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Calvinismo para arminianos – Livro 1

Devair S. Eduardo – EATRE | 1 |


Calvinismo para arminianos – Livro 1

Calvinismo
para
ARMINIANOS
.
livro 1
O que é calvinismo?
.

EATRE - 2020
Escola aberta de teologia reformada
Devair S. Eduardo

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Calvinismo para arminianos – Livro 1

Antes de ler.
Antes de ler vale a pena lembrar que esse estudo não visa atacar
os estudantes de teologia, mas mostrar que dentre tudo que é
ensinado pouca coisa se refere à realidade. Sendo assim é muito
provável que você encontrará argumentos comuns sendo
respondidos sob uma cosmovisão calvinista, o que é o melhor a
ser feito.
Eu considerei ainda que alguns argumentos arminianos não
podem ser aplicados nem mesmo a eles, como por exemplo o
fato de Deus não escolher eleger algumas pessoas para o céu
fazendo assim que elas caminhem para o inferno. Nenhum
sistema responderia à altura de um ateu ou um iluminista a essa
pergunta sem apelar para a famosa frase: Deus faz assim porque
ele quer assim. Então é óbvio que esse estudo não atende a
expectativas de crentes iluministas ou semi pelagianos e atende
perfeitamente a calvinistas e arminianos. A ideia foi a seguinte:
Temos muitos novos crentes adentrando no calvinismo e no
arminianismo, porém, os arminianos modernos ensinam coisas
terríveis sobre o calvinismo e com isso proíbem que eles
conheçam a verdade. Vendo isso como algo extremamente ruim
para o cristianismo eu vou trazer numa série de estudos o que é
de fato o calvinismo. A ideia não é comparar os sistemas, mas os
argumentos de algumas pessoas que se dizem arminianas. Cabe
aqui salientar que o arminianismo não é muito diferente do
calvinismo, mas vivemos hoje um sistema adulterado de
arminianismo, a este vou fazer o possível para expor enquanto
mostro o que é de verdade calvinismo.
Neste estudo você verá os seguintes tópicos:

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Calvinismo para arminianos – Livro 1

A - Introdução; [5]
B - A teologia acadêmica e eclesiástica está acostumada com a
mentira; [7]
C - O que é calvinismo? [11]
D - Questões doutrinárias básicas; [13]
E - O forte apelo à soberania de Deus; [19]
F - Calvino e o calvinismo - adoramos Calvino? [25]
G – Bibliografia. [33]

Os demais estudos serão postados no blog Palavras em Chamas e


comunicados nas redes sociais que o EATRE faz parte, para
acesso direto ao blog acesse:

http://palavrasemchamas.blogspot.com

Devair S. Eduardo
Escola Aberta de Teologia Reformada
Mar/ 2020

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Calvinismo para arminianos – Livro 1

Calvinismo para arminianos

-- 1 --
O que é calvinismo? [O sistema]

“Concede-me, Senhor, que eu saiba e entenda qual


vem primeiro: invocar-te ou louvar-te? Conhecer-te ou
invocar-te? Pois quem pode invocar-te sem te
conhecer? Pois quem não te conhece pode invocar
alguém que não és tu. Ou será que nós te invocamos
para podermos conhecer-te? Mas “como, pois,
invocarão aquele em quem não creram? E como crerão
naquele de quem não ouviram falar? […] Invocando-te,
Senhor, eu te buscarei; e, crendo em ti, te invocarei,
pois a nós tu foste pregado. Minha fé, Senhor, te
invocará, a fé que tu me deste e com a qual me
inspiraste, por meio da encarnação de teu Filho, por
meio do ministério do pregador” [1]

A declaração de Agostinho, bispo que viveu entre 354-430


d.C. nos traz duas importantes informações enquanto é
recebido poeticamente em nossa mente. A primeira
informação importante é que nós recebemos Deus e a fé
pela pregação do Evangelho, e só após isso temos condição
de buscar a Deus e adorá-lo; A segunda informação é que a

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nossa fé foi dada por Deus para que pudéssemos invocá-lo e


adorá-lo. Esse é basicamente o centro de toda polêmica
envolvendo o calvinismo e o arminianismo moderno, ou
seja, o fato de o homem receber ou não a fé e a salvação ou
de desejar ou não a salvação antes de receber a salvação.
Esse é o problema histórico do cristianismo e
aparentemente foi enfrentado pelos apóstolos no primeiro
século também (e vamos ver isso mais adiante).
Esta série de estudos tem uma única intenção: trazer à luz o
calvinismo de forma correta, honesta e direta, para que
arminianos que estão sendo enganados por tanto tempo
tenham um pouco do que realmente significa o termo
“calvinista”.
Eu desejo que você seja pelo menos honesto e leia todo o
estudo. Faça isso analisando tudo que ouviu dos líderes
arminianos ou de pessoas influentes nesse movimento para
que consiga compreender de fato o que é verdade e o que é
mentira, aliás, mentira é o nosso primeiro capítulo. Você
não precisa se tornar um calvinista depois de ler esse texto,
apenas saberá o que não falar do movimento quando quiser
escrever ou gravar algo sobre nós.

