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O apêndice deste volume foi traduzido por Rafael Abreu, com permissão, a partir do original em
Inglês: Confessing the Faith in 1644 and 1689, By James M. Renihan • Via: ReformedReader.org
Salvo indicação em contrário, as citações bíblicas usadas nesta tradução são da versão Almeida
Corrigida Fiel | ACF • Copyright © 1994, 1995, 2007, 2011 Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil.
Você está autorizado e incentivado a reproduzir e/ou distribuir este material em qualquer formato,
desde que informe o autor, as fontes originais e o tradutor, e que também não altere o seu conteúdo
nem o utilize para quaisquer fins comerciais.
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Prefácio à Edição em Português
Estamos profundamente gratos ao nosso Deus por nos conceder a graça de, em parceria
com o amado irmão Gary Marble, podermos publicar em nossa Língua a introdução e o
primeiro capítulo deste excelente e esmerado comentário de nossa comum Confissão de
Fé Cristã Bíblica. Esperamos no Senhor que esta seja a primeira de uma série de publi-
cações com os comentários dos demais capítulos da Confissão.
Por volta de dezembro do ano de 2014, fomos conduzidos pela graciosa providência de
Deus aos comentários da Confissão de Fé Batista de 1689, pelo irmão Gary Marble. Na
ocasião, ficamos cheios de esperança e anelo em ter esses escritos disponíveis em Portu-
guês. Desde então, a comunhão com este amado irmão, e a sua gentil cooperação e em-
penho em favorecer a publicação destes escritos em Português têm sido motivos de ações
de graças a Deus e consolo por nossa fé mútua.
Os últimos dois ou três anos de nossas vidas têm sido marcados por trabalho árduo, lutas
constantes e por dúvidas dolorosíssimas. Deus trouxe a Confissão de Fé Batista de 1689
até nós quando estávamos presos no Castelo da “Dúvida Batismal” habitado pelo Gigante
“Desespero Doutrinário”, e oh! como o Senhor, nosso Deus, a usou, juntamente com muitos
outros meios de graça, para nos fazer superar o Monte do Erro e chegar às consoladoras
Montanhas Deleitáveis! Não cessamos de dar graças ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus
Cristo por nos haver guiado à preciosíssima Confissão Batista de 1689, a qual tem sido uma
fonte de grande instrução, alegria, consolo, esperança e encorajamento para nós. Uma dul-
císsima lembrança vem às nossas mentes quando lembramos dos dias em que resolvemos
nos dedicar ao estudo diligente, e com oração, dos artigos da Confissão, e como, à medida
em que avançávamos, íamos sendo alegremente surpreendidos pela maravilhosa graça e
grandeza de Deus, e pela conservação das preciosas verdades encerradas na Confissão.
Esperamos no Senhor, que esta série de comentários que agora começam a ser publicados
possa contribuir para a edificação, exortação e consolo de muitos amados de Deus, e para
o louvor e glória de Sua graça.
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Este pequeno volume [CFB1689] não é emitido como uma regra autori-
tativa, ou código de fé, pelo que vocês devem ser constrangidos, mas
como uma ajuda para vocês em controvérsia, uma confirmação na fé,
e um meio de edificação na justiça. Aqui os membros mais jovens da
nossa igreja terão um Corpo de Teologia, que servirá como uma pe-
quena bússola, e por meio de provas bíblicas, estarão prontos para dar
a razão da esperança que está neles.
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Um Comentário Da Confissão De Fé Batista De 1689
Por Gary Marble
INTRODUÇÃO
A Confissão de Fé Batista de 1689 tem uma história que deve ser contada; é interessante
e necessário entender o seu conteúdo. Tal como acontece com todas as histórias, elas são
melhor contadas a partir de seu início, e por isso vamos começar por aí. Desde os primeiros
tempos, os crentes têm usado declarações sucintas e sumárias para explicar o que eles
creem que Deus falou, e quando tal afirmação é aceita por uma comunidade de crentes,
ela pode ser especialmente útil para promover e preservar as verdades da Palavra de Deus.
Tais declarações assumem várias formas, mas nos concentraremos nos credos e confis-
sões.
Credos E Confissões
A palavra “credo” vem da palavra latina “credo”, que significa, eu creio. Um credo é uma
declaração formal e sucinta sobre o que seu autor acredita que a Bíblia ensina. Credos são
usados para ajudar a lembrar e ensinar a verdade Bíblica, que serve como um padrão de
doutrina pelo qual devemos julgar os erros, e são úteis na igreja para fins litúrgicos.
A “confissão de fé” é simplesmente um credo expandido que aborda uma abrangência mai-
or da doutrina Bíblica. Os credos antigos tendem a lidar com doutrinas fundamentais da
Trindade e da natureza de Cristo, já uma confissão de fé aborda temas doutrinários adicio-
nais, tais como soteriologia (salvação), eclesiologia (a igreja) e escatologia (últimas coisas).
Há aqueles que rejeitam credos e confissões. Você pode ouvir uma pessoa dizer algo como:
“Não professo nenhum credo senão a Bíblia”. Entretanto, este é um equívoco, pois tal afir-
mação é, ironicamente, o seu próprio credo. Esta própria declaração é uma declaração de
fé (credo). É quase impossível explicar o significado da Bíblia apenas por citar suas palavras
literalmente. Para que se explique o significado de uma passagem da Bíblia deve-se usar
palavras adicionais. Isso é essencialmente o que um credo ou confissão é; é uma declara-
ção interpretativa e resumo sobre o significado da Bíblia de uma maneira formalizada que
é aceita como verdadeira por uma comunidade de crentes. Nós, obviamente, reconhece-
mos que credos e confissões são documentos meramente humanos passíveis de erro, e,
por isso, não devem ser considerados inerrantes.
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Há, no entanto, declarações de credo inspiradas na Bíblia. Por exemplo: “Ouve, Israel, o
Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu cora-
ção, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças” (Deuteronômio 6:4-5). Aqui nós temos
uma declaração formal e sucinta — as características de um credo. Na verdade, esse mes-
mo credo inspirado foi usado pelo próprio Cristo. Em Marcos, lemos: “E Jesus respondeu-
lhe: O primeiro de todos os mandamentos é: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único
Senhor. Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e
de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças” (Marcos 12:29-30). Jesus respondeu
à pergunta citando o credo inspirado literalmente.
O Novo Testamento também contém tais exemplos de declarações sucintas, formais e re-
sumidas. Paulo escreve em 1 Timóteo 3:16: “Grande, em verdade, nós confessamos, é o
mistério da piedade: Aquele que se manifestou em carne, foi justificado no Espírito, visto
pelos anjos, pregado entre os gentios, crido no mundo, recebido na glória” (tradução literal
– ESV). Acredita-se que esta pode ter sido uma estrofe de um hino ou alguma outra declaração
formal de crença usada desde cedo na igreja do primeiro século. Você notou as palavras,
“nós confessamos” na passagem? Estas são apenas uma pequena amostra dos credos
encontrados na Bíblia. Certamente, se a própria Bíblia tem credos, então a igreja é bem
justificada ao fazer o mesmo. É a concisão, formalização e precisão de um credo ou confis-
são que o torna especialmente útil como uma declaração duradoura de verdade. E a história
tem mostrado que tais declarações formais, cuidadosamente articuladas têm ajudado a
igreja a depor e retirar do meio dela os piores heréticos.
Um dos credos mais antigos da igreja é o Credo Apostólico 1. Foi concluído em sua forma
atual em torno do ano 200 d. C. Conforme o tempo passava, este credo foi expandido para
lidar com várias controvérsias e heresias que surgiram. Como resultado, o Credo Apostólico
de 106 palavras (em Português) foi ampliado pelas igrejas ao longo de um período de
algumas centenas de anos em um credo de 212 palavras (em Português) chamado o Credo
Niceno. Havia um sentimento de reverência e respeito pelo Credo Apostólico, que fez com
que as Igrejas fossem edificadas sobre ele, em vez de começarem de novo, do zero. E
quando olhamos para A Confissão Batista de 1689, vemos que ela também foi formulada
sobre confissões anteriores de fé, como a Confissão Batista de Londres 1646, a Confissão
de Fé de Westminster de 1646, e na Declaração de Savoy de 1658.2
_________
[1] Ele não foi escrito pelos apóstolos, mas contém o ensino apostólico.
[2] Parece que a fonte primária da Confissão de 1689 foi a Declaração de Savoy, no entanto, posto que a
Declaração de Savoy foi uma adaptação da Confissão de Fé de Westminster, por causa disso a maior parte
do texto da Confissão de Westminster é encontrada na Confissão de 1689.
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A História Da Confissão De 1689
Depois de definir o cenário, nós rapidamente seguimos adiante, mais de 1000 anos depois,
e olhamos para as circunstâncias em torno da Confissão Batista de 1689 3. Uma tremenda
tensão havia se desenvolvido na Inglaterra entre o rei Charles I e o Parlamento, e de 1629
a 1640 Charles I governou essencialmente sem Parlamento. Mas em 1640, o rei foi forçado
a convocar um Parlamento à sessão para que ele pudesse solicitar fundos do Parlamento
para as guerras do rei. O Parlamento aproveitou esta convocação à sessão e fez-se inde-
pendente do rei Charles. O Parlamento prendeu e executou conselheiros do rei Charles,
aboliu todos os tribunais ilegais, se encarregou das finanças do país, e aboliu a política da
Igreja da Inglaterra4. Eventualmente o Parlamento decapitou Charles I em 1649. Este
Parlamento tornou-se conhecido como o Parlamento Longo porque eles ficaram de 1640 a
1660 sem rei.
A Confissão De Fé De Westminster
Como resultado de tudo isso, a Igreja da Inglaterra precisava ser reorganizada. O Parla-
mento determinou a convocação de uma assembleia de pastores Puritanos, chamados de
“teólogos” com a finalidade de reorganizar a constituição da igreja, litúrgica e doutrinaria-
mente. Essas reuniões são referidas como a Assembleia de Westminster. Em 12 junho de
1643, o Parlamento aprovou uma lei intitulada: “Uma Ordenação dos Lordes e dos Comuns
no Parlamento para a convocação de uma Assembleia de Teólogos e outros, para ser
consultada pelo Parlamento sobre a definição do Governo e Liturgia da Igreja da Inglaterra,
e purificação da Doutrina da referida Igreja da falsas calúnias e interpretações”.
____________
[3] Pode ser útil mencionar de antemão que não há um título “oficial” da Confissão. O leitor notará que eu uso
muitos títulos diferentes nesta introdução porque ela é conhecida por muitos títulos. Nesta introdução eu
usualmente a chamei de Confissão Batista de 1689, mas quando eu uso outra nomenclatura ainda estou me
referindo à mesma confissão. No decorrer do comentário, eu uso apenas o título “Confissão de 1689”, ou às
vezes apenas a “Confissão”.
[4] “Política” refere-se ao governo da igreja.
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to, e em 14 de Abril de 1648 o Catecismo Maior também foi concluído e apresentado ao
Parlamento. Em 22 de março de 1648, o Parlamento se reuniu para considerar sua resposta
à Confissão de Fé de Westminster. Esta foi aceita com algumas mudanças em relação à
disciplina. Em última análise, no entanto, ela não foi permanentemente adotada pela Igreja
da Inglaterra.
Quando refletimos sobre o fato de que este foi um grande momento de turbulência política
e religiosa, é notável que não se pode ver uma prova disso na Confissão de Westminster.
Esta Assembleia se reuniu por 5 anos, 6 meses e 22 dias; foram realizadas 1.163 sessões5.
A Confissão de Fé de Westminster tem trinta e três capítulos detalhados de doutrina, e
juntamente com o seu Catecismo Menor e Maior, é uma maravilhosa obra de Teologia Re-
formada. Esta confissão é especificamente Presbiteriana na forma de governo da igreja, na
teologia do pacto e no batismo (ou seja, pedobatismo). Mas, apesar das diferenças, muito
do seu conteúdo é considerado pelas outras igrejas Reformadas.
Nos anos que vão de 1630 a 1640, Congregacionais e Batistas começaram a surgir a partir
da Reforma na Inglaterra. Como resultado, nos anos que vão de 1640 a 1650 vemos confis-
sões de fé por parte dos Congregacionais e dos Batistas.
Em 1644, os Batistas Particulares produziram a Primeira Confissão Londres, que foi produ-
zida, em parte, para distinguir a doutrina dos Batistas Particulares da doutrina dos Batistas
Gerais e dos Anabatistas. Em 1646 ela foi publicada. Ela foi preparada por sete igrejas Ba-
tistas Particulares em Londres, e contém 52 artigos de Fé Calvinista. O título da Confissão
mostra que parte do seu objetivo era mostrar que os Batistas Particulares eram distintos
dos Anabatistas: “A confissão de fé das sete congregações ou igrejas de Cristo em Londres,
as quais muitas vezes, mas injustamente são chamadas de Anabatistas; publicado para a
reivindicação da verdade e para a informação dos ignorantes; e também para refutar as ca-
lúnias que são com frequência, tanto no púlpito quanto nas editoras, lançadas injustamente
sobre eles. Impresso em Londres, ano de 1646”. Esta confissão foi uma importante fonte
usada na Confissão Batista de 1689.
__________
[5] As atas das reuniões da Assembleia foram recentemente publicadas em dois grandes volumes. A presente
ata foi descoberta há alguns anos, escondida atrás de outros livros em uma biblioteca na Inglaterra.
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Em 1658, os Congregacionais adaptaram a Confissão de Westminster e a chamaram de
Declaração de Savoy. Philip Schaff afirma: “Eles [Congregacionais] concordam substanci-
almente com a Confissão de Westminster, ou com o sistema Calvinista de doutrina, mas
diferem do Presbiterianismo, rejeitando a autoridade legislativa e judicial dos presbitérios e
sínodos, e mantendo a independência das igrejas locais” 6. Schaff afirma em outro lugar: “a
Declaração de Savoy é apenas uma modificação da Confissão de Westminster para se
adequar à política Congregacional” 7. A Confissão de 1689 parece ter utilizado como fonte
principal a Declaração de Savoy, mais do que a Confissão de Westminster. No entanto, a
Confissão Batista de1689 ainda difere substancialmente da Declaração de Savoy em
algumas áreas.8
O Código Clarendon
Em 1665, a última de uma série de leis chamadas de Código de Clarendon foi aprovada na
Inglaterra, que pôs fim à tolerância religiosa para todos, exceto para os Anglicanos. Como
resultado, Presbiterianos, Batistas e Congregacionais juntamente sofreram perseguição
durante este tempo.
Enquanto a Confissão Batista de 1677 foi edificada sobre o trabalho da Confissão Batista
__________
[6] Philip Schaff, The Creeds of Christendom [Os Credos da Cristandade] (Baker Book House), Vol. 1, pág.
829. Colchetes meus. Schaff escreve em 1931: “No decorrer do tempo o rigor do Antigo Calvinismo relaxou,
tanto na Inglaterra e na América. A ‘Teologia da Nova Inglaterra’, como é chamada, tenta encontrar uma via
média entre o Calvinismo e o Arminianismo na antropologia e na soteriologia. Mas os antigos padrões ainda
permanecem não revogados. A primeira e fundamental confissão Congregacional de Fé e governo
eclesiástico é a Declaração de Savoy, assim chamada a partir do local onde ela foi composta e adotada”.
Disponível em: <http://www.ccel.org/ccel/schaff/creeds1.x.iii.html>. Acesso em: 07 dez. 2014.
[7] Ibid, Vol. III, pg. 718.
[8] A Confissão de 1689 é distinta da Declaração de Savoy, especialmente no que diz respeito à Teologia do
Pacto e Batismo. A Declaração de Savoy é semelhante à Confissão Presbiteriana em relação à Teologia do
Pacto e, como tal, também é uma Confissão pedobatista.
[9] Nehemiah Coxe morreu alguns meses antes da adoção de 1689, da Confissão de 1677, e, assim, o seu
nome não está na lista dos que adotaram a Confissão. Minha fonte para esta informação é Aula de História
de James Renihan que eu participei em 2011 na Grace Covenant Church, em Gilbert, Arizona.
[10] James Renihan’s Baptist History class [Aula de História Batista, por James Renihan]: 2011, Grace
Covenant Church, em Gilbert, Arizona.
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de Londres de 1646, sobre a Confissão de Westminster e a Declaração de Savoy, há muitas
áreas em que difere destas Confissões. Ao longo destas linhas, Samuel Waldron afirma:
“Entretanto, enquanto a admiração dos Batistas pela Declaração de Savoy e Westminster
é patente, também há provas suficientes de que não houve dependência escrava desses
documentos”.11
Ato De Tolerância
__________
[11] Samuel Waldron, A Modern Exposition of the 1689 Baptist Confession of Faith [Uma Exposição Moderna
da Confissão de Fé Batista de 1689] (Evangelical Press: 1989), pg. 429.
[12] Por alguma razão, a data da adoção de 1689, permanece associada à Confissão, ao invés de sua data
real de autoria.
[13] William L. Lumpkin, Baptist Confessions of Faith [Confissões de Fé Batista] (Judson Press: Edição
Revisada 1969), página 239.
