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CAPITULO 10

BEM-AVENTURADOS AQUELES QUE SÃO MISERICORDIOSOS


- O argueiro e a trave no olho -

Jesus Cristo foi mesmo um Mestre. Mestre do amor, Mestre do


desprendimento, Mestre da caridade, Mestre do perdão... E também Mestre da
sabedoria. Seus ensinamentos precisam e merecem ser estudados à exaustão,
porque deles tiramos sempre uma interpretação diferente à medida que os
anos se passam e vamos aprofundando o estudo.

A palavra argueiro significa partícula leve, cisco; por extensão: coisa


insignificante. Trave significa viga; pedaço de madeira ou de outro material
utilizado para sustentar ou reforçar uma estrutura.

Foi aí que percebi um interessante ângulo de interpretação desse trecho


do Novo Testamento.

Eu tenho a tal da trave no meu olho; o vizinho, um cisco. Por que eu vejo
o cisco no olho do outro e não vejo um pedação de madeira preso ao meu
olho? Porque uma trave faz com que eu veja tudo de forma distorcida, fora de
esquadro. Tão distorcida que penso que o cisco no olho do próximo é maior
que a trave que atrapalha minha visão. Ou então, simplesmente, não há cisco
algum no olho do vizinho. Eu é que, na minha visão pra lá de equivocada, acho
isso. Moral da história: fazemos sempre uma comparação tendo a nós mesmos
como referência.

Por essa razão, não devemos julgar. Não há como comparar uma
pessoa à outra. Cada um é cada um. Impossível comparar Paula com Juliana
porque ninguém é padrão, medida oficial. Esse princípio básico, assimilado
pelo cristão que tem ouvidos de ouvir, fará com que ele veja que ninguém é
melhor ou pior do que ninguém. É como o lema da escola de samba
Acadêmicos do Salgueiro, do Rio de Janeiro, RJ: “Nem melhor, nem pior.
Apenas uma escola diferente”

Quanto mais se estuda os Evangelhos, mais Jesus se agiganta, se


eleva, se sublima aos nossos olhos, à nossa ainda imperfeita capacidade de
compreensão e entendimento, e seus ensinos de mais de dois mil anos,
mostram-se atuais e cada vez mais necessários a toda humanidade da Terra.

Nessas palavras, citadas por Mateus, Jesus destaca a facilidade que o


homem tem em perceber os erros alheios e a dificuldade que tem em perceber
os seus.

Isto ainda acontece e muito porque temos uma visão muito maniqueísta
sobre o mundo. Antes de prosseguir, convém esclarecer o significado da
palavra maniqueísta. Fala, Wikipédia!

“O Maniqueísmo é uma filosofia religiosa sincrética e dualística fundada


e propagada por Maniqueu, profeta iraniano (216 – 276 d.C.), que divide o
mundo simplesmente entre Bem, ou Deus, e Mal, ou o Diabo. A matéria é
intrinsecamente má, e o espírito, intrinsecamente bom. Com a popularização
do termo, maniqueísta passou a ser um adjetivo para toda doutrina fundada
nos dois princípios opostos do Bem e do Mal.”

Trata-se de uma doutrina considerada extinta, mas enxergamos tudo


(olha a trave no olho aí) de forma maniqueísta muitas vezes. Achamos que o
mundo é dividido entre bons e maus, feios e bonitos, pobres e ricos, os que
serão salvos e os que serão condenados... Nada disso. O mundo é composto
por Espíritos em evolução (todos nós) que ainda têm muito que aprender e
corrigir. Quanto mais cedo percebermos isso, mais facilidade teremos para
conviver com as diferenças, compreender e perdoar.

“Para julgar-se a si mesmo, seria necessário poder mirar-se num


espelho, transportar-se de qualquer maneira fora de si mesmo, e
considerar-se como outra pessoa, perguntando: Que pensaria eu, se
visse alguém fazendo o que faço?”

Admirável Kardec, com sua sabedoria de tornar sua escrita acessível a


todos, escrevendo de maneira simples sobre coisas difíceis de serem
entendidas e vividas!

Olhar-se para si mesmo, como se outra pessoa fosse, é a maneira


melhor, talvez a única, de conhecer-se a si próprio, ideia já conhecida desde
antes de Sócrates, que a divulgou há mais de trezentos anos antes de Cristo
nascer.

Isso é possível ao homem, observando, perseverantemente, as suas


reações aos acontecimentos, às situações da vida e às pessoas com as quais
se relaciona ou convive.