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A teologia acadêmica e eclesiástica está


acostumada com a mentira

“Alguns, ao rejeitar a verdade, apresentam discursos


mentirosos e genealogias sem sim, as quais
favorecem mais as discussões do que a construção do
edifício de Deus que se realiza na fé”(Irineu de Lião,
séc. II d.C.)[17]

A verdade é que a mentira está presente na teologia desde a


criação, isso mesmo, desde a criação as palavras de Deus
tem sido distorcidas bem como aquilo que as pessoas
pensam sobre ele. Veja com seus próprios olhos em
Gênesis, quando a serpente inicia uma conversa teológica
sobre a palavra de Deus. O estudo da palavra de Deus é um
dos primeiros temas em diversas teologias sistemáticas,
isso acontece porque ele é o estudo mais importante uma
vez que, quando vamos estudar teologia, precisamos de
uma fonte de dados de extrema confiança. Para isso Deus
nos deixou a sua palavra. Grudem diz o seguinte sobre este
estudo:

“Às vezes as palavras de Deus tomam a forma de


decretos que causam eventos ou até mesmo trazem
coisas à existência […] Essas palavras poderosas e
criadoras de Deus são frequentemente chamadas

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decretos de Deus. Decreto de Deus é uma palavra


divina que faz algo acontecer” [2]

Dessa forma Grudem quer mostrar como é importante a


palavra de Deus dentro da teologia calvinista, que é
professada pelo mesmo autor. Voltando na conversa entre
Eva e a serpente, no Éden, temos dois argumentos sobre
uma só palavra, porém um deles está distorcendo, não
apenas as palavras, mas os decretos divinos. É isso que a
serpente faz quando diz “é certo que vocês não
morrerão”(Gn 3.4) – ela pegou a palavra do Criador, que
afirmou categoricamente: “no dia em que dela comer, você
certamente morrerá” (Gn 2.17) e maliciosamente alterou o
sentido do texto para que o desejo de pecar pudesse fluir na
mente de Eva. É isso que acontece hoje em dia com muitos
pastores e teólogos quando vão se referir a uma doutrina da
qual não gostam. Eles usam a mesma estratégia da serpente
(e porque não dizer que a serpente usa eles?!) para que os
ouvintes se sintam constrangidos a não acreditar mais no
outro lado que está sendo demonizado. Isso é certamente
uma obra de Satanás e se você é calvinista não pode de
forma alguma fazer isso com qualquer sistema religioso.
Dentro da teologia anti calvinista nós ouvimos muitas
declarações como a da serpente, eis alguns exemplos
básicos e rápidos:

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A – O calvinismo ensina que Deus criou o pecado;


B – O calvinismo ensina que Deus ama mandar pessoas ao
inferno;
C – Calvino é um assassino de Cervetto;
D – Os cessacionistas não acreditam no Espírito Santo;
E – Os calvinistas ensinam que nós somos robôs
controlados por Deus… etc.

Hoje mesmo estive assistindo, no YouTube, uma pregação


do “pastor” Natan Rufino, dentro de uma igreja em pleno
domingo com uma mensagem intitulada: A diabólica
predestinação calvinista. [3]
Durante sua exposição da doutrina calvinista, Natan Rufino
declarou que a predestinação ao inferno é uma doutrina
diabólica, porém, ele não considerou que fazendo isso
estava chamando o próprio Cristo de diabólico. Vou lhe
mostrar como ele fez isso. Em Apocalipse 20 lemos o
seguinte:

“Esta é a segunda morte, o lago de fogo. E, se alguém


não foi achado inscrito no Livro da Vida, esse foi
lançado no lago de fogo”(v.14,15).

Ok, temos a informação de que aqueles que não constam no


livro da vida são enviados para o inferno, porém este livro
da vida não é escrito com o tempo, muito menos escrito

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pelos homens. O próprio Jesus revela a João que este livro


foi escrito “desde a fundação do mundo” e ele se refere a
pessoas que não foram colocadas neste livro. Os termos em
13.8 são: não tiveram e nomes escritos. Ações que não vem
de quem quer ser incluído, mas de quem quis ou não
incluir, ou seja, os nomes daqueles que não entrarão no céu
não foram escritos porque Deus não quis escrever. Sendo
assim o pregador (Natan Rufino) disse que Jesus ensina
uma doutrina diabólica quando mostra que Ele não quis
colocar o nome de todos no livro da vida. Isso é ser como a
serpente, mudando o que foi realmente dito para enganar
quem está ouvindo.
Não é difícil perceber que ele estava propositalmente
distorcendo o que é ensinado, pelo próprio Jesus neste
caso, para atrair a adoração do público. Isso deu muito
certo, pois as pessoas na igreja estavam glorificando a Deus
por ouvir esse falso argumento.
Em outra parte do mesmo vídeo o pregador chega a dizer
que os calvinistas mostram um Deus mimado e diabólico e
que a nossa pregação afasta as pessoas da verdade,
obviamente eu precisaria de um tempo maior para refutar
tudo que o pregador disse, mas não farei isso, antes, quero
mostrar a você o que é de fato calvinismo e desejar que
comece a enxergar as coisas por uma ótica correta.
Como você pode ver a teologia, principalmente a brasileira,
usa muito a mentira para apoiar o que pensa ser verdade.
Isso é um defeito, é usar o que satanás tem de “melhor”

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para impor a outras pessoas que se pensa e não o que a


Bíblia diz. Nós, calvinistas, vemos muitos arminianos
fazendo isso. É uma pena, não apoio esse tipo de
comportamento e desejo não fazer o mesmo, pois, acima
daquilo que nós desenvolvemos como teologia existe um
Deus que literalmente abomina a mentira.
Vamos então entender um pouco mais do que é
“calvinismo”?