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Benjamin Keach e outro ministro acrescentaram dois artigos curtos tratando da Imposição
de Mãos e do Canto dos Salmos. Eventualmente, a Edição de Keach foi adotada em 1744
pelas Igrejas Batistas Calvinistas da América do Norte, e chamada de Confissão de Fé da
Filadélfia — o nome da Confissão nos estados do Norte. Nos estados do Sul foi chamada
de Confissão de Charleston. Com pouquíssimas mudanças essenciais, a Confissão Batista
de 1689 foi usada durante todo o período colonial e início dos Estados Unidos, em lugares
como as associações na Virgínia em 1766; Rhode Island, em 1767; Carolina do Sul, em
1767; Kentucky em 1785 e Tennessee, em 1788. Ela tornou-se conhecida na América como
A Confissão Batista.
Em 1855, Charles Spurgeon publicou a Confissão Batista de Londres de 1689 durante seu
pastorado em New Park Street Chapel, em Londres. Ele fez isso para fortalecer as bases
doutrinais de New Park Street Chapel.
A familiaridade com a Confissão Batista de 1689 diminuiu no período que vai de 1850 a
1950. Mas o interesse, desde então, ressurgiu. Reimpressões da Confissão Batista de 1689
começaram a aumentar em 1950, uma tendência que continua até o presente; há Igrejas
Batistas Reformadas em muitos lugares do mundo que adotaram a Confissão Batista de
1689.
Aqueles que defendem a Confissão de Fé Batista de 1689 valorizam sua rica história — a
sua história —, mas a razão pela qual eles a confessam é que eles acreditam que elas su-
marizam com precisão a Palavra de Deus. Talvez a melhor maneira de celebrar a nossa in-
trodução à confissão seja com as palavras que Charles Spurgeon, que disse sobre a Con-
fissão Batista de 1689: “Apeguem-se fortemente à Palavra de Deus que está aqui mapeada
para vocês”.
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CAPÍTULO 1, SOBRE AS SAGRADAS ESCRITURAS
É de propósito que a Confissão começa com as Escrituras. Pois estas são o alicerce sobre
o qual a Confissão foi construída1. A Confissão não deseja promover a mera tradição ou
opinião, mas a Palavra de Deus. A Confissão começa com uma declaração que indica sua
elevada visão das Escrituras: As Sagradas Escrituras são a única suficiente, certa e
infalível regra de toda o conhecimento salvífico, fé e obediência.2
Quando analisamos a frase usando o diagrama acima, somos capazes de ver o significado
central: As Escrituras são a regra3. A partir disso, o restante da cláusula é formado. A
palavra regra aqui se refere a critérios específicos que este compêndio de escritos apre-
senta. Quais são estes critérios? Estes critérios são todo conhecimento, fé e obediência
salvíficos; analisaremos cada uma dessas palavras mais à frente.
__________
[1] Robert Letham afirma: “O primeiro capítulo da Confissão é classificado como a declaração mais completa
do clássico Reformado do Protestantismo sobre o tema das Escrituras e, possivelmente, a melhor de todas
as fontes até a data”. Robert Letham, The Westminster Assembly: Reading Its Theology in Historical Context
[A Assembleia de Westminster: Lendo sua Teologia no Contexto Histórico] (P&R Publishing: 2009), p. 120.
[2] A Confissão de Westminster não começa com essa cláusula. Ela começa com: “Embora a luz da natureza
e as obras da criação e da providência, manifestem a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, a ponto de
tornar os homens indesculpáveis; ainda assim, não são suficientes...”.
[3] A palavra “regra” está funcionando aqui como um predicado nominal. Um predicado nominal é um subs-
tantivo que segue um verbo de ligação e renomeia ou explica o assunto. Por exemplo, “John é um professor”.
“Professor” renomeia ou explica o assunto. Então, na Confissão, a palavra “regra”, explica o assunto (Es-
critura).
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Vemos que as Escrituras são sagradas. Existem vários significados e sentidos que corres-
pondem à palavra “santa”. O Oxford English Dictionary [Dicionário de Inglês Oxford] lista
quatro sentidos principais. O contexto indica qual é o sentido correto, e mesmo com alguma
sobreposição dos diferentes sentidos, podemos concluir que “santo” significa sagrado, con-
sagrado, ou separado. Assim, quando a Bíblia é chamada de Bíblia Sagrada ou Sagradas
Escrituras, este é, de fato, um título adequado. Ela é sagrada porque é separada, assim
entendemos a palavra sagrada. A palavra única é apenas uma palavra restritiva e
especifica que define (ou seja, descreve ou explica) os adjetivos: suficiente, correta e
infalível. As Sagradas Escrituras são a única regra ou norma suficiente, correta e infalível.
Assim, pelo uso da palavra “única” nós somos lembrados da doutrina do Sola Scriptura (em
latim, ou “Somente a Escritura”, em Português), esta doutrina que, na verdade, foi um
princípio da Reforma, é o foco de todo este capítulo. Não devemos perder de vista que a
Confissão aqui se submete às Sagradas Escrituras, pois a Escritura é a única regra
suficiente, correta e infalível. Obviamente, a cláusula continua a explicar que a Escritura é
a própria regra, mas uma vez que estamos buscando observar esta cláusula dando um
passo de cada vez, teremos de conter esse pensamento por um momento.
O uso do termo suficiente é muito importante. Suficiente neste contexto significa “de uma
qualidade, extensão ou escopo adequado para um determinado fim ou objetivo” 4. A Bíblia
contém e é o padrão ou regra, e essa regra possui características particulares; posto que a
sua regra é suficiente, é, por consequência, plenamente capaz de realizar o seu objetivo.
Mas para que esta regra é suficiente? Esta regra ou padrão é suficiente para nos mostrar
efetivamente todo conhecimento, fé e obediência salvíficos. Suficiente aqui não significa
meramente adequado. Samuel Waldron, nos ajuda a entender isso, quando afirma:
Costuma-se dizer que as Escrituras são suficientes para nos mostrar o caminho da
salvação. Este é o risco de ser mal interpretado hoje por causa da mentalidade ampla-
mente minimizadora, que tem a intenção de reduzir o caminho da salvação a seus
elementos mais evidentes. Certamente deve ficar claro que tal compreensão da sufici-
ência das Escrituras é um desvio do entendimento histórica da Reforma articulado na
Confissão de Westminster. “Todas as coisas necessárias para a Sua própria glória, a
__________
[4] Dicionário de Inglês Oxford (Oxford University Press). Robert Martin afirma sobre este dicionário: “O DIO
é uma ferramenta indispensável para a determinação do significado das palavras inglesas do século XVII.
Este, e não o sentido moderno das palavras da Confissão, é o nosso primeiro interesse. O que está em
questão é aquele significado intencionado pelo autor, uma preocupação que desapareceu a um nível
alarmante em nosso mundo pós-moderno”. Robert Martin, “A Segunda Confissão de Londres, Sobre a
Doutrina das Escrituras. Uma Exposição do Capítulo 1: ‘Sobre as Escrituras Sagradas’ (Parte 1)”, Reformed
Baptist Theological Review, Vol. IV No. 1, p. 61. Nós faremos uso deste dicionário, ao longo deste comentário.
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salvação do homem, fé e vida” é muito mais do que as “Quatro Leis Espirituais”. Não
é nada menos do que a suficiência dela — para a redenção do homem, tanto individu-
almente como coletivamente em toda a esfera da vida tanto ética quanto religiosa —
sendo afirmada.5
Isso levanta a questão: “Se a Bíblia é a única regra suficiente... de conhecimento, fé e obe-
diência salvíficos, estão lá as coisas para as quais ela é insuficiente?”. Sim. Waldron afirma:
“A Bíblia não é ‘oni-suficiente’. Ela não é ‘toda-suficiente’ para todos os fins imagináveis. As
Escrituras, por exemplo, não são suficientes para servirem como um livro de referência para
a matemática, biologia ou espanhol. A suficiência das Escrituras não significa que elas são
tudo o que precisamos para o propósito de aprender geometria e álgebra”6. A Bíblia é a
única regra suficiente, mas também é a única regra correta. A palavra correta é definida
como “certa, infalível, não susceptível a falhas, confiável, totalmente fiel e fidedigna” 7. De
fato, a Bíblia é a regra correta. É certa; é uma fundação firme. É a única regra correta. Pode-
mos e devemos construir nossas vidas sobre a sua segurança. Jesus disse: “Todo aquele,
pois, que escuta estas minhas palavras, e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente,
que edificou a sua casa sobre a rocha; 25 E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram
ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha. 26
E aquele que ouve estas minhas palavras, e não as cumpre, compará-lo-ei ao homem in-
sensato, que edificou a sua casa sobre a areia; 27 E desceu a chuva, e correram rios, e
assopraram ventos, e combateram aquela casa, e caiu, e foi grande a sua queda” (Mateus
7:24-27). Lembro-me da primeira estrofe do hino, “Que Firme Fundação, ó Santos do Se-
nhor”:
A Bíblia também é a única regra infalível. A palavra infalível é definida como “incapaz de
erro”9. Ela é compatível com a nossa palavra moderna inerrância. A crença de que a Bíblia
é incapaz de erro tem sido atacada. Na era moderna, esses ataques tornaram-se bastante
__________
[5] Samuel E. Waldron, Uma Exposição Moderna da Confissão de Fé Batista de 1689 (Darlington, Inglaterra,
Evangelical Press), p. 43.
[6] Ibid., p. 43.
[7] Dicionário de Inglês Oxford (Oxford University Press).
[8] Trinity Hymnal [Hinário Trindade] (Great Commissions Publishing:1961), Hino 80. “Quão Firme Funda-
mento, Ó Santos Do Senhor”. O autor é desconhecido, e o tempo de origem é provável ser o século XVIII.
[9] Dicionário de Inglês Oxford (Oxford University Press).
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sofisticados, mas a autoridade da Bíblia não depende do testemunho do homem10; a Pala-
vra de Deus permanece para sempre (Isaías 40:8). Infalibilidade é o que seria esperado de
Deus, pois Deus é a verdade. Afinal, é o Espírito que nos convence de sua infalibilidade,
mas também a sua razoabilidade. Os ataques do liberalismo não demonstraram que a Bí-
blia é falível, mas somente têm mostrado a racionalidade da crença em sua infalibilidade
(ou seja, inerrância).
Tendo comentado sobre a natureza da regra das Escrituras (ou seja, é suficiente, correta e
infalível), agora nós voltamos para o que a regra ou padrão pertence. A Confissão afirma
que a regra compreende todo conhecimento salvífico, fé e obediência. Que tipo de co-
nhecimento, fé e obediência? A resposta é o tipo salvífico. Que tipo de conhecimento salví-
fico, fé e obediência? A resposta é todo. Eu creio que salvífico deve ser aplicado a cada pa-
lavra que ele modifica (ou seja, conhecimento salvífico, fé salvífica, e obediência salvífica)11.
Salvífico refere-se à salvação, é claro, mas, salvação de quê?
Muitas vezes usamos o termo “salvífico” em relação à redenção, mas podemos esquecer
do que somos salvos. Para que sejamos salvos, deve haver um perigo que nos ameaça. É
Deus quem nos ameaça, e é dEle que somos salvos. Muitas vezes nos referimos à salvação
“do pecado”, ou “do inferno”, mas estes todos são ameaças secundárias para nós. O próprio
Deus é a nossa maior ameaça. O que Jesus nos diz? “Mas eu vos mostrarei a quem deveis
temer; temei aquele que, depois de matar, tem poder para lançar no inferno; sim, vos digo,
a esse temei” (Lucas 12:5). O criminoso não deve temer a prisão, tanto quanto o juiz que
pode colocá-lo na cadeia. Deus lançará todos os pecadores que Ele não perdoou no infer-
no, e, portanto, Deus é que é a maior ameaça para o pecador; isso faz sentido desde que
é a Deus que nós provocamos — em Sua face — com o nosso pecado12. Ser salvo é ser
__________
[10] Veja a Confissão de 1689, 1:4.
[11] Parece provável que “salvífico” destina-se a modificar não apenas “conhecimento”, mas as duas palavras
depois de “conhecimento”, também (ou seja, fé e obediência). Isso poderia criar uma dificuldade em relação
a “obediência salvífica”. Eu não acredito que esta, de alguma maneira, seja uma dificuldade insuperável, como
eu explico abaixo. A outra alternativa é a de considerar que “salvífico” apenas se destina a alterar “conhe-
cimento”. Mas, isso também criaria outra dificuldade, pois o “conhecimento” por si só não é capaz de salvar.
Portanto, parece melhor tratar “salvífico” como um modificador para cada palavra (conhecimento salvífico, fé
[salvífica] e obediência [salvífica]). A Confissão de forma consistente utiliza elipses (ou seja, a omissão de
uma palavra usada anteriormente intencionada a estar implícita nas palavras que seguem). O leitor pode fazer
o seu próprio julgamento.
[12] Veja Isaías 65:3; Jeremias 25:6; 32:30, para citar apenas alguns exemplos desta escrita nas Escrituras.
Isso não quer dizer que Deus tenha “paixões”. A Confissão nega que Deus tenha “paixões” (2:1). Implicar que
Deus tem “paixões” seria sugerir que Deus está sujeito a alterações pelas ações externas das Suas criaturas.
A Bíblia usa linguagem metafórica quando descreve uma mera criatura a provocá-lO. Especificamente, isso
é chamado de antropomorfismo. É a linguagem de acomodação para que o homem possa entender como um
Deus imutável imutavelmente odeia o pecado. Veja a Confissão de 1689 2:1 “sem corpo, partes, ou paixões”.
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salvo de Deus, o Juiz de todos. Não nunca podemos esquecer desse fato. Quando pensa-
mos em ser salvos do próprio Deus, percebemos que a glória do Evangelho é esta: nós so-
mos salvos de Deus, por Deus, para Deus. Isso não é algo profundo a se considerar? Evi-
dentemente, a salvação não é apenas ser salvo de algo (a ira de Deus), mas é ser salvo
para algo, em última análise, para o próprio Deus.
__________
[13] Veja nota 11.
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Para resumir esta seção e incluir as elipses14, a Confissão está dizendo: As Sagradas
Escrituras são a única suficiente, [única] correta, e [única] infalível regra de todo o
conhecimento, [de toda] fé e [de toda] obediência salvíficos. Esta porção estabeleceu o
ponto de partida: tudo o que nós precisamos e podemos saber sobre conhecimento, fé e
obediência salvíficos é encontrado nas Sagradas Escrituras. Não há nenhuma outra fonte
e regra a este respeito.
As Escrituras são muitas vezes referidas como revelação especial. O Dicionário de Baker
de Teologia define revelação especial ou revelação particular como “revelação redentora
transmitida por prodigiosos atos e palavras” 15. Enquanto a revelação especial é suficiente
para operar redenção (ou seja, conhecimento salvífico, fé salvífica, obediência salvífica), a
revelação geral (ou seja, revelação natural ou universal) não é. A revelação geral é insufici-
ente para operar redenção. A Confissão agora introduz uma explicação sobre a insuficiên-
cia ou incapacidade da revelação geral para redimir os pecadores.
A primeira fonte de revelação geral é a luz da natureza. Luz aqui deve ser entendida meta-
foricamente, e refere-se ao conhecimento, não à luz física 16. Esta luz (conhecimento) de-
vem vir de algum lugar; a sentença diz-nos que a luz vem da natureza. Mas devemos enten-
der a natureza simplesmente como sinônimo de criação? Eu não penso assim. A luz da
natureza é citada em 5 outros lugares17 da Confissão18. Os outros contextos dizem respeito
__________
[14] Uma elipse é a omissão de uma palavra implícita afirmada anteriormente. Isso permite reduzir palavras
redundantes, mantendo o seu significado implícito. Por exemplo, “O menino foi até a loja e biblioteca”. Está
implícito que o mesmo “menino” que foi até a loja também foi até a biblioteca. Ao omitir “menino”, alguém é
capaz de conservar o uso da palavra ao deixar de fora a palavra implícita.
[15] Baker’s Dictionary of Theology [Dicionário de Teologia de Baker] (Baker Book House, 13th Printing:1983),
p. 456-57.
[16] A metáfora é um artifício literário que utiliza linguagem figurativa, não-literal comparada a algo literal. Às
vezes metáforas comuns tornam-se tão associadas com o referente literal que nós nivelamos o significado
figurativo e literal, assim, nós apenas associamos a metáfora com o seu significado literal. Isso é bom para
manter o discurso figurativo distinto em algum nível, a fim de evitar confusão.
[17] Nós encontramos a frase usada em 1:6, 10:4; 20:2; 22:1.
[18] Artigo trinta e sete do Credo Ortodoxo (não confunda com os antigos credos ortodoxos) afirma: “Nem ain-
da acreditamos que as obras de criação, nem a lei escrita no coração, a saber, religião natural, como alguns
chamam, ou a luz interior do homem, como tais, são suficientes para informar o homem sobre Cristo, o Media-
dor, ou sobre o caminho para a salvação, ou a vida eterna por meio dEle”; Isto foi escrito em 1679, apenas
dois anos após a estruturação da Confissão Batista de 1677. Esta declaração certamente parece corres-
ponder ao conceito de luz da natureza.
