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Escola de Teologia das Assembleias de

Deus no Brasil
História da Teologia Cristã
AULA 01
• Objetivo da Disciplina

Conhecer o desenvolvimento teológico para


compreender nossa fundamentção doutrinária
ortodoxa.
História da Teologia
Nesta aula iremos estudar:

• O Período Apostólico e Pós-Apostólico


• As características das Heresias
• Os Heresiarcas e suas ideias
• Os campeões da ortodoxia
• Atividades avaliativas do módulo;
História da Teologia Cristã
AULA 01
• Introdução
A distorção do ensino cristão não é uma exclusividade de
nossa época. Aliás, em cada período da Igreja se
levantaram homens que de uma forma ou outra
deturparam a mensagem da salvação.
 A Igreja primitiva, desde o período apostólico, teve
de lidar com este fator. Além da perseguição externa que
buscava levar os cristãos a renegar sua fé, havia ainda
ensinos errôneos que comprometiam a mensagem. Cabia,
pois, aos líderes de cada época, manterem-se firmes contra
a perseguição e ao mesmo tempo rebater os ensinos
heréticos por meio das Escrituras.
História da Teologia Cristã

Os Primeiros Conflitos e Heresias:


■ PERÍODO APOSTÓLICO
1. Judaizantes
2. Ebionitas
3. Nicolaítas
4. Filosofia Grega
História da Teologia – AULA 01

O Período Apostólico:

O período apostólico pode ser considerado, por convenção


histórica, como abrangendo a história da Igreja desde a sua
formação no dia de Pentecoste (At 2), até a morte do
apóstolo João, cerca de 90 d.C. Isto significa cerca de 57 anos
em que a Igreja se desenvolveu, tendo a supervisão direta ou
indireta de algum apóstolo. Durante este tempo, não foram
poucas as vezes em que houve não só desvios morais, mas
também doutrinários entre aqueles que receberam a Palavra.
Isto levou os apóstolos a escreverem suas epístolas, que eram
verdadeiros tratados, com teores doutrinários, teológicos e
apologéticos. Não só as epístolas, mas até mesmo os demais
escritos do Novo Testamento apresentam caráter apologético
em algum ponto, visando corrigir inverdades históricas e
doutrinárias correntes.
História da Teologia – AULA 01

1. Os Judaizantes:
O rompimento doutrinário com o judaísmo não se deu sem muita luta.
O cristianismo poderia ter permanecido uma mera seita judaica, não
fosse a visão e a persistência de Paulo frente às tentativas de alguns
grupos em transformar a mensagem do Evangelho em uma extensão
da lei mosaica. Ele foi o homem usado por Deus para fazer a conexão
entre os mundos judaico e gentio. Seu conhecimento de ambos os
mundos foi um importante fator de ligação.
Dos escritos mais significativos sobre este debate, temos a epístola aos
Gálatas. Nesta, ele defende tanto sua autoridade apostólica, quanto
combate elementos judaizantes que estavam se introduzindo nas
igrejas daquela região. Definitivamente ele exorta aos seus
destinatários cristãos a não aceitarem “outro evangelho” sob pena de
maldição (Gl 1.8,9). Em seguida, faz toda uma defesa de seu
apostolado e suas relações com os apóstolos em Jerusalém (Gl 1.11-20).
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Em meio aos elementos judaicos existentes entre eles,


podemos identificar:
 