O que é calvinismo?

Para muitos é uma doutrina de satanás – eu mesmo já fui


chamado de ferramenta da besta e de falso profeta. Para
outras pessoas o calvinismo é um conjunto de heresias que
retiram as pessoas de dentro da igreja e outros ainda
acreditam que o calvinismo é uma doutrina que faz com
que as pessoas possam pecar sem se preocupar. Na prática,
isso tudo são mentiras que não explicam o que é de fato
calvinismo.
Calvinismo é o sistema doutrinário que surgiu na reforma
protestante. Ele é todo o conjunto de doutrinas que os
reformadores descobriram ao poder ler a interpretar a
Bíblia com maior “liberdade” e tem sim a colaboração
direta de Lutero. Então, toda pessoa que não era católica no
período da reforma era de alguma forma calvinista, ainda
que este termo no início não tenha sido usado.

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Abraham Kuyper, ensina que o termo se refere a 3 conceitos


distintos:

A – Um nome sectário [relativo a seita, intolerante].


Segundo Kuyper “os membros da Igreja Reformada são
constantemente estigmatizados pelo nome não oficial de
“calvinistas”, um nome pejorativo aplicado até mesmo
àqueles que se despojaram de todos os traços de simpatia
com a fé de seus pais”[4]
Ou seja, calvinismo era um apelido dado a todos que não
apoiavam a igreja católica, aplicado até mesmo a pessoas
que não apoiavam nenhum dos lados. Calvinismo era como
um palavrão, uma palavra que ofendia as pessoas
propositalmente para que elas se sentissem forçadas a
apoiar o catolicismo romano.

B – Uma identificação confessional.


Kuyper ensina que o termo calvinista passou a ser também,
aplicado a todos aqueles que apoiavam as doutrinas
reformadas, isso é, confessavam as cinco solas e as
confissões vindas das igrejas não romanas. É importante
lembrar que na época da reforma existiam inicialmente
dois lados, os protestantes e os católicos. Então quando
tratamos dessa adoção ao calvinismo estamos tratando das
doutrinas reformadas, que com o tempo receberam o nome
“calvinistas”.

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Portanto, todo aquele que crê nas doutrinas reformadas, as


cinco solas e os cinco pontos (TULIP) são chamados de
calvinistas. Outras pessoas creem em mais ou menos
pontos e alguns ainda assim se denominam calvinistas.
Vamos, no decorrer do estudo, entender as confissões
calvinistas. Por isso não vou citá-las agora.

C -Uma identificação denominacional.


De modo semelhante ao anterior, o termo também se refere
a igrejas que professam a fé reformada, tais como a Igreja
Presbiteriana do Brasil e a Batista Reformada, ambas são
chamadas de igrejas calvinistas por aplicar de uma ou outra
forma as doutrinas da reforma protestante.
“Ninguém menos que Spurgeon pertenceu à uma classe de
batistas que, na Inglaterra, chamavam-se de “batistas
calvinistas” […] Sem dúvida, esta prática teria sido
severamente criticada pelo próprio Calvino”. [5]

Questões doutrinárias básicas

Antes de entrar nas doutrinas calvinistas principais


precisamos acertar algumas questões importantes sobre o
método calvinista de interpretar a Bíblia. De forma geral
pode-se achar outras formas de interpretação, mas quero
destacar apenas o essencial para que você possa
compreender como lemos as escrituras.

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Eu diria que, diferentemente de como enxerga o


catolicismo romano, tanto historicamente como na
atualidade, nós enxergamos acima de tudo a Bíblia Sagrada.
Entendemos que apenas ela pode nos direcionar a uma
doutrina saudável e verdadeira visto que a mente do
homem pode ser facilmente influenciada pelo pecado e por
satanás. Por isso o calvinista lê o texto bíblico mais de uma
vez para ter certeza de que o que ele leu está escrito.
Recentemente eu vi um jovem lendo a Bíblia e
questionando algo que o texto dizia com clareza. Ele não
compreendeu o que o texto ensinava pois está acostumado
a ler rápido para decorar, nós crescemos aprendendo isso.
Mas o calvinista lê o texto observando cada palavra, cada
verbo. Por exemplo, quando alguém me pergunta sobre a
salvação ser ou não monergista eu peço que a pessoa leia
com calma o texto de João 10.16, que diz:

“Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco. Preciso


trazer também estas”

A primeira leitura deixa para trás os principais verbos do


texto, e assim o leitor nunca entende que quem está
trazendo as ovelhas é o pastor. Isso é, uma ação de Deus
para o homem – Cristo está literalmente dizendo que Ele
mesmo vai trazer aqueles que serão salvos em outros
continentes. E para chegar a essa conclusão um calvinista
certamente vai ler o mesmo texto várias vezes, após isso ele

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provavelmente vai comparar com outra tradução e meditar


em tudo que leu. Esse é o principal método de estudo de
um calvinista, ele precisa ter certeza de que o que leu não
foi influenciado pelo seu achismo, mas unicamente pelas
escrituras. É isso que significa Sola Scriptura.
Ainda sobre o sola scriptura, James M. Boice comenta o
seguinte:

“Nos dias de Martinho Lutero, sola scritura tinha a


ver com a Bíblia ser a única autoridade suprema para
os cristãos contra os desafios que enfrentava das
tradições da igreja medieval, concílios da igreja e o
papa. Os reformadores queriam que somente a
Escritura se postasse como a verdadeira autoridade
para a igreja”.[6]

