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William J. Hamblin
Mas o fato de que similaridades possam existir entre idéias e motivos de rituais
antigos com os dos Santos dos Últimos Dias[3] não responde a questão mais
significativa concernente a precisa natureza e interdependência entre os textos ou
sistemas rituais manisfestados com os paralelos. Genericamente falando, há cinco
possíveis explicações para estes paralelos. Sendo que os três primeiros são
explicações naturalísticas.
2. Quaisquer válidos paralelos que possam existir são devido ao fato de que
seres humanos freqüentemente expressam sua religiosidade e
solidariedade social através de atos ritualísticos. Santos dos Últimos Dias e
antigos rituais podem ser vastamente similares mas são fundamentalmente
distintos em todos detalhes mais significantes. A existência de paralelos é
algo geral e universal antes de ser específico e histórico.
Dado que algum nível de paralelismo existe entre motivos ritualísticos antigos e aqueles
dos Santos dos Últimos Dias, a questão agora se torna, quais destas cinco explicações,
ou combinações e variantes delas melhor explicam os paralelos? É impossível tratar
adequadamente com todas as ramificações destas questões no curto espaço aqui
disponível. Eu me limitarei portanto a discussão de apenas um aspecto, de um problema
histórico mais amplo: do possível método de transmissão e transformação de alguns
ritos Cristãos do fim do primeiro e início do segundo século em rituais e escritos
Gnósticos.[5] Especificamente examinarei algumas das evidências para as seguintes sete
proposições:
3. Estes rituais eram secretamente praticados por pelo menos alguns ramos
da Cristandade Alexandriana “ortodoxa” até pelo menos o fim do segundo
século AD.
Acaso alguns dos antigos Cristãos acreditavam que Jesus durante o seu tempo de vida
terreno estabeleceu rituais de salvaão secretos e hierárquicos? A resposta para esta
questão é mais certamente um SIM [6]! A antiga eucaristia Cristã (ou sacramento) é o
exemplo mais claro disto. Embora hoje os rituais eucarísticos da maioria dos ramos do
Cristianismo são ritos públicos, o oposto era verdadeiro do primeiro ao terceiro séculos
AD. Como o erudito Católico Jean Daniélou escreve, “Pode parecer assombroso de que
não há nada como [as antigas descrições de batismo] a ser encontrado em relacão à
Eucaristia, mas a razão é que a disciplina do “arcana”, ou segredo, proibia a revelação
dos Mistérios. O único ensinamenteo dado sobre este assunto, portanto, não podia ser
preservado para uso em livros escritos”[7] A idéia de que a Eucaristia e outros
sacramentos deveriam ser rituais secretos é expressa em numerosos e antigos escritos
Cristãos. Por exemplo, as Constituições Apóstolicas (Didaché) aconselha que “as portas
sejam observadas [durante a eucaristia], para que nenhum descrente ou pessoa não
iniciada possam entrar.”[8] Então, de acordo com aproximadamente todos os ramos do
Cristianismo primitivo, Jesus instituiu um ritual de salvação, conhecido como eucaristia
(ou sacramento), que era para ser realizado em segredo.
Seria a Eucaristia o único ritual secreto estabecido por Jesus? Aqui a evidência é muito
mais controversa, mas um ampla variedade de documentos descobertos e estudados nas
últimas recentes décadas claramente mostram que muitas ramificações do antigo
Cristianismo mantinham que Jesus realmente instituira outros rituais secretos,
conhecidos de uma forma mais variada como os “Mistérios da Redenção”, os “Grandes
Mistérios”, ou como os “Mistérios do Reino de Deus”.
Um dos mais interessantes destes novos documentos foi descoberto algumas décadas
atrás pelo professor Morton Smith [9]. O documento é um fragmento de uma epístola de
Clemente de Alexandria que viveu por volta de 150-213 AD e a quem geralmente se é
considerado como um Cristão “ortodoxo”. Nesta epístola Clemente cita uma fascinante
passagem a partir de uma obra previamente desconhecida a que ele chama “Secreto
Evangelho de Marcos”. Embora nada seja sabido com certeza sobre a data, autoria ou
proveniência deste Secreto Evangelho de Marcos, o seguinte é um sumário das atuais
evidências e hipóteses dos eruditos:
Autor: Clemente alega que o documento foi escrito por Marcos, o Evangelista. A
maioria dos eruditos acham que o documento é um evangelho pseudo-epígrafo do início
do segundo século.[10]
Data: Para que o Secreto Evangelho de Marcos tenha sido citado por Clemente, deve ter
vindo à luz pelo menos antes de 150 AD. Morton Smith providencia evidências
convicentes de que ele seja provavelmente datado do fim do primeiro ou início do
segundo século, uma hipótese que é geralmente aceita hoje.[11] Se foi realmente escrito
por Marcos, não poderia ter sido escrito muito mais tarde do que 80 AD. É importante
perceber que muitos eruditos acreditam que possam estabelecer que o Evangelho
Canônico de Marcos fora literalmente dependente deste, e portanto escrito após o
Secreto Evangelho de Marcos.[12] Hans-Martin Schenke acredita que “esta versão
apócrifa de Marcos de Alexandria não seria de nenhuma maneira uma extensão de
nosso Segundo Evangelho; ao invés disso, nosso Evangelho (de Marcos) deveria ter
sido um resumo sanitizado do Apócrifo Alexandrino,” e pode representar uma antiga
tradição que “reflete um evento histórico.”[13] John Crossan concorda que o Secreto
Evangelho de Marcos “ é independente dos [Evangelhos] de João…[e] de Marcos….
