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Índice

1 Introdução.................................................................................................................. 5
1.1 Objectivos .......................................................................................................... 5
1.1.1 Objectivo Geral........................................................................................... 5
1.1.2 Objectivos Específicos ............................................................................... 5
1.2 Metodologia ....................................................................................................... 5
2 CRÍTICA DA RAZAO PURA DE EMMANUEL KANT ....................................... 6
3 O racionalismo (Juízos) ............................................................................................. 7
3.1 Juízos Analíticos ................................................................................................ 7
3.2 Juízo Sintético .................................................................................................... 8
3.3 Juízo Sintético Apriori ....................................................................................... 8
3.4 Os Problemas do Conhecimento ........................................................................ 9
4 Limites da Razão ..................................................................................................... 10
4.1 Os Problemas da Metafísica ............................................................................ 10
4.1.1 Fenómeno ................................................................................................. 10
4.1.2 Númeno .................................................................................................... 10
5 CRÍTICA DA RAZAO PRATICA ......................................................................... 11
5.1 Moralidade ....................................................................................................... 12
5.2 Autonomia ....................................................................................................... 15
6 CRÍTICA DA FACULDADE DE JULGAR EM IMMANUEL KANT ................ 15
7 Conclusão ................................................................................................................ 18
8 Bibliografia.............................................................................................................. 19

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1 Introdução
Não se pode duvidar de que todos os nossos conhecimentos começam com a
experiência, porque, com efeito, como haveria de exercitar-se a faculdade de se
conhecer, se não fosse pelos objectos que, excitando os nossos sentidos, de uma parte,
produzem por si mesmos representações, e de outra parte, impulsionam a nossa
inteligência (kant). Mais, é pela posse da verdade que se pensa adquirir garantias sobre
o que se sabe. São os critérios da verdade que justificam varias construções humanas, e
mais. Particularmente, uma ciência que se pretende rigorosa e eficaz.
Assim, um desafio filosófico difícil apresenta-se recursivamente ao espírito humano,
consistindo esse desafio perceber com exactidão se aquilo que se pensa corresponde
efectivamente a realidade exterior ao pensamento.
O trabalho académico em apreço consiste na apresentação das teorias do filósofo
alemão Kant, baseadas na procura do entendimento sobre o conhecimento humano, na
transferência do conhecimento teórico para o prático, agindo de acordo com a sua
autonomia, liberdade e moral, baseando-se nas suas obras como: crítica da razão pura,
crítica da razão pratica e crítica da faculdade de julgar em kant.
Para uma introdução prévia, procurou-se criar condições de debruçar baseando-se no
levantamento bibliográfico, empírico reflexivo.

1.1 Objectivos
1.1.1 Objectivo Geral
➢ Analisar e Compreender as criticas de Immanuel Kant.

1.1.2 Objectivos Específicos


➢ Analisar a autonomia e limites da razão em Immanuel Kant;
➢ Definir cada uma das críticas;
➢ Descrever cada crítica de Immanuel Kant.

1.2 Metodologia

O presente trabalho compreende o método bibliográfico, bibliográfico que consiste no


levantamento bibliográfico de várias obras físicas ou electrónicas. O trabalho sendo de
cunho académico, leva com sigo uma estruturação composta por elementos pré-textuais,
textuais e pós-textuais.

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2 CRÍTICA DA RAZAO PURA DE EMMANUEL KANT
Immanuel Kant (1724 1804) é reputado como o maior filósofo após os antigos gregos.
Nasceu em Königsberg, Prússia Oriental, como filho de um artesão humilde; estudou no
Colégio Fridericianum e na Universidade de Königsberg, na qual se tornou professor
catedrático. Não foi casado, não teve filhos e nunca saiu da sua cidade natal. Levou uma
vida extremamente metódica; conta-se que os habitantes de sua cidade acertavam os
seus relógios quando o viam sair para passear às 3 h e 30 min da tarde.

A Crítica da Razão Pura é o livro em que Kant separa os domínios da ciência e da


acção. Para kant, o conhecimento se constrói a partir do fenómeno que alia a intuição
sensível ao conceito do intelecto. Assim, são as categorias lógicas que constituem
objectos, permitindo que possam ser conhecidos de forma universal e necessária.

