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A Vida secreta de Deus – Parte 8

Conhecer e Ser Conhecido

Uma vez que temos pistas da verdade misteriosa sobre a vida secreta de Deus,
como podemos usar esse poderoso conhecimento para conseguir um encontro
direto com Ele?
Quando procuramos Deus, nos deparamos com dois obstáculos diferentes.
O primeiro é a linguagem que usamos para descrever o que sabemos, e o segundo
é o próprio processo de conhecimento.
Em geral, descrevemos as coisas em termos de tempo, espaço e comparação com
outros objetos.
Por exemplo, você poderia descrever este estudo em termos de tempo e espaço
como aqui e agora.
Poderia compará-lo a outros objetos menores que seu corpo, mas maiores que sua
mão.
Se você está descrevendo uma pessoa, poderia dizer que o George viveu oitenta
anos e morreu há dois anos.
Ele morou em uma cidade a dez quilômetros daqui e era mais inteligente que uma
pessoa comum, mas menos emotivo do que a maioria das pessoas.
Descrevemos o George em termos de tempo, espaço e comparação com outras
pessoas.
Mas esses termos não podem ser usados para descrever e conhecer Deus.
Deus é o Criador do tempo, do espaço e de todos os seres.
Portanto, Ele transcende essas categorias.
Como expliquei no capítulo 5, embora seja comum dizer que Deus é "eterno" e
"infinito", estes termos estão incorretos.
Para a maioria das pessoas, "eterno" significa algo que continua para sempre no
tempo.
Mas Deus é a Fonte do tempo.
O tempo não pode limitar ou definir Deus.
"Infinito" significa algo que não tem fim e continua para sempre no espaço.
Mas Deus é a Fonte do espaço.
O espaço não pode limitar ou definir Deus.
Como a linguagem descritiva é inerentemente relativa, ela nunca vai ser exata
quando aplicada a Deus.
Se descrevo uma mesa como grande ou pequena, a comparação é em relação a
outras mesas.
Se a descrevo como "uma mesa de mogno", a mente do ouvinte automaticamente
busca a imagem "arquivada" da madeira, contrastando o mogno com o pinheiro ou
o carvalho, e assim por diante.
Deus, no entanto, é a Fonte e o Criador de tudo e não pode ser comparado a nada.
Até mesmo o princípio fundamental da Torá e da Cabala de que Deus é "um" é
seguido da explicação de que isso não significa "um comparado a dois".
Por isso, considera-se toda a terminologia aplicada a Deus como uma forma de
idolatria linguística e conceituai.
Como as pessoas estão acostumadas a pensar em termos de tempo, espaço e
comparações, elas automaticamente pensam em Deus como o ser único,
onipotente e incorpóreo, eterno no tempo e infinito no espaço.
Esta imagem é não apenas errada como também muito destrutiva.
É esse tipo de pensamento que contribui para a separação e para o conflito entre a
humanidade e Deus.
Contribui para o raciocínio segundo o qual se Deus é infinito e eu sou finito, se
Deus é um e nós somos muitos, se Deus é eterno e eu sou passageiro, somos
opostos e mutuamente excludentes.
Por isso (como expliquei anteriormente), seria mais correto dizer que Deus está
além do espaço, do tempo e que Ele não é dual.
O ser além do espaço abrange o espaço e pode estar dentro e além do espaço
simultaneamente.
O ser além do tempo abrange o tempo e pode estar dentro e além do tempo
simultaneamente.
O não-dual não é como o número um, oposto a dois, três etc., contribuindo para as
somas enquanto permanece um.
O não-dual é o um que pode incluir o muito, de forma que o muito está no um e o
um no muito.
Deus é totalmente único e não pode ser comparado a outros seres, como cantaram
os israelitas após a travessia do Mar Vermelho:
"Quem é como Tu entre os fortes, Eterno? Quem é como Tu, forte na santidade,
temível em louvores, realizador de milagres?"
(Êxodo 1 5:11)
Naquele momento, a relatividade da língua comprometeu a manifestação deles.
A terminologia normativa que usamos para descrever as coisas não é apropriada
quando se trata de conhecer Deus.
Mas, ainda assim, falamos de Deus como um ser onipotente, eterno e infinito.
Isso é um pouco maluco, mas o que podemos fazer?
Estamos presos; não temos outra linguagem disponível.
De fato, a Torá está repleta de descrições como "a mão de Deus", "as costas de
Deus", "a face de Deus" e "o olho de Deus".
Esses termos constituiriam idolatria se a tradição judaica não nos avisasse a cada
passo que estas metáforas tem de ser lidas poeticamente, não literalmente, e que
as usamos exatamente porque não temos outra linguagem para descrever Deus.
A Torá comunica ideias incrivelmente profundas e abstratas e tem de fazer isso na
linguagem do homem.
Devemos sempre procurar traduzir a metáfora para a verdadeira experiência de seu
significado subjacente.
Se nos lembramos de que os termos são metafóricos, eles podem nos ser úteis
para o direcionamento correto da mente.
Mas se esquecemos e interpretamos literalmente como se descrevessem um ser
eterno, infinito e todo-poderoso "vagando por aí", a nossa busca espiritual está
fadada ao fracasso.

