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SUMÁRIO

UNIDADE 1 - O PERFIL DO LÍDER CRISTÃO: LÍDER SERVO


1) O PROPÓSITO BÍBLICO PARA A LIDERANÇA CRISTÃ ............................................... 4
2) ATITUDES DE UM LÍDER CRISTÃO: MT 20:20-28 ........................................................ 7
3) MODELO DE LIDERANÇA SERVA: JO 13:1,3-5,12-17 .................................................. 9
4) O GRANDE CONTRASTE ENTRE LIDERANÇA SERVA E LIDERANÇA
EMPRESARIAL .................................................................................................................. 10
5) A VIDA ESPIRITUAL DO LÍDER: O CARÁTER DE UM LÍDER CRISTÃO ................... 11
6) COMO JESUS TREINOU SEUS DISCÍPULOS? ........................................................... 12
7) UM LÍDER MADURO TEM A VIDA MARCADA POR BONS HÁBITOS ........................ 13
7.1 Diferença entre autonegação e autodestruição ............................................................ 13
7.2 Cultivar bons hábitos e disciplinas espirituais .............................................................. 14
UNIDADE 2 – AS FUNÇÕES DE LIDERANÇA CRISTÃ
1) VISIONAR ...................................................................................................................... 16
1.1 Qual a importância de uma visão definida? ................................................................. 17
1.2 Como elaborar a visão? ............................................................................................... 17
2) PLANEJAR ..................................................................................................................... 18
3) IMPLEMENTAR ............................................................................................................. 21
4) CUIDAR DE PESSOAS ................................................................................................. 22
5) AVALIAR ........................................................................................................................ 25
UNIDADE 3 – FERRAMENTAS DE UM LÍDER: DELEGAR E CONDUZIR UMA REUNIÃO
1) FERRAMENTA: DELEGAÇÃO ...................................................................................... 26
1.1 O que é delegar? .......................................................................................................... 26
1.2 A importância da delegação para a liderança cristã: .................................................... 26
1.3 Princípios da delegação: .............................................................................................. 27
1.4 Etapas da delegação: ................................................................................................... 28
2) FERRAMENTA: COMO CONDUZIR UMA REUNIÃO PRODUTIVA ............................. 29
3) COMO CONDUZIR UMA REUNIÃO PRODUTIVA ........................................................ 30
3.1 Preparar a reunião ........................................................................................................ 31
3.2 Conduzir a reunião ....................................................................................................... 31
3.3 Fechar o círculo após a reunião ................................................................................... 32
UNIDADE 4 – GESTÃO DE VOLUNTÁRIOS
1) A IMPORTÂNCIA DO VOLUNTARIADO ....................................................................... 34
1.1 Para o indivíduo ............................................................................................................ 34
1.2 Para a igreja ................................................................................................................. 34
2) RECRUTAMENTO DE VOLUNTÁRIOS ........................................................................ 35
3) ALOCAÇÃO DE VOLUNTÁRIOS ................................................................................... 36
4) AVALIAÇÃO DO TRABALHO ........................................................................................ 38
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................... 39

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LIDERANÇA CRISTÃ1 - SER UM LÍDER SEGUNDO O CORAÇÃO DE DEUS

Existem inúmeras teorias a respeito dos estilos e funções de liderança, tal qual o
número de materiais publicados nesta área. Mesmo assim, prevalecem a insegurança e a
dúvida sobre qual o melhor modelo a ser seguido diante da imensidão de métodos e
teorias.
Definitivamente, responder a estes questionamentos não é uma tarefa simples.
Mas, o que propomos nesta capacitação é um resgate do modelo de liderança de Jesus
como referência principal para a liderança cristã. Mannoia afirma que:

Todo cristão e toda organização cristã são chamados para exercer um papel de
liderança em alguma esfera. Seja de forma individual, seja de forma coletiva, o
objetivo do cristianismo é produzir um impacto no mundo pela causa de Cristo. (2009,
p.18)

Trataremos do perfil, funções e ferramentas de um líder segundo o coração de


Deus. Entendemos que os princípios para a liderança cristã são aplicáveis em qualquer
contexto: familiar, empresarial, eclesiástico, etc. Geralmente, a liderança no ambiente
eclesiástico é exercida por voluntários. Por isso, trataremos, também, da gestão do
voluntariado na igreja.

O conteúdo será exposto em 4 unidades:

1) O perfil do líder cristão: líder-servo;

2) Funções da liderança cristã;

3) Ferramentas de liderança;

4) Gestão do voluntariado.

1
Este material foi produzido por:
Ann Elaine Croswaite Borquist; Bruce Robert Borquist; Elcimar Fernandes de Oliveira. Brasília, 2017.
Fica autorizada a reprodução do texto e ilustrações, no todo ou em parte, desde que se não altere o sentido, bem como
seja citada a fonte.

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UNIDADE 1 - O PERFIL DO LÍDER CRISTÃO: LÍDER SERVO

Perguntas que nortearão este tópico:


• O que é ser líder?
• O que é um líder de líderes?
• Liderança é um dom nato ou uma habilidade desenvolvida?
• Qual o propósito bíblico para a liderança cristã?
• O que distingue a liderança cristã das demais lideranças?
• O que define o caráter do líder cristão?

1. O PROPÓSITO BÍBLICO PARA A LIDERANÇA CRISTÃ

O paradigma da liderança corporativa enfatiza a função, os resultados e o


desempenho, em contraste com a liderança espiritual que valoriza o caráter, a essência e
a natureza do líder. Na perspectiva cristã o que você é equivale ao que você faz. O caráter
consiste na base que sustenta o desempenho da liderança. Por isso a identidade do líder
não está restrita às suas ações. (MANNOIA, 2009)
No modelo corporativo o que o líder faz é tudo. O foco é: gestão, poder, resultados,
controle, competição, lucro, conforto e fama. A Bíblia, entretanto, preocupa-se mais com o
caráter do líder do que, simplesmente, com o que ele faz, conforme I Sm 16.7b: “O Senhor
não vê como homem: o homem vê a aparência, mas o Senhor vê o coração”. Shedd (apud
LIDÓRIO, 2008 p.77) afirma que: “muitas vezes nos impressionamos com homens e
ministérios que não impressionam a Deus”.
O perfil de um líder, segundo a Palavra, é profundamente distinto de um líder dos
sonhos, no Mercado. Os valores desta liderança são muitas vezes antagônicos aos valores
do evangelho. Para Mannoia (2009), as virtudes do caráter na liderança secular estão em
segundo plano, pois a sociedade nos leva a crer que somos aquilo que aparentamos. Um
exemplo disto é a nossa tolerância com a vida indecorosa que alguns artistas e atletas
levam desde que eles nos divirtam. Do mesmo modo, o caráter questionável de vários
políticos é perdoado, contanto que nos prometam aquilo que desejamos. É Deus quem
levanta líderes no meio do seu povo, diferentemente do que acontece no contexto
corporativo, onde os líderes são escolhidos baseados na influência humana.

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Quais são os critérios e propósitos pelos quais Deus escolhe um líder? E como Ele
os avalia?
o Jr 23:4 - Eu lhes darei líderes que cuidarão deles. Não ficarão mais com medo,
nem apavorados, e nenhum deles se perderá. Eu, o Senhor, estou falando.
o Jr 3:15 - Eu darei a vocês líderes que me obedeçam, e eles governarão com
sabedoria e inteligência.
o Ef 4:7,11-12 – Porém, cada um de nós recebeu um dom especial, de acordo
com o que Cristo deu. [...] Ele escolheu alguns para serem apóstolos, outros
para profetas, outros para evangelistas e ainda outros para pastores e mestres
da Igreja. Ele fez isso para preparar o povo de Deus para o serviço cristão, a fim
de construir o corpo de Cristo.
o At 13:22 - Depois que tirou Saul, Deus pôs Davi como rei e disse isto a respeito
dele: “Encontrei em Davi, filho de Jessé, o tipo de pessoa que eu quero (homem
segundo meu coração) e que vai fazer tudo o que eu desejo (de acordo com a
minha vontade)”.
Veja a ordem: “ser” uma pessoa segundo o coração de Deus (caráter) para “fazer”
tudo de acordo com a vontade d’Ele, e não o contrário.
Mannoia (2009) propõe um interessante paralelo entre a vida de um líder e o
iceberg. Na figura do iceberg há dois níveis: 1) O nível mais elevado (parte emersa) –
capacitação do líder para que tenha um bom desempenho em atividades aparentes. 2) O
nível mais baixo (parte submersa) – identidade, baseada em elementos invisíveis (caráter).

