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Enxergando Deus - Parte 8

Cara a Cara

"Beleza é verdade, verdade é beleza."


Ode a uma urna grega.
John Keats

A Cabalá descreve tiféret como a união dos atributos "beleza" e “verdade".


A Cabalá também explica que tiféret é como uma lente transparente, ao passo que
todas as outras sefirót são como lentes coloridas.
Quando vemos a beleza/verdade de Hashem, nos inspiramos pela maravilha diante
de nós.
De acordo com a Cabalá, quando encontramos a qualidade Divina tiféret, nos
conectamos intimamente à fonte eterna e ao contexto de todo ser, o que sugere o
significado do nome essencial de Hashem - Y/H/V/H.
É por isso que, para entender o que vemos quando olhamos através da lente
transparente da beleza/verdade, precisamos apreciar o significado dos nomes.

Todos os outros nomes de Hashem associados às outras sefirót são títulos: Mestre,
Maestro, Supervisor, Criador, Pai, Juiz.
Mas o nome pessoal, o que de fato evoca um encontro — não somente com a
presença, mas também com a essência — é Y/H/V/H.
Por isso essa lente é descrita como transparente.
Para realmente compreender tiféret, temos de entender a definição de "nome" e a
diferença entre um nome comum e um nome essencial.
Você já deve ter sentado ao lado de um estranho num avião.
Conversa vai, conversa vem, vocês falam sobre suas famílias, entre outras coisas.
Logo terão conversado por duas horas e você percebe que nem sabe o nome do seu
colega.
Um pouco envergonhado, você finalmente pergunta: "Qual é o seu nome?"
E ele pensa: "Devo dizer meu nome?"
O que há de tão importante em um nome?
Você já sabe que ele é diretor de uma empresa, artista, marido e filho, e que ele e
a esposa tiveram seis meses de terapia para casais, mas ele hesita em lhe dizer
seu nome.
Por que isso acontece?
Quando você dá seu nome a alguém, estabelece uma relação direta, essência com
essência, alma com alma.
Tudo o que revelou até o momento — que é artista, chefe, pai, marido, filho — são
títulos, e não seu nome.
Eles expressam relacionamentos formais, mas não uma conexão íntima e direta.

