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A CRISTOLOGIA NO SÉCULO II.

No século II da era cristâ encontramos uma critologia com diversos enfoques. Isto não
deve surprender-nos. Já nos Sinóticos de uma lado e em São Joâo e São Paulo e do
lado encontra-se uma diversidade. A partir dos textos escriturísticos se pode notar
uma cristologia messiânica (Discursos dos Atos e evangélhos Sinóticos) e o conceito
joanino do Logos. Os pontos determinantes são quer a História da salvação.
(Sinóticos, Romanos, Gálatas,) quer a cosmologia( Efésios e colocenses) ou a liturgia(
Hebreus) ou ainda a apocaliptica( Apocalipse)..
Todavia não estaria certo, se devido à estas diferenças duvidássemos da unidade
essencial da tradição cristológica: a transcendência de Cristo é o lugar central do
salvador na história da salvação. Esta certeza repousa na experiência viva (antes de
mais nada na ressurreição e também mais simplesmente , nas palavras e atos do
Senhor.) e culmina na fé do Senhorio do Deus e na divindade de Cristo. Este
conhecimento (experiência) único é também o laço ou elo que une a época apostólica
e o período pós-apostólico.
No período dos PP. Apostólicos o Novo Testamento, mesmo os evangelhos
sinóticos, não possuíam um caráter normativo principal. Eles possuíam um caráter
subalterno1 Estamos ainda num período no qual o impulso, a mola mestra vem da
tradição e principalmente do acontecimento que é Cristo, sua vida e seus
ensinamentos ou doutrina. A Igreja se sabia em possessão das palavras e dos atos do
Senhor e de toda sua história, mesmo independente dos escritos evangélicos.
Mas se a tradição oral faz parte integrante da natureza da Igreja, a consciência do
lugar das Escrituras nesta tradição começa a se desenvolver. Com Justino as fontes da
tradição sinótica são quase exclusivamente nossos evangelhos e pela primeira vez se
apresenta , em Justino, uma história da exposição dos nossos evangelhos..Existia,
portanto, na época dos PP Apostólicos uma tradição que era uma fonte direta como
havia sido para os escritos evangélicos
Devido à gnose. e « suas tradições» a Igreja reflete sempre mais sobre sua própria
tradição. Esta reflexão se manifesta no cânon a respeito dos escritos neo-
testamentários – mas não exclusivamente à palavra escrita – leva a eleborar o Símbolo
e estabelecer o lugar da « regula fidei» no ensinamento e na pregação..
Embora haja nesta época uma grande diversidade de fómulas didáticas, estas contudo
assumem um significado particular. As fórmulas de fé já encontradas no N.
Testamento2 manifestam o papel importante em jogo no «auditus fidei». À fé nascida
da pregação corresponde ao termo nitidamente definido , à formula, à tradição
1
Cfr. H. Koester, Synotische :Uber lieferung bei dem apostolischen Vaetern Berlin,(1957), p.257; cfr et J. P.
Audet. La Didaquè . Instructon des Apotres, Paris 1958,pp. 166-186; Cfr et F: M: Btaun, Jean le théologien,,
nota 41,p.54.
2
Cfor. 1 Cor 15, 3-5.
colocada em formulas e cria uma cadeia que faz ligação com a revelação realizada
em plenitude em Cristo.
O lugar da pregação é a catequese, o sermão, o sermão que se insere no quadro da
liturgia, a qual por seus sinais sagrados, suas ações, e seus ritos é um suporte
poderoso da tradição. Se a tradição coloca em fórmulas corre o risco de historicizar a
figura de Cristo e toda a realidade da fé, e de os objetivar até o ponto de torná-los
muito impessoais, compete à liturgia viva tornar possível e fazer nascer uma relação
viva com o Senhor da glória, o « Christus praesens» que transcende a história.
A simplicidade das formulas assegurava a uniformidade da pregação e era uma arma
poderosa contra a gnose do II século. Hipólito nos fornece uma ilustração, um
confronto entre a fidelidade às formulas e a heresia nascente. Hipólito pode ser
considerado já como pertencente ao III século mas certamente este modo é valido
para o século precedente.
Os presbíteros que condenaram Noeto( o qual admitia uma única pessoa em Deus e
portanto Cristo não teria assumido a natureza humana) apresentam como
argumentação uma simples formula que tinham recebido:

« Nós também não adoramos a nâo ser um só Deus, mas como nós o
compreendemos. Nós também cremos que Cristo era Filho de Deus, mas conforme
nós o compreendemos- que sofreu como sofreu, que morreu como morreu e
ressuscitou ao terceiro dia e subiu ao céu onde está assentado à direita do Pai e donde
virá segunda vez julgar os vivos e os mortos. Nós dizemos isto conforme foi
ensinado. A partir disso o convenceram( Noetus) de erro e o expulsaram da Igreja, por
estar cheio de orgulho ao ponto de fundar uma seita»3.
Este texto nos mostra que, já nesta época, o simples esquema de uma profissão de fé
cristológica constitui uma armadura da tradição da Igreja a respeito de Cristo, alguma
coisas sobre a qual a Igreja pode se apoiar. Se queremos compreender o
desenvolvimento da doutrina da Igreja a respeito de Cristo, devemos ter presente uma
profissão de fé cristológica que comporta a fé na divindade e na humanidade do
único Senhor. Os Apologetas também apresentam Cristo como Deus e reconhecendo-
o Deus e homem.
O « Mysterium Christi» em toda sua densidade continua ser a fonte de impulso que
conduz a novas fórmulas e ao esforço para exprimir de novo modo o inexprimível.
Tem-se a consciência clara que o mistério ultrapassa todas as fórmulas. Pode-se dizer
que a Igreja abraça a apresentação de Cristo em sua totalidade mais por uma espécie
de intenção inteletual do que por palavras e fórmulas. Isto explica tmbém a diferença
da fórmulas e suas expressões..

3
Hipólito, Antinoetus I; Ed. P. Nautin, Hipolite, contre les héresies, Paris,1949, pp. 235-237; C. H. Turner,«
The blesse presbyters who condennetd Noetus» J. T. S. ( !922) 18-35.
Ao aparecer novas doutrinas, a Igreja as julga tanto conforme sua intenção como
conforme suas fórmulas , tirando de sua doutrinas formulas novas que integram sua
mensagem. A Igreja era levada a agir desta maneira mais por fatores exteriores do que
interiores, Entre as causas exteriores muito importante foi o encontro com o mundo
pagão e sua filosofia. É agora que se faz sentir a necessidade de uma « teologia
sábia.». Os conceitos e a linguagem utilizada para apresentar a doutrina cristã eram
ianda muito rudimentares. Era necessário esclarecer a relação entre o Pai e o Filho no
«Mystérium Christi».. Desta forma o século II inaugurará o papel que será da época
patrística: chegar a uma melhor compreensão dos dados da revelação com o auxílio da
filosofia pagã. Haverá, com isso, um grande progresso teológico e ponto de partida
de heresias. A filosofia exercerá grande influência na teologia: a apresentação
dinâmica de missão de Cristo na economia da salvação se encontrará sempre mais
impregnadas de considerações ontológicas e estáticas da realidade de Cristo tanto
como Deus e como Homem.
Daí por diante a primeira fase da tradição primitiva desemboca num estado novo,
caracterizado principalmente pela elaboração de fórmulas. de um canon, e pela
reflexão teológica. Resumindo, podemos dizer que as característcas da cristologia no
século II são as seguintes:

O caráter arcaico que é preciso atribuir principalmente às influências Judeo-cristã..


A figura popular de Cristo, os problemas que isto levanta já estão sensíveis nas
primeiras heresias cristológicas. A cristologia da Igreja é expressa autenticamente
pelos defensores da divindade e a humanidade de Cristo contra o docetísmo, o
gnosticísmo, o judaísmo e o paganismo. Estamos no caminho que leva de uma
cristologia econômca a uma cristologia ontológica ou doutrina das duas naturezas,
mas simultaneamente nos encontramos na presença dos primeiros exemplos
importantes de uma história da salvação cristocêntrica. As fórmulas cristológicas
muito simples coexistem com os primeiros contatos dos teólogos cristãos com a
filosofia pagâ..
-