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A formação de liderança eficaz deve reconhecer essa inter-relação dinâmica entre
a identidade (a parte de baixo do iceberg) e a atividade (a parte de cima). De acordo com
Mannoia
A formação de liderança é a construção de fundamentos invisíveis sobre os quais
nosso desempenho será construído e dos quais nossas atividades fluirão. É mais do
que a simples harmonização entre as disciplinas da formação espiritual e a teoria da
liderança. A formação de liderança é a integração cuidadosa e deliberada da
identidade com o desempenho, do ser com o fazer, da essência com a atividade. As
coisas que fazemos no cumprimento de nossas tarefas serão evidentemente
afetadas e temperadas por quem somos. (2009, p.56)

Liderança é a habilidade de influenciar pessoas para trabalhar, entusiasticamente,


visando atingir os objetivos identificados como sendo para o bem comum. Exercer
influência sobre os outros, que é a verdadeira liderança, é possível para todos, mas requer
uma enorme doação pessoal. Nesta perspectiva, liderança não é um dom nato, mas uma
habilidade a ser desenvolvida. (HUNTER, 2004).
Não há melhor lugar para se preparar um líder do que na “Escola Divina”. Notem
como os personagens a seguir foram capacitados. Foram conduzidos por Deus e
matriculados em Sua escola intensiva de liderança, antes mesmo de perceberem
claramente o chamado.

 Moisés cresceu em sabedoria e coragem no Egito e no Deserto de Midiã.


o At 7:22 - E assim ele foi instruído em toda a ciência dos egípcios e se tornou
um homem que falava e agia com autoridade.
 Davi foi preparado “cuidando de ovelhas”.
o 2 Sm 7:8 - Portanto, diga ao meu servo Davi que eu, o Senhor Todo-
Poderoso, digo o seguinte: Eu tirei você do trabalho de cuidar de ovelhas nos
campos para que governasse o meu povo de Israel.
 Timóteo foi inspirado na “companhia de Paulo”
o At 16:1-3 - Paulo chegou às cidades de Derbe e Listra. Em Listra morava um
cristão chamado Timóteo. A mãe dele, uma cristã, era da raça dos judeus,
mas o pai dele não era judeu. Todos os irmãos que moravam em Listra e
Icônio falavam bem de Timóteo. Paulo quis levá-lo consigo […]

Não espere que a sua jornada, nas trilhas da formação de liderança, seja
exatamente igual a das outras pessoas. O padrão pode ser o mesmo, o efeito pode ser
semelhante, mas a jornada será sempre única.

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PARA REFLETIR

Como Deus o tem preparado?


Quais suas experiências em liderar pessoas?
Quem pode servir como seu mentor?
Quem você pode mentorear?
Quem Deus colocou a seu lado para que trabalhem juntos?

2. ATITUDES DE UM LÍDER CRISTÃO: MT 20:20-28

Paradigmas são padrões psicológicos, modelos ou mapas mentais que usamos


para navegar na vida. São importantes quando usados adequadamente, mas podem
tornar-se perigosos se os tomamos como verdade absoluta, sem aceitar qualquer
possibilidade de mudança. Segundo Hunter (2004), o paradigma predominante nas
organizações contemporâneas é o estilo piramidal de administração, do vértice para baixo.
As pessoas na base da pirâmide servem à minoria do topo. Este também é o modelo que
predominava nos dias de Jesus, onde os líderes das nações dominavam e exerciam poder
para o seu próprio bem.
As teorias de liderança, ligadas ao estilo piramidal, são motivadas pelo desejo de
autorrealização do líder. Porém, no paradigma de liderança apresentado por Jesus, a
motivação e propósito último do líder é o serviço. A diferença básica desses dois
fundamentos é a fonte de motivação. Em uma delas, a motivação é resultado do desejo de
aprimoramento pessoal. Na outra, ela é fruto de uma paixão por Deus. Nossa identidade
como servos de Deus é o ponto central em torno do qual nossa atividade no ministério
orbita. Sem um compromisso deliberado de ser um servo de Deus, você estará servindo o
‘’eu’’ e outras pessoas. Em ambos os casos, o serviço será relativo, inconstante e sempre
imprevisível. Devemos buscar uma mente de servo e não apenas um estilo de vida
baseado em atividades de ‘’serviço’’. (MANNOIA, 2009)

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1ª atitude: DESPRENDIMENTO, v. 22
O líder sabe abrir mão do poder (dos direitos, do salário bom, da posição
importante) para servir aos outros.
2ª atitude: PARIDADE, v. 25-26
Significa que todos os líderes espirituais são iguais em autoridade. Não existem
hierarquias no governo bíblico reformado. O chão está plano ao pé da cruz. Não procure
status. "Não será assim entre vocês."

3ª atitude: SERVIÇO, v. 26-27


A liderança cristã foca-se mais em ajudar outros do que em mandar. É uma vida
entregue ao serviço.

2
(Mannoia, 2009, p. 74 e 75)
3
(Mannoia, 2009, p. 78)
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Note que em I Tm 3:1 diz: “boa obra almeja”, e não, “boa posição almeja”. Perceba
o quanto fugimos do modelo de liderança de Jesus: pastores e líderes correndo atrás de
posição, dinheiro, poder e honra.

3. MODELO DE LIDERANÇA SERVA: JO 13:1,3-5,12-17

“Faltava somente um dia para a Festa da Páscoa. Jesus sabia que tinha chegado
a hora de deixar este mundo e ir para o Pai. Ele havia amado os seus que estavam neste
mundo e os amou até o fim [...]. Jesus sabia que o Pai lhe tinha dado todo o poder. E sabia
também que tinha vindo de Deus e ia para Deus. Então se levantou, tirou a sua capa,
pegou uma toalha e amarrou na cintura. Em seguida pôs água numa bacia e começou a
lavar os pés dos discípulos e a enxugá-los com a toalha. […] Depois de lavar os pés dos
seus discípulos, Jesus vestiu de novo a capa, sentou-se outra vez à mesa e perguntou:
Vocês entenderam o que eu fiz? Vocês me chamam de “Mestre” e de “Senhor” e têm
razão, pois eu sou mesmo. Se eu, o Senhor e Mestre, lavei os pés de vocês, então vocês
devem lavar os pés uns dos outros. Pois eu dei o exemplo para que vocês façam como eu
fiz. Eu afirmo a vocês que isto é verdade: o empregado não é mais importante do que o
patrão, e o mensageiro não é mais importante do que aquele que o enviou. Já que vocês
conhecem esta verdade, serão felizes se a praticarem.
Naquela época a poeira do mundo não sujou simplesmente os pés, mas,
principalmente, a estrutura espiritual das pessoas. Jesus quebrou paradigmas e mostrou
um novo estilo de vida e liderança, livre das estruturas corrompidas pelo pecado.
A dificuldade em conciliar estes dois polos – líder e servo – é resultado da
cosmovisão das pessoas. Muitos pensam que o líder-servo é alguém disponível, o tempo
todo, para fazer as tarefas de seus liderados. Outros já pensam que é alguém sem
iniciativa, visão e pulso para liderar.
Mannoia (2009) afirma que Cristo não veio a este mundo apenas para servir as
pessoas, mas para servir ao Pai. Ele veio para ministrar às pessoas como uma
manifestação de seu serviço ao Pai. Ministramos às necessidades das pessoas como uma
expressão de nosso compromisso em servir a Deus
Líderes como Jesus, João Wesley, Gandhi, Martin Luther King Junior e Madre
Tereza são exemplos de que é possível ser um líder-servo e revolucionário ao mesmo
tempo.

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4. O GRANDE CONTRASTE ENTRE LIDERANÇA SERVA E LIDERANÇA
EMPRESARIAL

• Ela é na sua essência: Influência x Gestão.


