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INTRODUÇÃO

E
PANORAMICO NA
TEOLOGIA ARMINIANA

Diego Rodrigo Aquino


INDICE

1. Cenário religioso no tempo de Arminio

2. Pelagianismo e Semipelagianismo

3. Arminius: uma vida marcada pela providência divina

4. Professor Teodoro de Beza

5. O supralapsariano Gomarus e o reformador Arminius

6. Os remonstrantes e a verdade sobre o Sínodo de Dort

7. O que ensina, de fato, o Arminianismo Clássico

8. Nem Pelagianismo, nem Semipelagianismo

9. Lutero: de “calvinista”, no início, a quase “arminiano” no final da vida

10. Wesley, John Fletcher e a reviravolta arminiana

11. Arminianismo e calvinismo na historia


INTRODUÇÃO

1. Cenário religioso no tempo de Arminio

Em 31 de Outubro de 1517, Martinho Lutero afixou na porta da capela de Wittemberg


95 teses que gostaria de discutir com os teólogos católicos, as quais versavam
principalmente sobre penitência, indulgências e a salvação pela fé. O evento marca o
início da Reforma Protestante, de onde posteriormente veio as igrejas protestantes, e
representa um marco e um ponto de partida para a recuperação das sãs doutrinas.

João Calvino tinha 8 anos quando o fato ocorreu. Calvino foi um teólogo cristão francês.
Aos 14 anos foi estudar em Paris preparando-se para entrar na universidade. Estudou
gramática, filosofia, retórica, lógica, aritmética, geometria, astronomia e música.
Em 1523 foi estudar no famoso Colégio Montaigu. Em 1528, com 19 anos, iniciou seus
estudos em Direito e, depois, em Literatura. Em 1532 escreveu seu primeiro livro, um
comentário à obra De Clementia de Sêneca. Em 1533, na reabertura da Universidade
de Paris, escreveu um discurso atacando a teologia dos escolásticos e foi perseguido.
Possivelmente foi neste período 1533-34 que Calvino se converteu, por influência de
seu primo Robert Olivétan.

Calvino teve uma influência muito grande durante a Reforma Protestante, que
continua até hoje. Portanto, a forma de protestantismo que ele ensinou e viveu é
conhecida por alguns pelo nome calvinismo, embora o próprio Calvino tivesse
repudiado contundentemente este apelido. Esta variante do protestantismo viria a
ser bem sucedida em países como a Suíça (país de origem), Países Baixos, África do
Sul (entre os africânderes), Inglaterra, Escócia e Estados Unidos.

Nascido na casa dele , ao norte da França, foi batizado com o nome de Jehan Cauvin. A
tradução do apelido de família "Cauvin" para o latim Calvinus deu a origem ao nome
"Calvino", pelo qual se tornou conhecido. Calvino foi inicialmente
um humanista. Nunca foi ordenado sacerdote. Depois do seu afastamento da Igreja
Católica, este intelectual começou a ser visto, gradualmente, como a voz do movimento
protestante, pregando em igrejas e acabando por ser reconhecido por muitos como
"padre". Vítima das perseguições aos huguenotes na França, fugiu para Genebra em
1536, onde faleceu em 1564.
Genebra tornou-se definitivamente num centro do protestantismo europeu e João
Calvino permanece até hoje uma figura central da história da cidade e da Suíça.
Faleceu em 27 de maio de 1564 (54 anos) Genebra, Cantão de Genebra, Suíça.
Quando Calvino morre em 1564, Arminio tinha entre 4 e 5 anos, e estavam 800km
longe de distância, ou seja, nunca se encontraram. A disputa foi meramente
teológica posteriormente.

Do século 16 ao 18, a principal corrente no meio protestante mundial era o que se


convencionou chamar de Calvinismo. Foi somente a partir do século 19 em diante que
o Arminianismo, surgido no início do século 17, passou a prevalecer como a principal
corrente no meio protestante. Entretanto, tal predomínio tem sofrido certos
retrocessos nos últimos anos, por pelo menos três razões.

Em primeiro lugar, há muitos evangélicos arminianos que sequer conhecem de fato o


Arminianismo. A maior demonstração disso está em grande parte das pregações que
ouvimos hoje em dia. Qualquer análise sobre o conteúdo da teologia popular
evangélica brasileira revelará, com enorme clareza, que muito do que se tem esposado
hoje em dia e recebe o nome de Arminianismo se trata, na verdade, de uma distorção
do verdadeiro Arminianismo. O que se ouve em muitos púlpitos é mais
Semipelagianismo – e, em casos mais graves, até Pelagianismo – do que realmente
Arminianismo.

Em segundo lugar, tivemos, nas últimas décadas, muitos livros e artigos opondo-se ao
Calvinismo na imprensa evangélica brasileira. Só que muitos deles pecaram por
confundir Calvinismo de forma geral com Calvinismo fatalista, tornando seus
argumentos facilmente rebatíveis por qualquer calvinista bem treinado. Além disso, a
quase totalidade desses textos dedicava-se muito mais a falar contra o Calvinismo do
que a explicar o que é realmente o Arminianismo.

Em terceiro lugar, a rejeição cada vez maior no meio evangélico à onda triunfalista do
neopentecostalismo, o que é em si uma atitude muitíssimo boa, contribuiu
involuntariamente para a ascensão do Calvinismo. Muitos crentes, de “ressaca” com
tantos hinos e mensagens centrados no homem, passaram a buscar literaturas e
mensagens que exaltassem mais a soberania divina e, infelizmente, acabaram
encontrando-as com mais frequência em sites de conteúdo calvinista.
Ou seja, em linhas gerais, uma má compreensão do que é o Arminianismo somada a
uma aversão sadia de muitos evangélicos ao triunfalismo neopentecostal, têm feito
com que muitos se voltem para o Calvinismo.

2. PELAGIANISMO E SEMI-PELAGIANISMO

Não se sabe muito sobre a história de Pelágio. Ele era um monge britânico que nasceu
no século 4 d.C. Em aproximadamente 405 d.C. ele foi para Roma e depois partiu para
o norte da África.

Pelágio se propôs a refutar as doutrinas ensinadas por Agostinho, o bispo de Hipona, que
naquela altura já era uma figura proeminente dentro da Igreja. Já na Palestina, Pelágio
escreveu dois livros sobre o livre-arbítrio, o pecado e a graça.

Não há evidências de que Pelágio tenha em algum momento se encontrado com


Agostinho. Mas Agostinho e seu amigo Jerônimo, o tradutor da Vulgata Latina, criticaram
fortemente os escritos de Pelágio.

Pelágio foi considerado culpado de heresia pelo bispo de Roma (417-418 d.C.) e pelo
Concílio de Éfeso (431 d.C.). Ele foi acusado de negar o pecado original e de não
reconhecer que a graça de Deus é essencial para a salvação. Pelágio ensinava ser
possível viver uma vida sem pecado fazendo uso do livre-arbítrio.

Em 411, surge um homem, Paulinho de Milão, com uma lista de seis pontos heréticos
contidos na mensagem de Pelágio.

Adão foi criado mortal e teria morrido se mesmo que não tivesse cometido pecado;

° O pecado de Adão agrediu somente a ele, não toda a raça humana;


° Crianças recém-nascidas estão no mesmo estado que Adão antes da sua queda;
° Não é por causa da morte e do pecado de Adão que toda a raça humana morre;
° De igual modo, ela não irá ressuscitar por causa da ressurreição de Cristo;
° A lei oferece, assim como o evangelho, oferece entrada no Reino do Céu;
° Até mesmo antes da vinda de Cristo, havia homens completamente sem pecado.

É obvio que o Pelagianismo foi condenado por mais concílios da Igreja do que qualquer
outra heresia na história. Em 412, Coelestius, um discípulo de Pelágio, foi excomungado
no Sínodo de Cartago; os Concílios de Cartago e Milevis condenaram Pelágio. O
imperador oriental Teodósio II baniu os Pelagianos do Leste, em 430 d.C. A heresia foi
repetidamente condenada pelo Concílio de Éfeso, em 431, e pelo Segundo Concílio de
Orange, em 529.

De fato, o Concílio de Orange condenou até mesmo o Semi-Pelagianismo, que embora


afirme que a graça é necessária à salvação, ensina que a vontade é livre por natureza
para escolher cooperar com a graça oferecida. O Concílio de Orange condenou também
aqueles que ensinavam que a Salvação poderia ser concedida no simples ato de se fazer
uma oração, afirmando em lugar disso, com muitíssimas referências bíblicas, ser
necessário Deus despertar o pecador e lhe conceder o dom da fé antes que ele possa
até mesmo buscá-lO.

Qualquer doutrina que limita o conhecimento do pecado original, o cativeiro da


vontade à natureza pecaminosa, e a necessidade da graça para até mesmo aceitar dom
da vida eterna e permanecer em santidade é considerada por toda a igreja como
heresia. A heresia descrita é chamada Pelagianismo.

O semipelagianismo é uma linha de pensamento cristã que trata principalmente sobre


a salvação (soteriologia). Ensina basicamente que o ser humano é salvo exclusivamente
por Deus mediante a graça, mas que a salvação partiria somente da inciativa da boa
vontade no coração do homem para com Deus. Isto é, o homem precisa dar o primeiro
passo em direção a Deus e então Deus irá completar o processo da salvação do homem.
Esta teoria foi considerada herética pela igreja católica romana no Concílio de Orange.
O semipelagianismo deriva de outra teoria teológica cristã conhecida como
pelagianismo, também considerada herética.

Jacó Arminio foi contra as duas vertentes. Ele ensinava que Deus é quem parte em
direção ao homem caído para o salvar. A salvação não depende do homem, pois o
Espirito Santo vem com a graça e o convence a crer e se arrepender.
Caso o homem endureça seu coração e não creia, resistindo a graça salvífica de Deus,
Deus o deixa em perdição. O arrependimento e a fé no filho de Deus, são necessários
para a maravilhosa salvação de Deus manifestar em nós.

3. Arminius: uma vida marcada pela providência divina

Jakob Hermanszoon (latinizado Jacó Arminio) nasceu em 10 de outubro de 1559 na


cidade de Oudewater, na província de Utrecht, na Holanda, filho do casal Hermand
Jacobszoon, um ferreiro especialista em fazer armaduras, e sua esposa Engeltje,
ambos protestantes. Seu pai morreu de forma trágica no mesmo ano em que Jakob
nasceu, deixando sua mãe viúva e com filhos pequenos. Condoído da situação do
pequeno Jakob, um padre simpático ao protestantismo, chamado Teodoro Emílio,
sustentou a criança e seus estudos. Porém, quando o garoto já estava com 15 anos,
seu benfeitor morreu. Deus, contudo, logo colocou outra pessoa na sua vida: um
homem chamado Rodolfo Sneillus, que, ao saber da história de Jakob, resolveu
adotá-lo e levá-lo para Marburg. Foi assim que, aos 16 anos, Jakob ingressou na
Universidade de Leiden.

