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UNIVERSIDADE LIVRE PAMPÉDIA – CURSO: OS EVANGELHOS – DORA INCONTRI – 04/12/2017

A CONSTRUÇÃO DO EVANGELHO
 Os evangelhos canônicos são os considerados legítimos, autênticos.
 Há inúmeros evangelhos, que são considerados apócrifos → inautênticos.
 O que se discute, na atualidade, é a veracidade e legitimidade de todos eles.
 Referência em estudos da Bíblia: Bart Erhman (Livros: “O que Jesus disse? O que Jesus não disse? ” E “Quem foi Jesus?
Quem Jesus não foi? ”
 Há muitas controvérsias quanto às contradições encontradas nos Evangelhos → onde estará a verdade histórica?
 Não existe mais nenhum dos originais.
 Já se sabe, com certeza, que os evangelistas não foram os autores.
 Paulo era culto → suas epístolas são os documentos mais antigos.
 Mesmo na Grécia, apenas 10% da população sabia ler e escrever.
 Um argumento a favor das divergências dos Evangelhos: cada autor devia estar vinculado à tradição oral daquele
apóstolo (direta ou indiretamente).
 Todos os estudiosos concordam com a existência de um evangelho-fonte (“Q” = quelle em alemão = fonte), que serviu
de matriz para os demais.

OCORRÊNCIAS DOS PRIMEIROS 300 ANOS DO CRISTIANISMO


 Não há mais dúvidas quanto à existência do Jesus histórico.
 O que vem gerando controvérsias são os fatos e as falas discrepantes de Jesus.
 Os livros de Erhman são muito esclarecedores sobre o que deve ter ocorrido realmente.
 A primeira disputa entre os apóstolos foi quanto à divisão entre a corrente judaizante e a corrente helenizante.
 Para os judaizantes:
1. Jesus veio para os judeus.
2. Era um profeta.
3. Se algum pagão quisesse segui-lo, deveria ser converter ao judaísmo.
4. A mensagem de Jesus estava subordinada e submetida ao judaísmo.
5. Nessa corrente, jesus nunca poderia ser visto como Deus.
6. Eram liderados por Tiago → Evangelho de Mc
 Para os helenizantes:
1. A mensagem de Jesus era para todos.
2. Liderados por Paulo → Evangelho de Lucas, Atos e Epístolas
 Paulo também não propõe que Jesus era Deus (por ser judeu)
 Até hoje, a teologia paulina é o cerne das doutrinas cristãs. Pontos principais:
1. Herança do pecado (Adão e Eva);
2. O universalismo da mensagem cristã, que influencia os povos até hoje.
3. Cristo salvador → resgate pelo sangue.
4. Primeira tradição do Cristianismo enquanto religião.
5. São os textos comprovadamente mais antigos.
 O evangelho de Mc é totalmente judaizante → mostra Jesus como um homem comum, segundo a visão da tradição
judaica. Era um profeta com sentimentos e ações humanas.
 O Evangelho de Lc mostra Jesus mais “helenizado” → atitude impassível, acima do homem comum. Introduz, inclusive,
vários elementos da mitologia grega e romana (nascimento virginal, filho de Deus e uma humana, por ser comum
deuses assumirem formas humanas).
 Os escritos de Lc foram muito bem aceitos pelos pagãos da época – o que afastou muitos judeus, por não aceitarem
essa natureza divina.
 O Islã também não aceita Jesus como Deus e sim como profeta → por isso, começaram a considerar os cristãos como
infiéis.
 Os helenizantes constroem, assim, uma visão mítica de Jesus .
 Existiram vários cristianismos primitivos.
 No livro História Eclesiástica, de Euzébio de Cesareia, escrito a pedido de Constantino, são descritas mais de 22 seitas
cristãs.
 Tudo o que fugia à futura ortodoxia católica foi destruído. Só se conhece algumas dessas seitas pelos escritos dos seus
opositores – os doutores da Igreja. Exemplo: Pelagius, monge bretão, cuja obra foi derrubada por Agostinho.
 Algumas delas:
1. MARCIONISTAS – Marcião de Sinope (110-160) → helenizante radical. Pregava a abolição total do AT (o Deus
do AT não era o mesmo Deus do NT). Foi considerado, mais tarde, o primeiro dos gnósticos. Paulo era a fonte
primordial → só considerava como válidos os Atos dos Apóstolos, as Epístolas e apenas um dos Evangelhos.
Defendia uma nova religião FORA do judaísmo.