Procurando no lugar errado


Há duas razões principais pelas quais as pessoas muitas vezes não conseguem
encontrar Deus.
A primeira é que elas estão procurando o Deus errado — um conceito linguístico,
um ídolo.
Elas querem capturá-Lo com sua mente classificadora, em termos precisos como
“tempo", "espaço" e "ser".
É como tentar pegar água com uma rede.
Como rabino, estou na difícil posição de falar sobre Deus, do qual não se pode
falar.
É normal que as pessoas não se sintam à vontade para falar de Deus, embora isso
seja melhor do que falar sobre aquisições materiais ou fofocar.
Quando você lê a Bíblia, não deve ficar à vontade com as imagens da mão de Deus,
dos olhos de Deus, da raiva de Deus etc.
Se você se sente cômodo com isso, então perdeu o objetivo da leitura, porque a
Bíblia fala em linguagem poética sagrada quando se refere a Deus.
Ironicamente, muita gente adota exatamente a abordagem errada e pensa que a
Bíblia está sendo literal quando fala de Deus e metafórica quando conta as histórias
dos homens.
Do contrário, a Bíblia é literal em seus relatos sobre os seres humanos (embora
também haja níveis mais profundos de significado em cada história), mas poética
sempre que menciona Deus.
Quando lemos o seguinte verso de um poema de Cari Sandburg, "A neblina chega
sobre pequenas patas de gato", não pensamos que a neblina tem pequenas patas.
Em vez disso, sentimos nas palavras a experiência do poeta.
Por meio desta metáfora, o poeta quer nos guiar ao seu sentimento, que existe
além das palavras.
Do mesmo modo, quando a tradição judaica se refere a Deus como pai, amante ou
rei, ela quer nos levar à experiência daquele relacionamento.
Todas as referências a Deus no judaísmo são poéticas em vez de literais.
O outro obstáculo ao conhecimento de Deus é a limitação inerente ao próprio
processo de conhecimento.
Quando tento conhecer algo, sou o sujeito que busca conhecer um objeto.
Ademais, deve haver algum grau de distância e separação entre o sujeito e o
objeto.
Os seus olhos podem ver quase tudo, mas não podem ver a si mesmos.
"Conhecer" pressupõe duas entidades distintas: o conhecedor e o objeto a ser
conhecido.
Porém, não se pode conhecer Deus dessa maneira normativa, porque Deus é a
origem de todo conhecimento.
Deus é a origem de toda consciência.
A própria capacidade de pensar vem de Deus, Fonte de todo pensar.
Como se pode pensar na fonte de todo pensamento?
Como a mente do homem pode esperar compreender a fonte e a base de todas as
mentes?
Ainda assim, se você quer conhecer Deus, deve procurar a fonte de todo
conhecimento.
Deve buscar a fonte de toda busca.
É por isso que não podemos realmente conhecer Deus através de questionamentos
filosóficos.
O filósofo tenta transformar Deus em um objeto de sua mente.
Ele pensa que é o sujeito e que pode entender Deus como o objeto de sua
pesquisa.
Quando o filósofo concebe uma tese brilhante sobre Deus, ele ganha uma ideia mas
perde Deus.
Deus não é uma ideia; é a Fonte de todas as ideias.
Em geral, você é o sujeito conhecedor e todo o resto são objetos a serem
conhecidos.
Mas quanto a Deus, a relação é o contrário.
Deus é o sujeito e você é o objeto.
Deus é o conhecedor e você, o objeto a ser conhecido.
Deus é como o pensador e o universo inteiro é Seu pensamento.
Segundo a Cabala, a Criação é um ato do pensamento Divino.
Começamos a existir por meio do pensamento de Deus, por assim dizer.
E existimos apenas enquanto Deus continua a pensar em nós.
Se a qualquer momento Deus nos esquecesse, puf!, deixaríamos de existir.
Esta é uma ideia fundamental.
Se eu crio uma mesa, posso me afastar e ela continuará a existir.
Mas se crio uma mesa em minha mente, ela existirá somente enquanto eu
continuar a pensar nela.
No momento em que paro de pensar na mesa, ela desaparece.
É isso que a Torá quer dizer quando conta que Deus cria o universo novamente a
cada instante.
Sem o constante processo do pensamento Divino, o universo, que é uma forma
Divina de pensamento, não poderia existir continuamente.
O grande mestre chassídico do século 18 e autor do Tanya, Rabino Shneur Zalman
de Liadi, ensina:
"O Santíssimo conhece todos os seres criados, e Seu conhecimento sobre eles não
Lhe adiciona nem pluralidade nem inovação. Porque ele conhece tudo ao conhecer
a Si mesmo... O Santíssimo abarca cada uma das criaturas com Seu pensamento e
com Seu conhecimento de todos os seres criados. Pois Seu conhecimento é na
verdade a força vital e aquilo que os faz existir"
Você e eu somos feitos de pensamento — de consciência.
A Cabalá ensina que quanto mais conscientes somos, mais reais, vivos e
conectados à fonte de nossa consciência ficamos.
Quanto menos conscientes somos, menos vivos nos sentimos.
Esta também é a mensagem da Torá Oral quando nos diz que o justo está vivo
mesmo quando morre e o perverso está morto mesmo quando está vivo.
Pessoas más perdem o próprio sentido da vida, a consciência da unidade — a
consciência de Deus.
Quanto mais participamos da consciência Divina, mais participamos da própria
essência da vida.
Conhecemos Deus do modo como conhecemos a nós mesmos — não como objeto
de observação e estudo, mas por meio de participação e envolvimento diretos.

