1. Desde a morte de Cristo até o século V aproximadamente, podem
distinguir-se duas etapas, separadas pelo ano 200:
a. Cristianismo Primitivo: os cristãos formavam pequenas
congregações, separadas do mundo, que esperavam o pronto regresso do Senhor. Não existiam idéias doutrinais dogmáticas, nem a vida congregacional estava muito regulamentada. As relações entre as congregações eram totalmente livres sem classes ou pretensões que as hierarquizassem. Em cada congregação, o governo eclesiástico estava nas mãos de um bispo (presbítero ou ancião), todos eles com procedimentos equivalentes, eleitos pela congregação e consagrados pelos pastores das comunidades cristãs próximas; era ajudado por outros anciãos, e pelos diáconos e diaconisas.
b. Catolicismo antigo: o quadro começa a mudar a partir da metade do
século II, para acentuar-se nos três séculos seguintes. A igreja se viu agitada por grandes disputas, promovida especialmente pelo gnosticismo em suas numerosas ramificações. A preocupação por definir os aspectos teológicos não revelados por Deus introduziu dentro do cristianismo conceitos e programa de estrutura humana; o credo ficou definido, e o culto ficou sujeito a regras. A união da maioria dos cristãos em torno destes princípios e crença definida se popularizou o termo “católico”. A igreja de Roma, por diversas circunstâncias foi incrementando o raio de sua influência, e seu bispo chegou a converter-se em papa em meados do século V; com razão pode chamar-se de Léon I(440-461) “o primeiro papa”. Anteriormente, cinco igrejas haviam chegado a sobressair-se das outras, e seus “patriarcas” mantinham relações de total igualdade entre si: Jerusalém, Alexandria, Antioquia, Constantinopla e Roma; mas as três primeiras decaíram com a divisão do Império Romano (395) e lentamente se inclinaram a reconhecer a supremacia do patriarca de Constantinopla. A luta pela supremacia se centralizou em Roma e Constantinopla, com o triunfo da primeira.
c. É também nesta etapa, e a partir do século IV, que cessaram as
perseguições imperiais contra o Cristianismo: com Constantino (312-337) o Cristianismo se transformou na religião do imperador; com Teodósio I(378-395), passou a ser a religião oficial do Império; e com Justiniano (527-565), a igreja antes perseguida, se transformou em perseguidora de todo grupo cristão que não se apaziguou a uma aceitação total de seus programas impregnados de paganismo. A condenação do paganismo como delito de “Estado”, obra de Teodósio I(394) determinou a influência massiva de seus praticantes em direção ao Cristianismo; gente culta e rica, seu número lhe deu maioria no seio da Igreja: desta forma, todos os erros que caracterizam o Catolicismo, ou os mais deles, se induziram nos séculos IV a VI.
d. Comentando o edito de tolerância religiosa de Milan, promulgado
por Constantino (313), Pedro Tacchi Venturi escreveu: “Depois de três séculos de incertezas e de perseguições, encontrava, finalmente, a igreja a mão protetora humana, que a tirava das catacumbas à luz do sol, e lhe outorgava a mesma existência legal de que gozavam as outras religiões. Fez mais: tal foi sua inclinação para o cristianismo, que praticamente foi posto à frente dos demais cultos e o impulsionou de forma que chegou a ser em 395, com Teodósio, o Grande, a religião oficial do Império. A igreja pôde assim desenrolar pacificamente sua instituições e dar-lhes a consistência necessária; pôde combater o paganismo, e sobre tudo, as heresias, e formar, na tranqüilidade que a paz lhe oferecia, os grandes doutores, os grandes monges e os grandes santos. Os imperadores, começando por Constantino, ajudaram a reunir concílios, provendo para eles os gastos da viajem, alojamento e manutenção dos bispos, e defendendo ainda que com armas sua liberdade e segurança.” A igreja, em suma, e seus representantes naturais, os bispos, foram considerados entre as primeiras instituições do Império. Houve um momento em que se acreditou nesta derrotada harmonia, durante o governo dos imperadores arianos. Constâncio e Valente, e logo Juliano, o Apóstata; mas as ameaçadoras nuvens de tormenta se dissiparam em seguida. Assim se entende porque a igreja sempre demonstrou a Constantino e a seus demais imperadores seu agradecimento, e tolerou pacientemente certas intromissões nos assuntos religiosos.” Historia de las Religiones, vol. III, p. 269. (Nota: Esta citação provém de uma conhecida autoridade católica nesta matéria, cuja obra conta com a licença correspondente, o que há de mais valiosa ainda; dos fatos são admitidos: a igreja deixou de depender da proteção de Deus para apoiar-se no Estado, e, em compensação, permitiu a intervenção do Estado em seus assuntos internos.).
e. Conclusão: o Catolicismo pode considerar-se constituído no final do
século V ou no início do século VI; aos fatores enunciados, a maior parte de caráter externo, com os apologistas, e, sobretudo, os de Agustín de Hipona (354-430) com suas obras “A cidade de Deus”, “Confissões” e outras.