Tudo ia bem, até que, no mesmo ano em que Jakob ingressava na universidade, outra
tragédia aconteceu. Em 1575, a sua cidade natal – que quando Jakob nascera estava
sob o domínio espanhol, mas havia se libertado desse domínio e se tornado
protestante – voltaria a ser atacada pelos espanhóis. A invasão espanhola foi
sangrenta, passando para a posteridade como “Massacre de Oudewater”, no qual a
mãe de Jakob, seus irmãos e demais parentes foram mortos. Só Jakob sobraria de
toda a sua família.

Em Leiden, o jovem protestante adotou a forma latinizada de seu nome: em vez de


Jakob Hermanszoon, passou a se chamar Jacobus Arminius. Ele concluiu seus estudos
em Leiden em 1582, mesmo ano em que foi a Genebra para estudar com ninguém
menos do que Teodoro Beza, amigo e sucessor do já falecido João Calvino.

Ali, porém, não permaneceu muito tempo, devido a controvérsias decorrentes do seu
uso de técnicas ramistas, que aprendera em Leiden. Essas técnicas foram criadas pelo
professor calvinista francês Pierre de la Ramée (1515-1572) e eram ensinadas em
algumas universidades protestantes. Ademais, Arminius não concordava com o
supralapsarianismo de Beza.
De Genebra, Arminius seguiu para Basileia e de lá para Amsterdã, onde recebeu o
convite para pastorear, sendo ordenado ao pastorado em 1588 (28 anos). Ganhou a
fama de bom pastor e ensinador. Em 1590, casou-se com a jovem Lijsbet Reael. Em
1603, após 15 anos de profícuo ministério, Arminius encerra suas atividades como
pastor para aceitar o cargo de professor na Universidade de Leiden. Foi em Leiden que
começaram os primeiros e históricos embates teológicos da vida de Arminius, e o
principal responsável pelos ataques desferidos contra ele foi o teólogo e professor
calvinista radical Franciscus Gomarus (1563-1641).

4. Professor Teodoro de Beza.

Théodore de Bèze, conhecido entre os protestantes de fala portuguesa como Teodoro


de Beza, foi um dos grandes heróis da Reforma Protestante. Teólogo francês, foi
sucessor de João Calvino em Genebra. Ele nasceu em Vezelay, França, em 1519.
Notabilizou-se em seus estudos naquele país, tendo inclusive lançado algumas obras
de poesia em latim, tais como Juvenilia, de 1548. Por essa obra, Beza foi considerado
um dos melhores escritores de poesia latina de sua época.

Convertidos a Cristo em 1548, ele e sua esposa Claudine resolveram deixar o círculo
literário de Paris para se dedicar à causa da Reforma Protestante. Dirigiram-se, então,
a Genebra, onde foram bem-recebidos pelo reformador João Calvino. Em 1549, Beza
era professor grego em Genebra. Com a morte de Calvino em 1564, Beza, já um
professor e teólogo consagrado, dedicou-se a sua publicação da Bíblia em grego, tendo
publicado em vida nove edições do Novo Testamento. Uma edição póstuma, a décima,
foi publicada em 1611. A mais famosa edição publicada por Beza é a de
1582, em que ele incluiu alguns textos do Códice Beza e do Códice Claromontano. Suas
edições popularizaram o Textus Receptus. Os tradutores da versão do rei Tiago usaram
as edições de Beza de 1588 e 1589.

Mas, Beza não ficou conhecido apenas pelas edições em grego do Novo Testamento.
Ele também é o autor da conhecida peça teatral Abraão Sacrificando, que escreveu
em 1552, aos 33 anos. Esta famosa peça, que contrasta o catolicismo e o
protestantismo, tem como personagens Abraão, Sara, Isaque, o Diabo, um anjo e um
grupo de pastores, é considerada até hoje um dos mais belos trabalhos do tipo, no
qual, segundo expressam especialistas, “se aliam admiravelmente força, graça,
singeleza e eloquência“.
Outro grande destaque é sua obra de filosofia política, considerada um clássico: Do
Direito dos Magistrados sobre seus Sujeitos. Nela, Beza apresenta os argumentos da
licitude para se responder às tiranias de seu tempo com “remédios justos” (termo
criado e consagrado por ele), privilegiando não a luta armada, mas os instrumentos
institucionais, previstos nas leis fundamentais de um reino.

Escreveu muitas outras obras teológicas e filosóficas, mas destacou-se também pela
vida de piedade. Seus historiadores afirmam que aliava intelectualidade e
espiritualidade.

5. O supralapsariano Gomarus e o reformador Arminius

Franciscus Gomarus (Franz Gomar, François Gomaer, 1563-1641) (nasceu em Bruges,


30 de Janeiro de 1563, faleceu em Groningen, 11 de Janeiro de 1641), foi teólogo,
calvinista e Professor de Teologia da Universidade de Leiden. Foi um ferrenho
opositor da teorias religiosas de Jacobus Arminius, o qual foi formalmente julgado
durante o Sínodo de Dort (1618-1619).

Seus pais, tendo abraçado os princípios da Reforma, emigraram para o Palatinato em


1578, para respirar os ventos da liberdade e poderem professar a sua nova fé, portanto,
enviaram o seu filho para ser educado em Estrasburgo aos cuidados do filósofo e
matemático alemão Johann Sturm. Ele lá permaneceu durante três anos, e em 1580 foi
para Neustadt, onde os professores de Heidelberg tinham sido expulsos pelo eleitor-
palatino porque eles não eram Luteranos. Aqui seus professores
foram Zacharias Ursinus (1534-1583), Hieronymus Zanchius (1560-1590), e Daniel
Tossanus (1541-1602). Indo depois para a Inglaterra no fim de 1582, ele frequentou as
aulas de John Rainolds (1549-1607) na Universidade de Oxford, bem como as aulas de
William Whitaker (1548-1595) na Universidade de Cambridge.

Se formou em Cambridge em junho de 1584, e depois foi para Heidelberg, onde a


faculdade tinha sido reestabelecida com a morte de Ludwig VI, tendo o seu irmão
Johann Casimir restaurando os antigos cargos da universidade e onde permaneceu
durante dois anos. Foi pastor da Igreja Reformada da Holanda em Frankfurt de 1587 até
1593, quando a congregação foi dispersa por causa das perseguições.
Em 1594 foi nomeado Professor de Teologia da Universidade de Leiden, e antes de ir
para lá recebeu da Universidade de Heidelberg o seu diploma de doutorado.

Teologia

Ele ensinou tranquilamente em Leiden até 1603, quando Jacobus Arminius veio a ser
um dos seus colegas da faculdade de teologia, e começou a ensinar aquilo que
considerou ser essencialmente como as doutrinas de Pelágio e com o fim de criar uma
nova escola de teologia dentro da universidade. Gomarus imediatamente assumiu a
função de oposição a essas crenças em suas aulas no colégio, e foi apoiado por Johann
Bogermann (1570-1637), que mais tarde se tornaria Professor de Teologia em
Franeker. Gomarus tornou-se então o líder dos opositores de Arminius, e os seus
seguidores foram chamados de Gomaristas.

Por duas vezes ele travou um combate pessoal contra Arminius na assembléia dos
Estados Holandeses em 1608, e foi um dos cinco Gomaristas que enfrentaram
cinco Arminianos ou Remonstrantes na mesma assembleia de 1609. Por ocasião da
morte de Arminius pouco depois dessa época, Konrad Vorstius, que simpatizava com as
idéias de Arminius, foi nomeado para sucedê-lo, apesar da oposição de Gomarus e de
seus amigos. Gomarus ficou ofendido com a derrota, renunciou ao posto, e foi para
Middelburg em 1611, onde se tornou pregador da Igreja Reformada, e ensinou teologia
e hebraico na recem fundada Illustre Schule.

Mais tarde, em 1614, ele foi convidado para uma cadeira de teologia na Academia de
Saumur, onde ele permaneceu quatro anos, e depois aceitou um convite como
professor de teologia e hebraico na Universidade de Groningen, onde permaneceu até
seus últimos dias em 11 de Janeiro de 1641. Gomarus, apesar de sua função como
professor de hebraico, era favorável às restrições aos judeus.

Sínodo de Dordrecht

A divergência entre Gomarus e Arminius se devia essencialmente à questão dos


Decretos de Deus. E para entendermos bem esse ponto, é preciso antes explicar o que
são Infralapsarianismo e Supralapsarianismo.
Calvinismo Infralapsariano é aquele que afirma que os decretos divinos de eleição e
condenação ocorreram após o Decreto da Queda.

Já o Supralapsariano assevera que os decretos divinos de eleição e condenação foram


determinados por Deus antes mesmo do Decreto da Queda – isto é, primeiro Deus
planejou que alguns se salvariam e outros se perderiam para depois determinar do
que eles seriam salvos.

Gomarus era adepto desse Calvinismo radical supralapsariano, e Arminius era


absolutamente contra o Supralapsarianismo. A divergência começou exatamente aí.
Entretanto, o debate se intensificaria mais ainda quando Arminius acrescentou que a
Confissão Belga (1562) e o Catecismo de Heidelberg (1563), ambos documentos
calvinistas, precisavam de reformas. Gomarus cobrou de Arminius que explicasse que
tipo de reforma seria essa, mas este, em um primeiro momento, para evitar maiores
confrontos, se negou a dizer o que tinha em mente.

Após vários debates públicos entre Gomarus e Arminius, e entre aquele e alguns
alunos de Arminius, a controvérsia ultrapassou a instituição onde lecionavam e
chegou a outras universidades, até que Gomarus e Arminius foram chamados a
comparecer à Suprema Corte em Haia para apresentarem seus argumentos, que
dividiam os acadêmicos protestantes no país. Ao final da exposição de cada um, a
Suprema Corte, formada por oito magistrados, declarou que as diferenças no que
concernia à Doutrina da Predestinação, eram pequenas, e por isso ambos deveriam
aprender a conviver com essas diferenças. Arminius acatou a resolução, mas Gomarus
partiu novamente para o ataque.

Diante dos sucessivos ataques de Gomarus, Arminius pediu então para que se formasse
uma assembleia para ouvi-lo, assembleia esta que foi convocada para 30 de outubro de
1608. Nela, Arminius finalmente declarou que alterações tinha em mente ao falar que
a Confissão Belga e o Catecismo de Heidelberg precisavam de reformas. Ele se disse
contrário tanto ao Supralapsarianismo quanto ao Infralapsarianismo, pois acreditava
que ambos, no fundo, carregavam o mesmo erro, e expôs sua crença na predestinação
a partir da presciência divina, apoiando-se em textos bíblicos.