Discutimos anteriormente a ideia de o personagem existir na mente do autor.


Agora pare um instante e crie uma mulher na sua imaginação.
Não pense em alguém que você já conhece; crie um personagem totalmente novo.
Onde essa mulher existe?
Na sua mente.
Portanto, você é o sujeito conhecedor e ela é o objeto conhecido.
Agora imagine essa mulher na sua mente tentando encontrar seu criador — você.
Como ela vai fazer isso?
Como essa mulher, objeto da sua mente, pode fazer de você o objeto da mente
dela?
Como ela poderia entendê-lo?
Este é o mesmo problema que temos em relação à nossa busca por Deus.
Em qualquer assunto que queiramos entender, somos o conhecedor, e o objeto é o
que vai ser conhecido.
Mas quando pensamos em Deus, Ele é o conhecedor e nós somos o objeto a ser
conhecido.
Ele é o sujeito e nós, o objeto.
Cada um de nós é como uma gota no oceano tentando compreender o oceano.
Imagine uma esfera que o envolve.
Se essa esfera representasse Deus, você diria que está sendo abraçado por essa
realidade que é Deus.
Pela sua perspectiva, o que você vê?
Você e Deus.
Sob a perspectiva de Deus, o que Ele vê?
Apenas Deus.
Da perspectiva da mulher imaginada por você, você e ela existem.
Pela sua perspectiva, há apenas você.
Quando uma coisa dolorosa acontece, você pode acabar acusando Deus: "Como
Você pôde fazer isso comigo?"
Mas, pela perspectiva de Deus, há apenas Deus.
Não há criminoso nem vítima.
Apenas Deus.
Por esta perspectiva, a sua acusação parece tão ridícula quanto a acusação do seu
dedo do pé que acabou de sofrer uma topada: "O que você está fazendo comigo?"
No Livro de Isaías, Deus exclama: "Meus pensamentos não são como os seus
pensamentos."
A perspectiva de Deus é totalmente diferente da perspectiva humana.
Assim como um ser que só existe em teoria e vive em uma realidade bidimensional
não pode conceber a perspectiva de seres tridimensionais como nós, também nós
não podemos compreender a perspectiva de Deus
Basicamente é essa a resposta de Deus a Jó.
Jó sofre uma série de tragédias: a morte de todos os filhos, doença e perda
material.
Ele tenta entender por que Deus fez isso, já que ele é uma boa pessoa e só faz o
bem.
Seus amigos e sua esposa oferecem várias perspectivas, as quais Jó rejeita porque
não soam verdadeiras.
Finalmente, Deus diz a Jó: "Onde você estava quando Eu criei as fundações da
Terra? Diga, se compreende. Quem determinou suas medidas?"
Deus está dizendo a Jó que ele simplesmente não tem a perspectiva universal para
entender o que acontece neste mundo.
Jó fica sem saber a resposta sobre o sofrimento humano, não porque Deus se
recusa a lhe dizer, mas porque o ser humano não pode entender a realidade pela
perspectiva de Deus, que é a verdade suprema.
Contam os sábios que, quando chegarmos ao mundo vindouro, vamos olhar para
toda a história da humanidade e ver tudo como sendo perfeito.
Até mesmo os períodos mais obscuros da história vão parecer maravilhosos.
Isso significa que, no mundo futuro, sem as limitações de tempo e espaço, veremos
tudo pela perspectiva de Deus.
Mas agora, ocultos como estamos neste mundo de tempo e espaço, essa percepção
nos é simplesmente inacessível.
Os seres humanos tentando entender o plano Divino são como alguém tentando
instalar o Windows Vista em um computador 286.
Não temos o hardware para entender Deus, a realidade suprema e que tudo
abarca.
Agora sabemos das complicações de se procurar entender e conhecer Deus.
As regras do conhecimento normativo não se aplicam neste caso.
Deus é a Fonte de todo tempo, de todo espaço e de todo ser.
Pode a fonte ser limitada pelas suas emanações?
Deus é o pensador e nós somos os pensamentos.
Pode o pensador ser compreendido pelo pensamento?
Pode o olho ver a si mesmo?
Pode o ouvido ouvir a si mesmo?
Assim como você não pode ver o próprio olho porque ele é a fonte da sua visão,
você também não pode conhecer Deus, porque Ele é a Fonte do seu conhecimento.
As pessoas pensam que não podem ver Deus porque Ele está muito distante.
Muito pelo contrário: é impossível ver Deus porque Ele está muito perto.
Queremos chegar à nossa fonte, mas o pensamento não pode pensar sobre o
pensador.
Esse reconhecimento nos deixa bastante humildes.
Não obstante, é possível "conhecer" Deus.
É preciso muita humildade para conhece-Lo, porque temos de deixar de lado a
exigência de ter um conceito bem formulado e compreensível à disposição da
mente.
Temos de parar de tentar entender Deus em termos de tempo, espaço e ser.
E temos de parar de tentar conhecer Deus como um objeto da nossa mente.

