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História da igreja – dos reformadores a

contemporaneidade
O tema que vamos tratar compreende os períodos dos anos de 1500 até os dias atuais. Neste
tempo, o mundo experimentou grandes e profundas mudanças. Algumas, muito ricas e valiosas para
a igreja, outras extremamente prejudiciais e destrutivas.

RENASCENÇA E REFORMA PROTESTANTE

A época que antecedeu a Reforma protestante foi marcada por grandes turbulências, especialmente
no continente europeu. Um período de diversas mudanças culturais e sociais. Entre essas
mudanças, podemos enumerar: a decadência do poder feudal, o fortalecimento da hegemonia
nacional simbolizada na monarquia, o crescimento das cidades e o capitalismo.

Em virtude da redescoberta dos valores da antiguidade clássica, esse período, que começou em
meados do século XV, ficou conhecido como “renascença”. Em seu bojo estava o ideal humanista
que afirmava a dignidade do homem e apreciava a criação, procurando entendê-la. Paradoxalmente,
foi um tempo de intensas disputas. Imperadores, generais, reis e papas lutaram entre si por
proeminência e poder.

No campo da religião, algumas mudanças estavam na esteira da Reforma. Franklin Ferreira afirmou:

Havia humanistas que almejavam reformar a igreja e redescobrir as Escrituras. E os de maior destaque foram [...]
Erasmo de Rotterdam. Este preparou uma edição crítica do Novo Testamento extremamente influente na Reforma
Protestante. Nesse sentido, a teologia dos reformadores encontrou inspiração na Renascença, voltando às fontes (ad
fontes) da fé cristã, com as Escrituras Sagradas em seu idioma e contexto originais. Algo de importância vital no esforço
de propagar a mensagem evangélica foi o auxílio da imprensa, recém-desenvolvida por João Gutenberg...

O termo "Reforma Protestante” neste contexto, é utilizado com frequência ao movimento de reforma
doutrinal, ético e eclesiástico ocorrido na Europa no Século XVI.

PRINCIPAIS NOMES DA REFORMA E SUAS CONTRIBUIÇÕES

Lutero:

Um dos maiores ramos da Reforma Protestante, o Luteranismo (ainda que o próprio Lutero
rejeitasse tal título) tem início com Martinho Lutero (1483-1546), na Alemanha. O monge agostiniano
em seus estudos das Escrituras percebeu que sua intensa culpa (que o consumiu em toda a sua
vida) não poderia ser removida, mesmo que fizesse muitas penitências. O Deus que ele tanto temia
não era o Deus revelado em Cristo.

Com muita dificuldade, ele se livrou do conceito medieval de que o homem se faz justo por meio de
suas ações e mergulhou nas Escrituras onde se ensina que Deus declara os pecadores justos com
base na perfeita obediência de Cristo, que é recebida somente pela fé e dada por Deus pela sua
graça.

No dia 31 de outubro de 1517, ele afixou na porta da igreja do Castelo Wittenberg, na qual ele era o
pastor, o “Debate para esclarecimento do valor das indulgências (95 teses). Esse ato marcou o
princípio da Reforma Protestante e uma série de desdobramentos eclesiásticos, políticos e sociais.
Diante da “Dieta de Worms” de 1521 ele foi convocado a retratar-se de sua posição. Ferreira
resumiu assim o acontecimento:
[...] instado a retratar-se e retornar à comunhão com Roma, Lutero exclamou: “Já que me pede uma resposta simples,
darei uma que não deixa margem a dúvidas: a não ser que alguém me convença pelo testemunho da Escritura Sagrada
ou com razões decisivas, não posso me retratar. [...] minha consciência está cativa à Palavra de Deus”.

Finalmente, um dos maiores feitos do reformador foi traduzir - com um grupo de colaboradores -
toda a Escritura para o alemão, e distribuir para um sem-número de pessoas que tiveram em suas
mãos exemplares do texto bíblico pela primeira vez. Ele foi sucedido por seu amigo e fiel cooperador
Filipe Melanchton (1497-1560) responsável por sistematizar e propagar a teologia luterana.

Calvino e a tradição reformada:

A tradição reformada começou com o pregador suíço da cidade de Zurique, Ulrico Zuínglio (1484-
1531). Entretanto, ele foi morto na batalha de Kappel, sendo sucedido por Henrique Bullinger (1504-
1575) autor da Segunda Confissão Helvética.