Dependência, de fato, ocorre na direção oposta, a apartir do Secreto Marcos em direção
a João e Marcos.”[14] Em outras palavras, há ampla evidência que o material no Secreto
Evangelho de Marcos representa idéias Cristãs do primeiro século A.D..
Proveniência: Clemente diz que o documento foi escrito no Egito, cuja localidade é
geralmente aceita hoje como acurada.
Esta passagem nos providencia uma descrição muito clara de Jesus realizando
um ritual de iniciação secreto chamado os “Mistérios do Reino de Deus”. A partir desta
passagem podemos isolar quatro motivos ritualísticos os quais faziam parte deste
“Mistérios do Reino de Deus” de acordo com o evangelho de Marcos:
A descoberta desta nova epístola de Clemente vem agora claramente mostrar que
Clemente não via estes mistérios num sentido alegórico como havia sido
freqüentemente antes assumido, mas tinha em mente verdadeiros ritos de iniciação
secretos nos quais acreditava terem sido instituídos pelo próprio Cristo.
Schenke também ver a importância desta nova evidência sobre os antigos e sagrados
ritos de iniciação Cristã:
A. O Evangelho Secreto de Marcos deve ter ficado disponível por alguns anos
antes de 125 A.D., quando Carpócrates uma cópia dele obteve .
B. Um anônimo élder Alexandrino deixou a Igreja de Alexandria para unir-se a
Carpócrates, dando-lhe uma cópia do Evangelho Secreto de Marcos e talvez
tenha transmitido partes orais dos Ensinamentos Hierofânticos e dos Grandes
Mistérios.
C. Antes da recente descoberta da carta de Clemente, havia sido usualmente
mantido pelos eruditos modernos que os teólogos do Cristianismo
Alexandrino foram influenciados pelos conceitos Gnósticos e Helênicos.[25]
A nova carta de Clemente demonstra que os Grandes Mistérios e os
Ensinamentos Hierofânticos não foram copiados pelos Alexandrinos dos
Gnósticos e Gregos Pagãos, mas conforme mantido por Schenke, era parte
das mais antigas idéias e práticas do Cristianismo Alexandrino.[26]
D. As idéias e rituais de pelo menos algumas ramificações do Cristianismo
Gnóstico podem então ser vistos como variações e modificações dos
ensinamentos e rituais sagrados dos antigos Cristãos Alexandrinos.
6. Possíveis manifestações deste transformado sistema ritual podem ser
encontradas em várias obras antigas Cristãs escritas pelos ou sobre os
Gnósticos. É possível determinar quaisquer detalhes dos Ensinamentos
Hierofânticos ou dos Grandes Mistérios? Clemente recusava-se a discutir
este assunto abertamente, embora houvesse muitas interessantes alusões
a tais problemas em seus escritos sobreviventes, conforme já temos
visto.[27] Entretanto, explícitas discussões de supostas secretas doutrinas
e rituais sobreviveram nos ensinamentos dos Gnósticos, os quais, de
acordo com Clemente, foram pelo menos derivadas parcialmente a partir do
acesso de Carpócrates aos sagrados ensinamentos dos Cristãos
Alexandrinos.
“O santo edifício <ou templo de Jerusalém> é o batismo, o lugar santo é o resgate <ou
redenção>, e o Santo dos Santos (ou lugar Santíssimo) é a câmara nupcial.”[31]
L. Humanidade pode se tornar como Deus. “Você viu o espírito, você tornou-
se espírito. Você viu Cristo, você torna-se Cristo. Você viu [o Pai, você]
deverá tornar-se pai.”[46]
Notas
[1] Para uma seleção das declarações veja Jeff Keller, “Mormonismo e
Maçonaria”, Seven East Press, 28 de Setembro 1982, 9-14; e Reed C. Durham, “Há
qualquer ajuda para o Filho da Viúva”, uma apresentação dada no Encontro Annual da
Associação de História Mórmon de 1974 em Nauvoo, Illinois, 20 Abril de 1974,
typescript.
[4] Ed Decker e Dave Hunt, The Godmakers (Eugene, OR: Harvest House,
1984) dá uma interpretação da investidura dos Santos dos Últimos Dias baseado
nesta teoria.