I – UMA HERANÇA ARCAICA

1. Esta herança arcaica é o resultado da influência judeo-cristianismo sobre o


cristianismo primitivo. Os especialistas não estão de acordo sobre o que se deve
colocar com um expressão « teologia judeo-cristã»
Tanto J. Danieloui como L. Goppelt entende com a expressão «teologia judeo-
cristã» antes a espiritualidade que sem ter tomado formas comunitárias particulares,
sem sugerir o laço com as comunidades judaicas apresentam, traços de vida e
liturgia judaica.
Este judeo-cristianismo , em sentido amplo, estava presentes em toda parte e tinha
muitas influências na bacia mediterrânea ao menos até o II século. O exemplo mais
caracterítico de tal influxo é o da Didaqué cujo caracterítica judaica aparece
sobretudo na doutrina dos dois caminhos apresentado também pelo Manual da
Disciplina de Qumrâm.
As fontes que nos permitem descobrir a existência de um conceito judeo-cristão de
Cristo, são os apócrifos judáicos do A.T: na media que são ou revisão judeo-cristão
ou mesmo obras cristãs que utilizam materiais judaicos( ascensão de Isaías, oii
Enoc, Testamento dos Patriarcaas).Um segundo grupo é formado pelos apócrifos de
N:T: na medida que os pussuimos na sua totalidade ou sob forma de
fragmentos( Evangelho de Pedro, Evananelho de Tiago, Evagélho segundo os
hebreus, os Egípcios e ainda os apócrifos de Pedro e a Epístola Apostiolorum).
Em todas estas obras podemos encontrar um reflexo judeo-cristão sobre a
mensagem evangélica. Mas há um terceiro grupo: este se preocupa com a liturgia, a
moral, ascetimo e catequese (A Didaqué, as Odes de Salomâo, a Carta de Barnabé e
o Pastor de Hermas)
.
2. As caracacterisitcas do Judeo- Cristianismo.

a) A atitude a respeito da Bíblia: Enquanto a grande Igreja no II século chega um


cânon rigoroso das Sagradas Escrituras, o judeo-cristianismo se apoia nas
fontes citadas acima e na exegese judaica, particularmente do judaismo tardio
em oposição à exegese helenista de Filon. Parece que os LXII era o texto prin
cipal..É uma exegese nascida das preocupações apologéticas ou litúrgicas que
procedia por associações de textos, mudanças, adições e omissões. Esta
exegese é de caráter muito arcáico. Ao lado destes « targumins» há as
paráfrases do AT, os «medrashin» e poder ser uma coleção de textos
chamados de « Testimonia».Esta escolha de textos( testimonia) devia ser
considarada como o fundamento do argumento cristológico. Nesta hipótese é
dos « testimonia que teria saído o argumento profético com base no AT a
respeito da pessoa de Jesus Cristo, quer este seja considerado como Messias
ou como Filho do Homem. Os Testimonia seriam destinados a manifestar que
Cristo( e a Igreja) respondem, bem ao plano de Deus.

b) O interesse pelo NÊNESISs.- Esta é outra caracteristica da exegese judeo-


cristã.
c) A COSMOLOGIA.: Até em o NT se encontra traços desta cosmologia,
embora sirva somente para afirmações cristológicas ou teológicas

Para uma melhor compreensão do judeo-cristianismo e para a finalidade de


nosso estudo vamos apresentar certos elementos que revelam traços arcaicos.

1. Uma cristologia do NOME.- Esta teologia que parece ser pre-paulina e pre-
joanina. è uma teologia dos livros do Antigo Testamento que é aplicada a
cristo. Mais tarde talvez em contacto com o helenismo, a palvra «nomem»
significaria a divindade de Cristo ocupando de Logos e Pneuma. Cristo será ,
então, o« Nome» encarnado de Deus, do mesmo modo que é o« Logos
encarnado» ou « Pneuma» divino( Deus) na carne» .
Filon de Alexandri chama o Logos o « nome de Deus»4 . Pastor de Hermas diz
que o nome de Filho de Deus é grande, incompreensível e ele sustenta o
mundo inteiro.5Este Filho que sustenta o universo por sua forças poderosa. 6
Conforme Pastor Hermas o « Nome» é o sujeito da atividade que sustenta o
mundo O nome é identico ao Filho de Deus como mostra o texto:

« O Nome do Filho de Deus é grande, imenso e sustenta o mundo inteiro Se


todas a criação é sustentada pelo Filho de Deus, o que pensar então daqueles
que foram chamados por ele, que levam o nome de Filho de Deus e andam
conforme os seus mandamentos»( Parab.IX,,91,5) 7.
Hermas não emprega nenhuma vez, ao longo de sua obra, os termos Jesus
Cristo,ou Logos, Nomei-o com os termos Salvador, Filho de Deus ou Senhor.
Na Paráb. IX,1, se lê qu o anjo da penitência diz a Hermas : « Quero mostrar-
te outra vez tudo o que te mostrou o Espirito Santo, que falou contigo sob a
figura da Igreja; porque aquele Espírito Santo é o Filho de Deus». Aí se diz
clarmente que o Filho de Deus é o Espírito Santo e não Jesus Cristo. Por isso
a cristologia de Hermas suscitou muitas dificuldades. Segundo Hermas ,
teriamos duas pessoas em Deus: Deus- Pai e Deus- Espírito- Filho, cujas
relações se configuram com as do Pai e Filho. A Parávb. V,6,5-7 é muito
sugestiva: « Deus fez habitar na carta que ele havia escolhido o Espirito Santo
preexistenrte, que criou todas as coisas. Esta carne, em que o Espírito santo
habitou, serviu muito bem ao Espírito, andando no caminho da santidade e
pureza,(...) participou dos trabalhos do Espírito(...),por isso, Deus a escolheu
como companheira do do Espírito Santo» Lendo esta passagem dificilmente
alguém deixará de pensar que foi o Espírito Santo que se encarnou.

4
Filon, Confi. Ling. 146.
5
P. Hermas, Sim, IX,14,6; Ed. Joly SC 53,32.
6
P. Hermas , Sim IX,46.
2 Identificação de Jesus com a LEI.:No judeo-cristianismo encontrmao a
identificação de Jesus coma Lei ou com a Aliança. O judasimso atribuirá à a
Lei caracteristicas que João dará ao Logos pre-existente8e encarnado). Para os
judeus a Lei é a encarnação da sabedoria de Deus; para os judeo-critãos ela é
Jesus.
Pastor Hermas diz na Paráb.VIII,,69,2: « Esta grande árvore que obre as
planícies, as montanhas e toda a terra, é a lei de Deus dada ao mundo interio, e
estalei é o Filho de Deus anunciado até os confins da terra». 7Clemente de
Alexandria cita a « Pregação de Pedro» que chama o Senhor Lei e Logos 8. Justino
chama Cristo de Lei e Aliança:
« E foi anunciado que ele( Cristo),lei eterna e nova aliança para o mudo todo,
deveria vir, como indicam todas as profecias por mim citadas9.

Conforme Clemente de Alexandria aquele que dispõe d todas as coisas e é


verdadeira lei e ordenação e palavra eterna é na realidade o Filho de Deus. 10

3. PRINCÍPIO: O Filho não é simplesmente « no princípio» mas « o princípio»


por excelência11 A palavra «arche» é frequente em Filon.de Alexandria A maior
parte das afirmações dos SS. PPadres a respeito do Cristo-Arché» são associadas
ao « Logos»12 Mas está garantida a velha( antiga) origem desta relação.

4. O nome «DIA». « É portanto evidente que sob todos os ascpectos nenhum outro
nome convém mais ao « Logos» eterno do que aquele que lhe deu, no começo do
Evangelho o santo discípulo do Senhor e apostolo João. O Verbo é chamado muitas
vezes depois de ter assumido a carne, Cristo, Jesus, Vida, Caminho, e Dia,
Ressurreição , Porta, Pão-sem contar os outros títulos que se encontram em outros
lugares na divinas Escrituras- não podemos negligenciar seu primeiro Nome, do
fato que ele era Logos» 13

