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Visão Espiritual
Abrir os olhos da alma para enxergar Hashem não acontece de uma hora para
outra, mesmo quando não há mais vendas espirituais.
É como uma pessoa que esteve em um quarto escuro por muito tempo c depois sai
de casa sob a forte luz do sol.
Os olhos precisam de tempo para se adaptar e ajustar o foco.
É preciso um pouco de paciência para aprender novas maneiras de enxergar.
Filhos da mentira
Somos filhos de Adão e Eva, e nos sentimos isolados, independentes e separados
de toda a realidade na qual realmente encontramos nosso ser.
Essa experiência solitária é a mentira da serpente, fonte de muita dor e maldade
neste mundo.
A Cabalá denomina a força do mal como ―sitra achra‖, que significa ―o outro lado",
e sua mensagem principal é que Hashem e nós estamos em lados opostos.
Mas quando reconhecemos que essa poderosa ilusão é falsa, vemos que Hashem
está sempre e somente do nosso lado.
Não há dois lados, apenas unidade e totalidade.
O mundo material parece denso e opaco porque vemos a realidade sob uma
perspectiva muito limitada.
Enxergamos apenas uma parte da figura total, um fragmento da realidade, fora do
contexto da Realidade Suprema que é Hashem.
O que vemos todo dia são detalhes fora de contexto, que pensamos ser todo o
conjunto.
Por causa da limitação da nossa visão, tudo parece duro, sólido — cada objeto
distinto, separado, desconexo.
De acordo com os físicos, essa percepção não é nem um pouco correta.
Nosso mundo é, na verdade, composto por energia.
Até mesmo as coisas que parecem ser totalmente sólidas, como as pedras, são
colméias fervilhantes de prótons e elétrons que apenas parecem estáveis por causa
de sua densidade.
Ainda mais fascinante é que a pedra e o pássaro são formados pelos mesmos
elementos, em combinações diferentes.
Se pudéssemos ver com olhos superbiônicos, veríamos a dança da energia dentro
de cada elemento da Criação.
Talvez Vincent Van Gogh tenha captado um pouco desse conceito quando pintou o
quadro Noite Estrelada; suas estrelas não são pontos de luz no céu, mas
redemoinhos de energia.
E como o telescópio Hubble demonstrou, isso é o que as estrelas realmente são.
No entanto, quase sempre a nossa visão limitada nos impede de ver a dança de
energia e a união que permeia tudo.
Parece que existimos em um mundo diferente da verdadeira realidade.
O que cria essa ilusão?
Segundo a Cabala, é a nossa atitude de separação que cria para nós mesmos um
mundo de ―clipót‖, termo hebraico que significa "cascas duras".
Ficamos envolvidos em "cascas duras" que nos separam de Hashem.
O que vou dizer pode causar espanto, mas a Cabala ensina que, no futuro, vamos
perceber que estávamos no Jardim do Éden o tempo todo.
Parece que abandonamos o paraíso porque fechamos os olhos da alma para ele.
É como se tivéssemos entrado em uma caverna escura, dura e fria, pensando que
essa "casca dura" nos protegeria.
Apenas escolhemos viver no mundo das fronteiras "duras", em vez de no mundo da
unidade.
Ao limitarmos a visão, entramos em uma espécie de "prisão da percepção".
Apesar de não sentir a verdadeira realidade, continuamos a existir na Realidade
Suprema.
Olhos de admiração
Já estabelecemos que, para ver Hashem, temos de aprender a ver a totalidade.
Discutimos o que "totalidade" quer dizer, mas ainda não falamos sobre como isso
pode acontecer.
Para enxergar a totalidade é preciso olhos de admiração.
Olhos de admiração são olhos de inocência, olhos não cansados e obscurecidos por
preconceitos e ideias que não têm nada a ver com a realidade do que existe.
Muitos adultos se esqueceram do estado de consciência chamado admiração.
Temos que reaprendê-lo com os ingênuos — bebês, crianças, nossos filhos — antes
que eles também sejam contaminados pelos conceitos antropomórficos dos adultos.
Enquanto ainda são inocentes, as crianças podem nos ensinar a ver Hashem.
Elas veem Hashem mais do que nós.
Diz-se que, antigamente, os profetas tinham que ser "adultos-crianças".
O profeta era um adulto que se desenvolveu intelectualmente, mas não perdeu a
sensibilidade, a surpresa e o encantamento que as crianças experimentam
constantemente.
Divirto-me bastante assistindo a meus filhos olharem o mundo.
Meu bebê olha cada objeto como se nunca o tivesse visto antes.