[5] Para uma coleção dos escritos dos Gnósticos, com excelentes discussões,
notas, e bibliografias, veja Bentley Layton, As Escrituras Gnósticas (New York:
Doubleday, 1987).
[7] Jean Daniélou, The Bible and the Liturgy (Notre Dame, IN: University of
Notre Dame Press, 1956), 9.
[8] Apostolic Constitutions II, 57. Ver também Justino Mártir, Apologia 66;
Tertuliano, Apologia 7; Cirilo de Jerusalém, Catechetical Lectures, passim; John
Chrysostom, Homilia in Matthaeum 23; Ambrose, De his Qui Mysteriis Initiantur, ch. 1;
e Theodoret, Quaestio in Numeros. Fontes relacionadas poderiam ser ainda mais
multiplicadas, ver A. Haddan, “Disciplina Arcani,” em W. Smith e S. Cheetah, eds., A
Dictionary of Christian Antiquities, 2 vols. (Millwood, NY: Kraus Reprints, 1968), 1:564-
66, para numerosas referências adcionais.
[10] Deve também ser lembrado que a maioria dos dos mesmos eruditos
mantém que os os quatro evangelhos canônicos são também pseudoepigráficos. Para
um sumário das discussões do atual estado das análises veja Morton Smith,
“Clemente de Alexandria e o Secreto Marcos: O Placar ao Fim da Primeira Década,”
Harvard Theological Review 75/4 (1982):449-61, qual dá uma completa bibliografia
até 1982. Também V.P. Furnish, “Evangelho Secreto de Marcos”. No Dicionário
Interpretativo da Bíblia: Volume Suplementar (Nashville: Abingdon, 1976), 573. Veja
especialmente o artigo de F.F. Bruce, O Evangelho Secreto de Marcos (Londres:
Athlone Press, 1974); e R. Brown, “A Relação do Evangelho Secreto de Marcos com o
quarto evangelho,” Catholic Biblical Quartely 36 (1974): 466-85.
[14] John D. Crossan, Quatro Outros Evangelhos: Sombras nos Contornos do Cânon
(Minneapolis, MN: Wiston, 1985), 110.
[16] Sobre similares períodos de seis dias de preparação espiritual antes da iniciatória
no antigo Cristianismo, veja ibid., 175.
[19] Ibid., 81-82 apresenta evidência adcional de que esta era a opinião de Clemente.
[23] Para uma discussão das extensivas fones sobre Carpócrates e sobre os
Carpocratianos, ver Smith, Clemente de Alexandria e o Evangelho Secreto de Marcos,
269-78.
[27] Clemente faz freqüentes referências aos ensinamentos que não podiam ser
escritos: Stromata VI, 15; VII, 9; ele especificamente estabelece que possuía uma
doutrina oral esotérica transmitida através de vários dos Apóstolos (ver também
Stromata I, 1; VI, 7), o qual também foi declarado pelo discípulo de Clemente,
Orígenes, Contra Celsum I, 7.
[28] Para várias dezenas de referências aos rituais nos escritos Gnósticos, veja o
índexe de Layton, Escrituras Gnósticas, 475(“Batismo”), 478 (“Crisma”), 477
(“Câmara Nupcial”), 505-6 (“Sacramentos”), 507 (“Selamentos”).
[43] Irineu, Contra as Heresias I, 21, 3; ver também Evangelho de Felipe 64:31-
33 (Isenberg tr.): “Grande é o Mistério do Casamento! Pois [sem] ele o mundo
[não existiria]”; Irineu, Evangelho de Felipe 65:7-12 (Isenberg tr.):”E ninguém
será capaz de escapar <dos poderes demoníacos>, uma vez que o restringe se não
receberem um poder masculino ou um poder feminino, do noivo e da noiva.
Recebe-se estes a partir da câmara nupcial espelhada”. Evangelho de Felipe
69:35-70:1 (Isenberg tr.):”<antes > [… o] véu fosse rasgado […] <não tínhamos
nenhuma outra> câmara nupcial exceto a imagem … <da câmara nupcial que
está> acima no céu”; Evangelho de Felipe 70;9-20 (Isenberg tr.): “Se a mulher
não tivesse se separado do homem, ela não morreria com o homem. Sua separaçào
tornou-se o começo da morte. Por causa disto Cristo veio reparar a separação que
existia desde o princípio e mais uma vez unir os dois. E para dar vida aqueles que
morreram como um resultado da separação e uni-los. Porquanto a mulher é unida
ao seu marido na câmara nupcial. Na verdade aqueles que se uniram na câmara
nupcial não serão jamais separados”; Evangelho de Felipe 74:18-23 A unção é
dada na câmara nupcial.
[44] Orígenes, Contra Celsum VI, 30-33; cf. Henry Chadwick, ed., Orígines:
Contra Celsum (Cambridge: Cambridge University Press, 1965), 345-49, que tem
algumas observações excelentes sobre este assunto, referenciando a muitos outros
paralelos. Ver também Irineu, Contra as Heresias I, 21, 5; I, 13, 6.