Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Aula nº 1
Introdução
Esta disciplina se propõe a ser uma introdução à tradição
reformada, e não uma história das igrejas reformadas nem uma
declaração abrangente da fé e prática reformada.
Procuraremos compreender o desenvolvimento desta
teologia e sua contribuição para a práxis pastoral da igreja.
Filme: Lutero
Aula nº 2
Na França
As igrejas reformadas francesas tiveram sua origem no
humanismo cristão da primeira metade do século XVI. De 1540 em
diante, o movimento foi dirigido, em grande medida, a partir de
Genebra, que estava livre do controle político da França. Uma igreja
protestante foi organizada em Paris no ano de 1555. Uma
organização nacional foi criada em 1559, a qual incluía consistório
(conselho), colóquio (presbitério), sínodo provincial e sínodo
nacional. Pela primeira vez na história, o presbiterianismo estava
organizado nacionalmente.
Na Holanda
A reforma na Holanda começou muito antes de Martinho
Lutero, através de movimentos tais como o dos Irmãos da Vida
Comum. Tais movimentos eram agostinianos na teologia e davam
ênfase aos estudos bíblicos e a vida devocional. No final da década
de 50 o protestantismo já estava estabelecido na Holanda. Em
1561, Guy de Brês escreveu uma confissão “para os fiéis que estão
espalhados por toda parte na Holanda”. Esta confissão, adotada por
um sínodo em Antuérpia, formado em 1556, tornou-se conhecida
como confissão Belga. Com algumas modificações, foi declarada
como Confissão da Igreja Holandesa, juntamente com o Catecismo
de Heidelberg e os Cânones de Dort.
A igreja da Holanda desenvolveu um trabalho teológico
diligente e hábil, tornando-se um centro muito influente do
pensamento reformado no final do século XVI e no século XVII.
Também foi o cenário do mais conhecido debate teológico do início
da história reformada.
Armínio (1560-1609), que tinha raízes tanto na tradição
holandesa quanto na teologia reformada de Genebra, procurou
modificar a doutrina da predestinação de Calvino, especialmente
em sua forma exagerada defendida por Gomaro, um homem
holandês, e Teodoro Beza, o sucessor de Calvino em Genebra.
Armínio estava muito preocupado em refutar a doutrina da
graça irresistível, embora ele mesmo sempre insistisse em dizer
que ninguém se volta para Deus a não ser pela sua graça.
A amarga controvérsia que se seguiu foi decidida pelo Sínodo
de Dort(Holanda), em 1619. Este adotou a linha média entre os
hiper-calvinistas e os discípulos de Armínio. Contudo reafirmou as
doutrinas da depravação total, da eleição incondicional, da
expiação limitada, da graça irresistível e da perseverança dos
santos. Esses nomes foram dados no calor da controvérsia, não
sendo inteiramente adequados com o que o sínodo afirmou.
Aula nº 3
Aula nº 4
Puritanos
Esse espírito da filosofia de Calvino atravessou o Canal da
Mancha e entrou na Escócia de John Knox, que foi um dos
inspiradores do puritanismo na Inglaterra. Knox, ao contrário de
Lutero, não escudou-se na Escritura para ficar silencioso diante das
injustiças da sua rainha. Ele desafiou-a publicamente com todo o
vigor da sua fé calvinista. Ele cria que os governos eram uma
instituição divina, mas também cria que havia um senso de justiça
que tinha que ser implantado no seu país. E a justiça deveria
começar com a rainha da Escócia. Por essa razão, na luta pela
implantação dos princípios do reino de Deus, os discípulos de Knox,
dentro do Parlamento, aprovavam a execução da soberana (a
rainha) em nome do Soberano (Deus).
O puritanismo, além de outras ênfases, tentou trazer para a
Inglaterra um despertamento geral que envolvesse as autoridades
do país.
Os puritanos tentaram restaurar os padrões de culto e de
política dos tempos bíblicos. Escorraçados por causa de sua fé e do
seu pensamento político, alguns deles fugiram para a América do
Norte, a partir de 1620. Aportaram ali e tentaram implantar uma
sociedade nos moldes dos tempos do Antigo Testamento. Deus era
o Senhor da terra e de todas as outras atividades. Procuraram
basear a sua sociedade nos padrões de um regime teocrático. A lei
de Deus era a lei do povo. Eles nunca entenderam que a vox
populi era a vox Dei (voz popular era a voz de Deus).
