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Credos e confissões

Conteúdo da segunda unidade


1. Cânones de Dort,
2. Catecismo de Heidelberg,
3. Confissão belga,
4. Segunda confissão helvética
5. Símbolos de fé Westminster.

Introdução

No período da Reforma, a igreja na Europa Ocidental iniciou o processo de


fragmentação institucional que prossegue de forma ininterrupta até hoje. Depois, na virada do
século XVII, a igreja ocidental estava dividida em pedaços, da maneira que todos os cristãos a
conhecem hoje.
Essa fragmentação também envolveu a confessionalização. No século XVI, a teologia
estava ligada de forma inseparável à política: a posição teológica aceita por um príncipe ou pelo
conselho de uma cidade tinha implicações para alianças militares e políticas. Assim, a produção
de confissões nos séculos XVI e XVII teve como pano de fundo dois impulsos: um teológico,
pois as novas igrejas precisavam identificar-se em relação a outros grupos emergentes; e um
político, pois os territórios e as cidades precisavam definir-se em relação aos outros. Então, será
útil manter o aspecto político em mente, pois isso ajudará a explicar porque houve essa
produção frenética de confissões e catecismos nos séculos XVI e XVII. 1
A época em que aconteceu a Reforma Protestante foi marcado por muitas mudanças na
cultura e na sociedade, assinalando o final da Idade Média e o início da Idade Moderna. Entre as
mudanças temos:

 Decadência do poder feudal;


 Fortalecimento do poder nacional representado pelo rei;
 Florescimento urbano;
 Transição do feudalismo para o capitalismo.
No contexto de um novo sistema econômico em que os meios de produção pertencem à
propriedade privada e as decisões sobre oferta, preço, distribuição de investimento não são
feitas pelo governo, surgem também importantes famílias de banqueiros que emprestaram
dinheiro para governantes, proveram exércitos mercenários e impulsionaram o
desenvolvimento do comércio internacional. Essas mudanças aliadas ao redescobrimento dos
valores culturais da Antiguidade Clássica caracterizaram o período conhecido como
“Renascença”. Esse movimento cultural trouxe à tona um ideal humanista que afirmava a
dignidade do homem, fazendo-o investigador da criação.
Esse foi um tempo de grandes descobertas, mas também de disputas intensas. Papas,
reis, imperadores e generais lutavam entre si. Entre os humanistas houve os que pretendia
reformar a igreja e redescobrir as Escrituras, e os de maior destaque foram João Reuchlin,
Jacques Lefèvre d’Étaples, João Colet e Erasmo de Rotterdan. Este preparou uma edição crítica

