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Conformados à Sua Imagem

Textos selecionados da introdução do Livro


“Conformed to His Image” de Kenneth Boa
(Este resumo foi sugerido esperando que o aluno que saiba
inglês deseje adquirir o texto e avance em seus estudos.)

INTRODUÇÃO
Uma pedra preciosa de muitas facetas

VISÃO GERAL DO CAPÍTULO


A introdução descreve a sede de espiritualidade existente em nossos dias e sugere
várias razões para esse interesse crescente. A vida espiritual é retratada como uma
jornada na qual peregrinos podem utilizar várias abordagens. Este livro desenvolve
doze facetas de espiritualidade cristã que se relacionam com a experiência prática
em um nível pessoal e corporativo; depois tais facetas são brevemente resumidas. É
natural sermos atraídos a algumas dessas abordagens mais do que a outras, mas
também é benéfico sermos expostos a todas elas.

A ATUAL SEDE DE ESPIRITUALIDADE

Na atualidade, a religião está ultrapassada; o que está na moda é a espiritualidade.


Nas últimas três décadas foi observada uma sede notável e uma busca por respostas
espirituais às grandes perguntas da vida. No passado, havia um consenso de moralidade
geral no mundo ocidental baseado de forma imprecisa em uma cosmovisão judaico-
cristã; tal visão veio, no entanto, acompanhada de uma crescente tendência de
secularização da cultura, marginalizando a religião e substituindo-a por uma fé popular
no progresso científico e na investigação humanística. No entanto, o naturalismo puro
corrói pelos ácidos de suas próprias pressuposições. À medida que o projeto do
Iluminismo para obtenção de respostas finais e soluções para a condição humana por
meio de razão humana desassistida começou a vacilar e desmoronar, a busca por soluções
transcendentes se tornou mais interessante.
Em um mundo cada vez mais pós-moderno, há um novo ceticismo em relação à
busca pela verdade objetiva, um novo relativismo acerca dos padrões morais e um novo
multiculturalismo que nos encoraja a sermos exigentes em nossas opções ideológicas.
Esta mentalidade diversificada tem levado a uma assustadora falta de discernimento e a
uma abertura sem senso crítico a espiritualidade panteísta e a filosofias e técnicas da
Nova Era. Em nossos tempos, pode-se livremente promover a espiritualidade do norte-
americano indígena, o misticismo oriental, o paganismo da Europa Ocidental, a medicina
xamânica, técnicas para se atingir a consciência cósmica, ou qualquer forma de ioga sem
temer críticas públicas.
Fortemente influenciadas pela educação e pela mídia, as pessoas se tornaram mais
contrárias a toda autoridade que pareça ser externa ou tradicional. Assim, a religião está
de saída, enquanto a espiritualidade que apela ao subjetivo interior e à autenticação
experimental chegou para ficar. Como mostra a antiga União Soviética, os humanos não

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conseguem viver em um vácuo ideológico; quando uma ideologia é abandonada, as
pessoas rapidamente abraçam outra, quer seja para felicidade ou para tragédia.
Em paralelo com o crescente interesse popular pela espiritualidade, houve um
aumento pronunciado do apetite da igreja por renovação espiritual. O problema é que
muitas pessoas, especialmente certos líderes das principais denominações, têm deixado
de discernir "o Espírito da verdade e o espírito do erro" (1 João 4:6). A nova forma de
representar Deus em categorias feministas radicais (por exemplo, a adoração a Sofia e a
Gaia), o tantrismo budista, as técnicas meditativas hindus e o simbolismo pagão se
revelaram mais frequentemente em igrejas que se afastaram da autoridade das Escrituras
para abraçar teologias liberais. Contudo, há abordagens à vida espiritual que são
autênticas, biblicamente ortodoxas e experimentadas pelo tempo que têm se consolidado
em muitas comunidades de crentes, e isto é o que este livro pretende dizer ao utilizar o
termo espiritualidade.
De um ponto de vista humano, há várias razões para a crescente conscientização da
espiritualidade dentre os seguidores de Cristo:
• a influência do interesse cultural do meio-ambiente na espiritualidade
• a crescente insatisfação com a superficialidade e a esterilidade da subcultura cristã
• a busca por significado, propósito e importância dentre os seguidores de Cristo
• a maior exposição aos clássicos da espiritualidade e a sua disponibilidade
• o movimento mais intenso em direção à prestação de contas e ao discipulado
• os escritores influentes e professores que assumiram o compromisso de comunicar tais
verdades