5. CHRISTUS ANGELOS - É uma tentativa para exprimir a transcendência


de Cristo. Dizer que Cristo era anjo pareceria melhor para expressar a encarnação.
Mas Cristo é dito Senhor, enquanto homem. Este modo de falar se perde no século
IV. Como a cristologia judeu-cristã é funcional e não ontológica é possivel ligar
7
P. Hermas, Sim VIII,3,2.
8
Clem. Alexan., Stromata I,29.182,2.
9
Justino, Diál. 43,1; Cfr, et 51,3; et 11,2.
10
Stroma VII,3 16; GCS 17,12; 18-19
11
Clemente de Alex., Eclog. Prophet., 4,1;
12
Justino, Dial., 6,1,1; Tatiano Orat.ao gregos, 5; Orgines´, Hom Gen., I,1; Com.In Jo.I,19)
13
Marcelo de Ancira, frag. 43; Eusébio de Cessr.,e, Marcelo de ancira,frag. 43; GCS 14,192; cfr et J
Danielou I,173; 219-226; II 244.
este nome de anjo com o de Messias- Malak Jahaveh. Os Padres do II século tinham
o costume de apropriar ao Logos as teoganias do AT, no cento das quais figurava o
anjo do Senhor.
Pastor de Hermas fala do anjo glorioso, do anjo muito venerável 14, o Anjo da
penitência15. Tertuliano dirá que o anjo representa uma função e não uma natureza16
Encontramos, portanto, no período pós-apostólica, no século II e no começo do
século III uma cristologia arcaica tendo uma maneira todo pessoal de exprimir a
transcendêndia de Cristo. Cristo é o « nome » atual de Deus e a realização da « Lei»
divina, « princípio» e o novo« Dia» do mundo, o « anjo do grande conselho» .
São todas expressões bíblicas, vetero-testamentárias que dizem respeito a Deus,
que quando se trata de Deus e de Cristo se referem mais às obras. à revelação, à
manifestação de sua potência do que à inteligência de sua essência. Contudo uma
certa concepção da natureza de Cristo aflora nesta teologia. Diz respeioto a sua
pessoa. Quanto ao essencial, as relações de Cristo com Deus, com o mundo e com
a Igreja estão presentes de um modo que não difere profundamente da das outras
tradições da época.

II - UMA APRESENTAÇÃO DE CRISTO.

1.- PASTOR HERMAS- A cristologia está a serviço da moral. Inspirada


possivelmente pela parábola da vinha17. P.Hermas esclarece as vantaagens do jejum
e das obras superrogatórias dando o exemplo de Cristo que trabalhou na vinha do
Senhor.:
« E o escravo é o Filho de Deus...as iguarias que ele( Deus) mandou do festim ao
escravo são os mandamentos que ele deu ao seu povo por meio de seu Filho»18
Conforme Pastor Hermas, o escravo é o filho. Os homens são confiados ao Filho
que aparece com « grande poder e soberania» e encarrega os anjos de protegê-los. o
filho purifica seus pecados e lhe mostra o caminho da vida dando-lhes a lei. mas
para Pastor Hermas , ao lado do filho em forma de escravo, aparece outro « Filho»,
o Espirito santo ao qual é atribuida a encarnação.19como ja falamos acima.

2.- CARTA DE BARNABÉ .


Para o autor desta carta toda a luz das promessas, na primeira parte(1-17) está
concentrada em Cristo Filho único do Pai. Cristo ocupa o lugar central na carta a
fim de provar sua divindade e transcendência absoluta..Para o autor da carta há uma
14
Sim IX,13; Mand. V,1,7.
15
Pastor Hermas, Mand. V,1 7.
16
Tertuliano, Test. De carne Christi,14.
17
Mc 12,1-12; Lc 20,9-19; P. Hermas , Sim. V,2..
18
P. Hermas Sim V, 2,3.
19
P. Hremas, im V,6,5-7
distinção entre a fé simples e a fé a gnose, fé perfeita.. Deus se revelou
verdadeiramente na encarnação mas ao mesmo tempo se escondeu. De fato, nosso
olhos são incapazes de vê-lo como Deus; vemo-lo agora revestido de carne e este é
um primeiro sentido da Encarnação. O segundo sentido orienta para a Redenção:
Cristo morreu para destruir a morte e manifestar a ressurreição dentre os mortos 20 .O
Filho de Deus se encarnou para recapitular(completar, realizar) a totalidade dos
pecados daqueles que perseguiram e mataram profetaas21
Nos capítulos 5-7 que explicam os sentido da encarnação: aquele que se encarnou é
o Filho de Deus que não se tornou tal pela encarnação, mas é Filho de Deus mesmo
antes de se encarnar e mesmos antes da criação do mundo 22. O termo Filho de Deus
aparece em muitos lugares.23 Este Filho de Deus é Deus? A passagem 21,5 parece
afirma-lo.O que é certo é que Cristo é i « Kyrios», o Senhor do uiverso(5,5) e que
tem uma natureza divina. Seu corpo é o vaso do espírito 24que deve –se entender da
natureza divina.

