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1. Introdução
prisioneiro e missionário (At 28,16; 28,31). Mas o que aconteceu depois disso? Algumas
tradições antigas afirmam que Paulo teria sido martirizado por decapitação pelo
imperador Nero, entre 60-63 d.C (Tert., De praesc. Haer. 36,3). Pedro teria sido vítima
de uma morte mais trágica: a crucificação invertida (Eus., HE 3,1).
Ao contrário do que muita gente pensa, os relatos da vida de Jesus não foram sendo
escritos enquanto ele vivia. Quando lemos, por exemplo, o prefácio do terceiro
evangelho, percebemos que Lucas tinha a intenção de relatar algo que já havia sido
pregado pelos apóstolos em suas viagens missionárias, mas que só agora começava a ser
registrado por escrito:
Apesar de não sabermos quem era Teófilo, percebemos pelo tratamento que recebeu de
Lucas (ilustre), tratar-se de alguma pessoa importante da sociedade da época. Teófilo
havia se convertido ao cristianismo por meio da pregação dos primeiros cristãos e
queria saber os detalhes da vida e obra daquele em quem depositara sua fé.
Note que os primeiros evangelhos foram escritos cerca de 30 anos depois da ascensão de
Jesus. Após terem recebido do mestre a missão de evangelizar as nações, os apóstolos
começaram a pregar as boas novas de Cristo transmitindo-as baseados naquilo que
viram e ouviram (essa era a famosa “tradição dos apóstolos”). Nasciam assim os
Evangelhos, relatos da vida de Jesus feitos por seus discípulos.
A palavra evangelho significa boa nova, anúncio de salvação. O evangelista Marcos, por
exemplo, dá a sua obra o título de “Início do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus”
(Mc 1.1). Nesse mesmo sentido João conclui o seu evangelho: “Estas coisas foram
escritas para que creiais que Jesus é o Cristo, filho de Deus, e para que, crendo, tenhais
a vida em seu nome” (Jo 20.31). A pregação dos apóstolos segue na mesma linha, não só
afirmando a messianidade de Jesus, mas também a sua ressurreição: “Deus ressuscitou
a este Jesus do que todos nós somos testemunhas” (At 2.32). A esperança de seu retorno
era o que dava força a igreja para perseverar na doutrina dos apóstolos, mesmo que o
preço dessa fidelidade tivesse que ser pago com a própria vida. Difundir a nova e
revolucionária mensagem do cristianismo num mundo pagão seria uma tarefa
espinhosa. Se os judeus consideravam o sacrifício vicário (vicário = substitutivo) de
Jesus um “escândalo”, os pagãos a consideravam “loucura” (1 Co 1,23). Mas esse é um
assunto que será abordado na próxima lição.
Figura:
LA HIRE, Laurent de
Jesus aparecendo às Três Marias
1650
Óleo sobre tela, 398 x 251 cm
Museu do Louvre, Paris
Já entre os sábios gregos havia a crença em Deus, mas era um Deus indiferente
em relação a vida do homem na terra. Não era um deus que respondia as orações ou que
se compadecia com o sofrimento do ser humano. O culto doméstico romano e as
correntes filosóficas que eram populares na
época não eram capazes de satisfazer a obsessiva busca pela solução do problema da
morte. Havia um forte anseio por um Deus que se pudesse amar, que protegesse
É nesse terreno fértil que surge o cristianismo. Jesus prega um Deus próximo, que
deseja se relacionar com o homem e que promete vida eterna aos que o buscam. Se
entre os judeus o cristianismo não foi bem aceito, já que esperavam um messias político,
entre os pagãos ele foi mal compreendido. Fronton (século II d.C) mestre de dois
3. Os primeiros apologistas
Diante de todos esses mal entendidos, a comunidade cristã percebeu ser necessário
discutir questões envolvendo a sua fé e a cultura pagã. Os primeiros cristãos, por
exemplo, se negavam a participar de cerimônias civis, nas quais se ofereciam
o culto do imperador, foram considerados como ímpios e até mesmo ateus (Just.,
Apol. 1,6, 13; Mart. S. Polyc. 9). A necessidade de um posicionamento claro e bem
definido em relação à postura que o fiel deveria ter frente aos mais diversos
questionamentos se acentuava a cada dia. Para piorar, havia ainda a ameaça das várias
doutrinas vindas do oriente e dos judaizantes, que insistiam na observância da
a inclinação humana para o mal e o espírito, que é o canal de ligação entre o homem e
Deus. É possível ver resquícios dessas duas doutrinas em alguns segmentos do
cristianismo atual, quando notamos, por exemplo, um rigor exagerado com o corpo,
como se nele estivesse presente a semente do mal.