exemplo: será lícito, de acordo com os preceitos cristãos, a eutanásia? Por quê? À propósito,
o mesmo Dicionário Prático Michaelis, na sua definição de realidade, NÃO traz como
sinônima a palavra “verdade”.
Não estou dizendo que os teólogos têm que fazer Filosofia. Mas, temos que conhecer o
que dizem os pensadores, pois, conforme explica Alan Richardson4:
“Um biólogo que se manifesta sobre assuntos teológicos, por pensar que, tendo
estudado um aspecto da realidade, já tem competência para se pronunciar sobre tudo, tem
de charlatão tanto um teólogo que acha que seus estudos de teologia lhe conferiram a
capacidade e o direito de dizer a última palavra sobre a teoria da evolução das espécies
biológicas. Agora, um biólogo ou teólogo, cujos estudos próprios nas categorias de sua
ciência especial, estará caminhando muito bem e dentro de linhas corretas quando se torna
um metafísico5 e pergunta se as visões internas da natureza das coisas que seus próprios
estudos científicos lhe proporcionaram dentro do seu limitado campo não sugerem alguma
visão analógica da natureza e propósito do mundo como um todo. (...)
É claro que o verdadeiro filósofo – o “homem sinótico” – numa época de grande e
rápido progresso científico, tem, diante de si, uma tarefa difícil e de grande
responsabilidade. Teoricamente ele tem que anotar todas as categorias de todas as ciências
e buscar selecionar aquelas que lhe parecem as mais significativas, ou as mais inclusivas,
ou mesmo tentar forjar uma nova “supercategoria” que leve em conta todas as outras, não
prejudicando a nenhuma delas; mas, se é fácil definir assim a natureza da tarefa do filósofo,
essa tarefa de dia para dia na prática se torna cada vez mais difícil e vai além dos poderes
de qualquer mentalidade, visto que cada uma das ciências especializadas de dia pra dia se
torna mais complexa. E mais ainda, o filósofo tem que examinar outros domínios além dos
das ciências empíricas ou positivas: há também os setores das ciências normativas, da
lógica, da estética e da ética”.
1 – Pluralismo: pensamento filosófico que admite uma visão relativa da verdade.
2 – GEISLER, Normam – Fundamentos Inabaláveis, p. 21
3 – A Lei do Terceiro Excluído afirma que uma coisa não pode ser, ao mesmo tempo, A e –A, ou seja, algo e o seu oposto.
APOLOGÉTICA CRISTÃ 5
Conceitos Fundamentais: Perspectiva Filosófica
“Não há escusa para o servo negligente e relapso, que não trabalha à luz duma vela,
alegando que o sol não está brilhando muito. A vela que nos foi dada aclara já o suficiente
para que nos ponhamos em movimento na realização de todos os nosso propósitos... Se
deixarmos de crer em tudo, alegando a impossibilidade de conhecer ao certo todas as
coisas, estaremos agindo como aquele que deixou de andar, e morreu sentado, porque se
queixava de não ter asas para voar” (Essay on the Human Understanding, Livro I, Cap 1,
pg. 5).
O que Geisler e Bocchino sugerem é que façamos uma análise comparativa das
“verdades” existentes na nossa realidade. Através da coerência, e de sua contraposta, a
correspondência, tenhamos um modelo no qual tais declarações da verdade possam ser
testadas. A tarefa é monumental. Citando Geisler7:
Esta idéia está ilustrada pela experiência do cilindro. Dependendo de nossa perspectiva
(cosmovisão) do cilindro, veremos “verdades” diferentes, como segue:
Quando afirmamos que as três perspectivas são diferentes, e que trazem situações
completamente diferentes, não podemos dizer que “são a mesma coisa”, pela lei
fundamental do “terceiro excluído”. O cilindro não é um círculo, ou um retângulo.
Aquelas realidades (pois são produzidas pelas diferentes perspectivas) produzem falsas
“verdades”. A perspectiva de número 3 nos dá uma idéia melhor do que é realmente a
figura. Deus, por sua vez, vê o objeto por inteiro, sua perspectiva é diferente da nossa:
Deus Deus
Deus Deus
As religiões vêem o mundo, e têm suas idéias, a partir de sua cosmovisão. Como
as cosmovisões têm contrapontos, ou seja, idéias opostas, logo uma cosmovisão
corresponde realmente à realidade. Lembre-se de que para uma cosmovisão ser
considerada verdadeira, todos os aspectos inerentes à mesma têm de ser reais, e
corresponderem exatamente à verdade que a realidade suscita. Um quadro com algumas
das principais correntes filosófico-teológicas, extraído do livro de Geisler e Bocchino,
pode ser visualizado logo abaixo. Tais correntes vêm com suas respectivas
correspondências (“verdades”) sobre determinados assuntos, que são amplamente
debatidos nos círculos acadêmicos:
Sabemos que negar a verdade é negar a realidade. Ora, isto é o que alguns
filósofos chamam de conceito autofrustrante. Logo, quaisquer espécies de agnosticismo8
são quase que imediatamente descartados como não coerentes, pois, rejeitar o
conhecimento da realidade pode ser, em última análise, rejeitar o conhecimento da
1 – Pluralismo: pensamento filosófico que admite uma visão relativa da verdade.
2 – GEISLER, Normam – Fundamentos Inabaláveis, p. 21
3 – A Lei do Terceiro Excluído afirma que uma coisa não pode ser, ao mesmo tempo, A e –A, ou seja, algo e o seu oposto.
APOLOGÉTICA CRISTÃ 5
Conceitos Fundamentais: Perspectiva Filosófica
verdade. Se assim for, a pergunta “A verdade pode ser isto OU aquilo?” fica “sem
resposta”, o que é uma impossibilidade filosófica.