2. IIa.CLEMENTINA . - « Irmão é preciso que consideremos Cristo como


Deus, como juiz dos vidos e dos mortos e não é preciso que tenhamos idéia
pobre de nossa salvação. Porque se nós temos de Jesus uma idéia pobre, nós
não esperamos também receber dele o não-perdão25 Se Cristo Nosso Senhor,
nosso salvador que era espírito, se fez carne e desta forma nos chamou da
mesma forma, nós também é nesta carne que receberemos nossa recompensa.
Espirito significava para os primeiros cristãos a divindade. A união de Deus e
o homem é o exemplar e a causa de nossa vocação. Em Cristo Deus se
manifestou26 que nos fez passar do nada ao ser27 e nos resgatou..
Cristo primeiro divino feito homem se tornou o penhor da nosso apelo à
ressurreição carne. É por causa dele que o corpo do cristão e de seu próximo é
honrado como templo de Deus28Em Cristo é edificada a Igreja que é seu Corpo.,
A natureza da Igreja é entendida em completa analogia com a dupla natureza de
Jesus Cristo.

3. ORÁCULOS SIBILINOS - Na parte cristã destes oráculos os critãos


procuram afastar a ameaça de perseguição promentendo às autoridades
humanas a volta do Rei e Senhor todo poderoso, o Deus Jesus Cristo, juiz de
20
Barnabé,5,6.
21
PsuBarnabé,5,11.
22
Pseudo Bar. 6,12.
23
PseudoBar. 5,9; 7,11; 6,12; 7,2; 12,8.10; 15,5.
24
Pseudo Barr.,7,3;11,9
25
II Clem,..1,1-2.
26
II Clem. 12,1; 17,5.
27
II Clem.,1,8.
28
II Clem. 9,12
todas as criaturas. Os acrósticos (composição poética na qual o conjunto das
letras iniciais( e às vezes e mediais ou finais) dos versos compõe
verticalmente uma palavra ou frase) os gozavam de grade fama e tinham a
garantia de originalidade e ausência de falsificação. Dai os cristão também
fazem acrósticos que gozavam de originalidade e foram abundantemente
citados pelos SS..Padres. Os poemas a Cristo são consagrados a Cristo, sua
vida, sua obra e sua parusia. Importante para o nosso caso é o VIII livro que
apareceu no século II, Importantre també são os livros VI,VII,64. Encontra-se
aí um hino sobre o julgamento último e a segunda vinda que emprega como
acróstico as letras da profissão de fé29. Os primeiros textos acrósticos formam
IXTIS. Os versos 217-455 são importantes para a cristologia. O poeta autor
do acróstico quer fazer um retrato impressionante de Cristo, Rei e Senhor:
« Do céu descerá aquele que será o rei eternamente , que julgará toda carne e
o o mundo inteiro. Crentes e não crentes levantarão os olhos para Deus, sobre Ele,
o Altíssimo, bem como os santos no fim dos tempos» 30 « Todos comparecerão
diante do trono de Deus, o rei» 31. no julgamento último a cruz será o selo e o
sinal dos crentes, a taça tranbordante da graça por longo tempo esperado que
derramará suas bençãos ao batismo por meio dos doze Apóstolos. 32 Cristo
reinará33. O poeta tem presente o salmo 2,9:
« Aqule que é revelado neste acróstico é nosso Deus, o Salvador, o rei imortal
que sofreu por nós» .34
Cristo que sofre enquanto é Filho de Deus que abarca todo o universo, o
Criador,o Redentor e o juiz da humanidade, fará tremer até as autoridades romanas.
O livro VIII descreve a divindade e a humanidade de Cristo, sua dupla natureza:
« Pois é o Logos, que aconselhou teu coração, antes de toda a criação, autor do
homem e criador da vida.35 « Mas nos últimos tempos ele( o Logos) desceu sobre a
terra e sob a aparência de pequenez sai do seio da Virgem Maria , como uma nova
luz, e vindo do céu ele assumiu uma forma humana». 36« O Verbo lançando-se no
seio da Virgem se fez ali carne progressivamente e tomando vida no seio maternal
se deu nova forma humana, e torna-se criança nascendo de uma Virgem; é aos
olhos dos homens um grande milagre, mas nada é um grande milagre para Deus, o
Pai, nem para Deus o Filho» .37