Gomarus, por sua vez, teve sua permissão para falar à assembleia em 12 de dezembro
de 1608, ocasião em que preferiu atacar Arminius de forma bastante agressiva.
Além disso, ele não tentou rebater os argumentos de Arminio biblicamente, se
contentando apenas em enfatizar que seu colega estava indo contra os estimados
Catecismo de Heidelberg e Confissão Belga, ao que Arminius responderia dizendo que
nem mesmo esses dois importantes textos estavam acima da Bíblia e, como produções
meramente humanas, estavam sujeitas a revisões e aperfeiçoamentos. O tom
agressivo do discurso de Gomarus mais sua aridez em termos de argumentos bíblicos
contrastaram fortemente com o tom conciliador e recheado de biblicismo de seu
oponente, o que fez com que mesmo alguns discordantes de Arminius lhe dessem
razão.

Os dois discutiriam em outra assembleia nos dias 13 e 14 de agosto de 1609, porém,


quando já estava marcado outro debate para 19 de agosto, a saúde de Arminius se
debilitou e ele voltou a Leiden, onde faleceria em 19 de outubro de 1609, vítima de
tuberculose. Em seu enterro, foi honrado por seus alunos. O conflito, entretanto,
seguiria após sua morte, simplesmente porque o “Efeito Arminius” rachara ao meio o
Calvinismo na Holanda.

6. Os remonstrantes e a verdade sobre o Sínodo de Dort

Após a morte de Arminius, os ataques a seus ensinos continuaram tendo como alvo
agora os seus seguidores. Logo, com o objetivo de se defenderem desses ataques, 46
pastores e teólogos arminianos resolveram assinar um documento em que expunham
e explicavam seu pensamento. Esses arminianos receberam o nome de
“Remonstrantes”, expressão derivada do vocábulo holandês “remonstrantse”, que
significa “reclamante” ou “protestante”.

O documento em defesa do Arminianismo continha cinco pontos e foi elaborado em


janeiro de 1610. A repercussão do seu conteúdo foi, em um primeiro momento, muito
positiva diante das autoridades holandesas, para indignação dos antiarminianos. O
governo holandês entendera que as diferenças doutrinárias entre calvinistas e
arminianos não eram irreconciliáveis ou intoleráveis. Mas, pouco tempo depois, essa
visão mudaria devido à mudança do contexto político nas terras baixas.

Em primeiro lugar, o principal desafeto do príncipe Maurício de Nassau (1567-1625),


seu ex-amigo e braço direito Johan van Oldenbarnevelt (1547-1619), advogado-geral
da Holanda, havia aderido ao Arminianismo.
Oldenbarnevelt era apoiado pela maioria das províncias marítimas holandesas, onde
se concentrava a burguesia do país, que havia aderido majoritariamente ao
Arminianismo. Essa maioria apoiava Oldenbarnevelt “em sua oposição ao poder
crescente de Maurício de Nassau” (GONZÁLES, Justo L., Uma História do
Pensamento Cristão – Da Reforma Protestante ao Século 20, vol. 1, 2004, São Paulo,
Cultura Cristã, p. 286).

Em segundo lugar, a Holanda estava, já havia algum tempo, em guerra com a Espanha,
e os calvinistas convenceram Nassau que uma das formas de garantir que os católicos
espanhóis não encontrariam guarida em solo holandês seria fortalecendo o
Calvinismo, pois o Arminianismo supostamente daria brechas para a “doutrina dos
jesuítas” (missionários da contrarreforma católica). Não por acaso, o principal
xingamento calvinista aos arminianos na Holanda era designá-los como “jesuítas”.

Por essas razões, Nassau convocou o Sínodo Nacional de Dordrecht (“Dort”, em


inglês), mais conhecido como Sínodo de Dort (1618-1619), para condenar o
Arminianismo. Sim, para condenar, porque o Sínodo já nasceu com esse propósito.
Seu objetivo não era analisar honestamente a questão, mas elaborar um texto de
condenação.

O referido sínodo reuniu calvinistas da Holanda e de oito países da Europa, que


condenaram os cinco pontos dos remonstrantes, fazendo surgir, em resposta a estes,
os cinco pontos calvinistas, os quais, formando posteriormente um acróstico,
receberiam o nome de Tulip (“tulipa”, em inglês): Total Depravity (“Depravação Total”),
Unconditional Election (“Eleição Incondicional”), Limited Atonement (“Expiação
Limitada”), Irresistible Grace (“Graça Irresistível”) e Perseverance of the Saints
(“Perseverança dos Santos”). Esses 5 pontos são chamados oficialmente de “Cânone de
Dort”. O detalhe é que algumas dessas condenações distorcem o posicionamento dos
remonstrantes, que, por exemplo, nunca negaram a Depravação Total. Isso aconteceu
porque os remonstrantes sequer tiveram a oportunidade de ser realmente ouvidos no
sínodo.

Para dar uma aparência de justiça, o sínodo contou com alguns depoimentos de
remonstrantes, mas sob as seguintes regras: em primeiro lugar, os remonstrantes não
poderiam participar das reuniões e de seus debates – eles ficavam em uma outra sala,
esperando serem chamados pelo presidente do sínodo para falar apenas o que fosse
pedido –;
em segundo lugar, depois de darem um depoimento, voltavam imediatamente à tal
sala, sem terem direito à tréplica; em terceiro lugar, os remonstrantes não escolheram
seus representantes – o sínodo é que os escolheu –; em quarto lugar, os remonstrantes
só poderiam responder em latim; e, finalmente, em quinto lugar, todos os teólogos
arminianos tiveram seu direito de voto impedido.

Como se não bastasse, o presidente sinodal era John Bogerman (1576-1637), um


calvinista que chegara ao encontro com fama de defender a pena de morte aos “hereges
arminianos”. Aliás, alguns calvinistas que estavam no sínodo defendiam o mesmo, embora não
fossem maioria, enquanto todos os remonstrantes pediam “a tolerância e a indulgência em
relação às diferenças de opinião sobre assuntos religiosos” (CUNNINGHAM, William,
Historical Theology, vol. 2, p. 381). Bogerman também fora aquele que, juntamente com
Gomarus, em um dos debates deste com Arminius, afirmou: “As Escrituras devem ser
interpretadas de acordo com o Catecismo de Heidelberg e a Confissão Belga”. Ao que
Arminius respondera: “Como alguém poderia afirmar mais claramente que eles estavam
decididos a canonizar estes dois documentos humanos e instituí-los como os dois
bezerros idolátricos em Dã e Berseba?” (HARRISON,A. W.,The Beginnings of Arminianism
to the Synod of Dort, Imprensa da Universidade de Londres, 1926, Londres, pp. 87 e 88).

O resultado do Sínodo de Dort foram cerca de 200 pastores destituídos de suas funções
e exilados, e Oldenbarnevelt condenado à decapitação como traidor do país. Uma
verdadeira vergonha, da qual se arrependeriam depois os pastores e teólogos Daniel
Tilenus (1563-1633), Thomas Goad (1576-1638) e John Hales (1584-1656), que
participaram do Sínodo de Dort, mas depois se tornaram arminianos. Somente após a
morte de Maurício de Nassau, quando o príncipe Frederico Henrique de Nassau (1584-
1647) assumiu seu lugar, os arminianos foram autorizados a retornar à Holanda.

Um deles, Simon Episcopius (1583-1643), aluno de Arminius, substituiria Gomarus na


cadeira de professor de Teologia na Universidade de Leiden. Infelizmente, após a
condenação sofrida, os seguidores originais de Arminius na Holanda acabaram, com o
passar do tempo, se afastando progressivamente do pensamento original do seu
mentor e dos primeiros remonstrantes. Arminius, por exemplo, nunca negou a
Depravação Total ou a Doutrina do Pecado Original, nem os primeiros remonstrantes,
porém alguns de seus futuros seguidores, como Philipp van Limborch (1633-1712),
acabariam negando ambos.
Hugo Grotius (1583-1645), seguidor de Arminius, defenderia mais à frente a Teoria
Governamental no lugar da Doutrina da Substituição Penal de Cristo, adotada tanto
pelo Arminianismo Clássico como pelos calvinistas. Os remonstrantes de hoje, na
Holanda, não têm nada a ver com o Arminianismo Clássico. Eles são, inclusive, liberais
em teologia. Porém, infelizmente, muitos calvinistas cometem a desonestidade de
atacar os arminianos acusando-os de desvios doutrinários que, na verdade, foram
cometidos por gerações seguintes dos remonstrantes.

Apesar desses desvios das gerações subsequentes, o Arminianismo original


permaneceu vivo e logo se espalhou pela Europa, mas sempre sendo minoritário. Até
que, no século 18, o movimento metodista provocaria uma reviravolta, tornando o
Arminianismo a principal corrente protestante do mundo nos séculos seguintes. Mas,
antes de vermos como se deu essa extraordinária reviravolta, vejamos o que ensina, de
fato, o Arminianismo.

7. O que ensina, de fato, o Arminianismo Clássico

Em linhas gerais, o que ensinava Arminius? O que é o Arminianismo?


Em primeiro lugar, o Arminianismo ensina, à luz da Bíblia, que Deus determinou salvar
algumas pessoas e condenar as demais a partir de Seu pré-conhecimento sobre a fé ou
a incredulidade futuras dessas pessoas. Ou seja, a eleição ou a condenação divinas não
são decisões arbitrárias de Deus, mas decisões tomadas por Deus desde a eternidade
com base em Sua presciência em relação às escolhas futuras das pessoas.
Escreveu Arminius: “Deus determinou salvar e condenar certas pessoas em particular.

Este decreto tem seu fundamento no pré-conhecimento de Deus, pelo qual Ele
conheceu desde toda a eternidade aqueles indivíduos que, por meio da Sua graça
preventiva, creriam; e por meio de sua graça subsequente, perseverariam; [...] e por
esse mesmo pré-conhecimento, Ele semelhantemente conheceu aqueles que não creriam
e não perseverariam” (GONZÁLES, Ibid., p. 285).
Paulo afirma: “...os que dantes conheceu, também os predestinou...” (Rm 8.29,30). E Pedro
assevera que somos “eleitos, segundo a presciência de Deus Pai” (1Pe 1.2).
Portanto, os calvinistas erram ao vincular a presciência divina à causalidade. Para ser
mais preciso: eles erram ao afirmar que Deus conhece previamente todas as coisas
porque predestinou todas as coisas. Ora, o texto bíblico é claro: a presciência vem antes
da predestinação e da eleição.
Estas decorrem daquela, e não o contrário.
Deus conhece previamente tudo porque é onisciente, e não porque predeterminou
tudo. Deus não precisa predeterminar tudo para saber de tudo. Sim, Ele
predetermina muitas coisas, mas não tudo.