Conhecer e ser conhecido


Então, pela nossa perspectiva humana, Deus não pode ser conhecido.
Tanto o processo habitual quanto a terminologia do conhecimento são
completamente inadequados quando aplicados ao Divino.
Até que a pessoa esteja pronta para reconhecer isso, não pode entender o que a
Torá e a Cabalá querem dizer quando se referem a Deus.
Precisamos de uma mudança de paradigma: não posso conhecer Deus como um
objeto do pensamento, mas posso senti-Lo como o sujeito de todo pensamento.
Esta é a chave para a primeira de quatro maneiras alternativas de conhecer Deus
que vou apresentar.
Como posso conhecer meu conhecedor?
Deixando que meu conhecedor me conheça.
Ou seja, não posso chegar a conhecer Deus, mas posso ter a experiência de ser
conhecido por Ele.
Segundo o Talmud, as pessoas sempre devem ser conscientes de que "há um olho
que vê e um ouvido que ouve."
(Obviamente, não em sentido corpóreo.)
Isso significa que a sensação de ser conhecido por Deus é um encontro com Ele.
Muitos "investigadores espirituais" buscam o objetivo de conhecer Deus.
Na verdade, a experiência religiosa suprema é a experiência de ser conhecido por
Deus.
Existir significa ser conhecido por Ele.
Quanto mais você reconhece e vive de acordo com esse conceito, mais substancial
é a sua existência.
Você conhece Deus por experiência quando experimenta ser conhecido por Deus.
Digamos que você esteja em uma cidade deserta.
Não há uma alma à vista e você tem a oportunidade de roubar qualquer coisa sem
ser pego.
Você roubaria?
Se não roubaria, significa que sabe que existe uma alma "à vista".
Essa alma é você e a "vista" é a de Deus.
Uma alma saudável intui que o que ela faz tem importância e é conhecido por
Deus.
Sempre que você faz (ou não faz) algo porque está ciente de que "alguém" está
olhando, sente o conhecimento de Deus sobre você, que é essencialmente um
modo direto de se conhecê-Lo.
Como você viveria se sempre estivesse consciente de que Deus sabe e Se importa
com o que você faz?
Segundo a Cabalá, quanto mais você entender que suas ações importam a Deus,
mais sentido elas vão ter.
Nosso objetivo não é conhecer o Deus incognoscível, mas sim nos sentir permeados
pelo conhecimento de Deus sobre nós.
Se esse conceito parece um tanto difícil de compreender, é porque não é um
conceito; é uma experiência.
E não pode ser compreendida; tem de ser vivida.
Esta abordagem nos leva ao próprio fim da percepção.
O fim da percepção é a experiência de ser percebido.
Quando procuro Deus, não dirijo minha atenção à imensidão do espaço sideral.
Em vez disso, volto minha atenção à imensidão do meu espaço interior.
Dirijo minha atenção à Fonte de toda atenção, de todo pensamento, de todo
conhecimento, de toda consciência.
Busco a Fonte da minha mente, a Mente de todas as mentes, a Alma de todas as
almas, o Ser de todos os seres.
A Bíblia, no Livro de Gênesis, começa com as palavras: "No princípio, Deus criou os
céus e a Terra."
Se você pensar bem, esta é uma suposição e tanto.
A Bíblia não começa com provas brilhantes sobre a existência de Deus, nem com
introduções filosóficas sobre a Sua natureza.
Isto porque a Torá defende que Deus é consciente de Si mesmo.
Ele não é apenas óbvio, mas evidente a si mesmo.
O modo como posso conhecer Deus é o mesmo modo como conheço a mim mesmo
— internamente.
Assim como sou evidente a mim mesmo, também Deus (que é o Ser de todo ser) é
evidente para mim como sendo a Fonte de mim mesmo.
O problema é que a maioria das pessoas está procurando o Deus errado.
Elas procuram um objeto — um ídolo.
Querem ver o Deus do qual todos falam, o ser eterno e infinito que flutua no
espaço.
Certa vez, li que o primeiro astronauta a ir ao espaço foi questionado pela central:
"O que você vê?"
Ele respondeu: "Não vejo Deus."
Um ser eterno e infinito trabalhando no espaço não é evidente.
Mas Deus, que é o Ser de todo ser, é evidente a Si mesmo.
É evidente que a consciência não começa nem termina comigo.
Posso ter a escolha de decidir sobre o que quero pensar, mas não tenho escolha
quanto ao fato de que penso.
Portanto, se não sou a origem da consciência, quem é?
Se não sou o mestre da consciência, quem é?
Quem quer que seja, eu o chamo de Deus.