Analisando essas reações com objetividade, sem complacência, nem


justificativas, como se outra pessoa fosse, vai - se conhecendo a si próprio.

A partir desse hábito, fica mais fácil, conhecer suas qualidades em


desenvolvimento, as que estão quais novas plantinhas, ainda frágeis,
requerendo cuidados e atenções especiais, suas imperfeições e suas
qualificações negativas.

Aceitá-las todas, as boas e as más, na compreensão de ser um Espírito


em evolução, portanto, sujeito a erros, equívocos e omissões, é um novo
passo.

Não parar aí, a fim de que o progresso, que é inevitável, não precise ser
feito através de dores e sofrimentos.

Querer progredir no bem, pelo bem e para o bem, no cumprimento das


leis divinas, exige que se combata, até eliminá-lo, o mal que existe dentro do
ser, criado por ele mesmo, ao mesmo tempo em que se esforce, o mais
possível, para desenvolver as virtudes por brotar, as já plantinhas novas e as
mais crescidinhas.

Essa é a tarefa maior dos habitantes da Terra, a finalidade das inúmeras


reencarnações.

Nas descobertas sobre si mesmo, o homem vai perceber que o orgulho


que o leva a sentir-se ofendido e o impede de perdoar, também está presente
na dificuldade que tem de ver-se como é, no disfarce dos “seus próprios
defeitos, tanto morais quanto físicos”.

É o orgulho que o leva a perceber e destacar no outro o mal que se


recusa a ver em si. Isso é falta de caridade, porque ressaltando o defeito alheio
é como se dissesse: “Eu não faço isso, sou melhor do que ele”.

Querendo que os outros o vejam como ele pensa que é ou deseja


parecer ser, destacando os defeitos alheios, pensa que esconde os seus,
desviando a atenção.

Por isso Kardec afirma que “o orgulho, além de ser a fonte de muitos
vícios, é também a negação de muitas virtudes. Encontramo-lo no fundo e
como móvel de quase todas as ações. Foi por isso, que Jesus se
empenhou em combatê-lo, como o principal obstáculo ao progresso.”

Deixemos o rigor e a exigência para conosco, na luta contra nossas


imperfeições morais, com a certeza de que todos nós trazemos em nós a
perfectibilidade, ou seja, a capacidade de tornarmo-nos perfeitos.

E entenderemos também que no movimento espírita ninguém é mais ou


menos espírita do que ninguém.

Digo isso porque, em 27 anos de movimento espírita, já me deparei com


gente se achando a última bolacha do pacote porque tem 10 tarefas no centro
espírita, e se achando mais privilegiada do que a pessoa que só tem duas
tarefas. Complicado isso.

Pedro tem dez tarefas: evangeliza infância, evangeliza mocidade, faz


parte da reunião mediúnica, aplica passes, cuida da divulgação, faz palestra,
aplica estudo sistematizado, pinta, borda, caseia, chuleia, aceita encomenda de
doces e salgados, está praticamente todos os dias dentro do Centro Espírita.
Uma coisa! Já João, coitado, só vai às quartas-feiras, quando aplica passes; e,
aos sábados, quando ajuda no preparo do lanche para os socialmente
carentes.

Daí Pedro, equivocadamente, se julga com o passaporte carimbado para


Nosso Lar e acha que Pedro não terá a mesma sorte que ele. Não é por aí,
gente.

Jesus Cristo é bem claro sobre o assunto quando fala sobre os


trabalhadores da última hora. Nessa passagem, os que foram recrutados para
trabalhar no último período receberam o mesmo dos que estavam trabalhando
desde a primeira hora. A passagem chama atenção para a qualidade do
trabalho, que é o que de fato vale.

Assim, uma das melhores formas de reconstruir as pontes que nos ligam
a Deus é exatamente a autoaceitação, o reconhecimento de nossas fraquezas,
a misericórdia com os outros, a alegria sincera pelo sucesso alheio, a tomada
da responsabilidade por nós mesmos. Tudo isso tem apenas um nome: o auto-
amor.

Quando nos aceitamos e nos amamos, não temos necessidade de


procurar o mal em outrem para nos envaidecermos. Sabemos quem somos,
compreendemos os limites que nos impõe nosso grau de evolução e, em
contato com o outro, buscamos nele o melhor, perdoando-o por suas próprias
limitações. É esta uma das formas mais belas de caridade.