Perceba que a Bíblia sempre fala de predestinação à vida eterna “em Cristo”. A
Epístola de Paulo aos Efésios, que é a que mais fala em predestinação, mostra
exatamente isso. Aliás, os termos “em Cristo Jesus”, “no Senhor” e “nEle” ocorrem 160 vezes
nos escritos de Paulo, sendo que 36 vezes só em Efésios, onde está o recorde. Ou seja,
se queremos entender bem Efésios, devemos começar a atentar para a palavra-chave
dessa epístola: “em Cristo”. Ora, mais de uma vez é dito em Efésios 1 que a predestinação
ocorre “em Cristo”. Ou seja, a predestinação e a eleição não são para estar em Cristo. Elas
são para os que estão em Cristo.

Para aqueles que estão “em Cristo” estão destinadas desde a fundação do mundo todas
aquelas bênçãos listadas em Efésios 1, 2 e 3; e a quem não estiver em Cristo, está
destinada desde a fundação do mundo a perdição. Se você estiver nEle, Seu destino é
o Céu; se não estiver nEle, o Inferno. O critério é estar nEle. Como afirma Paulo, Deus nos
elegeu “para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dEle” (Ef 1.4), mas Cristo só vai “vos
apresentar santos, e irrepreensíveis, e inculpáveis, se, na verdade, permanecerdes fundados
e firmes na fé e não vos moverdes da esperança do Evangelho” (Cl 1.22,23). Está claro: a
eleição é condicional. E qual a condição?
Estar em Cristo: “...nos elegeu nEle...” (Ef 1.4). A Eleição, portanto, é um decreto divino anterior
à salvação e fruto da graça, soberania e misericórdia divinas manifestadas em Cristo, o
qual é a condição da nossa eleição.

Em segundo lugar, o Arminianismo ensina, à luz da Bíblia, a Doutrina da Depravação


Total do ser humano, isto é, que o ser humano é tão depravado espiritualmente que
precisa da graça de Deus tanto para ter fé como para praticar boas obras. Escreve
Arminius: “Mas em seu estado caído e pecaminoso, o homem não é capaz, de e por si mesmo,
pensar, desejar ou fazer aquilo que é realmente bom; mas é necessário que ele seja
regenerado e renovado em seu intelecto, afeições ou vontade, e em todos os seus
poderes, por Deus em Cristo através do Espírito Santo, para que ele possa ser
capacitado corretamente a entender, avaliar, considerar, desejar e executar o que quer
que seja verdadeiramente bom.
Quando ele é feito participante desta regeneração ou renovação, eu considero que,
visto que ele está liberto do pecado, ele é capaz de pensar, desejar e fazer aquilo que é
bom, todavia não sem a ajuda contínua da graça divina” (ARMINIUS, Jakob, A
Declaration of Sentiments, Works, vol. 1, p. 664, traduzido em Revista Enfoque
Teológico, vol. 1, no 1, 2014, FEICS, p. 105).

Ou seja, o homem não regenerado é escravo do pecado e incapaz de servir a Deus com
suas próprias forças (Rm 3.10-12; Ef 2.1-10).
O Arminianismo nunca ensinou que, por ainda ter em si resquícios da imagem de Deus,
o homem tem a capacidade de, mesmo no estado caído, corresponder com
arrependimento e fé quando Deus o atrai a si. Não, a iniciativa é sempre de Deus, já que
o homem, em seu estado caído, não pode e não quer tomar iniciativa. À luz da Bíblia, o
Arminianismo sempre defendeu que é através da graça preveniente que a depravação
total, que resulta do pecado original, pode ser suplantada, de maneira que o ser humano
poderá, então, corresponder com arrependimento e fé quando Deus o atrair a si.

O livre-arbítrio é decorrente da ação da graça preveniente. Vem de Deus a capacidade


de arrepender-se e ter fé para ser salvo. Em terceiro lugar, à luz da Bíblia, o Arminianismo
ensina que a graça divina pode ser resistida. Como afirma Arminius: “Creio, segundo as
Escrituras, que muitas pessoas resistem ao Espírito Santo e rejeitam a graça que lhes é
oferecida” (ARMINIUS, Ibid., p. 664 in Revista Enfoque Teológico, Ibid., p. 108). São
inúmeros os textos bíblicos que deixam clara a possibilidade de resistir à graça divina (Gn
4.6,7; Dt 30.19; Js 24.15; 1Rs 18.21; Is 1.19,20; Sl 119.30; Mt 23.37; Lc 7.30; At 7.51; 10.43;
Jo 1.12; 6.51; 2Co 6.1; Hb 12.5).

É equivocado pensar que Deus não é absolutamente soberano se concede ao homem,


através de Sua graça preveniente, o livre-arbítrio, isto é, uma vontade livre para
escolher ou não a Salvação. Ora, um deus que no fundo manipula as decisões dos seres
humanos ao invés de, pela Sua graça, conceder-lhes a capacidade de livremente ter fé
e se arrepender para convidá-los a Cristo, não pode ser plenamente justo. É verdade
que ninguém merece a Salvação, mas se Deus resolver salvar uns e condenar outros
sem conceder uma possibilidade real de escolha para Suas criaturas, estará manchando
Sua justiça. O atributo divino da soberania deve estar em perfeita harmonia com o Seu
caráter, que é santo e justo (Is 6.3).

Os calvinistas gostam de citar, em favor de sua crença em uma graça irresistível, João
6.44, onde Jesus afirma: “Ninguém pode vir a mim, se o Pai, que me enviou, o não
trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia”.
Só que o termo traduzido aqui como “trouxer” é, no grego, elkõ, que, segundo o
tradicional léxico de Strong, tem mais o sentido de “atrair”, “induzir alguém a vir”. Ou
seja, Deus atrai; Ele não força. Ele não violenta a liberdade humana concedida pela Sua
graça e soberania. Jesus disse que os que vêm a Ele não são forçados, mas atraídos a Ele
(Jo 12.32).

Em quarto lugar, o Arminianismo entende e sustenta, à luz da Bíblia, que Cristo morreu
por todos (Jo 3.16 e 6.51; 2Co 5.14; Hb 2.9; 1Jo 2.2), mas Sua obra salvífica só é levada
a efeito naqueles que se arrependem e crêem (Mc 16.15,16; Jo 1.12).
Trocando em miúdos: a Expiação de Cristo é suficiente, mas só se torna eficiente na

vida daqueles que sinceramente se arrependem de seus pecados e aceitam Cristo


como único e suficiente Senhor e Salvador de suas vidas. Trata-se, portanto, de uma
Expiação Universal Qualificada, e não de uma Expiação Limitada.
Conquanto existam passagens bíblicas que afirmam que Cristo morreu pelas ovelhas (Jo
10.11,15), pela Igreja (At 20.28 e Ef 5.25) ou por “muitos” (Mc 10.45), a Bíblia também
afirma claramente em muitas outras passagens que a Expiação é universal em seu
alcance (Jo 1.29; Hb 2.9 e 1Jo 4.14), o que deixa claro que as passagens que dão uma
ideia de ela ter sido limitada nada mais são do que referências à eficácia da Expiação.
Ou seja, a Expiação de Cristo foi realizada em prol de toda a humanidade, mas só os que
a aceitam usufruem de sua eficácia.

Os que crêem em Cristo são obviamente associados à obra expiadora (Jo 17.9; Gl 1.4;
3.13; 2Tm 1.9; Tt 2.3; 1Pe 2.24), mas a Expiação é universal (1Jo 2.2). E a eficácia não
está na salvação de todos, mas na consecução da Salvação. O fato de a Expiação só ter
sido aceita e aplicada em muitos e não em todos não significa que sua eficácia é
comprometida. O fato de muitos usufruírem dela já demonstra sua eficácia. Ela só não
seria eficaz se ninguém se salvasse por ela. Se alguém foi salvo por ela, esta foi eficiente.
Não houve “desperdício” pelo fato de seu alcance ser universal, mas nem todos serem salvos.
Além disso, se crermos que a Expiação de Cristo é limitada, o que seria um sacrifício que
proporcionasse uma Expiação Ilimitada? Jesus sofreria um pouco mais na cruz? Há casos
de arminianos que crêem em uma Expiação Limitada com base na presciência divina, o
que apresenta certa coerência, porém o Arminianismo Clássico nunca defendeu a
Expiação Limitada justamente porque não só há passagens bíblicas claras sobre o
alcance universal da Expiação como também uma Expiação Limitada é uma contradição
ao ensino bíblico de que Deus não faz acepção de pessoas (Dt 10.17 e At 10.34).
Deus é soberano, mas isso não significa dizer que Ele fará alguma coisa que contradiga
Seu caráter santo e amoroso. Lembremos que uma hermenêutica prudente interpreta
uma passagem ou passagens observando o contexto geral sobre o assunto na Bíblia. A
Bíblia se explica por meio dela mesma. Portanto, se ela afirma que Deus é santo, justo
e amor, e não faz acepção de pessoas; e que Deus quer que todos se salvem e cheguem
ao pleno conhecimento da verdade (1Tm 2.3,4); e que a Expiação foi por “todos” (1Tm
2.6; Hb 2.9); logo as passagens em que há alusão a “muitos” devem ser interpretadas à luz
dessas outras. O resultado é que as
passagens que aludem a “muitos” não se referem ao alcance da Expiação, que é universal, mas à
eficácia dela para os “muitos” que a receberam por fé. Não se pode simplesmente
desconsiderar o significado óbvio dos textos sem ir além da credibilidade exegética.
Quando a Bíblia diz que “Deus amou o mundo” (Jo 3.16) ou que Cristo é “o Cordeiro de Deus, que
tira o pecado do mundo” (Jo 1.29) ou que Ele é “o Salvador do mundo” (1Jo 4.14), significa isso
mesmo. Em nenhum texto o vocábulo “mundo” se refere à Igreja ou aos eleitos.