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2. CERINTO (c.100) – considerava Jesus uma pessoa e Cristo, outra. Jesus tinha dupla natureza: uma humana e
outra divina. Defendia que Jesus nasceu como um homem comum; e tornou-se o Cristo no momento do
Batismo. A tradição Rosacruz adota os desdobramentos dessa corrente.
3. ADOCIONISMO EBIONITA – Hermas → jesus foi adotado por Deus devido às suas qualidades. Nascido de José e
Maria, Considerado um profeta. Rejeição às ideias de Paulo. Judaizantes radicais.
4. DOCETISTAS – Jesus não tinha um corpo carnal. Era um anjo. Os roustainguistas partilham dessa vertente de
pensamento.
Docetismo
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Docetismo (do grego δοκέω [dokeō], "para parecer") é o nome dado a uma doutrina cristã do século II,
considerada herética pela Igreja primitiva.
Antecedente do gnosticismo, acreditavam que o corpo de Jesus Cristo era uma ilusão, e que sua crucificação
teria sido apenas aparente. Não existiam "docetas" enquanto seita ou religião específica, mas como uma
corrente de pensamento que atravessou diversos estratos da Igreja.
Esta doutrina é refutada pela Igreja Católica com base no Evangelho de São João, onde no primeiro capítulo se
afirma que "o Verbo se fez carne". Autores cristãos posteriores, como Inácio de Antioquia e Ireneu de Lião
deram os contributos teológicos mais importantes para a erradicação deste pensamento, em especial o último
que, na sua obra Adversus Haereses defendeu as ideias principais que contrariavam o docetismo, ou seja, a
teologia do Cristocentrismo, a recapitulação em Cristo do Homem caído em pecado e a união entre a criação, o
pecado e a redenção.
A origem do docetismo é geralmente atribuída a correntes gnósticas para quem o mundo material era mau e
corrompido e que tentavam aliar, de forma racional, a Revelação disposta nas escrituras à filosofia grega. Esta
doutrina viria a ser condenada como heresia no Concílio Ecumênico de Calcedônia.
5. GNÓSTICOS – iniciada por volta do ano 200. Vertente muito forte (são antigas as gnoses judaicas e grega).
Havia um conhecimento oculto para iniciados. Ficou mais conhecida depois das descobertas dos pergaminhos
de Nag Hammadi. Alguns pontos:
o Mais afinados com a visão persa de mundo. Zoroastro.
o Dualismo (Fogo x Água, Luz x Trevas);
o Criação do mundo pelo demiurgo (Em seitas cristãs de inspiração platônica e no gnosticismo, o ser
intermediário de Deus na criação do mundo, responsável pelo mal que não poderia ser atribuído ao
Criador supremo);
o Não igualitários. Existiam: os hílicos – eram os da terra (“nem tinham alma”); os psíquicos – os que
podiam ouvir Jesus; e os gnósticos – os iniciados que podiam receber os verdadeiros ensinamentos de
Jesus;
o Libertação do mundo material; Misticismo;
o O Evangelho de Judas (apócrifo) é gnóstico: afirma que Jesus veio para os poucos privilegiados e que
ele sentia até um certo desprezo pelos “comuns”.
o Nessa visão, falta o principal aspecto da mensagem de Jesus, que até hoje nos inspira → a igualdade
entre os seres humanos.
o Incontri considera, desse modo, que os gnósticos seriam os verdadeiros apócrifos .
o Principais expoentes: Marcião, Cerinto, Valentino e Basilides.