29
O.Sib.VI 2 17-250
30
Or..Sibil VIII,218-221.
31
Or Sibil. VIII,242.
32
Or. Sibil VIII,44.
33
Or. Suibil. VIII,248.
34
Or. Sibil. VIII,249 s.
35
Or. Sibil VIII,439.
36
Or. Sibil VIII,456.
37
Or. Sibil., VIII,469-473.
4. OS GNÓSTICOS.. - O gnosticismo nos coloca diante de uma experiência nova
de Deus, do homem e do mudo. Esta experiência gnóstica do mundo e do homem se
funda num dualismo gnóstico( enquanto é uma doutrina religiosa específica) e sobre
a « Gnose», caminho de salvação. o Cristianismo tendo a dupla preocupação de
conservar em toda sua pureza a doutrina recebida e de apresentar esta doutrina
como resposta aos problemas levantados pela gnose.. Fazendo isto os cristãos
apresentam o cristianismo como uma religião da revelação e da redenção. O
cristianismo se distingue do mito gnóstico do Redentor em dois pontos:
a) Baseado na criação o cristianismo conserva um equilíbrio da relação entre
transcendência e imanência de Deus. O Deus único e eternamente
transcendente está em relação permanente com o mundo material e espiritual
que ele criou. Só o pecado implica uma separação com este Deus. A queda é
um fato histórico. e para triunfar do pecado Deus intervém no mundo por ação
histórica que tem por finalidade de levar o homem total e todo o univereso a
Deus..
b) Esta ação de Deus culmina na Encarnação do Filho de Deus que, por sua
obediência moral à vontade de Deus coloca o fundamento da restauração
espiritual e física do homem e de sua volta a Deus, restauração e retorno que o
Cristo realiza já em figura por sua própria ressurreição.
A gnose tem, portanto, em comum com o cristianismo sua experiência do
homem e do mundo e a sede de uma libertação da morte, da fatalidade, da dor,
numa palavra, de uma redenção. O elemento próprio do cristianismo é o fato
de dar a esta experiência o fundamento histórico de um pecado do espírito.
Outro elemento característico: a consciência do ato da redenção realizada por
Deus na pessoa de Jesus Cristo, redenção que, estando fundada numa
revelação , repousa em última análise sobre um ato espiritual e moral de
Cristo. Este ato se enraiza na pessoa de Cristo e em sua natureza do Homem-
Deus.
A interpretação da pessoa de Cristo torna-se, então, sempre mais o problema
central da doutrina cristã da salvação.. Caberá ao século II e começo do III
século clarificar esta nova noção cristã de salvação face ao gnosticismo -
judaismo( a Lei) e o paganismo( mistério e magia).

5. MARTÍRIO E APOLOGIA.

O martírio e apologia nascem do confronto do cristianismo com o


paganismo. Com sua filosofia e sua polémica anticristâ e sobretudo sua concepção
do Estado. Daí o testemunho do sangue e dos escritos dirigidos aos pagãos.
Os apologistas se encontram diante de uma tentativa de anexar a filosofia pagã a
serviço do cristianismo, tentativa que chega a resultados positivos e negativos.
A cristologia no tompo dos mártires pode ser resumida da seguite meneira.: espírito
de imitação de Cristo, sopro de um misticismo que vai até o marírio. As Atas dos
mártires nos apresentam algo importante que as fontes do cristianismo primtivo
não apresentam: enquanto na liturgia, as orações são oferecidas antes de tudo a
Cristo como mediador e por Cristo ao Pai, nas Atas do Mártires um grande número
de orações se dirigem a Cristo quer se trate de orações de louvor, de ação de graças
ou de intercessão. Como Plinio já o havia acentuado a oração dirigida a Cristo é
portanto anterior às discussões do arianismo. Uma tal prática revela o extraordinário
centrismo das Atas dos Martires e de sua época. A piedade é cristocêntrica; adorar
como Deus este verdadeiro homem que é Cristo constitui a alegria e o conforto do
cristianismo primitivo.