De qualquer forma, os reformados (os de origem calvinistas,
puritana) têm tido uma atitude diferente, pelo menos em teoria, da
dos anabatistas e dos luteranos. Os cristãos, segundo os
calvinistas, devem estar engajados na vida política do país.
De acordo com os princípios éticos da fé reformada, o cristão
deve lutar para reestruturar a sociedade onde vive, moldando-se de
acordo com os padrões estabelecidos na Palavra de Deus.
A POSIÇÃO ESCATOLÓGICA COMO FATOR DETERMINANTE
DO ENVOLVIMENTO POLÍTICO E SOCIAL
O envolvimento político e social do cristão, pelo menos na
igreja contemporânea, pode estar diretamente vinculado à sua
posição escatológica e mais especificamente á sua idéia do reino
de Deus.
Há três posições básicas com respeito ao envolvimento dos
cristãos na política: acomodação, separação e transformação.
Aula nº 5
DISCIPLINA NA IGREJA
Valdeci da Silva Santos – Pr. Presbiteriano
1 – Errando o Alvo
A igreja cristã tem sido acusada de ser o único exército que
atira nos seus feridos. O grau de verdade dessa acusação é, muitas
vezes, devido a mal-entendidos com relação à disciplina
eclesiástica. Tais mal-entendidos estão presentes em pelo menos
dois grupos:
1) os que aplicam a disciplina;
2) os que sofrem a aplicação da mesma. Como cada caso deve ser
analisado individualmente, só nos cabe aqui listar os mal-
entendidos mais comuns em relação à disciplina eclesiástica.
A. Disciplina e Despotismo
Com a subida ao poder do Partido Nacional na África do Sul,
em 1948, a segregação foi legalizada em nome da disciplina. Como
resultado foi sancionado o aprisionamento de negros sem nenhum
julgamento formal. Isso não foi disciplina, mas despotismo.
A História da Igreja Medieval apresenta uma vasta galeria
de ilustrações da confusão entre o uso da disciplina e o exercício do
despotismo. Seria isto apenas um fenômeno do passado?
Infelizmente basta familiarizar-se com os círculos eclesiásticos para
se descobrir que o espírito medieval ainda está vivo e ativo na
mente e atitude de alguns líderes modernos.
B. Disciplina e Discriminação
A confusa identificação entre disciplina e discriminação pode
ser vista sob dois aspectos: 1) no abandono do disciplinado por
parte da igreja; 2) na recusa do disciplinado em receber a disciplina.
Para se evitar o primeiro erro é imprescindível que a família cristã
não desista de um dos seus membros que caiu. Paulo exorta a
igreja para que manifeste perdão, conforto e reafirmação de amor
para com o arrependido, para que “o mesmo não seja consumido
por excessiva tristeza” (2 Co 2.7-8). Outra razão para esta
exortação é para que “Satanás não alcance vantagem” sobre a
igreja, criando amargura, discórdia e dissensão (v.11).
Há sempre a possibilidade de que o disciplinado não se
submeta à disciplina, e acuse a igreja de discriminação. Tal atitude
apenas manifesta ignorância e estupidez (Pv 12.1). Segundo as
Escrituras, é o pecado e a determinação em segui-lo que gera
discriminação, e não a disciplina (1 Co 5.5 e 1 Tm 1.20).
C. Disciplina e Arbitrariedade
“Com que direito fizeram isso?” Esta é a pergunta que
constantemente se ouve em casos de disciplina. Essa pergunta
revela um mal-entendido comum entre disciplina e arbitrariedade.
Ou seja, é como se aqueles que aplicam a disciplina não tivessem
nenhum direito de fazer tal coisa debaixo do sol. Alias, alguns
argumentariam: “não somos todos pecadores?”
