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SEFIROT, AS DEZ EMANAÇÕES DIVINAS

Rabi Moisés de Leon, cabalista espanhol do século XIII, escreveu: 'As dez sefirot são
o segredo da existência, o aparato da sabedoria, o meio pelo qual os mundos de cima e
de baixo foram criados.
Edição 29 - Junho de 2000

Segundo o Zohar, D´us deu forma e conteúdo à Sua Criação através das dez sefirot.
Toda a realidade, tanto espiritual quanto material, é criada por meio destas que são
vistas como "forças fundamentais", "recipientes" da atividade de D´us. As sefirot são
"canais" através dos quais a energia Divina flui, permeia e se torna parte de cada coisa
que existe, criando assim uma "corrente espiritual" que liga e vivifica todas as coisas,
impregnando-as da Essência Divina. As leis que regem o fluxo destas energias foram
estabelecidas durante o processo da Criação, que pode ser vista como uma progressiva
transformação de níveis de energia espiritual. Nesta progressiva transformação, foram
criados universos espirituais paralelos, sendo o nosso mundo o último desta corrente.
Em nosso mundo, a Luz está mais afastada da sua Fonte Divina, portanto D´us está
mais "escondido" de nós e, por isso, este mundo é espiritualmente inferior aos outros.
Mas, ao mesmo tempo, é superior por ser a meta e o fim da Criação Divina. Nele, o
homem -única criatura com livre arbítrio - pode afetar, por meio de suas ações, o fluxo
das Energias Divinas, criando mudanças de grande proporções em outros mundos.
Com isto poderá aperfeiçoar o Cosmo e fazer com que a Criação vá aproximando-se
de sua meta Divina.
Nos textos cabalísticos podemos encontrar enumeradas onze sefirot. No entanto, como
duas destas - Keter e Da'at - representam dimensões diferentes de uma mesma força,
ambas se excluem mutuamente. Por isso, a tradição geralmente fala de dez sefirot. O
Zohar, Livro do Esplendor, a obra central da Cabalá, de autoria do Rabi Shimon Bar
Yochai (séc II EC) e, mais tarde, a doutrina de Rabi Isaac Luria centram-se nas sefirot.
Seu conceito aparece em outras obras como o Sefer Yetsirá, atribuída ao patriarca
Abraão, e o Sefer Ha-Bahir de autoria de Rabi Nechunia ben ha-Kanah.
As sefirot parecem estar envolvidas em um mistério, de difícil compreensão, já que
além de serem puramente espirituais, possuem inúmeros e complexos níveis de
significado, inúmeras interpretações e implicações. Podemos até vislumbrar como
agem, mas só alguns sábios espiritualmente elevados, verdadeiros mestres da Torá,
chegam a compreender sua essência e seus segredos.
Por que, então, estudar ou se preocupar com assunto tão indecifrável? Porque, como
escreveu Rabi Moisés de Leon, as sefirot são o segredo da existência e de nós
mesmos, o segredo de como nos aperfeiçoamos, aperfeiçoando, ao mesmo tempo, o
mundo à nossa volta.
O que é uma sefirá
Cada sefirá é um modo ou um poder específico através do qual D'us governa e
sustenta o Universo. Por isso, as sefirot podem ser consideradas como "atributos" ou
"qualidades", ou ainda, "vestimentas" Divinas. Quando pedimos a D´us que use
conosco de Sua Bondade Absoluta e nos abençoe com a Sua Abundância, estamos
pedindo para que Ele se releve através do atributo da sefirá Chessed.
Podemos dizer que as sefirot são a "matéria-prima" do Cosmo, o "código genético"
que pode ser identificado em todos os níveis e dentro de todos os aspectos da Criação.
Tudo o que foi criado - do mais espiritual ao mais material, do maior ao menor - toma
forma através das sefirot. Segundo nossos sábios místicos, por este motivo elas
constituem o paradigma conceitual para se entender a Criação.