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a questões da revelação natural ou geral, mas parecem não fazer referência à evidência
externa da criação ou providência, tanto quanto à consciência e percepção. Robert Letham
afirma prestativamente: “A luz da natureza” é uma referência à consciência de Deus que
Ele imprimiu na mente humana” 19. Deus colocou a Sua lei no coração do homem (Romanos
2:15) a qual a consciência testemunha. Deus colocou no homem uma consciência de Deus
(Romanos 1:19). O que torna a luz da natureza distinta das obras da criação e providência
é que ela é interna, enquanto a criação e a providência de Deus testemunham externa-
mente — ou objetivamente se você preferir.
A revelação geral também vem a nós através das obras da criação. Isso se refere a Deus
havendo realizado a criação em seis dias 20. O Capítulo 4, Sobre A Criação, tratará em
detalhes das obras da criação. Paulo indica: “Porquanto o que de Deus se pode conhecer
neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde
a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e clara-
mente se veem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis” (Roma-
nos 1:19-20). A criação testemunha sobre Deus. Vemos isso no Salmo 19: “Os céus decla-
ram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos. Um dia faz declaração
a outro dia, e uma noite mostra sabedoria a outra noite. Não há linguagem nem fala onde
não se ouça a sua voz. A sua linha se estende por toda a terra, e as suas palavras até ao
fim do mundo. Neles pôs uma tenda para o sol”. Esta passagem afirma que os céus revelam
o conhecimento da glória de Deus, sem dizer uma única palavra.
As obras da providência de Deus são a terceira fonte de revelação geral. Como a provi-
dência manifesta a bondade, sabedoria e poder de Deus? A resposta simples é que
visto que Deus provê (ou seja, providencia) para a Sua criação, e nós podemos observar
isso, isso é evidência de Sua bondade, sabedoria e poder, nesta ação. Discutiremos isso
com mais detalhes no capítulo 5, Sobre a Providência de Deus.
A Confissão continua, ainda assim, não são suficientes para oferecer aquele conheci-
mento de Deus e de Sua vontade, que é necessário para a salvação. R. C. Sproul afir-
ma: “A revelação geral, ao contrário da revelação especial, vem a nós basicamente através
da natureza e é chamada de ‘geral’ por duas razões. Primeiro, o público é geral, Deus dá o
__________
[19] Robert Letham, A Assembleia de Westminster: Lendo Sua Teologia no Contexto Histórico (P&R
Publishing:2009), p. 122-23. Letham acrescenta que Calvino escreveu sobre o que ele chamou de um sensus
divinitatis (um senso do Divino). Letham cita como apoio Paul Helm, John Calvin’s Ideas [Noções de João
Calvino] (Oxford University Press, 2004), 209-245.
[20] A pergunta 12 do Catecismo Batista define muito bem as obras da criação como: “A obra da criação
consiste em todas as coisas que Deus fez a partir do nada, pela palavra do Seu poder, em seis dias
consecutivos e normais, e tudo muito bom 1 (1 Gênesis 1; Hebreus 11:3)”.
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conhecimento de Si mesmo universalmente, de modo que todo ser humano tem essa reve-
lação, que é edificada na natureza. Em segundo lugar, o conteúdo da revelação geral nos
dá um conhecimento geral de Deus. Ele revela que é eterno; revela o Seu poder, divindade
e santidade. A revelação geral, no entanto, não anuncia o caminho da salvação de Deus.
As estrelas não revelam o ministério de Cristo. Em verdade, a revelação geral revela apenas
o conhecimento suficiente de Deus para nos condenar, para nos tornar indesculpáveis”²¹.
Isso é preocupante. A revelação geral não apenas é insuficiente para levar ao conhecimen-
to da salvação do Evangelho, mas o que esta revelação traz “é apenas o conhecimento de
Deus suficiente para nos condenar”. O pecador perdido não pode deduzir o Evangelho a
partir da revelação geral. Este ponto é abordado com mais detalhes na Confissão, no capí-
tulo 20, Sobre o Evangelho E A Extensão Da Graça Do Mesmo. Posto que o Evangelho
não é revelado pela revelação geral, isso faz com que a pregação do Evangelho seja essen-
cial. E isso nos leva para a próxima seção do parágrafo um.
__________
[21] R. C. Sproul, Truths We Confess: A Layman’s Guide to the Westminster Confession of Faith [Verdades
Que Nós Confessamos: Guia De Um Leigo Para a Confissão de Fé de Westminster] (New Jersey, P&R
Publishing), Volume 1, p. 6-7.
[22] A palavra “igreja” é usada 55 vezes na Confissão. Por exemplo, consulte os capítulos 26:1; 7:3; 11:6 para
ilustrar o uso da igreja que não se restringe aos santos do Novo Testamento.
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Hebreus 1:1; presumivelmente a partir da Bíblia King James. A Bíblia New American Stan-
dard o traduz como: “em muitas partes e de muitas formas”. [A versão ACF, traduz assim:
“muitas vezes, e de muitas maneiras” — N. R.]. O termo em diversas ocasiões (ou em
muitas partes) significa que Deus falou em vários momentos e épocas, e que a revelação
não foi dada de uma só vez; foi dada em porções, cada nova porção adicionada à revelação
anterior. Desta forma, a revelação progrediu até a sua plenitude em Cristo e da Nova Alian-
ça (veja Romanos 16:25-27)23. O termo de muitas maneiras (ou, em muitas formas) signi-
fica que Deus transmitiu a revelação de Si mesmo e de Sua vontade para a Igreja de várias
ou diferentes maneiras (ou seja, em vários métodos, ou modos). Quais são essas maneiras
ou modos? No livro de David Dickson, A Vitória da Verdade Sobre o Erro, ele pergunta:
“Quais eram as diversas ocasiões e muitas maneiras?”. Ele responde citando seis modos
de revelação. Não temos espaço aqui para analisar cada modalidade, mas esta lista é útil,
e as referências são fornecidas para um estudo mais aprofundado:
Dickson, em seguida, acrescenta: “Todos os quais terminam por serem escritos (Êxodo
17:14), o que é uma maneira mui segura e infalível do Senhor revelar a Sua vontade ao
Seu povo”24. Esta última afirmação resume muito do presente parágrafo da Confissão.
__________
[23] A Confissão nos diz no Capítulo 7:3: “Esta Aliança [da graça] é revelada no Evangelho; primeiramente a
Adão na promessa de salvação pela semente da mulher, e depois por etapas sucessivas, até que a sua plena
revelação foi completada no Novo Testamento”.
[24] David Dickson, Truth’s Victory Over Error: A Commentary on the Westminster Confession of Faith [A
Vitória da Verdade Sobre o Erro: Um Comentário Sobre a Confissão de Fé de Westminster] (Edinburgh, The
Banner of Truth Trust), p. 4-5. Este livro é especialmente relevante para o nosso estudo da Confissão de
1689, pois este livro é um dos comentários mais antigos sobre a Confissão de Westminster, sendo publicado
pela primeira vez em 1684. Isso nos leva para bem próximos ao período de 1646, quando a Confissão de
Westminster foi concluída, portanto, nos dá uma lente contemporânea na qual se pode ver o texto da
Confissão de Westminster, e da Confissão de 1677, quando este se assemelha à CFW.
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Precisaremos decompor esta sentença para chegarmos a uma maior clareza. Vamos
remover algumas das chamadas declarações não-essenciais e ver se isso nos ajuda25. Fa-
rei isso por todo o parágrafo para que tenhamos um contexto:
Primeiro, o benefício de ter a revelação escrita é que ela preserva melhor a verdade. A es-
crita é geralmente mais confiável do que a palavra da boca. Escrever também faz com que
a verdade seja desvelada para que qualquer um veja, ao contrário de ser conhecida apenas
pelo profeta ou seus seguidores. O segundo benefício é a melhor propagação (promoção)
da verdade. Eu penso sobre os muitos manuscritos gregos do Novo Testamento, e as mui-
tas traduções desses manuscritos para outras Línguas. Tudo isso não teria acontecido se
a revelação não fosse concedida por escrito, inicialmente, e, assim, em sua pura quantidade
a verdade é grandemente preservada e promovida.
As razões de três a sete fornecem cinco benefícios da revelação ser concedida por escrito;
esses benefícios são direcionados à Igreja, enquanto as razões anteriores relacionam-se
__________
[25] Usarei reticências (...) para mostrar onde eu removi algum do termo, colchetes [ ] onde eu adicionei
palavras, e adicionei alguns sinais de pontuação, mas eu não alterarei qualquer uma das palavras da
Confissão.
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com a própria verdade. O mais seguro estabelecimento... da Igreja refere-se a um fortale-
cimento ou apoio26. A revelação concedida por escrito é também para o consolo da Igreja
(veja Romanos 15:4). Este estabelecimento (fortalecimento) e conforto auxiliam a Igreja
contra três inimigos: 1) a corrupção da carne, 2) a malícia de Satanás, e 3) [a malícia]27
do mundo. Spurgeon chama esses três inimigos “a horrível trindade do mundo” 28. A maioria
dos crentes entenderá imediatamente como a Palavra de Deus ajuda a igreja contra estes
três inimigos.
O primeiro parágrafo termina com estas palavras: o que faz da Sagrada Escritura indis-
pensável. Aqueles antigos modos de Deus revelar a Sua vontade ao Seu povo agora
cessaram. Porque a forma pela qual o Senhor Se revelou e declarou a Sua vontade para
a Igreja, antes de ser concedida por escrito, expirou ou cessou, faz a escrita disto muito
mais necessário. Caso contrário, aquela revelação não escrita que cessou poderia desapa-
recer, e a verdade não seria preservada e propagada; e, a igreja não estaria mui segura-
mente estabelecida e consolada, porque a revelação, tendo cessado, poderia desaparecer
e se perder completamente.
Vamos resumir este parágrafo: As Santas Escrituras são a regra para o conhecimento, fé
e obediência salvíficos. A revelação geral é insuficiente para revelar a fé, conhecimento e
obediência salvíficos. Como tal, Deus revelou a Si mesmo e a Sua vontade para a Igreja.
__________
[26] Dicionário de Inglês Oxford, “estabelecendo”: “Um meio de estabelecer; algo que fortalece, suporta, ou
corrobora”.
[27] A “malícia” anterior está retirada (reticências), mas está claramente implícita sobre “o mundo”.
[28] C. H. Spurgeon, Morning and Evening [Manhã e Noite], 25 de julho, Manhã.
[29] Samuel Waldron, Confissão de Fé Batista de 1689: Uma Exposição Moderna (Evangelical Press,
Darlington, Inglaterra:1989), p. 32-33.
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Mas desde que esta revelação, que a princípio não foi escrita, cessaria, era mui necessário
que fosse escrita por causa da verdade e da Igreja.
Todos os quais são dados por inspiração de Deus, para ser a regra de fé e vida 5 (5 2
Timóteo 3:16).
Este parágrafo é, antes de tudo, bastante simples; tendo definido a natureza da Palavra de
Deus, é importante afirmar especificamente quais são os livros que fazem parte dessa regra
(ou seja, o cânon). Esta lista de livros implica que todos os outros livros não mencionados
não são uma parte da regra. Desde o início, a Confissão está estabelecendo questões de
autoridade; isso é necessário antes que possa prosseguir.
A Confissão estabelece que todos esses livros são dados pela inspiração de Deus, para
serem a regra de fé e vida. Isso reflete o texto de 2 Timóteo 3:16-17: Toda a Escritura é di-
vinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir
em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a
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boa obra. É importante notar nesta passagem as palavras: “divinamente inspirada”. A inspi-
ração de Deus na Confissão refere-se diretamente à palavra grega a partir da qual “divina-
mente inspirada”, em 2 Timóteo, provém. R. C. Sproul afirma: “Quando Paulo diz que toda
a Escritura é inspirada, ou divinamente inspirada, ele está tecnicamente dizendo que a
Escritura é soprada da boca de Deus, de onde ela se origina” 30. Então, não é simplesmente
que esses livros são aceitos pela Igreja como autoridade, é que esses livros são soprados
da própria boca de Deus; eles são diretamente de Deus, sem erro, e, assim, pela sua pró-
pria característica de inspirados, eles são a regra de fé e vida. Estas palavras são o padrão
(ou seja, a regra) para o que nós devemos crer (ou seja, a fé), e como devemos viver (vida).
A regra de fé e de vida não é uma nova declaração ou ideia na Confissão, mas, sim, é uma
reiteração — abreviada — do primeiro parágrafo: “regra de todo conhecimento, fé e obedi-
ência salvíficos”.
3. Os livros comumente chamados Apócrifos, não sendo de inspiração Divina, não fazem
parte do cânon ou regra da Escritura; e, portanto, não são de autoridade para a Igreja de
Deus, nem de modo algum podem ser aprovados ou empregados, senão como escritos
humanos6 (6 Lucas 24:27, 44; Romanos 3:2).
A Igreja Romana mantém os livros Apócrifos como sendo inspirados juntamente com os
livros do Antigo e Novo Testamentos. Os Apócrifos foram escritos durante o período Inter-
testamentário (de cerca de 400 antes de Cristo até a Sua chegada). Os livros Apócrifos são:
I Esdras, II Esdras, Tobias, Judite, o restante de Ester, A Sabedoria de Salomão, Eclesi-
ástico, Baruque, com a Epístola de Jeremias, Cântico das Três Santas Crianças, A História
de Susana, Bel e o Dragão, a Oração de Manassés, I Macabeus e II Macabeus.
Os Protestantes não têm esses livros como sendo inspirados por uma boa razão; há impre-
cisões na história e outras áreas que mostram que eles são falíveis, e, portanto, não inspira-
dos. A Confissão de 1689 estabelece: “Portanto, não são de autoridade para a Igreja de
Deus, nem de modo algum podem ser aprovados ou empregados, senão como escri-
tos humanos”. Não se trata de dizer que os livros Apócrifos não têm valor histórico, cultural
ou literal. A Confissão de 1689 não está dizendo que os livros Apócrifos ou quaisquer outros
livros humanos não devem ser lidos, ou que eles não têm nenhum valor, mas os livros hu-
manos não são suficientes, certos ou infalíveis como regra de conhecimento, fé e obediên-
cia salvíficos.
__________
[30] R. C. Sproul, Verdades Que Nós Confessamos: Guia De Um Leigo Para a Confissão de Fé de Westmins-
ter (New Jersey, P&R Publishing), Volume 1, p. 11.
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Escritura é a regra de todo conhecimento, fé e obediência salvíficos. A palavra cânon é
usada no mesmo sentido, como uma regra. James White prestativamente aborda o que se
entende por cânon: “Cânon refere-se a uma norma ou regra. Neste caso, a regra, norma
ou cânon refere-se a quais livros são inspirados ou Deus soprou. Quais escritos são inspira-
dos e quais não são”. White também afirma: “O cânon é uma função da própria Escritura.
O cânon não é apenas uma lista de livros; é uma declaração sobre o que é inspirado. O câ-
non resulta da obra do Autor da Escritura, o próprio Deus. Falar de cânon sem de falar do
quê foi “soprado por Deus” é falar tolices. O cânon não é feito pelo homem. O cânon é feito
por Deus. É o resultado da ação de Sua inspiração Divina. Aquilo que é inspirado por Deus
é cânon; o que não é inspirada por Deus não é cânon. É simples assim. O cânon é uma
função da inspiração, e isso diz respeito a um atributo da Escritura”.
White então aplica isto à Igreja Romana: “O erro Romano reside na criação de uma dicoto-
mia entre duas coisas que não podem ser separadas, e depois, usando essa falsa dicoto-
mia, negam o Sola Scriptura”. “Frequentemente duas questões separadas, mas relaciona-
das, ficam confusas quando este tópico é discutido: (1) a natureza do cânon, e (2) como as
pessoas vieram a conhecer o conteúdo do cânon. Uma ilustração pode ajudar. Eu escrevi
oito livros. A ação de eu ter escrito aqueles livros cria o cânon das minhas obras. Se um
amigo meu não tem um conhecimento exato ou completo de quantos livros escrevi, isso
significa que não há cânon dos meus livros? Não, claro que não. Na verdade, se eu fosse
o único que soubesse quantos livros eu escrevi, isso significaria que o cânon dos meus li-
vros não existe? O ponto é claro. O cânon é uma questão, e esta advém da ação de Deus
ter inspirado as Escrituras; nosso conhecimento do cânon é outra questão. Nosso conheci-
mento pode crescer e amadurecer, como ocorreu, por vezes, na história. Mas o cânon não
é definido por nós nem é afetado pelo nosso conhecimento ou ignorância”.31
Os Apócrifos são declarados pela Igreja Romana como sendo canônicos, juntamente com
o restante da Bíblia, mas ela não tem autoridade para fazer essa declaração. A única auto-
ridade do cânon é Deus, que inspirou os documentos particulares; um concílio de igreja ou
decreto humano não podem declarar algo como sendo de inspiração — de que seria isto?
___________
[31] James White, The Roman Catholic Controversy [A Controvérsia Católica Romana] (Bethany House
Publishers: 1996), p. 93-94.