O jogo da fama
Para conhecer Deus, devo ter a experiência de ser conhecido por Ele.
De fato, para existir, eu preciso ser conhecido.
É por isso que as pessoas têm uma necessidade inata de serem reconhecidas.
O reconhecimento é a fundação da nossa existência.
Minha filha, balançando no brinquedo do parquinho, grita: "Papai, olhe!"
Não é que ela queira tanto o meu elogio, mas em algum nível ela sente que quando
alguém observa a sua proeza, esta se torna real.
É por isso também que crianças fogem de casa: para que alguém as procure.
Se você já fugiu quando era criança, se lembra do terrível medo de que ninguém
sentisse a sua falta; talvez ninguém fosse procurá-lo.
O próprio fato de "ser procurado" reforça a identidade em desenvolvimento da
criança.
Certa vez, eu estava caminhando em Jerusalém quando notei uma multidão em
volta de um tipo de espetáculo.
Eu também tentei ver o que todos olhavam.
Para minha surpresa, eram apenas dois punks sentados na esquina.
Um deles tinha o cabelo verde e alfinetes espetados na sobrancelha e no nariz.
O outro tinha o penteado "moicano" e tatuagens por todo o corpo.
Para Jerusalém, eles eram mesmo incomuns.
Fiquei pensando por que as pessoas fazem isso consigo mesmas.
Então entendi que elas simplesmente queriam chamar a atenção.
Precisavam sentir que sua existência era reconhecida.
Todos nós precisamos disso porque a própria base da nossa existência é o
reconhecimento de Deus.
O problema é que o reconhecimento humano nunca pode nos dar a satisfação
máxima que queremos.
É tão importante que você me conheça?
Você e eu somos transitórios.
Podemos estar aqui hoje e não existir amanhã.
Além do mais, o reconhecimento do ser humano nunca vai ser suficiente.
Kirk Douglas conta a história de um papel antigo que fez na Broadway.
As críticas foram ótimas.
Um crítico elogiou sua performance e disse que ele foi "nada menos que
esplêndido".
Mas Kirk não ficou feliz.
Naquela noite, deitado na cama, ele não podia dormir: "O que ele quis dizer com
'nada menos que'? Se ele acha que sou esplêndido, por que não fala logo de uma
vez?"
O reconhecimento humano nunca será suficiente porque nossa existência depende
do reconhecimento de Deus.
A primeira pergunta que Larry King me fez em uma entrevista ao seu programa foi
"Deus está nos assistindo?"
Pensei em fazer uma piada, algo como: "Larry, todos os dias milhões de pessoas
assistem ao Larry King Live. Como Deus poderia perder o seu programa?"
Preferi não arriscar, então eu simplesmente disse: "Sim, Deus está nos assistindo o
tempo todo. Esta é a base da nossa existência."
Antes do programa, eu estava bastante empolgado.
Milhões de pessoas me assistiriam pela televisão.
A excitação, porém, durou apenas até um pouco depois do programa.
Embora tais oportunidades sejam divertidas, elas não transformam a qualidade da
nossa existência.
Se milhões lhe assistem ou não, você ainda existirá.
O que realmente importa é saber que Deus está lhe assistindo.
Se as pessoas desligarem a televisão durante o programa do Larry King, o Larry vai
continuar a existir.
Mas se Deus parar de assistir ao Larry King, então não haverá mais o Larry King ao
vivo.
Segundo a Cabalá, quanto mais acreditamos que Deus nos assiste e expressamos
essa crença em nossas ações e interações uns com os outros, mais sentimos esta
verdade.
Sentiremos a amorosa orientação e o cuidado de Deus em nossa vida.
A verdadeira satisfação na vida não resulta de reconhecimento mundial e fama.
Muitas pessoas famosas são infelizes.
A verdadeira satisfação chega através do reconhecimento de que Deus o conhece e
se importa com você.
Quando você compreende que esta é a verdadeira fundação da vida, as suas
prioridades mudam.
Você fica menos preocupado com o que os outros pensam sobre você e mais
interessado em simplesmente ser bom e fazer a coisa certa.
Você fica motivado a agir para chamar a atenção de Deus.
Você seria gentil com o taxista hoje.
Ligaria para um amigo só para saber como ele está.
Faria uma doação a uma boa causa ou para um desabrigado na rua.
Estas ações não são dignas de serem noticiadas.
Elas não vão colocá-lo na primeira página do New York Times.
E não vão ser lembradas para sempre pelo público.
Até mesmo o destinatário da sua gentileza pode esquecê-lo.
Mas estas ações dão manchete no céu e Deus nunca o esquecerá.
Estas pequenas ações podem não ser tema de notícia, mas são dignas de nota.
Porque Deus, por assim dizer, tomará nota e o inscreverá no Livro da Vida.
Este é o segredo da verdadeira felicidade.
Tenha em mente que você está na mente de Deus.
E lembre-se de que você existe porque Deus pensa em você e se importa com
você.
Por isso, o verdadeiro caminho para conhecer Deus é experimentar ser conhecido
por Ele.
E se você quer experimentar ser conhecido por Deus, aja como se fosse conhecido
por Deus.
Faça o que Ele lhe pede.
Segundo a Torá, uma busca espiritual não se define em tentar encontrar uma
imagem de Deus, mas em procurar a imagem que Deus tem de você.
Quando o primeiro capítulo do Gênesis afirma que Deus criou o homem à Sua
imagem, está dizendo do que trata a vida: não encontrar a imagem de Deus, mas
ser a imagem de Deus, Seu reflexo e expressão.
A pessoa que conhece Deus pode ser realmente Seu reflexo e expressão.
Quem filosofa sobre Deus não conhece nada, porque não se pode conhecer Deus
como a um objeto.
Só se pode conhecer Deus como sujeito de todas as expressões — assim como o
pensamento é reflexo e expressão do pensador, ou a música é reflexo e expressão
do artista.
Nosso objetivo como seres humanos não é obter uma visão de Deus, que não pode
ser visto, mas nos tornar a visão de Deus; ser, de fato, do modo como Deus nos
vê.

