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Uma vez que temos pistas da verdade misteriosa sobre a vida secreta de Deus,
como podemos usar esse poderoso conhecimento para conseguir um encontro
direto com Ele?
Quando procuramos Deus, nos deparamos com dois obstáculos diferentes.
O primeiro é a linguagem que usamos para descrever o que sabemos, e o segundo
é o próprio processo de conhecimento.
Em geral, descrevemos as coisas em termos de tempo, espaço e comparação com
outros objetos.
Por exemplo, você poderia descrever este estudo em termos de tempo e espaço
como aqui e agora.
Poderia compará-lo a outros objetos menores que seu corpo, mas maiores que sua
mão.
Se você está descrevendo uma pessoa, poderia dizer que o George viveu oitenta
anos e morreu há dois anos.
Ele morou em uma cidade a dez quilômetros daqui e era mais inteligente que uma
pessoa comum, mas menos emotivo do que a maioria das pessoas.
Descrevemos o George em termos de tempo, espaço e comparação com outras
pessoas.
Mas esses termos não podem ser usados para descrever e conhecer Deus.
Deus é o Criador do tempo, do espaço e de todos os seres.
Portanto, Ele transcende essas categorias.
Como expliquei no capítulo 5, embora seja comum dizer que Deus é "eterno" e
"infinito", estes termos estão incorretos.
Para a maioria das pessoas, "eterno" significa algo que continua para sempre no
tempo.
Mas Deus é a Fonte do tempo.
O tempo não pode limitar ou definir Deus.
"Infinito" significa algo que não tem fim e continua para sempre no espaço.
Mas Deus é a Fonte do espaço.
O espaço não pode limitar ou definir Deus.
Como a linguagem descritiva é inerentemente relativa, ela nunca vai ser exata
quando aplicada a Deus.
Se descrevo uma mesa como grande ou pequena, a comparação é em relação a
outras mesas.
Se a descrevo como "uma mesa de mogno", a mente do ouvinte automaticamente
busca a imagem "arquivada" da madeira, contrastando o mogno com o pinheiro ou
o carvalho, e assim por diante.
Deus, no entanto, é a Fonte e o Criador de tudo e não pode ser comparado a nada.
Até mesmo o princípio fundamental da Torá e da Cabala de que Deus é "um" é
seguido da explicação de que isso não significa "um comparado a dois".
Por isso, considera-se toda a terminologia aplicada a Deus como uma forma de
idolatria linguística e conceituai.
Como as pessoas estão acostumadas a pensar em termos de tempo, espaço e
comparações, elas automaticamente pensam em Deus como o ser único,
onipotente e incorpóreo, eterno no tempo e infinito no espaço.
Esta imagem é não apenas errada como também muito destrutiva.
É esse tipo de pensamento que contribui para a separação e para o conflito entre a
humanidade e Deus.
Contribui para o raciocínio segundo o qual se Deus é infinito e eu sou finito, se
Deus é um e nós somos muitos, se Deus é eterno e eu sou passageiro, somos
opostos e mutuamente excludentes.
Por isso (como expliquei anteriormente), seria mais correto dizer que Deus está
além do espaço, do tempo e que Ele não é dual.
O ser além do espaço abrange o espaço e pode estar dentro e além do espaço
simultaneamente.
O ser além do tempo abrange o tempo e pode estar dentro e além do tempo
simultaneamente.
O não-dual não é como o número um, oposto a dois, três etc., contribuindo para as
somas enquanto permanece um.
O não-dual é o um que pode incluir o muito, de forma que o muito está no um e o
um no muito.
Deus é totalmente único e não pode ser comparado a outros seres, como cantaram
os israelitas após a travessia do Mar Vermelho:
"Quem é como Tu entre os fortes, Eterno? Quem é como Tu, forte na santidade,
temível em louvores, realizador de milagres?"
(Êxodo 1 5:11)
Naquele momento, a relatividade da língua comprometeu a manifestação deles.
A terminologia normativa que usamos para descrever as coisas não é apropriada
quando se trata de conhecer Deus.
Mas, ainda assim, falamos de Deus como um ser onipotente, eterno e infinito.
Isso é um pouco maluco, mas o que podemos fazer?