UMA JORNADA E UMA PEREGRINAÇÃO

Os conceitos deste livro descrevem uma jornada rumo à espiritualidade. A vida espiritual
é uma resposta ampla e definitiva às iniciativas graciosas de Deus às vidas daqueles cuja
confiança está centrada na Pessoa e na obra de Jesus Cristo. A espiritualidade bíblica é
uma orientação centrada em Cristo para todos os aspectos da vida, por meio do poder
mediador da habitação do Espírito Santo. Trata-se de uma jornada do espírito que começa
com o dom do perdão e da vida em Cristo e avança por meio da fé e da obediência. Por
ser baseada num relacionamento presente, trata-se de uma jornada com Cristo e não para
Cristo. Enquanto estivermos nesta terra, jamais chegaremos ao destino final; a jornada
não estará completa até que venha o dia de nossa ressurreição, quando o Senhor nos trará
à total conformidade consigo mesmo.
Esta jornada com Jesus é uma peregrinação espiritual, pois confessamos que somos
"estrangeiros e peregrinos na terra" (Hebreus 11:13). Uma vez que estamos em Cristo,
nos tornamos residentes temporários e estrangeiros neste planeta; nossa cidadania passa
da terra para o céu (Filipenses 3:20), e devemos ficar mais conscientes de que nenhuma
felicidade material pode satisfazer plenamente os desejos mais profundos que Deus
colocou em nossos corações. Durante essa breve peregrinação, o terreno em que pisamos
varia de campinas verdejantes a desertos áridos e montanhas traiçoeiras. Esta vida
peregrina é repleta de alegria e lutas, com prazeres e aflições, clareza e confusão, certeza
e dúvida, consolo e dor, relacionamentos e alienação, esperança e desespero, obediência e
incredulidade, confiança e incerteza. Mas há duas verdades vitais a se ter em mente

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quando os arredores ficam precários: outras pessoas nos precederam na mesma jornada e
algumas deixaram mapas pelo caminho para nos guiar pelo território à frente; e Deus nos
equipou com recursos espirituais dos quais Ele sabe que iremos precisar ao longo da
jornada.
DOZE FACETAS DE ESPIRITUALIDADE
Há várias abordagens à vida espiritual, mas tais são facetas de uma pedra preciosa
grande, que é maior do que a soma de suas partes. A diversidade e a complexidade de
caminhos espirituais que foram adotados pelos peregrinos piedosos dos séculos passados
são ricas e impressionantes. Alguns deles foram trilhados com coragem e sofrimento e
por meio de reciprocidade com ritmos históricos, sociais e culturais complexos, mas a
maioria dos seguidores do Caminho ignorou os mapas topográficos que haviam sido
deixados ou rasgou todas as partes que lhes eram desconhecidas. A pedra de tropeço mais
comum é tomar uma parte pelo todo. Seria como se um grupo de homens cegos, ao sentir
diferentes partes de um elefante, passaram a tirar conclusões sobre a aparência do animal
todo. Então um homem presume que o animal parece como uma tromba, outro a toma por
uma cauda, e um terceiro conclui que ela é uma perna. Se julgamos a vida espiritual
tomando uma parte pelo todo, corremos o mesmo risco de tirar conclusões erradas.
Qualquer pessoa que estude os quatro Evangelhos deve suspeitar de uma abordagem que
reduza as nuances da vida espiritual a uma única fórmula ou método. Os Evangelhos não
são biografias, mas retratos temáticos altamente seletivos que revelam diferentes aspectos
da vida de Cristo que apresentem tensão dinâmica uns com os outros. O sinergismo dessa
interação tensionada resiste à categorização organizada e o mesmo ocorre com a
dinâmica de uma jornada com Cristo conduzida pelo Espírito. Em contraste com o
conceito daqueles que buscam quantificar e controlar, a humildade da sabedoria sempre
sussurra que há mais, muito mais. Quando abordamos a jornada espiritual com um
espírito aberto e ensinável, continuamos a ganhar novos insights da Palavra de Deus, das
pessoas que encontramos e dos livros que digerimos.
Nestes tempos pós-modernos, cresce o desejo por uma espiritualidade autêntica que
toque as nossas vidas de uma forma significativa e prática. A visão bíblica da vida
espiritual como relacionamento redentor com o Criador vivo e pessoal de todas as coisas
pode satisfazer esse desejo profundo, mas a maioria dos relatos dessa visão são
fragmentados ou parciais. O propósito de Conformed to His Image é oferecer uma
abordagem mais abrangente, equilibrada e aplicável ao que significa conhecer a Cristo.
Este livro abordará essa necessidade, apresentando não uma nem duas, mas várias trilhas
para a vida espiritual e mostrando como cada uma delas pode contribuir para o processo
dinâmico de crescimento espiritual. Estudaremos várias facetas da "pedra preciosa" que é
a vida espiritual e veremos como cada uma pode contribuir para o todo maior.
Não alego que as doze facetas apresentadas aqui sejam exaustivas, mas elas cobrem
de fato uma parte substancial do terreno. Eu criei as categorias numa tentativa de refletir
as várias dimensões da verdade bíblica conforme elas se relacionam à experiência prática
em um nível pessoal e corporativo. Por causa disto, algumas delas estão baseadas em
tradições históricas (por exemplo, espiritualidade disciplinada e devocional), algumas
estão ligadas a movimentos mais recentes (por exemplo, troca de vida e espiritualidade
plena do Espírito), e outras retratam aplicações práticas de princípios cristãos (por
exemplo, espiritualidade de paradigma, holística e de processo). Este livro não é uma