2.1.3 - Os “teístas” são os que não apenas crêem em Deus, mas o vêem como
Causa primeira do Cosmos. Deus é pessoal, no “teísmo” (contrastando com o “deísmo”,
que radicaliza a transcendência divina, em detrimento de sua imanência). Deus é a causa
do bem, e o coração humano (realidade) é a causa do mal. A Ética é absoluta, pois
advém de Deus, ou seja, de suas normas ou daquilo que está estabelecido por Deus
como Moral, Amoral e Imoral. Nesta concepção está inserido o Cristianismo bíblico, e
sua cosmovisão parte também destas premissas.
Agora, você vai encontrar um aluno chamado Tom que está irritado porque não se
conforma com a sua crença aparentemente absurda em Deus. Ele mal pode esperar a
oportunidade de o constranger na frente de outros alunos interessados em ouvir mais a
respeito de sua fé. Um dia... Tom decide sentar à sua mesa e dizer:
- Você se importa se eu lhe fizer algumas perguntas?
Você reage dizendo que as perguntas são bem vindas. Tom então pergunta:
- Jesus não disse em Mateus 19:26 que ´para Deus todas as coisas são
possíveis?´
- Sim – você responde.
Tom continua:
- Você acredita que Deus é todo poderoso e pode fazer tudo?
Novamente a sua resposta é positiva. (...)
- Certo. Deus pode criar uma rocha tão grande que ele próprio não possa
levanta-la? (...)
Vamos retornar à pergunta de Tom e aplicar a ela o que aprendemos com o uso
correto da LNC10. Tom quer que Deus crie uma pedra tão grande que o próprio Deus não a
possa erguer. O que Tom na verdade está pedindo para Deus fazer? Para saber, precisamos
definir e esclarecer o emprego das palavras de Tom. A primeira pergunta que vem à mente é:
“De que tamanho é a pedra que Tom quer que Deus crie?”. Bem, Tom quer que Deus crie
uma pedra tão grande que seria impossível ao próprio Deus movê-la. -...) Mesmo que Deus
criasse uma pedra do tamanho do universo em expansão constante, Deus ainda seria capaz de
erguê-la e controlá-la. (...) Mas, uma vez que Deus é infinito, ele teria de criar uma rocha de
proporções infinitas! Esta é a chave: Tom quer que Deus crie uma pedra, e uma pedra é um
objeto físico, finito. Como pode Deus criar um objeto que é finito por natureza e dar a ele um
tamanho infinito? Há alguma coisa terrivelmente errada na pergunta de Tom. Então vamos
aplicar corretamente a LNC para analisá-la.
É lógica e concretamente impossível criar uma coisa finita fisicamente e fazer que ela
seja infinitamente grande! Por definição, uma coisa infinita, não criada, não tem limite, e
uma coisa finita, criada, tem. Conseqüentemente, Tom acabou de perguntar se Deus pode
criar uma pedra infinitamente finita, isto é, uma pedra que tem limites, e ao mesmo tempo e
no mesmo sentido, não tem limites. A pergunte dele, portanto, viola a LNC 10 e vem a ser
absurda. Tom achava que estava fazendo uma pergunta muito importante, que poria o cristão
num grande dilema. Em vez disso, ele apenas conseguiu mostrar a própria incapacidade de
pensar com clareza.
Agora que temos entendimento claro da pergunta de Tom, é só uma questão de
formular uma pergunta de princípio a fim de que o erro dele se revele. Que tal esta: “Tom,
qual o tamanho da pedra que você quer que Deus crie? Se você me disser o tamanho dela, eu
lhe direi se ele pode criá-la”. Bem, podemos continuar perguntando até que as respostas se
aproximem do tamanho do universo e finalmente introduzam a idéia da infinitude. Uma vez
que Tom chegue ao ponto em que comece a enxergar o que está realmente pedindo para
Deus fazer – criar uma pedra infinita –, é necessário mostrar-lhe que está pedindo que Deus
faça algo logicamente irrelevante e impossível. Deus não pode criar uma pedra infinitamente
finita assim como não pode criar um círculo quadrado. Ambos são exemplos de
impossibilidades intrínsecas. Comentando sobre a impossibilidade intrínseca e um Deus todo
poderoso, C. S. Lewis disse:
onipotência significa poder para fazer tudo o que é intrinsecamente impossível. Pode-se
atribuir milagres a ele, mas não absurdos.
Nem toda a pergunta que se faz é automaticamente significativa apenas por ser
uma pergunta. A pergunta pode parecer significativa, mas devemos testá-la com os primeiros
princípios para verificar a sua validade. Seja cuidadoso, portanto, não apressado demais para
responder às perguntas.”11
Nosso objetivo aqui transcende tal discussão teológica, e foca-se nos aspectos
mais modernos do que podemos chamar de “Teologia Natural”, cujos resultados
pragmáticos têm se distanciado da definição tradicional. Entendemos que tal Teologia é
importante, como são importantes os famosos argumentos da existência de Deus. É fato
que a Bíblia jamais se mostra como um livro que tenta provar a existência de Deus.
Começa afirmando no seu início: “No princípio criou Deus os céus e a terra...” (Gn.
1:1). Porém, na medida em que a Revelação de Deus progride, a Bíblia defende o uso da
fé como meio para se chegar a Deus e agradá-lo: “Ora, sem fé é impossível agradar a
1 – Pluralismo: pensamento filosófico que admite uma visão relativa da verdade.
2 – GEISLER, Normam – Fundamentos Inabaláveis, p. 21
3 – A Lei do Terceiro Excluído afirma que uma coisa não pode ser, ao mesmo tempo, A e –A, ou seja, algo e o seu oposto.