Escreve o apóstolo João: “E Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos
nossos, mas também pelos de todo o mundo” (1Jo 2.2). Ou como disse o teólogo H. C.
Thiessen: “Concluímos que a Expiação é ilimitada no sentido de estar à disposição de
todos, e é limitada no sentido de ser eficaz somente para aqueles que crêem. Está à
disposição de todos, mas é eficiente apenas para os eleitos” (Lectures in Sistematic
Theology, Grand Rapids, 1979).
Finalmente, em quinto lugar, o Arminianismo entende e sustenta, à luz da Bíblia, que o
ser humano pode cair da graça, mas que tal coisa não é tão fácil de acontecer como se
pensa. O próprio Arminius preferiu deixar em aberto essa questão, isso porque há muitos
textos bíblicos que enfatizam a perseverança dos santos e há muitos outros que sugerem
a possibilidade de cair da graça, de eventualmente se perder a salvação (Mt 24.12,13; Lc
9.62 e 17.32; Jo 15.6; Rm 11.17-21; 1Co 9.27; Gl 5.4; Ap 3.5; 1Tm 1.19 e 4.1; 2Tm 2.10,12;
Hb 3.6,12,14; 2Pe 2.20-22;
1Co 15.1-2 e 2Co 11.3-4). Escreveu Arminius: “Nunca ensinei que um verdadeiro crente
pode, total ou finalmente, cair da fé e perecer. Porém, não vou esconder que há
passagens das Escrituras que me parecem ensinar isso”
(ARMINIUS, Works, volume 1, p. 131).

De forma geral, sabemos que é muito difícil acontecer de um crente perder a salvação
ao final, mas não impossível, razão pela qual a Bíblia insta para que o cristão cultive
sempre sua vida espiritual, fortalecendo-se em Deus para perseverar até o fim (Ef 6.10-
18).
O fato de sabermos que temos segurança em Cristo não deve nos levar a relaxar em
nossa vida espiritual, pois tal atitude pode, se não tomarmos cuidado, nos levar, mais à
frente, a perecermos espiritualmente.

8. Nem Pelagianismo, nem Semipelagianismo

O Arminianismo não tem absolutamente nada a ver com Semipelagianismo e muito


menos com Pelagianismo, como acusam desonestamente calvinistas mal informados
ou até mal-intencionados. O monge Pelágio da Bretanha (350-423), como sabemos, não
acreditava nas doutrinas bíblicas do Pecado Original, da Depravação Total e da Graça
Preveniente, esposadas e defendidas tanto por calvinistas como por arminianianos. Mas,
a acusação mais comum que tem sido feita contra os arminianos é que eles, não obstante
não serem pelagianos, seriam semipelagianos, acusação igualmente falsa.

O Semipelagianismo surgiu logo após a condenação do Pelagianismo, quando alguns


cristãos do quinto século, ao lerem os argumentos de Agostinho contra Pelágio,
concordaram que Pelágio havia incorrido em grave heresia, mas consideraram
também que Agostinho havia exagerado um pouco em sua contra argumentação às
heresias pelagianas. Pelo fato de esses cristãos discordantes admirarem muito
Agostinho, há quem prefira até chamá-los de “semiagostinianos”, mas prefiro usar aqui a
nomenclatura tradicional “semipelagianos”, porque é como são mais conhecidos.

Diziam os semipelagianos, encabeçados pelo monge e teólogo francês João Cassiano


(360-435), que os erros de Agostinho em seu embate com Pelágio foram dois: primeiro,
seu conceito de predestinação, no que estavam certos; e segundo, sua defesa da
Depravação Total, no que estavam completamente equivocados. Os semipelagianos
não negavam o pecado original – isto é, o pecado herdado de Adão e Eva, a natureza
pecaminosa etc –, mas diziam que, mesmo após a Queda, o ser humano ainda tinha em
si resquícios da volição pré-Queda, um livre-arbítrio remanescente, que o possibilitava,
sem precisar de uma graça preveniente, responder com fé e arrependimento à
pregação do Evangelho.

Para eles, Deus poderia até dar início à fé em alguns casos, mas em muitos deles, ou
na maioria, era o próprio homem que dava o initium fidei, o primeiro passo para a
Salvação. O Semipelagianismo, após muitas discussões, foi condenado no ano 529 pelo
Concílio de Orange.
Entretanto, essa condenação se aplicou apenas à oposição dos semipelagianos à
Doutrina Bíblica da Depravação Total. O mesmo concílio condenou a crença de que
Deus predestinou o mal ou pessoas ao inferno. Ou seja, o que prevaleceu na Igreja,
desde o século 6 em diante, foi uma Soteriologia que aceitava a Depravação Total, mas
negava o conceito de predestinação de Agostinho, o qual seria ressuscitado apenas 1,1
mil anos depois por Lutero

9 - Lutero: de “calvinista”, no início, a quase “arminiano” no final da vida

Lutero viveu em uma época em que a Igreja Católica já tinha se desviado da Soteriologia
Bíblica, passando a dar ênfase mais às boas obras do que à graça de Deus, e ainda
explorando essa supervalorização das obras em um contexto idolátrico. Lutero
confrontou contundentemente esses erros, porém, em sua primeira fase, o fez indo um
pouco para o outro extremo, pregando uma Soteriologia que resgatava e valorizava
maravilhosamente a graça, mas que, por outro lado, desprezava um pouco
o lugar da responsabilidade humana. Isso ocorreu porque sua fonte inicial não eram só
as Escrituras, mas Agostinho. Por ser de origem agostiniana, Lutero acabou sendo
“calvinista” antes de Calvino.
Aliás, Calvino desenvolveu sua Soteriologia inspirado, inconfessadamente, nos
primeiros ensinos de Lutero sobre predestinação.
Muitos se esquecem, porém, que, após escrever Da Vontade Cativa (1525), obra
endereçada a Erasmo de Roterdã na qual defende a predestinação agostiniana, Lutero
“evitou progressivamente a doutrina especulativa da predestinação, [...] preferindo se
focar no ministério da Palavra e sacramentos, aos quais a graça está ligada, e dando
progressiva proeminência à vontade redentiva universal de Deus” (BAVINCK, Herman,
Reformed Dogmatics, volume 2, 2004, Baker Academic, p. 356).

Nessa segunda fase, Lutero se tornaria primeiro um “calvinista compatibilista” (explicarei


o que é isso mais à frente), combatendo fortemente os “calvinistas fatalistas”
antinomianos; depois, escreveria contra a predestinação dupla (a crença de que Deus
predestinou tanto os que irão se salvar quanto os que irão se perder); mais à frente,
deixaria de defender também a Expiação Limitada (que defendera em Comentário aos
Romanos, 1516) para defender a Expiação Ilimitada (o que fez em Sermon for First
Sunday in Advent, 1533); e voltaria também atrás ao defender a possibilidade do salvo
decair da graça nos artigos 42 a 45 dos Artigos de Esmalcade, escritos por ele em 1537
como resumo de toda doutrina luterana.
Isto é, Lutero terminaria sua vida se opondo a 3 ensinos que se tornariam depois 3 dos
5 pontos da Tulip calvinista. Ademais, Felipe Melanchton, sucessor de Lutero à frente
do luteranismo, era, na prática, um “arminiano” antes de Arminius.

Portanto, uma análise honesta da história nos mostra que o que convencionou-se
chamar de “Calvinismo” nunca foi a posição dominante na História da Igreja desde a sua
fundação até hoje. O primeiro a propor as teses que seriam chamadas, em um futuro
distante, de “Calvinismo“ foi, como vimos, Agostinho, e isso só no quinto século. Nenhum
outro Pai da Igreja, antes ou depois de Agostinho, esposou o “Calvinismo”; e a Igreja,
após Agostinho, não aderiu a seus posicionamentos “calvinistas”. O Concílio de Orange,
como vimos, condenou a predestinação divina do mal; e os Concílios de Kiersy (853) e de
Valença (855) afirmariam a predestinação pela presciência divina. Ou seja, nos
primeiros 400 anos da Igreja, não houve “calvinistas”; e de Agostinho a Lutero, que seria o
próximo “calvinista” da história (e, mesmo assim, temporariamente), passaram-se 1,1 mil
anos sem “calvinistas”.

Tomás de Aquino, por exemplo, nunca foi “calvinista”, como alguns calvinistas
forçosamente tentam classificá-lo, pois defendeu explicitamente a predestinação com
base na presciência divina. Mesmo no protestantismo, o Calvinismo não teve um
reinado absoluto: com 20 anos de Reforma, Lutero e Melanchton abandonam o
“Calvinismo”; 65 anos depois, surge, com Arminius, uma oposição mais forte ao Calvinismo;
e desde o século 19, o Arminianismo é maioria entre os evangélicos no mundo. Ou seja,
o que é conhecido como Arminianismo não é só um posicionamento que tem mais
solidez bíblica como também é aquele que melhor representa o real posicionamento da
Igreja sobre a questão soteriológica ao longo da história.

10. Wesley, John Fletcher e a reviravolta arminiana

Enquanto a Igreja Anglicana (igreja oficial inglesa) se tornaria majoritariamente


arminiana, o Calvinismo seria a corrente prevalecente nas primeiras igrejas não-
oficiais da Inglaterra. Porém, quando surgiu o movimento metodista, seus dois
principais líderes, ambos oriundos da Igreja Anglicana,

se dividiam nessa questão: John Wesley (1703-1791) era arminiano e George


Whitefield (1714-1770), calvinista. Após discutirem publicamente sobre o assunto
sem chegar a uma solução, ambos resolveram deixar essa questão para trás em prol
da unidade e avanço da obra de Deus, fazendo o seguinte pacto:
Whitefield prometeu nunca mais falar mal de Wesley quanto a essa diferença
doutrinária e também não aceitar nunca uma crítica de alguém a seu amigo por causa
dessa diferença, e Wesley se comprometeu a fazer o mesmo; e quem morresse
primeiro, o outro pregaria em seu enterro. Ambos seguiram à risca o acordo.

Porém, no ano da morte de Whitefield, a corrente calvinista dentro do metodismo


começaria novamente a confrontar seu líder por causa do Arminianismo, de maneira
que Wesley, juntamente com o principal teólogo do metodismo no século 18, John
Fletcher, resolveu escrever uma série de artigos defendendo o Arminianismo à luz da
Bíblia e expondo equívocos do Calvinismo. Esses artigos, principalmente os de
Fletcher, impuseram uma derrota pública e poderosa aos calvinistas na Inglaterra no
final do século 18, uma vez que estes, à época, não conseguiram responder à altura
aos argumentos de Wesley e Fletcher.