O jogo dos nomes


Imagine que a senhora Jones e o senhor Smith vão sair para um encontro
arranjado.
Eles se encontram num bom restaurante e, após o constrangimento inicial, a
conversa começa a fluir.
Depois de alguns aperitivos, ele pergunta: "Senhora Jones, há quanto tempo mora
aqui?"
Ela diz: "Por favor, pode me chamar de Elizabeth."
Ele sorri e diz: "E você pode me chamar de Robert."
Eles gostaram muito um do outro.
Algumas noites depois, foram juntos ao cinema.
Na volta, ela pergunta: "Robert, o que você achou da história?"
Ele diz: "Sabe, meus amigos me chamam de Rob."
Ela sorri e diz: "Minhas amigas me chamam de Liz."
Eles passam a se ver sempre e falam ao telefone todos os dias.
Uma tarde, durante um momento íntimo, ele lhe conta: "Meus amigos mais
próximos me chamam de Bobi. Quero que me chame de Bobi."
Ela o beija e diz: "Minha família me chama de Lili. Quero ser Lili para você."
Tudo corre bem por algumas semanas.
Então, um dia, Bobi e Lili leem o jornal de domingo juntos e começam a falar de
política.
Ele é "de direita" e ela, "de esquerda".
Eles começam a se distanciar.
"Rob", ela diz, em tom bastante estridente, "não acredito que você pensa assim!"
"Liz", ele diz, levantando-se. "Como pode alguém tão inteligente como você cair
nessa ideologia?"
“Qualquer pessoa que pense chegaria à mesma conclusão, Robert'', ela diz,
friamente.
"Bem, Elizabeth, acho que não a conheço tão bem assim."
"Não, o senhor não conhece nada sobre mim, senhor Smith."
"Senhora Jones, pode ficar com suas opiniões estúpidas", ele diz, batendo a porta.
Os nomes conotam uma relação.
Sou rabino, mas este não é meu nome.
É meu título.
As pessoas que têm uma relação pessoal comigo me chamam de David.
David é a pessoa por trás do rabino.
É o que indica meu caráter essencial.
"Rabino" é meu papel, uma vestimenta que eu uso.
Também sou pai, filho, chefe e músico.
Todos esses papéis são vestimentas que eu, David, uso.
E assim como troco de roupa, posso trocar de papel.
Mas minha essência como David nunca muda.
Minha esposa me disse, depois que ficamos noivos, que ela nunca havia se referido
a mim usando meu primeiro nome enquanto estávamos nos conhecendo.
Ela nunca me chamava de David, nem mesmo em casa com a família.
Perguntei por que, e ela disse: "Porque dizer seu nome implicava um nível de
relacionamento que eu não tinha certeza de que estava pronta, ou que estávamos
prontos para assumir."
Através da lente transparente de tiféret, associada ao nome essencial Y/H/V/H,
encontramos a essência Divina.
Através de todos os outros nomes, encontramos a presença de Hashem, mas há
uma grande diferença entre presença e essência.
É como a diferença entre ver a parte de trás da cabeça de seu amigo e ver seu
rosto.
Quando vejo meu amigo de costas, sei que ele está aqui, sinto sua presença.
Mas somente quando vejo seu rosto nós nos conectamos e eu experimento sua
essência.
É isso que significa "cara a cara".
Alguém já se conectou a Hashem cara a cara?
Sim. Moisés, Aarão e os israelitas no Monte Sinai.
A maioria do povo só viu um pouco de Hashem, mas Moisés e seu irmão tinham
encontros diários cara a cara com Ele.
Ninguém mais teve.
Em Êxodo, capítulo 5, Hashem aparece para Moisés: "Eu sou Y/H/V/H."
E continua: "E Eu apareci para Abrahão, Isaac e Jacob sob o título El-Shadai, mas
Meu nome Y/H/V/H não os fiz saber."
Este versículo nos mostra uma distinção entre os patriarcas e Moisés com relação à
intensidade de seus encontros com o Divino.
O versículo diz: "Eu apareci" para os patriarcas, mas "Meu nome Y/H/V/H não os fiz
saber."
O que significa conhecer uma pessoa ou se mostrar para ela?
Está na Torá: "E Adão conheceu sua esposa."
E nós entendemos que, conhecer alguém no sentido bíblico refere-se a uma
conexão bastante íntima.
Há algo sobre o nível de consciência de Moisés que o levou a uma conexão direta
com o Divino.
Os patriarcas viram Hashem na história e na natureza.
Viram a providência Divina nas vicissitudes habituais da vida.
Mas nunca presenciaram um milagre completamente aberto.
Abrahão e seu servo Eliezer derrotaram sozinhos grandes exércitos.
Isso foi realmente extraordinário, mas aconteceu por meio de uma batalha.
Isaac plantou algumas sementes e a colheita foi misteriosamente cem vezes maior
do que o plantado.
Isso é sobrenatural, mas ocorreu no local natural da plantação.
Moisés, no entanto, conhecia intimamente Y/H/V/H, o Divino que transcende a
natureza.
A história de Moisés está repleta de milagres: as dez pragas, a abertura do mar, a
provisão diária de maná caído do céu, água saída de uma pedra.
Moisés conheceu Hashem em encontros íntimos, diretos, cara a cara, e não através
da aparência da natureza.
A diferença entre Moisés e todos os outros profetas era que ele podia ver Hashem
através da lente transparente chamada tiféret.
Ele conheceu Hashern cara a cara e se tornou o veículo para a Torá.
Os outros profetas viram Hashem através das lentes coloridas de nétsach e hod,
através da contemplação da natureza e da história.
Eles viam Hashem de costas e ouviam-no por meio de sonhos e metáforas.
Os escritos dos profetas são profundos e contêm grandes visões, mas não estão no
mesmo nível dos Cinco Livros de Moisés — a Torá.
Sempre me espanto quando alguém diz que a Torá não é um caminho espiritual ou
que Moisés era um "legislador".
Moisés tinha um relacionamento incomparável, íntimo e místico com Hashem.
A evidência está nos versículos da Torá que descrevem esta história.
Em Êxodo, Hashem ordena que Moisés, Aarão, os filhos de Aarão e os setenta
anciãos subam o Monte Sinai.
Mas adverte Moisés: "Somente tu e Aarão devem ascender; os sacerdotes e a
nação não devem ascender a Y/H/V/H..."
Os outros não podem se aproximar; não podem ascender a esse nível.
Eles são autorizados a chegar a um certo nível de elevação espiritual, mas apenas a
Moisés e a Aarão é concedido um encontro pessoal e direto com Hashem.
O Midrash destaca que Moisés chegou ainda mais perto de Y/H/V/H que Aarão.
Em Deuteronômio, Hashem diz: "Boca a boca falarei com ele, claramente e não por
enigmas."
Em outras palavras, quando falo com Moisés, não será por meio de metáforas,
como ocorria com os outros profetas, os patriarcas e as matriarcas.
A Torá termina assim: "Nunca houve e nunca haverá um profeta que surja em
Israel como Moisés, que conhecia Y/H/V/H cara a cara..."
Esse é possivelmente o testemunho mais poderoso do elevado alcance espiritual de
Moisés.