A Crítica do Juízo (Kritik der Urteilskraft, 1790) foi das grandes obras de Kant, que na
época teve mais magra recepção. Além disso, Kant tem o mérito de ter realizado uma
síntese entre o racionalismo dogmático e o empirismo céptico, demonstrando que tanto
a razão como a experiência possuem limites.

Que todo o nosso conhecimento começa com a experiência, não há dúvida alguma, pois,
do contrário, por meio do que a faculdade de conhecimento deveria ser despertada para
o exercício senão através de objectos que tocam nossos sentidos e em parte produzem
por si próprios representações, em parte põem em movimento a actividade do nosso
entendimento para compará-las, conectá-las ou separá-las e, desse modo, assimilar a
matéria bruta das impressões sensíveis a um conhecimento dos objectos que se chama
experiência.
Kant afirmou que apesar da origem do conhecimento ser a experiência
se alinhando aí com o empirismo, existem certas condições a priori para
que as impressões sensíveis se convertam em conhecimento fazendo
assim uma concessão ao racionalismo. Esta concessão ao racionalismo
não devia ser levada ao extremo, pois "todo o conhecimento das coisas
proveniente só do puro entendimento ou da razão pura não passa de
ilusão; só na experiência há verdade" (Kant apud Pascal, 1999; p. 45).

“Se não começarmos da experiência ou se não procedermos segundo leis de


interconexão empírica dos fenómenos, nos vangloriamos em vão de querer adivinhar ou
procurar a existência de qualquer coisa (Kant, 1987; p. 273/274)”.

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A reflexão kantiana tentou mostrar que a dicotomia empirismo/racionalismo requer uma
solução intermediária já que "pensamentos sem conteúdo são vazios; intuições sem
conceitos são cegas.

3 O racionalismo (Juízos)
O racionalismo é a posição epistemológica que vê no pensamento, na razão, a fonte
principal do conhecimento (Hessen, 1987, p. 60); O racionalismo dogmático visava a
conhecer seus objectos absolutamente a priori, defendia com rigor a origem do
conhecimento pela razão, fundamentado no princípio das ideias inatas e no método
dedutivo-matemático. Os dogmáticos acreditavam no poder exclusivo da razão e
apoiavam-se nos domínios dos juízos analíticos de explicação, Assim, através do
princípio de identidade, que apresenta universalidade e necessidade rigorosas,
pretendiam os racionalistas demonstrar a validade e a verdade acerca dos seus
pressupostos científicos.

Já no início da Crítica da razão pura encontra-se a afirmação de que "somos possuidores


de certos conhecimentos a priori e mesmo o entendimento comum jamais está
desprovido deles" (Kant, 1987; p. 3). Por "conhecimentos a priori entenderemos não os
que ocorrem de modo independente desta ou daquela experiência, mas absolutamente
independente de toda a experiência" (Kant, 1987; p. 3. Grifo no original). Os
conhecimentos a posteriori são os "que derivam da experiência ou que dela dependem"
(Lalande, 1993; p. 82), portanto inexistentes sem a experiência

3.1 Juízos Analíticos


Nos juízos analíticos, pela simples análise do conceito, podemos determinar,
anteriormente a qualquer experiência, o valor de verdade de uma proposição. Com isso,
ao dizer que o predicado B pertence ao sujeito A como algo que está implicitamente
contido nesse conceito A [KANT, 1994, p. 42], formulou-se um juízo de explicação que
possui uma verdade objectiva. Entretanto, os juízos de explicação dizem apenas o óbvio
e nada acrescentam ao nosso conhecimento. Na proposição “a bola é redonda”, poder-
se-á considerar que o predicado ‘redondo’ está contido no conceito do sujeito ‘bola’.
Portanto, tal proposição é um juízo analítico, pois podemos saber apriori a verdade
desse juízo sem recorrer à experiência. “Em sentido estrito, (o racionalismo é o)
conjunto das filosofias que sustentam que basta o pensamento puro, tanto para a ciência
formal, como para a ciência fática" (Bunge, 1986; p. 165)”.

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3.2 Juízo Sintético
Ao contrário do racionalismo dogmático, o empirismo céptico fazia severas críticas à
concepção de ideias inatas e buscava compreender a ciência sempre por meio dos juízos
sintéticos, a posteriori, juízos de experiência. Tais juízos são capazes de acrescentar
algo ao sujeito, porque são progressivos e fornecedores de conteúdo empírico. Kant
chama a esses juízos “sintéticos” devido ao fato de possuírem o conteúdo retirado da
experiência sensível. Assim, os empiristas cépticos defendiam o conhecimento pela
experiência e emitiam juízos de extensão, os quais possuem um predicado “B
totalmente fora do conceito A, embora em ligação com ele” Porém, nos juízos
sintéticos, essa ligação não é pensada por identidade do tipo a=a, mas do tipo a=b. (kant,
1994, p. 42).