Estamos presos; não temos outra linguagem disponível.
De fato, a Torá está repleta de descrições como "a mão de Deus", "as costas de
Deus", "a face de Deus" e "o olho de Deus".
Esses termos constituiriam idolatria se a tradição judaica não nos avisasse a cada
passo que estas metáforas tem de ser lidas poeticamente, não literalmente, e que
as usamos exatamente porque não temos outra linguagem para descrever Deus.
A Torá comunica ideias incrivelmente profundas e abstratas e tem de fazer isso na
linguagem do homem.
Devemos sempre procurar traduzir a metáfora para a verdadeira experiência de seu
significado subjacente.
Se nos lembramos de que os termos são metafóricos, eles podem nos ser úteis
para o direcionamento correto da mente.
Mas se esquecemos e interpretamos literalmente como se descrevessem um ser
eterno, infinito e todo-poderoso "vagando por aí", a nossa busca espiritual está
fadada ao fracasso.
O jogo da fama
Para conhecer Deus, devo ter a experiência de ser conhecido por Ele.
De fato, para existir, eu preciso ser conhecido.
É por isso que as pessoas têm uma necessidade inata de serem reconhecidas.
O reconhecimento é a fundação da nossa existência.
Minha filha, balançando no brinquedo do parquinho, grita: "Papai, olhe!"
Não é que ela queira tanto o meu elogio, mas em algum nível ela sente que quando
alguém observa a sua proeza, esta se torna real.
É por isso também que crianças fogem de casa: para que alguém as procure.
Se você já fugiu quando era criança, se lembra do terrível medo de que ninguém
sentisse a sua falta; talvez ninguém fosse procurá-lo.
O próprio fato de "ser procurado" reforça a identidade em desenvolvimento da
criança.
Certa vez, eu estava caminhando em Jerusalém quando notei uma multidão em
volta de um tipo de espetáculo.
Eu também tentei ver o que todos olhavam.
Para minha surpresa, eram apenas dois punks sentados na esquina.
Um deles tinha o cabelo verde e alfinetes espetados na sobrancelha e no nariz.
O outro tinha o penteado "moicano" e tatuagens por todo o corpo.
Para Jerusalém, eles eram mesmo incomuns.
Fiquei pensando por que as pessoas fazem isso consigo mesmas.
Então entendi que elas simplesmente queriam chamar a atenção.
Precisavam sentir que sua existência era reconhecida.
Todos nós precisamos disso porque a própria base da nossa existência é o
reconhecimento de Deus.
O problema é que o reconhecimento humano nunca pode nos dar a satisfação
máxima que queremos.
É tão importante que você me conheça?
Você e eu somos transitórios.
Podemos estar aqui hoje e não existir amanhã.
Além do mais, o reconhecimento do ser humano nunca vai ser suficiente.
Kirk Douglas conta a história de um papel antigo que fez na Broadway.
As críticas foram ótimas.
Um crítico elogiou sua performance e disse que ele foi "nada menos que
esplêndido".
Mas Kirk não ficou feliz.
Naquela noite, deitado na cama, ele não podia dormir: "O que ele quis dizer com
'nada menos que'? Se ele acha que sou esplêndido, por que não fala logo de uma
vez?"
O reconhecimento humano nunca será suficiente porque nossa existência depende
do reconhecimento de Deus.
A primeira pergunta que Larry King me fez em uma entrevista ao seu programa foi
"Deus está nos assistindo?"
Pensei em fazer uma piada, algo como: "Larry, todos os dias milhões de pessoas
assistem ao Larry King Live. Como Deus poderia perder o seu programa?"
Preferi não arriscar, então eu simplesmente disse: "Sim, Deus está nos assistindo o
tempo todo. Esta é a base da nossa existência."
Antes do programa, eu estava bastante empolgado.
Milhões de pessoas me assistiriam pela televisão.
A excitação, porém, durou apenas até um pouco depois do programa.
Embora tais oportunidades sejam divertidas, elas não transformam a qualidade da
nossa existência.
Se milhões lhe assistem ou não, você ainda existirá.
O que realmente importa é saber que Deus está lhe assistindo.
Se as pessoas desligarem a televisão durante o programa do Larry King, o Larry vai
continuar a existir.