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4. A autoridade das Sagradas Escrituras, razão pela qual devem ser cridas, não depende
do testemunho de qualquer homem ou Igreja, mas depende somente de Deus (que é a
própria Verdade), o seu Autor; e, portanto, deve ser recebida, porque é a Palavra de
Deus7. (7 2 Pedro 1:19-21; 2 Timóteo 3:16; 2 Tessalonicenses 2:13; 1 João 5:9).
É provável que a Confissão tinha em mente o Papado e sua reivindicação ao direito ex-
clusivo de interpretação. A Confissão de 1689 acrescenta que a autoridade da Bíblia não
depende do testemunho de qualquer igreja. É provável que a Igreja Romana estivesse
em mente aqui. Como David Dickson escreveu, próximo ao período das Confissões de
Westminster e de 1689: “Bem, então, a igreja papista não erra, ao manter a Escritura como
sendo uma regra imperfeita e, portanto, necessitam de um suprimento de tradições não es-
critas?”32. Se as Escrituras por si só não são a única autoridade, então não são autoridade
de modo algum.
A Confissão acrescenta que a autoridade da Bíblia depende somente de Deus. 1 João nos
diz: “Se recebemos o testemunho dos homens, o testemunho de Deus é maior; porque o
testemunho de Deus é este, que de seu Filho testificou” (5:9). Temos muitos mandamentos
na Escritura que exigem que não acrescentemos às suas palavras, e se acrescentarmos
livros não-inspirados à lista, estamos em um sentido real acrescentando às palavras da
Escritura. Se atribuímos a autoridade das Escrituras a outro além de Deus, estamos em um
sentido retirando, não palavras, mas a autoridade das Escrituras. Considere estas passa-
gens das Escrituras: “Não acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela,
para que guardeis os mandamentos do Senhor vosso Deus, que eu vos mando” (Deutero-
nômio 4:2). “Toda a Palavra de Deus é pura; escudo é para os que confiam nele. Nada a-
crescentes às suas palavras, para que não te repreenda e sejas achado mentiroso” (Provér-
bios 30:5-6). “Porque eu testifico a todo aquele que ouvir as palavras da profecia deste livro
__________
[32] David Dickson, A Vitória da Verdade Sobre o Erro: Um Comentário Sobre a Confissão de Fé de
Westminster (Edinburgh, The Banner of Truth Trust), p. 9.
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que, se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus fará vir sobre ele as pragas que estão
escritas neste livro; e, se alguém tirar quaisquer palavras do livro desta profecia, Deus tirará
a sua parte do livro da vida, e da cidade santa, e das coisas que estão escritas neste livro”
(Apocalipse 22:18-19). A Confissão de 1689 afirma que o autor da Escritura é a própria
verdade e, portanto, ela deve ser recebida como a Palavra de Deus. Se não fizermos
isto, estamos rejeitando a autoridade de Deus, a Sua palavra, e Sua verdade.
5. Nós podemos ser movidos e compelidos pelo testemunho da Igreja de Deus a um alto
e reverente apreço pelas Sagradas Escrituras; e a sublimidade do assunto, a eficácia da
sua doutrina, a majestade do estilo, a concordância de todas as partes, o escopo do seu
todo (que é dar toda a glória a Deus), a plena revelação que faz do único caminho da
salvação do homem, as suas muitas outras excelências incomparáveis e sua completa
perfeição, são argumentos pelos quais abundantemente se evidencia ser a Palavra de
Deus; ainda assim, não obstante, a nossa plena persuasão e certeza de sua verdade
infalível e autoridade Divina provêm da operação interna do Espírito Santo, teste-
munhando por meio da e com a Palavra em nossos corações 8 (8 João 16:13-14; 1
Coríntios 2:10-12; 1 João 2:20, 27).
Esta seção aponta três caminhos ou meios pelos quais podemos saber que a Bíblia é de
Deus, o terceiro sendo o definitivo.
O primeiro declara: Nós podemos ser movidos e compelidos pelo testemunho da Igreja
de Deus a um alto e reverente apreço pelas Sagradas Escrituras. Se a Igreja está
cumprindo seu papel, nós podemos ser movidos e compelidos a um alto e reverente
apreço pelas Sagradas Escrituras pelo testemunho da Igreja. Isso é diferente da Igreja
ser o único testemunho da autoridade da Palavra de Deus, ou da Palavra de Deus ser
depende do testemunho de uma igreja (veja a seção Capítulo 1, seção 3).
Muitos não estão cumprindo o seu papel, como igreja, de sustentar uma percepção elevada
e reverente das Escrituras, seja por negar a inspiração da Bíblia, ou por negligenciar a ex-
posição da Escritura. Outra maneira pela qual a Igreja pode deixar de realizar uma de-
monstração elevada e reverente da Bíblia é negando a sua plena perspicácia (clareza e es-
copo). Negar a clareza das Escrituras é negar que determinadas questões são abordadas
de forma suficientemente clara, de modo a impedir alguém de crer e praticar alguma coisa.
Este argumento é muitas vezes simplesmente um modo racional para que uma igreja
conceda à pressão de uma questão social contemporânea. Por exemplo, uma denominação
particular determinou que mulheres poderiam ser pastoras, porque, como eles racionaliza-
ram, a clareza das Escrituras não o proíbe. Claro, se você fechar os olhos muitas coisas
tornam-se pouco claras. É dever da Igreja ser coluna e firmeza da verdade (1 Timóteo 3:15).
A Igreja deve ter uma visão elevada da Palavra de Deus.
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O segundo declara: e a sublimidade do assunto, a eficácia da sua doutrina, a majesta-
de do estilo, a concordância de todas as partes, o escopo do seu todo (que é dar toda
a glória a Deus), a plena revelação que faz do único caminho da salvação do homem,
as suas muitas outras excelências incomparáveis e sua completa perfeição, são ar-
gumentos pelos quais abundantemente se evidencia ser a Palavra de Deus. Além do
testemunho da Igreja nos movendo a um alto e reverente apreço pela Bíblia, esta lista ofere-
ce argumentos e provas abundantes de que ela é a Palavra de Deus. Esta lista indica as
coisas que são intrínsecas à própria Palavra de Deus. É o próprio testemunho da Escritura
de si mesma, que dá provas abundantes de que ela é a Palavra de Deus. Michael Kruger
afirma: “De todos os atributos de canonicidade, as qualidades Divinas da Escritura são as
menos discutidas em estudos canônicos modernos. A maioria dos estudiosos preferem de-
dicar seus estudos e as suas energias para a recepção coletiva desses livros, ou talvez às
suas origens apostólicas, mas raramente atenção é dada às suas qualidades Divinas” 33.
Kruger continua a apontar como os pais da Igreja Primitiva e outras confissões e escritores
reformados também viram evidências dos atributos internos a favor de que as Escrituras
sejam a Palavra de Deus. Temos aqui uma lista muito útil de atributos que refletem uma
perspectiva histórica da Igreja.
1) A sublimidade do assunto, ou seja, as glórias de que fala. Letham diz que isso significa
a Escritura está “falando de realidades que transcendem as nossas percepções munda-
nas”34. A eficácia da sua doutrina, refere-se ao poder e capacidade de sua doutrina para
produzir efeitos35. 2) A majestade do estilo, ou poderíamos dizer sobre a sua qualidade
grandiosa e esplêndida. 3) A concordância de todas as partes, fala sobre como as partes
concordam entre si. 4) O escopo do seu todo, fala de como o todo é unificado com as
partes. 5) (que é dar toda a glória a Deus), este ponto está conectado com o ponto quatro,
e significa que as partes individuais e do todo, ambos dão glória a Deus. 6) A plena reve-
lação que faz do único caminho da salvação do homem, se refere à forma plena e clara
do Evangelho ser compreendido. 7) As suas muitas outras excelências incomparáveis
e sua completa perfeição, são argumentos pelos quais abundantemente se evidencia
ser a Palavra de Deus.
O terceiro declara: Ainda assim, não obstante, a nossa plena persuasão e certeza de
sua verdade infalível e autoridade Divina provêm da operação interna do Espírito San-
to, testemunhando por meio da e com a Palavra em nossos corações. Mesmo com a
__________
[33] Michael J. Kruger, Canon Revisited: Establishing the Origins and Authority of the New Testament Books
[Cânon Revisitado: Estabelecendo as Origens e Autoridade dos Livros do Novo Testamento] (Crossway:
2012), p. 125.
[34] Robert Letham, A Assembleia de Westminster: Lendo Sua Teologia no Contexto Histórico (P&R: 2009),
p. 136.
[35] Dicionário de Inglês Oxford (Oxford University Press).
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consideração das declarações 1 e 2 feitas acima, em última análise, a nossa plena persua-
são e certeza de sua verdade infalível e autoridade Divina (da Palavra de Deus) provêm
da operação interna do Espírito Santo, testemunhando com a Palavra em nossos co-
rações. Precisamos reconhecer que a nossa convicção sobre a Palavra de Deus provém
da obra interior do Espírito na vida de um crente. Lembro-me de uma vez ouvir John Mac-
Arthur Jr. dizer que, em todos os seus anos de ministério no ensino da Palavra de Deus,
ele nunca teve que convencer um crente em Cristo que a Bíblia é a Palavra de Deus; ele
ou ela já estavam convencidos. A razão para isso é a obra interior do Espírito Santo dando
testemunho (confirmação) em nosso coração de que a Escritura é de fato proveniente da
boca de Deus.
Pode ser útil mencionar que alguns dos cultos (eu estou pensando no Mormonismo, em
particular), muitas vezes, citam que eles sabem que o Livro do Mórmon é um verdadeiro li-
vro de Deus, porque o Espírito Santo testifica ao seu coração que é assim. Eu, pessoalmen-
te, tenho ouvido isso em várias ocasiões, enquanto tentava mostrar a um mórmon a falibili-
dade, seja do Livro do Mórmon ou de Joseph Smith. Para eles, este testemunho interior é
uma tentativa de manobrar para sair da armadilha na qual eles encontraram-se. Certamente
esta não é uma apologética eficaz da sua parte. Mas o Cristão não está dizendo que o
Espírito Santo lhe deu plena persuasão apesar de todas as evidências em contrário; esta-
mos dizendo que, embora haja evidência externa para além das nossas convicções que
dão provas de que a Bíblia é a Palavra de Deus 36, mas isso não é a nossa razão última (ou
seja, a razão da realidade observável); nossa persuasão final é o Espírito de Deus. Não es-
tou sugerindo que esta concessão de convicção pelo Espírito de Deus é uma apologética,
__________
[36] A Bíblia tem evidência externa tal como a evidência arqueológica e bibliográfica (por exemplo, outros
documentos históricos que confirmam as declarações na Bíblia, nomes, lugares, eventos), e provas internas
(por exemplo, os itens das listas de Confissão). O Livro de Mórmon, por exemplo, tem evidências em cada
uma dessas áreas que mostram que é apenas um livro humano.
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mas é algo que devemos entender para nossa própria fé e crescimento.
Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a sua pró-
pria glória, a salvação do homem, fé e vida. A Bíblia não é apenas um livro repleto de
literatura antiga. Anos atrás, quando eu era um jovem Cristão, estava participando de uma
faculdade comunitária, e me matriculei em uma classe intitulada, A Bíblia Como Literatura.
O professor não tinha reverência à Bíblia como contendo todo o conselho de Deus. Para
ele, a Bíblia era apenas literatura. Ele não tratava a Bíblia como um documento redentor. A
Bíblia é, certamente, literatura, e para interpretá-la corretamente é preciso considerar ques-
tões literárias, mas é literária de uma forma redentiva, e ignorar o que ela diz sobre a própria
glória de Deus, a salvação do homem, fé e vida é ignorar o objetivo da Bíblia. Certamente
um livro não pode ser compreendido corretamente se o seu objetivo for ignorado. As coisas
necessárias para a glória de Deus estão na Escritura. Todas as coisas necessárias para
a salvação do homem estão na Bíblia. Todas as coisas que são necessárias que nós as
creiamos estão na Palavra de Deus. Todas as coisas a respeito de como viver e obter a
vida estão na Bíblia.
__________
[37] O Catecismo Batista, pergunta 73: Pergunta: O que é requerido no Sexto Mandamento? Resposta: O
Sexto Mandamento requer todos os esforços lícitos para preservarmos a nossa própria vida e a vida de outros¹
(1 Efésios 5:28-29; 1 Reis 18:4).
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tamente declarado (expressamente declarado), mas aplicar nossos corações e mentes
para descobrir o que também está implícito. Se expressamente declarado, ou necessaria-
mente contido, isto é necessário para a glorificação de Deus, para a salvação, fé e vida
do homem, está contida nas Sagradas Escrituras. Está tudo lá, mas pode exigir diligên-
cia, o uso da razão e da lógica para apreender tudo o que está contido na Bíblia.
A Confissão estabelece que desde que nós temos todo o conselho de Deus por escrito, na-
da a qualquer momento deve ser adicionado. É como a pessoa que diz: “Eu estou com-
prometido cento e dez por cento!”. Além de seu uso de hipérbole, uma pessoa só pode es-
tar comprometida a cem por cento, matematicamente falando. Temos cem por cento do
conselho de Deus; não há nada a acrescentar a esse percentual. Um todo é cem por cento.
Não podemos acrescentar nada à Palavra de Deus, e mesmo que tentássemos, isso seria
ou uma redundância ou um erro. Temos que aceitar que tudo o que é necessário está reve-
lado, pois não há mais nada. É matematicamente impossível em relação à nossa ilustração
adicionar mais à Escritura. A Escritura é completa e suficiente.
Nós não devemos acrescentar nada, a qualquer momento, a todo o conselho de Deus. O
conselho de Deus foi dado em diversas ocasiões e entregue por escrito. Esta escrita come-
çou por volta de 1440 a.C., com o próprio escrito de Deus (ou seja, o próprio dedo de Deus,
um antropomorfismo em Êxodo 31:18) 38 escrevendo os Dez Mandamentos, seguido por
Moisés, ao escrever o Pentateuco (ou seja, os cinco primeiros livros da Bíblia, veja Deutero-
nômio 31:9), e assim por diante, até que a escrita terminou com a conclusão do livro de
__________
[38] Brian Lee escreve sobre as ramificações de que Deus foi o primeiro a colocar a Sua revelação por escrito
por Seu próprio dedo, como registrado em Êxodo 31:18. Brian Lee, Is Reformation Christianity Just for
Eggheads [“A Reforma da Cristandade é Apenas Para Intelectuais?”]. Modern Reformation, 21, Nº 5
(setembro-outubro de 2012): p. 17-20.
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Apocalipse em torno 95 d.C. Com estes escritos todo o conselho de Deus foi completamen-
te dado; que necessidade há de revelação adicional? Está tudo ali na íntegra, na totalidade.
Temo que muitos crentes deixam de apreciar a suficiência das Escrituras, particularmente
aqueles que buscam alguma revelação suplementar.
Nem por novas revelações do Espírito, nem por tradições dos homens, não devemos
acrescentar qualquer coisa, a qualquer tempo, a todo o conselho de Deus. Durante o tempo
da escrita da Confissão, havia vários grupos que reivindicavam contínua revelação, exata-
mente como em nossos dias. Somente para citar alguns, havia os Quakers que promoviam
a crença de que a luz ou revelação interna continuou mesmo após o encerramento do câ-
non. Os papistas acreditam que as tradições da igreja e os seus próprios papas podem adi-
cionar revelação autoritativa e suplementar. Isso é praticamente acrescentar à Escritura al-
go além dela. David Dickson afirma sobre a Igreja Romana: “Bem, então, não erram os pa-
pistas que sustentam que as coisas necessárias para a salvação são obscuras e sombrias
na Escritura; e que, sem a ajuda de tradições não escritas e da exposição infalível da Igreja,
as Escrituras não podem ser entendidas? Sim. Porque a Escritura ilumina os olhos, e dá
sabedoria aos símplices (Salmos 19:7-8)”.39
__________
[39] David Dickson, A Vitória da Verdade Sobre o Erro: Um Comentário Sobre a Confissão de Fé de
Westminster (Edinburgh, The Banner of Truth Trust), p. 11-12.
[40] Veja o Catecismo Batista, Pergunta 34: O que é o chamado eficaz? Resposta: O chamado eficaz é obra
do Espírito de Deus1 segundo a qual Ele nos convence de nosso pecado e miséria2, ilumina nossas mentes
para o conhecimento de Cristo3 e renova as nossas vontades4, e nos persuade e nos capacita a nos
apegarmos a Jesus Cristo que é oferecido gratuitamente a nós no Evangelho5 (1 2 Timóteo 1:9; 2
Tessalonicenses 2:13-14; 2 Atos 2:37; 3 Atos 26:18; 4 Ezequiel 36:26-27; 5 João 6:44, 45; Filipenses 2:13).
[41] Veja Catecismo Batista, Pergunta 27: Como Cristo executa o ofício de Profeta? Resposta: Cristo executa
o ofício de Profeta, revelando-nos, pela Sua Palavra e Espírito Santo, a vontade de Deus para a nossa
salvação1 (1 João 1:18; 1 Pedro 1:10-12; João 15:15; 20:31).