1
R. Trueman, Carl. O imperativo confessional. Editora Monergismo. Edição do Kindle.
do Novo Testamento extremamente influente na Reforma Protestante. Nesse sentido, a teologia
dos reformadores encontrou inspiração na Renascença, voltando às fontes (ad fonte) da fé cristã,
como as Escrituras Sagradas em seu idioma e contexto originais. Algo de importância vital no
esforço de propagar a mensagem evangélica foi o auxílio da imprensa, recém-desenvolvimento
por João Gutenberg (1398-1468), que possibilitou a cópia e a divulgação das Escrituras e dos
textos programáticos da Reforma com maior rapidez.
Nesse contexto, o termo “Reforma Protestante” é usado com referência ao movimento
de renovação doutrinal, ética, e eclesiástica ocorrido na Europa ocidental no século XVI. Esse
movimento, para fins de estudo, é dividido em “Reforma Magisterial”, que destaca a relação de
apoio mútuo entre príncipes, magistrados, conselheiros municipais e os reformadores, e
“Reforma Radical”, referindo-se aos reformadores que rejeitavam a ingerência da autoridade
secular em assuntos eclesiásticos. Essa divisão deu fim ao conceito de cristandade que perdurou
desde Teodósio I e agora dar lugar a igrejas nacionais e livres. 2
Puritanismo:
Origens
A jovem rainha Elisabete I (1533-1603), mesmo sendo protestante, não simpatizava
com as compreensões eclesiais e políticas dos reformadores. Esta optou por uma terceira via que
deu forma mais definitiva ao anglicanismo. Adotou o Livro das orações comuns e os Trinta e
nove artigos da religião, que firmavam uma igreja episcopal luterana, de liturgia católica, com
símbolos, cerimônias e superstições católicas.
No contexto de controvérsias que a respeito de trajes clericais e outros elementos
romanos do anglicanismo é que se destaca um grupo de ministros ingleses que se encontravam
inquietos com a meia reforma da igreja da Inglaterra. Esse grupo tinham o interesse de reformar
a maior parcela da igreja e da sociedade, de pregar e ensinar apenas as Escrituras, a partir delas
tomar um padrão de vida e adorar o Deus trino.
1. Confissão Belga: Primeira das confissões reformdas
Esse valioso documento foi escrito numa época em que os protestantes dos Países Baixos
sofriam intensa repressão da Espanha católica que dominava a região. 3
a. Guido de Brès (1522-1567)
i. Pastor reformado, Guido de Brès, passou alguns anos na Inglaterra
como refugiado (1548-1552), e retornou à Bélgica, onde foi pastor em
Tournay. Pregando em toda a região, precisou fugir novamente em
1561, ano em que escreveu A Confissão.
ii. Ele deplorava as tendências anárquicas de muitos correligionários e
insistia na importância de obedecer aos magistrados, tendo trabalhado
com Guilherme de Orange, o futuro libertador dos Países Baixos.
Durante o cerco de Valenciennes, não conseguiu convencer os radicais
a se renderem e foi executado por rebelião.
1. Foi executado e martirizado em praça pública em 1567, aos 45
anos de idade.
b. A confissão Belga
i. De Brés preparou essa confissão no ano de 1561 para protestar contra
essa cruel opressão e provar aos seus perseguidores que os adeptos da
2
Ferreira, Franklin. A igreja cristã na história: das origens aos dias atuais. São Paulo: Vida Nova, 2013.
3
Disponível em: https://cpaj.mackenzie.br/historia-da-igreja/movimento-reformado-
calvinismo/confissoes-reformadas/a-confissao-belga-1561/
Fé Reformada não eram rebeldes4, como haviam sido acusados, mas
cidadãos dentro da lei que professavam a autêntica doutrina cristã,
segundo as Escrituras Sagradas.
1. No ano seguinte, um exemplar foi enviado ao Rei Felipe II
juntamente com uma petição em que os signatários declararam
estar prontos a obedecer o governo em todas as coisas
legítimas, mas que estavam prontos “a oferecer as suas costas
aos chicotes, suas línguas às facas, suas bocas às mordaças e o
seu corpo inteiro às chamas” ao invés de negarem as verdades
expressas nessa confissão.
ii. Embora tenha logrado o propósito imediato de assegurar a libertação da
perseguição, e o próprio de Brès tenha caído como um dos milhares que
selaram a fé com as próprias vidas.
iii. A confissão foi escrita em francês e encaminhada pelo autor a diversos
estudiosos e teólogos, que fizeram pequenas modificações.
1. Foi traduzida para o holandês (1562) e depois para o alemão
(1566).
iv. O texto se apóia fortemente na Confissão Galicana (confissão de fé das
igrejas reformadas da França), adotada dois anos antes pelas igrejas
reformadas da França e escrita principalmente por João Calvino.
v. A ordem dos tópicos é tradicional:
1. Deus e como conhecê-lo (arts. 1-2),
2. a Escritura (3-7),
3. a Trindade (8-11),
4. a criação e a providência (12-13),
5. a queda e a eleição (14-16),
6. a pessoa e a obra redentora de Cristo (17-21),
7. a justificação, a santificação e Cristo como mediador (22-26),
8. a Igreja e seu governo (27-32),
9. os sacramentos (33-35),
10. as autoridades civis (36)
11. as últimas coisas (37).
a. A confissão cita amplamente a Escritura e utiliza com
freqüência o pronome “nós”, o que a torna muito
pessoal. Evita referências provocadoras ao catolicismo,
procurando dar ênfase a crenças comuns como a
Trindade, a encarnação e a “Igreja Católica” (art. 27).
b. Ao mesmo tempo, sustenta com firmeza convicções
distintamente protestantes e reformadas, tais como a
autoridade única das Escrituras, a plena suficiência do
sacrifício expiatório e da intercessão de Cristo, a
natureza das boas obras e os dois sacramentos.
2. Segunda Confissão Helvética
a. Esse importantíssimo documento foi escrito pelo reformador suíço Johann
Heinrich Bullinger (1504-1575).
i. Convertido à causa evangélica em 1522, no ano seguinte ele conheceu
Ulrico Zuínglio, o fundador da tradição reformada, do qual se tornou