Mas se Deus parar de assistir ao Larry King, então não haverá mais o Larry King ao
vivo.
Segundo a Cabalá, quanto mais acreditamos que Deus nos assiste e expressamos
essa crença em nossas ações e interações uns com os outros, mais sentimos esta
verdade.
Sentiremos a amorosa orientação e o cuidado de Deus em nossa vida.
A verdadeira satisfação na vida não resulta de reconhecimento mundial e fama.
Muitas pessoas famosas são infelizes.
A verdadeira satisfação chega através do reconhecimento de que Deus o conhece e
se importa com você.
Quando você compreende que esta é a verdadeira fundação da vida, as suas
prioridades mudam.
Você fica menos preocupado com o que os outros pensam sobre você e mais
interessado em simplesmente ser bom e fazer a coisa certa.
Você fica motivado a agir para chamar a atenção de Deus.
Você seria gentil com o taxista hoje.
Ligaria para um amigo só para saber como ele está.
Faria uma doação a uma boa causa ou para um desabrigado na rua.
Estas ações não são dignas de serem noticiadas.
Elas não vão colocá-lo na primeira página do New York Times.
E não vão ser lembradas para sempre pelo público.
Até mesmo o destinatário da sua gentileza pode esquecê-lo.
Mas estas ações dão manchete no céu e Deus nunca o esquecerá.
Estas pequenas ações podem não ser tema de notícia, mas são dignas de nota.
Porque Deus, por assim dizer, tomará nota e o inscreverá no Livro da Vida.
Este é o segredo da verdadeira felicidade.
Tenha em mente que você está na mente de Deus.
E lembre-se de que você existe porque Deus pensa em você e se importa com
você.
Por isso, o verdadeiro caminho para conhecer Deus é experimentar ser conhecido
por Ele.
E se você quer experimentar ser conhecido por Deus, aja como se fosse conhecido
por Deus.
Faça o que Ele lhe pede.
Segundo a Torá, uma busca espiritual não se define em tentar encontrar uma
imagem de Deus, mas em procurar a imagem que Deus tem de você.
Quando o primeiro capítulo do Gênesis afirma que Deus criou o homem à Sua
imagem, está dizendo do que trata a vida: não encontrar a imagem de Deus, mas
ser a imagem de Deus, Seu reflexo e expressão.
A pessoa que conhece Deus pode ser realmente Seu reflexo e expressão.
Quem filosofa sobre Deus não conhece nada, porque não se pode conhecer Deus
como a um objeto.
Só se pode conhecer Deus como sujeito de todas as expressões — assim como o
pensamento é reflexo e expressão do pensador, ou a música é reflexo e expressão
do artista.
Nosso objetivo como seres humanos não é obter uma visão de Deus, que não pode
ser visto, mas nos tornar a visão de Deus; ser, de fato, do modo como Deus nos
vê.
O caminho do serviço
Conhecemos Deus como sujeito não apenas por sermos conhecidos por Ele, mas
também por sermos usados por Ele.
Uma vez conheci um roteirista de filmes muito famoso em Hollywood.
Ele me disse que todo dia, antes de começar a escrever, diz uma pequena oração:
"Por favor, Deus, me use."
Ele me explicou que nunca sente que está escrevendo o roteiro.
Ele sente que Deus o usa para escrever.
"Esses filmes são de Deus, não meus", ele disse.
Eu respondi: "Os bons são de Deus, mas os ruins são seus."
Uma amiga minha, que escreve romances, compartilhou uma experiência parecida.
Ela disse que as passagens mais bonitas do seu livro foram de certo modo ditadas a
ela.
Ela ouvia as palavras em sua mente e simplesmente as escrevia, tentando digitar
com a mesma rapidez com que as palavras vinham.
Muitas vezes, quando dou palestras públicas, ouço uma voz dentro de mim me
dizendo o que dizer.
O problema, porém, e que às vezes ela me manda a uma direção diferente daquela
que eu havia preparado em minhas notas escritas.
Aprendi a confiar nesta voz e a me entregar, mesmo que eu não saiba aonde ela
vai me levar.
A palestra sempre sai melhor do que o planejado.
E eu a aprecio muito mais porque sinto Deus como o palestrante e eu mesmo como
o discurso.