O caminho do serviço
Conhecemos Deus como sujeito não apenas por sermos conhecidos por Ele, mas
também por sermos usados por Ele.
Uma vez conheci um roteirista de filmes muito famoso em Hollywood.
Ele me disse que todo dia, antes de começar a escrever, diz uma pequena oração:
"Por favor, Deus, me use."
Ele me explicou que nunca sente que está escrevendo o roteiro.
Ele sente que Deus o usa para escrever.
"Esses filmes são de Deus, não meus", ele disse.
Eu respondi: "Os bons são de Deus, mas os ruins são seus."
Uma amiga minha, que escreve romances, compartilhou uma experiência parecida.
Ela disse que as passagens mais bonitas do seu livro foram de certo modo ditadas a
ela.
Ela ouvia as palavras em sua mente e simplesmente as escrevia, tentando digitar
com a mesma rapidez com que as palavras vinham.
Muitas vezes, quando dou palestras públicas, ouço uma voz dentro de mim me
dizendo o que dizer.
O problema, porém, e que às vezes ela me manda a uma direção diferente daquela
que eu havia preparado em minhas notas escritas.
Aprendi a confiar nesta voz e a me entregar, mesmo que eu não saiba aonde ela
vai me levar.
A palestra sempre sai melhor do que o planejado.
E eu a aprecio muito mais porque sinto Deus como o palestrante e eu mesmo como
o discurso.
Uma advertência: se você começar a pensar que sempre que ceder a um impulso,
trata-se de Deus agindo ou falando por você, você pode se meter em uma grande
encrenca.
É por isso que a Torá nos direciona e orienta sobre como estar realmente a serviço
de Deus.
E quando seguimos essas normas, nos conectamos à Fonte de todo ser.
Isso está expresso no significado profundo do nome essencial de Deus — YHVH, o
Tetragrama.
Este nome (como mencionado anteriormente) vem da palavra hebraica que
significa "ser".
Um dos princípios fundamentais da Torá traz que todos os nomes associados a
Deus sugerem algo sobre a ação de Deus (mas não a Sua essência).
YHVH sugere que o ato essencial de Deus é ser.
Portanto, talvez a melhor tradução deste nome seja "sendo".
Se você é palestrante, está discursando, se é escritor, está escrevendo.
E se você é, então está "sendo".
Este nome revela a incrível verdade sobre nós mesmos.
Estamos “sendo".
De fato, somos verbos.
O que significa "ser"?
Digamos que o Joe é inteligente, mas não está sendo inteligente.
Isso quer dizer que ele não está expressando nem manifestando sua inteligência.
Assim, também, todo o universo é um verbo — um processo dinâmico de
expressão.
Quem, então, é o nome?
Quem é o sujeito?
Quem está sendo?
YHVH — a única Origem de Todo Ser, o "Sendo".
Sim, Deus é o "Sendo", a Fonte e o Sujeito de toda a existência.
Mas nós estamos sendo.
Nós somos verbos.
Deus é o palestrante e nós somos o discurso.
Deus é o conhecedor e nós somos não apenas o conhecido como também o
conhecendo.
Todo artista verdadeiro já sentiu Deus como sujeito, tanto se O identificou como tal
ou não.
A sensação de ser um canal para uma força criativa que flui é uma experiência de
Deus como sujeito.
Certa vez perguntaram a Bob Dylan: "Como você compõe?"
Ele respondeu: "Eu me sento para escrever e sei que vai dar tudo certo."
Às vezes eu componho músicas.
Uma vez eu estava sentado ao piano e comecei a tocar uma bela canção que nunca
tinha ouvido antes.
Senti-me realmente possuído; meus dedos se moviam sem que eu lhes dissesse
para onde ir.
Minha esposa entrou no quarto e perguntou: "Que música é esta?", e eu respondi:
"Só estou tentando ficar fora do caminho."
Nos momentos criativos, os artistas sentem que a pintura, o poema ou a dança não
vem deles, mas através deles.
A verdadeira origem está, de certo modo, "além".
É uma experiência intuitiva de Deus como sujeito.
Nesses momentos de iluminação, conhecemos Deus.
Esse é o verdadeiro significado subjacente a todos os mandamentos.
Conhecemos Deus por meio do serviço para concretizar a Sua vontade e ser à Sua
imagem.
Os mandamentos são como cabos que nos conectam à fonte de toda consciência.
Quando o povo judeu recebeu a Torá no Monte Sinai, a primeira revelação que
ouviram era o motivo persuasivo pelo qual eles iriam querer cumprir alegremente a
vontade de Deus.
O primeiro mandamento é saber que "Eu sou o Eterno, teu Deus, que te tirei da
terra do Egito".
No entanto, esta não é necessariamente a única maneira de traduzir o texto
hebraico original.
Ele também poderia ser traduzido como "O 'Eu' é o Eterno, teu Deus, que te tirou
do Egito".
Ou seja, o povo judeu teve a experiência do supremo "Eu", o único sujeito, Deus.
Quando nos conectamos ao Supremo "Eu" ao cumprir os mandamentos, acessamos
o poder supremo da liberdade e da criatividade.
A libertação da escravidão é alcançada por meio do serviço a Deus.
Servir a Deus é servir-se a si mesmo, porque Deus é a Origem de todo ser.