O próprio Calvino foi acusado de pregar doutrinas que não


existiam na Bíblia nem nos pais da igreja. Na sua primeira
edição das Institutas da religião cristã ele responde aos
católicos sobre essa questão. Calvino deixa claro que a
acusação contra as doutrinas reformadas eram uma forma
de manipulação da massa para que os crentes não dessem
ouvidos ao que pregavam. Isso não era sobre Calvino, era
sobre toda a teologia reformada. Veja um trecho desse
documento importante:

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“A despeito disso, não cessam de assaltar nossa


doutrina e de reprová-la e infamá-la com nomes que a
tornam ainda mais odiosa ou suspeita. Eles a
denominam de “nova” e “de origem recente”.
Acusam-na de “duvidosa e incerta”. Inquirem se ela
tem o direito de prevalecer contra a concordância de
tantos pais e contra costumes antiquíssimos”.[7]

Uma atitude extremamente estranha uma vez que os pais


da igreja colaboraram muito com a construção do que veio
a ser chamado calvinismo. A exemplo disso coloquei uma
citação de Agostinho no início deste estudo. Mas, fica claro
que essa forma de lidar com as doutrinas reformadas eram
nada mais do que uma estratégia para que outras pessoas
passassem a odiá-las assim como o pregador citado acima
[Natan Rufino] fez. Em uma outra defesa sobre as doutrinas
reformadas, João Calvino trata justamente de elas
[doutrinas] estarem ou não baseadas nas escrituras –
sabemos bem que o catolicismo não tem as escrituras como
regra fundamental para o estabelecimento de uma
doutrina, usam em primeiro lugar a tradição, mas para
cegar a compreensão das pessoas na sua época eles
chegaram a usar essa estratégia contra os reformadores, ao
que Calvino responde da seguinte maneira:

“Em primeiro lugar, ao denominá-la de “nova”,


fazem profunda injúria a Deus, cuja Sagrada Palavra

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não merece ser tratada como novidade. Aliás, de modo


algum duvido tratar-se de algo novo para eles, uma vez
que também lhes são novos o próprio Cristo e seu
evangelho. Mas, para os que sabem ser antiga aquela
pregação de Paulo, no sentido de que “Jesus Cristo foi
morto por causa das nossas transgressões e
ressuscitou por causa de nossa justificação” (Rm
4.25), nada novo encontrarão entre nós”.[8]

Então, qual é a base das doutrinas calvinistas? As escrituras


e nada além delas. Não deixamos, como fazem os católicos,
que as tradições humanas nos ceguem e façam com que
nossos sentidos sejam influenciem na leitura e
interpretação. Antes, pregamos que as escrituras precisam
nos fazer enxergar a verdade e por isso ela é uma das bases
para o estabelecimento das doutrinas reformadas. Isso foi
importante em um século onde a religiosidade romana
dominava o povo fazendo dos pobres mais pobres e dos
ricos mais ricos usando o discurso da fé. Neste contexto,
descobrir as Sagradas Escrituras foi como encontrar a luz
no fim do túnel, algo que não é muito distante do que
precisamos hoje.

A mesma estratégia usada pelos católicos romanos na


época da reforma é usada hoje mesmo pelos arminianos. O
autor Carlos Kleber Maia, no livro Depravação Total
escreveu o seguinte parágrafo:

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“Estes ensinos [semi pelagianismo] foram


condenados no Sínodo de Orange, em 529d.C., mas
este mesmo sínodo não aceitou integralmente a
doutrina agostiniana da graça, pois “o conceito de
Agostinho radicalmente monergístico da salvação
nunca foi completamente aceito pela igreja no
ocidente”. [9]

Ora, como podem não ter aceito o monergismo de


Agostinho no Sínodo de Orange, se o cânon 4 do mesmo
sínodo é uma declaração completamente monergista da
salvação? Veja você mesmo:

“Se alguém mantém que Deus espera nossa vontade


ser limpa do pecado, mas não confessa que até
mesmo a nossa vontade ser limpa nos vem através
da infusão e operação do Espírito Santo, resiste ao
próprio Espírito Santo que diz através de Salomão,
“ A vontade é preparada pelo Senhor ” (Provérbios
8:35, LXX), e a palavra salutar do Apóstolo, “ Porque
Deus é o que opera em vós tanto o querer como o
efetuar, segundo a sua boa vontade” (Filipenses
2:13)”[10]

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Então, que tipo de afirmação o autor arminiano Carlos


Kleber Maia fez uma vez que não se refere à realidade?
Obviamente ele distorceu uma verdade para enganar
aqueles que comprariam o livro, assim como faziam o
católicos romanos, assim como fez a serpente no Éden.