Uma advertência: se você começar a pensar que sempre que ceder a um impulso,
trata-se de Deus agindo ou falando por você, você pode se meter em uma grande
encrenca.
É por isso que a Torá nos direciona e orienta sobre como estar realmente a serviço
de Deus.
E quando seguimos essas normas, nos conectamos à Fonte de todo ser.
Isso está expresso no significado profundo do nome essencial de Deus — YHVH, o
Tetragrama.
Este nome (como mencionado anteriormente) vem da palavra hebraica que
significa "ser".
Um dos princípios fundamentais da Torá traz que todos os nomes associados a
Deus sugerem algo sobre a ação de Deus (mas não a Sua essência).
YHVH sugere que o ato essencial de Deus é ser.
Portanto, talvez a melhor tradução deste nome seja "sendo".
Se você é palestrante, está discursando, se é escritor, está escrevendo.
E se você é, então está "sendo".
Este nome revela a incrível verdade sobre nós mesmos.
Estamos “sendo".
De fato, somos verbos.
O que significa "ser"?
Digamos que o Joe é inteligente, mas não está sendo inteligente.
Isso quer dizer que ele não está expressando nem manifestando sua inteligência.
Assim, também, todo o universo é um verbo — um processo dinâmico de
expressão.
Quem, então, é o nome?
Quem é o sujeito?
Quem está sendo?
YHVH — a única Origem de Todo Ser, o "Sendo".
Sim, Deus é o "Sendo", a Fonte e o Sujeito de toda a existência.
Mas nós estamos sendo.
Nós somos verbos.
Deus é o palestrante e nós somos o discurso.
Deus é o conhecedor e nós somos não apenas o conhecido como também o
conhecendo.
Todo artista verdadeiro já sentiu Deus como sujeito, tanto se O identificou como tal
ou não.
A sensação de ser um canal para uma força criativa que flui é uma experiência de
Deus como sujeito.
Certa vez perguntaram a Bob Dylan: "Como você compõe?"
Ele respondeu: "Eu me sento para escrever e sei que vai dar tudo certo."
Às vezes eu componho músicas.
Uma vez eu estava sentado ao piano e comecei a tocar uma bela canção que nunca
tinha ouvido antes.
Senti-me realmente possuído; meus dedos se moviam sem que eu lhes dissesse
para onde ir.
Minha esposa entrou no quarto e perguntou: "Que música é esta?", e eu respondi:
"Só estou tentando ficar fora do caminho."
Nos momentos criativos, os artistas sentem que a pintura, o poema ou a dança não
vem deles, mas através deles.
A verdadeira origem está, de certo modo, "além".
É uma experiência intuitiva de Deus como sujeito.
Nesses momentos de iluminação, conhecemos Deus.
Esse é o verdadeiro significado subjacente a todos os mandamentos.
Conhecemos Deus por meio do serviço para concretizar a Sua vontade e ser à Sua
imagem.
Os mandamentos são como cabos que nos conectam à fonte de toda consciência.
Quando o povo judeu recebeu a Torá no Monte Sinai, a primeira revelação que
ouviram era o motivo persuasivo pelo qual eles iriam querer cumprir alegremente a
vontade de Deus.
O primeiro mandamento é saber que "Eu sou o Eterno, teu Deus, que te tirei da
terra do Egito".
No entanto, esta não é necessariamente a única maneira de traduzir o texto
hebraico original.
Ele também poderia ser traduzido como "O 'Eu' é o Eterno, teu Deus, que te tirou
do Egito".
Ou seja, o povo judeu teve a experiência do supremo "Eu", o único sujeito, Deus.
Quando nos conectamos ao Supremo "Eu" ao cumprir os mandamentos, acessamos
o poder supremo da liberdade e da criatividade.
A libertação da escravidão é alcançada por meio do serviço a Deus.
Servir a Deus é servir-se a si mesmo, porque Deus é a Origem de todo ser.
O caminho do reflexo
Um terceiro modo de conhecer Deus é por meio do Seu reflexo no universo.
Seus olhos não podem ver a si mesmos, mas podem ver o reflexo no espelho, e
isto dá a você uma ideia de como eles são.
Não posso definir Deus em termos de tempo, espaço e seres criados, mas posso
senti-Lo refletido nestas coisas.