E fica tão maravilhado...
Ele pode olhar as próprias mãos, por muito tempo, como se fossem a coisa mais
fascinante.
E apenas ri.
O que é que as crianças veem?
Certa vez eu estava caminhando pela rua com o meu filho de dois anos.
Ele olhou para cima e viu algo voando no céu.
Ele estava aprendendo a falar, então disse em seu hebraico ainda limitado:
"Aba, ze", que significa "papai, isso".
Olhei para cima e disse: "Ah, é um pássaro."
Meu filho repetiu: "Pássaro."
Senti-me ótimo; sou um adulto ensinando uma criança a ver o mundo e a dizer a
palavra "pássaro".
Então, outro pássaro passou voando.
Meu filho disse: "Aba, ze."
Respondi: "Aquilo também é um pássaro."
Eu podia ver nos olhos dele a confusão.
Como os dois podem ser pássaros?
São tão diferentes...
Veja o que aconteceu — estamos acostumados a viver a realidade rotulando tudo.
Paramos de ver essa criatura maravilhosa e única; apenas lhe damos um rótulo —
"pássaro".
Fazemos rotulagens existenciais.
Não nos importa o que diz o documento, só queremos saber onde arquivá-lo.
Aquela criatura vai na ficha "pássaro".
Pronto.
Não enxergamos mais o indescritível "isso".
Segundo a Cabala, em alguns pontos da Torá o termo "aquilo" alude a Hashem.
O objetivo é enxergar "Aquilo" sem rótulos, sem Preconceitos.
Rótulos não permitem que vivenciemos a realidade diretamente; eles apagam
nossa visão e não nos deixam ver Hashem.
Temos de nos treinar para ver aquilo que é sem defini-lo ou compará-lo a qualquer
outra coisa.
As crianças têm essa capacidade.
Elas enxergam tudo de modo puro e único.
Inventamos tantos rótulos e definições que pensamos conhecer tudo o que
encontramos.
Mas são as crianças que sabem das coisas.
Elas sabem que não sabem o que é.
E essa abertura permite que realmente vejam o que estão olhando.
Muitas vezes as crianças veem algo e ficam cheias de admiração.
O que significa encher-se de admiração?
É algo como ver fogos de artifício.
Quando vemos, dizemos "ohhhhhhhh", "ahhhhhhhh".
O fascínio é tanto que ficamos sem palavras. Admiração é quando você vê uma
cachoeira, um arco-íris, um mar revolto ou um bebê recém-nascido e fica
completamente dominado por sentimentos de reverência e espanto, ou quando fica
tão maravilhado com a magnificência e inspiração de Hashem que só consegue
dizer "ahhhh".
Esse é o início de se ver Hashem.
É o princípio da visão da realidade, do que é real, e não do mundo através dos
filtros de interpretações e categorizações.
Esse é o começo para se ver a totalidade com olhos de admiração.
Foi aí que Adão e Eva se enganaram.
Ao comer da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal, eles adquiriram um
conjunto de definições e rótulos que rompeu a visão da totalidade em pedaços
separados.
Isso não significa que Hashem não queria que eles adquirissem conhecimentos —
não é por isso que a árvore era proibida —, Hashem queria que eles vissem a
totalidade primeiro com olhos de admiração.
Eles viam a totalidade, mas não sabiam que um dia poderiam deixar de vê-la.
Não se admiravam diante dela; ainda não viam nela a maravilha que precisavam
vivenciar.
Adão e Eva estragaram o plano ao comer da árvore.
Nunca aproveitaram para ver a totalidade com olhos de admiração sem a
interferência de conhecimento, palavras e ideias.
A Cabalá explica que Hashem tinha toda a intenção de dar aos primeiros seres
humanos a oportunidade de comer da árvore.
Mas não antes da admiração.
O inesperado
Um dos obstáculos para ver a realidade é a resistência ao novo e ao inesperado, às
inovações que não cabem em nossos velhos e estimados conceitos.
Não sabemos como olhar as coisas com novos olhos de admiração
Há uma maravilhosa parábola sobre uma pomba que ilustra o perigo de forçar tudo
o que é novo em nossos velhos conceitos.
Conta-se que, originalmente, as pombas não tinham asas.
Era uma vez uma pobre pomba, sempre perseguida por um leão.
Todos os dias o leão corria atrás da pomba e ela escapava por um triz.
Um dia, a pomba rezou para Hashem: "Hashem, sou uma pequena pomba. Não
posso escapar desse leão todo dia. Um dia ele vai conseguir me pegar. Preciso de
ajuda. Por favor, Hashem, me ajude."
