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19 Elul 5783 | 05 Setembro 2023

Sefirot, as dez emanações divinas


Rabi Moisés de Leon, cabalista espanhol do século XIII, escreveu: 'As dez sefirot
são o segredo da existência, o aparato da sa ...

PERGAMINHO CABALÍSTICO, 1605 - OXFORD LIBRARY

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Edição 29 Junho de 2000


Rabi Moisés de Leon, cabalista espanhol do século XIII,
escreveu: 'As dez sefirot são o segredo da existência, o aparato
da sabedoria, o meio pelo qual os mundos de cima e de baixo
foram criados.

Segundo o Zohar, D´us deu forma e conteúdo à Sua Criação através das dez
sefirot. Toda a realidade, tanto espiritual quanto material, é criada por meio
destas que são vistas como "forças fundamentais", "recipientes" da atividade
de D´us. As sefirot são "canais" através dos quais a energia Divina flui, permeia
e se torna parte de cada coisa que existe, criando assim uma "corrente
espiritual" que liga e vivifica todas as coisas, impregnando-as da Essência
Divina. As leis que regem o fluxo destas energias foram estabelecidas durante
o processo da Criação, que pode ser vista como uma progressiva
transformação de níveis de energia espiritual. Nesta progressiva
transformação, foram criados universos espirituais paralelos, sendo o nosso
mundo o último desta corrente.

Em nosso mundo, a Luz está mais afastada da sua Fonte Divina, portanto D´us
está mais "escondido" de nós e, por isso, este mundo é espiritualmente inferior
aos outros. Mas, ao mesmo tempo, é superior por ser a meta e o fim da Criação
Divina. Nele, o homem -única criatura com livre arbítrio - pode afetar, por meio
de suas ações, o fluxo das Energias Divinas, criando mudanças de grande
proporções em outros mundos. Com isto poderá aperfeiçoar o Cosmo e fazer
com que a Criação vá aproximando-se de sua meta Divina.

Nos textos cabalísticos podemos encontrar enumeradas onze sefirot. No


entanto, como duas destas - Keter e Da'at - representam dimensões diferentes
de uma mesma força, ambas se excluem mutuamente. Por isso, a tradição
geralmente fala de dez sefirot. O Zohar, Livro do Esplendor, a obra central da
Cabalá, de autoria do Rabi Shimon Bar Yochai (séc II EC) e, mais tarde, a
doutrina de Rabi Isaac Luria centram-se nas sefirot. Seu conceito aparece em
outras obras como o Sefer Yetsirá, atribuída ao patriarca Abraão, e o Sefer Ha-
Bahir de autoria de Rabi Nechunia ben ha-Kanah.
As sefirot parecem estar envolvidas em um mistério, de difícil compreensão, já
que além de serem puramente espirituais, possuem inúmeros e complexos
níveis de significado, inúmeras interpretações e implicações. Podemos até
vislumbrar como agem, mas só alguns sábios espiritualmente elevados,
verdadeiros mestres da Torá, chegam a compreender sua essência e seus
segredos.

Por que, então, estudar ou se preocupar com assunto tão indecifrável? Porque,
como escreveu Rabi Moisés de Leon, as sefirot são o segredo da existência e
de nós mesmos, o segredo de como nos aperfeiçoamos, aperfeiçoando, ao
mesmo tempo, o mundo à nossa volta.

O que é uma sefirá

Cada sefirá é um modo ou um poder específico através do qual D'us governa e


sustenta o Universo. Por isso, as sefirot podem ser consideradas como
"atributos" ou "qualidades", ou ainda, "vestimentas" Divinas. Quando pedimos a
D´us que use conosco de Sua Bondade Absoluta e nos abençoe com a Sua
Abundância, estamos pedindo para que Ele se releve através do atributo da
sefirá Chessed.

Podemos dizer que as sefirot são a "matéria-prima" do Cosmo, o "código


genético" que pode ser identificado em todos os níveis e dentro de todos os
aspectos da Criação. Tudo o que foi criado - do mais espiritual ao mais
material, do maior ao menor - toma forma através das sefirot. Segundo nossos
sábios místicos, por este motivo elas constituem o paradigma conceitual para
se entender a Criação.