Influência é saber como o líder consegue envolver as pessoas do "pescoço para
cima". No mundo empresarial se diz, comumente, que pessoas não seguem líderes por
seus valores pessoais, mas por sua competência. Isto porque, no mundo empresarial,
objetiva-se ganho; e para ganhar é necessário competência. Porém, no Reino de Deus,
líderes são seguidos em função de sua vida, e não, puramente, por sua competência.
Desejamos imitá-los, nos parecer com eles, aprender com eles. Por isso, o líder-servo e
caráter andam juntos. E sua busca por integridade torna-se um dos valores centrais para
ele. Não podemos influenciar pessoas em áreas que não experimentamos.
• Seu recurso é: Autoridade x Poder.
É fundamental compreender a diferença entre poder e autoridade. Poder é a
faculdade de forçar ou coagir alguém a fazer sua vontade, por causa de sua posição ou
força, mesmo que a pessoa preferisse não o fazer. Autoridade é a habilidade de levar as
pessoas a fazerem, de boa vontade, o que você quer, por causa de sua influência pessoal.
Alguém poderia estar num cargo de poder e não ter autoridade sobre as pessoas. Uma
pessoa poderia ter autoridade sobre os outros sem estar ocupando uma posição de poder.
O poder pode ser vendido, comprado, dado e tomado.
• Sua agenda: Capacitar pessoas x Realizar o Projeto.
O líder-servo tem como foco os outros, em vez de em si mesmo. Ele agrada a
Deus e serve as pessoas, valorizando-as. Ele cumpre tarefas e prioriza as pessoas; sabe
que elas são mais importantes do que as tarefas que realiza. A chave para a liderança é
executar as tarefas enquanto se constroem os relacionamentos.
• Seu princípio organizacional: Delegação x Controle.
O líder-servo delega autoridade, influencia, repassa tarefas para o
desenvolvimento das pessoas e aproveitamento dos seus dons.
• Seu alvo: Transformar x Conquistar/Vencer.
O líder-servo se diferencia do líder tradicional em sua essência. Ele encontra sua
realização no sucesso compartilhado e é altamente colaborador e interdependente. Em
suma, ele é motivado pelo interesse de elevar os outros a uma escala ascendente de

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dignidade. Por outro lado, o líder tradicional é, essencialmente, motivado por interesse
pessoal de conquista. Ele é altamente competitivo, independente e egoísta.
• Sua finalidade: Sacrifício x lucro, conforto e fama.
Lembre-se, o papel da liderança é servir, isto é, identificar e satisfazer as
necessidades legítimas das pessoas. Nesse processo de satisfazer necessidades será
preciso, frequentemente, fazer sacrifícios por aqueles a quem servimos. Como exercer
influência sobre as pessoas? Sobre o que se constrói a autoridade? Autoridade sempre se
constrói sobre serviço e sacrifício.
Jesus era um líder que servia com amor. Esse é o grande segredo da liderança
serva: servir com amor, sem almejar reconhecimento.

PARA REFLETIR
Pense numa pessoa, viva ou morta, que exerceu autoridade sobre você. Liste as qualidades de caráter que
essa pessoa possuía ou possui. Destas qualidades, essenciais para liderar com autoridade, quais são
inatas?

5. A VIDA ESPIRITUAL DO LÍDER: O CARÁTER DE UM LÍDER CRISTÃO

Caráter é a base fundamental e o alicerce, especialmente, da liderança cristã.


Liderança é mais uma questão de “ser” do que “fazer”. Não confunda caráter com
personalidade. Caráter consiste no conjunto dos hábitos desenvolvidos ao longo da vida.
A base fundamental do nosso caráter é nosso relacionamento com Deus. O líder
precisa ficar atento à armadilha do ativismo, que pode custar o seu próprio relacionamento
com Deus. Segundo Lidório (2008, p.34) “para os líderes cristãos, uma das maiores
barreiras para uma vida devocional é o próprio ministério. […] O serviço que posso prestar
para o Senhor não deve substituir minha vida com ele, meu tempo com ele”.
O que determina o caráter de um líder cristão? Vamos examinar as prioridades do
Mestre Jesus quando ele escolheu e treinou os seus líderes, os discípulos, em Mc 3:13-15:
“Jesus subiu um monte, chamou os que ele quis, e eles foram para perto
dele. Então escolheu doze homens para ficarem com ele e serem enviados para anunciar
o evangelho. A esses doze ele chamou de apóstolos. Eles receberam autoridade para
expulsar demônios”. (Grifo nosso).

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A caminhada dos discípulos com Jesus foi tão intensa que eles tornaram-se
parecidos com o Mestre. Os membros do Conselho Superior ficaram admirados com a
coragem de Pedro e João, pois sabiam que eram homens simples e sem instrução. E
reconheceram que eles tinham sido companheiros de Jesus. (cf. At 4:13).
Apesar de nossas limitações, tudo o que aprendemos com Jesus será lembrado
noutra ocasião, de acordo com as necessidades. “Mas o Auxiliador, o Espírito Santo, que o
Pai vai enviar em meu nome, ensinará a vocês todas as coisas e fará com que se lembrem
de tudo o que eu disse a vocês”. (Jo 14:26).

PARA REFLETIR
Como podemos “estar” com Jesus?
Quais os hábitos que o levam a “estar” com Jesus?
O que você pode fazer para manter ou melhorar sua vida espiritual?

6. COMO JESUS TREINOU SEUS DISCÍPULOS?

A pedagogia de Jesus era muito especial, pois os discípulos tiveram a


oportunidade de ouvir os ensinos e ver os exemplos práticos nas atitudes do Mestre.
Foram três anos de aprendizagem por meio do relacionamento. Um treinamento intensivo
que consistia em acompanhamento, observação, prática e reflexão (Mc 6:30). O resultado
disso é que foram impregnados da vida de Cristo e tornaram-se seus imitadores, mesmo
depois de sua ascensão. Com Jesus, os discípulos aprenderam hábitos/atitudes de:
• Amar (Jo 13:34);
• Servir uns aos outros (Jo 13:14);
• Orar habitualmente (Lc 6:12);
• Renunciar (Fp 2:5-7);
• Lidar com desejo de vingança (Lc 9:51-56);
• Serem zelosos e corajosos (Mc 11:15-17);
• Serem atenciosos com as crianças;
• Serem persistentes (Lc 18:5-17);
• Romper com o machismo (Jo 4:27);
• Entrar na casa de pecadores (Mc 2:15);

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• Lidar com normas religiosas, sem desprezar os valores importantes da vida (Mc 2:23-
28);
• Serem flexíveis diante do novo (Mc 2:18-22).

PARA REFLETIR
Qual desses hábitos/atitudes você precisa desenvolver em sua vida?

7. UM LÍDER MADURO TEM A VIDA MARCADA POR BONS HÁBITOS

Uma liderança de sucesso é resultado de uma vida equilibrada. Não podemos


oferecer às pessoas aquilo que não temos. Por isso precisamos cuidar do nosso “poço
interior”, que é a base da nossa identidade.
O problema é quando o sucesso nas atividades e no desempenho começa a definir
a identidade dos líderes, levando-os ao ponto de negligenciar o zelo pelo “poço’’ da
identidade não visível. Se o “poço” não for devidamente cuidado, sua “água” logo se
tornará impura. Conforme afirma Mannoia (2009, p.29) “Os problemas que podem ser
identificados na estrutura visível de uma construção são, com frequência, resultado de uma
fundação defeituosa, abaixo do alcance da visão” .
Bons hábitos são importantes para manter o líder firmado aos seus propósitos
iniciais. Lembre-se que nem sempre o ministério lhe proporcionará condições favoráveis
para isso. Sempre existirá o perigo de esgotamento mediante a dedicação extrema aos
outros, sem cuidar de si mesmo.

7.1. Diferença entre autonegação e autodestruição

De acordo com Hybels (2013), a autonegação é bíblica e saudável. Refere-se a


rejeitar o pecado, o autoengano e o egoísmo. A autodestruição, por outro lado, refere-se a
rejeitar sentimentos autênticos, necessidades legítimas, atividades saudáveis e
relacionamentos edificantes que Deus nunca pediu que abandonássemos. Uma boa forma
de diferenciá-los em nosso ministério é percebendo se estamos servindo com alegria. Se
você está se esforçando ao máximo para desenvolver o ministério, mas sua alegria está

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sendo engolida por uma amargura crescente contra Deus, que você diz amar, é indício de
que está rejeitando mais do que Ele lhe pede para rejeitar ou adotando um ritmo fora da
realidade.
O líder chamado para cuidar das pessoas deve, também, praticar o autocuidado.
Cuidar de si mesmo não é uma opção. É o antídoto da exaustão, dos relacionamentos
desfeitos e do estresse; e um componente necessário na vida de um servo de Cristo
alegre, eficiente e constante. Hybels (2013, p.137) afirma que “o autossacrifício extremo
exige autocuidado extremo”. Paulo recomendou a Timóteo que cuidasse de si mesmo e da
doutrina (I Tm 4:16).