APOLOGÉTICA CRISTÃ 5
Conceitos Fundamentais: Perspectiva Filosófica
Deus, pois é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que
é galardoador dos que o buscam” (Hb. 11:6). A palavra “crer” (gr. Pisteuw) tem
dois aspectos básicos em sua definição, a saber:
- Crer racionalmente. Tem-se fé em quem se conhece, em quem se sabe. E a fé
não é algo “cego”, mas confiança baseada em um entendimento naquilo que se crê.
- Crer em um sentido mais subjetivo. Esvaziamento daquele que tem fé e a
colocação do objeto da fé no coração.
Note que um não pode vir sem o outro, pois o termo é definido por estas duas
variantes básicas. Tal forma no NT está muito presente no evangelho de João, por
exemplo. Cremos que o “senso divino”, ou qualquer que nome tenha, é algo real,
havendo no homem um sentimento, ainda que longínquo e terrivelmente distorcido,
acerca da existência de Deus. Prova disto são a espiritualidade inerente no ser humano,
verificável em todas as sociedades indistintamente, que resultam em alguns em algumas
formas religiosas específicas, estudadas pela história das religiões (na Antropologia
cultural). Alguns padrões de crenças e práticas religiosas apontam para um
conhecimento perdido ao longo da História, e que inclusive, é utilizado pelos
protestantes em missões ao redor do mundo inteiro (idéias quanto a um Deus Supremo,
uma Queda, uma Idade de Ouro no passado, um Dilúvio, vários temas sobre a salvação
da alma). Se aliarmos os aspectos práticos (não conceituais) da Teologia Natural, à
análise expositiva da revelação especial de Deus, podemos descobrir formas e
acrescentarmos meios interessantes ao estudo da Teologia Cristã.
3.2.2.1 – Hoje é sabido que o Universo teve um início, e a Física entende que
desconhece as leis que regiam “o que havia antes da criação do Universo”. Contudo,
há quem vá mais longe. É o caso de Stephen Hawking, que publicou suas idéias mais
recentes sobre o assunto no livro “O Universo numa Casca de Noz” , Ed. ARX, São
Paulo – 2001. Hawking nasceu em Oxford, Inglaterra em 1942; é matemático,
astrofísico e doutor em Cosmologia pela Universidade de Cambridge. É tido como o
mais brilhante físico teórico desde Albert Einstein. Hawking é agnóstico, e prefere
respostas científicas aos problemas científicos. Porém, sua análise o levou a discordar
de Einstein, ao discorrer sobre o início do espaço e do tempo como os conhecemos.
Einstein acertou em quase tudo o que postulou, porém, por razões de dogma acadêmico,
1 – Pluralismo: pensamento filosófico que admite uma visão relativa da verdade.
2 – GEISLER, Normam – Fundamentos Inabaláveis, p. 21
3 – A Lei do Terceiro Excluído afirma que uma coisa não pode ser, ao mesmo tempo, A e –A, ou seja, algo e o seu oposto.
APOLOGÉTICA CRISTÃ 5
Conceitos Fundamentais: Perspectiva Filosófica
Segundo santo Agostinho, antes de criar o Céu e a Terra, Deus não criou
absolutamente nada. Na verdade, isso se aproxima bastante das idéias modernas.”14
Observador
Densidade da matéria
fazendo com que o cone de
luz volte-se para o centro
“Singularidade” (?)
Fig. 4 – O cone de luz tem a forma de uma pêra.. Todo o Universo está contido
em uma região cujo limite cai para “0” no big-bang. Isso seria uma “singularidade”.
Aqui as leis da Relatividade deixariam de ser válidas. Embora hoje, na astrofísica, se
postule sobre “mundos paralelos”, nada, nesta disciplina acadêmica, é conclusivo.
prévio, uma distinção entre idealizador e idealizado. Alguns, como Kant, o consideram
superior ao argumento cosmológico. Outros, como Hegel, o consideravam um
argumento subordinado aos anteriores.
Paulo também foi, de certa forma, o maior apologeta do NT, talvez apenas depois
de Lucas. Lucas escreveu seus dois volumes exclusivamente para expor de forma
detalhada os acontecimentos, como ele afirma nos prólogos de suas obras (Lc. 1:1-4;
At. 1:1-3). Se o objetivo de Lucas está definido nos prólogos de seus livros, toda a obra
do escritor bíblico torna-se uma evidência do Cristianismo, portanto, uma defesa. Paulo
escreve com objetivos diferentes. Porém, sempre alerta os seus leitores sobre o perigo
de deixarem a fé (gr. Pistij), como escreveu aos Gálatas (cf. Gl. 3), aos
Tessalonicenses (cf. 2 Ts. 2:1-10) e 1 Timóteo (cf. 1 Tm. 4:1-2). Aqui, o vocábulo “fé”
assume a idéia de “código de doutrina”. “A Bíblia é o nosso manual de fé e prática”
(Confissão de Westminster).
3.3.1 – Vários foram os expoentes (apologetas) entre os séculos II e III, tais como:
Aristides, cerca de 147 d.C. Sua obra ataca o paganismo e suas diferentes
formas de adoração, exaltando em contrapartida, a forma e a moral cristãs.
Justino Mártir, cerca de 150 d.C. Sua obra “Apologia” foi endereçada
aos imperadores Adriano e Marco Aurélio. Afirmava que a Filosofia grega era útil,
porém incompleta, sendo aperfeiçoada em Cristo e em sua Revelação. A Filosofia seria,
como o Judaísmo, a precursora de algo superior
Aristo, metade do segundo século d.C. Escreveu um livro citado por
Orígenes, no qual demonstrava que as profecias judaicas cumpriam-se em Cristo Jesus.
Justino Mártir utilizou-se dessa obra como base em sua Apologia.
