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ESPIRITUAIS
Práticas para uma vida saudável
Organização
Ministério Sal da Terra
1
Organização:
Ministério Sal da Terra
Correção:
Viviane Ambrósio
Edição: SalEditora
Uberlândia, 2023 1ª Edição | 1500 exemplares
Impressão e acabamento:
Promove Artes Gráficas
2
DISCIPLINAS ESPIRITUAIS
Práticas para uma vida saudável
E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do
pão, e nas orações. E em toda a alma havia temor, e muitas maravilhas e sinais
se faziam pelos apóstolos. E todos os que criam estavam juntos, e tinham
tudo em comum. E vendiam suas propriedades e bens, e repartiam com todos,
segundo cada um havia de mister. E, perseverando unânimes todos os dias no
templo, e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de
coração, Louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E todos os dias
acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar.
– Atos 2:42-47
3
Temos, assim, neste livro, os aspectos de um modelo de vida que revela
a disciplina de pessoas transformadas Os princípios e valores que fizeram
com que aqueles homens vivessem debaixo do cuidado de Deus, e debaixo
da Sua vontade, são os mesmos valores que regem a vida do cristão, de
qualquer tempo ou época.
Na compreensão do texto bíblico, é essencial que nossa atenção esteja,
portanto, no seu caráter e na sua essência pedagógica. Aquilo que o texto
quer nos revelar e que nos leva a discernir em termos de identidade e natu-
reza. Pois, por mais que possamos extrair referências de práticas e métodos,
o propósito sempre é nos ensinar o que pode, efetivamente, traduzir o pro-
pósito eterno de Deus para a Sua Família, a Igreja. Suas atividades, sua
agenda, suas práticas, sua rotina, tudo tem que ser visto como forma de
revelar e comunicar as Virtudes do Pai aos Seus Filhos e as materializar
através deles.
Mais do que nos ensinar métodos e estabelecer estruturas e formas de
atividades, o propósito do texto bíblico registrado em Atos é revelar proces-
sos virtuosos de nossa transformação à Semelhança Dele.
A narrativa bíblica em questão não é o meio de definir e garantir as
competências no exercício de alguma atividade, ainda que possa, eventual-
mente, atender essa necessidade ou cumprir essa função.
A narrativa bíblica oferece os fundamentos para a formação de uma
consciência da pessoa no pleno cumprimento do seu propósito como verda-
deiro filho e filha de Deus. Sua prioridade é estabelecer as referências para
o desenvolvimento da pessoa madura, plena de suas convicções de voca-
ção e livre para cumprir o propósito de Deus para a sua vida. Estabelecer os
absolutos de Deus para a vida do ser humano, de tal modo que ele se torne
a imagem visível dos Seus atributos invisíveis revelando, no cotidiano, uma
vida espiritual saudável.
4
SUMÁRIO
1 PERSEVERANÇA 9
1. Conhece ao Teu Craidor, e também conhecerás a ti mesmo 11
2. Força de vontade canalizada na direção de seu desígnio 12
3. A vida se mantém por ritmo: coração / pulmão 13
4. Você enfrentará uma resistência invisível 15
5. Você tem ajuda do alto 17
Concluindo 18
4 ORAÇÕES E JEJUNS 41
1. O que é oração 43
2. Por que oramos? 44
3. Princípios da oração 45
4. Como orar? 49
Referências Bibliográficas 53
5 TEMOR, SABEDORIA 55
1. O temor gera purificação 59
2. Temor como princípio de autoridade 60
3. Temor não exclui as adversidades 61
4. Perigos da jornada 62
5. Cumprimento das promessas 63
Referências Bibliográficas 64
5
7 POR INTERMÉDIO DOS APÓSTOLOS 77
1. A história do livro histórico 78
2. O Contexto Histórico 78
3. Pentecoste 79
4. O Método de Deus 81
5. Ação do Espírito Santo por Intermédio dos Apóstolos 82
6. Causas do Crescimento 83
Concluindo 89
8 CRER 91
1. Fé e crença – crer ou acreditar 92
2. Fé e responsabilidade – convicção e compromisso 94
3. Fé e esperança – decisão e disposição 96
4. A fé – movimento de transformação até à semelhança do Pai 99
6
14 E O SENHOR ACRESCENTAVA OS QUE IAM SENDO SALVOS 169
1. Tema geral: As Disciplinas Espirituais 170
2. Tema específico: Acrescentava o Senhor à igreja aqueles que estavam sendo salvos 173
3. O homem integral | O evangelho todo para o homem todo. 174
4. As barreiras do campo missiológico no mundo pós moderno 175
5. O mito do crescimento da igreja 176
6. Igreja saudável 176
7. A Videira, o agricultor e os ramos. João 15 177
Concluindo 178
15 CONFISSÃO 179
1. Salvação pela confissão 181
2. Perdão pela confissão 181
3. Cura pela confissão 182
Concluindo 184
7
8
PERSEVERANÇA
1
Maurício Calhau Freitas
@mauriciocalhaufreitas
9
V
ocê é perseverante? Ou é daqueles que começa a fazer alguma coisa,
mas logo desiste? Você conseguirá chegar ao final deste capítulo, ou
não? Conseguirá chegar ao final da escola? Vai conseguir se formar?