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para Si mesmo.
A Igreja Romana era contra a ideia de que o homem comum devesse ler e interpretar as
__________
[42] R. C. Sproul comenta que durante toda a era da Igreja a revelação geral tem sido pensada como tão
infalível quanto a revelação especial é infalível. R. C. Sproul, Verdades que Nós Confessamos: Guia de um
Leigo para a Confissão de Fé de Westminster (New Jersey, P&R Publishing) Volume 1, p. 22.
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Escrituras. A Igreja Romana acreditava que apenas a sua interpretação das Escrituras era
autoritária. Se leigos, pessoas sem treinamento da igreja Romana interpretassem a Bíblia,
haveria uma quantidade “aberrante” de interpretações que poderiam divergir da Igreja Ro-
mana. O sistema do papado visava, em parte, um sistema unificado de interpretação 43, do
qual a Igreja Romana era a guardiã ou tutora. A Reforma tinha uma crença diferente — a
Bíblia deveria estar no idioma comum de doutos e incultos, de modo que a Palavra de Deus
fosse acessível a todos. Isso era diametralmente oposto ao pensamento Romano. Do ponto
de vista de Roma, você pode entender a oposição dela; se você aceitar que Cristo confiou
Seu cargo de Vigário ao papa e que há de fato um compêndio de doutrina ao qual o Espírito
confiou à Igreja Romana, então, de fato a interpretação privada faria estragos a um, assim
chamado, compêndio de doutrina.
Assim, todas as coisas não são igualmente (semelhantemente) simples, mas todas as
coisas que são necessárias para a salvação são simples. Este é o significado central na
segunda parte do parágrafo sétimo. As coisas necessárias para serem conhecidas, cridas,
__________
[43] Este foi e é o ideal na Igreja Romana, mas na realidade Roma tem muita diversidade de interpretação
dentro de suas próprias fileiras. O ideal de uma interpretação infalível é atraente para muitos dos partidários
de Roma, mas é perigoso confiar em qualquer ser humano falível como o guardião de uma suposta interpre-
tação infalível; pois daí, segue-se que, o homem tem a suprema autoridade, não a Palavra de Deus. Roma
nega o Sola Scriptura (Somente a Escritura); na prática ela exige Sola Ecclesia (Somente a igreja).
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e observadas para a salvação são evidentes. Todas essas coisas são tão claramente pro-
postas e desveladas em algum ou outro lugar da Escritura. Meios são propostos para
“progredir, confirmar”44. Mais uma vez, de modo a não simplificar sobremaneira a questão,
a Confissão admite que as coisas necessárias para a salvação não estão todas em um só
lugar, mas são encontradas em várias passagens da Escritura. É por isso que é importante
ler a Bíblia inteira, para que possamos saber tudo o que ela ensina (ou seja, todo o conselho
de Deus). A implicação é que a Escritura é um todo unificado, e, portanto, devemos inter-
pretar as partes, à luz do todo.45
A Confissão afirma que todas as coisas estão tão claramente propostas em um lugar ou
outro, que não somente os doutos, mas também os indoutos, no devido uso dos mei-
os ordinários, podem alcançar uma suficiente compreensão delas. Entendemos que
os doutos (ou seja, os instruídos) têm a capacidade mental de ler e entender. Mas a Confis-
são estabelece que mesmo os indoutos (iletrados) podem compreendê-la. Nos dias da Con-
fissão havia mais pessoas que não sabiam ler do que em nossos dias, embora haja certa-
mente uma abundância de analfabetos atualmente. Se alguém não pudesse ler as Escritu-
ras para ver o que elas continham, então alguém poderia usar outros meios para obter o
conhecimento necessário para a fé e obediência salvíficos. Isso requererá um devido uso,
ou uma aplicação dos meios ordinários. A que se refere esses meios ordinários? Parecem
referir-se à pregação da Palavra de Deus, em vez de ler como um meio de adquirir conhe-
cimento para a fé e obediência salvíficos. E por isso, se o indouto não pode examinar as
Escrituras, lendo, mesmo os indoutos podem conhecer essas coisas por mais meios típicos
como a audição. Alguém achará que é interessante o quão pouco a Bíblia fala de leitura
em comparação a audição. Devemos considerar a probabilidade de que não somente o
douto poderia ler, mas por haver recebido uma formal educação uma pessoa era mais pro-
pensa a ter acesso a uma Bíblia; isso coloca o indouto em outra desvantagem, pois mesmo
no final dos anos 1600, os livros ainda eram muito caros, e Bíblias não eram tão acessíveis
como o são agora. Assim, um meio mais comum de aquisição de conhecimento para a fé
e obediência vinha pela pregação e ensino por via oral.46
A Confissão afirma: podem alcançar uma suficiente compreensão delas. Assim, alcan-
çar a salvação não exige um conhecimento pleno e completo de tudo o que a Bíblia ensina,
__________
[44] Dicionário de Inglês Oxford.
[45] Este princípio hermenêutico se aplica se a pessoa está interpretando palavras individuais à luz de toda a
sentença, uma única frase à luz de todo o parágrafo, um parágrafo à luz do capítulo inteiro, ou um livro da
Bíblia à luz de todo o cânon das Escrituras. Isso tem a ver com o contexto, e o que é dito em uma parte da
Bíblia deve ser interpretada à luz do todo que a Bíblia diz sobre o assunto.
[46] Catecismo Batista, Pergunta 94: Como a Palavra é feita eficaz para a salvação? Resposta: O Espírito de
Deus faz da leitura, mas especialmente da pregação da Palavra, meios eficazes para convicção e conversão
de pecadores, e os edifica em santidade e consolação, por meio da fé para a salvação1 (1 Neemias 8:8; Atos
26:18; Salmos 19:8; Atos 20:32; Romanos 1:15-16; 10:13-17; 15:4; 1 Coríntios 14:24-25; 1 Timóteo 3:15-17).
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mas o que é proposto em um lugar ou outro, se alguém o descobre que através da leitura
e estudo, ou pelos meios mais comuns da pregação, é suficiente para obter o conhecimento
necessário para a fé e obediência salvíficos.
8. O Antigo Testamento em Hebraico (que era a Língua nativa do povo de Deus no pas-
sado)14, e o Novo Testamento em Grego (que, na época em que foi escrito, era mais
comumente conhecido entre as nações), sendo imediatamente inspirados por Deus e
pelo Seu singular cuidado e providência conservados puros em todos os séculos, são
por isso autênticos; assim, em todas as controvérsias sobre a Religião, a Igreja deve
apelar para eles15. Mas, porque essas Línguas originais não são conhecidas por todo o
povo de Deus, que tem direito e interesse nas Escrituras, e é ordenado, no temor de
Deus, a lê-las16 e a examiná-las17, portanto, elas devem ser traduzidas para a Língua co-
mum de cada povo aonde chegar18, para que, a Palavra de Deus habitando abundante-
mente em todos, eles possam adorá-lO de uma maneira aceitável, e pela paciência e
consolação das Escrituras, possam ter esperança 19. (14 Romanos 3:2 • 15 Isaías 8:20 •
16 Atos 15:15 • 17 João 5:39 • 18 1 Coríntios 14:6, 9, 11, 12, 24, 28 • 19 Colossenses
3:16).
O Antigo Testamento em Hebraico (que era a Língua nativa do povo de Deus no pas-
sado), e o Novo Testamento em Grego (que, na época em que foi escrito, era mais
comumente conhecido entre as nações). O Antigo Testamento foi escrito em Hebraico.
Esta era a Língua comum que o povo de Deus falava naquele tempo — a sua Língua nativa.
O Novo Testamento foi escrito em Grego. O Grego era a Língua mais comum das nações
helenizadas da época, apesar de não ser a única Língua. Devemos notar que tanto o Antigo
Testamento quanto o Novo Testamento foram escritos em uma linguagem comum para
aqueles a quem foram endereçados.
__________
[47] Köstenberger e Patterson escrevem: “Ao invés de escrever em seu Hebraico nativo ou Aramaico, estes
judeus da Palestina (com a possível exceção de Lucas e o autor de Hebreus) compuseram seus escritos na
Língua franca de seus dias, o chamado koinē ou grego “comum”, ou seja, o grego falado por pessoas comuns
em todo o Império Romano. Assim, não há “Espírito Santo” Grego especial. Em vez disso, o Grego do Novo>>
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para a Igreja em Línguas comuns ao povo de Deus48. Entendemos que a Confissão usa o,
imediatamente inspirados, intencionando dizer que os manuscritos originais eram ins-
pirados.49
Deus não apenas imediatamente inspirou os manuscritos, mas Ele “pelo Seu singular
cuidado e providência os conservou puros em todos os séculos”, tanto os manuscritos
do Antigo como do Novo Testamentos. Deus o fez por Sua providência especial (ou seja,
pelo Seu singular cuidado). Deus providenciou tantos manuscritos especialmente do No-
vo Testamento que, embora não temos os manuscritos originais, críticos textuais são capa-
zes de verificar o que estava escrito no manuscrito original, com um elevado grau de certe-
za. Como resultado da providência pessoal e especial de Deus, as Sagradas Escrituras,
portanto, são por isso autênticas. Por autênticos entende-se que o que temos hoje repre-
sentam os manuscritos autênticos, ou originais. Lembramo-nos das palavras de Jesus:
“Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til
jamais passará da lei, sem que tudo seja cumprido” (Mateus 5:18).
Porque nós temos as autênticas Palavras de Deus, a Confissão afirma: “em todas as con-
trovérsias sobre a Religião, a Igreja deve apelar para eles”. A palavra eles é uma refe-
rência ao Antigo e Novo Testamentos, que são imediatamente inspirados. A declaração de
Dickson, é precisa: “Bem, então, os papistas não erram ao sustentar que a Igreja de Roma,
e o papa são os juízes supremos de todas as controvérsias de fé; e que seus decretos e
determinações devem ser cridos, sem exame, e, implicitamente, devem ser cridos por todos
os crentes? Sim50. Da mesma forma os Quakers não erram ao sustentar que a luz interior
que instrui os eleitos é o único juiz de todas as controvérsias? Sim. A Escritura nos diz: “À
lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, é porque não há luz neles”
(Isaías 8:20).
__________
<<Testamento é o mesmo que o falado na linguagem comum e encontrado em documentos cotidianos, tais
como papiros relatando registros de negócios, cartas pessoais, e semelhantes”. Andreas J. Köstenberger e
Richard D. Patterson, Invitation to Biblical Interpretation: Exploring the Hermeneutical Triad of History,
Literature, and Theology [Convite Para Interpretação Bíblica: Explorando a Hermenêutica Tríade da História,
Literatura e Teologia] (Kregel Publications Academic and Professional: 2011), p. 580.
[48] Alguns argumentaram que Deus não pode comunicar perfeitamente a Sua Palavra a nós através da
linguagem humana imperfeita, mas Deus não Se restringe pela linguagem humana imperfeita; pois o mesmo
Deus que decretou falar ao homem também decretou as Línguas da humanidade. Deus não está ausente do
desenvolvimento natural da linguagem; Suas providências ordinárias regulam tais coisas. Deus ordenou os
fins, assim como os meios.
[49] Em relação à “imediatamente inspirados”, Robert Letham escreve: “Este é um apelo aos manuscritos
originais”. A Assembleia de Westminster: Lendo Sua Teologia no Contexto Histórico (P&R Publishing:2009),
p. 144. O “autógrafo” é um termo frequentemente usado para descrever o documento original escrito pelo
escritor da Escritura. Não temos qualquer um dos manuscritos originais. O termo “manuscrito” é usado para
se referir às cópias dos manuscritos originais (cópias de cópias, etc.).
[50] David Dickson, A Vitória da Verdade Sobre o Erro: Um Comentário Sobre a Confissão de Fé de Westmins-
ter (Edinburgh, The Banner of Truth Trust), p. 16.
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A Confissão de 1689 prossegue e afirma: “elas devem ser traduzidas para a Língua co-
mum de cada povo aonde chegar”. Como o Antigo Testamento foi escrito na Língua nativa
do povo de Deus, e o Novo Testamento escrito na linguagem comum daquela época, assim
a Palavra de Deus deve ser traduzida para a Língua comum de cada nação. A palavra
comum refere-se à linguagem comumente utilizada por cada nação. A visão de que a
Escritura deve ser traduzida para todos não era a posição da Igreja Romana. Aqueles que
traduziram a Bíblia para a Língua comum do povo, tais como Tyndale, foram perseguidos
ou executados pelas mãos da Igreja Romana. Como discutimos no parágrafo sete, a Igreja
Romana entendeu que não seria capaz de manter facilmente a doutrina Romana, se as
pessoas examinassem a Palavra de Deus por si mesmas. Muitos continuam hoje neste
labor de traduzir a Palavra de Deus para a Língua comum de todas as tribos e nações; o
princípio da Reforma, Sola Scriptura, continua a impulsionar a igreja Protestante a prosse-
guir neste trabalho.
Por que as nações deveriam ter a Palavra de Deus na sua própria Língua? Para que a
Palavra de Deus [esteja] habitando abundantemente em todos. A Escritura afirma: “A
palavra de Cristo habite em vós abundantemente” (Colossenses 3:16a). Por que a Palavra
de Deus deveria habitar abundantemente em todos? Para que eles possam adorá-lO de
uma maneira aceitável, e pela paciência e consolação das Escrituras, possam ter es-
perança. A Confissão reflete as palavras da Escritura aqui também: “Porque tudo o que
dantes foi escrito, para nosso ensino foi escrito, para que pela paciência e consolação das
Escrituras tenhamos esperança” (Romanos 15:4).
__________
[51] Richard Muller define analogia scripturae como: “A interpretação de passagens obscuras, difíceis, ou
ambíguas da Escritura, por comparação com as passagens claras e inequívocas que se referem ao mesmo
ensino ou evento”. Richard A. Muller, Dicionário de Termos Teológicos em Latim e Grego (Baker Acade-
mic:1985), p. 33.
[52] Existem dois níveis.
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tanto, quando houver uma questão sobre o verdadeiro e pleno sentido de qualquer
Escritura (que não é múltiplo, mas único), esse pode ser investigado por meio de ou-
tros textos que o expressem mais claramente. Este princípio provê proteção à interpre-
tação. Ela exige que qualquer passagem que interpretamos seja vista à luz de toda a Escri-
tura, e, portanto, nós procuramos harmonizar qualquer texto com o restante das Escrituras
sobre o assunto. Uma vez que a Bíblia é um todo unificado, e suas partes formam esta uni-
dade, podemos harmonizar as partes com o todo.
10. O Juiz supremo, pelo qual todas as controvérsias da Religião devem ser determina-
das, e todos os decretos de concílios, opiniões de escritores antigos, doutrinas de
homens e espíritos particulares devem ser examinados, e em cuja sentença devemos
nos firmar, não pode ser outro senão as Sagradas Escrituras anunciadas pelo Espírito;
no que a Escritura assim anuncia, nossa fé é finalmente decidida 21 (21 Mateus 22:29,
31, 32; Efésios 2:20; Atos 28:23).
Ao chegarmos ao fim deste capítulo, parece adequado que a Confissão concluísse com o
que poderia ser visto como a aplicação da primeira cláusula da Confissão: A Escritura é...
a regra. Aqui está escrito: O juiz supremo... não pode ser outro, senão a Santa Escritura.
Mas o Juiz supremo de quê? Aqui a regra ou padrão é o juiz de controvérsias religiosas...
e todos os decretos de conselhos, opiniões de escritores antigos, doutrinas dos ho-
mens e espíritos particulares. Isso abrange toda a gama, desde o indivíduo, os escritores
antigos, ao padrão de concílios da Igreja, e todos os assuntos da Religião. As controvérsias
na Religião devem ser determinadas (julgadas, decididas) pela Santa Escritura. Todos e
outros assuntos listados devem ser examinados (avaliados) pela Sagrada Escritura. Não
devemos descansar na sentença (ou seja, nas palavras) de qualquer um, senão nas
__________
[53] Isso não remove a necessidade do trabalho exegético da passagem obscura, por simplesmente citar
outras potencialmente como passagens, não constituem exegese da passagem obscura; talvez a passagem
clara, não significa o que outras passagens significam. Portanto, se esse princípio é usado incorretamente,
pode levar à importação de sentido que não está realmente presente (eisegesis). Nós não queremos ensinar
a doutrina correta a partir do texto errado.
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Sagradas Escrituras. Mas por que isso acontece? É porque a Santa Escritura é anunciada
a nós pelo Espírito. Não há autoridade maior do que o próprio Deus; devemos receber a
Sagradas Escrituras como proveniente do próprio Deus, dessa forma Deus é em última
análise, o Juiz sobre assuntos da Religião.