O caminho do reflexo
Um terceiro modo de conhecer Deus é por meio do Seu reflexo no universo.
Seus olhos não podem ver a si mesmos, mas podem ver o reflexo no espelho, e
isto dá a você uma ideia de como eles são.
Não posso definir Deus em termos de tempo, espaço e seres criados, mas posso
senti-Lo refletido nestas coisas.
Por exemplo, ao olhar uma pintura de Rembrandt, não imaginamos ver o próprio
Rembrandt, mas podemos inferir algo sobre os traços de caráter do artista.
É um pedaço do mestre em sua obra-prima.
Então, um certo refinamento, bom humor e suavidade são traços óbvios nos
quadros de Rembrandt, o que nos diz algo sobre a pessoa que usou o pincel,
embora a essência do artista continue oculta para nós.
Do mesmo modo, certamente podemos ver o reflexo de Deus em Sua obra.
O Livro de Jó (19:26) diz: "Verei a Deus em minha carne", ou seja, ao refletir sobre
a espantosa complexidade do nosso próprio corpo, aprendemos bastante sobre os
atributos de Deus.
Por exemplo, um grande sinal do amor de Deus por nós é a saliva.
A saliva não apenas apresenta propriedades antibacterianas como também amolece
a comida para que possamos engolir sem esforço ou dor.
As seis glândulas salivares perfeitamente posicionadas na boca não tinham de estar
ali.
Os seres humanos poderiam comer, digerir o alimento e receber seus nutrientes
sem a ajuda das glândulas salivares.
A saliva faz a diferença entre o ato de comer ser prazeroso ou não.
Criar o ser humano com glândulas salivares é um ato de amor.
Comer é uma atividade prazerosa porque Deus quis nos dar esse prazer.
Se seu marido lhe dá um presente exclusivamente utilitário, como um processador
de alimentos, você pode se perguntar se ele a ama ou ama a sua função de
cozinheira; mas se ele lhe dá um belo colar, que serve apenas para lhe fazer feliz,
você pode inferir o amor dele por você.
Só pela saliva já podemos sentir o gosto do amor de Deus por nós.
A encantadora variedade de cores, formas e aromas em um jardim atestam, da
mesma forma, o amor daquele que criou tanta beleza para o nosso prazer.
Apesar de os cientistas dizerem que as flores foram criadas pela natureza
simplesmente para atrair polinizadores, certamente qualquer um que segura uma
rosa delicada ou sente a fragrância do jasmim sabe que estes são presentes de
Deus para a humanidade.
Quando cheiro uma gardênia, sinto o amor de Deus concedido livremente a mim.
É importante ressaltar que nada na Criação me possibilita descrever a essência do
Criador.
Seus atributos podem se refletir na Sua criação, mas a Sua essência permanece
totalmente oculta.
Porém, se reflito sobre as maravilhas do universo e sobre o milagre da minha
própria existência, posso conhecer Deus por meio da minha própria experiência.