3.3 Juízo Sintético Apriori


Apesar de as duas posições conterem o argumento de maneira rigorosa, Kant encontra
determinados juízos que são formados tanto pelo elemento sintético como pelo
componente a priori. Nas palavras de Kant, a proposição “toda mudança tem que ter
necessariamente uma causa” nos conduz pensá-la de modo analítico, devido ao fato de
ser rigorosamente universal e necessária; porém, essa proposição é sintética a priori,
porque, apesar de ser universal e necessária, o conceito de ‘mudança’ somente pode ser
obtido através da experiência. Entretanto, é notória a existência de conhecimentos
absolutamente universais necessários; quando encontramos tais características
(universalidade e necessidade), temos a certeza de dispormos de um conhecimento a
priori. (Kant, 1987; p. 11. Grifo no original)

Anteriormente, em Kant admitiam-se dois tipos de juízos ou proposições: os analíticos


a priori e os sintéticos a posteriori. A sua grande "revolução copernicana" passou por
admitir uma terceira classe: os juízos sintéticos a priori. Estes são necessários e
universais como os juízos analíticos, mas efectivamente ampliam o conhecimento.

Como pudemos observar, temos de um lado o juízo analítico, que possui universalidade
e necessidade, mas que é incapaz de nos acrescentar qualquer conhecimento; de outro
lado temos o juízo sintético, tirado da experiência, que possui a capacidade de
acrescentar conhecimentos devido ao fato de possuir um conteúdo de experiência, mas
que não posso, de modo algum, pensá-lo de maneira universal e a necessária.

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O conhecimento como síntese a priori é possível, uma vez que ele pode dar tanto a
universalidade e a necessidade rigorosa como a matéria ou conteúdo proveniente do
mundo exterior. Esta é a descoberta genial de Kant:
O juízo sintético a priori, que reúne o conteúdo e a forma. A síntese
concretizada por Kant supera, no entanto, através dos juízos sintéticos a
priori, a concepção racionalista dogmática pautada em juízos de
explicação e a concepção empirista céptica fundamentada nos juízos de
extensão. (Idem)

3.4 Os Problemas do Conhecimento


A questão aqui colocada é, no entanto, a possibilidade ou não da validade e da
aplicabilidade dos juízos sintéticos a priori, no mundo do conhecimento. Segundo Kant,
“todo o nosso conhecimento começa pelos sentidos, daí passa ao entendimento e
termina na razão, acima da qual nada se encontra em nós mais elevado que elabore a
matéria da intuição e a traga a mais alta unidade de pensamento” [KANT, 1994, p. 298].
São as formas a priori existentes no homem que permitem o conhecimento

Ao invés de fazer o espírito gravitar em torno das coisas, Kant mostrou que as coisas
giram em torno do espírito. “A natureza é, em parte, obra do homem, de sua
sensibilidade e do seu pensamento”. É fundamentado nesse princípio que Kant faz uso
do termo “transcendental” e não do “transcendente”.
O transcendental, são as condições do sujeito e as suas faculdades a priori que
possibilitam toda a relação de conhecimento.
O elemento transcendente, por sua vez, é incondicionado, não pode ser objecto de
conhecimento, pois ele transcende, de maneira a ultrapassar, as faculdades de
conhecimento do homem. A consciência do homem permite a ele próprio estabelecer a
unidade na multiplicidade fornecida pelo mundo sensível.

Ao estabelecer as relações acerca das doze categorias, (totalidade, pluralidade, unidade,


afirmação, negação, limitação, substancialidade, causalidade, acção recíproca, realida-
de, necessidade e possibilidade), Kant procura demonstrar que a Física é a aplicação dos
conceitos do entendimento aos objectos fornecidos pela intuição.
Assim, a filosofia kantiana termina por resolver, segundo o seu sistema, a problemática
essencial do conhecimento, ou seja, a validade e a aplicabilidade dos juízos sintéticos a
priori na matemática e nas ciências naturais.