Um dos opositores calvinistas, o talentoso compositor Augustus Toplady (1740- 1778),


sem argumentos diante da devastadora resposta de Wesley a seu resumo da obra do
calvinista italiano Jerônimo Zanchi (século 16), passou a xingar Wesley em profusão.
O líder metodista, indignado com tantos ataques baixos, pessoais e sem
sentido, escreveu: “Conheço muito bem senhor Augustus Toplady, mas não luto com
limpadores de chaminés. É um combate demasiadamente sujo para que me aproxime
dele. Não conseguiria nada mais que manchar os dedos. Li suas breves páginas, e não
perderei tempo com isso. Vou deixar esse assunto com o Sr. [Walter] Sellon. Não
poderia cair em mãos melhores”.
Infelizmente, muitos calvinistas usam essas palavras duras de Wesley para dizer que
houve “troca mútua de ofensas”, o que é uma inversão total dos fatos e do senso das
proporções. Essa foi a única resposta dura de Wesley a Toplady, e ela só foi emitida
depois de o líder dos metodistas receber uma série de ataques pessoais e absurdos
de Toplady. Antes dessa resposta dura e lacônica de Wesley, Toplady xingara o líder
do metodismo, por exemplo, de “Papa João”, “pregador de doutrinas perniciosas”,
“sofista”, “jesuíta”, “mentiroso”, “pelagiano”, “blasfemo”, “maniqueu”, “pagão”,
“velho gambá” e “representante do ignóbil papel de vil e aleivoso assassino”. Isso é só uma
pequena amostra. Toplady chegou a escrever nada menos que 30 páginas (sic) com
ofensas desse nível contra Wesley,

pelo simples fato deste defender biblicamente o Arminianismo (LELIÈVRE, Mateo,


John Wesley – Sua Vida e Obra, Editora Vida, 1997, pp. 251 e 260).
Ou seja, não houve uma troca mútua de ofensas. Houve um ofensor e um ofendido.
Ao final de sua tradução à obra de Zanchi, Toplady escrevera o seguinte resumo: “A suma de
tudo é esta: uma entre 20 pessoas da humanidade (por exemplo) é eleita; as outras 19
são reprovadas. Os eleitos serão salvos, façam o que fizerem; os reprovados serão
condenados, ainda que façam o que puderem para que isso não aconteça. Amado leitor,
creia nisso ou seja condenado. Em testemunho da verdade, assino-me: A. T. [Augustus
Toplady]”(LELIÈVRE,Ibid., p. 251).

Logo, Wesley resolve escrever dois documentos, um deles de oito páginas, onde rebate
os equívocos calvinistas apresentados na obra de Zanchi e resume a posição arminiana.
Foram esses documentos, que não traziam nenhuma ofensa pessoal e eram escritos em
tom solene e didático, que provocaram a reação desproporcional de Toplady a qual nos
referimos. Faço questão de reproduzir abaixo a definição que Wesley faz do
Arminianismo em um desses documentos, porque ela deixa claro que a posição de
Wesley era absolutamente fiel à posição arminiana original, que foi defendida também
pelos seus colegas John Fletcher e Walter Sellon. Segue trecho do resumo de Wesley,
intitulado O que é o Arminianismo?:
“Os erros dos quais são acusados os usualmente chamados arminianos por seus adversários
são cinco: 1) negam o pecado original; 2) negam a justificação pela fé; 3) negam a
predestinação absoluta; 4) negam que a graça de Deus é irresistível; 5) afirmam que o
crente pode cair da graça. Quanto aos dois primeiros pontos, declaro que não são
culpados. As imputações são inteiramente falsas.

Nunca houve quem tratasse do pecado original e da justificação pela fé em termos


mais contundentes, claros e terminantes do que Armínio, nem mesmo o próprio
Calvino. Esses dois artigos, portanto, devem ser excluídos do debate, porque quanto a
eles concordam as duas partes. Quanto a isso, não existe diferença por menor que seja,
entre o sr. Wesley e o sr. Whitefield” (LELIÈVRE, Ibid., p. 250). Ao final do folheto, Wesley
destacou ainda “a piedade de Calvino e de Armínio” e implorou a
seus discípulos que não usassem “o nome de cristãos tão eminentes em sentido tão injurioso”
(LELIÈVRE, Ibid., pp. 250 e 251). Trata-se de um documento honesto e equilibrado, o que só
agrava ainda mais a reação tosca de Toplady.

Após esse episódio, outro acirraria ainda mais o debate entre calvinistas e arminianos
dentro do metodismo: um texto pastoral de Wesley, escrito também em 1770, em que
ele combate o antinomianismo dentro de algumas comunidades metodistas.
Tal texto, mesmo tão simples e bíblico, acabou sendo, devido ao clima já ruim que havia
entre arminianos e calvinistas, mal interpretado pela corrente calvinista. A condessa
Lady Huntingdon acusou Wesley, injustamente, de “pelagiano”, e classificou seu ensino de
“horrível e abominável”. Wesley respondeu à acusação da condessa no seu sermão ministrado
no culto fúnebre de seu amigo George Whitefield. Nele, Wesley mais uma vez enfatizou
os pontos de convergência entre calvinistas e arminianos, destacando a doutrina da
justificação pela fé e lamentando a distorção feita pelos seus acusadores, que
confundiam – propositadamente ou não – o combate ao antinomianismo com pregação
de Salvação pelas obras.

Em reação ao sermão de Wesley, Lady Huntingdon pediu ao teólogo José Benson, que
dirigia a escola metodista que ela sustentava, que escrevesse uma resposta ao discurso
de Wesley, mas ele recusou. Em represália, Huntingdon ordenou que todos os
arminianos saíssem da escola. Benson, que dirigia a instituição, foi o primeiro a anunciar
sua demissão. Em seguida, Lady Huntingdon enviou a Bristol uma representação até
Wesley, formada de oito pessoas, para protestar.
Após receber e ouvir atentamente às reclamações do grupo, Wesley publicou um
documento enfatizando mais uma vez que nunca defendera a justificação pelas obras e
que seu documento contra o antinomianismo fora interpretado de forma incorreta por
alguns irmãos, mas se estes achavam que faltara maior clareza no seu texto, ele
afirmava mais uma vez, “solenemente, na presença de Deus”, que “a segurança ou confiança”
na Salvação está apenas “nos méritos de Cristo”, e não nas obras, embora saiba-se que
“ninguém é verdadeiro cristão a não ser que faça boas obras”. A comitiva de Lady
Huntingdon, representada por Walter Shirley, sobrinho e capelão da condessa, aceitou
o texto de Wesley e publicou um documento oficial dizendo-se “plenamente satisfeita
com a explanação, com a qual assentia cordialmente e estava de acordo”.

Entretanto, antes mesmo dessa reconciliação acontecer, o extraordinário John


William Fletcher de Madeley (1729-1785) já havia preparado uma série de artigos,
que foram publicados em forma de um opúsculo de 98 páginas, defendendo o
Arminianismo à luz da Bíblia e demonstrando que o documento contra
antinomianismo de Wesley não tinha obviamente nada a ver com Salvação pelas
obras e era, sim, além de bíblico, muito claro. Os artigos foram endereçados a Walter
Shirley. Conta Lelièvre que, “ao circular, o escrito de Fletcher produziu
imediatamente uma grande comoção; o autor, já bastante conhecido como orador
sacro, deu-se a conhecer nesse opúsculo como escritor de distinção” (LELIÈVRE, Ibid., pp.
256 e 257).
Logo, quando a comitiva da condessa voltou de Bristol, a corrente calvinista já havia
sofrido um “golpe” muito forte com os textos de Fletcher, o que fez com que Shirley,
em represália, classificasse desonestamente o documento produzido por Wesley
naquele encontro como uma retratação do líder do metodismo. Ora, em nenhum
momento Wesley se retratara no referido documento, mas Shirley precisava de uma
arma contra os textos desconcertantes de Fletcher, que depois disso continuou a
escrever em resposta a Shirley, e com apoio total de Wesley, provando que o texto
deste obviamente não era retratação nenhuma e derrubando todos os argumentos
contra os arminianos.

Os calvinistas sentiram, então, que era hora de formar uma blitz para contra-atacar
Fletcher. Em 1772, o calvinista Ricardo Hill, irmão do famoso avivalista metodista
Roland Hill, tentou fazer frente a Fletcher, defendendo a predestinação dentro do
conceito calvinista em cinco artigos em forma de cartas endereçadas ao teólogo
metodista. Entretanto, outra vez Fletcher se saiu vencedor, refutando, “com lógica
incontestável e fervor eloquente”, o determinismo calvinista.

Foi a vez então de Toplady e Roland Hill juntarem forças para tentar rebater Fletcher,
mas ambos também seriam derrotados pela pena do eloquente teólogo arminiano.
Frustrado, Toplady volta a atacar Wesley, que só assistia aos embates, mas é Thomas
Oliver que o rebate, já que Wesley preferiu mais uma vez não responder. A pena de
Wesley só voltou a tocar no tema quando a pena dos irmãos Hill se voltou contra ele.
Na ocasião, Wesley justificaria a volta ao embate dizendo que os escritos de Fletcher
o haviam convencido de que fora “demasiadamente bondoso com os pregadores da
reprovação”. Fletcher, enquanto isso, venceria outro oponente calvinista: John
Berridge (1716-1793), vigário de Everton.

Quando, enfim, esses embates terminaram em 1776, o Arminianismo ergueu-se


vitorioso. Os metodistas calvinistas, que já eram minoritários, perderam seguidores e
resolveram sair do movimento wesleyano, formando congregações independentes
que, mais à frente, ingressaram na Igreja Congregacional. Entretanto, os efeitos desse
debate foram além, sendo sentidos também no meio evangélico mundial nos anos
seguintes, levando o Arminianismo a se tornar majoritário.

Não é salvo por entender a mecânica da Salvação, mas por aceitar, pela graça de Deus,
a mensagem e o método da Salvação. Se fosse preciso, para ser salvo, também entender
perfeitamente a mecânica da Salvação, a maioria esmagadora daqueles que hoje são
salvos em Cristo não o seriam.
Pense, por exemplo, em um crente simples, que mal sabe ler e escrever, que mal pode
entender detalhes da discussão entre calvinistas e arminianos. Para ser salvo, será que
ele precisa entender o que é Supralapsarianismo, Infralapsarianismo, graça
preveniente, initium fidei, Pelagianismo, Semipelagianismo etc? Claro que não. Basta
entender a mensagem e o método da Salvação: todos pecaram e destituídos estão da
glória de Deus; sem o perdão dos pecados, você não pode ter comunhão com Deus e
receber as bênçãos divinas, e também está destinado à condenação eterna; Jesus é
Deus encarnado, que veio não apenas para ensinar como devemos viver, mas para
morrer por nossos pecados, e ressuscitou ao terceiro dia para nossa Salvação; se você
se arrepender de seus pecados e aceitar o que Jesus fez por você na cruz para remissão
de seus pecados, e também aceitar o senhorio dEle sobre sua vida, então terá seus
pecados perdoados e a comunhão e a bênção eternas de Deus; você não é salvo pelas
boas obras, mas salvo para praticar boas obras; todo salvo em Cristo deve procurar viver
uma vida de santidade; Jesus voltará e um dia estaremos para sempre com Ele na
eternidade se formos fieis.