Muita gente me chama de rabino.


Alguns me chamam de David.
Mas há apenas uma pessoa que, quando diz "David", se conecta à minha essência.
Minha esposa.
Ninguém diz "David" como ela, porque ninguém pode ter a conexão que ela tem
comigo.
"Rabino" é uma lente colorida pela qual as pessoas me veem, mas apenas minha
esposa me vê através da lente transparente.
Por isso o Midrash diz que o relacionamento de Moisés e Hashem era como o de
marido e mulher.
Moisés encontrava-se diretamente com a essência Divina e não apenas com a
presença Divina.
Ele via Hashem através da lente transparente de tiféret.
Considere a seguinte metáfora da Cabala que ilustra a experiência em tiféret.
Um rei, quando recebe seus súditos, usa vestimentas reais.
O mundo é o manto real de Hashem.
Talvez você já tenha visto fotos de magos vestindo túnicas com desenhos de luas e
estrelas.
É uma tentativa de imitar Hashem, porque há um versículo em Salmos que
descreve Hashem como "vestindo esplendor... Ele tomou para si luz e se vestiu na
luz como uma vestimenta, e Ele colocou os céus à Sua volta como um manto."
Em outras palavras, quando abraçamos o mundo, tocamos a túnica do Rei.
Podemos sentir a presença por baixo da cobertura, mas não tocamos a essência do
Rei, mas somente a vestimenta.
O rei usa as vestimentas reais enquanto está na corte real.
Mas quando se retira para seus aposentos privados, pode tirar a túnica real,
desabotoar a camisa e tirar os sapatos.
Então, um pouco mais da pessoa se revela.
Porém, somente para sua esposa o rei fica totalmente descoberto.
Hashem aparecia para Moisés regularmente sem vestimentas, metáforas ou ilusões.
Eram encontros diretos.
O profeta Isaías nos diz que, um dia, também encontraremos Hashem dessa
maneira:
"Seu Mestre [Hashem] não irá mais se vestir, e seus olhos literalmente O verão."
Será um encontro tão íntimo, que somente uma metáfora de união sexual pode
descrever essa proximidade.
O que traz intimidade num encontro?
A verdade.
Esta é a "cor" de tiféret — translúcida.