O caminho do profeta
O quarto método para se conhecer Deus ocorre por meio de revelação profética.
Usando métodos como meditação e música, os profetas da antiga Israel podiam
induzir estados alterados de consciência nos quais experimentavam uma revelação
direta de Deus.
Ou seja, o Conhecedor se comunicava com o objeto conhecido.
Às vezes eles recebiam mensagens para o mundo inteiro.
Quando essas mensagens tinham valor eterno, eram registradas e depois
incorporadas à Bíblia hebraica.
Somente as revelações de quinze profetas estão incluídas e cerca de uma dúzia de
profetas são mencionados nos vários livros bíblicos.
O Talmud, no entanto, conta que havia tantos profetas na antiga Israel quanto
israelitas que saíram do Egito durante o Êxodo — aproximadamente três milhões.
Também segundo o Talmud, depois que o Templo foi destruído, o período de
profecia terminou.
Hoje podemos sentir inspiração Divina, mas não profecia real.
A inspiração Divina é apenas uma mensagem geral de orientação; já a profecia
trazia uma mensagem específica e clara de comando.
A revelação profética é exatamente o oposto do que fazemos quando buscamos
uma experiência de Deus — o que caracteriza a busca espiritual de hoje em dia.
Quando buscamos uma visão de Deus, Deus é o objeto.
Na revelação, Deus é o sujeito; o que significa que Deus pode dizer a um profeta
algo que ele não queira ouvir.
O principal exemplo disso é o Livro de Jonas.
Deus ordenou que Jonas fosse a Nínive e ele foi o mais rápido que pôde para a
direção oposta, pois tinha grandes objeções a discursar para os pecadores daquela
cidade.
(Por isso é que ele foi parar na barriga de uma baleia.)
Diferentemente do profeta, as pessoas que buscam a Deus hoje em dia se
percebem como o sujeito e sua busca nunca as levará além de suas próprias
preferências.
Revelação é conhecimento transmitido.
E conhecimento é o que nos guia neste mundo de acordo com a perspectiva de
Deus.
A revelação começa onde a experiência do ser humano termina.
Uma experiência pode me levar apenas aos limites exteriores da minha própria
perspectiva.
Revelação é informação concedida de uma perspectiva mais elevada.
A Torá afirma que Deus Se revelou a todo o povo israelita no Monte Sinai.
Os mandamentos, ou instruções da Torá, nunca podem fazer sentido completo pela
perspectiva do homem, porque a própria definição de revelação é o conhecimento
concedido pela perspectiva Divina.
Em uma metáfora simples, revelação é como uma estação de rádio que dá
informações sobre o trânsito.
Você está dirigindo na estrada 83 e pensa qual seria a maneira mais rápida de
chegar ao seu destino.
Há algum engarrafamento mais adiante?
Será que você deveria pegar a próxima saída e fazer um caminho alternativo?
Ou deveria arriscar seguir na estrada?
Não há como saber; não dá para você ver os próximos dois quilômetros de estrada.
Mas o helicóptero de monitoramento de trânsito enxerga tudo.
Pela perspectiva do helicóptero, todas as estradas e a disposição do trânsito são
perfeitamente visíveis.
Então você sintoniza na estação sobre o tráfego e ouve a mensagem:
"Engarrafamento na estrada 83 entre a Kilmer e a Havington. Se você está indo
para o norte, pegue a saída 144."
Nem mesmo o automóvel mais luxuoso pode saber o que o helicóptero sabe, a
menos que o helicóptero se comunique com ele.
Isso é revelação.
Embora revelação seja informação passada a seres humanos de uma perspectiva
mais elevada, o conteúdo da revelação ainda é expresso em "terminologia
humana".
Portanto, quando os israelitas tiveram a experiência direta de Deus na abertura do
Mar Vermelho, eles O viram como um guerreiro.
Na revelação do Sinai, eles O viram como um sábio.
O profeta Ezequiel teve uma visão de Deus e viu a carruagem e o trono celestiais.
Como assim?
Essas pessoas cometeram o erro de ver Deus como objeto?
De jeito nenhum.
A revelação profética ocorre em forma de mensagens transcendentais que a mente
humana traduz em imagens.
Você já ouviu uma sinfonia deitado no sofá e de olhos fechados?
Às vezes, enquanto escuta música, os olhos da mente veem imagens visuais.
Uma passagem delicada de flauta ou de violino pode trazer à mente a imagem de
uma borboleta.
Sons turbulentos podem invocar a imagem de uma tempestade.
Embora a sua mente esteja traduzindo os sons em imagens, você sabe que nem a
borboleta nem a tempestade são imagens que correspondem aos sons que você
ouve.
Assim também, em revelação, a experiência profética é traduzida em imagem, mas
a imagem não corresponde à imagem de Deus mais do que a borboleta
corresponde à imagem daqueles sons musicais.

Em suma
Em suma, devemos entender que, quando procuramos Deus, estamos buscando a
Fonte do tempo, do espaço e de toda a Criação.
Procuramos a Fonte de todo conhecimento.
Portanto, nossa linguagem normativa e descritiva e nossos métodos para adquirir
conhecimento não se aplicam a conhecer Aquele que é a Fonte de Tudo.
Para conhecer Deus, temos de adotar métodos completamente novos de conhecer.
Podemos conhecer Deus quando experimentamos ser conhecidos por Ele.
Podemos conhecer Deus ao servi-Lo e ao reconhecê-Lo como o Sujeito supremo —
a Fonte de todo ser.
Podemos conhecer Deus pelo reflexo dos milagres deste universo, vislumbrando o
Mestre em Sua obra-prima.
E podemos conhecer Deus por meio da experiência profética em que Deus Se
comunica conosco diretamente — o Conhecedor se comunica com o objeto
conhecido.

Continua

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