Você não é salvo por entender perfeitamente o que ocorreu nos “bastidores” do mundo
espiritual quando você foi salvo – ou seja, se você veio a Cristo porque isso tinha sido
predeterminado por Deus ou se Deus apenas sabia que isso iria acontecer e então
predeterminou, desde a eternidade, que você receberia todas as bênçãos que estão
em Cristo. Você pode morrer sem entender plenamente como isso se deu e ser salvo.
Porém, você nunca será salvo se não aceitar a mensagem e o método da Salvação.

Em 1971, em uma conferência em Schloss Mittersill, na Áustria, o célebre pregador


calvinista David Martyn Lloyd-Jones (1899-1981) defendeu o mesmo que este escriba:
o óbvio de que a diferença entre Arminianismo e Calvinismo diz respeito apenas ao
mecanismo da Salvação e não ao caminho da Salvação, razão pela qual, ele, um
calvinista, defendia que era errado considerar o Arminianismo condenável ou heresia
perniciosa; e enfatizava ainda outra obviedade: Arminianismo não tem nada a ver com
Pelagianismo. Que bom seria se todo calvinista tivesse essa percepção!
Infelizmente, há aqueles que, além de confundirem Arminianismo com Pelagianismo
ou Semipelagianismo, colocam a mecânica da Salvação no mesmo patamar da
mensagem e do método da Salvação, confundindo alhos com bugalhos e tratando
arminianos como “hereges perniciosos”.
Por outro lado, arminianos muitas vezes se esquecem que o Calvinismo prevalecente na
história, sobretudo a partir do século 19 em diante, é o Calvinismo compatibilista, que
era a posição de William Carey (1761-1834), o “Pai das Missões Modernas”, e Charles
Spurgeon (1834-1892), “O Príncipe dos Pregadores”.
Ambos combateram o Calvinismo fatalista e viam como homens de Deus os arminianos
John e Charles Wesley, assim como compatibilistas de hoje admiram também arminianos
como Dwight L. Moody, A. W. Tozer, Leonard Ravenhill, C. S. Lewis e Billy Graham.

Em 1792, William Carey publicou o livro Inquiry into the Obligations of Christians to Use
Means for the Conversion of the Heathen (“Investigação sobre as obrigações dos cristãos de
usar meios para a conversão de pagãos”), mas encontrou resistência entre seus pares
batistas, que eram calvinistas como ele. Para a maioria destes, a posição de Carey
entrava em conflito com as crenças calvinistas. Mas, Carey insistiu, levando sua visão
missionária a uma reunião de pastores e propondo que, no encontro seguinte,
discutissem a tarefa de levar o Evangelho aos pagãos, diante do que o pastor John
Ryland (1753-1823), que presidia a reunião, ordenou que Carey se sentasse, dizendo:
“Quando agradar a Deus converter pagãos, Ele o fará sem a sua nem a minha ajuda!”.

Como Carey era mais fiel à Bíblia do que aos dogmas calvinistas, ele foi fazer missões e
deu início às Missões Modernas, criando a Sociedade Batista Missionária. E o próprio
Ryland, depois de ler a biografia do missionário calvinista David Brainerd (1718-1747)
escrita por Jonathan Edwards (1703-1758), passou a ser mais equilibrado, inclusive
tornando-se amigo e apoiador de Carey, que tinha como referências John Wesley e
David Brainerd.

Sobre os embates de Spurgeon com os calvinistas fatalistas de seus dias, há uma obra
muito boa: Spurgeon vs. Hyper Calvinists: The Battle for Gospel Preaching (“Spurgeon versus os
Hiper-calvinistas: a Batalha da Pregação da Palavra”), 1995, da Banner of Truth. Comentando
1 Timóteo 2.3-6, que afirma que Deus deseja “que todos os homens sejam salvos” e Cristo
se entregou “por todos”, escreve Spurgeon: “E então? Tentaremos colocar um outro sentido
no texto do que já tem? Penso que não.

É necessário, para a maioria de vocês, conhecer o método comum com qual os nossos
amigos calvinistas mais velhos lidaram com esse texto. ‘Todos os homens’, dizem eles, ‘quer
dizer alguns homens’, como se o Espírito Santo não pudesse ter falado ‘alguns homens’ se
quisesse falar alguns homens. ‘Todos os homens’, dizem eles, ‘quer dizer alguns de todos os
tipos de homens’, como se o Senhor não pudesse ter falado ‘Todo tipo de homem’ se quisesse
falar isto.
O Espírito Santo, através do apóstolo, escreveu ‘todos os homens’, e sem dúvida isso quer
dizer ‘todos os homens’.
Estava lendo agora mesmo uma exposição de um doutor muito apto o qual explica o
texto de tal forma que muda o sentido; ele aplica dinamite gramatical no texto e
explode o texto ao expô-lo. [...] O meu amor pela consistência das minhas próprias
doutrinas não é de tal tamanho a me autorizar a alterar conscientemente um só texto
da Escritura. Respeito grandemente a ortodoxia [calvinista], mas a minha reverência
para a inspiração é bem maior. Prefiro parecer cem vezes ser inconsistente comigo
mesmo do que ser inconsistente com a Palavra de Deus” (SPURGEON, Metropolitan
Tabernacle Pulpit, 1 Timothy 2.3,4, volume 26, pp. 49-52).

Não por acaso, Spurgeon é autor de um livro intitulado The Soul Winner (“O Ganhador de
Almas”), no qual incentiva cada crente a se tornar um ativo e ousado ganhador de vidas para
Cristo. Spurgeon era assim porque o seu Calvinismo era compatibilista, como ele mesmo
definiu certa vez: “Que Deus predestina e que o homem é responsável são duas coisas que
poucos enxergam. Acredita-se que são inconsistentes e contraditórias, mas elas não
são. É simplesmente culpa do nosso julgamento fraco. Duas verdades não podem ser
contraditórias.
Se, então, acho ensinado em um lugar [da Bíblia] que tudo foi pré-ordenado, é verdade;
e se achar em outro lugar [da Bíblia] que está sendo ensinado que o homem é
responsável por todas as suas ações, é verdade; e é a minha grande tolice que me leva
a imaginar que duas verdades podem se contradizer” (SPURGEON, C. H., New Park Street
Pulpit, volume 4, 1858, p. 337).
Enfim, não devemos cometer a tolice de tratar nossos irmãos calvinistas compatibilistas,
não-fatalistas, como “hereges perniciosos”, o que nunca foram, mas também devemos
nos conscientizar que o Arminianismo é, sem dúvida alguma, a melhor explicação, à luz
da Bíblia, para a mecânica da Salvação. Não é verdade que “o Calvinismo honra ainda mais
a Deus do que o Arminianismo”, como calvinistas mais fervorosos declaram.

Tanto o Calvinismo compatibilista como o Arminianismo genuíno honram a Deus, sendo


que o Arminianismo o faz de uma forma muito mais coerente à luz do texto sagrado,
sem forçar alguma aparente contradição, alguma antinomia entre soberania de Deus e
responsabilidade humana, e sempre à luz da Bíblia. Ensinemos, pois, o Arminianismo.
[DANIEL, Silas. Em Defesa do Arminianismo, Revista Obreiro nº 68. CPAD 2015]
Lista de estudiosos Arminianos

Além de arminianos clássicos e wesleyanos, há arminianos de quatro pontos


(geralmente batistas), proto-arminianos (caso de Menno Simons), arminianos que
preferem ser chamados por outro nome (paleo-ortodoxo, caso de Thomas C. Oden),
arminianos que acreditam ser calvinistas moderados (caso de Norman L. Geisler).
A ideia foi reunir nomes de arminianos conhecidos para facilitar as minhas pesquisas.

A. Philip Brown II
Abraão de Almeida (1939-)
Adrio König
Alva Bee Langston (1878-1965)
Aaron Merritt Hills (1848-1935)
Abel Stevens (1815-1897)
Adam Clarke (1762-1832)
Adam Harwood
Adrian Pierce Rogers [Adrian Rogers] (1931-2005)
Aiden Wilson Tozer [A. W. Tozer] (1897-1963)
Ajith Fernando
Albert Cook Outler [Albert C. Outler] (1908-1989)
Albert Cornelius Knudson (1873-1953)
Albert Nash (1812–1900)
Alexander Campbell
Alexander Duncan Reily (1924-2004)
Alfred Raymond George [A. Raymond George] (1912-1998)
Alvin Carl Plantinga [Alvin Plantinga] (1932-)
Amos R. Binney (1802-1878)
Andrew Wommack
Antonio Gilberto
Archibald Thomas Robertson [A. T. Robertson] (1863-1934)
Arthur Skevington Wood
Austin Fischer

B. J. Oropeza
B. T. Roberts (1823-1893)
Barton W. Johnson [B. W. Johnson] (1833-1894)
Balthasar Hubmaier (1480-1528)
Ben Witherington III (1951-)
Benjamin Field (1827-1869)
Bernhard Johnson Jr. (1931-1995)
Bill T. Arnold
Brenda B. Colijn
Brian J. Abasciano
Brian Zahnd
Bruce A. Little
Bruce L. Shelley
Bruce R. Reichenbach

C. Gordon Olson
C. Stephen Evans (1948-)
Carl Oliver Bangs [Carl Bangs] (1922-2002)
Carlos Augusto Vailatti
Carlos Kleber Maia [Kleber Maia]
Caspar Brandt (1653-1696)
Charles Butler (1750-1832)
Charles Edward White
Charles Gutenson
Charles Jerry Vines [Jerry Vines] (1937-)
Charles John Ellicott [C. J. Ellicott] (1819-1905)
Charles M. Cameron
Charles W. Carter
Charles Wesley (1707-1788)
Christopher C. Chapman
Christopher Potter
Chuck Smith
Ciro Sanches Zibordi
Clarence L. Bence
Claudionor de Andrade
Clive Staples Lewis [C. S. Lewis] (1898-1963)
Conrad Vorstius [Konrad von dem Vorst] (1569-1622)
Craig L. Blomberg
Craig S. Keener

Dale Moody (1915-1992)


Dallas Willard (1935-2013)
Daniel B. Pecota
Daniel Berg (1884-1963)
Daniel Denison Whedon (1808-1885)
Daniel Steele (1824-1914)
David Charles Haddon Hunt [Dave Hunt] (1926-2013)
David A. deSilva
David Baker
David Harold Stern [David H. Stern] (1935-)
David John Alfred Clines [David J. A. Clines] (1938-)
David Lewis Allen
David Pawson (1930-)
David W. Bercot (1950-)
David Wilkerson (1931-2011)
Derek Prince
Donald A. D. Thorsen
Donald C. Stamps
Donald G. Bloesch (1928-2010)
Donald M. Lake
Douglas K. Stuart [Doug Stuart]
Dwight L. Moody (1837-1899)