7.2. Cultivar bons hábitos e disciplinas espirituais

 Cuidar da saúde espiritual. O líder-servo mantém a disciplina espiritual: leitura e


meditação na Palavra de Deus, oração, confissão, solitude, silêncio, abstinência,
etc.
 Cuidar da saúde física. O ser humano é um todo: corpo, alma e espírito. Não
podemos cuidar do espírito em detrimento ao corpo. O nosso corpo é também o
santuário do Espírito Santo (I Co 6:19). O líder-servo precisa praticar exercício
físico, ter boa alimentação, ter horas satisfatórias de sono, tomar água suficiente,
dentre outros cuidados.
 Cuidar da saúde emocional/mental. Raízes de amargura podem brotar de
corações feridos e contaminar toda vida (Hb 12:15). A boa consciência é o
“barquinho” que dá condições de navegabilidade à fé. (I Tm 1:19). O líder-servo
procura equilíbrio no campo emocional e sentimental orando, estudando a Bíblia,
conversando com pessoas de confiança, aconselhando-se com profissionais da
área de saúde mental (conselheiros, psicólogos e psiquiatras), estreitando os laços
de amizade e buscando se relacionar bem em equipe. Para Lidório (2013), o
problema é que, no mundo, há pouco lugar para sinceros relacionamentos. Os
amigos, na vida de um líder, são essenciais para humanizá-lo. Todo líder necessita
de pelo menos três amigos sinceros que possam apontar-lhe o perigo. O líder-servo
deve, também, vigiar os próprios hábitos e garantir que sua mente se encha de
pensamentos e imagens saudáveis, especialmente diante das tentações disponíveis

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pela internet (pornografia, violência, comentários maliciosos, etc.). Cuidado: lixo
entra, lixo sai!

PARA REFLETIR
Você está comprometido com seu autocuidado?
Como você pode melhorar o cuidado para consigo mesmo nas áreas física, emocional e espiritual?

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UNIDADE 2: AS FUNÇÕES DA LIDERANÇA CRISTÃ

Perguntas que nortearão este tópico:


• Quais as funções de um líder cristão?
• Há modelos bíblicos para liderança saudável e eficaz?
Já discorremos, brevemente, a respeito dos propósitos pelos quais Deus levanta
líderes no meio do seu povo. Agora, aprofundaremos nas importantes funções de um líder:
visionar, planejar, implementar, cuidar de pessoas e avaliar. Propomos um estudo de
caso, baseado na história de Moisés, para identificação e análise das implicações práticas
de cada uma destas funções de liderança.

1. VISIONAR

Êxodo 3.7-10. Moisés recebeu uma visão especial em seu encontro com Deus no
deserto. O mais impressionante desse relato não é Deus comunicar-se com Moisés no
meio de uma sarça ardente, mas o fato d’Ele compartilhar com um homem cheio de
limitações a visão de um projeto extraordinário para libertação dos israelitas. Essa visão
norteou a vida e ministério de Moisés a partir de então.
De acordo com Costa (2012), visão e missão são dois conceitos fundamentais
distintos, mas complementares e intimamente ligados entre si, como se fossem duas faces
da mesma moeda. O primeiro descreve o que o grupo, ou organização, quer ser no futuro;
o segundo aponta para a razão de sua existência. Na definição dos propósitos da
organização, além de descrever sua visão e missão, também é necessário delimitar a
abrangência de atuação, com base nos aspectos geográficos, público alvo, etc.
Não trabalharemos estes conceitos de forma pormenorizada, como acontece no
contexto acadêmico. Neste momento trataremos todos estes conceitos como sinônimos de
“visão”.

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1.1. Qual a importância de uma visão definida?

• Uma imagem mental de um futuro desejável, que motiva a sair da mesmice e tomar
uma nova atitude.
• O destino e a razão da jornada: o que você pretende realizar, com quem e o
porquê.
• Não há algo mais poderoso em nosso mundo. Somente uma visão empolgante
pode superar e transformar interesse particular e canalizar a energia de pessoas.
• Não há nada mais perigoso na liderança do que perder o rumo de Deus para a vida
e trabalho, pois isso significa perder a visão do Alto.
Para Lidório (2008), o fracasso está muito mais ligado à ausência de visão do que
a ausência de recursos. A visão do líder é a cola que une pessoas e suas energias, os
recursos de tempo e dinheiro; é a régua que mede e avalia todas as decisões: o padrão
final. Hunter afirma que

[...] as declarações de missão das organizações são boas e acho até que servem a
um propósito positivo. Mas nunca devemos esquecer que as pessoas aderem ao
líder antes mesmo de aderirem a uma declaração de missão. Se aderirem ao líder,
elas irão aderir a qualquer declaração de missão que o líder tiver. (2004 p. 134)

Veja alguns exemplos de declarações de visão:


• Capacitar líderes servos do corpo de Cristo com as ferramentas necessárias para
fortalecer a igreja. (A missão da SEDELIM-CBN)
• Mobilizar a ala feminina da I. B. Betel para sair da zona de conforto a fim de
intensificar a evangelização e visitação.
• Capacitar jovens e adolescentes da CBN-AL a serem comprometidos com Deus
através da oração, consagração e evangelização.

1.2. Como elaborar a visão?

• Orando;
• Pesquisando e conversando;
• Em conjunto com líderes que têm a mesma paixão;

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• Expressando a ideia numa forma curta e memorável.

Os passos a seguir, para a elaboração da visão do seu departamento, ou


ministério, podem ser desenvolvidos em pequenos grupos:

1º Passo - Responda às questões abaixo:


• A quem servimos? (Identificar três características do seu público alvo ideal: idade,
raça, problema, situação, sexo, etc.).
• O que fazemos com e por eles? (Identificar três alvos do seu serviço).
• Onde? (Identificar o alcance geográfico).
• Como devemos agir? (Identificar como o projeto vai funcionar).
• Por que estamos apaixonadas por essa causa? (Identificar a relevância).

2º Passo – Com base nas respostas anteriores sintetize sua visão de acordo com o
esquema abaixo:
[O que?] [Para quem? onde?] [Finalidade/benefício?]
Exemplo da visão dada a Moisés: Libertar [o que] o povo de Israel [quem/para quem] da
escravidão do Egito [onde] e conduzi-los até a Terra Prometida [finalidade/benefício].

3º Passo – Redação final


Sua afirmação de visão em 7 a 12 palavras:
Libertar o povo de Israel da escravidão do Egito e conduzi-los até a Terra Prometida.

2. PLANEJAR

O cristão pode planejar? O planejamento não afronta a soberania divina?


O erro de dois extremos:
• Deus planeja e controla tudo, então não devo fazer nada (passividade).
• Eu sou dono do meu próprio nariz; faço os meus planos e depois exijo que Deus
abençoe e viabilize a realização deles (arrogância).

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Êxodo 4:27-31. Moisés recebeu uma visão magnífica. E mesmo com a garantia de que o
EU SOU estaria com eles, não era possível que o grande êxodo dos israelitas acontecesse
antes do planejamento das ações. Isto incluía o compartilhamento da vontade de Deus
com Arão e todo o povo, a fim de que se preparassem para o dia da libertação.
Segundo Costa (2012), alguns líderes têm uma visão clara do futuro que desejam
para suas organizações, mas erram por não organizar essas ideias de forma a
compartilha-las. São líderes tão ocupados com as demandas e problemas do dia a dia que
o planejamento torna-se uma tarefa penosa.
Realizamos atividades, diariamente, que exigem de nós o mínimo de
planejamento, mesmo que, apenas, mentalmente. Uma dona de casa, desenvolvendo suas
tarefas domésticas, e um pai, organizando as férias da família, são exemplos claros de
planejamento instintivo. Planejar é simplesmente pensar antes de fazer. No exemplo da
organização de uma viagem, levantamos algumas questões essenciais para garantia de
uma experiência positiva:

“Se eu tivesse oito horas para derrubar uma árvore, passaria seis afiando meu machado.”
Abraham Lincoln

19
Os eventos ligados aos departamentos e ministérios precisam ser planejados de
forma equilibrada, por meio de ações dosadas e coerentes com a tríplice missão da igreja.
Para Clowney (1995 apud Mulholland 2004), o alvo principal da igreja, de glorificar a
Deus, é alcançado quando ela cumpre sua missão global: servir a Deus, diretamente, em
adoração; servir aos santos em nutrição; e servir ao mundo em testemunho.
Três pilares:
• Para com Deus (sentido vertical): louvor, estudo bíblico, oração, etc.
• Para com os membros da igreja (sentido horizontal, para dentro): passeio no
parque, campeonato de futebol, confraternização de aniversário e outros.
• Para com os não cristãos (sentido horizontal, para fora): viagem missionária de
curto prazo, campanha contra dengue, assistência às pessoas enfermas.