Calvino aparece na história quando o movimento estava profundamente fragmentado e debaixo de


intensa pressão dos Romanistas. Ele pertence à segunda geração da Reforma Protestante, um
período mais teológico. Por causa de suas convicções evangélicas, em 1535 ele precisou fugir de
Paris e refugiou-se em Basileia. No ano seguinte, durante uma visita rápida em Genebra, foi
convencido por Guilherme Farel (1489-1565) a iniciar um ministério na cidade. Não demorou muito
para que a rigidez de suas reformas trouxesse problemas, ele foi expulso da igreja e
consequentemente da cidade. Durante sua nova peregrinação, ele teve contato com Martin Bucer,
que influenciou decisivamente sua teologia.

Em 1541, em decorrência da desordem moral, social e espiritual na cidade de Genebra, ele foi
convidado a voltar para a cidade. Depois de renhidas lutas, finalmente, conseguiu implantar seu
extenso programa de reformas. O resultado foi que Genebra se tornou um grande exemplo para
toda a cristandade, além de um grande centro missionário, enviando pastores para várias partes da
Europa e do mundo. O reformador escocês John Knox referiu-se a Genebra como “a mais perfeita
escola de Cristo que jamais houve na terra desde a época dos apóstolos”.

O professor Franklin Ferreira resumiu as contribuições de Calvino:

Calvino foi importantíssimo para a Reforma por várias razões: pela ênfase que deu à autoridade e à primazia das
Escrituras (sola scriptura); e ao método histórico-gramatical de interpretação bíblica; por sua preocupação com a
estrutura da igreja visível, definida pela pregação das Escrituras e correta administração dos sacramentos; pela
transformação que proporcionou a Genebra, que se tornou o modelo de uma república cristã para toda Europa; e,
principalmente, por sua vasta contribuição literária.

A Reforma Radical e os Anabatistas

Dessa forma, os Anabatistas foram definidos pelo professor Franklin Ferreira: “A chamada Reforma
Radical se tornou sinônimo de Reforma Anabatista, um movimento de crítica e contestação do
conceito de cristandade presente da teologia católica e, em certa medida, na Reforma Magisterial”.

Em suas origens, as principais ênfases do movimento eram: a reforma mais abrangente que
promovesse a separação radical entre a igreja e o estado, e a igreja composta apenas de
regenerados - tendo como sinal o batismo somente de crentes em Jesus. Eles promoviam o
rebatismo de todas as pessoas que tivessem sido batizadas na infância.

Seus principais proponentes foram Tomás Muntzer, Menno Simons e Baltasar Hubmaier. O
movimento nunca se caracterizou por unidade doutrinária e foram reprimidos de maneira violenta
sofrendo com exílio, tortura e morte.

A reforma anglicana
Na Inglaterra, a Reforma esteve intimamente ligada às confusões amorosas de Henrique VIII. O
monarca, casado com a espanhola Catarina de Aragão, se apaixonou por Ana Bolena e solicitou o
divórcio ao Papa. Que por razões óbvias e também por pressão da corte espanhola, negou o seu
pedido. Em 1533, o recém-nomeado arcebispo da Cantuária Tomás Cranmer (1489-1556), anulou o
casamento do rei. Este ato, desencadeou uma série de acontecimentos que culminaram com a
aprovação do Parlamento da dissolução das ligações entre a Inglaterra e a igreja Romana,
proclamando o rei como cabeça da igreja na Inglaterra. Entretanto, o rei permaneceu
doutrinariamente ligado ao catolicismo até sua morte.

Franklin Ferreira resumiu de modo apropriado todo o contexto teológico do momento:

[...] o parlamento autorizou os leigos a tomarem o cálice da comunhão e os cultos não mais deveriam ser feitos em
latim, mas em inglês. Tomás Cranmer, agora líder da Reforma inglesa, publicou o Livro de Oração Comum, dando à igreja
inglesa sua primeira liturgia. Essas atitudes levaram muitos evangélicos perseguidos no continente [...] a fugir para a
Inglaterra. Eles vieram e exerceram forte influência nos anos seguintes. Mas, em 1533, Maria Tudor (1516-1562), católica
romana, tornou-se rainha, tentou restaurar a fé católica e perseguiu violentamente os protestantes.

No final, muitos foram martirizados, entre eles o próprio Cranmer, além de Hugh Latimer e Nicholas
Ridley. Um grande contingente de crentes fugiu para o continente, aportando em Genebra onde
absorveram os princípios doutrinários dos reformadores continentais.

O PURITANISMO

O movimento puritano provoca diversas reações. Alguns indivíduos o tratam com desprezo e tom
jocoso, outros, desejam retornar às suas bases de devoção e zelo pelo Senhor. Como nosso tempo
é reduzido, vamos tratar o assunto de maneira panorâmica.