Primeiramente, é preciso lembrar que toda atitude
pecaminosa precisa ser corrigida, mas há algumas que requerem
correção pública. Por exemplo, em Mateus 18.16-17 o evangelista
fala daqueles que se recusam a abandonar o pecado mesmo diante
de uma amorosa exortação pessoal.
Na sua primeira Carta aos Coríntios 5.1-13, Paulo descreve
as pessoas cujas práticas trazem escândalo à igreja, e na Primeira
Carta a Timóteo 1.20, na Segunda Carta a Timóteo 2.17-18 e na
Segunda Carta de João 9-11 são mencionados os que dissimulam
ensinos contrários ao Evangelho. Por outro lado, na Carta aos
Romanos 16.17 o apóstolo recomenda disciplina aos que causam
divisões na igreja, e ao escrever a Segunda Carta aos
Tessalonicenses 3.6-10 ele prescreve disciplina eclesiástica para
aqueles que se deleitam na preguiça. Há um princípio claro: “Os
pecados que foram explicitamente disciplinados no Novo
Testamento eram conhecidos publicamente e externamente
evidentes, e muitos deles haviam continuado por um período de
tempo”.
Com relação à autoridade, é importante lembrar que a
autoridade na disciplina nunca vem daquele que a aplica, mas
daquele que a ordenou, sou seja, o Cabeça e Senhor da Igreja (Ef
1.22-23). Além do mais a pergunta a ser feita deve ser: “Com que
direito um membro da Igreja do Cordeiro profana o sangue da
aliança e ultraja o Espírito da graça?” (Hb 10.29).
2 – O Ensino Bíblico
A – A Necessidade da Disciplina
Aquele que ordena a disciplina na igreja e o mesmo que
estabelece o padrão a ser seguido no exercício da mesma. Esse
padrão consiste primeiramente em amor paternal (Hb 12.4-13). É
certo que o mundo vê a disciplina como expressão de ira e
hostilidade, mas as Escrituras mostram que a disciplina de Deus é
um exercício do seu amor por seus filhos. Amor e disciplina
possuem conexão vital (Ap 3.19). Além do mais, disciplina envolve
relacionamento familiar (Hb 12.7-9), e quando os cristãos recebem
disciplina divina, o Pai celestial está apenas tratando-os como seus
filhos. Deus não disciplina bastardos, ou seja, filhos ilegítimos (v.8).
O padrão de disciplina divina revela também maravilhosos
benefícios. A disciplina que vem do Senhor “é para o nosso bem
(v.10)”. Ainda que seja inicialmente doloroso receber disciplina, a
mesma produz paz e retidão (v.11). O v.13 ensina que o propósito
de Deus em disciplinar não é o de incapacitar permanentemente o
pecador, mas antes de restaurá-lo à saúde espiritual.
Segundo as Escrituras, a disciplina na igreja está
fundamentada não apenas no exercício do bom senso, mas
principalmente nos imperativos do Senhor. O mandato bíblico
referente à disciplina é encontrado especialmente no ensino de
Jesus (Mt 18.15-17) e nos escritos de Paulo (1 Co 5.1-13).
Também, há clara referência bíblica de que a igreja que negligência
o exercício desse mandato compromete não apenas sua eficiência
espiritual, mas sua própria existência. A igreja sem disciplina é uma
igreja sem pureza (Ef 5.25-27) e sem poder (Js 7.11-12a). A igreja
de Tiatira foi repreendida devido à sua flexibilidade moral (Ap 2.20-
24).
B – Formas De Disciplina[2]
Quando nos referimos à disciplina na igreja, devemos
pensar não somente na punição do erro. A Disciplina bíblica na
igreja se inicia com atitudes de prevenção e, por conseguinte, inclui
tanto a disciplina formativa como areformativa.
A primeira envolve todo o processo que resulta em prevenir
os crentes de caírem no pecado (batismo, sermões, comunhão,
dizimar, etc.).
A disciplina reformativa, assim como nos sugere o termo, se
preocupa com o aprimoramento de um crente que se beneficia
pouco da disciplina formativa, um crente que erra em sua jornada
cristã.