6. MONTANISTAS – os “pentecostais” da época. Milenarismo (a história sempre se encaminha para um final:


apocalipse, julgamento final, etc.) profetismo. Aceita a participação feminina. Eram os que mais enfatizavam o
retorno de Jesus. Tiveram o apoio de Tertuliano (155-230). Segundo Ehrman – que considerava Jesus um deles
– a visão milenarista perpassa todos os Evangelhos. A religião judaica é milenarista.
7.
AUTORES FUNDAMENTAIS PARA A TEOLOGIA CRISTÃ:
 Orígenes de Alexandria (185-254):
o Escreveu mais de 800 obras.
o 1ª síntese filosófica (cristianismo-platonismo).
o Subordinação de Jesus a Deus.
o Jesus pedagogo.
o Reencarnação.
o Redenção espiritual.
o Quando Euzébio escreve sua obra cita Orígenes como o pai da Igreja.
o Foi considerado herege 300 anos após a sua morte, por sua posição reencarnacionista, e suas obras foram
queimadas. Alguns monges, entretanto, esconderam alguns de seus pergaminhos.
 Agostinho de Hipona (354-430):
o 2ª síntese filosófica: fixação da ortodoxia católica.
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o O pecado original.
o A trindade.
o A questão do pecado e do destino.
o O Sumo Bem.
o Agostinho, como Paulo, era muito preocupado com o pecado → o ser humano é corrompido e só a graça divina
poderia salvar.
 Pelagius (354-420):
o A perfectibilidade humana pelo esforço individual.
o O esforço para o Bem.
o O Livre-Arbítrio.
o Seu grande opositor foi Agostinho, que considerava as ideias de Pelagius pretensiosas, apesar de acha-lo
“impecavelmente virtuoso”.
 Arius (c. 256-336):
o Não se tem quase nada escrito → foi tudo destruído a mando de Constantino.
o Jesus foi enviado por Deus – não aceitava que Jesus era Deus (judaizante).
o Jesus pode ser imitado pelos cristãos.
o Jesus humano → era o modelo de perfeição.
o Jesus não veio para salvar → veio para mostrar o caminho da perfeição.
o O grande opositor de Arius foi Atanasius (bispo), que perseguiu tenazmente os arianos. (Filme Alexandria
mostra a perseguição de cristãos por cristãos).
o Atanasius conseguiu o apoio oficial.
 A idealização de que todos os cristãos eram mártires não é verdadeira.
 O motivo principal de Constantino convocar o Concílio de Niceia foi combater e derrubar a ideia do arianismo, isto é, se
Jesus era deus ou não.
 Existiam muitas igrejas arianas no Império Romano. Quando Arius foi vencido, ele foi banido e os livros foram
destruídos. O dogma foi imposto pela força.
 Diz-se que Maomé teve contatos com monges arianos. Também haviam visigodos, que eram cristãos arianos, quando
da invasão de Roma.
 O catolicismo quis acabar com o arianismo e com o paganismo.
 Quando Constantino oficializa o catolicismo, ele entrega todos os bens das igrejas banidas e entrega aos católicos →
dando início ao poderio econômico, que vai se intensificar ainda mais na Idade Média.
 No decorrer da História há outras seitas que surgem e são identificadas como UNITARISTAS – porque não aceitam o
dogma da trindade.
 Todas as versões dos Evangelhos partem da Vulgata (a versão latina, de São Jerônimo – católica).
 Só a partir de Erasmo e dos protestantes é que se começa a traduzir o NT do grego e não do latim.
 Os Evangelhos mais antigos são de 150 A.D., aproximadamente. O método que se usa para verificar sua legitimidade é
identificar e comparar as fontes (exemplo: ver a qual vertente era filiado o copista para entender supressões e
acréscimos – involuntários ou propositais).
 O que é importante, afinal? O que interessa mesmo é perceber a Ética de Jesus que sobreviveu aos séculos.
 Segundo Incontri e outros autores, Erhman se equivoca ao reduzir e não levar em conta a Ética presente na mensagem
de Jesus, colocando-a em um papel secundário.
 O grande impacto que o cristianismo provocou na Humanidade foi a Ética e seus principais aspectos:
o IGUALDADE
o PERDÃO
o AMOR AO PRÓXIMO
o FÉ (visão da espiritualidade transcendente)

A ESSÊNCIA DO EVANGELHO – DORA INCONTRI


 O essencial nos Evangelhos, para Incontri, é que a ética do Cristo nunca foi ponto de discussão: amar a Deus e ao
próximo como a si mesmo, entender Deus como misericordioso, perdoar...
 É uma visão humanista, igualitária, solidária e amorosa → constitui o núcleo central de todos os Evangelhos.
 Foi o que nos salvou, e nos salva, da barbárie.
 Entretanto, nunca foi aceito na radicalidade pelos cristãos. Por exemplo, o desapego material – que não combina com
o rumo que as religiões sempre tomam.
 Essa radicalidade foi vivida por Francisco de Assis, mas é considerada utópica por todas as vertentes cristãs.
 Outra questão ética crística: igualdade de direitos e deveres e respeito absoluto a todos os seres.
 Outra ideia radical do cristianismo: perdão → não está presente em nenhum outro povo, sendo ideia revolucionária
de Jesus.
 Os que se opõem à moral cristã (Nietsche e outros), alegam que é uma doutrina que prega a fraqueza e covardia.
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 Gandhi, ao defender a não-violência, dizia que o perdão era demonstração de dignidade e grandeza.
 SER CRISTÃO É:
 SER IGUALITÁRIO;
 NÃO DISCRIMINAR NINGUÉM;
 AMAR INCONDICIONALMENTE;
 PERDOAR;
 NÃO PREJUDICAR O OUTRO;
 CULTIVAR O DESAPEGO MATERIAL.

COMPLEMENTOS DO CURSO:
o Bart Ehrman (entrevista): https://www.youtube.com/watch?v=ZG3VQdTu9eo
o Filme: Irmão Sol, Irmã Lua (1972)
o Filme: Luthero (2003)
o Filme: Jesus de Nazaré (1977)
o Filme: Alexandria (Hipatia)

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