No ano de 1558 Elizabete I assumiu o trono da Inglaterra e optou por uma via media na igreja,
dando forma definitiva ao anglicanismo que misturava uma versão moderada da teologia reformada,
o episcopalismo luterano e a liturgia católica. Por causa disso, começou uma controvérsia na igreja
inglesa sobre as vestimentas, o que provocou grande inquietação em meio ao recente movimento
puritano.

Na essência do puritanismo estava o desejo por uma reforma completa da igreja inglesa. Ferreira
definiu assim o movimento puritano:

Os puritanos eram ministros ingleses – e, depois, escoceses – que buscavam purificar a igreja da Inglaterra de vestígios
de rituais e costumes católicos. Para isso, combinavam piedade e disciplina com o desejo de reformar a maior parcela
possível da igreja e da sociedade. Eles estavam interessados em: ensinar e pregar apenas com base nas Escrituras,
extraindo delas o padrão para devoção pessoal com ênfase na conversão e no viver experimental; e adorar o Deus trino
segundo as Escrituras. [...] presbiterianos, congregacionais e batistas surgiram a partir desse movimento.

Para uma melhor compreensão dos acontecimentos, vamos organizar os eventos de forma
cronológica:

● 1572 – Fundação da primeira igreja presbiteriana em Wandsworth. Thomas Cartwright


argumentou a favor de um cristianismo simplificado e uma forma de governo eclesiástico
presbiteriano. Suas pregações custaram a sua cadeira de professor na Universidade de
Cambridge.

● 1616 - Um grupo de ingleses - que recentemente haviam retornado do exílio na Holanda -


fundou uma igreja congregacional em Londres.

● 1620 - Alguns deles - Congregacionalistas - imigraram para as colônias inglesas na América.


● 1625 - Carlos I (1600-1649) inimigo declarado dos puritanos foi coroado rei.

● 1640 – O Parlamento restringiu o poder do rei Carlos I.

● 1643 – O Parlamento instaurou a Assembleia de Westminster. Seu intuito era discutir a


respeito do governo e da liturgia, além de defender a pureza doutrinária da igreja Anglicana.
Dessa reunião, surgiram os símbolos de fé - confissão de fé (1646) e catecismos (1647/1648)
- de Westminster adotados de modo geral por presbiterianos, batistas e congregacionalistas.

● 1658 – Os congregacionalistas preparam a sua própria confissão – a Declaração de Savoy


sobre fé e ordem.

● 1644 – Fundada a primeira congregação batista em Londres – liderada por William Kiffin
(1616-1701). Eles defendiam o batismo por imersão de adultos convertidos, a autonomia da
igreja local, a separação plena do estado e a teologia reformada. Redigiram a Primeira
Confissão Batista de Londres.

● 1645 – Guerra civil inglesa. Oliver Cromwell (1599-1658) obteve uma vitória contundente
sobre as forças reais. A guerra terminou no ano seguinte, e a forma de governo episcopal foi
abolida da igreja da Inglaterra.

● 1649 – O rei Carlos I foi executado e Oliver Cromwell assumiu o governo inglês, como lorde
protetor da república inglesa, até a sua morte.

● 1660 – Carlos II (1630-1685) ascendeu ao trono e a monarquia foi restaurada na Inglaterra.


O sistema episcopal foi restabelecido na igreja da Inglaterra.

● 1662 – Dois mil pastores puritanos foram demitidos de suas paróquias. Marcando assim, o
fim do período puritano que já se encontrava fragmentado por intrigas políticas e brigas
internas.

● 1689 – A revolução gloriosa conquista a liberdade de culto aos não conformistas, como
passaram a ser conhecidos os puritanos.

● 1649 – Os batistas particulares revisaram sua confissão, originando assim a Segunda


Confissão Batista de Londres.

Mesmo com o ocaso do puritanismo suas raízes profundas deixaram marcas indeléveis nos crentes
e os influenciaram durante muitos anos. Nunca mais os crentes verdadeiros deixaram de se inspirar
na devoção, no zelo e no fervor dos puritanos. Homens como Charles Spurgeon, George Whitefield,
Jonathan Edwards, J.C. Ryle, Abraham Kuyper e mais recentemente Lloyd Jones. Todos eles,
buscaram nos puritanos o modelo para dirigir as suas congregações.

O pietismo

No fim do século XVI - Influenciados pelos escritos dos puritanos - os luteranos experimentaram um
movimento de renovação espiritual denominado de pietismo. O pastor da igreja luterana em
Frankfurt, Filipe Jacó Spener (1635-1705) escreveu a Pia Desideria (desejos piedosos) em que
pedia um movimento de reforma dentro do luteranismo. Segundo Ferreira:

Spener promoveu o estudo da Palavra de Deus entre o povo por meio de sua leitura em família, estabeleceu pequenas
igrejas em casas, enfatizou a santificação, lutou para praticar o sacerdócio de todos os cristãos, pregou insistentemente
que a fé cristã deveria ser experimental e sugeriu moderação nos debates teológicos entre diversos grupos evangélicos.