C – Os Passos da Disciplina
Biblicamente, a disciplina na igreja tem um triplo
objetivo: 1) restabelecer o pecador (Mt 18.15; 1 Co 5.5 e Gl
6.1); 2) manter a pureza da igreja (1 Co 5.6-8); 3)dissuadir outros (1
Tm 5.20). É este triplo propósito que aponta para os passos a
serem seguidos em uma aplicação correta da disciplina eclesiástica.
Esses passos são especialmente mencionados em Mateus 18.15-
17.
1 – Abordagem individual
O v.15 (“Se teu irmão pecar vai argüi-lo entre ti e ele só...”)
ensina que a confrontação é uma tarefa cristã. Uma das melhores
coisas a fazer por um irmão em pecado é confrontá-lo em amor (Pv
27.5-6). Mas é sempre arriscado confrontar alguém, pois nunca se
pode prever a reação do mesmo. Jesus, todavia, dirige nossa
atenção para a alegre possibilidade de que tal irmão nos ouça.
2 – Admoestação privada
No caso de o ofensor não atender à confrontação individual,
Jesus ordena que haja admoestação privada (v.16). Nesse caso,
um número maior de pessoas é envolvido. A principio, pode parecer
que o objetivo desse passo é intimidar o ofensor. Uma atenção
maior, porém, leva-nos a entender que o propósito do mesmo pode
ser o de conscientizar o ofensor quanto aos prejuízos de sua atitude
para com a comunidade do corpo de Cristo. Em outras palavras,
nosso pecado traz conseqüências pessoais e coletivas. Além do
mais, Jesus afirma que as outras pessoas envolvidas nesse
processo serão testemunhas. Isto é uma referência à prática vetero-
testamentária de não se condenar alguém com base em uma
opinião pessoal (Nm 35.30, Dt 17.6). Com isso, a objetividade do
caso é preservada, o que diminui as chances de injustiça, e o
ofensor é beneficiado.
4 – Exclusão pública
O último recurso da disciplina é o da excomunhão (do
latim ex, “fora”, ecommunicare, “comunicar”), na qual o ofensor é
privado de todos os benefícios da comunhão. Nesse caso, o
ofensor é tido como gentio (a quem não era permitido entrar nos
átrios sagrados do Senhor) e publicano (que eram considerados
traidores e apóstatas: Lc 19.2-10). Com estes não há mais
comunhão cristã, pois deliberadamente recusam os princípios da
vida cristã (1 Co 5.11). Se o seu pecado é heresia, ou seja, o desvio
doutrinário das verdades fundamentais ensinadas nas Escrituras,
eles não devem nem mesmo ser recebidos em casa (2 Jo 10-11).
3 – Implicações Teológicas
Sem a intenção de limitar, mas tão somente de elucidar,
ofereceremos três tópicos teológicos que estão vitalmente ligados
ao processo da disciplina eclesiástica.
C – Disciplina e Evangelismo
A disciplina evidencia o amor cristão pelo pecador, ainda
que esse pecador seja um dos membros da igreja. Esse amor pelo
pecador cristão também reflete o amor da mesma pelo pecador
incrédulo. A disciplina eclesiástica ressalta a seriedade do pecado.
Sem a visão dessa seriedade, a igreja não é corretamente motivada
a buscar a redenção do pecador. Há uma relação entre disciplina
eclesiástica e evangelismo.
Uma igreja sem disciplina torna-se um impecilho para o
avanço do evangelho. Essa relação vital entre evangelismo e
disciplina é clara à luz de 1 Co 5.12-13. O evangelismo é dirigido
aos que estão fora dos portões da igreja e que estão escravizados
pelo pecado. A disciplina é dirigida àqueles que estão dentrodos
portões da igreja e que estão se sujeitando ao domínio do pecado.
Assim, ambos (evangelismo e disciplina) almejam a liberdade do
pecador e a concretização do triunfo histórico da graça sobre o
pecado na vida do mesmo (Rm 6.1-23).
Conclusão
Uma séria reflexão bíblica sobre a disciplina eclesiástica
evidencia dois princípios básicos. Primeiro, que a disciplina na
igreja não é uma opção, mas sim uma ordenança e,
consequentemente, uma bênção divina (Hb 12.5-7). Segundo, que
a disciplina requer profundo amor por parte da igreja que a aplica e
semelhante humildade e quebrantamento por parte daquele que é
disciplinado (2 Co 2.5-11).