O Rabi Isaac Luria, o Arizal, afirmava que as sefirot são "tanto os instrumentos que D
´us usa para dirigir o mundo, quanto as janelas através das quais podemos perceber o
Divino".
A palavra sefirá é relacionada com várias palavras hebraicas: Saper, que significa
revelar ou se comunicar; Sapir, safira, brilho ou luminárias; Safar, contagem, número,
e também com Sefar, que significa limite, fronteira. Em sua essência, todas estas
palavras têm conceitos inter-relacionados e apontam para duas funções básicas das
sefirot.

Em primeiro lugar são "luzes" (orot). A luz de uma sefirá é o fluxo de energia Divina
que está em seu interior e serve para revelar ou expressar a grandiosidade Divina. Em
segundo lugar são "vasos" ou "recipientes" (kelim) que "filtram" ou "revestem" a Luz
Infinita que as preenche. Trazem esta Luz desde a Fonte de Todas as Fontes, Raiz de
todas as Raízes, D´us Infinito, o Ein Sof, até nosso mundo finito. Sem estes "filtros"
ou "vestimentas" a Criação seria totalmente dominada pela Luz Divina. Em sua
trajetória espiritual, a Luz vai diminuindo, possibilitando que a Criação se aproxime
do Criador.
Para tentar entender estes conceitos, pensemos por um instante no sol, uma das
menores estrelas criadas por D´us neste universo. Apesar de posicionado a milhões de
quilômetros da Terra, sua energia nos dá luz e calor indispensáveis. Mas, se tentarmos
fitá-lo, sem proteção, sua luz nos cegará. Imaginemos uma nave espacial tentando
aproximar-se do sol. O calor e a energia a aniquilariam !
Do ponto de vista humano, as sefirot podem parecer possuir existência múltipla e
independente. Uma sefirá representa a força e o poder do julgamento rigoroso; outra, a
bondade e o amor; outra, a misericórdia e assim por diante. Porém, as sefirot e o Ein
Sof formam uma unidade, uma existência única.
Moisés Cordovero, cabalista do século XV escreveu a este respeito: "Para ajudar-te a
conceber o processo da emanação das sefirot, imagina a água que escorre por vasos de
diferentes cores: branco, vermelho, verde e assim por diante. À medida em que a água
se espalha nesses vasos, parece adquirir a cor do vaso, embora seja desprovida de cor.
A mudança na cor não afeta a água em si, mas apenas a nossa percepção da mesma. O
mesmo acontece com as sefirot. A essência não muda; só parece mudar quando
escorre dentro dos vasos ".
De onde vêm? O processo de emanação
Numa interpretação mística, o primeiro capítulo de Gênese, ao relatar a Criação,
descreve um início, o mais primordial: revela o processo da saída de D'us das
profundezas Dele mesmo e a emanação das dez sefirot, ou seja, sua emergência de
dentro do Ein Sof, D´us Infinito.
Para se referir a D'us os cabalistas mais antigos cunharam o termo Ein Sof, que
significa literalmente "Infinito" ou "Aquele que não tem fim nem limite". Um dos
axiomas básicos da Cabala é que o homem não tem meios de entender D´us, Infinito e
Imutável, nem tão pouco os Seus motivos. Porém, apesar de D'us ser ilimitado e
oculto, Ele se revela a nós parcialmente - e na medida em que cada um de nós pode
reconhecer o Seu poder e a Sua existência - através da Criação e das dez sefirot. Em
contraste com este D'us "pessoal" das sefirot, Ein Sof representa a transcendência
absoluta de D'us.
Segundo o Rabi Isaac Luria, "no início do início" a Luz de D'us Infinito, Or Ein Sof,
preenchia toda a realidade, pois D'us é a própria Realidade, sem início e sem fim.