Hashem respondeu às preces da pombinha.
Ela acordou na manhã seguinte e descobriu que tinha ganhado asas.
"Uau! Olha só isso! Maravilha!"
Com as asas ela escaparia do leão, e já se sentia segura e confiante.
Assim que viu o leão, gritou: "Ei, estou aqui! Há, há, há, estou aqui!"
Ali estava a pomba, imponente, planejando esperar o leão chegar bem perto para
lhe mostrar o que podia fazer agora que tinha asas.
O leão correu até a pomba e, quando estava a centímetros de distância, ela
começou a correr também.
Mas algo estranho aconteceu.
A pomba tropeçou nas asas.
Em vez de ajudar a correr mais rápido, as asas só atrapalhavam.
O leão já estava sobre a pomba, e antes que ela conseguisse se levantar.., bem, é
uma história triste.
Quando a pomba chegou ao céu dos pássaros, reclamou:
"Hashem, sou uma pombinha. O leão me perseguia. Rezei para que me ajudasse e
o Senhor me deu asas. Mas em vez de as asas me ajudarem a correr mais rápido,
elas prejudicaram minha velocidade."
Hashem respondeu: "Tola. Não lhe dei asas para correr, mas, sim, para voar."
A pomba estava muito presa à sua perspectiva e não viu que as asas poderiam ter
aberto as portas de uma experiência completamente nova.
Ela esperava apenas correr mais rápido.
Temos que estar dispostos a ver as coisas de uma maneira totalmente nova.
Assim são os gênios.
Eles não se prendem a clichês mentais de outras pessoas ou a noções de mundo
convencionais.
O gênio diz: "Quero ver como nunca vi antes."
Ele questiona as maneiras tradicionais de se entender as coisas, Quem disse que o
mundo é plano? Quem disse que o tempo é absoluto?
Muitas descobertas científicas acontecem assim.
O cientista lenta provar sua teoria e conduz experimentos.
Mas muitas vezes os resultados indicam algo totalmente inesperado.
Nessa hora, muitos cientistas jogam fora o experimento em vez de suas
convicções.
Mas os verdadeiramente grandes, os gênios, reformulam seus conceitos de
realidade de acordo com os dados.
É assim que todas as grandes mudanças de paradigma acontecem na história da
ciência.
Essa foi a genialidade de Abrahão.
Para o pensamento de sua época, quando era aceitável, até óbvio, que ídolos
significavam alguma coisa, ele era uma pessoa mal-ajustada.
Mas enxergou diferente.
Imagine sua coragem.
Afinal, ele era filho de um fabricante de estátuas e tinha interesse em ver o mundo
sob a visão de seu pai e da sociedade; mais ainda: ele herdaria o negócio da
família.
No entanto, enquanto todos viam e adoravam multiplicidade, Abrahão olhava a
realidade com olhos de admiração, e concluiu que há uma única fonte invisível e
incorpórea que cria, sustenta e abarca tudo.
Era um gênio espiritual.
Ele descobriu a primeira Teoria do Campo Unificado e a chamou de Hashem.
Para enxergar Hashem, você tem que expulsar da sua mente — assim como
Abrahão — a ideia de Hashem contemplada pela sociedade.
Não é demais repetir: Esqueça Deus.
Deus foi monopolizado pelo lado esquerdo do cérebro e tem impedido o lado direito
de ver o frescor do momento, o que nunca viu antes.
Temos de olhar para uma mão, uma árvore, um pássaro e perceber: "Não sei o que
é isso que chamo de árvore. Mas agora que vejo pela primeira vez, não sei o que é.
É simplesmente inacreditável. Tudo que posso dizer é `aah'."
Adaptar-nos à realidade pode ser assustador, porque requer a coragem de
enfrentar algo muito maior que nós mesmos e deixar que isso nos torne diferentes.
É preciso humildade e rendição.
Muitas pessoas têm medo de fazer qualquer mudança mais significativa: "Ah, estou
tão cansada da minha rotina. Quero uma mudança."
Elas querem uma mudança, mas não querem mudar.
Mudança e crescimento são os propósitos da Cabala.
Ela nos dá um novo ponto de referência para que, cada vez mais, possamos ver a
realidade, ver Hashem em nossas vidas.
O conjunto das sefirot nos dá o poder de reestruturar a consciência da maneira
mais ampla e livre.
A palavra hebraica sefirót (plural de sefira) é traduzida vagamente como
"características", porque descreve as várias características ou manifestações de
Hashem que podemos observar no mundo.
Nos próximos textos, vamos analisar as sefirót.
Continua