Por exemplo, ao olhar uma pintura de Rembrandt, não imaginamos ver o próprio
Rembrandt, mas podemos inferir algo sobre os traços de caráter do artista.
É um pedaço do mestre em sua obra-prima.
Então, um certo refinamento, bom humor e suavidade são traços óbvios nos
quadros de Rembrandt, o que nos diz algo sobre a pessoa que usou o pincel,
embora a essência do artista continue oculta para nós.
Do mesmo modo, certamente podemos ver o reflexo de Deus em Sua obra.
O Livro de Jó (19:26) diz: "Verei a Deus em minha carne", ou seja, ao refletir sobre
a espantosa complexidade do nosso próprio corpo, aprendemos bastante sobre os
atributos de Deus.
Por exemplo, um grande sinal do amor de Deus por nós é a saliva.
A saliva não apenas apresenta propriedades antibacterianas como também amolece
a comida para que possamos engolir sem esforço ou dor.
As seis glândulas salivares perfeitamente posicionadas na boca não tinham de estar
ali.
Os seres humanos poderiam comer, digerir o alimento e receber seus nutrientes
sem a ajuda das glândulas salivares.
A saliva faz a diferença entre o ato de comer ser prazeroso ou não.
Criar o ser humano com glândulas salivares é um ato de amor.
Comer é uma atividade prazerosa porque Deus quis nos dar esse prazer.
Se seu marido lhe dá um presente exclusivamente utilitário, como um processador
de alimentos, você pode se perguntar se ele a ama ou ama a sua função de
cozinheira; mas se ele lhe dá um belo colar, que serve apenas para lhe fazer feliz,
você pode inferir o amor dele por você.
Só pela saliva já podemos sentir o gosto do amor de Deus por nós.
A encantadora variedade de cores, formas e aromas em um jardim atestam, da
mesma forma, o amor daquele que criou tanta beleza para o nosso prazer.
Apesar de os cientistas dizerem que as flores foram criadas pela natureza
simplesmente para atrair polinizadores, certamente qualquer um que segura uma
rosa delicada ou sente a fragrância do jasmim sabe que estes são presentes de
Deus para a humanidade.
Quando cheiro uma gardênia, sinto o amor de Deus concedido livremente a mim.
É importante ressaltar que nada na Criação me possibilita descrever a essência do
Criador.
Seus atributos podem se refletir na Sua criação, mas a Sua essência permanece
totalmente oculta.
Porém, se reflito sobre as maravilhas do universo e sobre o milagre da minha
própria existência, posso conhecer Deus por meio da minha própria experiência.
O caminho do profeta
O quarto método para se conhecer Deus ocorre por meio de revelação profética.
Usando métodos como meditação e música, os profetas da antiga Israel podiam
induzir estados alterados de consciência nos quais experimentavam uma revelação
direta de Deus.
Ou seja, o Conhecedor se comunicava com o objeto conhecido.
Às vezes eles recebiam mensagens para o mundo inteiro.
Quando essas mensagens tinham valor eterno, eram registradas e depois
incorporadas à Bíblia hebraica.
Somente as revelações de quinze profetas estão incluídas e cerca de uma dúzia de
profetas são mencionados nos vários livros bíblicos.
O Talmud, no entanto, conta que havia tantos profetas na antiga Israel quanto
israelitas que saíram do Egito durante o Êxodo — aproximadamente três milhões.
Também segundo o Talmud, depois que o Templo foi destruído, o período de
profecia terminou.
Hoje podemos sentir inspiração Divina, mas não profecia real.
A inspiração Divina é apenas uma mensagem geral de orientação; já a profecia
trazia uma mensagem específica e clara de comando.
A revelação profética é exatamente o oposto do que fazemos quando buscamos
uma experiência de Deus — o que caracteriza a busca espiritual de hoje em dia.
Quando buscamos uma visão de Deus, Deus é o objeto.
Na revelação, Deus é o sujeito; o que significa que Deus pode dizer a um profeta
algo que ele não queira ouvir.
O principal exemplo disso é o Livro de Jonas.
Deus ordenou que Jonas fosse a Nínive e ele foi o mais rápido que pôde para a
direção oposta, pois tinha grandes objeções a discursar para os pecadores daquela
cidade.