Nada havia além da Luz Divina, pois nada pode manter sua própria existência dentro
do Ein Sof. Para que o universo passasse a existir como entidade independente, D'us
Se "ocultou" e Se "retraiu", cedendo espaço para a Sua Criação. Esta ação não
diminui, de modo algum, a Perfeição Divina. Este conceito de ocultamento da Luz
Divina é chamado nos textos cabalísticos de tzimtzum (contração). Esta "contração"
resultou no aparecimento de um "espaço" vazio, um "vácuo", um "ponto" no qual o
universo passou então a existir.
Rabi Haim Vital, cabalista e discípulo do Ari, ao explicar o processo dessa retração
Divina, tzimtzum, dá o seguinte exemplo: "A Luz retirou-se como a água de uma
lagoa quando agitada por uma pedra. Quando a pedra cai na lagoa, a água que está
naquele exato lugar não desaparece, mas se afasta, incorporando-se ao restante. Desta
forma, a Luz retraída convergiu-se para o além e no meio ficou o vácuo".
No vácuo primordial criado por este tzimtzum passou a existir a ausência da Luz, a
escuridão primordial. Neste "vácuo", D'us emanou um "raio" que serviu de "condutor"
da Luz Divina finita. A revelação inicial dentro do "vazio" primordial é a revelação da
Luz. Em Gênese, a primeira declaração explícita da Criação foi: "D'us disse: Faça-se a
luz e a luz se fez".
A partir deste "raio" de Luz, as dez sefirot emanam de forma sucessiva e em ordem
específica. É através destas que D'us - por Sua vontade - limita Sua Luz e manifesta
qualidades específicas que Suas criaturas podem apreender e absorver.
De uma forma simplificada, no decorrer do processo de emanação das sefirot são
criados cinco universos paralelos - olamot, quase todos espirituais em sua essência. O
primeiro Adam Kadmon é completamente ligado e unido ao Ein Sof, na realidade não
poderia ser chamado de universo. Segue-se o Atzilut, o mundo da emanação; Beriyá,
da criação, Yetzirá, da formação, e, por último, Assiyá, o mundo da ação no qual
vivemos.
As Dez Emanações Divinas
Apesar de D'us ter-Se "ocultado", continua intimamente conectado à Sua Criação, pois
sem Ele nada existe. Como vimos, agindo como um canal de ligação entre D'us e Sua
Criação, as sefirot permitem a D'us , Infinito e Ilimitado, interagir com Sua Criação,
finita e limitada. É através destas que o Ser Absoluto se revela e se conecta com Sua
Criação. A simples relação de seus nomes não vai transmitir adequadamente sua
essência. Além disso, temos que ter em mente que as imagens e símbolos são usados
apenas para nossa compreensão, pois não expressam o mistério da Criação e tem que
ter cuidado ao abstrair os conceitos.
A configuração gráfica das sefirot, em textos cabalísticos, é uma composição vertical
ao longo de três eixos paralelos. Textos cabalísticos usam vários nomes quando
referem-se à mesma: uma árvore (etz), uma escada (sulam) ou a "imagem celestial de
D´us" - (tzelem Elokim).
Neste caso a configuração lembra um corpo humano. Segue-se a ordem de emanação
das sefirot:
Keter, coroa - representa a onipotência e onipresença de D'us ; a Vontade Divina
Absoluta; a Soberania e Autoridade de D'us sobre todas as forças da Criação. É a
primeira e mais elevada das sefirot e está além de qualquer compreensão. De tão
inexprimível, às vezes nem é incluída entre as dez sefirot. É a mais próxima da Fonte
Divina, é a base de toda a Criação. Keter transcende as leis que governam o universo,
pois estas só passam a existir após a emanação das sefirot de Chochmá e Biná. A
Cabalá refere-se a esta sefirá como o "mundo da Misericórdia".
Chochmá, sabedoria - é o pensamento puro que D'us utiliza para o funcionamento do
universo. É o poder da Luz Original, a força primordial usada para criar os céus e a
terra. Chochmá é a inspiração inicial da qual o Cosmo evoluiu. É vista como "a planta"
usada para a criação do universo físico e espiritual, pois contém - potencialmente -
todas as leis que vão reger a Criação e os axiomas que determinam como estas leis
funcionam. É a raiz dos elementos espirituais: fogo, água, terra e ar. Sua essência é
também incompreensível para nós.