Spener foi sucedido por Augusto H. Francke (1663-1727). O pietismo fincou suas estacas no mundo
protestante influenciando grandes grupos como o metodismo, o puritanismo americano e
posteriormente o pentecostalismo.

Contudo, sua maior influência foi nas missões modernas. Em 1722, o conde Nicolau Von Zinzendorf
(1700-1760) recebeu um contingente de trezentos refugiados cristãos morávios – herdeiros
espirituais do reformador João Huss. No ano 1727 iniciou-se no meio deles um grande
despertamento de missões que inspirou outros missionários protestantes. Eles levantaram um lema
que desafiou os crentes: “O nosso Cordeiro venceu. Vamos segui-lo!”. Estes irmãos viajaram –
muitas vezes sem nunca regressar – para os lugares mais inóspitos da terra.

AS MISSÕES MODERNAS PROTESTANTES

Nos séculos XVI e XVII, por causa das intensas disputas teológicas, os protestantes pouco se
envolveram no serviço missionário. Entretanto, os dois séculos seguintes, foram marcados pelo
alvorecer do espírito missionário dos crentes protestantes. Franklin, descreveu o início das missões
modernas:

Em 1705, o rei Frederico IV da Dinamarca (1671-1730), que era pietista, querendo evangelizar os povos das colônias no
sul da Índia, enviou sessenta missionários pietistas alemães para Tranquebar, na costa sudeste da Índia. [...] Outro grupo
protestante a se envolver com as missões foram os irmãos morávios, sob a liderança de Zinzendorf. [...] em 1732, os dois
primeiros missionários foram enviados para as Ilhas Virgens, e nas duas décadas que se seguiram os morávios enviaram
mais missionários a outras terras do que todos os protestantes tinham enviado nos últimos dois séculos...

Estes irmãos chegaram em todos os extremos da terra. Lugares como Groenlândia, Labrador no
norte do Canadá, Austrália, África do Sul, Tibete e os índios moicanos nos Estados Unidos. Em um
século de trabalho eles podiam contabilizar mais de dez mil convertidos, aproximadamente duzentos
missionários e quarenta e um centros de missões.

O trabalho dos Morávios inspirou outros crentes. O pastor batista John Sutcliff (1752-1814)
preocupado com o estado lastimável dos crentes de sua época, propôs para seus companheiros
pastores que separassem uma hora na noite da primeira segunda-feira de cada mês para orar por
avivamento. O que de fato aconteceu: em 1792, fundou-se a Sociedade Missionária Batista, que
enviou William Carey (1761-1834) para a Índia.

Carey chegou à Índia em 1793 iniciando imediatamente seus trabalhos. Em meio a grande
sofrimento pessoal, ele e seus companheiros, produziram diversas literaturas entre folhetos,
traduções completas ou parciais da Bíblia em várias línguas e dialetos locais, entre outros escritos
que auxiliaram na evangelização. Para se ter uma ideia, durante os primeiros dezoito séculos da
história da igreja, foram feitas em torno de trinta traduções das Escrituras. Nos trinta primeiros anos,
Carey e seus companheiros dobraram esse número.

Não podemos deixar de mencionar outros importantes missionários deste período como: Adoniram
Judson (1788-1850) batista que trabalhou na Índia e Birmânia. David Livingstone (1813-1873)
congregacional que serviu no interior da África. Hudson Taylor (1832-1905) que fundou a Missão
para o Interior da China. Em menos de um século, a fé protestante alcançou o mundo inteiro, um
feito sem paralelo na história da igreja. Esse esforço impressionante que custou a vida, as finanças e
a saúde de muitos crentes possibilitou que o evangelho chegasse até “os confins da terra”.
Um grande impulso para as missões protestantes se deu por influência direta dos dois grandes
despertamentos espirituais ocorridos na Inglaterra e nos Estados Unidos.

OS GRANDES AVIVAMENTOS

Grandes avivamentos sacudiram os crentes neste período. Seus impactos podem ser sentidos até
os dias atuais, com desdobramentos na eclesiologia, espiritualidade, missões e pregação da igreja
de Cristo.

Primeiro grande despertamento

Os puritanos congregacionalistas ingleses que fugiram das perseguições na Inglaterra e chegaram


nas trezes colônias americanas almejavam “uma nação de santos” ou “uma cidade sobre os
montes”. Eles intentaram estabelecer uma sociedade pactual regida pelas Escrituras.