PARA EXERCITAR
Indique outras atividade/eventos possíveis para cada um dos pilares da missão.

Plano de Ação
Após definir os objetivos e metas de uma organização ou evento, é necessário
elaborar um plano de ação que esquematize o planejamento de forma sistemática e
compreensível.
De acordo com Costa (2012), um bom plano de ação precisa responder, ao
menos, às seguintes perguntas: o que fazer (what)?, para que fazer (why)?, como será
feito (how)?, quem vai fazer (who)?, onde fazer (where)?, quando será feito (when)?,
quanto custará (how mach)?

Plano B
Na maioria das vezes imprevistos são previsíveis. Daí a importância dos planos B,
C, etc. Os imprevistos precisam, na medida do possível, ser antecipados. Principalmente,
para as ações ligadas às áreas vitais do projeto, sem as quais não seja possível
prosseguir:
 Se o preletor não chegar?
 Se a energia elétrica falhar?
 Se a lâmpada do projetor pifar?
 Se alguém adoecer?

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Ser precavido é diferente de ser pessimista.

3. IMPLEMENTAR

Êxodo 7:8-10 – Moisés e Arão seguiram as instruções de Deus, nos mínimos detalhes,
quando se apresentaram ao faraó.
Êxodo 12:50-51 – Todos os israelitas fizeram como o Senhor tinha ordenado a Moisés e
por isso foram libertados da escravidão.
O líder pode ser bem-sucedido na elaboração da visão e do plano de ação, mas
falhar, no final das contas, por falta de atenção aos detalhes na execução. O sucesso do
projeto, ou evento, é determinado pelos detalhes.

Faça as primeiras coisas primeiro.


Na fase de planejamento as ações são ordenadas de acordo com a prioridade e,
na execução, este cronograma deve ser observado. Priorize os detalhes e execute os itens
mais importantes antes dos demais.

Responsabilidades do líder na implementação: acompanhar e inspecionar


• Prestar atenção aos prazos e à ordem dos elementos;
• Acompanhar os liderados nas responsabilidades delegadas;
• Diante de imprevistos, problemas e desafios, tomar cuidado com o desânimo e o
risco de desviar o foco.

Quem é a pessoa mais atarefada?


O líder é a pessoa que mais investe no evento ou projeto, que inspira aos outros
membros da equipe por sua dedicação e seriedade. É o primeiro a chegar e o último a sair.
Mas, não pode ser a pessoa mais atarefada. Um líder sobrecarregado é sinal de erro na
distribuição das tarefas, no planejamento ou execução. É importante que o líder delegue
tarefas ao maior número possível de pessoas para multiplicar suas forças e desenvolver os
dons e habilidades dos liderados. Trataremos mais a fundo deste tema na delegação, na
Unidade 3 – Ferramentas de liderança.

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4. CUIDAR DE PESSOAS

Êxodo 14:10-14 – Logo que os israelitas receberam a liberdade foram perseguidos


pelo faraó. O perigo eminente fez com que o povo ficasse aterrorizado e se arrependesse
da saída do Egito. Moisés agiu sabiamente e acalmou o povo com a certeza da visão e do
cuidado de Deus. Cuidar das pessoas é a função mais importante da liderança. Mais do
que apenas realizar tarefas. O gerente foca nas tarefas; o líder foca nas pessoas. O líder
desenvolve as pessoas, estimulando-as a agir de acordo com seus dons e suas paixões.
Uma liderança de autoridade é construída, exclusivamente, pelo serviço.
Recebemos o chamado de Cristo para amar e servir as pessoas. Quando Jesus nos
ordenou o amor pelos inimigos, Ele não quis dizer que devemos fazer de conta que as
pessoas ruins não são ruins. Seu ensino consiste em que devemos nos comportar bem em
relação a elas. O amor é o que o amor faz. (HUNTER, 2004).
Boa liderança, na sua essência, é expressar amor pelas pessoas, em
reconhecimento ao valor que elas possuem para Deus. Lídório (2008) orienta que
devemos investir em pessoas para a vida e não simplesmente para o tempo de atuação na
instituição ou equipe que coordenamos.

I Coríntios 13, adaptado à liderança cristã:


Ainda que eu tenha toda a autoridade, exercite grandes dons espirituais, realize grandes
projetos e eventos, se eu não tiver amor nada adiantará. O líder cristão é paciente e
bondoso. Não inveja, não se vangloria e não se orgulha. Não maltrata. Não procura seus
interesses. Não se ira facilmente, não guarda rancor. Não se alegra com injustiça, mas se
alegra com a verdade. O líder cristão tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
Encontramos aqui qualidades do amor que definem o caráter de um líder-servo.
Essas qualidades não são inatas. Precisam ser desenvolvidas no caráter do líder cristão.
• paciência
• bondade
• humildade
• respeito
• altruísmo
• perdão
• honestidade
• compromisso

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O caráter do líder pode ser percebido nos pequenos detalhes e, especialmente, em
suas reações. De acordo com Lidório

Em geral, somos treinados para agir bem, mas não para reagir bem. As reações são
mais difíceis que as ações, pois, especialmente na liderança, as ações são
planejadas e seguem um padrão projetado. Um líder, porém, é medido por suas
reações. Se as ações demonstram planejamento, as reações demonstram valores. (
2008 p. 19).

Para cuidar bem dos outros é necessário:


• Reconhecer e mobilizar os dons e habilidades dos membros;
• Treinar/capacitar os seguidores, ensinando o porquê e como fazer;
• Elogiar o trabalho bem feito;
• Corrigir com mansidão e respeito;
• Reorientar quando perceber uma falta de habilidade ou conhecimento.

Elogiar o trabalho bem feito:


Quem gosta de elogios? Por que eles são importantes para você? O que eles
fazem em sua vida? Por que são importantes para nossos liderados? Quais os efeitos dos
elogios bem aplicados?

Veja alguns princípios a respeito do elogio:


• O elogio sincero anima a pessoa a continuar;
• Elogie a pessoa imediatamente e em público;
• Elogie a pessoa mesmo que ela esteja ausente;
• Elogie, também, por e-mail, Whatsapp e outros meios de comunicação viáveis.

Para elogiar uma pessoa utilize a técnica “SABE”. O acróstico o ajudará a lembrar-
se das diretrizes para um elogio eficaz:
• Sincero (não bajule – seja genuíno);
• Animador (encoraje a pessoa a continuar);
• Breve (em poucas palavras);
• Específico (descreva o que ela fez, não faça elogio genérico).

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Corrigir o que precisa ser melhorado:
Quem gosta de ser corrigido? Quem se sente à vontade para corrigir os membros
da equipe? Qual o propósito da correção? Quais os efeitos das correções bem aplicadas?
Veja alguns princípios a respeito da correção:
• A correção amorosa instrui e anima a pessoa a fazer melhor da próxima vez;
• Corrija a pessoa individualmente;
• Corrija a pessoa pessoalmente. Não envie recados;
• Evite correções por e-mail, Whatsapp e outros meios de comunicação.

Hunter (2004) orienta que a correção não seja feita em público, pois quando
humilhamos alguém publicamente é como se fizéssemos um saque da nossa “conta
relacional” com a pessoa e com todos aqueles que presenciam. Um elogio posterior
provavelmente não compensará o saldo da “conta negativa”. As pessoas que assistem ao
constrangimento de alguém corrigido publicamente sempre se perguntam quando será a
sua vez. O mesmo princípio é verdadeiro quando elogiamos.
Veja I Tm 5:1-2 - Não repreenda asperamente o homem idoso, mas exorte-o como se ele
fosse seu pai; trate os jovens como a irmãos; as mulheres idosas, como as mães; e as
moças, como a irmãs, com toda a pureza.

Para corrigir utilize a técnica do “Sanduíche”: pão (afirmação) + recheio (correção)


+ pão (afirmação).
• Afirmação (Todas as pessoas possuem pontos positivos em seu desempenho,
mesmo aquelas que necessitam de correção. O elogio certo prepara a pessoa para
receber a correção/instrução);
• Correção + reflexão (Orientar como evitar o mesmo erro no futuro);
• Afirmação (Encorajar a pessoa a não desistir por causa do erro).