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Portanto fica ainda uma indagação: é possível aplicar juízos sintéticos a priori à
metafísica? Em outras palavras é possível uma metafísica como ciência? Kant agora
pretende saber quais são os limites da razão humana.

4 Limites da Razão
4.1 Os Problemas da Metafísica
Kant expõe, na Crítica da Razão Pura, a dialéctica transcendental, que trata da
impossibilidade da metafísica como conhecimento do nôumeno. Na ordem das
condições, a tentativa arrogante de completar de modo absoluto a unidade dos
fenómenos leva a razão a buscar o incondicionado e ultrapassar os seus limites,
chegando assim, a uma ilusão natural, conhecimento aparente e inevitável.

De acordo com Kant Para se entender, com precisão, o problema geral da metafísica,
precisamos compreender a diferença existente entre fenómeno e númeno.

4.1.1 Fenómeno
Para Kant, a coisa tal como ela nos aparece, o indeterminado, que constitui os vários
elementos do mundo sensível ou fenomênico, é aquilo que as faculdades cognitivas do
homem podem perceber e trazer à unidade dando origem ao conhecimento.

4.1.2 Númeno
Kant denomina “coisa em si”, “coisa incognoscível” ou “ser de pensamento”, que não
pode, em hipótese alguma, ser conhecido. Para que haja conhecimento, o objecto não
pode ser desprovido de conteúdo; o númeno é uma ideia da razão que não se sujeita às
formas inseparáveis da sensibilidade e do entendimento humano. A crítica de Kant
estabeleceu que tais juízos somente podem ser aplicados ao mundo sensível; são válidos
unicamente para objectos de conteúdo concreto. Portanto, os limites do conhecimento
são, portanto, a experiência sensível. A metafísica como ciência é impossível, diz Kant:

o fato da metafísica até hoje se ter mantido em estado tão vacilante


entre incertezas e contradições é simplesmente devido a não se ter
pensado mais cedo neste problema, nem talvez mesmo na distinção
entre juízos analíticos e juízos sintéticos. A salvação ou ruína da
metafísica assenta na solução deste problema ou numa demonstração
satisfatória de que não há realmente possibilidade de resolver o que ela
pretende ver esclarecido [KANT, 1994, p. 49].
Kant rejeita a teoria ontológica a priorr da existência de Deus. O criticismo de Kant
demonstra que quando pensamos “um ser (sem defeitos mantém-se sempre o problema
de saber se existe ou não” [KANT, 1994, p. 505]. Considerando o conteúdo a posteriori
como limite do conhecimento, compreende-se que na filosofia de Kant a realidade é

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uma categoria do intelecto que somente possui validade rigorosa quando aplicada aos
fenómenos.

Num uso puramente teórico desta categoria, na busca da demonstração de um númeno, a


razão extrapola seus limites e cai em contradição. A prova ontológica é falaciosa por
“confundir a existência da coisa com o simples conceito da coisa” [Idem]. O ser
absoluto constitui uma ideia da razão que ultrapassa os limites da experiência sensível e
encontra-se muito além do entendimento humano.

A filosofia kantiana, então, vem demonstrar que os objectos da metafísica são seres
noumênicos, que se encontram para além do mundo da experiência possível. “A razão
especulativa é um princípio de unidade. Leva o entendimento a unificar, a sistematizar,
o esforço satisfatório quando se aplica ao mundo dos fenómenos. Mas, num uso teórico,
a razão procura ultrapassar o mundo dos fenómenos; daí a ilusão metafísica. A razão
tem a crença de que pode pensar melhor saindo do mundo sensível, mundo dos
fenómenos, para chegar ao incondicionado; porém, o que acontece é a ilusão de se ter
alcançado o conhecimento dos objectos noumênicos, nesse sentido, o que acontece,
quando o homem tem essa intenção, é o fato de sua razão cair no vazio.

5 CRÍTICA DA RAZAO PRATICA


A busca e determinação de um princípio último de moralidade é o objectivo central da
filosofia prática de Kant. Legítimo filho do Iluminismo, aposta na autonomia da razão e
na "maioridade" do homem. Encontra no "uso público" da razão a defesa incondicional
da liberdade. Sua filosofia moral deve, no entanto, ser devidamente situada a partir da
filosofia do conhecimento desenvolvida na Crítica da Razão Pura. Isto inclui uma clara
delimitação do âmbito da razão teórica e da razão prática; ou seja, deve-se submeter a
razão à avaliação de si mesma, isto é, à crítica.