Por volta de 1700, já estavam estabelecidas as colônias britânicas na América, que no futuro se
tornariam os Estados Unidos. O declínio da fé evangélica era perceptível. Provocado pela influência
do espírito colonizador, das frequentes e brutais guerras, do declínio da espiritualidade dos ministros
e a ausência de discipulado nas igrejas.

O grande nome nesta ocasião é o pastor da igreja congregacional de Northampton, Jonathan


Edwards (1703-1758). Durante uma série de pregações – entre os anos de 1735-1737 – sobre
justificação pela fé, iniciou-se um avivamento em sua congregação. “Nas Palavras de Edwards, 'o
Espírito de Deus começou a trabalhar de maneira extraordinária. Muita gente estava correndo para
receber Jesus. Esta cidade estava cheia de amor, cheia de alegria e cheia de temor. Havia sinais
notáveis da presença de Deus em quase cada casa’”. Ironicamente, por exigir dos crentes um
fundamento mais sólido para participar da ceia do Senhor, ele foi demitido da sua congregação em
1750. Com isso, passou a servir – com muita dificuldade – como missionário os índios mohawk e
housatonic.

Segundo alguns estudiosos, o resultado desse avivamento, foi a conversão de 25 a 50 mil pessoas
(cerca de 5% da população) elevando para 20% o número de crentes na colônia. O que surpreende,
uma vez que a nação foi quase que totalmente colonizada por cristãos.

Outra grande contribuição desta época, foi o diário de David Brainerd que serviu como missionário
entre os índios. Seus escritos – editado por Edwards – exerceu grande influência sobre o movimento
missionário protestante.

O despertamento inglês

No começo do século XVII, a Inglaterra estava à beira da convulsão social. A impiedade humana, a
imoralidade sexual e a corrupção dos indivíduos alcançaram níveis catastróficos. Na esteira disso,
estavam a revolução industrial, o liberalismo moral e o capitalismo. Ao mesmo tempo, a igreja da
Inglaterra era uma caricatura do que havia sido no passado. Os sermões se tornaram moralistas e
sem poder para despertar os pecadores.

Alguns pregadores foram essenciais para o avivamento na ilha:

● George Whitefield (1714-1770) - Em 1739 ele começou a pregar – desafiado por Wesley – ao
ar livre em diversas cidades da Inglaterra e da América (desempenhando um papel central no
avivamento).

Ele é considerado um dos maiores pregadores da história da igreja, viajando para pregar em
diversas cidades, quase sempre ao ar livre.
● John Wesley (1703-1791) – juntamente, com Whitefield e seu irmão Charles fundou o “clube
santo” na Universidade de Oxford. Sua mensagem – ao ar livre – de “libertação, restauração e
liberdade” em Cristo produziu intensos frutos em pessoas que nunca ouviram a mensagem de
Deus.

Fundou também as “sociedades” metodistas – por causa do método de pequenos grupos –


que se separaram em 1784 da igreja da Inglaterra para fundarem a igreja Metodista. Quando
Wesley morreu, havia, na Inglaterra, 77 mil metodistas e 470 casas de pregação.

● O irmão de John Wesley, Charles (1707-1788) escreveu quase seis mil hinos, que foram
marcantes nos cultos durante o despertamento inglês. Muitos dos quais são conhecidos até
hoje.

● O jornalista anglicano Robert Raikes (1735-1811) fundou a “escola dominical” na cidade de


Gloucester, no sul da Inglaterra.

● John Newton (1725-1807) - Ex-traficante de escravos que se tornou clérigo anglicano


escreveu seu hino mais conhecido “Amazing Grace”.

Por tudo isso, reconhece-se que a Ilha foi preservada de passar por algo como a revolução francesa,
graças ao avivamento destes dias.

O segundo grande despertamento

Em pouco tempo, a jovem nação americana começou a expandir-se em direção ao oeste. Essa
expansão foi acompanhada de uma sequência de “avivamentos de fronteira”. Esses avivamentos
aconteceram em um contexto de embriaguez, prostituição e violência promovido em grande medida
pela ganância e maldade dos homens. Alguns bolsões de avivamento acompanharam essa época:

● Colégio Yale – um terço dos alunos se converteu graças às pregações do neto de Edwards e
reitor da Universidade, Timothy Dwight (1752-1817). Entre os convertidos estava Lyman
Beecher (1775-1863) que fundou a Sociedade Bíblica Americana.

● Reuniões de acampamento. O pastor presbiteriano James McGready (1758-1817) organizou


essas reuniões que rapidamente tornaram-se os meios mais populares de evangelização nos
Estados Unidos.