Aula nº 6
LEI - Antigo
Testamento
GRAÇA - Novo
Testamento
2 – O Uso da Lei
Para entendermos bem o uso da lei precisamos entender o
que são o pacto das obras e o pacto da graça. Assim, é prudente
começarmos por esclarecer o que são esses pactos e qual o
conceito de lei que está envolvido na questão.
Pacto das Obras e Pacto da Graça é a terminologia usada
pela Confissão de Fé de Westminster para explicar a forma de
relacionamento adotada por Deus para com as suas criaturas, os
seres humanos. Mais do que isso, essa terminologia reflete o
sistema teológico adotado pelos reformadores, conhecido como
teologia federal. De forma bem resumida, podemos dizer que o
pacto das obras é o pacto operante antes da queda e do pecado.
Adão e Eva viveram originalmente debaixo desse pacto e sua vida
dependia da sua obediência à lei dada por Deus de forma direta em
Gênesis 2.17 – não comer da árvore do conhecimento do bem e do
mal. Adão e Eva descumpriram a sua obrigação, desobedeceram a
lei e incorreram na maldição do pacto da obras, a morte.
O pacto da graça é a manifestação graciosa e
misericordiosa de Deus, aplicando a maldição do pacto das obras à
pessoa de seu Filho, Jesus Cristo, fazendo com que parte de sua
criação, primeiramente representada em Adão, e agora
representada por Cristo, pudesse ser redimida. Porém, a lei antes
da queda não se resume à ordem de não comer do fruto da árvore
do conhecimento do bem e do mal. A lei não deve ser reduzida a
um aspecto somente. Existem outras leis, implícitas e explícitas, no
texto bíblico. Por exemplo, a descrição das bênçãos em Gênesis
1.28 aparece nos imperativos sede fecundos, multiplicai-vos, enchei
a terra e dominai. Esses imperativos foram ordens claras do Criador
a Adão e sua esposa e, por conseguinte, eram leis. O
relacionamento de Adão com o Criador estava vinculado à
obediência, a qual ele era capaz de exercer e assim cumprir o papel
para o qual fora criado. No entanto, o relacionamento de Adão com
Deus não se limitava à obediência. Esse relacionamento,
acompanhado da obediência, deveria expandir-se de maneira que
nele o Deus criador fosse glorificado e o ser humano pudesse ter
plena alegria em servi-lo. A Confissão de Fé não fala da lei de Deus
gravada no coração do homem. Essa lei gravada no coração do ser
humano reflete o tipo de intimidade reservada por Deus para as
suas criaturas.
Nesse contexto podemos perceber que a lei tinha um papel
orientador para o ser humano. Para que o seu relacionamento com
o Criador se mantivesse, o homem deveria ser obediente e assim
cumprir o seu papel. A obediência estava associada à manutenção
da bênção pactual. A não obediência estava associada a retirada da
bênção e à aplicação da maldição. A lei, portanto, tinha uma função
orientadora. O ser humano, desde o principio, conheceu os
propósitos de Deus através da lei. Tendo quebrado a lei; ele tornou-
se réu da mesma e recebeu a clara condenação proclamada pelo
Criador: a morte.
O que acontece com essa lei depois da queda e da
desobediência? Ela tem o mesmo papel? Ela possui diferentes
categorias? Por que Deus continuou a revelar a sua lei ao ser
humano caído?
5 – Cristo e a Lei
Precisamos entender que Cristo satisfez e cumpriu a lei de
forma plena e completa. Ele não veio revogar a lei. Façamos uma
breve análise de Mateus 5.17-19.
Aula nº 7
Introdução
Antes de analisar o ensino dos reformadores sobre o laicato,
um retrospecto geral mostrará a posição da Igreja Católica Romana
com respeito ao assunto no período da Reforma.