O problema, portanto, é investigar como pode uma razão pura ser prática, ou seja,
como pode a razão determinar não só as condições do conhecimento, mas também,
imediatamente, a vontade.

Em termos gerais, a razão prática é aquela que tenta responder à pergunta posta pela
mesma razão: “O que devo eu fazer?”. Portanto, preocupa-se em descobrir os princípios
norteadores da acção moral. Esses princípios só poderão ser apontados pela razão, a
qual, de especulativa (pura) torna-se prática. Mas é a mesma razão, que antes visava o

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conhecer, agora visa o fazer. Por isso, não pode haver oposição entre as duas e sim
complementação, sendo apenas dois usos diferentes da mesma razão humana.
É pelo uso prático da razão que Kant pode chegar a estabelecer a realidade da liberdade
teórica, transformando o “poder ser” dela em “ser”. Para que isso aconteça é suficiente
mostrar, pelo menos, um caso real, um fato qualquer de acções que impliquem uma
causalidade livre.

A efectividade da razão prática pura e a realidade objectiva do conceito de


liberdade
No prefácio à segunda Crítica, Kant argumenta que apenas a determinação dos
conceitos de “moralidade” e “liberdade” permite explicar em que consiste o “númeno”
que a primeira Crítica propunha colocar como “fundamento” dos fenómenos e, além
disso, como é possível formar um conceito de númeno, apesar da limitação das
categorias ao seu uso empírico. Nas palavras de Kant, “apenas uma crítica minuciosa da
razão prática pode suprimir essa má-interpretação e colocar sob uma luz clara o modo
de pensar consequente que constitui precisamente sua maior vantagem” (KpV, AA
05:6-7).
Para estabelecer a razão pura como sendo efectivamente prática e atribuir realidade
objectiva ao conceito de liberdade, tanto em sentido positivo quanto em sentido
transcendental, Kant não recorre à distinção entre dois pontos de vista sobre o sujeito,
nem a seu pertencimento a um mundo inteligível.
O primeiro passo de Kant na Analítica consiste em estabelecer o princípio fundamental
da razão prática pura, mediante uma comparação entre dois modos de operar da razão
em relação à vontade: quando esta é condicionada empiricamente e quando é
condicionada pela razão.

No primeiro modo, o fundamento de determinação da vontade não é fornecido pela


própria razão, mas pelo objecto de desejo da vontade (fins postos de acordo com
inclinações ou interesses).

5.1 Moralidade
Kant define a moralidade como “a relação das acções com a autonomia da vontade, isto
é, com a legislação universal possível através das máximas” do sujeito agente (GMS,
AA, 04: 439). Nesse sentido, é permitida a acção que estiver de acordo com a
autonomia da vontade e proibida a que estiver em desacordo com a mesma.

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Para nos, seres racionais sensíveis, o princípio de autonomia se estabelece numa relação
de dependência, através da obrigação moral, no que se refere às acções. Essa obrigação
constitui-se como uma necessidade objectiva e chama-se dever (GMS, AA, 04: 439).
Este caso, os princípios práticos que determinam a vontade a agir são meramente
subjectivos, porque valem apenas para uma vontade particular.
Esses princípios permanecem, portanto, apenas como máximas (KpV,
AA 05: 19), princípios subjectivos para o “meu querer e o meu agir”
(Bittner, 2003, p. 8). Ainda que a razão possa cumprir aqui algum papel
no estabelecimento dos meios para que a vontade alcance os seus fins
desejados, as regras práticas por ela fornecidas são condicionadas pelos
fins e se expressam em imperativos apenas hipotéticos.