● Em 1801, em Cane Ridge, Kentucky, o pastor presbiteriano Barton Stone (1772-1844) adotou
os métodos de McGready e convocou um grande acampamento em Lexington, no Kentucky.
Neste encontro vários pregadores de diversas denominações, se revezaram no púlpito e a
resposta foram manifestações físicas, como tremores, choro, queda e riso.

● Outros movimentos de avivamento surgiram depois destes, usando o mesmo padrão. Os


resultados foram o surgimento de denominações diversas como a Igreja de Cristo, a Igreja
dos discípulos (que se reúne apenas em casas) e a Igreja Cristã (que rejeita as
denominações).
● Também nesta ocasião, surgiram as seitas como Mormonismo, Testemunhas de Jeová e a
igreja Cientista.

O pregador mais influente neste despertamento, foi o pastor congregacional Charles Finney (1792-
1875), que liderou reuniões de avivamento entre 1825 e 1831 em Nova York. Finney retirou a ênfase
existente na pregação doutrinária e na consciente afirmação da fé em Cristo, para uma ênfase
subjetiva em fazer com que as pessoas tomassem “uma decisão por Cristo” e fizessem a livre
escolha. Ferreira afirma que:

Em seu entendimento, a graça tornaria a salvação possível para todos, o novo nascimento não seria uma
regeneração interior do coração, mas simplesmente uma mudança de escolha, e o avivamento seria
resultado de campanhas bem planejadas com métodos corretos. Portanto, suas campanhas de
evangelização e de reavivamento tinham um propósito: levar pecadores a fazer uma escolha imediata de
seguir Cristo.

Tristemente, a maior parte da vasta região da Nova Inglaterra, onde Finney trabalhou em suas
campanhas de avivamento, caiu em permanente frieza espiritual ainda durante sua vida. O próprio
Finney referiu-se a essas regiões como “um distrito queimado”. Mais de cem anos depois, a situação
não mudou. Esses grandes despertamentos deixaram profundas raízes em toda fé protestante no
mundo contemporâneo.

A FÉ CONTEMPORÂNEA

A teologia liberal

No início do século XIX, apresentava uma Europa fragmentada e destruída depois das guerras
napoleônicas. As grandes forças do continente se reuniram no congresso de Viena em 1815 na
tentativa de restabelecer o equilíbrio entre as nações. Na esteira desse momento, surgiram duas
forças ideológicas: A publicação do Manifesto Comunista em 1848 por Karl Marx (1818-1883) e
Friedrich Engels (1820-1895); e o surgimento do liberalismo clássico, preconizado por John Locke
(1632-1704) e Adam Smith (1723-1790). Uma nova onda de instabilidade veio da formação de
diversos movimentos nacionalistas influenciados por essas grandes ideologias que culminaram nas
duas grandes guerras do século XX.

Na ciência, a publicação do livro de Charles Darwin (A Origem Das Espécies – 1859) aliado às
grandes inquietações políticas, criou uma tendência de prosseguir no entendimento da natureza, de
forma autônoma, excluindo qualquer vestígio do Criador. Embora a ciência moderna tenha surgido
da constante influência da fé cristã – especialmente protestante. Nos séculos XVIII e XIX, em diante,
caminhavam para uma ideia de mundo na qual as crenças sobre Deus se tornavam supérfluas.

No campo da teologia, não foi diferente. Franklin descreveu esse período:

A teologia de Agostinho exerceu grande influência sobre a igreja por quase 800 anos; depois, a de Tomás de Aquino, por
cerca de 500 anos; e a de João Calvino, 300 anos. No entanto, nos séculos XVII e XIX, surgiram várias correntes teológicas
que, em maior ou menor grau, tentaram competir com os sistemas ortodoxos, mas não conseguiram ampla aceitação, e,
por isso, tiveram pouca duração

Essas mudanças, em grande medida se deram no âmbito da Hermenêutica em círculos


universitários alemães, fortemente influenciado pelo antissemitismo.

● O reformado Friedrich Schleiermacher (1768-1834): Considerado o pai da teologia liberal,


defendia que a fé se resumia em busca do finito pelo infinito.
● O luterano Julius Wellhausen (1844-1918): Propôs a hipótese de que o Pentateuco era na
verdade uma coleção editada de documentos independentes.

● O luterano Ferdinand Baur (1762-1860): Negou a autenticidade da maior parte dos escritos do
Novo Testamento.

● O luterano Albrecht Ritschl (1822-1899): Resumiu o cristianismo a aspectos éticos e sociais.

● O luterano Adolf von Harnack (1851-1930): Acreditava que a mensagem cristã original
poderia ser reduzida a paternidade de Deus, a fraternidade entre os homens e o valor infinito
da alma humana.