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5. AVALIAR

Êxodo 18.13-26 – Moisés cometeu alguns erros de liderança, apesar das suas boas
intenções para com a nação de Israel. Após avaliar a situação de desgaste de Moisés e do
povo, Jetro, seu sogro, lhe aconselhou como melhorar. A observância do conselho, dado
por Jetro, resultou em benefícios para todos. O propósito primário de uma avaliação é
aprender para fazer ajustes. Bem diferente do que vemos nas escolas, empresas e outros
contextos onde as avaliações servem para punir e castigar.
Existem inúmeras técnicas de avaliação e você, certamente, já conhece algumas.
Para nosso treinamento, queremos destacar uma técnica que é de suma importância: a
Reunião de Reflex-Ação. Infelizmente, poucos líderes têm o hábito de promover avaliações
periódicas ou eventuais.

A reunião de avaliação – Reflex-Ação


(Logo após o evento, periodicamente ou sempre que necessário):
• Rever a visão/propósito;
• Lembrar os detalhes do plano de ação;
• Relatar como aconteceram os fatos;
• Avaliar o que deu certo;
• Destacar o que se deve repetir;
• Definir o que se aprendeu com os erros, como melhorar ou fazer diferente da
próxima vez;
• Celebrar a chegada, pois é Deus que dá a vitória.

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UNIDADE 3 – FERRAMENTAS DE UM LÍDER: DELEGAR E CONDUZIR UMA REUNIÃO

Perguntas que nortearão este tópico:


• Quais a principais ferramentas do líder eficaz?
• Como utilizar bem as ferramentas de liderança?

1. FERRAMENTA: DELEGAÇÃO

1.1. O que é delegar?

Delegar é assinar autoridade e responsabilidade para uma pessoa de forma que


ela fique pessoalmente responsável pela realização de uma tarefa ou função. É uma via de
mão dupla; uma troca de confiança, autoridade e responsabilidade entre duas pessoas:
• O líder confia ao liderado o cumprimento da tarefa, conferindo-lhe autoridade e
responsabilidade para execução.
• O liderado confia na autoridade e responsabilidade do líder em acompanhar e
apoiar o trabalho.
Delegar exige coragem da parte do líder. Aquele que não delega, mesmo
ocupando uma posição de liderança, não é um líder de verdade. Veja os conselhos de
Lidório (2008) aos líderes:

 Enfraqueça sua liderança em momentos tranquilos, a fim de que novas lideranças


surjam.

 Fortaleça sua liderança em momentos de crise, para que o essencial no trabalho


seja mantido.

1.2. A importância da delegação para a liderança cristã:

• Somos um Corpo em Cristo. Sendo assim, a contribuição de cada pessoa é


importante para cumprir a missão de Deus;

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• Deus nos chama e capacita para colaborar em Sua missão (Ef 4:11-12);
• Se você tentar realizar tudo sozinho acabará exausto, sem forças e o trabalho
poderá não ser concluído;
• Dar ao outro a oportunidade para crescer, alcançar o próprio potencial, exercitar os
dons e habilidades, desenvolver e sentir-se realizado.
• A matemática do sinergismo: 1 + 1 = 3; 3 + 5 = 10. As partes juntas produzem muito
mais do que as partes separadas; a soma é muito mais do que a simples adição
das partes.

Algumas razões pelas quais um líder não delega:


• Não sabe como delegar, nunca teve experiência no compartilhamento de tarefas;
• Sofreu decepções no passado ao delegar, por isso acha melhor fazer tudo sozinho
e evitar sofrimento futuro;
• Quer ter completo controle de tudo, saber de todos os detalhes e tomar decisões
rapidamente;
• Sente-se ameaçado pensando que pode perder sua autoridade ou posição;
• Quer a glória do sucesso para si;
• Quer evitar a frustração de trabalhar com pessoas “menos eficientes”. Não tem
confiança nos outros.

Exemplos de delegação:
• Ex 18:13-26 – Moisés delegou a responsabilidade do trabalho aos líderes do povo;
• Nm 11:10-17 – Moisés não conseguia atender todas as necessidades e
reclamações do povo. Por isso, Deus repartiu uma porção do Espírito que estava
sobre ele com outros 70 líderes para ajudá-lo.
• At 6:1-7 – Os diáconos foram escolhidos para servir às mesas e dividir as tarefas
com os pastores.

1.3. Princípios da delegação:

• Buscar a orientação de Deus sobre os dons e as habilidades dos seus liderados;

27
• Delegar àqueles que têm a habilidade e a paixão adequadas para fazer o trabalho;
• Definir claramente o que deve ser feito, qual resultado esperado e confirmar se a
pessoa entendeu;
• Definir o prazo de entrega e toda informação necessária para realização de um bom
trabalho;
• Expressar sua confiança na pessoa;
• Fazer supervisões periódicas para verificar se o trabalho está progredindo
corretamente.
• Não interromper a execução do trabalho ou se intrometer. Intervir somente em caso
de emergência extrema.

1.4. Etapas da delegação:

Um dos propósitos da delegação é desenvolver as habilidades dos liderados. De


acordo com Hunter (2004), o desenvolvimento de novos hábitos e habilidades passa por 4
estágios:
• Estágio 1 – Inconsciente e Sem Habilidade: Este é o estágio em que o aprendiz
ignora o comportamento e o hábito. Ele está inconsciente ou desinteressado em
aprender a prática e, obviamente, despreparado.
• Estágio 2 – Consciente e Sem Habilidade: O aprendiz toma consciência de um novo
comportamento, mas ainda não desenvolve a prática. Tudo é muito desajeitado,
antinatural e até assustador. Mas, se continuar a lidar com isso, irá para o terceiro
estágio.
• Estágio 3 – Consciente e Habilidoso: Este é o estágio em que o aprendiz se torna
cada vez mais experiente e se sente confortável com o novo comportamento ou
prática.
• Estágio 4 – Inconsciente e Habilidoso: Este é o estágio em que o aprendiz já não
tem que pensar; é quando os novos líderes conseguem incorporar seu
comportamento aos hábitos e à sua verdadeira natureza.

Com base nestes estágios você pode seguir um esquema na delegação que
respeite as etapas necessárias para a maturação do seu liderado:

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1° - Você faz, ele observa;
2º - Você faz, ele auxilia;
3º - Ele faz; você auxilia;
4º - Ele faz; você avalia.

2. FERRAMENTA: COMO CONDUZIR UMA REUNIÃO PRODUTIVA

A realização de reuniões faz parte do dia a dia da liderança e constitui-se numa


importante ferramenta de comunicação e motivação das pessoas. Entretanto, muitas vezes
as reuniões se tornam longas, entediantes e ineficazes. Precisamos dinamizar o uso desta
ferramenta para a eficácia do trabalho. (TEARFUND, 2011).

PARA REFLETIR
Você gosta de participar de reuniões?
Qual foi a pior reunião que você participou?
Como essa reunião poderia ter alcançado melhores resultados?

TESTE DE CONHECIMENTO
Marque (V) para as sentenças verdadeiras e (F) para as falsas.
1. ( ) As responsabilidade do líder são restritas ao dia e horário marcados para a
reunião.
2. ( ) O assunto que será discutido na reunião é a única coisa com a qual o líder deve se
ocupar.
3. ( ) Iniciar a reunião somente quando todo mundo chegar.
4. ( ) Devemos esgotar a discussão de todos os pontos da pauta, custe o que custar.
5. ( ) Minha memória é suficiente para gravar as decisões do grupo.
6. ( ) Após o encerramento das discussões, encerra-se as responsabilidades referente a
reunião.