2. Período do predomínio papal (538-1798)
O edito de Justiniano (promulgado em 553, e aplicado em 538)
concedeu ao papado a supremacia sobre a Europa ocidental; as controvérsias foram se silenciando, e a oposição teve que retirar- se para lugares inacessíveis, a fim de escapar à sangrenta destruição que Roma a havia condenado. Com todo o poder em suas mãos, e sem a presença moderadora de quem podia denunciar seus males, o papado caiu em um abismo de corrupção tal que sobrepassou a aqueles os quais haviam vivido em algumas nações pagãs. A ambição desmedida de poder originou a vergonhosa “queixa das investiduras”, cujos momentos culminantes estiveram representados por Gregório VII(1073-1085) e Henrique IV rei da Alemanha (1056-1106); por Inocêncio III (1198-1303) em suas exigências a Felipe IV, o Formoso, da França (1285-1314).
No meio desta corrupção e destas lutas pela hegemonia política, as
vozes dos verdadeiros cristãos se deixaram ouvir vez, por vez; enquanto os dignitários religiosos e políticos estiveram empenhados nas absurdas Cruzadas (séculos XI a XIII), a perseguição contra aqueles foi bem mais esporádica; mas passado este período de grande excitação religiosa, desafogada nas Cruzadas, a fúria romana se incendiou de forma implacável contra os valdenses, albigenses, etc.
O Cativeiro de Avignon (1308-1377), somada as condições
anteriormente anunciadas, promoveu com força incontrolável o ideal da reforma; Juan Wicleff, “o luzeiro da reforma”, (1324-1384), iniciou o movimento, que logo se estendeu ao centro da Europa encarnado por John Huss e Jerônimo. A universidade de Paris, cujos claustros já haviam repercutido com o eco das polêmicas religiosas, assinalou como causa de todos estes males, as intromissões papais no campo do poder temporário, e exigiu uma reforma neste sentido; promoveu direta ou indiretamente a reunião dos três concílios, ao qual também contribuiu o Grande Cismado Ocidente (1337-1415): Os de Pisa (1409), Constança (1414-1418) e Basiléia (1431-1449). Desta reforma, conseguiu se sobrepor às decisões dos concílios à vontade papal, ainda que por pouco tempo, já que o surgimento dos jesuítas, e o movimento de Contra Reforma lhe devolveram sua supremacia absoluta.
Fizeram-se necessárias vozes mais potentes, e medidas mais
radicais: Martinho Lutero sacudiu a história ao pregar suas “95 teses” na porta do mosteiro de Wittenberg (31 de outubro de 1517); à sua poderosa voz, se uniram as de João Calvino, Ulrico Zuiglio, Guillermo Farel, João Knox, e muitos mais, com as que anelavam a Reforma se tornou incontrolável, quebrando barreiras impetuosas e os ferrolhos que o romanismo havia imposto às liberdades.
O concílio de Trento (1545-1563) foi uma tentativa tardia de realizar
internamente os ideais de renovação; seus métodos rígidos não fizeram mais do que consagrar todos os erros introduzidos até este momento, e tornar mais fundo o abismo que já começava a separar os cristãos.
Com o protestantismo, se abriram as janelas da Europa, e os
vivificantes ares de liberdade, sacudiram a sonolência secular que a Idade Média havia imposto; Humanismo, Renascimento e Reforma, não somente transtornaram os ideais da supremacia papal, mas que fizeram cambalear as testas coroadas da Europa. A ciência progrediu rapidamente; a América recém descoberta, abriu suas portas aos desarraigados por seus ideais religiosos ou políticos; sociedades de caráter distinto e denominação, mas animadas pelo espírito de luta pela liberdade, foram difundindo pela Europa.
A Revolução Francesa, a independência americana, a constituição
das sociedades missionárias, e a difusão da Bíblia, fizeram cair de forma aparentemente definitiva, o poder da sede romana. Sem embargo, a profecia indicava claramente uma restauração.