● O luterano dinamarquês Soren Kierkegaard (1813-1855): O pai do existencialismo. Assegurou


que o cristianismo era, “uma vida a ser vivida, e não um conjunto de dogmas a serem
afirmados”.

● O pastor batista americano Walter Rauschenbusch (1861-1918): Reorientou toda sua teologia
da fé ortodoxa para a ética social.

O professor Franklin Ferreira resumiu assim todos esses ensinos:

A partir desses escritores, os fundamentos da fé cristã seriam atacados de dentro da própria igreja – e as doutrinas da
Criação, da inspiração das Escrituras, do nascimento virginal de Cristo, de sua morte salvadora e ressurreição e seu
retorno final foram severamente questionadas ou claramente negadas. Em meio ao grande otimismo dessa época,
influenciado pelo iluminismo e racionalismo, o homem passou a ser o centro da história – e toda sua confiança foi
depositada na ciência e tecnologia.

Os resultados desse movimento podem ser facilmente percebidos, especialmente na Europa. A fé


cristã deixou de existir, as denominações históricas perderam sua força, o existencialismo e o
otimismo humano enraizaram-se no coração das pessoas, o cientificismo, o ecoterrorismo e o
terrorismo alimentar crescem entre as nações, a espiritualidade sincrética virou a religião da
atualidade. Igrejas são fechadas, crentes perseguidos na vida pública e resistência a evangelização
são os desdobramentos disso tudo no século XXI.

Como resposta aos desafios da “teologia liberal”, várias frentes levantaram-se contra as violências a
fé cristã:

● Nos Estados Unidos, o presbiteriano William Shedd (1820-1894) mantinha uma forte convicção
de que o ensino da história da igreja era o antídoto contra o baixo padrão moral herdado da
teologia liberal.

● B. B. Warfield (1851-1921) publicou um importante documento em defesa da fé ortodoxa “A


inspiração e autoridade da Bíblia” escrito 1881 e usado até hoje por aqueles que buscam
afirmar a autoridade e suficiência das Escrituras.

Na Europa dois gigantes surgiram para combater as heresias de sua época.

● Na Holanda Abraham Kuyper (1837-1920) apesar de educado na teologia liberal converteu-se


ao testemunhar da fé de seus paroquianos. Chegou a ocupar o cargo de primeiro-ministro da
Holanda e ajudou a fundar a Universidade Livre de Amsterdã.
● Charles Spurgeon (1834-1892) conhecido por sua habilidade de pregação, liderou a igreja
Tabernáculo Metropolitano em Londres com seis mil membros. Ademais, organizou e dirigiu o
Colégio de Spurgeon para formação de ministros fiéis do evangelho de Deus.

Pentecostalismo

Ferreira descreve o ambiente que preparou o caminho para o pentecostalismo:

Nos séculos XIX e XX, três áreas da teologia cristã estiveram no centro do debate: as doutrinas das
Escrituras, da escatologia e do Espírito Santo. No que se refere à última, viu-se no século XX o
surgimento de uma série de movimentos de renovação da igreja, que foram chamados, em termos
gerais, de movimento “pentecostal” ou “carismático”. Esses movimentos cresceram rapidamente no sul
do pacífico, na África, no leste europeu, no sudeste da Ásia e especialmente na América Latina.

Todo esse movimento é altamente fragmentado e muito difícil de ser caracterizado. Contudo, pode
ser dividido em quatro grandes movimentos e suas ramificações:

1. Os pentecostais clássicos.

Eles surgiram nos Estados Unidos em conjunto com os movimentos de santidade metodistas, dando
início às igrejas de santidade (holiness). Entre 1893 e 1900 nada menos que vinte e três novas
denominações oriundas dos ensinos de John Wesley e principalmente Charles Finney. Este grupo
defendia a segunda bênção como capacitação para superar definitivamente os resquícios de pecado
na vida do crente.

Um evangelista independente do Kansas, ligado a esse movimento, Charles Fox Parham (1873-
1929) concluiu e começou a ensinar que o fenômeno das línguas de Atos 2 era evidência, definitiva
para todos os cristãos do batismo no Espírito Santo.

Neste contexto, nos anos 1904-1905 no País de Gales, liderados pelo metodista calvinista Evan
Roberts (1878-1951) aconteceu um grande despertamento, levando à conversão de milhares de
pessoas.

Esse movimento rapidamente desembarcou nos Estados Unidos. William Seymour (1870-1922) que
havia estudado com Parham, começou a pregar sobre o batismo com o Espírito Santo na igreja
Metodista da rua Azusa, em Los Angeles, Califórnia - que depois de algum tempo passou a ser
denominada de Missão da Fé Apostólica.