O Rabi Isaac Luria, o Arizal, afirmava que as sefirot são "tanto os instrumentos
que D´us usa para dirigir o mundo, quanto as janelas através das quais
podemos perceber o Divino".

A palavra sefirá é relacionada com várias palavras hebraicas: Saper, que


significa revelar ou se comunicar; Sapir, safira, brilho ou luminárias; Safar,
contagem, número, e também com Sefar, que significa limite, fronteira. Em sua
essência, todas estas palavras têm conceitos inter-relacionados e apontam
para duas funções básicas das sefirot.

Em primeiro lugar são "luzes" (orot). A luz de uma sefirá é o fluxo de energia
Divina que está em seu interior e serve para revelar ou expressar a
grandiosidade Divina. Em segundo lugar são "vasos" ou "recipientes" (kelim)
que "filtram" ou "revestem" a Luz Infinita que as preenche. Trazem esta Luz
desde a Fonte de Todas as Fontes, Raiz de todas as Raízes, D´us Infinito, o Ein
Sof, até nosso mundo finito. Sem estes "filtros" ou "vestimentas" a Criação
seria totalmente dominada pela Luz Divina. Em sua trajetória espiritual, a Luz
vai diminuindo, possibilitando que a Criação se aproxime do Criador.

Para tentar entender estes conceitos, pensemos por um instante no sol, uma
das menores estrelas criadas por D´us neste universo. Apesar de posicionado
a milhões de quilômetros da Terra, sua energia nos dá luz e calor
indispensáveis. Mas, se tentarmos fitá-lo, sem proteção, sua luz nos cegará.
Imaginemos uma nave espacial tentando aproximar-se do sol. O calor e a
energia a aniquilariam !

Do ponto de vista humano, as sefirot podem parecer possuir existência múltipla


e independente. Uma sefirá representa a força e o poder do julgamento
rigoroso; outra, a bondade e o amor; outra, a misericórdia e assim por diante.
Porém, as sefirot e o Ein Sof formam uma unidade, uma existência única.

Moisés Cordovero, cabalista do século XV escreveu a este respeito: "Para


ajudar-te a conceber o processo da emanação das sefirot, imagina a água que
escorre por vasos de diferentes cores: branco, vermelho, verde e assim por
diante. À medida em que a água se espalha nesses vasos, parece adquirir a cor
do vaso, embora seja desprovida de cor. A mudança na cor não afeta a água
em si, mas apenas a nossa percepção da mesma. O mesmo acontece com as
sefirot. A essência não muda; só parece mudar quando escorre dentro dos
vasos ".

De onde vêm? O processo de emanação

Numa interpretação mística, o primeiro capítulo de Gênese, ao relatar a


Criação, descreve um início, o mais primordial: revela o processo da saída de
D'us das profundezas Dele mesmo e a emanação das dez sefirot, ou seja, sua
emergência de dentro do Ein Sof, D´us Infinito.

Para se referir a D'us os cabalistas mais antigos cunharam o termo Ein Sof, que
significa literalmente "Infinito" ou "Aquele que não tem fim nem limite". Um dos
axiomas básicos da Cabala é que o homem não tem meios de entender D´us,
Infinito e Imutável, nem tão pouco os Seus motivos. Porém, apesar de D'us ser
ilimitado e oculto, Ele se revela a nós parcialmente - e na medida em que cada
um de nós pode reconhecer o Seu poder e a Sua existência - através da
Criação e das dez sefirot. Em contraste com este D'us "pessoal" das sefirot, Ein
Sof representa a transcendência absoluta de D'us.