Atenágoras, final do segundo século d.C. Escreveu uma obra na qual
incluía argumentos a favor da ressurreição dos mortos. Na mesma escreve contra o
paganismo e o Estado romano. Endereça a obra a Marco Aurélio, esperando uma
melhoria no tratamento aos cristãos.
Taciano demonstrou aversão à Filosofia grega em prol da superioridade
do Cristianismo.
Teófilo de Antioquia, seguiu o caminho de Taciano.
1 – Pluralismo: pensamento filosófico que admite uma visão relativa da verdade.
2 – GEISLER, Normam – Fundamentos Inabaláveis, p. 21
3 – A Lei do Terceiro Excluído afirma que uma coisa não pode ser, ao mesmo tempo, A e –A, ou seja, algo e o seu oposto.
APOLOGÉTICA CRISTÃ 5
Conceitos Fundamentais: Perspectiva Filosófica
4. TEODICÉIA
Para o Panteísmo, o mal é uma ilusão (vide pg. 8). O pensamento do Ateísmo
reduz-se a apenas identificar o mal, porém sem o seu contra-senso, o bem. Apenas taxar
o mal como “ilusão”, como fazem os panteístas, é tratar o problema quase que
ingenuamente, pois a nossa subjetividade intelectual (emoções) são os principais
agentes que nos induzem a pensarmos que algo, naquilo que está “errado”, tem que ser
mudado. Mas, por que precisaria ser mudado, se tudo é ilusão? Bem, é verdade que o
Hinduísmo obrigou os seus adeptos a aceitarem a sua vida (“karma”), pois os males da
mesma são apenas “ilusão”. Porém, por que os hinduístas têm hospitais? Por que têm
escolas? Por que se precavêem de desastres naturais? De epidemias? Por que têm
1 – Pluralismo: pensamento filosófico que admite uma visão relativa da verdade.
2 – GEISLER, Normam – Fundamentos Inabaláveis, p. 21
3 – A Lei do Terceiro Excluído afirma que uma coisa não pode ser, ao mesmo tempo, A e –A, ou seja, algo e o seu oposto.
APOLOGÉTICA CRISTÃ 5
Conceitos Fundamentais: Perspectiva Filosófica
programas contra a forme a pobreza, se tudo é ilusão, como afirmam? Cremos que, de
fato, é ilusão crermos que o mundo é ilusão.
Creio que você, caro aluno, já deve ter se apercebido a problemática deste
assunto: como justificar um Deus Todo-Poderoso, e Todo-Amoroso juntamente com a
existência do mal? Ao longo da História, vários sistemas foram propostos para
responder esta pergunta. No sistema racionalista de Leibniz (1646-1716) o mal foi
dividido em moral, metafísico, e físico. O mal moral advém da resistência, natural, dos
homens em relação à vontade de Deus. O mal metafísico constitui a “limitação” dos
seres. É a “ausência” do bem, daquilo que é bom. Exemplo: quando há um câncer em
alguém, é porque ali está faltando algo no processo biológico normal, que impeça as
células de se multiplicarem desordenadamente. Geisler dá o exemplo da ferrugem, que
seria um exemplo de mal. A oxidação se dá pela falta de alguns elementos no ferro, o
que necessariamente originaria a presença de outros, que originariam o processo de
deterioração do ferro. Geisler ainda tenta coadunar o problema do mal metafísico com a
Segunda Lei da Termodinâmica, que diz “que a quantidade de energia utilizável no
Universo está diminuindo constantemente”. Como o Cosmos (Universo) é um sistema
fechado, isto é, não há força física que o alimente, toda a energia contida nele se dissipa,
gradativamente, transformando-se em energia não utilizável, como um carro. O carro
seria o Cosmos, e a gasolina toda a sua energia. Em um determinado momento, a
energia irá findar, pois, do percentual de energia da gasolina, aproximadamente 75% se
dissipa em calor, enquanto 25% em rendimento. Segundo esta Lei, o Universo caminha
para um estado caótico.
Este sistema pode justificar a existência do mal (no sentido metafísico), tanto
quanto a teodicéia daquele que afirma, de forma distinta da posição anterior, que o
problema do mal consiste no arbítrio do homem. Deus seria “culpado”, portanto, se
sabia que o homem, sua criação, usaria do arbítrio para usa-lo para o mal? Não, se
partirmos do pressuposto que Deus criou (decretou) leis, dentre as quais estivesse
presente a consciência da existência do mal. Assim, em sua Criação, o mal poderia vir a
existir, como realmente veio, e seria uma lástima para o ser humano. Em alguns casos, o
mal seria usado para produzir o bem, e encontramos exemplos disto, inclusive, nas
páginas das Sagradas Escrituras. Um exemplo clássico nas Escrituras é fato acontecido
em 1 Rs. 22:1-37. Aparentemente ilógico o problema, pois Deus ali se utiliza,
aparentemente, de uma mentira para punir o rei maligno Acabe. Como um ser
perfeitamente bom utilizaria um meio maligno? (a verdade é sempre associada ao bem,
enquanto a mentira, ao seu contra-senso, o mal, logo Deus estaria usando um meio
maligno).
1 – Pluralismo: pensamento filosófico que admite uma visão relativa da verdade.
2 – GEISLER, Normam – Fundamentos Inabaláveis, p. 21
3 – A Lei do Terceiro Excluído afirma que uma coisa não pode ser, ao mesmo tempo, A e –A, ou seja, algo e o seu oposto.