Na época em que o cristianismo tornou-se a religião aceita
do Império Romano, o sistema hierárquico de autoridade estava
plenamente estabelecido na igreja. Os leigos ficavam naturalmente
na camada mais baixa. Vários níveis de posição separavam-nos
dos bispos colocados no topo. Enquanto a igreja estava cada vez
mais institucionalizada, os cristãos comuns pareciam tornar-se cada
vez menos essenciais nas atividades da igreja. Mais e mais o seu
papel foi se tornando o de receber e seguir obedientemente o que
descia do alto da escala hierárquica.
A assim chamada Idade das Trevas manteve a tendência já
mencionada. Enquanto a igreja e o estado continuavam a disputar a
sujeição da massa popular, o cristão comum não se sentia
estimulado a ir muito além de seguir as regras e regulamentos
impostos pela igreja.
A tradição da Igreja Católica Romana fez uma nítida
diferenciação entre leigos e religiosos. Estes eram os que
assumiram as ordens, compreendendo dois grupos, os sacerdotes
e os monges. A ordenação era a designação para um determinado
ofício, feita por um bispo, incluindo autorização e responsabilidade
para realizar os deveres do ofício atribuído. A distinção entre o clero
e o laicato foi mantida e aceita como divinamente estabelecida.
Na teologia e ensino católico, o sacerdócio consagrado pelo
sacramento da ordem era visto como comissionado para cumprir a
tríplice função do ofício sacerdotal: ensino, administração e
santificação. Assim, o sacerdote, como membro da hierarquia,
cumpria a missão da igreja divinamente estabelecida como
autoridade de ensino e agente sacramental, tornando disponíveis
ao laicato os meios de graça através dos sacramentos.
A distinção entre o laicato e o clero na tradição católica
romana era correspondente à distinção entre igreja e o mundo. A
igreja era concebida comosocietas perfecta (sociedade perfeita),
porém inequalis (desigual), com os statusclericalis e laicalis, tendo
cada grupo seus respectivos direitos e responsabilidades.
O clero, com o direito e a responsabilidade de administrar os
sacramentos, era ordenado para uma vocação sagrada. O laicato,
que precisava receber os sacramentos e o ensino, devia procurar o
seu trabalho no mundo, o ambiente profano. Eclesiasticamente, a
igreja, o ambiente sagrado, tinha prioridade sobre o
profano. Implícita nessa distinção estava a valorização do ofício do
clérigo. Os monásticos, que renunciavam à participação eclesiástica
no mundo (isto é, o profano) por assumirem os votos de celibato,
pobreza e obediência, eram designados para a atividade religiosa.
1 – Martinho Lutero
A doutrina do sacerdócio universal de todo os crentes
estava no coração da reforma de Lutero. Sua afirmação do
sacerdócio universal deriva diretamente de seu conceito
fundamental da igreja. O evangelho é o verdadeiro tesouro da igreja
e a fonte de sua vida; ele é expresso e incorporado na palavra
pregada e nos sacramentos (palavras visíveis); o evangelho é a
possessão de todo crente. Assim, todos os cristãos são constituídos
sacerdotes pelo evangelho em sua dupla forma de palavra e
sacramentos, pois todos são participantes dos mesmos[3].
2 – João Calvino
A idéia do sacerdócio de todos os crentes amadurecida na
mente de Calvino estava ligada à sua convicção de que o crente
não requeria a mediação de um sacerdócio humano em sua
aproximação a Deus. Para Calvino, o sacerdócio universal é
entendido como algo que expressa a relação entre o crente e seu
Deus.
(...).
Calvino não negou a validade do sacerdócio e ministério dos
líderes ordenados, mas apôs-se violentamente aos abusos do
clericalismo, que negava as pessoas leigas seus plenos direitos e
responsabilidades como servos de Deus redimidos e restaurados.
Conclusões:
O laicato ocupou lugar preponderante na vida e expansão da
igreja primitiva.
O laicato recebeu notável reconhecimento na teologia e
ensino dos reformadores.
Implicações:
Cada crente tem um ministério a desempenhar De acordo
com a compreensão bíblica da igreja, todo cristão é criado à
imagem de Deus, e este concede a cada um dons para ministérios
de significação eterna.
Cada membro do Corpo de Cristo tem o direito e o dever de realizar
a obra missionária da igreja.
