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Como então este ensino veio a ter tamanha proeminência na Igreja a ponto
de ser declarado como uma questão de dogma em 1950?
O primeiro Pai da Igreja a afirmar explicitamente a assunção de Maria foi
Gregório de Tours em 590 d.C. Mas as bases para seu ensinamento não era a
tradição da Igreja, mas sua aceitação de um evangelho apócrifo conhecido como
o Transitus Beatae Mariae cujas as primeiras informações são do fim do século V
e que foi atribuído de forma espúria a Melito de Sardis.
Muitas versões desta literatura foram desenvolvidas ao longo tempo e são
encontradas em todo o Oriente e Ocidente, porém todas originadas de uma
única fonte. Assim, a literatura do Transitus é a verdadeira fonte do ensino da
Assunção de Maria e as autoridades católicas romanas admitem esse fato. O
mariólogo Juniper Carol, por exemplo, escreve: “a primeira testemunha
expressa no Oriente de uma genuína assunção vem a nós através de um
evangelho apócrifo, o Transitus Beatae Marieae do Pseudo-Melito”.[5] Foi através
deste escrito que os mestres do Oriente e do Ocidente passaram a abraçar e
promover o ensinamento.
Mas foram necessários vários séculos para que ele começasse a ser geralmente
aceito. O mais antigo discurso existente sobre a Festa da Dormição de Maria
afirma que a Assunção de Maria veio do Oriente em fins do século VII e inicios
do século VIII.[6] A literatura do transitus é, portanto, altamente significativa e
importante para que entendamos a natureza destes escritos. A Igreja Católica
Romana quer nos fazer crer que este evangelho apócrifo expressa uma crença
comum existente entre os fieis a respeito de Maria e que o Espírito Santo o usou
para tornar mais generalizada a consciência da Igreja sobre a verdade da
Assunção de Maria.
No entanto, a evidência histórica sugere o contrário. A verdade é que,
assim como com o ensino da imaculada conceição, a Igreja Romana tem
abraçado e é responsável por promover ensinamentos que não possuem origem
entre os fieis, mas em escritos heréticos que foram oficialmente condenados
pela Igreja antiga.
A história prova que o ensinamento do Transitus fez com que a Igreja o
considerasse herético. Em 495 d.C. o Papa Gelásio emitiu um decreto
intitulado Decretum de Libris Canonicis Eclesiasticis et Apocryphis. Esse decreto
apresenta de forma oficial os escritos que eram considerados canônicos e
aqueles que eram apócrifos e deveriam ser rejeitados. Ele traz uma lista de
escritos apócrifos e faz a seguinte declaração a respeito deles:
Tertuliano diz que nós só podemos saber se Deus tem feito algo pela
validação da Escritura. Não ser capaz de fazê-lo invalida qualquer alegação de
ensino revelado por Deus. Isso nos leva novamente ao princípio patrístico
da Sola Scriptura, um princípio que tem sido repudiado pela Igreja Católica
Romana e que tem resultado em sua adesão e promoção de ensinamentos que
nunca foram ensinados na Igreja antiga, tais como a Assunção de Maria.
O único motivo que o fiel católico romano possui para crer no dogma da
Assunção de Maria é que a “Igreja Infalível” o declarou. Mas dados os fatos
acima, a alegação de infalibilidade mostra-se completamente infundada. Como
pode uma Igreja que é supostamente infalível promover ensinamentos que a
Igreja antiga condenou como heréticos? Enquanto um antigo Papa decreta
anatemizados aqueles que creem no ensino de um evangelho apócrifo, agora
um decreto papal condena àqueles que descreem dele. A conclusão tem de ser
que ensinamentos tais como a Assunção de Maria são ensinamentos e tradições
de homens, não revelações de Deus.
Extraído do livro The Church of Rome at the Bar of History [A Igreja de Roma no
Tribunal da História] de William Webster, pp. 81-85.