(Por isso é que ele foi parar na barriga de uma baleia.)
Diferentemente do profeta, as pessoas que buscam a Deus hoje em dia se
percebem como o sujeito e sua busca nunca as levará além de suas próprias
preferências.
Revelação é conhecimento transmitido.
E conhecimento é o que nos guia neste mundo de acordo com a perspectiva de
Deus.
A revelação começa onde a experiência do ser humano termina.
Uma experiência pode me levar apenas aos limites exteriores da minha própria
perspectiva.
Revelação é informação concedida de uma perspectiva mais elevada.
A Torá afirma que Deus Se revelou a todo o povo israelita no Monte Sinai.
Os mandamentos, ou instruções da Torá, nunca podem fazer sentido completo pela
perspectiva do homem, porque a própria definição de revelação é o conhecimento
concedido pela perspectiva Divina.
Em uma metáfora simples, revelação é como uma estação de rádio que dá
informações sobre o trânsito.
Você está dirigindo na estrada 83 e pensa qual seria a maneira mais rápida de
chegar ao seu destino.
Há algum engarrafamento mais adiante?
Será que você deveria pegar a próxima saída e fazer um caminho alternativo?
Ou deveria arriscar seguir na estrada?
Não há como saber; não dá para você ver os próximos dois quilômetros de estrada.
Mas o helicóptero de monitoramento de trânsito enxerga tudo.
Pela perspectiva do helicóptero, todas as estradas e a disposição do trânsito são
perfeitamente visíveis.
Então você sintoniza na estação sobre o tráfego e ouve a mensagem:
"Engarrafamento na estrada 83 entre a Kilmer e a Havington. Se você está indo
para o norte, pegue a saída 144."
Nem mesmo o automóvel mais luxuoso pode saber o que o helicóptero sabe, a
menos que o helicóptero se comunique com ele.
Isso é revelação.
Embora revelação seja informação passada a seres humanos de uma perspectiva
mais elevada, o conteúdo da revelação ainda é expresso em "terminologia
humana".
Portanto, quando os israelitas tiveram a experiência direta de Deus na abertura do
Mar Vermelho, eles O viram como um guerreiro.
Na revelação do Sinai, eles O viram como um sábio.
O profeta Ezequiel teve uma visão de Deus e viu a carruagem e o trono celestiais.
Como assim?
Essas pessoas cometeram o erro de ver Deus como objeto?
De jeito nenhum.
A revelação profética ocorre em forma de mensagens transcendentais que a mente
humana traduz em imagens.
Você já ouviu uma sinfonia deitado no sofá e de olhos fechados?
Às vezes, enquanto escuta música, os olhos da mente veem imagens visuais.
Uma passagem delicada de flauta ou de violino pode trazer à mente a imagem de
uma borboleta.
Sons turbulentos podem invocar a imagem de uma tempestade.
Embora a sua mente esteja traduzindo os sons em imagens, você sabe que nem a
borboleta nem a tempestade são imagens que correspondem aos sons que você
ouve.
Assim também, em revelação, a experiência profética é traduzida em imagem, mas
a imagem não corresponde à imagem de Deus mais do que a borboleta
corresponde à imagem daqueles sons musicais.
Em suma
Em suma, devemos entender que, quando procuramos Deus, estamos buscando a
Fonte do tempo, do espaço e de toda a Criação.
Procuramos a Fonte de todo conhecimento.
Portanto, nossa linguagem normativa e descritiva e nossos métodos para adquirir
conhecimento não se aplicam a conhecer Aquele que é a Fonte de Tudo.
Para conhecer Deus, temos de adotar métodos completamente novos de conhecer.
Podemos conhecer Deus quando experimentamos ser conhecidos por Ele.
Podemos conhecer Deus ao servi-Lo e ao reconhecê-Lo como o Sujeito supremo —
a Fonte de todo ser.
Podemos conhecer Deus pelo reflexo dos milagres deste universo, vislumbrando o
Mestre em Sua obra-prima.
E podemos conhecer Deus por meio da experiência profética em que Deus Se
comunica conosco diretamente — o Conhecedor se comunica com o objeto
conhecido.
Continua