1.1 A prática da circuncisão
A circuncisão era um sinal do pacto de Deus com o povo de
Israel, a descendência física de Abraão (Gn 17.10). Mas os
judaizantes exigiam dos convertidos a Cristo que se
circuncidassem. Assim, Paulo protesta veementemente contra
aqueles que se deixaram circuncidar (Gl 5.3,4). Mostrou que os
que assim procederam, o fizeram por motivos falsos. E que estas
coisas não tinham valor em si mesmas, mas que o valor era se
tornar nova criatura em Cristo e viver uma vida de fé e amor (Gl
6.15). Para o apóstolo a verdadeira circuncisão era do coração e
isto estava de acordo com a lei e os profetas (Rm 2.28,29; Dt
30.6).
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Em meio aos elementos judaicos existentes
entre eles, podemos identificar:
 1.2. A guarda de dias especiais e das festas judaicas
Quando os gálatas começaram a guardar as festas judaicas,
tanto o Sábado quanto as luas novas e outras festividades
(Gl 4.10), Paulo viu isto como um retrocesso (Gl 4.11)
chegando a duvidar da eficácia da mensagem do
Evangelho entre eles (Gl 3.3). Na epístola aos colossenses,
entre os quais parece ter havido uma heresia semelhante,
ele mostra que as festas eram apenas “sombras”, em
contraste com a realidade revelada em Cristo (Cl 2.16,17).
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Em meio aos elementos judaicos existentes entre eles,
podemos identificar:
 1.3. A lei como padrão de comportamento para o crente
O terceiro elemento da judaização do Evangelho envolvia a
questão da santificação. A lei não era mais o padrão para o viver
diário e Paulo vai colocar a lei como: provisória (2Co 3.11), como
aio (Gl 3.24,25), como impossível de herdar as promessas (Gl
4.30). Ele contrapõe o Espírito Santo à lei, como vemos em
outros escritos seus, no terceiro capítulo da segunda epístola
aos coríntios, por exemplo (2Co 3.6). Classifica a tentativa de
aperfeiçoar-se pela lei, como uma tentativa carnal (Gl 3.3).
Condena o pecado tal qual a lei fazia, mas coloca a cruz e o
Espírito Santo como os meios existentes para levar o crente à
santificação (Gl 5.24,25). No tempo em que foi escrita a primeira
epístola a Timóteo, este problema subsistia ainda, pelo que ele
teve de mostrar o verdadeiro caráter da lei (1Tm 1.8-10).
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2. Os Ebionitas
Os ebionitas tiveram sua origem no cristianismo judaico de
Jerusalém. Embora alguns tenham tentado criar um certo
“Ebion” como sendo o fundador desta seita, o certo é que o
nome deriva da palavra hebraica evjonim, que significa “os
pobres”. A princípio, este era um nome honroso para os
cristãos em Jerusalém. Mas neste contexto se refere a uma
seita herética que emigrou para leste do Jordão e misturou de
forma inadequada elementos judaicos e cristãos.
A diferença substancial que separava os ebionitas dos demais
judeus-cristãos e dos helenistas consistia na maneira de
conceberem a pessoa e a obra de Jesus. Por seu monoteísmo
restrito, não admitiam qualquer insinuação sobre a divindade
de Jesus. Alguns supõem que os ebionitas se misturaram e
conseqüentemente receberam forte influência dos essênios,
povo que praticava um judaísmo ascético e vivia na região do
Mar Morto. Com o pouco material existente sobre eles, é
impossível fazer uma descrição minuciosa, mas podemos ter
um pequeno vislumbre do pensamento desta seita.
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2.1 Influência do judaísmo


Tal qual os judaizantes da época de Paulo, os
ebionitas insistiam na guarda da lei de Moisés, não só
para si, mas para todos os que se convertessem entre
os gentios. Como conseqüência disso, rejeitavam os
escritos paulinos e se recusavam a aceitar suas
epístolas.
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2.2 A cristologia do ebionismo


Os ebionitas rejeitaram completamente a divindade de Cristo.
Colocavam-no no mesmo nível dos demais profetas do Antigo
Testamento. Ele nada mais era do que o novo Moisés. Negavam
sua preexistência, sua encarnação e seu nascimento virginal. Em
seu conceito, embora ele fosse o Messias, era puramente
humano. Somente no batismo ele foi ungido como o Messias,
ou seja, adotado como Filho de Deus. Jesus era para eles um
judeu, fiel, piedoso, profeta e mestre inigualável.
O ebionismo não durou mais que 350 anos. Logo se dividiu em
diversas seitas e desapareceu sem deixar qualquer marca forte
na teologia cristã. Todavia, exerceu forte influência sobre a
teologia islâmica e não é difícil enxergar semelhanças entre o
pensamento islâmico e o pensamento ebionista.
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3. Nicolaítas
 Este é um termo que aparece nas cartas do
Apocalipse por duas vezes e por isso ganhou a atenção
dos estudiosos das heresias primitivas. Se
considerarmos o ano 90 d.C. como data provável para
o livro do Apocalipse, então já temos aqui uma seita
bastante desenvolvida, mas de difícil identificação. O
Novo Testamento fala em “obras dos nicolaítas” (Ap
2.6) e em “doutrina dos nicolaítas” (Ap 2.15) o que dá
a entender um grupo organizado com práticas e
doutrinas.
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3. Nicolaítas
 Temos uma referência de Irineu sobre o assunto: “Os
nicolaítas têm por mestre Nicolau, um dos sete primeiros
diáconos que foram constituídos pelos apóstolos. Vivem
sem moderação. O Apocalipse de João manifesta
plenamente quem são: ensinam que a fornicação e o comer
das carnes oferecidas aos ídolos seja coisa indiferente”.
Também Tertuliano de Cartago atribui ao diácono
helenista a paternidade da seita: “Nicolau de Antioquia, um
gentio que seguia a religião judaica, mencionado em Atos
6.5, teria, para se justificar, apresentado sua esposa à
assembléia dos crentes dizendo: ‘Quem a quiser pode
desposá-la, pois é necessário ter em pouca estima a carne’
(isto é, é preciso ter desprezo à carne)”.
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3. Nicolaítas
 Embora combatido, este movimento herético conseguiu
sobreviver até por volta do ano 200, quando então se dissolveu
em um tipo de gnosticismo denominado Ofita, ligado ao culto às
serpentes.
Como podemos ver, o desenvolvimento de certas heresias a
partir da doutrina cristã foi bastante amplo. Esse seria o segundo
desafio que a Igreja do próximo período teria de enfrentar. O
primeiro era a perseguição. O risco de perder a identidade em
meio a tantos desvios diferentes era grande. Mas a Igreja reagiu
nos momentos certos e se não conseguiu refrear completamente
certos elementos, conseguiu firmar sua doutrina de modo
coerente, deixando fundamentos que mais tarde possibilitariam
o renascimento do cristianismo bíblico no século XVI.
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 4. Filosofia Grega
  Em Atos 17.18 vemos Paulo debatendo com os epicureus e estóicos,
duas das principais correntes filosóficas do mundo greco-romano. Era
difícil impedir que estas correntes de pensamento viessem a influenciar
a doutrina cristã. Parece que, na epístola de Paulo aos colossenses,
podemos ver alguns movimentos heréticos surgindo. Lemos sobre:
 