A confissão é um padrão ou regra de tipos; não há como negar isso, mas a Escritura é o
juiz supremo. Enquanto uma confissão pode ter uma certa quantidade de autoridade para
uma igreja local (ou seja, talvez um padrão para a adesão, ou subscrição rigorosa para ofí-
cios da igreja), não é a regra única, suficiente, correta e infalível regra — apenas a Escritura
o é; credos e confissões são subservientes. É a Escritura que é verdade, e julga se os resu-
mos das Escrituras (como credos, confissões ou catecismos, etc.) são de fato represen-
tações precisas da verdade. No campo da teologia, credos e confissões se enquadram na
categoria denominada Simbólicos. Então, se você tiver uma classe sobre Simbólicos no
seminário, você estudará uma confissão particular, ou vários credos e confissões. A razão
pela qual credos e confissões são chamados de símbolos é porque eles são representações
da Escritura (ou seja, resumos das Escrituras), não as Sagradas Escrituras, de fato. Por
exemplo, um símbolo real ou a bandeira de um país é um símbolo do rei ou do país, não é
a realidade mesma que ele representa. E a própria natureza de um símbolo confessional é
que ele representa, ou busca representar o que as Escrituras ensinam. Aqueles que re-
jeitam “qualquer credo, senão a Bíblia”, muitas vezes não reconhecem esta distinção. É jus-
tamente esta distinção que permitem um lugar legítimo a credos e confissões em nossa fé.
Jesus manteve a Escritura como sendo o juiz supremo em matéria de controvérsia na Reli-
gião. Se Jesus, o próprio Deus, usou a Escritura como o juiz supremo nessas questões,
claramente devemos fazer o mesmo. Por exemplo, vemos no Evangelho de Mateus: “Jesus
porém respondendo-lhes [aos saduceus], disse: Errais, não conhecendo as Escrituras, nem
o poder de Deus. Porque na ressurreição nem casam nem são dados em casamento; mas
serão como os anjos de Deus no céu. E, acerca da ressurreição dos mortos, não tendes
lido o que Deus vos declarou, dizendo: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o
Deus de Jacó? Ora, Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos. E, as turbas, ouvindo
isto, ficaram maravilhadas da sua doutrina” (Mateus 22:29-33). Jesus, aqui, julgou pela Es-
critura, e nesta passagem vemos o julgamento que Ele fez: “Errais”. Por que ou como eles
estavam errados? “Não conhecendo as Escrituras”.
A Confissão de 1689 abordou ao longo de todo este capítulo, o ensino da Reforma, Sola
Scriptura (somente a Escritura). A Confissão estabeleceu uma excelente doutrina das Escri-
turas. Com base neste fundamento, o restante da Confissão apresenta todo o conselho de
Deus.
Amém!
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Apêndice:
Introdução
Tente imaginar uma situação como essa: você mora numa cidade grande, a capital de seu
país. Você é membro de uma dentre um punhado de igrejas, que estão apenas começando
a crescer e ser notadas na cidade. Mas reunir-se com seus irmãos e irmãs é ilegal. Todos
os que vivem ali só devem lembrar-se que há uma única religião legal, e toda tentativa de
discordar dela encontrava perseguição e oposição.
Essa foi uma das situações que os membros de sete igrejas Batistas Calvinistas encararam
em Londres em 1644. Poucos anos depois, o número de seus membros cresceu, e as pes-
soas começaram a notar sua presença em Londres. Mas essa não era uma notícia muito
amigável. Em 1642, foi publicado um panfleto anônimo intitulado A Warning for England,
especially for London; in the famous History of the frantick Anabaptists, their wild Preachings
and Practices in Germany [Um Alerta para a Inglaterra, especialmente para Londres; a
famosa História dos Anabatistas desvairados, e suas Pregações e Práticas ferozes na
Alemanha]. Uma obra surpreendente. O autor, em nove páginas duas vezes maiores que
o normal, descreveu os tristes eventos de Münster, Alemanha. Rebelião, sedição, roubo e
assassinato foram atribuídos aos “anabatistas”. Do começo ao fim não há menção de nada
senão desses eventos de outro tempo e lugar — até a última sentença do panfleto que pro-
nunciou um julgamento sutil, mas de forma brilhante e poderosa: “Cuidado! O que foi feito
na Alemanha pelos Anabatistas pode muito bem se repetir em Londres, se essas pessoas
puderem espalhar as suas doutrinas”.
Então, o que os Batistas fizeram? A situação era potencialmente explosiva. Eles sabiam
que era essencial demonstrar que não eram radicais, e que não estavam minando subversi-
vamente a estrutura da sociedade. Pelo contrário, eles eram cidadãos obedientes à lei, que
estavam sendo mal compreendidos e representados por muitos. Eles queriam e precisavam
mostrar que eram bem ortodoxos em suas crenças teológicas, e que não tinham outra agen-
da senão o compromisso fiel e consciente para com Deus e Sua Palavra.
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Ao encarar tais circunstâncias, os Batistas decidiram que precisavam agir a fim de extinguir
o medo e as informações erradas que se espalhavam. Deus abençoara seus esforços até
aquele momento, e eles não queriam ver esses esforços frustrados por boatos e insinua-
ções de seus inimigos. Então adotaram uma prática frequentemente usada por outros nos
últimos 150 anos — eles elaboraram uma confissão de fé de maneira que qualquer um ne-
les interessado pudesse ser capaz de obter um entendimento preciso de suas doutrinas e
práticas.
Um dos principais objetivos ao publicar sua Confissão de Fé em 1644 era repudiar laços
com os Anabatistas. Isso fica evidente no título da página que diz, “The Confession of Faith,
of those Churches which are commonly (though falsly [sic]) called Anabaptists”. [A Confis-
são de Fé, das Igrejas que são comumente (embora falsamente) chamadas Anabatistas] 1.
A epístola no começo da Confissão identifica o problema:
Não duvidamos de que isso parecerá estranho a muitos homens, que tal como somos
frequentemente denominados, sob calúnia e acusação de sermos hereges e semea-
dores de divisões, presumíssemos afigurar-nos publicamente como temos feito: [...]
nada mais triste para o observador, que amargas acusações sejam lançadas, não
apenas pelo mundo, que não conhece a Deus, mas também por aqueles que se jul-
gam muito injustiçados caso não sejam vistos como as principais Dignidades da Igreja
de Deus, e Guardiões da Cidade: [...] acusando-nos de defensores do livre-arbítrio;
da possibilidade de decair da graça; de negarmos o pecado original; de desacato à
magistratura, desobedecendo-lhes as leis pessoalmente ou no pagamento de tributos;
e de agirmos impropriamente na dispensação da Ordenança do Batismo. Recusam-
se considerar-nos Cristãos.2
É evidente que nessa lista de acusações muitas eram relevantes, ainda que realidade ou
fantasia, aos Anabatistas do continente. Tudo que um oponente dos Batistas precisava
fazer era mencionar o nome “Münster”, e todos os supostos horrores daquela cidade seriam
imputados às suas “contrapartes” da Inglaterra 3. Evidentemente, os Batistas Particulares
foram pressionados por essas acusações, e desejaram se livrar de quantas fosse possível.
Portanto, afirmaram abertamente que o nome “Anabatista” foi dado falsamente, e não refle-
tia suas próprias convicções.
__________
[1] William L. Lumpkin, Baptist Confessions of Faith [Confissões de Fé Batista], rev. ed. (Valley Forge: Judson
Press, 1969), 153.
[2] Ibid., 154-55.
[3] Lumpkin menciona dois livros os quais podem ter sido especialmente desagradáveis em suas acusações
contra os Batistas: A Short History of the Anabaptists of High and Low Germany [Uma Breve História dos
Anabatistas da Alta e Baixa Alemanha] (1642), e A Warning for England especially for London [Um Alerta para
a Inglaterra, Especialmente para Londres] (1642), BCF, 145.
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A Primeira Confissão Londrina De 1644
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Isso funcionou? Bem, aparentemente sim, pois vemos que seus oponentes tomaram conhe-
cimento deles. Muitos homens que parecem ter se autoproclamado “caçadores de heresia”
escreveram sobre a Confissão como tendo sido escrita pelos Batistas. O primeiro que deve-
mos mencionar foi um homem chamado Thomas Edwards. Em 1646, ele publicou em três
partes separadas uma obra intitulada Grangaena, or A Catalogue and Discovery of many
of the Errors, Heresies, Blasphemies and pernicious Practices of the Sectaries of this time,
vented and acted in England in these last four years [Gangrena: ou Um Catálogo e Reve-
lação de muitos dos Erros, Heresias, Blasfêmias e Práticas perniciosas dos Sectários dessa
época, ventiladas e realizadas na Inglaterra nesses últimos quatro anos]. Na página 106 da
primeira parte de Grangaena, Edwards menciona a Confissão de 1644, mas nela não
encontra nenhuma falha, admitindo que suas declarações são como aquelas das “Igrejas
Reformadas”, mas a chama de “fraude e falácia” que tinha a intenção de ocultar aquilo que
ele pensava ser a verdade das doutrinas Batistas. Ao menos a Confissão era ortodoxa.
Quando Stephen Marshall, um membro da Assembleia de Westminster, atacou os Batistas
em 1645, John Tombes respondeu apontando para essa Confissão como um meio de esta-
belecer a ortodoxia dos Batistas Particulares.4
Ainda mais interessantes são os comentários de Daniel Featley. O Dr. Featley foi um mem-
bro da Assembleia de Westminster por um curto período de tempo, e autoproclamado caça-
dor de heresia. Ele disse o seguinte sobre a Confissão de 1644:
Se dermos crédito a essa Confissão e a seu Prefácio, aqueles dentre nós que são
assim estigmatizados [i.e. Anabatistas], não são nem Hereges, nem Separatistas, mas
Cristãos aficionados: sobre quem, através de falsas sugestões, pesou a mão da autori-
dade, enquanto a Hierarquia permaneceu: pois, eles nem ensinam o livre-arbítrio; nem
o decair da graça como os Arminianos; nem negam o pecado original como os Pelagi-
anos, nem rejeitam os magistrados como os Jesuítas, nem mantêm a pluralidade de
esposas como os Polígamos, nem a comunhão de bens como os Apostólicos, nem o
andar nu como os Adamitas, muito menos afirmam a mortalidade da alma como os
Epicuristas e Psicofanaticistas: e com tal propósito eles publicaram essa confissão de
Fé, subscrita por dezesseis pessoas, em nome de sete Igrejas em Londres.5
As palavras de Featley são muito interessantes. Ele entendeu exatamente o que os Batistas
pretendiam com a publicação de sua Confissão: uma demonstração honesta daquilo em
__________
[4] John Tombes, Two Treatises and an Appendix to them Concerning Infant Baptisme [Dois Tratados e um
Apêndice Sobre o Batismo Infantil], (Londres: George Whittington, 1645), 31, 34. As declarações estão no
Segundo tratado, entitulado "An Examen of the Sermon of Mr. Stephen Marshall, about Infant Baptism” [Um
Exame do Sermão do Sr. Stephen Marshall, sobre o Batismo infantil], em uma carta enviada a ele.
[5] Featley, The Dippers Dip’t, 177-78. Ele não aceitou as alegações de ortodoxia dos Batistas.
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que eles acreditavam. É claro, Featley não acreditou neles, dizendo: “eles cobrem um pou-
co de veneno de rato sob uma grande quantidade de açúcar, para que não sejam discerni-
dos; pois, entre os cinquenta e três Artigos de sua Confissão, não há senão seis que se
passam por construções justas: e nesses seis, nenhuma das mais sujas e odiosas posi-
ções, com as quais tal Seita é difamada, são expressas”. Mas esse ponto é importante. À
primeira vista, um dos mais fervorosos caçadores de heresia reconheceu que suas palavras
eram ortodoxas. Featley fez seis críticas específicas à Confissão: 1. Que os Batistas no
artigo 31 pareciam implicar que o direito às possessões terrenas está fundamentado na
graça, e não na natureza; 2. O artigo 38 fala contra o apoio de ministros pelo estado; 3. 4.
e 5. Todos lidam com o Batismo de crentes; 6. Que os Batistas permitiam que homens não
ordenados pregassem. Essas foram todas as críticas de Featley à Confissão. Mas note o
que os Batistas fizeram em resposta a Featley: eles revisaram sua Confissão em 1646. No
artigo 31, eles adicionaram uma declaração para dizer que: “Aqueles que não possuem fé,
podem desfrutar licitamente das coisas terrenas por direito civil”. No artigo 38, eliminaram
as palavras contra o apoio de ministros pelo estado. Até a linguagem utilizada quanto ao
Batismo foi levemente alterada a fim de afastar algumas críticas. A segunda edição da Con-
fissão, de fato a única que está mais comumente disponível hoje, é uma versão revisada
em resposta às críticas de Daniel Featley. Os Batistas atenuaram ou alteraram a linguagem
em alguns trechos para que a Confissão fosse mais aceitável aos Pedobatistas. Penso que
eles não comprometeram a Confissão. Eles simplesmente cumpriram o propósito original.
Eles queriam que aqueles homens reconhecessem sua ortodoxia, e entendessem que a
única maneira de fazer isso com sucesso era reconsiderar suas atitudes. Devemos sempre
lembrar-nos disso. A Primeira Confissão Londrina de 1644 era uma tentativa de remover
as ameaças de perseguição e obter aceitação teológica dos Pedobatistas; e a segunda edi-
ção de 1646 foi ainda mais explícita quanto a isso. As Confissões serviram bem ao propó-
sito, ainda que alguns pensassem que elas fossem uma cortina de fumaça para encobrir
doutrinas mais nefastas.
Quem editou a Confissão de 1644? Realmente não sabemos ao certo. Alguns têm sugerido
John Spilsbury, um dos mais antigos pastores em Londres; ele provavelmente é tão bom
candidato quanto os demais. A. C. Underwood cita um escritor anônimo que chamou o autor
de “grande Patriarca da Confissão Anabatista”, e R. L. Greaves diz que “ele [Spilsbury] foi
um signatário e provavelmente o principal autor da confissão Batista Particular” 6. W. L.
Lumpkin sugere que “ele [Spilsbury] deve ter tido um papel proeminente em sua prepara-
ção” e isso provavelmente está correto. Ele também sugere que “se a Confissão fosse o
produto de uma autoria conjunta, [Spilsbury] provavelmente foi assistido por William Kiffin
__________
[6] A. C. Underwood, A History of the English Baptists [A História dos Batistas Ingleses], (London: The Baptist
Union Publication Department, 1947), 60; BDBR 3:193-94.
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e Samuel Richardson”7. Dada a importância desses homens, o cenário proposto é altamen-
te possível.
Como observamos, a 1° CFL foi revisada em resposta a Daniel Featley em 1646, e nova-
mente em 1651. Por muitos anos ela serviu como base para ortodoxia e comunhão entre
os Batistas Calvinistas. Mas em meados da década de 1670, as igrejas acharam necessário
oferecer outra confissão ao mundo. Podemos mencionar várias razões para tal. Primeiro,
os próprios Batistas indicavam que as cópias da Confissão de 1644 estavam escassas,
eram difíceis de obter. Poderia ter sido factível reimprimir cópias da primeira confissão, mas
fazer isso não era o objetivo. Em meados da década de 1670, a Verdadeira Confissão de
1596 foi sobrepujada pela Confissão de Westminster e a Declaração de Savoy, e elaborar
um documento baseado nela teria parecido um anacronismo. Além disso, é claro que a
primeira Confissão não lidava com cada área que poderia ser mencionada em uma
declaração doutrinária. Na década de 1670, outras questões precisavam ser discutidas. Por
exemplo, era importante tratar do Sabath, pois havia um pequeno, mas crescente, grupo
advogando a observância do 7° dia como o Sabath. Mas talvez mais importante, uma triste
situação envolvendo um homem de proeminência que estava pressionando as igrejas.
Thomas Collier, um evangelista que havia sido enviado pela igreja de William Kiffin na
década de 1640, adotou e passou a promover uma estranha mistura de heresias, e os
homens de Londres sabiam que medidas decisivas deveriam ser tomadas para interromper
os falsos ensinamentos de Collier. Michael Haykin fala da deserção de Collier como “talvez
o motivo mais importante para uma nova confissão” 8. Portanto, uma nova Confissão foi
editada e circulada entre as igrejas para aprovação.
Essa Confissão, com toda a sua influência, talvez seja mais bem entendida contra seu con-
texto histórico e teológico. Ela não apareceu repentinamente, o produto de uma súbita ex-
__________
[7] Lumpkin, Confissões Batistas, 145-146.
[8] Michael Haykin, Kiffin, Knollys and Keach: Rediscovering Our English Baptist Heritage [Kiffin, Knollys and
Keach: Redescobrindo Nossa Herança Batista Inglesa] (Leeds: Reformation Today Trust, 1996), 68.
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plosão de conhecimento teológico da parte de seu autor ou autores, mas seguindo o costu-
me de elaborar bem uma Confissão, ela está amplamente vinculada a documentos Refor-
mados mais antigos. Uma rápida olhada mostrará que ela baseia-se, em larga escala, no
mais Puritano dos documentos, a Confissão de Fé de Westminster de 1647. Uma inspe-
ção mais cuidadosa revelará que ela está ainda mais intimamente relacionada à revisão da
Confissão de Westminster feita em 1658 por John Owen e outros, popularmente conhecida
como Declaração de Savoy. Em quase todos os casos, os editores da Confissão Batista
seguiram as revisões dos editores de Savoy quando esses diferiam do documento de West-
minster. Além disso, os Batistas fizeram uso ocasional da fraseologia da Primeira Confissão
Londrina. Quando todo esse material é levado em consideração, poucas coisas são novas
e originais na Confissão de 1677/89.