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A Apologética aqui carece de uma atenção especial, pois é mister que todo
apologeta ao menos se interesse em saber como a Bíblia passa pelos testes históricos,
bibliográficos, internos, etc. Vale salientar que outros títulos históricos clássicos têm o
mesmo tratamento, contudo, quando se trata da Bíblia, uma enxurrada de pressupostos,
muitos dos quais sem sentido, vêm à tona, e o desavisado pode enveredar-se por
informações não muito confiáveis, de alguém que, por exemplo, se utiliza de
pressupostos apenas para contradizer as Sagradas Escrituras. Um conhecimento prévio
de crítica bíblica é fundamental para uma análise sobre o quê afirma a própria crítica.
Vamos ao mesmo.
“A crítica bíblica pode ser dividida em baixa e alta crítica, como indicado na
tabela (aqui o autor inclui um gráfico, o qual reproduzimos):
}
Crítica de Redação
Crítica de Forma
Crítica de Fonte Crítica = Alta Crítica
Literária
Crítica Histórica
Crítica Textual } = Baixa Crítica
A baixa crítica é identificada com a crítica textual, já que esta é fundamental
para todas as outras formas de crítica bíblica. A crítica textual busca determinar as
palavras originais do texto bíblico, especialmente porque não temos os documentos
originais (chamados “autógrafos”). Quem quer que saiba ler se envolve com a crítica
textual. Se, por exemplo, você notar um erro tipográfico enquanto lê esta página,
corrigirá o erro em sua mente, sabendo que não foi originalmente essa a intenção dos
autores. Este processo constitui essencialmente a crítica textual. (...)
A alta crítica pode ser dividida em duas disciplinas abrangentes: crítica histórica
e crítica literária. A crítica literária busca analisar o texto como uma peça acabada de
literatura. Ela avalia o sentido das palavras, a gramática e o estilo do texto. Também
busca determinar o significado do texto e tem sido usada para especular sobre o
cenário, a situação vivencial e as circunstâncias do escritor. A crítica histórica estuda
o cenário histórico que cerca a composição do texto. Ela busca responder a perguntas,
tais como: (1) Quando e onde foi escrito? (2) Quem escreveu? (3) Quer circunstâncias
cercavam o autor ou autores? (4) A quem foi escrito?
A crítica de fonte .... propunha que pelo menos quatro fontes estivessem por trás
da formação dos cinco primeiros livros do Antigo Testamento. A mesma metodologia
foi, então, aplicada aos evangelhos durante o século 19 para sugerir várias fontes (por
exemplo: “Q”, “Marcos” e “Proto-Lucas”) subjacentes, aos relatos dos evangelhos.
(....)
Os alemães chamaram a crítica de forma de Formgeschichte, significando
“história da forma”. Seus principais proponentes foram Karl Ludwing Schmidt, Martin
Dibelius e Rudolf Bultmann. Outros críticos de forma incluem R. H. Lightfoot e D. E.
Nineham. Alguns dos críticos de forma mais moderados são Frederick Grant, B. S.
Easton e Vincent Taylor.
Os críticos de forma do Novo Testamento geralmente opinam que os evangelhos
foram compostos de pequenas unidades ou episódios independentes. Essas pequenas
unidades individuais (perícopes) circularam independentemente. Os críticos ensinam
que as unidades tomaram gradualmente a forma de vários tipos de literatura popular,
tais como lendas, contos, mitos e parábolas.
1 – Pluralismo: pensamento filosófico que admite uma visão relativa da verdade.
2 – GEISLER, Normam – Fundamentos Inabaláveis, p. 21
3 – A Lei do Terceiro Excluído afirma que uma coisa não pode ser, ao mesmo tempo, A e –A, ou seja, algo e o seu oposto.
APOLOGÉTICA CRISTÃ 5
Conceitos Fundamentais: Perspectiva Filosófica
manuscritos de suas obras úteis para nós têm mais de mil e trezentos anos a mais que
os originais.”.
Aristóteles escreveu suas obras de ficção cerca de 345 a.C., mas a cópia mais
antiga que temos é datada de 1100 d.C., um intervalo de quase mil e quatrocentos
anos, e apenas cinco MSS sobreviveram.
César compôs sua história das Guerras Gaulesas entre 58 e 50 a.C.e a
autoridade do seu manuscrito se apóia em nove ou dez cópias datadas de mil anos após
a sua morte.
Quando se trata da autoridade do manuscrito do Novo Testamento, a abundância
de material é quase embaraçosa em contraste. (....) Mais de 22 mil cópias de
manuscritos do Novo Testamento existem hoje. A Ilíada tem 643 MSS e é a segunda em
autoridade de manuscrito depois do Novo Testamento.” 19
enriquecermos nossa interpretação do texto bíblico, assim nos diz Josh Mcdowell,
exemplificando as peculiaridades contidas nos Evangelhos:
Note que a refeição da Páscoa foi comida em posição reclinada. Era assim que
os ricos e livres comiam. Todos em Israel, ricos e pobres, deviam comer essa refeição
nessa posição, como lembrança de sua libertação do cativeiro no Egito. Tudo a
respeito da refeição era destinado a fazer com que os participantes se lembrassem do
anjo da morte passando por sobre as casas marcadas com sangue de cordeiro na noite
da libertação. Mas o que Jesus ordenou a seus discípulos que lembrassem? “Fazei isto
em memória de mim”. A partir desse ponto, a refeição em memorial tinha o prpósito de
lembrar dele. Segundo a cronologia do evangelho de João, Jesus estava morrendo na
cruz no dia seguinte na hora em que os cordeiros pascais estavam sendo sacrificados
no templo. O povo chamava João Batista de profeta. Foi ele quem disse a respeito de
Jesus cerca de três anos antes: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do
mundo”20
acenava para eles ao dizer: “Vós sois s luz do mundo. Não se pode esconder a cidade
edificada sobre um monte” (Mt. 5:14). (...)
Ao redor do Mar da Galiléia, particularmente Tiberíades e Gadara, fontes de
águas famosas atraíam os que precisavam de cura. As fontes termais de Gadara,
também conhecidas como Emmatha, eram as maiores do mundo, além das de Veneza.