O forte apelo à soberania de Deus

O calvinismo realmente é um sistema doutrinário que foca


muito na soberania de Deus. Sim, nós amamos aprender
mais sobre Deus e sua vontade e isso na verdade é uma
benção para o cristianismo, uma vez que somos chamados
a viver a vontade de Deus. Não é uma exclusividade dos
calvinistas, o próprio Moisés ensinava soberania de Deus ao
povo, basta ler um pouco da sua descrição sobre a criação
ou sobre a aparição de Deus no monte Sinai e você
perceberá que Moisés fazia questão de ressaltar como Deus
é soberanamente poderoso e onisciente. Então isso não
deve ser um problema para o Cristianismo. O próprio Jesus
ressaltou a soberania de Deus quando foi questionado
acerca de como o homem pode se salvar. Nas palavras de
Jesus a resposta só pode revelar um Ser soberano. Entre
Deus e o homem Jesus explica: “[quem pode ser salvo?] -
para os seres humanos isso é impossível, mas para Deus
tudo é possível” (Mt 19.25,26) – vejam que Jesus estava
tratando de um ser humano muito bem dotado de

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conhecimento e riquezas, mesmo assim ele nos lembra que


embora o jovem rico tenha muitas qualidades ele não pode
se salvar por sua própria vontade. O que seria impossível
para o jovem rico e os discípulos é completamente possível
para Deus, isso é, Jesus está nos ensinando sobre a sua
soberania e nós calvinistas amamos a soberania de Deus.

Gosto muito de como o Dr. Steven J. Lawson trata desse


tema em relação aos cristãos reformados, nas palavras dele:

“Que é que incendeia suas almas fazendo-as arder de


paixão por ele [Cristo] e fazendo delas fulgentes
tochas da verdade nas suas respectivas épocas? Eles
foram totalmente dominados por um alto conceito da
soberania de Deus. Com uma transcendental e
triunfante visão de Deus governando supremamente
todas as coisas, compreendem um exército de
expositores e mestres, trombeteando o reinado sem
rival de Deus sobre céu e terra. É isto que os torna
extraordinariamente grandes. É que eles pregam um
Deus infinitamente grande, grande em santidade e
grande em soberania. A grandeza destes homens não
se acha neles, mas no ser supremo que os chamou
para o seu glorioso emprego”.[13]

Contrário a isso há aqueles que se enfurecem e nos acusam


de pregar um Deus que escolhe pessoas para ir ao inferno e

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Calvinismo para arminianos – Livro 1

outras para o céu tentam resolver o problema dizendo que


Deus só escolheu quem iria para o céu e os demais ele deixa
seguir seu rumo… ao inferno, achando que assim resolvem
o problema que realmente há em seus corações.
Sobre isso o autor Roger Olson chega a comentar em um de
seus livros dizendo:

“[após contar uma história aparentemente real e


bizarra ele chega a conclusão de que] Isso pode não
ser tão bizarro quanto alguns calvinistas pensam.
Eles deveriam estudar sua própria história […]
Enquanto os defensores da eleição incondicional a
entendem como uma expressão da grande bondade e
misericórdia de Deus, os oponentes (tal como João
Wesley) a entendem como uma expressão de um
Deus obscuro e escondido […] que se preocupa
mais com sua própria glória do que o bem-estar
de todas as pessoas. Os oponentes dizem que a eleição
incondicional não pode ser reconciliada com
passagens bíblicas tais como “Deus é amor” e
“Deus [não quer] que ninguém pereça” (1Jo 4.8, 16;
2Pe 3.9)”. [14]

Onde está o problema com esse argumento? Será mesmo


que ele condiz com o que a Bíblia apresenta, aliás, será

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Calvinismo para arminianos – Livro 1

mesmo que ele condiz com o que o próprio sistema


arminiano ensina? É fácil provar que não.
Contra esse argumento [falso] arminiano podemos usar a
própria teologia arminiana, veja o que ensina os dois
primeiros pontos das doutrinas remonstrantes:

Art. I – Que Deus, por um decreto eterno e imutável


em Cristo, antes que o mundo existisse,
determinou eleger para a vida eterna, dentre a raça
caída e pecadora, aqueles que, através de sua graça,
creem em Jesus Cristo e perseveram na fé e
obediência; e que, opostamente, resolveu
rejeitar os inconversos e os descrentes para a
condenação eterna (João 3:36); Art. II – Que,
em decorrência disso, Cristo, o Salvador do mundo,
morreu por todos e cada um dos homens, de modo
que ele obteve, pela morte na cruz, reconciliação e
perdão pelo pecado para todos os homens; de tal
maneira, porém, que ninguém senão os fiéis, de
fato, desfrutam destas bênçãos (João 3:16, I João
2:2); [15]

Ora, podemos ver claramente que é ensinado que Jesus


morreu por “todos e cada um dos homens” [o que é
diferente no sistema reformado], porém, no final Deus
escolhe aplicar essa salvação apenas aos fiéis, rejeitando os

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demais. E isso não é uma decisão que Deus toma com o


tempo, Ele quis isso “antes que o mundo existisse”. Ou
seja, Deus [que é amor] escolhe mandar para o inferno
aqueles que não são fiéis a Ele, essa foi uma decisão tomada
antes mesmo que qualquer pessoa existisse. Claro que esse
sistema possuí uma falha em relação à aplicação da
salvação a todos os homens, mas de igual modo ele ensina
que Deus escolhe apenas uns e rejeita os demais.
Como pode um argumento arminiano [do Roger Olson,
citado acima] derrubar o seu próprio sistema doutrinário?
Veremos isso no próximo e-book, há uma razão histórica
para isso.