Procuremos, através da reforma íntima e do autoconhecimento, a


retirada da trave de nossos olhos, através da aceitação e do amor a nós
mesmos; é esta a única forma de amarmos também ao próximo.

Daí, mais uma vez o segredo da reforma íntima me fez pensa: Por que
não tem espírito puro fazendo evangelhos em casas espíritas, sendo padres,
pastores, enfim, evangelizando? Porque o ideal seria que aqui tivesse um anjo
pregando os segredos da reforma íntima. Tá, analisando mais um pouco eu
compreendi que é uma reserva de mercado: se os anjos fazerem estas tarefas,
nós não teremos nenhuma oportunidade de servir. Então já venho pedindo
desculpa que também não sou anjo e estou procurando o caminho para a
reforma íntima, que assim como vocês meus irmãos, é alguém que está em
luta com suas próprias imperfeições.

Então o que seria reforma íntima?


Imagine que você está num avião e o piloto avisa: vamos ter que fazer
um reparo, e no ar. Então fazer reforma íntima é fazer reparo num avião que já
decolou (ou seja num ser que já está encarnado), e precisamos ter consciência
disto. Não vamos parar nossa evolução para fazer a reforma íntima, não é
preciso abandonar seu ambiente de trabalho, seu espaço para poder se
melhorar. E o fato de nos sermos perfeitos não é desculpa para deixarmos de
lado nossos deveres, nossas lutas, nossas buscas, pois Deus não espera que
você se torne perfeito para fazer o que você tem que fazer. Porque Ele sabe
que é através do que você precisa fazer, realizar que você irá se tornar perfeito.

Então meus amigos, vamos começar a reforma íntima dentro de nós,


nem que se for um pouquinho de cada vez. É melhorando nossas atitudes e
principalmente, nos colocando no lugar do próximo, tirando as traves de nossos
olhos, que nos impedem de vermos o lado bom das pessoas, porque afinal,
não existe o que é certo e o que é errado. Pois o que pode ser certo pra você
pode não servir pra mim e vice-versa. Vamos nos respeitar mais e aceita que
precisamos abandonar a máscara do orgulho e sermos felizes. Ou vamos
esperar na próxima reencarnação?

MENSAGEM FINAL

Não censures. Onde o mal apareça, retifiquemos amando,


empreendendo semelhante trabalho a partir de nós mesmos.
O cirurgião ampara o corpo enfermo, empregando atenção e carinho,
com bisturis adequados.
O artista afeiçoa a pedra ao próprio sonho, da forma à estrutura com
paciência e devagar.
Ninguém desfaz a treva sem luz.
E reconhecendo-se que a luz nasce da força que se desgasta, em louvor
da cooperação e do benefício, o amor procede do coração que se entrega ao
trabalho para compreender e auxiliar.
Quando estiveres a ponto de desanimar ante os empeços do mundo, de
espírito inclinado à acusação e à amargura, lembra-te de Deus cuja presença
fulge nas faixas mais simples da natureza.
A divina sabedoria apoia a semente para que a semente germine,
propiciando-lhe recursos imprescindíveis à existência; nutre-lhe os rebentos,
doando-lhes condições precisas para que se desenvolvam, e, convertida a
planta em árvore benfeitora, assegura-lhe a seiva e aguarda-lhe ocasião justa
para a colheita dos frutos de que enriquecerá o celeiro.
Em toda a parte da Terra, surpreendemos a esperança de Deus, em
função ativa, seja na pedra que se erguerá em utilidade, no carvão que se fará
diamante, no espinheiral que se metamorfoseará em ninho de flores, na gleba
inculta que se transfigurará em jardim.
Deus opera com tempo igual para todos.
E a própria sabedoria divina nos auxilia a todos indistintamente, agindo,
criando, renovando e sublimando com apoio nas horas; sempre que nos
vejamos defrontados por dificuldades e incompreensões, saibamos servir com
paciência e aprenderemos que, à frente dos problemas da vida, sejam eles
quais forem, não existem razões para que venhamos a esmorecer ou
desesperar.

Mestre amigo e nosso irmão Jesus. Queremos Te agradecer a


oportunidade do estudo, na noite de hoje. Te agradecemos pela Doutrina
Espírita, que vem nos consolar e nos ensinar a ir ao Teu encontro, em nosso
caminho da evolução. Fique conosco, Senhor, nos abençoe e abençoe nossos
irmãos que não puderam estar aqui, aos desencarnados também. É em Teu
nome, Senhor, e em nome de Deus que pedimos para encerrar o Estudo de
Hoje.

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