O relato de Mateus se ajusta muito bem a este ambiente: “Percorria Jesus toda a
Galiléia, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda a
sorte de doenças e enfermidades entre o povo. E a sua fama correu por toda a Síria;
trouxeram-lhe, então, todos os doentes, acometidos de varas enfermidades e tormentos:
endemoninhados, lunáticos e paralíticos. E ele os curou. E da Galiléia, Decápolis,
Jerusalém, Judéia e dalém do Jordão, numerosas multidões o seguiam” (Mt. 4:23-25).
(...) Mesmo alguns dos milagres mais estranhos de Jesus pareciam familiares
nesse cenário em volta do Mar da Galiléia. Uma família de peixes que habitam nesse
mar é chamada de Chichlidae, ou reprodutores pela boca. Ela só é encontrada no Lago
Vitória (Uganda), ao longo do rio Nilo, e no Mar da Galiléia. O cartógrafo Dr. Jim
Fleming (....) explica seu significado: “A fêmea conserva os ovos na boca até que
nasçam os filhotes. À medida que eles começam a crescer, ela os deixa sair de tempos
em tempos para “arejar”, mas os recolhe depressa quando pressente perigo. A mãe
jejua até quase a inanição, a fim de não engolir seus filhotes. Esses instintos fortes
provocaram o nome hebreu “Peixe-Mãe” para a espécie. Depois de os filhotes estarem
aptos para sobreviver sozinhos, a mãe muitas vezes mantém um substituto na boca. As
fêmeas são algumas vezes apanhadas hoje com seixos ou tampas de garrafa na boca! O
nome popular desses peixes é “peixe de São Pedro”,por causa da história no
evangelho de Mateus 17:24-27 sobre Pedro fisgar um peixe com uma moeda na boca”.
(...) A pequena cidade de Betfagé fica na encosta do Monte das Oliveiras do outro
lado de Jerusalém. Ela toma o seu nome de uma fruta temporã que cresce nas figueiras
da região. A fruta é chamada phage em hebraico e aparece no início da primavera,
com as primeiras folhas. Você já se perguntou por que Jesus estava procurando figos
na figueira quando o texto diz especificamente que “porque não era tempo de figos”? A
resposta é que embora não fosse a estação de figos (gr. sukon, “figos maduros”)o
fato de a árvore ter folhas indicava que ela também deveria ter os figos temporãos
(phage), qu eram comestíveis. Desde que a árvore não tinha frutos, Jesus parece tê-la
usado como uma lição objetiva para advertir contra mostrar algo pela nossa
aparência, mas não ter fruto com que apoiá-lo (Mc. 11:12-14). (...)
Em Jerusalém, dos degraus do lado sul do templo onde os rabinos geralmente se
dirigiam a seus pupilos, as sepulturas caiadas de branco que cobrem o Monte das
Oliveiras são claramente visíveis. Jesus provavelmente olhou nesta direção quando
disse: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Porque sois semelhantes aos
sepulcros caiados, que por fora se mostram belos, mas interiormente estão cheios de
ossos mortos, e de toda a imundícia. Assim também vós exteriormente pareceis justos
aos homens, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e iniqüidade21”. (Mt. 23:27-
28).
Alguns destes assuntos são pré requisitos para entendermos a proposta do capítulo
que ora estamos. Se o texto to NT é confiável, pelas evidências, então é de suma
importância observarmos com cuidado o que Jesus disse acerca de si mesmo, nos
evangelhos, e o que a Bíblia, de modo geral, diz acerca de Cristo, desde as profecias, até
as páginas dos escritos dos apóstolos. De todos os escritos evangélicos, porém, o que
mais centraliza-se neste assunto é o evangelho de João. Neste evangelho, Jesus é tratado
de forma distinta dos outros evangelhos (sinóticos). Entender as reivindicações de Jesus
acerca de si mesmo, é tentar perscrutar a teologia do texto de João, na qual há os mais
belos ensinos acerca da divindade de Jesus dentre os demais, em toda a Escritura. Neste
1 – Pluralismo: pensamento filosófico que admite uma visão relativa da verdade.
2 – GEISLER, Normam – Fundamentos Inabaláveis, p. 21
3 – A Lei do Terceiro Excluído afirma que uma coisa não pode ser, ao mesmo tempo, A e –A, ou seja, algo e o seu oposto.
APOLOGÉTICA CRISTÃ 5
Conceitos Fundamentais: Perspectiva Filosófica
momento peço-lhe que leia atentamente as informações postas, anote sempre as dúvidas
e trabalhe com as regras de Hermenêutica para que possa traçar um panorama confiável
do que a Bíblia afirma sobre a pessoa de Jesus Cristo.
6.1.1 – “Cristo” significa que Jesus era o Messias (hb. Mashiach), ou seja, o
“Ungido”. Sabe-se que havia três tipos básicos de “ungidos” na perspectiva vétero
testamentária, a saber:
• O rei de Israel, a partir do período monárquico. Os reis deveriam ser
ungidos pelo sumo sacerdote para o ofício. Após Samuel ungir Saul, o sub título
“ungido” permanece consigo. Cf. 1 Sm. 24:10; 2 Sm. 22:51
• O sumo sacerdote, desde o estabelecimento do ofício sacerdotal, nos dias
de Moisés e Arão. Cf. Lv. 8:12.
• O Ungido prometido, este seria o “restaurador” e “libertador eterno” de
Israel. Traria, de acordo com a concepção judaica dos dias de Jesus, a paz e a
prosperidade para Israel, conforme os dias do rei Davi. Este Messias fora predito no AT
por textos que viriam a ser interpretados claramente como textos messiânicos, como o
Salmo 22 e o capítulo 61 de Isaías. Quanto a este último, Jesus testifica-o acerca de si
mesmo, em Lucas capítulo 4.