Segundo o Rabi Isaac Luria, "no início do início" a Luz de D'us Infinito, Or Ein
Sof, preenchia toda a realidade, pois D'us é a própria Realidade, sem início e
sem fim. Nada havia além da Luz Divina, pois nada pode manter sua própria
existência dentro do Ein Sof. Para que o universo passasse a existir como
entidade independente, D'us Se "ocultou" e Se "retraiu", cedendo espaço para
a Sua Criação. Esta ação não diminui, de modo algum, a Perfeição Divina. Este
conceito de ocultamento da Luz Divina é chamado nos textos cabalísticos de
tzimtzum (contração). Esta "contração" resultou no aparecimento de um
"espaço" vazio, um "vácuo", um "ponto" no qual o universo passou então a
existir.

Rabi Haim Vital, cabalista e discípulo do Ari, ao explicar o processo dessa


retração Divina, tzimtzum, dá o seguinte exemplo: "A Luz retirou-se como a
água de uma lagoa quando agitada por uma pedra. Quando a pedra cai na
lagoa, a água que está naquele exato lugar não desaparece, mas se afasta,
incorporando-se ao restante. Desta forma, a Luz retraída convergiu-se para o
além e no meio ficou o vácuo".

No vácuo primordial criado por este tzimtzum passou a existir a ausência da


Luz, a escuridão primordial. Neste "vácuo", D'us emanou um "raio" que serviu
de "condutor" da Luz Divina finita. A revelação inicial dentro do "vazio"
primordial é a revelação da Luz. Em Gênese, a primeira declaração explícita da
Criação foi: "D'us disse: Faça-se a luz e a luz se fez".

A partir deste "raio" de Luz, as dez sefirot emanam de forma sucessiva e em


ordem específica. É através destas que D'us - por Sua vontade - limita Sua Luz
e manifesta qualidades específicas que Suas criaturas podem apreender e
absorver.

De uma forma simplificada, no decorrer do processo de emanação das sefirot


são criados cinco universos paralelos - olamot, quase todos espirituais em sua
essência. O primeiro Adam Kadmon é completamente ligado e unido ao Ein Sof,
na realidade não poderia ser chamado de universo. Segue-se o Atzilut, o
mundo da emanação; Beriyá, da criação, Yetzirá, da formação, e, por último,
Assiyá, o mundo da ação no qual vivemos.

As Dez Emanações Divinas

Apesar de D'us ter-Se "ocultado", continua intimamente conectado à Sua


Criação, pois sem Ele nada existe. Como vimos, agindo como um canal de
ligação entre D'us e Sua Criação, as sefirot permitem a D'us , Infinito e
Ilimitado, interagir com Sua Criação, finita e limitada. É através destas que o
Ser Absoluto se revela e se conecta com Sua Criação. A simples relação de
seus nomes não vai transmitir adequadamente sua essência. Além disso, temos
que ter em mente que as imagens e símbolos são usados apenas para nossa
compreensão, pois não expressam o mistério da Criação e tem que ter cuidado
ao abstrair os conceitos.

A configuração gráfica das sefirot, em textos cabalísticos, é uma composição


vertical ao longo de três eixos paralelos. Textos cabalísticos usam vários
nomes quando referem-se à mesma: uma árvore (etz), uma escada (sulam) ou
a "imagem celestial de D´us" - (tzelem Elokim).

Neste caso a configuração lembra um corpo humano. Segue-se a ordem de


emanação das sefirot:
Keter, coroa - representa a onipotência e onipresença de D'us ; a Vontade
Divina Absoluta; a Soberania e Autoridade de D'us sobre todas as forças da
Criação. É a primeira e mais elevada das sefirot e está além de qualquer
compreensão. De tão inexprimível, às vezes nem é incluída entre as dez sefirot.
É a mais próxima da Fonte Divina, é a base de toda a Criação. Keter transcende
as leis que governam o universo, pois estas só passam a existir após a
emanação das sefirot de Chochmá e Biná. A Cabalá refere-se a esta sefirá
como o "mundo da Misericórdia".