Repostas do Teste
1. As responsabilidades do líder são restritas ao dia e horário marcados para a
reunião? As responsabilidades para com a reunião começam dias ou até semanas antes

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com os preparativos do líder e dos participantes, e termina com o “fechamento do círculo”,
confirmando as decisões tomadas.
2. O assunto que será discutido na reunião é a única coisa com que o líder deve se
ocupar? Reuniões são eficazes quando realizadas em ambientes apropriados e com os
recursos necessários. Também devemos prestar atenção ao propósito social da reunião,
que às vezes torna-se tão importante quanto os assuntos discutidos.
3. Iniciar a reunião somente quando todo mundo chegar? Esta postura penaliza os que
chegam no horário. O correto é iniciar pontualmente, com quem estiver presente, e não
voltar a debater assuntos já tratados.
4. Devemos esgotar a discussão de todos os pontos da pauta, custe o que custar?
Devemos garantir a discussão dos tópicos prioritários e agendar nova reunião para tratar
dos demais assuntos.
5. Minha memória é suficiente para gravar as decisões do grupo? As pendências e
decisões das reuniões devem ser anotadas, pelo líder ou pessoa designada. Ao confiar
somente na memória, corre-se o risco de interpretações diferentes das decisões tomadas,
perda dos prazos e não cumprimento de todos os pontos levantados.
6. Após o encerramento das discussões, encerram-se as responsabilidades
referentes à reunião? A reunião estará, efetivamente, encerrada no “fechamento do
círculo”, quando todos os participantes ou demais pessoas envolvidas receberem as
anotações com os assuntos discutidos, os responsáveis pelas tarefas, prazos etc.

Questões: 1. (F), 2. (F), 3. (F), 4 (F), 5 (F), 6(F).

3. COMO CONDUZIR UMA REUNIÃO PRODUTIVA

Apesar das experiências negativas, uma reunião produtiva e prazerosa é


realmente possível. Para realizar uma reunião eficaz é necessário o investimento de tempo
e esforço em todas as etapas da reunião:
• Preparar antes da reunião;
• Conduzir a reunião;
• “Fechar o círculo” depois da reunião.

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3.1. Preparar a reunião

• Orar e submeter ao senhorio de Deus: a reunião, os participantes e os resultados;


• Definir o propósito e os resultados desejados. O organizador da reunião deverá
responder as seguintes perguntas: Por que é necessário realizar esta reunião? O
que devemos realizar a partir da reunião? É o trabalho adequado para um grupo ou
para um indivíduo? O que deve ser levado das reuniões anteriores?
• Preparar a pauta com pontos a serem discutidos; colocar os assuntos mais
importantes no início da pauta;
• Identificar o propósito de cada item;
• Listar os recursos necessários para cada tópico da reunião;
• Definir a duração da reunião:
o Tempo ideal: 1 hora;
o Tempo médio: 1 e ½ horas;
o Tempo máximo: 2 horas.
• Notificar os participantes uma semana antes e, novamente, um dia antes da
reunião;
• Submeter a agenda aos participantes para apreciação;
• Informar aos participantes suas responsabilidades na reunião;
• Preparar o material necessário para a reunião: cópias das anotações referentes às
reuniões anteriores, cópias dos documentos a serem discutidos, slides, lanches,
etc;
• Chegar com a antecedência de 30 minutos para orar, organizar o espaço físico,
materiais da reunião, lanche etc. Um ambiente organizado e confortável facilita a
produtividade da reunião.

3.2. Conduzir a reunião

• Iniciar no horário marcado;


• Vigiar o relógio para controle do tempo: desenvolvimento (discussão de cada item)
e término da reunião (observar o tempo máximo de 2 horas);
• Começar com um quebra gelo, devocional, dinâmica, etc;

31
• Revisar a agenda e os resultados desejados, fazendo ajustes na pauta, se
necessário;
• Priorizar os itens definidos como prioritários;
• Compartilhar informações, discutir e tomar decisões;
• Permitir que todas as pessoas expressem seu ponto de vista e deem suas
sugestões;
• Definir os prazos e responsabilidades para cada item ou decisão tomada.
• Registrar as discussões e decisões;
• Fazer um resumo, ao final de cada item, da discussão e decisões tomadas (tarefas,
prazos e responsáveis);
• Sumariar as decisões ao término da reunião;
• Agendar a próxima reunião, se for necessário.

3.3. Fechar o círculo após a reunião

• Enviar as anotações da reunião aos participantes, destacando as tarefas, prazos, e


responsáveis;
• Contatar cada pessoa com responsabilidades para saber o progresso, esclarecer
dúvidas, incentivar e cooperar para superação das dificuldades;
• Planejar a próxima reunião.

32
UNIDADE 4 – GESTÃO DE VOLUNTÁRIOS

Perguntas que nortearão este tópico:


• O que é voluntariado?
• Qual a importância do trabalho voluntário?
• Como mobilizar os voluntários na igreja?
• Como fidelizar o trabalho voluntário?

Os princípios da liderança que serve se aplicam a qualquer contexto de influência


de pessoas. O gerente que conduz os funcionários da empresa sob ameaças e abuso do
poder, conferido pelo cargo, tende a alcançar resultados apenas quantitativos. Para que
esse gerente desenvolva o potencial máximo de sua equipe, terá que ser um líder-servo e
envolver as pessoas do “pescoço para cima”. Estes princípios são ainda mais importantes
no contexto eclesiástico. Se a ameaça de demissão não é suficiente para garantir a
fidelidade e dedicação do funcionário assalariado, muito menos para aqueles que atuam
como voluntários no serviço ministerial. Há líderes cristãos que não conseguem trabalhar
com os recursos humanos voluntários por entendê-los como mão de obra desqualificada
e descomprometida. Este é um grande equívoco, pois o voluntariado é um grande
tesouro para a expansão do Reino de Deus.
A Lei nº 9.608/1998 define o serviço voluntário como atividade não remunerada,
prestada por pessoa física a entidade pública de qualquer natureza, ou a instituição
privada de fins não lucrativos, que tenha objetivos cívicos, culturais, educacionais,
científicos, recreativos ou de assistência à pessoa. (Brasil, 1998).
De acordo com Silva (2010) a Lei do Voluntariado surgiu no processo de evolução
do Terceiro Setor, na década de 1990, e da consequente necessidade de regulamentar o
trabalho de cidadãos que, a cada dia, mais se engajavam em atividades voluntárias.
A igreja, como parte deste setor, precisa reconhecer esse fenômeno e
comprometer-se com o cuidado dos seus voluntários.

33
1. A IMPORTÂNCIA DO VOLUNTARIADO

Se desejamos ser uma comunidade que funciona biblicamente e maximiza seu


potencial, precisamos estimular a visão do voluntariado e reconhecer sua importância para
o indivíduo e para a igreja. (HYBELS, 2013)

1.1. Para o indivíduo

Não devemos interpretar o voluntariado como meio de receber algo em troca. No


entanto, sabemos que o caminho do serviço ao próximo, como qualquer outro caminho que
leva à obediência, quase sempre traz recompensas.
O efeito mais poderoso do ato de servir é que ele desvia o foco do nosso coração,
transferindo-o de nós mesmos para os outros. A verdadeira satisfação nunca se origina da
autogratificação.
Apesar do compromisso assumido no emprego as pessoas reconhecem que sua
vocação profissional não satisfaz as necessidades mais profundas que lhe agitam a alma.
Os voluntários podem transformar a sociedade e, ao mesmo tempo, encontrar profunda
satisfação pessoal.

1.2. Para a igreja

Na maioria das igrejas modernas encontramos um grupo de profissionais


sobrecarregados, pagos com os dízimos e as ofertas da congregação, para realizar todas
as funções ministeriais, enquanto todos os outros permanecem como observadores
passivos, com seus dons e talentos se atrofiando por falta de uso. Snyder afirma que:

A maioria dos membros das igrejas espera médicos que cuidem deles, não que os
treinem para tratar dos outros; espera advogados que deem conselhos sábios, não
que os introduza na fraternidade secreta dos que entendem como o sistema legal
funciona. Da mesma forma, queremos pastores que nos sirvam, e não que nos
incentivem e treinem para servirmos aos outros. (1983, p.169 apud Hybels, 2013,
p.63)

Não podemos formar uma igreja que honra a Deus se tivermos uma congregação
repleta de consumistas. A falta de dinheiro é, provavelmente, uma dádiva magnífica, pois

34
força-nos a descobrir que a igreja destina-se a ser, em primeiro lugar, uma organização de
voluntários. O verdadeiro poder da igreja é o poder de todos, tanto de homens como de
mulheres, tanto de jovens como de adultos, em oferecerem seus dons e colocarem em
prática o plano redentor de Deus. O verdadeiro sacerdócio cristão é onde irmãos e irmãs
servem em regime de interdependência.

2. RECRUTAMENTO DE VOLUNTÁRIOS

• Tudo começa com a oração.