Pelo fato de que nosso método, e maneira de expressar os sentimentos, variam com
relação à primeira [i.e. a Primeira Confissão Londrina] (embora a essência do assunto
seja a mesma) diremos honestamente qual a ocasião e o porquê disso. O consenso
que prevaleceu entre nós e nos levou a empreender essa obra, foi o de que ela seria
não apenas um relato completo acerca de nós mesmos aos Cristãos que diferem de
nós quanto ao Batismo, mas também proveitosa para instrução e estabelecimento nas
verdades do Evangelho daqueles que têm algum apreço por nosso labor. Entendemos
com clareza, e com firmeza de fé, que nossa caminhada com Deus, agradável e frutí-
fera, de todas as formas, é a maior preocupação; e, portanto, concluímos ser necessá-
rio expressar-nos mais completa e distintamente; e também ajustar nosso método pa-
ra que [a Confissão] seja mais compreensível naquilo que elaboramos para explicar a
razão de nossa fé; quanto a isso não encontramos nenhum defeito no que foi desen-
volvido pela assembleia [i.e. a Assembleia de Westminster], e depois deles pelos de
persuasão Congregacional [i.e. o Sínodo de Savoy], então concluímos prontamente
ser melhor manter a mesma ordem em nossa confissão atual. Além disso, verificamos
que esses grupos acima mencionados escolheram não só expressar seu pensamento
com palavras semelhantes às da primeira (por razões que pareceram importantes
tanto para si quanto para outros), no que diz respeito a todos aqueles artigos com os
quais eles estavam de acordo, como também não propuseram qualquer variação dos
termos em sua maior parte. De maneira semelhante, chegamos à conclusão que seria
melhor seguir o exemplo e fazer uso das mesmas palavras nesses artigos (que são
muitos) em que nossa fé e doutrina são as mesmas com as deles, e isso fizemos,
mais abundantemente, a fim de manifestar nosso consentimento com ambos, em to-
dos os pontos principais da Religião Cristã, assim como com outros tantos, cuja orto-
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doxia e confissões têm sido publicadas pelo mundo; em nome dos Protestantes em
diversas nações e cidades: e também para convencer a todos que não ansiamos de-
turpar a Religião com novos discursos, mas prontamente sujeitar-nos às sólidas pala-
vras, que têm sido usadas por muitos outros antes de nós em consentimento com as
Sagradas Escrituras, e assim declarar perante Deus, Anjos & Homens nossa sincera
concordância com eles, na Sã Doutrina Protestante, que com tão clara evidência das
Escrituras eles têm afirmado. Algumas coisas, de fato, foram adicionadas em alguns
lugares, alguns termos foram omitidos, e outros poucos modificados, mas essas alte-
rações são de natureza tal que não se fazem necessárias dúvidas, acusações ou
suspeitas de debilidade na fé, de qualquer de nossos irmãos ou da parte deles.
Essas palavras são de real importância, e precisam ser consideradas muito cuidadosamen-
te. Em ambas as suas Confissões, os Batistas usaram documentos existentes de propósito,
para demonstrar seu consentimento com muito do pensamento teológico corrente. Na
citação acima, eles argumentam que as doutrinas expressadas em ambas as Confissões
Batista são as mesmas, mas eles escolheram basear a Confissão mais nova nos documen-
tos mais recentes e amplamente disponíveis de Westminster e Savoy. Ao fazer isso, eles
estavam declarando com vigor seu próprio desejo de serem colocados entre a Cristandade
Inglesa Reformada e Confessional.
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início do século dezenove deduziu que a Confissão originou-se na Igreja de Petty France,
e essa é provavelmente uma suposição precisa.
Essa igreja foi uma das sete primeiras igrejas [Batistas] em Londres, tendo se beneficiado
do ministério de Edward Harrison por muitos anos. Em 1675, dois homens de imensa impor-
tância para a história dos Batistas Particulares, Nehemiah Coxe e William Collins, foram
ordenados como pastores auxiliares no mesmo dia.
Nehemiah Coxe foi o filho do líder Batista Particular Benjamin Coxe. Ele era um médico
qualificado e sábio teólogo, instruído em latim, grego e hebraico. Quando o Evangelista
Thomas Collier começou a se desviar da Ortodoxia Calvinista das Igrejas de Londres, os
anciãos dessas igrejas pediram a Coxe para responder em impresso aos pontos de vista
de Collier. Ele o fez em 1677 em sua obra Vindiciae Veritatis, or a Confutation of the
Heresies and Gross Errous Asserted by Thomas Collier [Vindicação da Verdade, ou uma
Refutação das Heresias e Erros Grosseiros Afirmados por Thomas Collier]. O livro é uma
poderosa expressão da Doutrina Reformada. Em 1681, durante um período de persegui-
ção, Coxe publicou A Sermon Preached at the Ordination of an Elder and Deacons in a
Baptized Congregation in London [Uma Palavra Pregada na Ordenação de um Ancião e
Diáconos em uma Congregação de Batizados em Londres]. Esse é um resumo útil das
funções e responsabilidades de anciãos e diáconos. Também em 1681, Coxe publicou A
Discourse of the Covenants that God made with Men before Law [Um Discurso das Alianças
que Deus fez com os Homens antes da Lei]. O contemporâneo de Coxe, C. M. du Veil, em
1685 no seu comentário de Atos, disse de Coxe: “grande teólogo, eminente em todas as
formas de conhecimento”. Está claro que Nehemiah Coxe era tido com grande apreço por
seus irmãos, e estava bem preparado para servir como um editor da Confissão de Fé.
William Collins, ancião auxiliar de Coxe, recebeu uma ótima educação, graduou-se e viajou
pela Europa antes de seu chamado para servir na Petty France. A estima pela qual era tido
por seus irmãos pode ser notada pelo fato de que ele foi requisitado pela Assembleia Geral
para elaborar um catecismo, e sobre isso, Joseph Ivimey afirma: “É provável que o Cate-
cismo Batista foi compilado pelo Sr. Collins, embora por algum motivo tenha sido chamado
de Catecismo de [Benjamin] Keach” [2:397].
De acordo com os comentários feitos em um sermão de funeral por John Piggott, Collins
era um ancião estudioso e um bom pastor, notável por seu espírito sereno. “Os assuntos
dos quais ele geralmente tratava ao longo de seu ministério eram as grandes e importantes
verdades do Evangelho, o qual ele manejava com grande discernimento e clareza. Como
ele explicava as misérias da Queda! E de que maneira comovente ele discursava sobre a
excelência de Cristo, e as virtudes de Seu sangue, e sua boa vontade para salvar pobres
pecadores, miseráveis e sobrecarregados! [...] Seus sermões eram úteis, sob a influência
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da graça Divina, para converter e edificar, para iluminar e confirmar; eram tirados da Fonte
da Verdade, as Sagradas Escrituras, que ele constantemente expunha a partir das línguas
originais, tendo lido os melhores críticos, antigos e modernos; assim, os homens mais capa-
zes devem aprender com suas pregações, bem como os incautos”. Tal testemunho de seu
caráter e habilidades é bastante adequado a alguém de quem se pensa ter sido coeditor da
Confissão de Fé.
Apesar de não podermos afirmar com certeza, muitas evidências circunstanciais apontam
para Coxe e Collins como autores da Confissão. Ambos eram homens qualificados e respei-
tados, e a primeira menção do documento é encontrada na ata de sua igreja, ao aprovar-
se a publicação. Cada um deles foi solicitado que liderassem nos escritos teológicos, um
fato que era de se esperar de tais homens. Até que outra evidência seja encontrada, esse
parece o cenário mais provável para a origem da Confissão.
[A Confissão] se tornou uma leitura comum do dia a dia, e foi usada como teste de ortodo-
xia10. O uso da Confissão com padrão doutrinário é demonstrado por um incidente na Igreja
de Broadmead, Bristol. Em abril de 1682, eles requisitaram de Thomas Winnel, membro de
uma igreja Batista Arminiana que estava tentando se juntar à assembleia, que subscre-
vesse a Confissão, a fim de garantir que suas doutrinas eram consonantes com as da
igreja11. As sérias diferenças nas convicções desses grupos teologicamente diversos foram
__________
[9] Confissão de Fé, página do título.
[10] Em 1681, Hanserd Knollys fez uma referência direta à Confissão em seu livro The World that Now Is; and
the World that is to Come [O Mundo de Agora; e o Mundo Por Vir]. No meio de uma seção que explicava o
procedimento de disciplina da igreja, Knollys incorpora sentenças do Capítulo 26, parágrafos 3 e 13.
Nehemiah Coxe, em um sermão pregado e publicado em 1681, igualmente incorpora sentenças do capítulo
26, parágrafos 8 e 10 em suas explicações. Cf. Nehemiah Coxe, A Sermon Preached at the Ordination of na
Elder and Deacons in a Baptized Congregation in London [Um Sermão Pregado na Ordenação de um Ancião
e de Diáconos em uma Congregação de Crentes Batizados em Londres] (London: Tho. Fabian, 1681), 15,
36-38.
[11] Hayden, The Records of A Church of Christ [Os Registros de Uma Igreja de Cristo], 241. Os registros de
fato afirmam que ele “professou crer nos princípios contidos na Confissão de Fé Batista, 1667”. O editor
recente afirma: “Não se conhece nenhuma Confissão de Fé dessa data. É provável que Terril [o autor dos
Registros] se refere à Confissão de Fé Batista Particular de 1677, que era um teste padrão de ortodoxia entre
as Igrejas Batistas Particulares daquele tempo”.
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resolvidas por meio dessa afirmação pessoal. Winnel posteriormente tornou-se pastor da
Igreja Batista Particular de Taunton, Somersetshire.
Benjamin Keach usou a Confissão como uma ferramenta apologética em 1694. Ele esteve
envolvido em um debate sobre a validade do batismo infantil, e respondeu à questão sobre
o status dos infantes afirmando que “todos os infantes estão sob a culpa e mácula do peca-
do original [...] e que nenhum infante pode ser salvo senão pelo Sangue e Imputação da
justiça de Cristo”. Ele fez referência ao “Artigo de nossa Fé”, e disse abruptamente: “Veja a
nossa Confissão de Fé”.12
Na Assembleia Geral de 1689, a importância da Confissão foi manifesta. 108 igrejas esta-
vam representadas ou enviaram mensagens à Assembleia, e a Confissão foi endossada
nos famosos termos:
__________
[12] Benjamin Keach, A Counter Antidote to purge out the Malignant Effects of a Late Counterfiet, Prepared
by Mr. Gyles Shute, an Unskilful Person in Polemical Cures [Um Antídoto para Expurgar os Efeitos Malignos
de Uma Recente Falsificação Elaborada por Sr. Gyles Shute, Uma Pessoa Inexperiente em Curas Polêmicas]
(London: H. Bernard, 1694), 12.
[13] A Narrative of the Proceedings of the General Assembly Of divers Pastors, Messengers and Ministring
Brethren of the Baptized Churches, met together in London, from Septemb. 3. to 12. 1689, from divers parts
of England and Wales: Owning the Doctrine of Personal Election, and final Perseverance [Uma Narrativa dos
Procedimentos da Assembleia Geral de Vários Pastores, Mensageiros e Ministros Irmãos das Igrejas de
Batizados, reunidos em Londres, a partir de de 3 a 12 de Setembro de 1689, a partir de diversas partes da
Inglaterra e País de Gales: Confessando a Doutrina da Eleição Pessoal, e Perseverança Final] (London:
Printed in the Year, 1689) 18. É curioso que, embora o documento seja comumente conhecido como a
Confissão de 1689, não pude encontrar nenhuma evidência bibliográfica que ela tenha sido impressa naquele
ano. Ela foi publicada em 1677, 1688 e 1699. Veja Donald Wing, Short-Title Catalogue of Books Printed in
England, Scotland, Ireland, Wales, and British America and of English Books Printed in Other Countries 1641-
1700 [Breve Catálogo de Títulos de livros impressos na Inglaterra, Escócia, Irlanda, País de Gales e na
América Britânica e de Livros Ingleses impressos em Outros Países entre 1641-1700], 2d ed., (New York:
The Index Committee of the Modern Language Association of America, 1972) 1:369.
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Eles têm sua “própria” Confissão, e insistem que ela é uma clara declaração de sua fé e
prática. Para eles, a Confissão era uma ferramenta apologética. Os de fora seriam capazes
de ler suas declarações e reconhecer que essas igrejas eram doutrinariamente ortodoxas.14
A subscrição confessional era considerada uma séria questão entre muitas igrejas 15. Era
“posse solene e ratificação”, um comprometimento com um sistema teológico definitivo.
Esses homens estavam tão fortemente comprometidos às palavras contidas em sua Confis-
são que eles consideravam qualquer um “o tipo mais grosseiro de hipócrita, ao professar o
contrário de sua Profissão de Fé, e ainda, ao crer e praticar o contrário ao que eles solene-
mente professaram como sua fé”16. Ao longo desse período considerado, a Segunda Con-
fissão Londrina foi aceita como o padrão definitivo de fé e prática teológica ortodoxa dentro
de um grande círculo de igrejas. Eles queriam que as igrejas fossem conhecidas quando
alguém lesse sua Confissão, que eles tivessem uma compreensão justa das convicções e
práticas dessas igrejas.
Implicações
__________
[14] Bagnio/Cripplegate Church Minute Book 1695-1723, Angus Library, Regent's Park College, Oxford,
página não numerada, próximo à página 27. A seriedade dessa declaração é exemplificada nas palavras do
anfitrião da Igreja de Broken Wharf, cujo pastor em 1691 foi Hanserd Knollys. Em 1706, quando foi feita uma
tentativa de ressuscitar a defunta Associação Londrina, eles se recusaram a fazer parte “Porque a solene
posse & ratificação de nossa tão bem atestada & e aprovada Confissão de Fé, como transmitida por nós em
vossa completa evidência, e por nossos pastores &c na assembleia geral, nos parece, assim como também
pareceu a eles, coisa absolutamente necessária para regular a constituição de todas as associações: mas
vós, admitindo as igrejas à Associação tornais isso completamente impraticável.” Eles publicaram essas
palavras em uma carta aberta explicando suas razões para permanecerem afastados, pois “Humildemente
ofereceram à consideração de todas as Igrejas Batistas, as quais subscreveram, ou podem subscrever, à
confissão de nossa Fé, impressa no ano de 1688 e recomendada às igrejas pela Assembleia Geral que se
reuniu em Broken Wharf, Londres, 1689.” Ibid., 26. Broken Wharf foi o local dessa mesma igreja quando
Knollys foi o pastor.
[15] Quando a igreja de Maze Pond foi constituída em Fev., 1694, a Confissão foi explicitamente adotada no
primeiro artigo do estatuto da igreja. Maze Pond Church Book 1691-1708, The Angus Library, Regent's Park
College, Oxford, 1.
[16] William Kiffin, Robert Steed, George Barrett and Edward Man, A Serious Answer to a Late Book, Stiled,
A Reply to Mr. Robert Steed's Epistle concerning Singing [Uma Resposta Firme a um Livro do Sr. Robert
Steed, Intitulado, Uma Resposta à Epístola Concernente ao Canto] (London: Printed in the Year, 1692), 18.
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é menos. Com frequência, isso é afirmado por aqueles que se opõe à Teologia do Pacto
que é mais explícita na Segunda Confissão do que na primeira. Isso se aplica principalmente
para os adeptos da chamada Teologia da Nova Aliança. Mas a pergunta que eu gostaria
de fazer àqueles que afirmam essa diferença é: Baseado em que se pode afirmar isso?
Frequentemente, essa alegada distinção é feita por aqueles que têm pouca ou nenhuma
familiaridade com os contextos histórico e teológico das duas Confissões. Como bons pós-
modernistas, eles leem as Confissões sob a perspectiva do tipo de teologia que eles espe-
ram encontrar lá, sem nenhuma investigação séria do pensamento teológico dos homens
que escreveram as Confissões. Assim como qualquer outro documento histórico, nossas
confissões precisam estar sujeitas à uma exegese histórico-gramatical. Não podemos sim-
plesmente lê-las sob a perspectiva daquilo que pensamos poder encontrar nelas. Ao invés
disso, precisamos perguntar e responder à questão “Como os homens que primeiro adota-
ram essa Confissão entenderam sua teologia? Seus escritos apoiam a ideia de que há dife-
renças significantes entre as duas?”. Um exame desse tipo pode ser um exercício muito
produtivo para esclarecer essa ideia.
Precisamos dizer algumas coisas. Primeiro, o método de edição dessas Confissões foi o
mesmo. Ambas foram baseadas em documentos Pedobatistas existentes, adaptadas, não
para destacar as diferenças, mas para enfatizar as semelhanças. Os editores de ambas as
Confissões usaram o método idêntico. Eles escolheram as melhores Confissões Pedobatis-
tas existentes e as “batizaram”. Além disso, é importante lembrar que a primeira Confissão
foi, de fato, revisada para torná-la mais palatável à oposição Pedobatista. Ao longo do sécu-
lo dezessete, os Batistas Calvinistas procuraram demonstrar sua ortodoxia às suas contra-
partes Pedobatistas.