 O cuidado com palavras persuasivas (Cl 2.4);
 As filosofias, vãs sutilezas, tradição dos homens e rudimentos do
mundo que são opostos a Cristo (Cl 2.8);
 A guarda dos sábados e dias de festas, questões alimentares (Cl 2.16);
 O culto aos anjos e falsas visões (Cl 2.18);
 E, finalmente, o ascetismo (Cl 2.20-23).
 Moral filosófica ou religiosa, baseada no desprezo do corpo e das
sensações corporais, e que tende a assegurar, pelos sofrimentos físicos,
o triunfo do espírito sobre os instintos e as paixões.
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4. Filosofia Grega


 O apóstolo mostra Cristo como sendo aquele sobre o
qual estamos edificados e enraizados (Cl 2.7); Cristo
como a realidade representada nas festas (Cl 2.17) e
todo ascetismo como sendo de nenhum efeito contra
a cobiça da carne (Cl 2.20-23). Esta é uma pequena
amostra de como o Evangelho sofria ataques
doutrinários desde as suas raízes.
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Próxima aula:
 Gnosticismo: Doutrinas e Heresiarcas
Montanismo
Pais Antignósticos e seus legados;
Até lá...
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 Literatura consultada e recomendada:
  
 BERCOT, David W (Editor). A Dictionary of Early Christian Beliefs: A Reference Guide
to More Than 700 Topics Discussed by the Early Church Fathers. Peabody,
Massachusetts: Hendrickson Publishers, 2012
 CAIRNS, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos: Uma História da Igreja Cristã.
(Tradução Israel Belo de zevedo). 3. Ed. Revisada e ampliada. São Paulo: Vida Nova, 2008
 CAMPENHAHAUSEN, Hans von. Os Pais da Igreja: a vida e a doutrina dos primeiros
teólogos cristãos. 3. Ed. (Tradução Degmar Ribas Júnior). Rio de Janeiro: CPAD, 2007
 FRANGIOTTI, Roque. História das Heresias (Séculos I – VII): Conflitos ideológicos
dentro do Cristianismo. São Paulo: Paulus, 1995
 GONZALEZ, Justo L. História Ilustrada do Cristianismo (2 Volumes). (tradução Hans Udo
Fuchs, Key Yuasa. 2. ed. rev. com roteiro de leitura. São Paulo: Vida Nova, 2011.
 GONZALEZ, Justo L. Uma História do Pensamento Cristão (3 Volumes). (tradução Paulo
Arantes, Vanuza Helena Freire de Mattos). São Paulo: Cultura Cristã, 2004
 HUNT, Dave. Que Amor é Este? A Falsa Representação de Deus no Calvinismo.
(Tradução Cloves Rocha e Walson Sales). 1ª edição. São Paulo: Editora Reflexão, 2015
 MONTEIRO, Laércio. A Saga do Cristianismo (3 Volumes). Maceió, AL: Edições Catavento,
2002
 OLSON, Roger E. História da Teologia Cristã: 2000 anos de tradição e reformas
(traduçâo Gordon Chown). São Paulo: Editora Vida, 2001.
 PELIKAN, Jaroslav. A Tradição Cristã: Uma História do Desenvolvimento da Doutrina (4
volumes); (tradução de Lena Aranha, Regina Aranha). São Paulo: Shedd Publicações, 2014.
 SHELLEY, Bruce L. História do Cristianismo: uma obra completa e atual sobre a
trajetória da igreja cristã desde as origens até o século XXI. (tradução Giuliana
Niedhardt). 1. ed. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2018.

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