Cair na real
O atributo tiféret é melhor definido como a qualidade do que é real, do genuíno, do
essencial.
Por isso, a Cabala se refere a tiféret como "verdade".
Através da lente incolor de tiféret, vemos Hashem de verdade — verdade nua e
crua, cara a cara, autêntica, genuína.
Como acessamos esse nível de verdade?
Com a Torá.
O veículo que nos leva a ver o rosto de Hashem é aprender Torá com a alma.
Já que Hashem revelou a Torá no Monte Sinai de maneira direta, ela tem o poder
de acessar um pouco do encontro original.
A Cabala ensina que a Torá incorpora a luz do rosto de Hashem.
No entanto, se você quer se conectar a essa luz, tem de mergulhar no texto,
envolver-se.
Não pode apenas ler ou estudar como se fosse um livro qualquer.
Para ver um pouco do rosto de Hashem no texto é preciso "plugar-se" nele.
Geralmente, quando lemos ou estudamos um livro, o fazemos para adquirir sua
sabedoria.
Não nos preocupamos muito com o autor.
Por meio da contemplação da natureza e da história, vemos as costas de Hashem,
mas é pelo estudo da Torá que podemos ver um pouco da luz de Seu rosto.
A Torá apreende a experiência cara a cara que ocorreu no Sinai.
Se conseguimos nos conectar ao texto, podemos reviver o Sinai hoje e todo dia.

Quando estava no colegial, não me dava muito bem em literatura, embora me


destacasse nas outras matérias.
Eu não conseguia levar a literatura a sério.
O problema era a minha postura.
Geralmente, a professora passava um capítulo de algum grande clássico para
lermos no fim de semana.
E na aula de segunda-feira ela perguntava: "Vocês repararam na luz verde
reluzindo pela baía? Qual o significado dessa metáfora?"
Eu levantava a mão e respondia: "Provavelmente o autor estava em sua casa de
campo olhando pela janela enquanto escrevia esse capítulo, e ele provavelmente
viu uma luz verde reluzindo pela baía e resolveu colocar isso na história."
Não é preciso dizer que aquilo não era o que a professora queria ouvir.
"David, pare com isso. Você sabe muito bem que não é isso.''
E eu a desafiava: "Por que não? Como a senhora sabe por que ele colocou isso no
livro?"
"Porque água representa instabilidade, a cor verde simboliza 'vá' e reluzir sugere
hesitação. O personagem sente esse conflito e a cena reflete seu dilema interior."
"Mas como a senhora sabe? Foi o autor que disse?"
Eu não conseguia aceitar a validade de todas essas interpretações subjetivas.
E não é exatamente isso que acontece com a Torá?
Há muitos comentários e várias interpretações diferentes.
Por séculos os sábios vêm analisando as palavras da Torá e oferecendo novas
interpretações.
Como sabemos se todas as interpretações são corretas?
Principalmente quando são tão diferentes...
Aqui está uma das grandes diferenças entre a Torá e qualquer outro livro.

Com relação aos outros livros, a não ser que o autor me conte suas intenções, não
sei o que ele quis dizer.
O conteúdo está sujeito à minha interpretação.
Mas quando nos aprofundamos na Torá, o autor, Hashem, nos diz pessoalmente o
que Ele quis dizer.
Como?
De acordo com a Cabalá, você é uma alma; seu verdadeiro "eu" é uma faísca de
Hashem.
Por isso, quando o seu verdadeiro eu se aprofunda no estudo da Torá, é como dizer
que o autor continua a estudar seu próprio livro através do leitor, porque o leitor é,
de fato, uma parte do próprio autor.
Portanto, Hashem revela novos significados da Torá todo dia, quando você se
dedica ao texto.
Toda vez que abrir a Torá, você pode encontrar Hashem cara a cara.
E cada interpretação que lhe vem à mente é reveladora.
Claro que isso não significa que podemos dizer qualquer coisa e distorcer o texto.
É preciso adquirir as habilidades e as intenções necessárias para explorar o texto
adequadamente, com a alma, para que se possa abrir o canal a novas revelações.
Para adquirir essas habilidades, é preciso um professor.
A Torá incorpora verdade.
Por meio de seus ensinamentos e orientações, ela nos põe em contato com a
realidade, cara a cara com Hashem.
Quando abraçamos a Torá, abraçamos a verdade e a realidade, e nos conectamos
com Aquele que é real.