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No movimento reformista, há grupos como os anabatistas que defendiam posição radicais, mais
separatista. O de Brés, embora disposto ao martírio tinha visão mais conciliatória.
grande amigo, sucedendo-o em 1531 na liderança da Reforma suíça.
Nessa função, procurou unir os protestantes suíços e alemães. 5
1. Com vários colegas de diferentes cidades, escreveu a Primeira
Confissão Helvética (1536), que se tornou a primeira
declaração da fé reformada com autoridade nacional.
ii. A Segunda Confissão Helvética mantém a mesma estrutura, mas foi
inteiramente redigida por Bullinger. Foi composta inicialmente após
um parecer favorável do reformador Martin Bucer (1561), sendo
reescrita durante uma epidemia na qual Bullinger julgou que iria morrer
(1562). Ele anexou a confissão ao seu testamento como uma dádiva
final à cidade de Zurique.
b. Os tópicos tratados no longo documento são os seguintes.
i. Caps. 1-2: a Escritura Sagrada, sua inspiração, conteúdo e interpretação
– reconhece o valor da tradição eclesiástica (pais da igreja e concílios),
porém subordinada à autoridade primária da Escritura; exclui do cânon
os livros apócrifos (pela primeira vez em uma confissão reformada).
ii. Caps. 3-7: Deus, a providência e a criação – reafirma a doutrina da
Trindade e o Credo Apostólico; condena a veneração de imagens e o
culto dos santos.
iii. Caps. 8-10: o pecado humano, o livre-arbítrio e a predestinação –
pecado é corrupção inata e depravação pessoal; aborda a vontade
humana em três situações (antes da queda, sob o pecado e após a
regeneração); a predestinação recebe forte ênfase pastoral.
iv. Caps. 11-13: Cristo, a lei e o evangelho – reafirma a cristologia de
Calcedônia e nega as antigas heresias cristológicas; aceita as decisões
dos quatro primeiros concílios da igreja.
v. Caps. 14-16: arrependimento, justificação e fé – define a justificação
pela graça mediante a fé (imputação); a fé verdadeira produz boas obras
que Deus aprova e recompensa.
vi. Caps. 17-18: a igreja e o ministério – distingue entre igreja invisível
(eleitos) e visível (militante); os deveres dos ministros são pregar o
evangelho, ministrar os sacramentos, cuidar das almas e manter a
disciplina (capítulos mais longos da confissão).
vii. Caps. 19-21: a teologia e prática dos sacramentos – reafirma o batismo
infantil como sinal do pacto; a presença de Cristo na ceia é espiritual.
viii. Caps. 22-29: questões práticas da vida da igreja – a importância do
culto público, cânticos, orações, jejum, catequese, sepultamentos,
propriedades eclesiásticas e casamento.
ix. Cap. 30: o papel dos magistrados civis – condena posições anabatistas.
3.
No

5
Devemos lembrar a rivalidade entre Lutero e Zwigler a respeito da presença de Cristo na Ceia

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