Você consegue manter as resoluções que você tomou no início do ano, ou
vive de promessas que nunca cumpre?
Pare alguns segundos e avalie-se, sinceramente, no quesito perseverança.
E aí, qual é a conclusão?
Por que alguns são tão perseverantes e outros não? Quais fatores influen-
ciam a nossa perseverança? A perseverança é importante na vida cristã?
Neste capítulo vamos refletir sobre tudo isso, não desista e continue a leitura!
De sorte que foram batizados os que de bom grado receberam a sua palavra; e
naquele dia agregaram-se quase três mil almas, E perseveravam na doutrina
dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações. E em toda
a alma havia temor, e muitas maravilhas e sinais se faziam pelos apóstolos.
E todos os que criam estavam juntos, e tinham tudo em comum. E vendiam
suas propriedades e bens, e repartiam com todos, segundo cada um havia
de mister. E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o
pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração, Louvando a
Deus, e caindo na graça de todo o povo. E todos os dias acrescentava o Senhor
à igreja aqueles que se haviam de salvar.
– Atos 2:41-47
10
Sinônimos de Perseverança: Persistência, constância, afinco, obstinação,
aferro, contumácia, firmeza.
Antônimos de Perseverança: desistência, inconstância.
Perseverante é aquele que continua em direção ao alvo, apesar de enfren-
tar resistências, seu antônimo também pode ser a procrastinação, ou seja, a
desistência no “agora”, a desistência no “hoje”.
A maioria de nós tem duas vidas. A que vivemos e a que permanece dentro de
nós não vivida. Entre as duas interpõe-se a resistência.
Steven Pressfield em “Como Superar seus Limites Internos”
11
Um ponto importante é entender que estar fazendo tudo muito bem e
sendo perseverante nisto, não é o mesmo de estar fazendo tudo no sentido
correto. Lembre-se da carta de Cristo à Igreja de Éfeso, em apocalipse capí-
tulo 2, aquelas pessoas faziam tudo de forma intensa, perseverante, mas
haviam se esquecido do sentido de tudo que faziam. Faziam tudo, mas sem
amor, sem o Espírito de Cristo, faziam tudo certo, mas estavam a cada dia se
tornando pessoas menos parecidas com o Cristo.
Então o SENHOR disse a Abrão: “Saia da sua terra, do meio dos seus paren-
tes e da casade seu pai, e vá para a terra que eu lhe mostrarei.
– Gênesis 12:1.
Observem um homem como Abraão. Deus tratou com ele de tal forma que ele
pôde “esperar contra a esperança”. Ele confiou em Deus de forma total e abso-
luta, quando todas as aparências indicavam o contrário. Não há nada que as
epístolas do Novo Testamento enfatizem mais do que esta qualidade de perse-
verar, quer as coisas estejam indo bem ou não. Devemos perseverar dizendo:
“Deus sabe o que é melhor para mim .Vou confiar nEle”. Isso é perseverança,
e é à medida que somos testados e provados que todos esses outros elementos
que devem “guarnecer” a nossa fé se desenvolvem e são aperfeiçoados.
Lloyd Jones em “Exposição Sobre Romanos 4”
12
Vamos pensar num alpinista que tem como propósito escalar o Monte
Everest. O Everest é a montanha mais alta da Terra, com 8.848 metros de alti-
tude. Todos os anos, durante a temporada de escalada, alpinistas de diversos
países vão até o Nepal em busca do sonho de chegar ao topo do mundo. O
que será necessário? Preparação física, psicológica, técnica de montanhismo
e escalada em rocha, muitos treinos e se tudo for bem, depois de muito trei-
nar, três anos após a decisão, você pode tentar a escalada.
O alpinista vai colocar a sua força de vontade na direção de realizar o seu
propósito. Voltando para as escrituras sagradas, quando os novos discípu-
los se juntaram à igreja primitiva, eles tiveram que colocar essa nova vida
como uma prioridade, claro que a vida deles continuaria, trabalho, cuidado
com filhos, mas o sentido da vida estava claro na mente e no entendimento
deles, e a força de vontade foi canalizada na direção de alcançar este propó-
sito, de viverem como homens e mulheres que são discípulos de Cristo, que
testemunham Dele na sua vida diária. Eles se esforçaram para viverem de
acordo com o seu destino, de acordo com quem eram em Cristo.