O segundo passo da argumentação, Kant apresenta o estreito vínculo entre essa


determinação da vontade com base na “forma legislativa” da máxima e o conceito de
liberdade da vontade. Esse vínculo é explicitado mediante a posição de dois problemas
(Aufgaben). Kant parte da suposição da possibilidade de determinar a vontade mediante
a “forma legislativa” da máxima de sua acção, para perguntar pela natureza dessa
vontade.
O terceiro passo de sua argumentação, que consiste em mostrar que a razão pura é
efectivamente prática, ou seja, determina incondicionalmente a vontade a agir.
Kant afirma:
Pode-se denominar a consciência dessa lei fundamental um fato da
razão (Factum der Vernunft), porque não se pode inferi-la sutilmente a
partir de dados (Datis) precedentes da razão, por exemplo, da
consciência da liberdade (pois esta não nos é dada previamente), mas
(sondern) porque ela se impõe a nós por si mesma como proposição
sintética a priori que não está fundada em nenhuma intuição, nem pura,
nem empírica, se bem que ela seria analítica se pressupuséssemos a
liberdade da vontade, mas para isso seria exigida, sendo a liberdade um
conceito positivo, uma intuição intelectual, que aqui não nos é
permitido admitir de modo algum. Contudo, para considerar, sem
nenhum mal-entendido, essa lei como dada, temos de observar que não
é nenhum fato empírico, mas antes o único fato da razão pura (Factum
der reinen Vernunft ) que se anuncia como originariamente legislativa
(sic volo, sic jubeo). (KpV, AA 05: 31)

Kant argumenta que a consciência da lei fundamental pode ser considerada como um
fato (Faktum) da razão porque ela “se impõe a nós por si mesma como proposição
sintética a priori”. Dois elementos mostram-se fundamentais para a compreensão deste
argumento. De um lado, o carácter de incondicionalidade da lei moral, que denota uma
actividade da razão prática pura; e, de outro lado, o modo como esta lei é imposta “a
nós”, isto é, à nossa vontade finita (humana) como uma necessitação (Nötigung),

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consistindo assim em uma proposição sintética a priori e não em uma proposição
analítica.
De acordo com Kant é a razão que aqui determina a vontade. Nesta medida, a
determinação da vontade é seu “ato” (Tat) – ou o seu “feito” (Factum). Estas passagens
não deixam dúvida alguma de que o “Fato (Factum) da razão pura” não é simplesmente
um fato (Tatsache) independente da razão, que se tem de admitir passivamente, mas
uma actividade (Aktivität) ou exercício (Leistung) da razão. Só assim pode-se justificar
a exigência de validade universal que Kant vincula a esse Faktum. Além disso, há uma
conexão imediata entre a tese de que a razão pura é prática e o “fato” (Factum) da razão
pura: a razão pura é prática, na medida em que ela “faz” (tut) algo, portanto, mediante
um “fato” (Factum).

A autonomia da vontade é o único princípio de todas as leis morais e dos deveres


conformes a essas leis: toda heteronomia do arbítrio, ao contrário, não somente não
funda nenhuma obrigação (Verbindlichkeit), mas é além disso oposta ao princípio da
obrigação e da moralidade da vontade.
A legislação própria da razão pura e, enquanto tal, prática, é a liberdade em sentido
positivo. Portanto, a lei moral não exprime nada além do que a autonomia da razão
prática pura, isto é, a liberdade e esta autonomia é, ela própria, a condição formal de
todas as máximas, unicamente sob a qual elas podem entrar em consonância com a lei
prática suprema. (KpV, AA 05: 33)
Na crítica da razão prática, precisamente por ter “exposto” a consciência da lei moral
como sendo um fato (ou ato) da razão pura, Kant pode finalmente apresentar de maneira
positiva e determinada a lei de causalidade por liberdade. A consciência da lei moral
nos torna também conscientes da autonomia de nossa vontade, ou seja, de nossa
capacidade de determinar a vontade a agir não em vista dos fins desejados (inclinações e
interesses).
Assim, Kant deixa claro que a lei moral – que não precisa de nenhuma prova ou
justificação, já que temos consciência dela como um fato da razão – fornece uma
“espécie de credencial” para o conceito de liberdade, na medida em que é estabelecida
como “princípio da dedução da liberdade enquanto uma causalidade da razão pura”
(KpV, AA 05: 48)

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5.2 Autonomia
Na fundamentação da metafísica dos costumes, Kant escreve que a “autonomia é o
fundamento da dignidade da natureza humana e de toda a natureza racional” (GMS,
AA, 04: 436). Quando o ser racional escolhe seguir a lei moral, ele abre para si a
possibilidade de participar na legislação universal e se habilita para ser membro de um
reino dos fins, visto que ele é um fim para si mesmo, por pertencer à natureza dos seres
racionais.