Segundo, os escritos dos homens que publicaram a Primeira Confissão Londrina demons-
tram que eles estavam comprometidos com o mesmo tipo de Teologia do Pacto que está
mais explicitamente articulada na Segunda Confissão Londrina. John Spilsbury, algumas
vezes sugerido como autor da Primeira Confissão, escrevendo em seu livro de 1643 A
Treatise Concerning the Lawful Subject of Baptisme [Um Tratado Acerca do Sujeito
Legítimo do Batismo], disse logo na primeira página do texto: “Como a Escritura é a regra
perfeita para todas as coisas, tanto para a fé como para a prática; confesso que isso é
verdade. E para a justa e verdadeira implicação da Escritura, não nego; e ao Pacto de vida
que repousa entre Deus e Cristo para todos os Seus eleitos, não me oponho: e que a
profissão externa desse Pacto, foi diferente sob diversos períodos, não contradirei”. William
Kiffin, o homem cujo nome lidera a lista daqueles que publicaram a Confissão de 1644, es-
creveu em seu livro de 1642, intitulado Certain Observations upon Hosea the Second 7. &
8. Verses [Algumas Observações sobre Oséias 2:7-8]: “Na Escritura é dito que homens
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abandonam a Deus quando eles abandonam a Lei de Deus, os Mandamentos de Deus, ou
a adoração de Deus [...]” (p. 4.), “estar perto de Deus é estar perto da Lei de Deus, dos
Mandamentos de Deus [...] é melhor tanto para homens como para as igrejas, quando eles
assim o fazem” (p.16). Hanserd Knollys, um dos signatários da segunda edição do primeiro
documento, de 1646 escreveu em seu livro de 1646 Christ Exalted: A Lost Sinner Sought
and Saved by Christ [Cristo Exaltado: Um Perdido Pecador Alcançado e Salvo por Cristo]:
“A diferença entre a Lei e Cristo é essa: na Lei, Moisés ordena seus discípulos a fazerem
isso, e os proíbe de fazerem aquilo, mas não lhes dá nenhum poder, nem lhes comunica
nenhuma habilidade para cumprir alguma coisa: Cristo ordena seus discípulos a obedece-
rem aos mesmos deveres morais, e proíbe a prática dos mesmos males, mas juntamente
com seus mandamentos Ele dá poder, e sabedoria, pois Ele opera em nós tanto o querer
como o realizar, segundo sua boa vontade” (p. 24), e outra vez no mesmo livro, ao comentar
sobre os pecados daqueles a quem ele chama de professos carnais: “Eles estão tão afas-
tados da fé, que de vez em quando professam, e aparentam ter (1 Timóteo 4:1), que eles
questionam se as Escrituras são verdadeiramente a Palavra de Deus. Se Cristo é o Filho
de Deus. Se o primeiro dia da semana é o Sabath de Deus” (pg.34). Ele coloca a dúvida no
que diz respeito à validade do 1° dia como o Sabath juntamente com as dúvidas acerca da
inspiração da Escritura e da Deidade de Cristo! Não seria difícil apresentar mais evidências.
Quando se considera os escritos teológicos dos homens que subscreveram à Confissão
Londrina de 1644/46, descobre-se que eles acreditavam nas mesmas coisas articuladas
mais claramente na Confissão Londrina de 1689. A diferença não é doutrinária, e sim a for-
ma de expressar.
Em terceiro, também devemos lembrar que foram as mesmas igrejas, e muitos dos mesmos
homens, que elaboraram ambas as Confissões. Sete congregações de Londres publicaram
a Confissão de 1644/46. Por volta de 1689, representantes de quatro dessas igrejas tam-
bém assinaram publicamente a Confissão de 1689. O que aconteceu com as outras três?
Elas ou deixaram de existir, ou se juntaram a outras. Além disso, muitos personagens chave
assinaram as duas Confissões: William Kiffin, Hanserd Knollys, Henry Forty, bem como a
dupla formada por pai e filho, Benjamin Coxe e Nehemiah Coxe. Se a teologia das duas
Confissões é diferente, deve-se demonstrar que essas igrejas e esses homens passaram
por um processo de mudança teológica. Mas tal evidência não existe.
Quarto, devemos escutar as palavras dos autores da Segunda Confissão Londrina, escritas
no prefácio da edição de 1677:
Amável Leitor,
Já se passaram muitos anos desde que muitos de nós (juntamente com outros Cris-
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tãos sóbrios que viveram e andaram nos caminhos do Senhor que professamos) reco-
nhecemos a necessidade de publicar uma Confissão de nossa Fé, para a informação,
e satisfação daqueles que não entenderam completamente quais são nossos princí-
pios, ou que receberam nossa Profissão com preconceito, por causa da estranha des-
crição, feita por alguns homens notórios, que fizeram mal juízo, e igualmente levaram
outros a equívocos no que nos diz respeito: tal Confissão foi, primeiro, estabelecida
por volta do ano de 1643, em nome de sete Congregações então reunidas em Lon-
dres; desde aquela época, muitas tiragens foram amplamente divulgadas, e nosso
objetivo proposto, em grande medida respondido, enquanto que muitos (e alguns da-
queles homens notórios, tanto em piedade como em erudição) foram assim convenci-
dos de que de maneira alguma éramos culpados daqueles erros heterodoxos e funda-
mentais, dos quais fôramos frequentemente acusados sem fundamento, nem ocasião
de nossa parte. E, em vista desse fato, como aquela Confissão não mais é facilmente
encontrada; e também porque muitos outros desde então adotaram as mesmas verda-
des que ali se encontram; julgamos necessário reunir-nos para dar testemunho ao
mundo de nossa firme adesão àqueles sólidos princípios, através da publicação deste
que agora se encontra em sua mão.
Pelo fato de que nosso método, e maneira de expressar os sentimentos, variam com
relação à primeira (embora a essência do assunto seja a mesma) diremos honesta-
mente qual a ocasião e o porquê disso.17
Não devemos nos esquecer dessas palavras. Esses homens afirmaram que embora o
“método e a maneira de expressar” fossem diferentes nas duas Confissões, ainda essência
é a mesma. Se as duas Confissões tivessem uma perspectiva teológica diferente, esses
homens seriam culpados de falsidade. Mas veja como quão pouco provável é isso: 1. Al-
guns deles eram os mesmos homens que conheciam aquilo em que acreditavam durante
todos aqueles anos; 2. Algumas das igrejas eram as mesmas igrejas, e é provável que
alguns de seus membros, bem como oficiais, fossem os mesmos; 3. Havia um registro
público que poderia ser consultado a fim de determinar a veracidade dessa declaração.
Tudo aponta para sua veracidade. Não nos parece certo considerarmos esses homens por
suas palavras, reconhecendo que a doutrina de ambas as Confissões era a mesma? Ambas
as Confissões, de 1644/46 e de 1677/89, como entendidas por seus autores originais, ensi-
nam a Teologia do Pacto, a validade permanente da lei de Deus, e por implicação, a obriga-
toriedade do primeiro dia da semana como Sabath. Qualquer coisa a menos é na melhor
das hipóteses uma má compreensão, e na pior, uma deturpação, da Teologia Batista Cal-
vinista do século dezessete. A Confissão de 1644/46 não dá suporte àqueles que enfraque-
__________
[17] Para a parte que se segue, ver acima.
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ceriam a identidade essencialmente Reformada e Aliancista da Teologia Batista.
Quinto, precisamos lembrar que a Confissão de 1644/46 foi publicamente examinada e criti-
cada por alguns dos teólogos oposicionistas mais cautelosos daqueles dias. Gangraena
Edwards, Robert Baylie e Dr. Daniel Featley não deixaram pedra sobre pedra na tentativa
de provar que os Batistas Particulares eram hereges. E ainda assim, eles nunca consegui-
ram dar indicação de que os Batistas e sua Confissão não eram ortodoxos em termos da
Teologia do Pacto, da perpetuidade da lei moral, ou a validade permanente do Dia do
Senhor. Não há dúvida de que eles fariam muito caso dessas coisas se elas estivessem
presentes, mas elas não estavam. Se o melhor caçador de heresias da época não encon-
trou diferenças nessas questões, como poderíamos nós encontrá-las?
É um erro afirmar que há variações teológicas ente essas Confissões. Simplesmente porque
a Confissão de 1644 não destaca e enfatiza essas coisas, não significa que elas, e os ho-
mens e igrejas que a elaboraram, mantinham uma visão distinta da última Confissão. As
diferenças podem ser simplesmente explicadas em termos dos documentos usados para
construir as declarações Batistas [em cada uma das Confissões]. Se examinarmos a Verda-
deira Confissão, de 1596, veremos que ela não destaca a Teologia do Pacto, mas sim a
Doutrina da Igreja. Isso explica a direção e a ênfase da Confissão Batista. Nada mais é ne-
cessário. A teologia dessas duas Confissões é a mesma.
O Dr. Robert Martin afirmou que uma igreja sem Confissão de Fé tem o equivalente teoló-
gico do vírus da AIDS, e ele está certo. Não há defesas, não há meios pelos quais repelir
ataques violentos de erros. Quando as Confissões são negligenciadas ou rejeitadas, a opor-
tunidade surge para que as igrejas escorreguem e caiam em erro e apostasia. Nosso século
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já não nos mostrou a essa verdade? Por que existem tantas igrejas, e até mesmo denomi-
nações perdidas na incredulidade? Porque as doutrinas que eram mantidas no começo
foram subestimadas pelas gerações seguintes. Os Luteranos perderam contato com Lutero,
os Metodistas perderam o contado com Wesley, e os Batistas perderam contato com suas
Confissões. O corajoso posicionamento do Dr. [Albert] Moler no Seminário do Sul demonstra
isso. Ele chamou sua faculdade de volta aos padrões doutrinários do passado — e Deus o
tem abençoado — e veio a oposição, como resultado.
Uma boa Confissão — e honestidade ao vivê-la — pode ser o meio pelo qual se pode fazer
muito bem à igreja. Ela não será um albatroz para impedir a obra de Deus; ao invés disso
será um meio de unir o povo de Deus em volta da verdade, e prevenir a propagação de
erros. Acreditamos que a Bíblia é um Livro coeso. As doutrinas nela encontradas integram-
se umas às outras, e produzem um sistema que deve ser recebido e crido. Uma boa Confis-
são, simplesmente expressa a verdade encontrada na Escritura de forma concisa. Dessa
forma, todos os interessados podem entender exatamente aquilo em que creem.
3. A terceira implicação que eu gostaria de mostrar está relacionada à nossa herança como
Batistas na América. A teologia dessas Confissões é a nossa própria teologia. Quando se
considera a história e o desenvolvimento do pensamento e prática Batista na América, deve-
se dar um lugar importante a essas duas Confissões de Fé Londrinas. Suas declarações
teológicas moldaram muito do pensamento e prática das igrejas desse lado do Atlântico.
A história deve começar com uma breve menção dos laços apertados que existiam entre
os Batistas na Inglaterra e na América durante os meados do século dezessete. A despeito
da distância entre eles, e das dificuldades de comunicação e comunhão, está claro que as
pequenas e batalhadoras igrejas Americanas se consideravam uma única com suas contra-
partes na Inglaterra. Quando John Clarke, fundador da Igreja de Newport, Rhode Island,
escreveu o famoso Ill Newes From New England [Más Notícias da Nova Inglaterra] em
1652, em que incluiu uma carta de seu companheiro de sofrimento Obadiah Holmes e a en-
dereçou para John Spilsbury e William Kiffin de Londres, afirmando a unidade entre eles no
Evangelho. No estabelecimento da Primeira Igreja Batista de Boston em 1655, três dos
primeiros nove membros “vieram da velha Inglaterra” (incluindo um membro da igreja de
William Kiffin, Richard Goodall). John Myles e muitos membros de sua igreja mudaram-se
de Gales para Swansea, Massachusetts em 1663, e William Screven, membro de uma das
igrejas do Sudoeste da Inglaterra, fundou em 1682 uma nova assembleia em Maine depois
de sua imigração. Quando a Primeira Igreja Batista de Boston publicou uma explicação so-
bre sua existência em 1680, o livro incluía um prefácio assinado por William Kiffin, Hanserd
Knollys, William Collins, Nehemiah Coxe, e dois outros. Eles disseram: “Os autores desse
documento declararam sua perfeita concordância conosco quanto às questões da Fé e
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Culto, como estabelecido em nossa última Confissão”18. Os Batistas Americanos mantinham
a mesma visão teológica de seus irmãos Ingleses.
Foi através dessa Associação que a Segunda Confissão Londrina ganhou sua maior influ-
ência. Mesmo que os registros da Associação não listem a data na qual eles adotaram a
Confissão, eles fazem referência a ela desde cedo. Os registros afirmam: “No ano de 1724,
foi levantada uma questão acerca do quarto mandamento, se havia mudado, alterado ou
abolido. Remetemo-nos à Confissão de Fé, estabelecida pelos anciãos e irmãos reunidos
em Londres, 1689, agora adotada por nós, cap. 22, sec. 7 e 8”. Em 1727, eles responderam
à questão quanto o casamento da mesma maneira. Os registros afirmam claramente: “Res-
pondida, ao fazer referência à nossa Confissão de Fé, capítulo 26 em nossa última edição”.
Essas declarações tornam evidente o fato de que as igrejas associadas adotaram a Confis-
são como suas.
Por volta de 1742, foi decidido reimprimir a Confissão, algo que foi repetido em 1765. É ver-
dade que, sob a influência da teologia de Keach, dois artigos foram adicionados, a saber,
um a respeito do cantar hinos no culto, e o outro, um tratado sobre a “imposição de mãos”
como terceira ordenança da igreja. Mas o restante da Confissão ficou intacto, e era o padrão
doutrinário para as igrejas na Associação.
Como primeira e mais antiga Associação na América, a influência das igrejas de Filadélfia
era poderosa. A Associação de Ketockton, Virgínia, adotou a Confissão em 1766, assim
como as Associações de Charleston, da Carolina do Sul, e de Warren em Rhode Island,
ambas em 1767. Através dessas Associações, e de outras, e das igrejas constituintes, a
doutrina e prática da Segunda Confissão Londrina moldou muito do pensamento dos anti-
gos Batistas na América.
Escrevendo em 1881, William Cathcart, o editor da Enciclopédia Batista, disse: “Na Inglater-
____________
[18] Nathan Wood, The History of the First Baptist Church of Boston [A História da Primeira Igreja Batista de
Boston], 150.
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ra e na América, igrejas, indivíduos, e Associações, com certeza, e com os corações cheios
de amor pela verdade, [...] mantiveram com reverência os artigos de 1689”. Certamente,
isso foi verdade, mas infelizmente, Cathcart falhou em ver que mesmo em seus próprios
dias houve um sério afastamento desse importante e antigo documento. Muitas igrejas afas-
taram-se dos padrões de Londres/Filadélfia em favor da Confissão de Nova Hampshire,
produto da tentativa de J. Newton Brown de apaziguar as objeções dos Batistas Arminianos
em Nova Hampshire ao forte Calvinismo da antiga Confissão. Com uma teologia fraca, a
profundidade teológica das igrejas foi perdida, e elas foram arrasadas pelos movimentos
do liberalismo e fundamentalismo. Sem um sistema teológico claro, as igrejas não puderam
se defender contra os ataques do liberalismo ou do reducionismo do fundamentalismo. Na
primeira metade do século vinte, o conhecimento da Segunda Confissão Londrina foi o pior
de todos os tempos entre as igrejas Batistas.
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2 Coríntios 4
1
Por isso, tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos;
2
Antes, rejeitamos as coisas que por vergonha se ocultam, não andando com astúcia nem
falsificando a palavra de Deus; e assim nos recomendamos à consciência de todo o homem,
3
na presença de Deus, pela manifestação da verdade. Mas, se ainda o nosso evangelho está
4
encoberto, para os que se perdem está encoberto. Nos quais o deus deste século cegou os
entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória
5
de Cristo, que é a imagem de Deus. Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo
6
Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos por amor de Jesus. Porque Deus,
que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações,
7
para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo. Temos, porém,
este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós.
8
Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados.
9 10
Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos; Trazendo sempre
por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus
11
se manifeste também nos nossos corpos; E assim nós, que vivemos, estamos sempre
entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também na
12 13
nossa carne mortal. De maneira que em nós opera a morte, mas em vós a vida. E temos
portanto o mesmo espírito de fé, como está escrito: Cri, por isso falei; nós cremos também,
14
por isso também falamos. Sabendo que o que ressuscitou o Senhor Jesus nos ressuscitará
15
também por Jesus, e nos apresentará convosco. Porque tudo isto é por amor de vós, para
que a graça, multiplicada por meio de muitos, faça abundar a ação de graças para glória de
16
Deus. Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o
17
interior, contudo, se renova de dia em dia. Porque a nossa leve e momentânea tribulação
18
produz para nós um peso eterno de glória mui excelente; Não atentando nós nas coisas
que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se
não veem são eternas. Issuu.com/oEstandarteDeCristo