Por hora basta entender que esse comportamento anti


calvinista é também anti arminiano. Curiosamente um dos
pregadores mais famosos do meio pentecostal (o que
deveria seguir John Wesley como citado pelo autor Roger
Olsen) comenta de forma contrária ao que a grande maioria
dos arminianos professam hoje. O pastor Finis Jennings
Dake lendo o texto de Mateus 19.25,26 comenta o seguinte:

“19.26a: é impossível ao homem [se] salvar, seja o


rico ou o pobre, mas Deus pode e tem salvado
ambas as classes de todos os tempos”. [16]

Muito embora o mesmo pastor em outros textos se


demonstre mais Pelagiano do que Arminiano, teria ele sigo

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Calvinismo para arminianos – Livro 1

“bizarro”ao fazer tal comentário sobre a soberania de


Deus em relação à salvação? Bem como Paulo, Jesus e toda
a doutrina da eleição? Deus é certamente um ser bizarro
para Olson, mas para os que estudam a Bíblia ele é
soberano.

Talvez a melhor resposta, para arminianos e calvinistas seja


a que Paulo dá em Romanos, veja: “Logo, Deus [que é
imutavelmente amor] tem misericórdia de quem quer e
também endurece a quem ele quer” (Rm 9.18).
E então voltamos para a única doutrina que pode responder
realmente a esta questão sem infligir as demais. Deus é
soberano e como Paulo disse Ele aplica seu amor e salvação
a quem quer. Não é fácil de ser aceito, mas é a verdade
descrita pela Bíblia. No decorrer do estudo outras
diferenças serão tratadas, isso é apenas uma demonstração
das doutrinas básicas e fundamentais do calvinismo para
que o arminiano consciente entenda melhor o que está
julgando. Como o tempo você perceberá que talvez não
pensa como o arminianismo ensina, mas como uma
distorção histórica do mesmo. Peço que tenha paciência e
estude até o final.

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Calvino e o calvinismo – adoramos Calvino?

Uma última questão importante nesta primeira parte do


estudo se refere ao fato de sermos julgados adoradores de
Calvino. Isso envolve também a questão de termos de
escolher entre Calvino e Armínio e o uso do texto de 1
Coríntios 1 para mostrar que alguém não pode ser de
Calvino ou de Armínio, mas de Cristo.
Em primeiro lugar, como você pôde verificar, o termo
calvinismo não se refere exclusivamente à pessoa de João
Calvino, mas a todo o sistema doutrinário aprendido na
reforma protestante. Portanto, não adoramos João Calvino
nem o supervalorizamos. Outras pessoas foram
importantes para a construção da reforma protestante e
nem mesmo Lutero foi o único. A reforma protestante foi
um movimento até mesmo social, econômico e cultural,
uma vez que o povo sofria realmente na mão das mentiras
do catolicismo de sua época. Então o calvinismo surge no
meio de muitos protestos, ele se refere à reforma religiosa
enquanto o resto do mundo buscava uma reforma social e
política, algo que indiretamente recebeu importante
colaboração dos reformadores.

“Todos os historiadores estão de acordo em constatar


que o movimento da Reforma foi acompanhado de
comoções sociais de natureza bastante diversas […] Do
século 11 ao 13, uma primeira vaga de transformações

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Calvinismo para arminianos – Livro 1

fundamentais sacode a antiga sociedade medieval e


desmantela os quadros de sua economia feudal”.[11]

O autor do texto citado, André Biéler, chega a nos lembrar


de que cargos na igreja eram vendidos para pessoas mais
ricas, veja:

“Os altos ofícios eclesiásticos e os benefícios


religiosos são vendidos aos que pagam mais. Destarte,
caem mais e mais na mão da nobreza, pois somente
ela tem meios para adquiri-los. O povo, fremindo de
indignação, sublevado por suas aspirações sociais e
místicas, se volta contra o algo clero”. [12]

Portanto, não há porque afirmar que os calvinistas adoram


Calvino uma vez que o termo se refere a um sistema
doutrinário e não a uma pessoa. O sistema calvinista ou
reformado surgiu com um movimento religioso, econômico
e social, assim como hoje mesmo surgem muitas frentes
contra falsos profetas que, além de ensinar mentiras,
arrancam os bens dos mais pobres. Isso é o calvinismo, ou
o protestantismo, agindo, de certa forma, no século 21
contra o abuso de autoridades espirituais e enganos
doutrinários que tem cada vez mais aprisionado crentes
sem conhecimento.

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Calvinismo para arminianos – Livro 1

Abraham Kuyper também escreve sobre a importância do


calvinismo para a sociedade e política, segundo ele:

“Todo historiador competente, sem exceção,


confirmará as palavras de Bancroft: “o fanático pelo
calvinismo era um fanático por liberdade pois, na
guerra moral pela liberdade, seu credo era uma parte
de seu exército e seu mais fiel aliado na batalha”[…]
Que o calvinismo levou a lei pública a novos caminhos,
primeiro na Europa Ocidental, depois nos dois
Continentes, e hoje mais e mais entre todas as nações
civilizadas, é admitido por todos os estudantes
científicos, se não ainda plenamente pela opinião
pública”. [18]

Não é difícil compreender esse resultado. No primeiro


ponto do catecismo maior de Westminster o homem é
colocado numa posição completamente diferente do que o
mundo e a própria religiosidade da época colocava. Ao
perguntar qual era a finalidade do homem o catecismo
responde que “o fim supremo do homem é glorificar a
Deus e alegrar-se nele sempre”. Esse conceito sobre a vida
humana pode sem dúvida moldar toda a sociedade, é uma
pena que tenhamos deixado a doutrina de lado em busca de
uma religiosidade fantasiosa e experiencial não ensinada
pela Bíblia. De igual modo a ideia presente na Confissão de
Fé de Westminster sobre a consciência do homem diante de

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Calvinismo para arminianos – Livro 1

Deus poderia muito bem redefinir toda a política e cultura


de um país, imagine como seria se todos aceitassem o que
está escrito na CFW, capítulo 20, parágrafo 3:

“Aqueles que, sob pretexto de liberdade cristã,


cometem qualquer pecado ou toleram qualquer
concupiscência, destroem, por isso mesmo, o fim da
liberdade cristã; pelo contrário, sendo livres das mãos
de nossos inimigos, sem medo sirvamos ao Senhor em
santidade e justiça, diante dele, todos os dias da nossa
vida”.