III OS PASTORES E DOUTORES DA IGREJA

Vamos agora ver como se forma a fé primitiva em Cristo


1. CLEM ENTE ROMANO. – Irineu diz que Clemente Romasno transmitiu
aos coríntios a doutrina dos Apóstolos em toda sua pureza 38.. Clemente
descreve a natureza da economia da salvação instaurada pelo Pai em cristo e
o Espírito e confiada aos Apóstolos39:
« Os apóstolos receberam do Senhor Jesus cristo o Evangelho que nos
pregaram. Jesus Cristo foi enviado por Deus. Cristo, portanto, vem de Deus, e os
apóstolos vêm de Cristo. As duas coisas, em ordem, provém, da vontade de Deus.
Eles receberam instruções e, repletos de certeza, por causa ressurreição de Nosso
Senhor Senhor Jesus Cristo, fortificados pela palavra de Deus e com plena certeza
dada pelo Espírito Santo, saíram anunciando que o reino de Deus estava para
chegar»( Clem. Rom. 42,1-4)

O retrato, a figura de Cristo de Clmente Romana é provavlmente desenvolvida


na linha de São Paulo40 ,
« Hyrios» , Senhor, é o nome que é atribuido a Cristo bem como« Deus»,«
Mestre» são títuilos do Pai
« O Filho , Deus preexistente, esplendor do Pai foi enviado ao mundo enquanto
homem e Ele é o Sumo Sacerdote da humanidade e o caminho que conduz esta
humanidade à felicidade. Como tal é exaltado acima de todas as criaturas. Rei do
Universo, dispensador de todos os dons divinos; luz conhecimento, imortalidade

38
Adv. Haer. III,33
39
Clemente Romano,Carta aos Coríntios,42,1-4.
40
São Paulo,2 Cor 8,.9; I Tes 2,5-11.
após sua exaltação ele se encontra unido ao Pai na glória e recebe a hora devida a
Deus»41

2. SANTO INÁCIO DE ANTIOQUIA .- Santo Inácio de Antioquia também


parece seguir São Paulo e São João. O santo tem presente a docetismo e o
gnosticismo.
Sua mensagem objetiva, fala de um acontecimento histórico e cósmico e ao
mesmo tempo é uma mensagem que diz respeito ao homem e a sua salvação. O
pensamento dominante de Inácio não é a justiça mas a vida. Inácio vive na
esperança da ressurreição. Chama Cristo de nosso esperança, bem como o
chama de nossa vida. Um drama escatológico está para acontecer, mas o
acontecimeto escatológico da parusia já tem lugar com a vinda histórica de
Jesus Cristo42. Pois Jesus apareceu no fim dos tempos 43 . Cristo é um caminho
novo para os fieis pelo fato de se tornarem membros de Cristo 44 e enquanto
estão unidos na Igreja, Corpo45 do qual Cristo é chefe.
Toda a vida de fé é vivida em Cristo. Em Cristo a morte já está vencia e a
vida se torna presente .. Por Deus que aparece sob uma forma humana, o reino
antigo foi destruído e substituído pela novidade da vida eterna 46. Toda a vida do
cristão é introduzida numa unidade sacramental com Cristo, unidade que recebe
um caráter sacramental na particpação da morte e ressurreição de Cristo.

41
Clem Roma Carta aos Coríntios, 36,1-3; 32,4; 38,4; 43,6; 58,2; 61,3; 65,2.
42
Santo Inácio de Antioquia, Filad.9,2; Magn.,9,2.
43
Santo Inac. Magn. 6,1..
44
Inácio, Ef.4,4; Trasl 11,2 .
45
Esmir-1,2
46
Ef. 19,3.

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