Aula nº 8
Definição de Trabalho
É o esforço físico ou intelectual, com vistas a um determinado
fim. O verbo “trabalhar” provém do latim vulgar tripaliar (torturar
com – o tripallium,instrumento de tortura de três paus, que também
servia para “ferrar os animais rebeldes”). O termo evoluiu, tomando
o sentido de “esforçar-se”, “laborar”, “obrar”.
A Perspectiva de Calvino
A Reforma resgatou o conceito cristão de trabalho:
(...).
Aula nº 9
2 – A Relevância da Pregação
Em virtude dessa elevada concepção da pregação como Vox
Dei, a fé reformada atribui à proclamação pública da Palavra de
Deus a maior importância. Na tradição reformada a pregação é
considerada como o principal meio de graça, como a tarefa
primordial da igreja e do ministro da Palavra, como o elemento
central do culto, como marca genuína da verdadeira igreja e como o
meio por excelência pelo qual é exercido o poder das chaves.
3 – A Eficácia da Pregação
Embora tendo a elevada concepção da pregação, a fé
reformada não atribui à palavra pregada eficácia automática,
mecânica ou mágica, e nem a associa primordialmente às
habilidades e capacidades pessoais do pregador ou dos ouvintes. A
eficácia da pregação, na teologia reformada, depende
fundamentalmente da operação do Espírito Santo e da
responsabilidade humana do pregador e dos ouvintes.
3.4 – Conclusão
Estas considerações sobre a obra do Espírito Santo e a
responsabilidade humana para a eficácia da pregação não devem
levar o leitor a pensar que a pregação da Palavra só se torna eficaz
quando obtém resposta positiva dos ouvintes. A genuína pregação
do evangelho nunca é vã. (...) Mesmo quando rejeitada, a eficácia
da palavra pregada se manifesta tornando indesculpáveis os
réprobos. Ou a pregação nos aproxima de Deus, ou nos coloca
mais perto do inferno.
5 – Conclusão
Em muitos círculos evangélicos contemporâneos e até mesmo
entre reformados, o surgimento de novos meios de comunicação, a
aversão do homem moderno por verdades objetivas, a
secularização da sociedade, o afastamento do cristianismo das
Escrituras, e especialmente a concepção moderna da pregação
como uma atividade meramente humana, têm resultado em
evidente declínio da pregação. Outras atividades têm tomado o seu
lugar no culto, e a pregação tem sido relegada a um plano
secundário no culto e na vida da igreja.
Na concepção reformada, entretanto, a pregação pública da
Palavra de Deus é considerada não como palavra de homem, mas
como Vox Dei. Na proclamação solene da Palavra de Deus por
arautos comissionados pelo próprio Deus. Cristo se faz presente,
fala e governa a igreja. A fé reformada tem uma concepção quase
que sacramental da pregação. Ela professa a real presença
espiritual de Cristo na pregação, assim como na Ceia.
Em virtude dessa elevada concepção quanto à sua natureza,
a teologia reformada atribui grande importância à pregação. Na
teologia reformada, a pregação é imprescindível. É o principal meio
de graça, a tarefa primordial da igreja e do ministro, o principal
elemento de culto na dispensação da graça; constitui-se em marca
essencial da verdadeira igreja, e meio pelo qual o reino de Deus é
aberto ou fechado aos pecadores. Isto não significa que a fé
reformada atribua eficácia automática à pregação. A eficácia da
pregação também não está, primordialmente, nas habilidades
pessoais do pregador ou dos ouvintes. Está, sim, na operação do
Espírito Santo, tanto na preparação e entrega da mensagem, como
na sua recepção. Os pregadores devem laborar na interpretação da
Palavra, e transmiti-la fielmente. Os ouvintes, devem receber com
atenção, reverência, fé e obediência a palavra pregada. Contudo,
somente o Espírito Santo pode conferir eficácia à pregação,
assistindo e capacitando o pregador, e iluminando e convencendo
os ouvintes do pecado e da graça de Deus em Cristo. Não obstante,
independentemente da resposta dos ouvintes, a genuína do
evangelho nunca é vã. O reino de Deus é promovido também na
condenação dos réprobos. O propósito da pregação reformada
consiste na fidelidade ao sentido, significado e propósito do texto;
na conversão e restauração da imagem de Deus nos ouvintes; e na
promoção do reino e da glória de Deus no mundo. Que a Vox
Dei seja ouvida na alma e na vida dos ouvintes, com vistas à
promoção do reino e da glória de Deus no mundo.