Mateus é o escritor evangélico que mais dispensa atenção ao título Messias, pois
era de seu interesse mostrar aos seus destinatários, os judeus, que Jesus era o Cristo. O
artigo “o” identifica que o “Ungido” nos dias Jesus assumiria uma conotação profética,
mística, pouco compreensível até, inclusive para os judeus. O messias seria um homem
comum? Seria um enviado, um mensageiro de Deus? Eram perguntas que permeavam a
mente dos israelitas. Em Mateus 16, observamos o interesse de Jesus em saber o que os
homens pensavam acerca dele mesmo. A resposta dos discípulos, sobre o que os
homens achavam sobre Jesus, demonstra o que eles pensavam. Esta resposta encontra-
se no versículo 14, e mostra que os homens associavam o ministério de Jesus a um
ministério profético sob os moldes do ministério profético do AT. Contudo, a resposta
de Pedro indica que ele sabia bem quem Jesus era. A resposta de Pedro, em Mateus
16:16, constitui-se no motivo de João ter escrito o seu evangelho: mostrar que Jesus é
o Cristo, o Filho do Deus vivo.
6.1.2 - A filiação para o judeu tinha um caráter mais excepcional do que para nós,
ocidentais, hoje. A filiação significava natureza. Ser filho de alguém significava, em
última análise, compartilhar da natureza daquele indivíduo. Ser “Filho de Deus”
significava compartilhar da natureza de Deus (cf. Jo. 5:18), e apenas a uma pessoa ao
longo da História foi dado este atributo, Adão. Uma coisa, porém, era dizer-se igual a
Adão, outra coisa era dizer-se igual a Deus. E é aí que há um fator desconcertante nos
ensinos de João: o registro das auto reivindicações de Jesus, com a forma “EU SOU”. O
uso do termo “Eu Sou” tinha um especial interesse aos judeus e rabinos da época, pois,
para eles, estava clara a associação com a utilização da mesma forma por Deus, no
Velho Testamento:
“Respondeu Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos
olhos de Israel: EU SOU ( hyh, hayah – texto hebraico; egw eimi, ‘egô eimí’ –
LXX: tornar-se, ser, vir a ser, acontecer, existir) me enviou a vós.” Êxodo 3:14
“Disseram-lhe, pois, os judeus: Ainda não tens cinqüenta anos e viste a Abraão?
Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que, antes que Abraão existisse,
EU SOU. Então pegaram em pedras para lhe atirarem, mas Jesus ocultou-se, e saiu do
templo passando por meio deles, e assim se retirou”. João 8:57-59
“Se vocês não crerem que EU SOU, de fato morrerão em vossos pecados”. João
8:24
• “Jesus disse: “Eu sou o bom pastor” (Jo. 10:11); o AT declarou : “Iahweh
(SENHOR) é o meu pastor” (Sl. 23:1).
• Jesus declarou ser o juiz de todos os homens e de todas as nações (Jo.
5:27; Mt. 25;31).
• Jesus disse: “Eu Sou a luz do mundo” (Jo. 8:12); o AT proclamou:
“Iahweh é luz para sempre” (Is. 60:19). “Iahweh é minha luz” (Sl. 27:1).
• Jesus afirmou que podia “perdoar pecados” (Mc. 2:5), e os judeus
reagiram a ele dizendo: “Quem pode perdoar pecados, a não ser Deus?” (Mc. 2:7). Jesus
então provou sua autoridade pela cua miraculosa (Mc. 2:10-12; contudo, Jeremias 31:34
afirma que “Porque eu (Deus) lhes perdoarei”.
• Jesus declarou ser o doador da vida (Jo. 5:21-23). Somente Deus dá a vida
(1 Sm. 2:6; Dt. 32:39).
• Finalmente, Jesus disse: “Eu e o Pai somos um” (Jo. 10:30). O termo um
refere-se à essência ou natureza do Ser divino”.
6.1.3 - A tabela a seguir associa alguns títulos usados exclusivamente por Deus
(YHWH)23 no Antigo Testamento, e os relaciona com Jesus, em passagens do Novo
Testamento. A tabela é uma reprodução do Trabalho de Josh McDowell e Bart Larson,
no livro “Jesus: uma defesa bíblica de sua divindade”, reproduzida no livro
“Fundamentos Inabaláveis”, de Geisler e Bocchino:
João apresenta a Jesus como o “Logos” de Deus (Jo. 1:1; 1 Jo. 1:13; Ap. 19:13).
Este termo, da forma como foi usada por João, apresenta similaridades e discrepâncias
quanto ao conceito, se comparado com o termo como era usado na filosofia grega. De
forma geral, para os gregos, o logos era razão, e refletia o pensamento de que Deus não
poderia entrar em contato diretamente com a matéria, mas utilizava-se da razão como
um sensor divisório entre si e o mundo. Assim o logos do pensamento grego era a razão
de Deus e da ordem do mundo sensível, criado. Contudo, o logos de João relacionava-se
mais ao uso que a expressão tinha comumente, “palavra”. Em última análise, a palavra é
a expressão absoluta de um pensamento, sendo um meio pelo qual o pensamento se
revele. A associação com o pensamento grego fora inevitável, e alguns viram isto de
forma benéfica, sugerindo que a filosofia grega preparou o mundo para o recebimento
desta mensagem. Alguns gnósticos viram similaridade entre o pensamento neoplatônico
grego e o uso da expressão em João, sugerindo um evangelho gnóstico. Porém, percebe-
se que o evangelho traz uma idéia latente radicalmente diferente da usada pelos
filósofos neoplatônicos, como Filo.