Sendo assim, meus amados, como sempre obedecestes, não somente na minha
presença, porém muito mais agora na minha ausência, colocai em prática a
vossa salvação com reverência e temor a Deus, pois é Deus quem produz em
vós tanto o querer como o realizar, de acordo com sua boa vontade.
– Filipenses 2:12-13
Sem uma força de vontade focada, que nos coloque no sentido correto,
não chegaremos a lugar nenhum. Uma vez vislumbrado o sentido da minha
vida, ainda que eu esteja no começo da jornada, se eu já o vejo, pela fé, e
o internalizo, eu dirijo toda a minha força de vontade nesta direção. Faço
escolhas de acordo com o entendimento de quem sou lá no destino final,
sabendo que é durante o caminho que “me tornarei o que já sou.”
Reflexão: Como é sua força de vontade, consciente e constatnte ou colé-
rica ou passiva?
13
momentos no qual o corpo se encontra, ou seja, se o corpo é desafiado,
precisa aumentar seu trabalho, logo, o ritmo dos pulmões e do coração se
adaptam para suprirem esse corpo de acordo com suas necesidades.
Portanto, perseverar é manter o ritmo. Algumas vezes aceleramos, outras
desaceleramos, mas precisamos sempre manter a constância. Esse trabalho
ritmado faz toda a diferença em tudo o que nos propomos a fazer. A Igreja
de Atos 2 me parece formada por homens e mulheres que são constantes,
uma igreja ritmada.
Temos que perceber que as explosões de força e de envolvimento que
não são acompanhadas de constância e ritmo, não serão capazes de nos
levarem a cumprir nossos propósitos de vida. Vivemos em uma sociedade
em que o senso comum é de que tudo tem que acontecer rapidamente, e se
não acontece, temos que procurar outra estratégia, mas não podemos nunca
nos esquecer de que estamos prosseguindo para um alvo eterno. Se as coisas
não acontecem no momento e da forma que você espera, isso não é motivo
para desistir, pois os heróis da fé não receberam as coisas que Deus tinha
prometido, mas as viram de longe e ficaram contentes por causa delas, e
continuaram perseverando até o fim.
Todos esses morreram cheios de fé. Não receberam as coisas que Deus tinha
prometido, mas as viram de longe e ficaram contentes por causa delas. E
declararam que eram estrangeiros e refugiados, de passagem por este mundo.
– Hebreus 11-13
Para que depositassem em Deus sua confiança e não se esquecessem dos fei-
tos de Deus, mas guardassem seus mandamentos, a fim de não se tornarem
como seus pais, geração indócil e rebelde, geração de coração inconstante, de
espírito infiel a Deus.
– Salmo 78:7-9
14
4. VOCÊ ENFRENTARÁ UMA RESISTÊNCIA INVISÍVEL
Por que a bíblia fala tanto em perseverança, constância, paciência?
Porque sempre haverá uma resistência quando resolvemos trilhar o cami-
nho de nos tornamos discípulos e testemunhas de Jesus Cristo. Na verdade,
a resistência é contra qualquer ação que torne você mais parecido com o pro-
pósito de Deus para a sua vida. Não haverá resistência para baixo, somente
para cima. A resistência é ao crescimento espiritual, à maturidade espiritual.
Você não encontrará resistência para ser egoista, para cuidar só de sua vida,
mas encontrará muita resistência se resolver abrir mão da sua vontade para
fazer a vontade de Deus na sua vida.
A Bíblia nos ensina que teremos que resistir a nós mesmos, ao inimigo
de nossas almas e ao mundo. Muitos de nós nos cansamos no caminho por
não percebermos esta resistência e não sabermos como lidar com ela.
Resistir a nós mesmos é enfrentar a nossa resistência interna, a resis-
tência da nossa alma, das nossas emoções e da nossa mente, às mudanças
que o crescimento espiritual demanda de nós. Não é algo que vem de fora,
mas vem de nós mesmos. A perseverança ativa será nossa aliada nessa luta
contra nossa resistência interna. Muitas vezes colocamos a culpa de não
melhorarmos, de não realizarmos nosso potencial na esposa, nos filhos, no
outro, na igreja, na política, no governo, e até mesmo em Deus, mas é um
problema que está em nós, dentro de nós e não fora. Temos que aprender a
falar conosco, a não nos autosabotarmos. Em Salmos encontramos homens
que falam com sua alma, perguntam para ela o porquê do abatimento, e
a dominam, mandando-a aguardar em Deus, eles enfrentam eles mesmos,
eles pregam para eles mesmos.
Quantas vezes sei exatamente o que preciso fazer, mas jogo aquela ati-
vidade para o futuro, procrastino, e preencho o tempo com uma atividade
menos importante, normalmente mais fácil e “prazerosa”, de ganho ime-
diato, mas que rouba o tempo que deveria ser destinado a cumprir um
objetivo. Seria muito triste chegar no final da vida, olhar para trás e ver que
desperdicei muito tempo, energia e recursos naquilo que não era impor-
tante para cumprir o propósito da minha vida.
Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas dentro de
mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, o qual é a salvação da minha
face, e o meu Deus.
– Salmo 42:11
15
Mas esmurro o meu corpo e faço dele meu escravo, para que, depois de ter pre-
gado aos outros, eu mesmo não venha a ser reprovado.
– 1 Coríntios 9:27
16
Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino
dos céus. Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e
vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e
exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram
aos profetas que viveram antes de vós
– Mateus 5:10-12
17
o espírito de Deus que se precipitou sobre os discípulos tímidos e temero-
sos e os transformou em Apóstolos corajosos. Pedro, por exemplo, que teve
medo e covardia na presença de uma serva passa a ser ousado e poderoso
diante dos líderes religiosos judeus. Ele proclamou “que toda a casa de Israel,
portanto, saiba com certeza que Deus o fez Senhor e Cristo, este Jesus que você cru-
cificou” (Atos 2:36). O Espírito Santo traz poder, não medo. Deus não nos
deu um espírito de medo, mas o Espírito Santo.
Reflexão: Faça uma leitura da segunda carta de Paulo a Timóteo e res-
ponda: por que esta carta foi escrita? O que Paulo quis ensinar a Timóteo?
CONCLUINDO
Nós podemos entender a nossa vida como consequência de uma série
de acontecimentos aleatórios que nos levaram em uma determinada
direção, uma visão materialista, sem um sentido ou propósito maior, ou
podemos olhar para ela como parte de um plano muito maior, como parte
do plano de Deus.
Deus criou todas as coisas e tem um propósito já estabelecido na eter-
nidade. Como seres humanos fomos criados à sua imagem conforme sua
semelhança, a fim de cumprirmos um determinado propósito, nossa jor-
nada será na direção de cumprir esse propósito, de viver uma vida que se
harmonize, que esteja de acordo com essa vontade de Deus.
Jesus Cristo é o nosso exemplo, ele viveu para cumprir a vontade de
Deus. Ele não recuou ao trilhar esse caminho. Ele foi perseverante, cons-
tante e firme na direção que o Pai apontou. Um pouco antes de enfrentar
a cruz, Ele ora por cada um de nós, ora para que nós também sejamos per-
severantes e tomemos a direção da vontade de Deus em nossas vidas. Ele
pede ao Pai que nos livre do mal, e nos adverte de que teríamos aflições,
oposições e resistências, mas que com Ele, com o Pai e com o Deus Espírito
Santo em nós, estaríamos aptos a perseverar e cumprir nosso destino, dando
o sentido certo a nossa vida e repartindo vida com todos os nossos irmãos.
Sejamos perseverantes!
18
DOUTRINA DOS
APÓSTOLOS
2
Valcy Fernandes
@valcyfernandes
E perseveravam na doutrina
dos apóstolos. Atos 2:42
19
E
ste versículo, escrito no livro de Atos no Novo Testamento, narra a atu-
ação das primeiras comunidades cristãs e está incluído nos chamados
sumários destas comunidades que são descritas no livro de Atos. Estes
são os sumários:
20
A Doutrina dos Apóstolos é verdadeira não porque um apóstolo a ensi-
nou, mas porque era consistente e totalmente coerente com as escrituras. Os
bereanos examinaram os ensinamentos de Paulo à luz das Escrituras antes
de aceitá-los (Atos 17:10-12).
21
a igreja de volta ao seu papel bíblico. Quando uma assembleia de pessoas
no Corpo de Cristo se retira da “autoridade” das Escrituras, essa assembleia
deixa de ser uma igreja do Novo Testamento.
Ilustração: Embora a Igreja em Sardes tivesse bastante reputação em sua
comunidade, Jesus a considerava como já tendo morrido (Apocalipse 3:1).
Aplicação: Todos os crentes cristãos devem avaliar cuidadosamente as
crenças e práticas de uma igreja pelos padrões da Palavra de Deus. Então,
eles devem se associar e apoiar aquele que atende aos padrões do Novo
Testamento. Mateus 18:17, Atos 2:42 e Mateus 28:19.
A sã doutrina é importante porque nossa fé é baseada em uma mensa-
gem específica. O ensino geral da igreja contém muitos elementos, mas a
mensagem principal é explicitamente definida: “Cristo morreu por nossos peca-
dos segundo as Escrituras [e]... ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras”
(1 Coríntios 15:3-4). Esta é a boa notícia inequívoca, e é “de primeira importân-
cia”. Mude essa mensagem, e a base da fé muda de Cristo para outra coisa.