Aula nº 10
Resumo
Neste artigo estamos apresentando diversas perspectivas
teológicas diferentes, a respeito da relação entre ação social e
evangelismo, com a finalidade de enriquecer a nossa visão de
mundo cristão. Evidentemente certas perspectivas teológicas,
fomentadas por determinados teólogos, dificilmente passariam pelo
crivo da Palavra de Deus.
Entretanto, procuramos neste artigo lançar para uma melhor
compreensão teológica e missiológica do papel do engajamento
social, além de discutir as implicações mais amplas desta questão
para a igreja contemporânea.
Palavras-Chave
Missiologia, missão, engajamento social, preocupação social,
Calvino.
Introdução
A América Latina é um dinâmico tapete, um vivo mosaico, um
caleidoscópio. Nenhuma analogia fará justiça a este continente que,
de tão diverso, entrou em crise. O turista só consegue reconhecer a
estreita realidade que lhe é apresentada e assim raramente terá
uma percepção justa, correta e abalizada da realidade latino-
americana. Os repórteres internacionais, por sua vez, focalizam
simplesmente aqueles assuntos que servirão para a sua agência
internacional: crime, violência, insegurança e instabilidade
econômica. Mui raramente terá o turista, ou o jornalista
internacional, condições de entender a complexidade histórica e
espiritual desta vasta área e o seu legado hispano-lusitano.
O que pode fazer o pesquisador cristão, estudioso da América
Latina diante desse quadro? Evidentemente, é de se esperar que o
cristão lance mão de todos os recursos disponíveis para entendê-la
e ao nosso povo.
O problema é que trabalhamos já munidos de uma série de
pressuposições ou pré-entendimentos, que nos induzem a fazer
uma aferição e um julgamento “de fato e de valor” sobre o nosso
continente. Nós, cristãos, temos falhado em fazer uma leitura
histórica neutra sobre a cristianização do continente sobre o papel
da Igreja. E quais as razões por trás disso?
O teólogo William Taylor, professor da Universidade de Dallas,
em sua obra Crisis in Latin América (1989, p.21), elucida o assunto,
sugerindo quatro razões básicas:
Isso acontece porque, muitas vezes, a nossa percepção
histórica dos fatos já está preestabelecida.
Porque a nossa percepção histórica está arraigada nos valores
da classe média ou dominante, ou de um certo contexto
socioeconômico.
Porque a nossa percepção histórica é autoprotecionista, visando
salvaguardar o status quo da Igreja.
Porque a nossa percepção histórica é exacerbadamente
institucional e denominacionalista.
Conclusão
Este artigo procurou contribuir para uma compreensão melhor
do papel da atividade social cristã da Igreja na América Latina hoje,
tendo como propósito fornecer à Igreja contemporânea
ponderações que a ajudem a cumprir mais efetivamente sua missão
no contexto latino-americano.
É mister que os seguintes fatores bíblicos, teológicos e
históricos sejam reconhecidos e vistos como determinantes para o
cumprimento da missão da Igreja:
1. O homem nunca é de tal modo corrompido pelo pecado que não possa
crer salvaticiamente (salvificamente) no Evangelho, uma vez que este lhe
seja apresentado;
2. O homem nunca é de tal modo controlado por Deus que não possa
rejeitá-lo;
3. A eleição divina daqueles que serão salvos alicerça-se sobre o fato da
previsão divina de que eles haverão de crer, por sua própria deliberação;
4. A morte de Cristo não garantiu a salvação para ninguém, pois não
garantiu o dom da fé para ninguém (e nem mesmo existe tal dom); o que
ela fez foi criar a possibilidade de salvação para todo aquele que crê;
5. Depende inteiramente dos crentes manterem-se em um estado de graça,
conservando a sua fé; aqueles que falham nesse ponto, desviam-se e se
perdem.