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história de espiritualidade cristã (o apêndice B, "The Richness of Our Heritage" [A
Riqueza de nossa Herança] esboça brevemente essa história), mas um guia prático de
formação espiritual.

Estas facetas serão desenvolvidas em Conformed to His Image.

Espiritualidade relacional – Amando a Deus completamente, a nós mesmos


corretamente e aos outros compassivamente
Como uma comunhão de três pessoas, Deus é um ser relacional. Ele é o originador de
um relacionamento pessoal conosco, e responder às Suas iniciativas de amor é o nosso
santo e supremo chamado. Quando amamos a Deus por completo, descobrimos quem e
de Quem somos ao passarmos a ver a nós mesmos como Deus nos vê. Assim, tornamo-
nos seguros o suficiente para passarmos a ser centrados nas outras pessoas e não em nós
mesmos, e isto nos capacita a ser doadores em vez de apropriadores de bens alheios.

Espiritualidade de paradigma – Cultivando uma perspectiva eterna versus uma


perspectiva temporal
Esta abordagem à espiritualidade tem como foco os contrastes radicais entre os
sistemas de valores temporais e os eternos e enfatiza a necessidade de uma mudança de
paradigma de uma forma cultural para uma forma bíblica de ver a vida. Experimentar a
nossa mortalidade pode nos ajudar a transferir nossa esperança do que pode ser visto para
o que não pode ser visto e a perceber a preciosidade das oportunidades presentes. Nossas
pressuposições moldam a nossa perspectiva, a nossa perspectiva molda as nossas
prioridades e as nossas prioridades moldam a nossa prática.

Espiritualidade disciplinada – Envolvimento nas disciplinas históricas


Nos últimos tempos, ressurgiu o interesse nas disciplinas clássicas da vida espiritual,
e esta abordagem enfatiza os benefícios dessas variadas disciplinas. Ao mesmo tempo,
ela reconhece o equilíbrio necessário entre a dependência radical de Deus e a disciplina
pessoal como expressão de obediência e aplicação.

Espiritualidade da troca de vida – Compreendendo nossa verdadeira identidade em


Cristo
O século XX viu o crescimento de uma abordagem empírica à vida espiritual baseada
na nova identidade do crente em Cristo. A identificação com Cristo em Sua crucificação
e ressurreição (Romanos 6; Gálatas 2:20) significa que nossa antiga vida foi trocada pela
vida de Cristo. Esta abordagem à espiritualidade passa de uma ênfase nas obras para a
graça, e do legalismo para a liberdade porque tem como foco o nosso reconhecimento de
que a vida de Cristo é a nossa vida.

Espiritualidade motivada – Um conjunto de incentivos bíblicos


Muitas pessoas têm motivação para suprir suas necessidades de segurança,
significado e realização, mas buscam satisfazê-las nos lugares errados. Esta abordagem
enfatiza recorrer a Cristo em vez de ao mundo para satisfazer nossas necessidades. Um
estudo das Escrituras revela vários motivadores bíblicos: temor, amor e gratidão,
recompensa, identidade, propósito e esperança e anseio por Deus. Nossa tarefa é sermos

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mais motivados pelas coisas que Deus declara como importantes do que pelas coisas que
o mundo diz que são importantes.

Espiritualidade devocional – Apaixonando-se por Deus


Quais são as chaves para amar a Deus, e como podemos cultivar uma intimidade
crescente com Ele? Esta abordagem explora o que significa desfrutar Deus e confiar
Nele. Gradualmente, tomamos a forma daquilo que mais amamos e admiramos e ficamos
mais satisfeitos quando buscamos o prazer de Deus acima do nosso próprio prazer.

Espiritualidade holística – Todo componente da vida sob o senhorio de Cristo


Há uma tendência geral de se tratar o cristianismo como um componente da vida
juntamente com outros componentes como família, trabalho e finanças. Esta
compartimentalização promove uma dicotomia entre o secular e o espiritual. A
alternativa bíblica é entender as implicações do senhorio de Cristo de uma forma que até
os componentes mais mundanos da vida possam se tornar expressões da vida de Cristo
em nós.