Nosso destino eterno depende de ouvir “a palavra da verdade, o evangelho da
sua salvação” (Efésios 1:13; 2 Tessalonicenses 2:13-14).
A sã doutrina é importante porque o evangelho é um depósito sagrado,
e não nos atrevemos a adulterar a comunicação de Deus para o mundo.
Nosso dever é entregar a mensagem, não mudá-la. Judas transmite uma
urgência em guardar a confiança: “Senti que tinha que escrever e exortá-
-los a lutar pela fé que uma vez por todas foi confiada aos santos” (Judas 1:3).
“Contender” carrega a ideia de lutar arduamente por algo, de dar tudo de
si. A Bíblia inclui um aviso para não adicionar nem subtrair da Palavra de
Deus (Apocalipse 22:18-19). Em vez de alterar a doutrina dos apóstolos,
recebemos o que nos foi transmitido e o mantemos “como modelo de sã dou-
trina, com fé e amor em Cristo Jesus” (2 Timóteo 1:13).
A sã doutrina é importante porque aquilo em que acreditamos afeta
o que fazemos. O comportamento é uma extensão da teologia, e há uma
correlação direta entre o que pensamos e como agimos. Por exemplo, duas
pessoas estão em cima de uma ponte; um acredita que pode voar, e o outro
acredita que não pode voar. Suas próximas ações serão bem diferentes. Da
mesma forma, um homem que acredita que não existe certo e errado natu-
ralmente se comportará de maneira diferente de um homem que acredita
em padrões morais bem definidos. Em uma das listas de pecados da Bíblia,
coisas como rebelião, assassinato, mentira e tráfico de escravos são mencio-
nados. A lista termina com “tudo o que for contrário à sã doutrina” (1 Timóteo
1:9-10). Em outras palavras, o verdadeiro ensino promove a justiça; o pecado
floresce onde “a sã doutrina” se opõe.
22
A sã doutrina é importante porque devemos averiguar a verdade em
um mundo de falsidade. “Muitos falsos profetas têm saído pelo mundo” (1
João 4:1). Há joio entre o trigo e lobos entre o rebanho (Mateus 13:25; Atos
20:29). A melhor maneira de distinguir a verdade da falsidade é saber o
que é a verdade.
A sã doutrina é importante porque o fim da sã doutrina é a vida. “Observe
atentamente sua vida e doutrina. Persevera neles, porque, se o fizeres, salvarás a ti
mesmo e aos teus ouvintes” (1 Timóteo 4:16). Por outro lado, o fim da dou-
trina doentia é a destruição. “Certos homens cuja condenação foi escrita há muito
tempo se infiltraram secretamente entre vocês. São ímpios, que transformam a graça
de nosso Deus em licença para a imoralidade e negam a Jesus Cristo, nosso único
Soberano e Senhor” (Judas 1:4). Mudar a mensagem da graça de Deus é uma
coisa “ímpia” de se fazer, e a condenação por tal ato é severa. Pregar outro
evangelho (“que na verdade não é nenhum evangelho”) traz um anátema: “seja
condenado eternamente!” (Gálatas 1:6-9).
A sã doutrina é importante porque encoraja os crentes. O amor pela
Palavra de Deus traz “grande paz” (Salmo 119:165), e aqueles “que proclamam
a paz . . . que proclamam a salvação” são verdadeiramente “belos” (Isaías 52:7).
Um cristão “deve apegar-se firmemente à mensagem fidedigna como foi ensinada,
para que possa encorajar outros pela sã doutrina e refutar aqueles que se opõem a
ela” (Tito 1:9).
Além disso, irmãos, declaro-vos o evangelho que vos anunciei, o qual tam-
bém recebestes e no qual estais; Pela qual também sois salvos, se guardardes
na memória o que vos anunciei, a menos que tenhais crido em vão. Porque
primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por
nossos pecados, segundo as escrituras; E que foi sepultado , e que ressusci-
tou ao terceiro dia, segundo as escrituras.
– 1 Coríntios 15:1-4
23
registrado no Novo Testamento. Junto com Cristo, os apóstolos e profetas
formam o fundamento da igreja: “Agora, pois, já não sois estrangeiros e peregri-
nos, mas concidadãos dos santos e membros da família de Deus, edificados sobre o
fundamento da apóstolos e profetas, sendo o próprio Jesus Cristo a principal pedra
da esquina” (Efésios 2:19,20). Também no primeiro século houve falsos mes-
tres que rejeitaram a autoridade dos apóstolos. Paulo advertiu: “Se alguém se
considera profeta ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são manda-
mentos do Senhor” (1 Coríntios 14:37).
24
Senti Deus tocando meu coração. Percebi que Deus estava, ali, me perdo-
ando. Que sensação! Eu estava livre da culpa e vergonha do meu passado,
embora ainda precisasse terminar minha sentença de prisão, mas sabia que
havia esperança. Naquele dia, o pregador pregou todo o plano de salvação.