Colocando para fora


Tiféret é verdade, mas é também beleza.
Uma pessoa bonita é bonita com qualquer roupa.
É por isso que as companhias de roupas esportivas pagam milhares de dólares a
belas modelos para que usem a calça jeans e a camiseta da marca.
As pessoas passam a desejar o jeans e a camiseta, embora não fiquem tão bem
quanto a modelo.
Ela traz beleza às roupas que usa, e os consumidores se iludem, pensando que as
roupas é que são bonitas.
A verdadeira beleza é o verdadeiro eu de cada pessoa, que brilha através de suas
qualidades.
Tiféret, que revela a essência Divina, traz beleza a todas as outras sefirót.
Em outras palavras, é incorreto pensar que o que é bonito é verdade; de fato, o
que é verdade é que é bonito.
E quando você encara a verdade, encara Hashem.
Para trazer a luz do rosto de Hashem ao mundo, devemos ser verdadeiros,
genuínos e honestos; assim tudo se torna belo.
O atributo tiféret também está associado ao encontro de Hashem como "Tu", ou
seja, só posso me referir a uma pessoa que não esteja no mesmo ambiente que eu
como "ele" ou "ela".
Mas posso me referir a essa pessoa como "tu" (ou "você") quando ela está perto de
mim.
Quando falamos de outras sefirót, podemos descrevê-las em termos de Hashem
como Mestre, Maestro, Juiz.
Mas para encontrar Hashem através de tiféret, temos de falar diretamente com Ele.
Essa é a qualidade da realidade que tiféret representa.
Hashem não é real até que falemos diretamente com Ele.
Podemos ver um pouco de bondade ou de justiça apenas com a consciência da
força moral que está dentro de nós.
E podemos ver um pouco de maestria e de magnificência ao contemplar o mundo
maravilhoso à nossa volta.
Mas, para ver Y/H/V/H é preciso empenho.
Alguém pode lhe mostrar todas as outras qualidades, mas não tiféret.
Esta você precisa buscar por conta própria.
Por isso, um versículo em Deuteronômio promete: "E buscarás Y/H/V/H e O
encontrarás."
Para contatar tiféret, a realidade de Hashem, e experimentar a luz do semblante
Divino, precisamos procurar Hashem e falar com Ele diretamente.
Essa ideia é bem ilustrada pelo modo como os casais eram tradicionalmente
formados na sociedade judaica.
A mãe de Yancale abordava a mãe de Hinda e sugeria o encontro dos filhos.
Então, a mãe de Yancale descrevia seu filho da melhor maneira possível, e a mãe
de Hinda, por sua vez, checava as informações, perguntando ao rabino de Yancale
e a seus vizinhos e amigos: "Que tipo de rapaz ele é?"
Se, depois de procurar e descobrir tudo sobre Yancale, a união parecesse
apropriada, a mãe de Hinda arranjava um encontro entre os dois.
Muita gente pensa que os noivos que seguem a linha ortodoxa do judaísmo se
veem pela primeira vez sob a chupa (tenda sob a qual o casamento judaico é
oficiado).
Na verdade, a lei determina que os futuros noivos têm de se ver cara a cara pelo
menos uma vez antes de se comprometerem.
Antes de conhecer o futuro noivo pessoalmente, Hinda pode ficar sabendo tudo o
que se pode imaginar sobre ele.
Ela pode saber seu histórico médico, histórias pessoais, gostos e até mesmo que,
quando ele tinha sete anos, caiu de uma árvore e quebrou o braço.
Alguém pode até apontar Yancale na rua, para que Hinda saiba como ele é.
Mas não pode haver compromisso até que ela o encontre pessoalmente e o chame
de "você".
Isso é tiféret.
E o que Hinda finalmente faz quando encontra Yancale sentado no sofá da sala dos
pais dela?
Vai falar com ele.
O mesmo acontece quando encontramos Hashem diretamente — falamos com Ele.
Assim são as rezas.
Quanto mais conseguimos falar com Hashem pelas rezas, nos referindo a Ele como
"Tu", mais provavelmente Hashem falará conosco.
Quando rezamos, usamos o pronome "Tu" para falar com Hashem várias vezes,
todo dia.
Muitas rezas começam e terminam com: "Bendito sejas Tu, Hashem."
Quem sou eu para me referir a Hashem como "Tu"?
Quando nos dirigimos a pessoas de alta posição — juízes, presidentes, a rainha da
Inglaterra — temos de dizer "Senhor", "Meritíssimo", "Vossa Majestade".
Seria falta de compostura dizer a essas pessoas: "O que você quer?"
Mesmo assim, apesar de todas as referências a Hashem como Mestre do Universo,
nos referimos a Ele, nas rezas, como "Tu".
Isso é surpreendente.