Biná, entendimento, a compreensão, a lógica. Com sua emanação, é criado o sistema
lógico pelo qual os axiomas de Chochmá são delineados e definidos. É através da Biná
que podemos começar a entender os axiomas tanto da Criação quanto do nosso próprio
ser.
Da'at, conhecimento; a "lógica aplicada" de modo diferente das duas anteriores. Não é
apenas o acúmulo, mas também a soma de tudo o que é conhecido. É a capacidade de
juntar as informações básicas e fazê-las funcionar logicamente.
Quando Keter se manifesta, D'aat se oculta, já que são manifestações interna e externa,
respectivamente, da mesma força.
Chessed, graça, amor e bondade que nos beneficiam; a grandeza (Guedulá) do amor.
Esta sefirá representa o dar incondicional, o altruísmo, o impulso incontrolável de
expansão. É D'us dando-se às Suas criaturas de forma irrestrita, abrindo todas as portas
da Sua Abundância. D'us usou este atributo como o instrumento supremo no processo
da Criação.
Guevurá - poder, justiça, o julgamento severo (Din); as forças para disciplinar a
criação. Guevurá representa a contração, a restrição, a criação de barreiras. A "auto-
limitação" Divina foi indispensável para a criação do Cosmo. A Cabalá se refere a esta
como midat hadin, a medida ou atributo do julgamento, do rigor.
Esta sefirá direciona a energia espiritual para atingir uma meta específica. É a força
que permite o controle para podermos vencer tanto nossos inimigos internos quanto os
externos.
Tiferet, beleza, no sentido da harmonia. É a combinação da harmonia e da verdade,
dando espaço para a compaixão. Esta sefirá está associada com o poder de conciliar as
inclinações conflitantes de Chessed e Guevurá, para que haja compaixão. Na Cabalá é
designada como midat harachamim, "o atributo da misericórdia". A alma do homem
emana desta sefirá pela união desta qualidade com Malchut, o corpo.
Netzach, vitória, eternidade, resistência. Esta sefirá representa a imposição Divina. É o
domínio, a conquista ou a capacidade de vencer. Representa o motivo primeiro da
Criação: a capacidade de vencer o mal.
Hod, esplendor, empatia. Esta sefirá permite que o poder e energia repassados sejam
apropriados e aceitáveis a quem os recebe. É responsável pela criação dentro de uma
relação do espaço deixado para o outro. A qualidade espiritual de Hod salienta o
atributo da humildade e reconhecimento. Hod representa também a submissão que
permite a existência do mal.

Yesod, fundação; alicerce representa a reciprocidade ideal numa relação. É o meio de


comunicação, o veículo de transporte de uma condição para outra. Representa o lugar
do prazer espiritual e físico; o vínculo mais poderoso que pode existir entre dois
indivíduos, assim como entre o homem e D'us: a aliança entre D'us e Israel: o Brit
Milá.
Malchut, reinado. É a Schechiná, o aspecto imanente de D'us neste mundo. É o mundo
revelado onde o potencial latente é concretizado. É o poder que D'us nos deu de
receber Dele. Como símbolo do receber, esta sefirá é caracterizada como aquela que
não tem nada próprio. É um keli, um mero recipiente. Malchut é o último elemento de
uma corrente que se inicia na Vontade Divina e encontra sua realização neste mundo.
Aquele que recebe pode dar de volta, tornando-se além de receptor, um doador.
As sefirot são refletidas no homem e desta forma o homem compartilha o Divino. A
pessoa que somos é determinada pelas sefirot no mundo da ação, pois são as bases de
nossa personalidade individual. O "cabo condutor" ou o canal através do qual estas se
manifestam, é a nossa alma.

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