Ao reconhecer que os recursos para a expansão do Reino dos Céus são
provenientes do próprio Deus, rogaremos a Ele que envie os trabalhadores necessários a
Sua seara (Mt 9:38).
• Desafie as pessoas.
“Depois de ter subido ao monte e passado a noite orando, Jesus, ao amanhecer,
chamou seus discípulos e escolheu doze apóstolos” (Lc 6:12-13). A maioria das pessoas
que começou a servir, em uma época específica ou em um lugar específico, o fez porque
alguém desafiou. Portanto, não se esqueça de pedir.
Você convida as pessoas a fazerem parte da obra redentora de Deus? Ou
apresenta o voluntariado como uma obrigação, um trabalho penoso, como um pai pedindo
ao filho que leve o lixo para fora? Por que não devemos sentir culpa por pedir que pessoas
ocupadas trabalhem como voluntários na igreja local? As pessoas que permitem que Deus
as conduza aonde Ele deseja que sirvam sentem uma satisfação e uma alegria incríveis.
(HYBELS, 2013).
Para Mannoia (2009), podemos influenciar as pessoas que nos cercam em três
direções: para que nos sirvam, para que sirvam a instituição ou para que sirvam a Deus.
Se você estiver influenciando as pessoas para que sirvam a Deus, faça isso sem
culpa.
Algumas formas de pedir:
 Com um sermão desafiador;
 Apresentando uma necessidade específica;
 Através de voluntários recrutando outros voluntários;
 Valendo-se da credibilidade dos relacionamentos criados.

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Apresente a visão
Não é sensato pedir a um provável voluntário que assuma, imediatamente, um
compromisso para longo prazo. Melhor seria convidá-lo a participar de um processo de
experimentação. Mesmo assim apresente-lhe a visão do trabalho de forma clara e
atraente. Cada provável voluntário precisa saber exatamente o que fazer. A hesitação de
um novato quase sempre está relacionada à falta de informações.

3. ALOCAÇÃO DE VOLUNTÁRIOS

A seara é grande e os voluntários são poucos. Diante desta escassez precisamos


potencializar os recursos dos voluntários, tendo o cuidado de direcioná-los ao serviço
compatível com seu dom. Pessoas certas nos lugares errados tornam-se as pessoas
erradas. O segredo para encontrar o lugar perfeito de serviço ao próximo é a experiência.
Existem dois extremos. Por um lado, pessoas que, mesmo no lugar errado,
preferem se matar de trabalhar a enferrujar; e do outro, aqueles que cruzam os braços e se
recusam a fazer qualquer coisa enquanto não encontram o lugar ideal. O equilíbrio está em
servir enquanto Deus nos revela, na prática, os dons que Ele nos deu. Não se preocupe
em descobrir imediatamente o encaixe perfeito dos voluntários. Dê a eles permissão para
aprender à medida que adquirirem experiência.
Novo paradigma:
 Vale mais ser um servo fiel do que apenas trabalhar duro.
 Servir primeiro – Venha uma vez e experimente, sem compromisso.
 É muito melhor que os voluntários experimentem e aprendam em vez de insistir em
uma situação frustrante, insatisfatória ou exaustiva que, com o tempo, os fará voltar
ao banco de reserva.

Montando o quebra-cabeça:
 Algumas pessoas não desejam que sua experiência no trabalho voluntário seja uma
repetição de seu trabalho secular.
 Outros voluntários desejam servir a Deus, a igreja e a outras pessoas, usando para
isso talentos que eles passaram dez, vinte ou trinta anos aprimorando no mercado
de trabalho.

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 Enquanto algumas pessoas se dedicam a uma área de serviço em razão de uma
paixão inegável, outras sentem o chamado de Deus para uma área de serviço na
qual imaginavam não ter nenhum interesse.

O voluntário novato é frágil e extremamente vulnerável ao desânimo e a


decepções. Por isso, evite esses erros comuns:

 Arrastar o voluntário a uma posição incompatível com seu dom, interesse ou


habilidade, apenas para “preencher uma vaga”.
Solução - Pergunte ao voluntário: Você é bom em quê? O que o deixa motivado?
Em que você não é bom? O que o deixa exausto?

 Fazer o voluntário perder tempo por não ter nada para fazer, ou receber uma carga
enorme de trabalho sem nenhum objetivo.
Solução - Preparar uma pessoa para coordenar o trabalho dos voluntários a fim
de não desperdiçar as horas preciosas que conseguiram extrair de suas
agendas lotadas.

 Lançar muita responsabilidade nos ombros de um voluntário, provocando exaustão


por exigências irracionais, para as quais não receberam treinamento adequado.
Solução - Adequar as responsabilidades à fase que atravessam na vida, a sua
energia ou seu nível de habilidade, para que não desistam.

 Falta de encorajamento aos voluntários. Muitos se dedicam ao trabalho sem jamais


receber um simples “obrigado”.
Solução - Os servos precisam ser lembrados, constantemente, que não estão
trabalhando em vão. Não são necessárias muitas palavras para encorajar
alguém. Você pode andar ao lado de uma pessoa no corredor, colocar a mão no
ombro dela e dizer uma frase: “Estou feliz por você fazer parte da equipe”.

Cometemos muitos erros que machucam as pessoas. Muitos voluntários,


dispostos a trabalhar, têm sido feridos “no trabalho”, ocupando uma posição de
voluntariado que não foi planejada convenientemente. Cabe aos líderes, e ao pessoal da
igreja, ajudá-los a descobrir uma área apropriada de responsabilidade na qual eles não
sejam subutilizados nem sobrecarregados. (HYBELS, 2013).

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4. AVALIAÇÃO DO TRABALHO

Alguns líderes, quando finalmente encontram alguns voluntários, cruzam os dedos


e torcem para que tudo dê certo e que os voluntários, milagrosamente, permaneçam
dedicados e fiéis até a morte.
A avaliação é essencial para garantir a evolução do trabalho. Conforme estudado
no tópico referente às funções de liderança, o propósito primário de uma avaliação é
aprender para fazer ajustes.

Perguntas importantes a serem respondidas pelo líder:

 Estamos cuidando dos voluntários como deveríamos?


 Estamos oferecendo o treinamento adequado?
 Há uma forma melhor de recrutá-los?
 Quais as experiências que estão passando?
 Estão crescendo espiritualmente?
 Sentem que fazem parte da equipe?
 Estão sendo fortalecidos pela visão geral da igreja?

Perguntas importantes a serem respondidas pelo voluntário, após cada oportunidade


de serviço:
 O trabalho foi significativo?
 Sua energia emocional aumentou ou diminuiu depois que serviu?
 Você gosta da companhia das pessoas com quem serve? Há uma dinâmica
relacional na equipe?
 Qual o tempo que dispõe para servir?

Obs. Se os voluntários disserem que gostaram de cada minuto da experiência, devemos


agradecer e encorajá-los a continuar. Se manifestarem reservas quanto ao retorno,
precisamos descobrir o motivo e tentar corrigi-lo.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Lei n. 9.608, de 18 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre o serviço voluntário e dá


outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9608.htm>.
Acesso em 08 de set de 2017.

COSTA, Eliezer Arantes da. Gestão estratégica fácil. São Paulo: Saraiva, 2012. 227 p.

HUNTER, James C. O monge e o executivo: uma história sobre a essência da


liderança. Tradução de Maria da Conceição Fornos de Magalhães. Rio de Janeiro:
Sextante, 2004. 143p.

HYBELS, Bill. A revolução do voluntariado: liberando o poder de cada um de nós.


Tradução de Maria Emília de Oliveira. São Paulo: Editora Vida, 2013. 145p.

LIDÓRIO, Ronaldo. Liderança e integridade. Belo Horizonte: Editora Betânia, 2008. 111p.

MANNOIA, Kevin W. O fator integridade: a força do caráter no desenvolvimento da


liderança. Tradução de Omar de Souza. São Paulo: Mundo Cristão, 2009. 96p.

MULHOLLAND, Dewey. Teologia da igreja: uma igreja segundo os propósitos de


Deus. São Paulo: Shedd Publicações, 2004.

SILVA, Carlos Eduardo Guerra. Gestão, legislação e fontes de recursos no terceiro


setor brasileiro: uma perspectiva histórica. Revista de Administração Pública - RAP [en
linea] 2010, 44 (Noviembre-Diciembre). Disponível em:
<http://animalcubawww.redalyc.org/articulo.oa?id=241016589003>. Acesso em 08 set de
2017.

TEARFUND (Reino Unido). Passo a Passo 84: liderança. Teddington: [s.n], 2011.
Disponível em:
<http://learn.tearfund.org/~/media/files/tilz/publications/footsteps/footsteps_81-
90/84/fs84pb.pdf>. Acesso em 07 set de 2017.

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