Isso nos direciona a viver a liberdade conquistada por


Cristo, mas ao invés de usar ela para o pecado, como muitos
nos acusam, usamos ela para cumprir o que foi dito no
primeiro ponto do Catecismo Maior de Westminster. Ora, o
que essa doutrina poderia fazer a um médico que
trabalhando em um hospital, com uma renda abaixo do
esperado cuida de pessoas doentes? Ele passaria a curar
para Deus, ajudar outras pessoas não apenas por ser
médico, mas para a glória de Deus – o mesmo se aplica aos
professores e políticos, obviamente estamos bem distantes
disso numa sociedade que além de ignorar as confissões
reformadas chamam-na de doutrinas de demônios. Acho
interessante o comentário do Dr. Chad Van Dixhoorn, PhD
pela Cambridge University:

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Calvinismo para arminianos – Livro 1

“Como não temos liberdade para ignorar a Lei de


Deus ou os governantes de Deus, somos responsáveis
pelo que dizemos e fazemos. Se pregamos e
publicamos opiniões, ou mantemos práticas que são
contra a luz da natureza – tais como o problema do
incesto que vemos na igreja de Corinto – então a igreja
deve lidar com tais coisas (cf. Rm 1.32 com 1Co
5.1,5,11,13). Se nós ignorarmos doutrinas cristãs
essenciais acerca da fé, da adoração ou da vida; se
enfraquecermos o poder ou a importância da piedade;
se defendermos “opiniões ou práticas errôneas”; se
nos agarrarmos às coisas que são más em si mesmas;
ou se agirmos de alguma forma que destrua as
estruturas de paz e da ordem na sociedade ou na
igreja, precisamos ser “responsabilizados” por meio
dos meios regulares que Deus instituiu, como aqueles
que vemos em Mateus 18.15-17”. [19]

É bem fácil categorizar algo que não se conhece como de


demônios ou de pecado, mas com o conhecimento
precisamos mesmo colocar as coisas no lugar certo. Muitos
de vocês aprenderam que o calvinismo era composto por
uma série de doutrinas demoníacas porque elas parecem
reduzir a liberdade do homem (livre arbítrio) colocando-o
como um fantoche enquanto exalta a soberania de Deus,
ora, eu nunca vi um demônio fazendo isso. Muito pelo
contrário, o que satanás costuma fazer em lugares onde é

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Calvinismo para arminianos – Livro 1

adorado é colocar o homem como prioridade, não apenas


em relação a Deus, mas do seu próximo. Um bom exemplo
disso está no primeiro ponto filosófico da religião satanista,
que diz o seguinte:

“Ao caminhar em território aberto, não incomode


ninguém. Se alguém o incomoda, peça-lhe que pare.
Se ele não parar, destrua-o”[20]

Essa é uma lei do chamado Individualismo fundamental


ensinado pelo satanismo. Aparentemente ela se refere à
religião satanista, mas é bem provável que esteja dentro de
toda a sociedade representada de alguma forma por um
comportamento estranho e devastador. Nisso é visível que o
mais importante é o homem, não Deus e por isso quem
atravessa o caminho de tal homem é destruído, não
ajudado. Seja sincero, porém, e responda: qual dos dois
padrões mostrados acima você mais enxerga dentro da
sociedade e da própria igreja hoje no Brasil?

Outra doutrina que certamente influenciou de alguma


forma a sociedade da sua época e que deveria ser
considerada por todos do nosso século é a doutrina da
Depravação total. Dentro de outros sistemas teológicos e
outras religiões o homem ainda preserva alguma fagulha de
bondade, dentro da sociedade e de forma prática podemos
perceber que essa fagulha de bondade só consegue

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Calvinismo para arminianos – Livro 1

beneficiar a si próprio e é realmente incapaz de agradar a


Deus. Sobre isso Joel R. Beeke e Mark Jones incluem o
seguinte:

“Por causa da queda, a consciência já não funciona


corretamente. Daniel Webber escreve que os
puritanos eram extremamente preciosos em seu
entendimento e diagnóstico da condição humana
caída. De sorte que, quando tratavam da doutrina do
pecado, os puritanos chamavam o pecado pecado,
declarando que era rebelião moram contra Deus. Eles
pregavam sobre pecados de comissão e pecados de
omissão, em pensamento, palavra e ação”[21]

Dentro de uma sociedade exclusivista, individualista e


egocêntrica como a nossa, como você acha que essas
doutrinas fariam a diferença? Elas [doutrinas] deixariam
expostos até mesmo os cristãos que em meio à política
agem como se Deus não as tivesse observando. Ela diria
claramente que doutores, médicos e professores que,
estando em um papel importante dentro da sociedade não
agem em conformidade com que é apresentado pela Bíblia
estariam provando para outras pessoas não terem sido
alcançados pela graça salvífica de Deus, ainda que tais
pessoas discordassem dessa opinião. Péssimos exemplos no
Brasil não param de aparecer, estes indicam exatamente o
que disse anteriormente: pessoas que não foram alcançadas