Um dos Provérbios declara: "Como um rosto é para a água, o coração de uma


pessoa é para o coração de outra pessoa."
Isso significa que, quando duas pessoas se tornam íntimas — coração com coração
—, elas se refletem.
Se você quer encontrar a essência de Hashem, tem de estar disposto a expor sua
própria essência a Ele.
Hashem reflete o que você Lhe apresenta.
Se você se apresenta com genuinidade e autenticidade — sua beleza na verdade —,
então revela sua essência, e a essência de Hashem se revelará para você.
É preciso ser real para ver o Real.

Minha excursão, por assim dizer, pelas sefirót se encerra no limiar de tiféret.
Você tem de seguir o resto do caminho sozinho.
Mesmo que eu fosse o melhor oftalmologista do mundo, não poderia lhe prescrever
a lente transparente de tiféret.
É você que tem de buscar esse encontro direto com Hashem.
Ninguém pode fazê-lo por você.
"E buscarás Y/H/V/H e O encontrarás."
Para entrar nos aposentos privados de Hashem, é preciso seguir viagem sozinho.
Se Yancale e Hinda decidirem se casar, a cidade inteira irá ao casamento e uma
multidão se formará em torno da chupá.
Mas quando a cerimônia terminar, o casal ainda não estará casado oficialmente.
A última etapa é que eles fiquem juntos por algum tempo num quarto fechado.
Então, após a cerimônia, a multidão de convidados acompanha o casal, em meio a
muita cantoria e dança, até a porta do quarto.
Apenas os noivos entram.
De fato, duas testemunhas têm de inspecionar o quarto para garantir ao casal que
não há mais ninguém ali.
Isolamento é um elemento crucial.
Os pais de Yancale, os pais de Hinda, a casamenteira e todos os demais envolvidos
em formar o casal têm de ficar do lado de fora.
O encontro verdadeiro ocorre quando o casal se isola completamente.
Você precisa acessar tiféret sozinho.
Não há mais muito o que dizer sobre tiféret.
Agora posso somente encorajá-lo a seguir em frente.
Fale com Hashern, aprenda Torá com a alma.
Escute.
Assista a um novo mundo repleto de milagres se abrindo diante de seus olhos.

Exercícios para enxergar melhor


• Você já sentiu a presença de Hashem?
• Você já encontrou a essência Divina?
• Quem pode chamá-lo pelo nome e encontrar sua essência?
Se você não conhece ninguém assim, descreva o tipo de pessoa que se encaixa
nessas características.
• Tente mergulhar em uma das histórias da Torá.
O que ela significa para você? Que lição tira para si mesmo?
• Você já foi bondoso, mas não verdadeiro, ou justo, mas não verdadeiro?
Qual é a diferença?
• Você já se dirigiu a Hashem com a alma?
O que alcançou ao fazer isso?
• Você já mostrou a sua essência a alguém?
Quais são as condições necessárias para que você se sinta bem fazendo isso?
Como você pode ajudar os outros nesse aspecto?

Continua

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