Fui batizado e me senti cheio do Espírito Santo.’’
Lucas escreveu que sem se arrepender você não pode ser mudado
ou convertido: ‘‘Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apaga-
dos os vossos pecados, para que venham os tempos de refrigério da presença do
Senhor.’’ (Atos 3:19).
Na ilustração eu usei o pecado de roubo, mas pode ser qualquer coisa –
mentira, trapaça, orgulho, luxúria, adultério, imoralidade sexual, idolatria,
assassinato, usar o nome de Deus em vão – realmente qualquer coisa que
você sabe, no fundo, não ser agradável para Deus.
Depois que alguém nasce de novo, haverá momentos em que mais arre-
pendimento serão necessários. Deus não quer que voltemos aos nossos
caminhos pecaminosos, mas se nos arrependermos com tristeza, segundo
Deus, Ele nos perdoará. ‘‘Portanto, diga ao povo: Assim diz o Senhor Todo-
Poderoso: Volte para mim, declara o Senhor Todo-Poderoso, e eu voltarei para você,
diz o Senhor Todo-Poderoso.’’ (Zacarias 1:3).
CONCLUINDO
A Doutrina dos Apóstolos nos ajuda a entender os ensinamentos de Jesus
com a ação de cada um deles. Não é difícil estudar e aprender tudo aquilo
que os discípulos de Jesus deixaram como doutrina. O nosso desafio é, exa-
tamente, ter atitudes e ações que expressem esses ensinamentos.
Palavra de Sabedoria:
É a habilidade dada por Deus de receber sabedoria sobrenatural,
quando houver necessidade. Revela os planos e propósitos de Deus para
uma pessoa ou grupo, para uma determinada ocasião. (Atos 5:33-39 – Atos
27:21-25 – João 8:7).
Palavra de Conhecimento:
É a habilidade dada por Deus de receber Dele, por revelação, fatos e
informações que, humanamente, seriam impossíveis saber. Conhecimento
acerca de qualquer situação que tenha um propósito de ajudar ou ajustar.
(Provérbios 1:7 – Salmos 94:9-11 – Provérbios 9:10 – Colossenses 2:2-3)
Discernimento de Espírito:
É a habilidade dada por Deus de reconhecer qual a natureza do espírito
que está operando, suas diferentes manifestações e atividades. Saber iden-
tificar se provém de Deus, de satanás ou do homem. (Mateus 9:4 – Mateus
17:19-21 – João 2:25 – Atos 13:8-12 – Atos 16:16-18).
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Variedade de Línguas:
É a habilidade dada por Deus de falar uma língua desconhecida, vinda
da parte de Deus. (Marcos 16:17 – Atos 2:4 – Atos 10:44-46 – Atos 19:6).
Interpretação de Línguas:
É a habilidade dada por Deus de traduzir, em linguagem conhecida,
uma mensagem que foi dada através do dom de línguas. (1 Coríntios
14:5,13,27,28).
Profecia:
É a habilidade dada por Deus de pronunciar uma mensagem de Deus
ao corpo de Cristo, recebendo-a do Espírito Santo para edificação, exor-
tação e consolação dos cristãos. (1 Coríntios 14:3-4 – Atos 11:28 – Atos
13:2 – Atos 21:11).
Dons de Cura:
Habilidade dada por Deus para ministrar cura nos níveis físico, espi-
ritual, mental e emocional em certas ocasiões específicas. (Salmos 107:20
– Mateus 10:8 – Tiago 5:14-15).
Milagres:
Habilidade dada por Deus para ministrar cura nos níveis físico, espi-
ritual, mental e emocional em certas ocasiões específicas. (Salmos 107:20
– Mateus 10:8 – Tiago 5:14-15).
Fé:
É a habilidade dada por Deus de crer Nele para a realização do impossí-
vel. (Marcos 9:23 – Mateus 17:20-21 – Tiago 1:5-8).
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COMUNHÃO E
PARTIR DO PÃO
3
Leonardo Borges
@leosalborges
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A verdadeira religião confronta a terra com o céu e o tempo com a eternidade.
O mensageiro de Cristo, embora fale da parte de Deus, precisa também, como
diziam os Quakers, “falar à condição” dos seus ouvintes; de outra forma terá
falado uma língua conhecida apenas por ele. Sua mensagem não deve ser ape-
nas eterna, mas também oportuna. Ele deverá falar à sua própria geração.
A W Tozer. (Mais perto de Deus, Editora Mundo Cristão)
E
ssa será, então, nossa jornada! E, aqui, fica registrado o mais sincero
desejo de que esse conteúdo possa despertar, enriquecer, facilitar, enco-
rajar, te fazer lembrar, ou confirmar a sua disposição de conhecer e
realizar a vontade do Pai revelada no Filho e testificada no Espírito.
