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TEOSOFIA E GNOSE
1º) Princípio da salvação pelo conhecimento. A gnose é salvífica e tem como tese
fundamental o autoconhecimento. O conhecimento de si mesmo (de sua natureza e
destino divinos) faz com que o homem se liberte da ignorância e do erro e se
desfaça dos apegos à matéria: “Quando o homem vier a conhecer a si mesmo e a Deus,
– diz o Testemunho da Verdade – ele será salvo e receberá uma coroa incorruptível”.
2º) Princípio da divisão tripartida da espécie humana. Não são todas as pessoas que
podem adquirir a gnose, pois esta não se aprende pelo acúmulo de informação, mas é
um despertar. Os gnósticos dividem a humanidade em três raças ou castas: a dos
homens materiais (que não cogitam de uma realidade além da matéria e, por isso, não
têm salvação nem remédio); a dos homens psíquicos (mentais e emocionais) que com
esforço conseguem salvar-se, se praticarem o asceticismo e as virtudes morais; e,
finalmente, a dos pneumáticos (de “pneuma” = sopro, vento, espírito), os quais
compreendem os mistérios divinos e já estão salvos. Os pneumáticos ou espirituais,
uma reduzida elite, não só têm a gnose como a revelam aos outros. Em uma de suas
epístolas, o apóstolo Paulo fez a distinção entre os homens psíquicos e os
pneumáticos, dizendo que as coisas espirituais se discernem espiritualmente e não
pelo frio raciocínio, por isso só os últimos as compreendem.
O Mal não é, para os gnósticos, a ausência do Bem, como sustentam muitos doutores
da Igreja, mas um princípio operante que milita contra o Bem, gerando dor e
sofrimento. O homem foi feito de matéria vil, porém guarda em si uma centelha
divina (o Espírito) pela qual pode retornar ao Deus transcendente, libertando-se
dos laços materiais, visto que embora a matéria milite contra o Espírito, este tem
capacidade para vencê-la.
Uns eóns são bons, outros são maus; uns são masculinos, outros femininos, uns
constroem, outros destroem. Um dos mais importantes eóns é Cristo, emanado
diretamente do Absoluto para revelar a Divindade verdadeira e libertar o homem do
erro. É o mestre, por excelência, da gnose.
Mas há outros deuses no panteão gnóstico. Uma deusa distinta é Sophia, o princípio
feminino de Deus e, também do homem. Trata-se da sabedoria divina personificada. É
a padroeira da gnose, sendo representada por uma mulher com asas (visto que é anjo
ou eón) com coroa na cabeça, sentada em um trono ladeado por Maria, mãe de Jesus e
S. João Batista. No alto do trono, aparece Cristo acompanhado de seis anjos. Os
gnósticos costumam chamá-la de Santa Sophia e Nossa Senhora Sophia. ABRAXAS, filho
de Sophia, é um deus misterioso que rege o ciclo solar. Seu nome é palavra bárbara,
pois não tem origem em nenhuma língua conhecida, sendo formada por sete letras que,
no alfabeto grego, equivalem numericamente a 365. Nas jóias e talismãs gnósticos,
Abraxas aparece representado com cabeça de galo, corpo e braços humanos e membros
inferiores em forma de serpente. Traz em uma das mãos um escudo e na outra, um
chicote. A simbologia é evidente: o galo, o despertar; corpo humano para denotar
que é uma pessoa. Com o escudo, protege; com o chicote castiga. As serpentes
indicam a ligeireza, a esperteza e a astúcia.
A teosofia de Blavatsky assemelha-se, sem dúvida, à gnose. Primeiro, por ser, como
se disse, um conhecimento religioso diferente da fé. Segundo, por seu um sistema de
pensamento eclético que reúne elementos de várias tradições religiosas do Oriente
como do Ocidente. Terceiro, por endossar a tese da emanação, que é compartilhada
também pelo neoplatonismo. Mas, difere da gnose, por ser eminentemente teórica. Já
o teósofo Plotino, no século 3º, repelia os cultos e os rituais próprios das
religiões, fazendo da investigação filosófica um caminho espiritual de retorno ao
Uno. A teosofia é, sem dúvida, um caminho de espiritualidade, porém, desprovido de
culto, de rituais e de dogmas, ao passo que o gnosticismo constitui religião com
igrejas, sacerdotes e sacramentos. Com exceção do próprio nome de origem grega, a
teosofia moderna é hinduísta, sendo o sânscrito a sua língua, enquanto a gnose é
helenista com predomínio da linguagem filosófica (“logos”, “nous”, “eóns”,
“demiurgo” etc). Além disso, a gnose é cristã, tendo em Cristo seu grande Mestre.
Conforme Blavatsky, a teosofia e a Sociedade Teosófica têm como mentores os mestres
de sabedoria (Mória, Maha Chohan, Kuthumi, Serapis, Hilarião etc), entre os quais
pode até figurar o Cristo, mas sem nenhum relevo. A teosofia não se considera um
conhecimento salvífico, antes sustenta a lei do carma, afirmando que o homem recebe
aquilo que semeia.