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Calvinismo para arminianos – Livro 1

pela graça de Deus. Por isso políticos criam caixa 2;


professores ensinam o que a Bíblia condena e negam
informações que a Bíblia ensina; policiais são corruptos
porque não aceitam a glória de Deus acima de si mesmos e
pastores ensinam coisas erradas porque não estão
interessados na verdade e sim na mentira.
Tudo isso fica exposto quando as doutrinas reformadas são
ensinadas, de forma clara e concisa as pessoas são
orientadas a agir dentro da sociedade de forma a viver e
glorificar a Deus, quando isso não acontece fica nítido que
estas pessoas não foram chamadas por Deus e que
aguardam o seu juízo como bem nos ensina Paulo em
Romanos 1 e 2, especialmente nesses versos:

“Mas, por ser teimoso e ter um coração impenitente,


você acumula contra si mesmo ira para o dia da ira e
da revelação do justo juízo de Deus, que retribuirá a
cada um segundo as suas obras: a vida eterna aos que,
perseverando em fazer o bem, procuram glória, honra
e incorruptibilidade; mas ira e indignação para os
egoístas, que desobedecem à verdade e obedecem à
injustiça. Tribulação e angústia virão sobre todo
aquele que faz o mal”(Rm 2.5-9).

Quanto a ter de escolher entre Calvino e Armínio, não é


esta a questão quando se trata do sistema doutrinário.
Lembre-se de que quando surgiu o movimento da reforma

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Calvinismo para arminianos – Livro 1

você escolheria entre os reformados e os católicos. Aqueles


que eram despertados pela pregação reformada aderiam ao
movimento e abandonavam o catolicismo, mas nem por
isso abandonavam a fé. Creio que, com o erro exposto pelos
reformadores, alguns podem mesmo não ter aderido a nada
com medo de ser enganados novamente, mas isso não tem
qualquer relação com o texto de Paulo aos Coríntios. Ser
calvinista não é deixar de ser de Jesus, mas é ser um cristão
reformado, que não adere a doutrinas que não estejam
fundamentadas nas Escrituras Sagradas.
Hoje várias frentes religiosas surgem contra o calvinismo,
mas não é exatamente o calvinismo que é atacado e não é
ele simplesmente o inimigo de todos, na segunda parte
desse estudo pretendo mostrar como essa batalha é mais
antiga do que você pode estar imaginando.

Continua no próximo e-book...

Bibliografia

Versão bíblica usada: NAA (Nova Almeida Atualizada), exceto nas


citações com indicações de outras traduções).

1 – Agostinho de Hipona – Confissões 1.1 – séc 5 – Ed. Mundo Cristão –


2017;
2 – Wayne Gruden – Teologia Sistemática – pag. 23,24 – Ed. Vida Nova –
2017;

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Calvinismo para arminianos – Livro 1

3 – Natan Rufino – A diabólica predestinação calvinista – YouTube – por


ser um cristão eu não tenho medo de citar o Natan uma vez que nós
cristãos não resolvemos problemas em tribunais de justiça, por isso
mantive o nome visto que a sua pregação está postada de forma pública
no YouTube;
4 – Abraham Kuyper – Calvinismo – pag. 20 – Ed. Cultura Cristã – 2019;
5 – Abraham Kuyper – Calvinismo – pag. 21 – Ed. Cultura Cristã – 2019;
6 – James Montgomery Boice – O evangelho da graça – pag. 63,64 – Ed.
Cultura Cristã – 2003;
7 – João Calvino – Instituição da religião cristã [1536] – pag. 31 – Ed.
FIEL – 2018;
8 – João Calvino – Instituição da religião cristã [1536] – pag. 32 – Ed.
FIEL – 2018;
9 – Carlos Kleber Maia – Depravação Total – pag. 13 – Ed. Reflexão –
2015;
10 – Arminianismo reprovado – Palavras em Chamas – Tradução do
texto: Felipe Sabino de Araújo Neto – 2019;
11 – André Biéler – O pensamento econômico e social de Calvino – pag.
39 – Ed. Cultura Cristã – 2012;
12 – André Biéler – O pensamento econômico e social de Calvino – pag.
42 – Ed. Cultura Cristã – 2012;
13 – Steven J. Lawnson – Fundamentos da graça / volume 1 – pag. 41 –
Ed. FIEL – 2006;
14 – Roger Olson – Contra o Calvinismo – pag. 161,163 – Ed. Reflexão –
2013;
15 – http://www.cacp.org.br/a-base-dos-5-pontos-arminianos/ ;
16 – Finnis Jennings Dake – Bíblia de estudo DAKE – pag. 1407 – Ed.
Atos – 2017 ;
17 – Irineu de Lião – Contra as Heresias – pag. 31 – Ed. Paulus – 2019;
18 – Abraham Kuyper – Calvinismo – pag. 86 – Ed. Cultura Cristã – 2019;
19 – Chad Van Dixhoorn – Guia de estudos da confissão de fé de
Westminster – pag. 280 – Ed. Cultura Cristã – 2017;

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Calvinismo para arminianos – Livro 1

20 – https://pt.wikipedia.org/wiki/Satanismo_LaVey#Filosofia;
21 – Joel R. Beeke & Mark Jones – Teologia Puritana – pag. 1292 – Ed.
Vida Nova – 2018.

EATRE
2020

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