Para Kant, segundo J. Kneller, autonomia é entendida por muitos leitores como
profundamente masculina, dando a impressão de que para desenvolver essa autonomia
moral, o ser humano estaria sozinho e independente da determinação de outras causas,
estando com sua própria vontade, que é lei para ele mesmo. Por isso, se distingue da
natureza dos outros seres do universo, porque possui a liberdade em relação a sua
própria vontade, no que diz respeito às leis da natureza, o que significa que ele pode dar
para si mesmo um fim. Ele é um legislador nesse reino dos fins, na medida em que
apresenta aptidão de escolher máximas que constituem a legislação universal (GMS,
AA, 04: 436-437).

Kant, em sua segunda Crítica, escreve que a autonomia da vontade é a representação do


único princípio de todas as leis morais e dos deveres que correspondem à lei moral.
Segundo alguns, a autonomia fundamenta suas premissas sobre um individualismo
abstracto que retrata o paradigma de um agente moral isolado, não social e histórico”.
Kneller, acredita que para o ser humano desenvolver a sua autonomia é necessário que
esteja situado no interior de uma comunidade.

6 CRÍTICA DA FACULDADE DE JULGAR EM IMMANUEL KANT


A Crítica da Faculdade de Julgar, ou Crítica da Faculdade do Juízo, (em alemão, Kritik
der Urteilskraft) é um livro escrito pelo filósofo Immanuel Kant, em 1790. Terceira das
três críticas publicadas, é nesta obra que Kant apresenta e discute o conceito de juízo
estético. Nesta terceira obra, Kant busca além da razão, ele investiga os limites daquilo
que podemos conhecer pela nossa faculdade de julgar, que leva em consideração não
apenas a razão, mas também a memória e os sentimentos.

Crítica da faculdade do juízo (1791) de Immanuel Kant opera a reconciliação das


faculdades do espírito entre si e oferece à estética, ciência que surgiu na metade do
século XVIII com Alexander Gottlieb Baumgarten, uma clara delimitação de suas

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actividades, quando destaca que esta se dirige à sensibilidade na forma da imaginação
(Einbildung), ao proceder por analogia, representação e similaridade.

A estética kantiana afirma a estética como uma região autónoma das questões relativas
ao conceito e à verdade. Para Immanuel Kant, o gosto é a faculdade de ajuizamento
(Beurteilung) acerca do belo; enquanto juízo estético, ele é formal e não material, pois o
que possibilita a sensação de prazer não é a matéria, mas a sua forma. Nesse sentido,
pode-se afirmar que a teoria do gosto em Kant está em conformidade com o ditado
popular que afirma: “a beleza está nos olhos de quem vê.
“O juízo de gosto é subjectivo, porque a beleza não é uma propriedade inerente às
coisas, um predicado objectivo, mas um sentimento do sujeito que é presentificado nas
coisas e nos entes animados. Em Kant, o juízo sobre o belo é anterior a todo o conceito
e a todo e qualquer interesse. A universalidade alcançada pelo belo é uma
universalidade subjetiva, pois é comunicável aos outros sujeitos, como anota” Kant
(1993, p. 85).
Em todos os juízos pelos quais declaramos algo belo não permitimos a
ninguém ser de outra opinião, sem com isso fundarmos nosso juízo
sobre conceitos, mas somente sobre nosso sentimento; o qual, pois,
colocamos a fundamento, não como sentimento privado, mas como um
sentimento comunitário. (KANT, 1993, p. 87)

Na terceira Crítica, Kant afirma que o belo concorda com o sublime porque “ambos
aprazem por si próprios, ambos pressupõem um juízo de reflexão. Ambos reivindicam o
sentimento de prazer e não o conhecimento do objeto” (KANT, 1993, p. 89). O belo
comporta um sentimento de promoção da vida, por isso ele está relacionado aos
atractivos e à faculdade de imaginação lúdica.

Num primeiro momento, Kant afirma que um objecto estético é belo se for representado
pelo sentimento de prazer, pelo qual “o sujeito sente a si próprio do modo que ele é
afectado pela sensação”. Logo, este juízo deve ter base subjectiva, pois o sentimento de
prazer expressa a relação do sujeito consigo mesmo. Nesse caso, o agradável produz um
interesse patológico por estímulos, enquanto o bom produz um interesse em relação à
utilidade e resultado.
Kant afirma que o “gosto é a faculdade de ajuizamento de um objecto ou um modo de
representação mediante uma complacência independente de todo o interesse. O objecto
de tal complacência chama-se belo, em segundo momento, Kant infere que “belo é o

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que apraz universalmente sem conceito”, pois pretende comunicar universalmente um
sentimento que apraz no gosto pela reflexão.
Comunicabilidade subjectiva, assinala Kant (1993, p. 62), “no modo de representação
de um juízo de gosto, visto que ela deve ocorrer sem pressupor um conceito
determinado, não pode ser outra coisa senão o estado de ânimo no jogo livre da
faculdade da imaginação e do entendimento”. Ao denominarmos uma coisa bela, a
sensação de prazer imputado pelo juízo de gosto aparece “como se” fosse de uma
qualidade do objecto, quando na verdade não passa de uma sensação subjectiva que
deve alcançar a dimensão intersubjectiva.