A expressão tinha mais a ver, segundo alguns eruditos, com o uso de “palavra” no
Velho Testamento. A expressão “Verbo” vem do latim (Verbum = logoj, palavra). No
hebraico, dabar (palavra) é usada 394 vezes, é a expressão virtualmente concreta da
personalidade divina. A idéia é a de que “Deus é aquilo que ele diz”. O salmo 119
mostra esta “palavra” como fonte de vida (vs. 25), da luz (vs. 105) e do entendimento
(vs. 169). Na LXX, logos e rhema são usadas para traduzir dabar. Contudo, logos tem
proeminência no uso, principalmente nos livros proféticos. O “Verbo”que no princípio
esta com Deus, ao mesmo tempo é Deus:
1 – Pluralismo: pensamento filosófico que admite uma visão relativa da verdade.
2 – GEISLER, Normam – Fundamentos Inabaláveis, p. 21
3 – A Lei do Terceiro Excluído afirma que uma coisa não pode ser, ao mesmo tempo, A e –A, ou seja, algo e o seu oposto.
APOLOGÉTICA CRISTÃ 5
Conceitos Fundamentais: Perspectiva Filosófica
Jesus Cristo fez 7 célebres discursos em João, nos quais figuradamente relaciona a
si mesmo com figuras conhecidas do cotidiano judaico de sua época, e que, nas páginas
do Antigo Testamento, foram usadas com bastante significação. Vejamo-las:
6.2.1 – O Pão da Vida – Em Êx. 16:15 está escrito que os israelitas, no deserto,
comiam do Maná (hb. sig, “o que é isto?”). O maná precisava ser recolhido
diariamente, pois se ficasse para outro dia, amanheceria estragado. Por ser a base da
nutrição israelita naquele período, o Sl. 78:24-25 afirma que Deus lhes dera o trigo do
céu. No versículo 41 do capítulo 6 de João, Jesus afirma acerca de si mesmo:
6.2.2 – A Luz do Mundo – Jesus diz de si mesmo: “Eu sou a luz do mundo”, em
Jo. 8:12. Como vimos, o salmista, no Salmo 119:105 diz que a Palavra do Senhor é luz
para o seu caminho. Obviamente que Jesus fazia um paralelo com texto tão conhecido.
O Salmo 119 era especialmente observado por ser um salmo que fala inteiramente da
Palavra de Deus. É o maior salmo da Bíblia, e é dedicado exclusivamente a fazer
referências sobre a Palavra de Deus. Jesus, em outras palavras, está dizendo novamente
que ele mesmo é a Palavra.
6.2.3 – A Porta das Ovelhas – Esta terceira figura, “porta das ovelhas” (10:9), que
Jesus usa para falar acerca de si mesmo, funciona quando observamos o contexto, quase
como um preparativo para a próxima figura usada por ele, a do Bom Pastor (10:11).
Somente o pastor das ovelhas passaria pela porta, isto porque era costume dos pastores
israelitas ficarem de guarda nos currais das suas ovelhas. Muitos dormiam inclusive
nestes currais, e somente os que guardassem as ovelhas estariam autorizados a entrarem
pela porta. A “porta” tinha uma finalidade: levar aquele que adentrasse por ela a “achar
pastagens” (vs. 9). O que isto significa? No mesmo versículo Jesus afirma que aquele
que passar pela porta, “entrará e sairá...”, esta é uma expressão que nitidamente
relaciona-se à liberdade! No capítulo 8 de João, versículos 31 e 32, está escrito:
“Jesus dizia, pois, aos judeus que criam nele: Se vós permanecerdes em minha
palavra, verdadeiramente sereis os meus discípulos, e conhecereis a verdade, e a
verdade vos libertará”.
2 Tm. 4:16 e provavelmente em 1 Pe. 3:15-16. Nesta última referência, Pedro orienta a
Igreja a responder a razão da esperança que há em nós. Isto, em última análise,
consistirá na Verdade absoluta (lembre-se do que já vimos sobre verdade, na Filosofia).
Toda argumentação deve basear-se em verdades, não em conjecturas, pois as mesmas,
perante um tribunal, não se igualam: a verdade prevalece sobre a conjectura. Jesus
afirma categoricamente, em João 17:17 que a Palavra de Deus é a Verdade:
“Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador. Toda vara que em mim não
dá fruto, a tira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto. Vós já estais
limpos pela palavra que vos tenho falado”. Jo. 15:1-3
Somos nutridos, como varas que estão enxertadas na Videira, que é próprio
Senhor Jesus. Observe que, como a seiva nutre interiormente, a limpeza pela Palavra é
interior.
É nítida a idéia de Jesus, pelo relato dos evangelhos, cria que era Deus. Os
milagres (sinais) testificaram isto. Não é à toa, portanto, que João inicia seu evangelho
afirmando que, no início era a Palavra... e a Palavra era Deus. Por todo o seu
evangelho, João relaciona Jesus com a Palavra de Deus, e isto está presente nos
discursos de Cristo. Há sete sinais em João, e ele, distintamente dos sinóticos, apresenta
os sinais (milagres) não apenas como eventos escatológicos, mas como ações
sobrenaturais de Deus para exemplificar verdades inerentes que o próprio Deus quis
transmitir. Interessante que o último destes sinais relatados em João fora a ressurreição
de Lázaro (Jo. 11:1-46), o que apontava diretamente para o último milagre relatado no
evangelho, que seria a sua própria ressurreição (Jo. 20:1-10).
NOTAS – ______________________________________________________________
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7. BIBLIOGRAFIA
APOLOGÉTICA CRISTÃ
SUMÁRIO
TEODICÉIA_______________________________________________________ 19
BIBLIOGRAFIA_____________________________________________________ 36
APRESENTAÇÃO