3. Os últimos tempos
Pareceu que a luta italiana pela unidade peninsular, representada em
Garibaldi e a confiscação dos extensos “estados pontifícios” iam terminar com o papado. Com efeito, por 60 anos o papa se constituiu em “prisioneiro” do Vaticano (1870-1929); mas o tratado de Latrão lhe abriu novamente as portas para que estendesse sua influência
Abandonando o escabroso terreno da luta pelo poder, o próprio
papado tem causado desordem em relação ao “ecumenismo”: Suas declarações hipnotizantes e seus doces convites têm produzido resultados tais que os próprios católicos estão assombrados.
No presente, o Catolicismo, firmemente estabelecido sobre a teologia
normativa de Tomás de Aquino (1227-1274), se prepara para reconstituir a unidade crista sobre a base da absorção das demais denominações. O que ocorrerá então? A profecia o mostra, e as manifestações precursoras da Segunda Vinda de Cristo enchem de segurança e de esperança os corações dos verdadeiros cristãos.
4. O Concílio Vaticano II
Realizado entre 1962 e 1965, constituiu um dos feitos mais notáveis do
Catolicismo contemporâneo. Embora chamado sobre a necessidade pretendida de uma inovação (aggiornamento), foi na realidade uma resposta tardia ao poderoso movimento ecumênico protestante iniciado com a Conferência de Edimburgo (1910).
Os porta-vozes oficiais do Catolicismo o admitem sem reservas.
Comentava há algum tempo o cardeal Agustín Bea:
1. Aqueles que iniciaram o movimento ecumênico foram os irmãos
separados. Deles o Catolicismo aprendeu muito e poderá aprender ainda mais. 2. O Catolicismo chegou atrasado, mas se sente feliz em ter chegado.
2. O Concílio foi convocado pelo papa João XXIII, o pontífice romano
que fez mais pelo prestígio do Catolicismo do que todos os papas que o precederam desde a Reforma.
a. Dos 20 concílios anteriores, 18 ocorreram antes da Reforma.
1. Os dois posteriores foram o de Trento (1545-1563) e o Vaticano
I(1869-1870). 2. A declaração do dogma da Inefabilidade Papal e da Jurisdição Universal do Bispo de Roma no último (18 de Julho de 1870), havia praticamente eliminado a necessidade de outro concílio. b. Por isso, quando João XXIII anunciou o Concílio, em uma reunião improvisada que manteve com 18 cardeais em 29 de Janeiro de 1959, sentimentos descobertos sacudiram o mundo católico.
c. Sua primeira carta aos bispos (encíclica), Ad Petri Cathedram, de
29 de Junho de 1959, declarou os objetivos do concílio.
1. Difusão da fé católica por todo o mundo.
2. Reavivamento das normas morais cristãs. 3. Renovação ou inovação da disciplina eclesiástica e da vida religiosa. 4. Estímulo aos “irmãos separados”, para que ao ver a unidade dos bispos em amor, se inspirem também em busca da unida anelada por Cristo.
3. Mas de 2.300 bispos católicos de todo o mundo, aos quais à igreja
se agregaram aos observadores católicos (aqueles que nos momentos culminantes chegaram a somar algo mais de 100) trabalharam arduamente ao longo de 4 anos.
a. O concílio teve quatro períodos, todos começados no outono (do
hemisfério norte) entre 1962 e 1965. b. Foi notável a alocução com a qual Paulo VI iniciou a 2ª sessão. Nela reconheceu que não foi o Catolicismo que iniciou o ecumenismo, e pediu publicamente perdão a Deus e aos “irmãos” que tiveram sido afetados pela falta de participação de Roma até este momento.
Frutos do Vaticano II
a. Gerou um novo espírito, especialmente na hierarquia católica.
Esse novo espírito sacudiu também claro ao jovem de tal forma que a estrutura monolítica do Catolicismo romano que está se vendo perturbada por rancorosas discussões dogmáticas e disciplinarias.
b. Provocou impacto nos observadores nos católicos (rotulados às
vezes de “Concessionistas”), quem ao voltar às suas igrejas contribuíram em grande medida ao círculo de prestígio que hoje tem obtido novamente pela Igreja Católica.
c. A inclusão de uma seção dedicada exclusivamente à Virgem
Maria. Originalmente se pensou em dedicá-la um decreto ou constituição separada, mas os bispos creram que seria improdutivo tratar o tema de forma isolada, e preferiram vincular mais estreitamente o papel da Virgem Maria como tema central do Concílio, a Igreja.