Chochmá, sabedoria - é o pensamento puro que D'us utiliza para o


funcionamento do universo. É o poder da Luz Original, a força primordial usada
para criar os céus e a terra. Chochmá é a inspiração inicial da qual o Cosmo
evoluiu. É vista como "a planta" usada para a criação do universo físico e
espiritual, pois contém - potencialmente - todas as leis que vão reger a Criação
e os axiomas que determinam como estas leis funcionam. É a raiz dos
elementos espirituais: fogo, água, terra e ar. Sua essência é também
incompreensível para nós.

Biná, entendimento, a compreensão, a lógica. Com sua emanação, é criado o


sistema lógico pelo qual os axiomas de Chochmá são delineados e definidos. É
através da Biná que podemos começar a entender os axiomas tanto da Criação
quanto do nosso próprio ser.
Da'at, conhecimento; a "lógica aplicada" de modo diferente das duas
anteriores. Não é apenas o acúmulo, mas também a soma de tudo o que é
conhecido. É a capacidade de juntar as informações básicas e fazê-las
funcionar logicamente.

Quando Keter se manifesta, D'aat se oculta, já que são manifestações interna e


externa, respectivamente, da mesma força.

Chessed, graça, amor e bondade que nos beneficiam; a grandeza (Guedulá) do


amor. Esta sefirá representa o dar incondicional, o altruísmo, o impulso
incontrolável de expansão. É D'us dando-se às Suas criaturas de forma
irrestrita, abrindo todas as portas da Sua Abundância. D'us usou este atributo
como o instrumento supremo no processo da Criação.

Guevurá - poder, justiça, o julgamento severo (Din); as forças para disciplinar a


criação. Guevurá representa a contração, a restrição, a criação de barreiras. A
"auto-limitação" Divina foi indispensável para a criação do Cosmo. A Cabalá se
refere a esta como midat hadin, a medida ou atributo do julgamento, do rigor.

Esta sefirá direciona a energia espiritual para atingir uma meta específica. É a
força que permite o controle para podermos vencer tanto nossos inimigos
internos quanto os externos.

Tiferet, beleza, no sentido da harmonia. É a combinação da harmonia e da


verdade, dando espaço para a compaixão. Esta sefirá está associada com o
poder de conciliar as inclinações conflitantes de Chessed e Guevurá, para que
haja compaixão. Na Cabalá é designada como midat harachamim, "o atributo
da misericórdia". A alma do homem emana desta sefirá pela união desta
qualidade com Malchut, o corpo.
Netzach, vitória, eternidade, resistência. Esta sefirá representa a imposição
Divina. É o domínio, a conquista ou a capacidade de vencer. Representa o
motivo primeiro da Criação: a capacidade de vencer o mal.

Hod, esplendor, empatia. Esta sefirá permite que o poder e energia repassados
sejam apropriados e aceitáveis a quem os recebe. É responsável pela criação
dentro de uma relação do espaço deixado para o outro. A qualidade espiritual
de Hod salienta o atributo da humildade e reconhecimento. Hod representa
também a submissão que permite a existência do mal.

Yesod, fundação; alicerce representa a reciprocidade ideal numa relação. É o


meio de comunicação, o veículo de transporte de uma condição para outra.
Representa o lugar do prazer espiritual e físico; o vínculo mais poderoso que
pode existir entre dois indivíduos, assim como entre o homem e D'us: a aliança
entre D'us e Israel: o Brit Milá.

Malchut, reinado. É a Schechiná, o aspecto imanente de D'us neste mundo. É o


mundo revelado onde o potencial latente é concretizado. É o poder que D'us
nos deu de receber Dele. Como símbolo do receber, esta sefirá é caracterizada
como aquela que não tem nada próprio. É um keli, um mero recipiente. Malchut
é o último elemento de uma corrente que se inicia na Vontade Divina e
encontra sua realização neste mundo. Aquele que recebe pode dar de volta,
tornando-se além de receptor, um doador.

As sefirot são refletidas no homem e desta forma o homem compartilha o


Divino. A pessoa que somos é determinada pelas sefirot no mundo da ação,
pois são as bases de nossa personalidade individual. O "cabo condutor" ou o
canal através do qual estas se manifestam, é a nossa alma.
Junho 2000
Ed. 29

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