Espiritualidade de processo – Processo versus produto, ser versus fazer


Em nossa cultura, tendemos cada vez mais a ser “fazeres” humanos, em vez de seres
humanos. A cultura nos diz que o que conseguimos e realizamos determina quem somos,
mas as Escrituras ensinam que quem somos em Cristo deve ser a base daquilo que
fazemos. As dinâmicas do crescimento são de dentro para fora e não de fora para dentro.
Esta abordagem considera o que significa ser fiel ao processo de vida em vez de viver de
um produto para o próximo. Ela também foca em permanecer em Cristo e praticar a Sua
presença.

A espiritualidade cheia do Espírito – Andando no poder do Espírito


Embora haja visões divergentes sobre os dons espirituais, carismáticos e não
carismáticos concordam que até recentemente o papel do Espírito Santo havia sido um
tanto negligenciado como dinâmica central da vida espiritual. Esta abordagem considera
como se apropriar do amor, da sabedoria, e do poder do Espírito e enfatiza as implicações
bíblicas do Espírito Santo como presença pessoal e não como mera força.

Espiritualidade de guerra – O mundo, a carne e o Diabo


A guerra espiritual não é opcional para crentes em Cristo. As Escrituras ensinam e
ilustram as realidades dessa batalha nas três frontes do mundo, da carne, e do diabo. Os
sistemas mundano e demoníaco são exteriores aos crentes, mas eles seduzem e dão
ocasião à carne, que é a capacidade de pecar dentro do crente. Tal abordagem desenvolve
uma estratégia bíblica para lidar com cada uma dessas barreiras ao crescimento espiritual.

Nutrindo a espiritualidade – Um estilo de vida de evangelismo e discipulado


O chamado supremo do crente no ministério é reproduzir a vida de Cristo em outros.
A reprodução assume a forma de evangelismo para aqueles que não conhecem a Cristo e
de edificação para aqueles que O conhecem. É importante desenvolver uma filosofia de
discipulado e evangelismo, e ver a edificação e o evangelismo como meio de vida;
discipulado e evangelismo como estilo de vida são as abordagens mais eficientes e
realistas para descrentes e crentes dentro de nossa esfera de influência.

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Espiritualidade corporativa – Encorajamento, prestação de contas e adoração
Nós nos convertemos à fé como indivíduos, mas crescemos em comunidade. Um
contexto significativo de encorajamento, prestação de contas e adoração é essencial para
a maturidade espiritual, já que envolve o uso centrado em outras pessoas de dons
espirituais para edificação mútua. Tal abordagem enfatiza a necessidade da comunidade,
os desafios e os criadores de comunidades, a natureza e o propósito da igreja, o cuidado
com a alma, a liderança servil, a prestação de contas e a renovação.
Embora a discussão de cada uma das facetas deste livro seja limitada, tentei destilar a
essência de todas as abordagens, que são diversas, mas benéficas. Há muitas outras
formas de explorar o vasto território da formação espiritual, incluindo estes livros, da
ampla gama de recursos úteis:

Simon Chan, Spiritual Theology [Teologia espiritual]


Bruce Demarest, Satisfy Your Soul [Satisfaça a sua alma]
Michael Downey, Understanding Christian Spirituality [Entendendo a espiritualidade
cristã]
Richard J. Foster, Stream of Living Water [Correntes de água viva]
Benedict J. Groeschel, Spiritual Passages [Passagens espirituais]
James Houston, The Transforming Power of Prayer [O poder transformador da
oração]
Kenneth Leech, Experiencing God [Experimentando Deus]
M. Robert Mulholland Jr., Invitation to a Journey [Convite a uma jornada]
Alister E. McGrath, Christian Spirituality [Espiritualidade cristã]
Allan H. Sager, Gospel-Centered Spirituality [Espiritualidade centrada no Evangelho]
Gary Thomas, Sacred Pathways [Caminhos sagrados]
Rowan Williams, Christian Spirituality [Espiritualidade cristã]

UNIDADE NA DIVERSIDADE
Um breve exame dessas doze abordagens destaca o quanto somos diferentes uns dos
outros. Ao lê-las, você deve ter ficado, sem dúvida, mais interessado em algumas do que
em outras. Provavelmente achou que algumas são de difícil seguimento para você, mas
que seus amigos as seguiriam com maior facilidade. Algumas delas podem ser
desconhecidas, e talvez você nunca tenha encontrado pessoas que as ensinassem ou
praticassem.
Como Paulo coloca, de maneira tão eloquente, em 1 Coríntios 12-14, o corpo de
Cristo é uma unidade diversa e composta, na qual os membros exibem diferentes dons e
diferentes ministérios. É bom que sejamos diferentes e que precisemos uns dos outros
para crescer até a plena maturidade prática, porque nenhum componente do corpo pode
estar completo sem os outros.

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