A essa altura, muito provavelmente você já deve ter conhecimento do
tema central que nos faz encontrar aqui, para tentarmos organizar ideias
e construir uma compreensão que alcance a largura, altura, profundi-
dade, comprimento, acerca de uma expressão, em que destaco 3 palavras:
Comunhão – Partir – Pão, elementos preciosos contidos no verso 42, do
capítulo 2 do livro de Atos.
Se observarmos o texto de Atos 2 ;42 ao 47, há uma sequência de ações,
que estão interligadas e precisam ser analisadas, cada uma em separado,
para que possamos, conectar cada parte, ter a completude do que cada uma
representa. Uma está pendurada a outra, e, assim, harmonizada, sendo que
essa sintonia, estimula, provoca o acionamento de um gatilho, de modo, que
uma ação puxa outra, e outra empurra a outra ação, então de certa forma,
são ações dependentes.
O livro de Atos se ocupa, basicamente, da vida e do crescimento da igreja.
O livro é uma mistura de história e teologia.
Como história, o livro de Atos foi escrito em uma data muito posterior
aos acontecimentos (segundo alguns estudiosos contemporâneos), para
encobrir e acalmar discussões entre a igreja judaica petrina e a igreja gen-
tílica pró-paulina. Contudo, essa ideia foi rechaçada, pois se constata que
o autor não furtou ao compromisso de falar das divisões e dificuldades na
igreja (Atos 15:16 ao 41).
A obra da Igreja só é realizada e se confirma por iniciativa e autorização
do Espírito Santo. Então, não há do que falar sobre igreja sem que se com-
preenda a força do Espírito Santo na edificação e desenvolvimento dela.
Era algo naturalmente intencional, haja vista que, logo no início da nar-
rativa, na ocasião do desdobramento para a escolha do Matias testifica-se
que “Todos eles se reuniam sempre....” {Atos 1.14}. Logo após, está registrado
o testemunho da vinda do Espírito Santo: “...E estavam todos reunidos ...... só
lugar” ....” {Atos 2.1}
28
Diante disso e de outras evidências subsequentes, podemos constatar
que a Comunhão é uma bandeira do cristianismo, uma coluna da igreja, o
que denota clara importância da Comunhão, no estabelecimento e expansão,
fortalecimento e manutenção do Reino de Deus a todos os confins da Terra.
Portanto, nos colocamos nessa empreitada com a disposição de des-
cobrir e compreender a grandeza desses mistérios. Vale salientar que este
propósito se desenvolverá tendo como objetivo dar uma conotação de que
o título desse capítulo (Comunhão e Partir do Pão), torne-se uma disciplina,
que tal atividade se desenvolva e evolua a ponto de se transformar em um
hábito, uma rotina, um modo de vida.
Disciplinas Espirituais não são apenas contemplativas ou para um deter-
minado grupo. Portanto, é da vontade do Pai que todos sejamos perfeitos,
como perfeito é o nosso Pai. Para tanto, as disciplinas espirituais são meca-
nismos para este aperfeiçoamento.
Richard Foster, em seu livro “Celebração da Disciplina. O caminho para cres-
cimento espiritual” (Editora Vida), discorre, com maestria, sobre as clássicas
disciplinas. Ele começa dizendo da “porta do livramento”. Isso quer dizer
que quem nisso se exercita, diminui o risco do embaraço e queda, e depois
divide em 3 tópicos primários em que cada um tem outros 4 tópicos secun-
dários são eles:
Primeira parte: Disciplinas interiores – Meditação, Oração, Jejum, Estudo
Segunda parte: Disciplinas exteriores – Simplicidade – Solitude –
Submissão, Serviço
Terceira parte: Disciplinas Associadas – Confissão, Adoração,
Orientação, Celebração
Assim, diante de tão brilhante e inspiradoras palavras, está lançado o
desafio para que, você, como leitor, seja um ávido praticante, um incon-
formado comprometido, que em tudo busca se disciplinar para atender, de
forma digna, as responsabilidades confiadas na tarefa da obra do ministério
e da vida como um todo, seja na igreja, em família, no trabalho, na escola,
em comunidade, como ser humano, na vida em sociedade.
Entramos, então, no que eu ousaria, isso para não dizer, atrever-me, apre-
sentar – lhes a disciplina da “Comunhão e do Partir do Pão”, tentando apontar
seus efeitos, consequências e resultados.
Temos uma missão que é precedida de uma visão a qual deverá ser
colocada em ação; o que irá requerer de nós disciplina, para avançar pas-
sando por cada fase, do conjunto de metas que precisamos superar para
atingir o alvo.