No sublime, o prazer é possível somente de maneira indirecta; como exige seriedade e


não admite qualquer jogo da imaginação, ele é incompatível aos atractivos, pois “a
complacência no sublime contém não tanto prazer positivo, quanto muito mais
admiração ou respeito, isto é, merece ser chamada de prazer negativo” (KANT, 1993, p.
90)
Na visão de Kant, o sublime não é um objecto, mas “a disposição de espírito através
duma certa representação que ocupa a faculdade de juízo reflexiva” (KANT, 1993, p.
96).
Na sua obra, kant deduz que, Por meio da analogia ocorre a transferência de uma
intuição do objecto a um conceito que não pode directamente adequá-la, mas que
simbolicamente pode obter regras de reflexão sobre ambos. Para Allison, a própria
essência do projecto filosófico de Kant introduz a normatividade no juízo do gosto,
segundo a tese de que “a normatividade do juízo do gosto pode, em si, ser vista como o
primeiro passo na conexão do gosto com a moral, ao invés de, como é frequentemente
feito, ver neste último o estágio final na legitimação do precedente”. A analogia entre o
sentimento moral do respeito e o sentimento de prazer do gosto não deve ser
considerada como produto de uma intenção com relação ao poder normativo da lei
moral, mas como o lado afectivo da própria intenção.

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7 Conclusão
Em se tratando de Filosofia, nada se pode afirmar apoditicamente acerca do mundo
inteligível, é o que Kant nos ensina. Do ponto de vista metafísico, a Crítica da Razão
Pura teve como finalidade demonstrar os paralogismos e as antinomias acerca das
ideias da razão. Kant, em momento algum, demonstra a impossibilidade da metafísica
em geral. Tendo em conta que, no campo da ética, ela possui um inestimável atributo.

Como vimos no início deste trabalho, a epistemologia de Kant tinha o objectivo de


justificar como o conhecimento científico de sua época, especialmente a Geometria
Euclidiana e a Mecânica Newtoniana, tinha sido possível. A reflexão kantiana não
apenas demonstrou tal possibilidade como também provou que não seria possível
ultrapassar estas teorias, já que se constituíam na única maneira
Humana de apreender o mundo (as coisas para nós).
É no universo do conhecimento, que a metafísica teve incongruências no seu
conceito, entre elas a tentativa de, por meio da razão, elevar-se ao incondicionado. A
crítica surgiu como uma espécie de instrumento para demonstrar a impossibilidade da
metafísica enquanto ciência. Tal crítica deve, necessariamente, acompanhar todo
conhecimento, bem como os seus pressupostos gnosiológicos, para que o homem nunca
ultrapasse os limites exigidos pela experiência.
O problema da razão, segundo Kant, tem sido, de fato, tentar conhecer objectos
transcendentes que somente podem ser pensados, objectos que estão para além da
realidade sensível, muito além do universo condicionado pela experiência.

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8 Bibliografia
ALLISON, H, Immanuel Kant Theoretical Philosophy after 1781, translated

by Hatfield, G, Cambridge University Press, 2002

ARENDT, H. Lições sobre a filosofia política de Kant. Rio de Janeiro: Relume-


Dumará, 1993.
KANT, I. Crítica da razão pura. Trad. de Alexandre Fradique Morujão. Lisboa:
Fundação Calouste Gulbekian, 2001.
….Crítica da razão prática. Trad. de Valério Rohden. São Paulo: WMF Martins
Fontes, 2011.
…. Crítica da faculdade do juízo. Trad. de Valério Rohden; António Marques. Rio
de Janeiro: Forense Universitária, 2012.
....Resposta à pergunta: o que é Esclarecimento [Aufklärung]. In: Textos seletos.
Petrópolis: Vozes, 2013.

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