Earl C. Wolf
Edson de Faria Francisco
Edward Bird
Edward Earl Joiner [Eduardo Joiner]
Edward J. Mullins
Edward McKendree Bounds [E. M. Bounds] (1835-1913)
Elias Soares
Elienai Cabral
Elinaldo Renovato de Lima
Elmer L. Towns
Enéas Tognini
Ergun Michael Caner [Ergun Caner] (1966-)
Eric Hankins
Ernest S. Williams (1885-1981)
Esdras Costa Bentho
Esequias Soares
Étienne de Courcelles (lat: Stephanus Curcellaeus) (1586-1659)
Eugene E. Carpenter
Everett Lewis Cattell (1905-1981)

F. Leroy Forlines
F. Stuart Clarke
Francis Asbury (1745-1816)
Francis Hodgson (1805-1877)
Frank Turek
Franz Delitzsch (1813-1890)
Fred Sanders
Frederic Louis Godet (1812-1900)
French L. Arrington
Fritz Guy (1930-)

Gareth Lee Cockerill


Gary B. McGee
Gary Habermas (1950-)
Gene L. Green
Geoffrey F. Nuttall
George Eldon Ladd (1911-1982)
George L. Bryson
George Lyons
George Mitrovich
George Pretyman Tomline (1750-1827)
George Washington Northurp (1825-1900)
Gerald O. McCulloh
Gilbert G. Bilezikian
Glen Shellrude
Gordon C. I. Wong
Gordon Donald Fee [Gordon Fee] (1934-)
Grant R. Osborne
Greg Laurie
Gunnar Vingren (1879-1933)
Günther H. Juncker
Guy P. Duffield

H. Ray Dunning (1926-)


Halford E. Luccok (1885-1961)
Hendrik Hanegraaff [Hank Hanegraaff] (1950-)
Henry Clarence Thiessen
Henry Clay Sheldon (1820-1877)
Henry Hammond (1605-1660)
Henry Orton Wiley [H. Orton Wiley] (1877–1961)
Henry T. Blackaby
Herbert B. McGonigle
Herman Nicolaas Ridderbos [Herman Ridderbos] (1909-2007)
Herschel Harold Hobbs [Herschel Hobbs] (1907-1995)
Howard A. Snyder
Hugo Grotius (1583-1645)

I. Howard Marshall (1934-)


Israel Belo de Azevedo (1952-)

J. D. Walt
J. Gregory Crofford
J. Matthew Pinson
J. Rodman Willians (1918-2008)
J. Steven Harper [Steven Harper]
J. Vernon McGee
Jack Hayford
Jack W. Cottrell
James Arminius (1560-1609)
James Burton Coffman (1905-2006)
James D. G. Dunn (1939-)
James Dean Strauss [James D. Strauss] (1929-2014)
James K. Beilby
James Leo Garrett, Jr. (1925-)
James Luther Adams
James M. Leonard
James Morison (1816-1893)
James Nichols (1785-1861)
James Porter Moreland [J. P. Moreland] (1948-)
James Richard Joy
James Strong (1822-1894)
Jean Le Clerc (1657-1736)
Jeremy A. Evans
Jeremy Taylor (1613-1667)
Jerry L. Walls
Joannes Tideman
Joel B. Green
Johan van Oldenbarnevelt (1547-1619)
Johann Friedrich Karl Keil [Carl Friedrich Keil] (1807-1888)
Johann Jakob Wettstein (1693-1754)
Johannes Wtenbogaert (1557-1644)
John Carson Lennox [John C. Lennox] (1945-)
John Dickins (1746-1798)
John F. Parkinson
John Goodwin (1594-1665)
John Griffith
John Hales (1584-1656)
John Mark Hicks
John McClintock (1814-1870)
John Miley (1813-1895)
John Milton (1608-1674)
John Norman Davidson Kelly [J. N. D. Kelly] (1909-1997)
John Oswalt
John Overall (1559-1619)
John Plaifere
John Shaw Banks (1835-1917)
John Smyth (1570-1612)
John Telford
John Wesley (1703-1791)
John Wesley Adams
John William de la Fléchère [John Fletcher] (1729-1785)
John William McGarvey [J. W. McGarvey] (1829-1911)
Jonathan Andersen
Jonathan R. Wilson
Jonathan Weaver (1824-1901)
Jorge Pinheiro dos Santos
José Ildo Swartele de Mello [Ildo Mello]
Joseph Agar Beet (1840-1924)
Joseph Benson (1749-1821)
Joseph Kenneth Grider (1921-2006)
Joseph R. Dongell
Joseph S. Wang
Joseph Sutcliffe (1762-1856)
Joshua Ratliff
Justo L. Gonzalez (1937-)

Keith D. Stanglin
Kenneth D. Keathley
Kenneth J. Collins
Kevin Kennedy
Kevin Timpe
Klyne R. Snodgrass

L. Paige Patterson [Paige Patterson] (1942-)


Lancelot Andrewes (1555-1626)
Lars Eric Bergstén [Eurico Bergstén] (1913-1999)
Laurence M. Vance
Laurence Womock [Lawrence Womach/Womack, Daniel Tilenus/Tilenius (pseud.)]
(1563-1633)
Lee Strobel (1952-)
Leo George Cox (1912-1997)
Leonard Ravenhill (1907-1994)
Leroy Madison Lee (1808-1882)
Leslie D. Wilcox (-1991)
Louis Chéron
Lourenço Stelio Rega (1953-)
Luke L. Keefer Jr. (1940-2010)
Luther Lee (1800-1889)

Malcolm B. Yarnell III


Manfred Marquardt
Marion Boyd Stokes [Mack B. Stokes] (1911-2012)
Mark A. Ellis
Markus Barth (1915-1994)
Marvin Richardson Vincent [Marvin R. Vincent] (1834-1922)
Matthew P. O'Reilly
Max Lucado (1955-)
Menno Simons (1496-1561)
Michael Green
Michael L. Brown (1955-)
Mildred Olive Bangs Wynkoop (1905-1997)
Miner Raymond
Moses Lowman (1680-1752)
Myer Pearlman

Natanael Rinaldi
Nathan Bangs (1778-1862)
Nathanael Burwash (1839-1918)
Nathaniel M. Van Cleave
Nels Lawrence Olson [Lawrence Olson] (1910-1993)
Norman L. Geisler (1932-)

O. Glenn McKinley
Olin Alfred Curtis (1850-1918)
Orland Spencer Boyer [Orlando Boyer] (1893-1978)
Oswald Chambers (1874-1917)

Paul Copan (1962-)


Paul J. Achtemeier (1927-2013)
Paul R. Eddy
Paul T. Culbertson
Paulo Lockman
Paulo Rodrigues Romeiro [Paulo Romeiro]
Peter Baro (1534-1599)
Petrus Bertius (1565-1629)
Philip Melancthon (1497-1560)
Philip Pugh (1817-1871)
Philip Yancey (1949-)

R. Alan Streett
R. Larry Shelton
Randall G. Basinger
Randal Rauser
Randolph Sinks Foster (1820-1903)
Randy L. Maddox (1953-)
Randy Sawyer
Ravi Zacharias (1946-)
Richard C. H. Lenski (1864-1936)
Richard Cross
Richard D. Land (1946-)
Richard James Foster [Richard Foster, Richard J. Foster] (1942-)
Richard Watson (1781–1833)
Rick Patrick
Robert E. Picirilli
Robert Eugene Chiles (1923-1992)
Robert Lee Shank (1918-2006)
Robert W. Burtner
Roger E. Olson (1952-)
Roger Thomas Forster [Roger T. Forster] (1933-)
Rombout Hogerbeets [Rombout Hoogerbeets] (1561-1625)
Ron F. Hale
Ronnie W. Rogers [Ronnie Rogers]
Russell Henry Stafford

Samuel Chadwick (1860-1932)


Samuel Clarke (1675-1729)
Samuel Fisk
Samuel Loveday
Samuel Wakefield (1799-1895)
Scot McKnight
Silas Daniel
Simon Episcopius (1583-1643)
Simon Patrick (1626-1707)
Stanley J. Grenz (1950-2005)
Stanley M. Hauerwas (1940-)
Stanley M. Horton (1916-2014)
Stephen M. Ashby
Steve Hill (1954-2014)
Steve Seamands
Steve W. Lemke
Steve Witski
Steven L. Hitchcock

Tassos Lycurgo
Terry L. Miethe
Thomas Benjamin Neely (1841-1925)
Thomas C. Oden (1931-)
Thomas Coke (1747-1814)
Thomas Dove (1555-1630)
Thomas Erskine (1788-1870)
Thomas Goad (1576-1638)
Thomas Grantham (1634-1692)
Thomas H. McCall
Thomas Helwys (1550-1616)
Thomas Jackson (1783-1873)
Thomas N. Finger
Thomas Neely Ralston (1806-1891)
Thomas Olivers (1725–1799)
Thomas Osmond Summers (1812–1882)
Thomas Taylor (1738-1816)
Timothy C. Tennent (1959-)
Tremper Longman III

Umphrey Lee (1893-1958)

V. Paul Marston
Valmir Nascimento Milomem Santos
Vernon Carl Grounds [Vernon C. Grounds] (1914-2010)
Vic Reasoner

W. A. Criswell (1909-2002)
W. Brian Shelton
W. E. Vine
Wagner Gaby
Walter Klaiber (1940-)
Walter Sellon
Watchman Nee (1903-1972)
Wayne Cordeiro
Wesley Duewel
Westlake Taylor Purkiser [W. T. Purkiser] (1910-1992)
Wilbur Fisk (1792-1839)
William Arie den Boer [William den Boer] (1977-)
William Ashley Sunday [Billy Sunday] (1862-1935)
William Baxter Godbey (1833-1920)
William Burt Pope (1822–1903)
William Fairfield Warren (1833-1929)
William Franklin Graham Jr [Billy Graham] (1918-)
William G. MacDonald
William Gene Witt
William H. Browning (1805-1873)
William Henry Willimon (1946-)
William Hull
William J. Abraham (1947-)
William Lane Craig (1949-)
William Laud (1573-1645)
William Lowth (1660-1732)
William Marvin Greathouse [William M. Greathouse] (1919-2011)
William Ragsdale Cannon (1916-1997)
William Sanday (1843-1920)
William Taylor (1821-1902)
William W. Menzies [Bill Menzies] (1931-2011)
William W. Klein
Wilson Thomas Hogue (1852-1920)

Zacarias de Aguiar Severa

[fonte:http://ateologiasimplificada.blogspot.com/2017/04/lista-de-escritores-
arminianos.html]

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