Não muito tempo depois, esse movimento chegou ao Brasil. Em 1910 Luigi Francescon (1866-1964)
fundou a congregação Cristã, depois de uma divisão da igreja presbiteriana do Brás em São Paulo.
Outra divisão aconteceu na Primeira Igreja Batista de Belém do Pará, em 1911, quando os suecos
Gunnar Vingren (1879-1933) e Daniel Berg (1884-1963) começaram a ensinar e instruir os crentes
sobre o batismo no Espírito Santo. Deste grupo surgiu as Assembleias de Deus, tendo hoje cerca de
doze milhões de membros somente no Brasil.

O batismo no Espírito Santo, a busca por dons carismáticos - principalmente o “falar em línguas” - e
a liderança centralizada são as ênfases principais do pentecostalismo clássico.

2. Pentecostais carismáticos que enfatizam as curas divinas

Os principais representantes deste ramo são a Igreja do Evangelho Quadrangular que surgiu depois
das campanhas evangelísticas de Aimee McPherson pela América; o Brasil Para Cristo; a Igreja
Vida Nova do bispo McAlister; a Igreja Deus é Amor; a Casa da Bênção - de onde surgiu a igreja
Universal. Além das ênfases pentecostais, estes grupos enfatizavam o exorcismo, as músicas
populares e o ambiente informal.
3. As igrejas renovadas

Esse movimento teve início em 1960, quando Dennis Bennett (1917-1991) na ocasião um ministro
anglicano, anunciou que recebeu o “dom de línguas” num culto em sua igreja na Califórnia. o
movimento rapidamente se espalhou entre as denominações tradicionais iniciando o movimento
renovação espiritual.

No Brasil, a Convenção Batista Nacional foi fundada entre 1965-1967 para receber as igrejas que
deixaram a Convenção Batista Brasileira na maior divisão da denominação. O principal líder deste
movimento é o pastor Enéas Tognini. Os presbiterianos e metodistas também viram, alguns grupos
que buscaram a renovação. A igreja Cristã Maranata e a igreja Presbiteriana Renovada separaram-
se de suas denominações.

Os renovados mantiveram as mesmas ênfases dos pentecostais clássicos, a diferença fica por conta
de suas saídas que ocorreram das igrejas tradicionais ou a tentativa de influenciar seus membros de
dentro de suas linhas. Esse movimento, retirados os excessos, contribuiu para que as igrejas
tradicionais recebessem novo fôlego de Deus.

4. O neopentecostalismo

Esse grupo surgiu na década de 50 nos Estados Unidos e desembarcou no Brasil no final da década
de 1970. Seus principais ramos são a Igreja Universal do Reino de Deus - uma dissidência da Casa
da Benção - depois de uma desavença interna, foi fundada a igreja Internacional da Graça de Deus
e posteriormente, dessa mesma denominação a igreja Mundial do Poder de Deus. Em outro ramo,
apareceu a Igreja Renascer em Cristo e a Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra.

As principais ênfases destes grupos são:

● Sinais e maravilhas - com fortes elementos mágicos -, exorcismo e “guerra espiritual"


● Fortes manifestações emocionais e teatralidade cômica
● Ostentação, bem-estar e ensino de prosperidade como sinal da bênção de Deus
● Exagerado uso dos meios de comunicação
● Cura divina, utilização de objetos "ungidos" e a noção de que o mal é resultado direto da ação
dos demônios
● O “ falar em línguas” perdeu sua importância nas igrejas neopentecostais. Transformou-se em
uma espécie de mantra para invocação.

Esses grupos trouxeram grande prejuízo à fé cristã no Brasil e em todos os lugares em que ela se
desenvolveu. Eles podem ser caracterizados por:

1. Desconfiança das igrejas tradicionais


2. Oposição às outras igrejas - incentivo ao sectarismo -
3. Relaxamento do compromisso dos membros com a igreja local
4. Liderança centralizada, personalista e estruturada no modelo empresarial
5. Crescimento por meio do proselitismo e desvalorização das missões
6. Abuso do uso dos meios de comunicação
7. Misticismo, espetacularização dos cultos e emocionalismo exagerado

CONCLUSÃO

Como fazer para restaurar a fé cristã protestante em nossos dias? Essa pergunta exige profunda
reflexão, porém, sem querer ser exaustivo, podemos enumerar três grandes ações: a volta da
confessionalidade, o avanço de igrejas saudáveis e o treinamento de ministros. Contudo, o que
realmente precisamos é de um avivamento espiritual para contornar nossos imensos desafios.

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