29
Alguém pode pensar que determinadas áreas da vida no ministério
são de menor importância, mas a falta de disciplina nas pequenas coisas
afeta nossa capacidade de manter a disciplina nas grandes. C.S Lewis disse
“ponha as coisas de primeira ordem em primeiro lugar e teremos as coisas secun-
darias a reboque: ponha as coisas de segunda ordem em primeiro lugar e perdemos
ambas as coisas: de primeira e segunda ordem.”
Para escrever esse tema recorri a ajuda de alguns notáveis anônimos,
que atuam em áreas diversas, para que eles pudessem conceituar e/ou tra-
duzir com bases nas experiências que lhes são próprias, o que é Comunhão
e Partir do Pão, mais, como um testemunho do que propriamente como
uma definição, vou transcrever em algum momento adiante quando avan-
çarmos um pouco mais.
Já deixo aqui, a lista de algumas literaturas que foram, objeto de estudo,
para discorrer sobre a temática em questão1.
30
Como definir, traduzir, apenas conceitualmente, algo que, para ser
expressado, precisa ser praticado? Tento fazer uma abordagem teórica de
elementos que compõem esse mecanismo chamado “Comunhão”, sob a Luz
das Escrituras Sagradas e a batuta do Espirito Santo!
Um dos maiores resultados do poder do Espírito Santo é expressado na
palavra grega ”koinonia”, que por sua vez significa comunhão. Devemos pro-
curar entender o seu conteúdo pleno e suas implicações para a fé e o viver.
Os eruditos, em sua maioria, estão de acordo que a ideia fundamental de
koinonia é aquela da “participação em algo no qual os outros também participam”.
Outras palavras que também se aproximam do significado da palavra
grega são: “participação”, “possessão comum”, e, mais especificamente, quando
usada no Novo Testamento, tem, geralmente, a conotação de “participa-
ção em algo com alguém”, ficando patente que é necessário intencionalidade,
tanto para promover, bem com como para manter, viva e acesa, a chama da
Comunhão genuína para que assim possa alcançar os propósitos e conse-
quentemente os benefícios extraídos da Comunhão.
Seria muito simplista restringir tudo o que Comunhão representa se
reduzirmos apenas à compreensão que ela é de pessoas com pessoas pois,
antes de qualquer coisa, é preciso estabelecer uma conexão que se desen-
volve na relação com Deus através de Cristo no Espírito Santo.
Não há do que se falar em Comunhão se essa não for edificada sobre os
alicerces providos em Cristo e orientados no Espírito.
Comunhão está intimamente ligada a um padrão de vida comum com
várias outras ações de comportamento que se entrelaçam. É a vida vivida
em comunidade, algo que transcende para além da reunião, do ajunta-
mento, pois, na sua essência, é primariamente Comunhão com o Deus Trino.
Comunhão – Companhia – Comunidade – Koinonia, não fala apenas
da expectativa de uma vontade futura, mas, sim, de uma vivência cons-
tante. Só é possível considerar Comunhão em perspectiva cristã. Assim, só
é possível alcançar os resultados que a Comunhão pode produzir se houver
Comunhão no Espírito com a Graça de Cristo e no Amor do Pai.
31
Comunhão é diferente de convivência. Uma cela com vários presos pode
promover uma convivência entre pessoas e nunca alcançar um estado de
Comunhão entre elas. Ao passo em que uma pessoa, sozinha em sinceri-
dade, pode alcançar alto nível e profunda intensidade de Comunhão, mais
do que um grande grupo junto, em que não haja propósito.
Vou abrir um parêntese, aqui, para compreendermos o que a
Comunhão não é.
Comunhão não é mero ajuntamento, ou simples reunião, nem apenas um
conjunto de pessoas aglomeradas em um espaço, Comunhão não é um cole-
tivo de iguais, não é apenas andar junto. Veja; o povo hebreu andou junto
40 anos no deserto e, nem por isso, chegaram ao nível da comunhão. Judas
andou com Jesus e o traiu.
Não se trata apenas de uma convocação para uma simples solenidade
contemplativa. É preciso considerar outros elementos conexos: inspiração,
motivação, a indução do Espírito Santo.
A comunidade onde a Comunhão é estimulada deve facilitar e criar
ambiente seguro para que se possa compartilhar todo tipo de aflições,
traumas e dramas, sem o automatismo repressor, muito menos o juízo con-
denatório; sem a obrigação de ter que achar uma solução imediata ou, muito
menos, culpados para serem responsabilizados.
Se não for assim, este lugar pode mais distanciar do que aproximar,
transformando remédio em veneno.
Se o amor é a substância da Comunhão, a suspeição impede a Comunhão
na sua forma autêntica.
A reprovação é uma barreira de separação que anula, e pode retardar
muitas possibilidades de tratamento com altas chances de sucesso.
Outro aspecto a ser considerado é que há muitas relações que são pauta-
das por conveniência e oportunidade onde pessoas se aproximam e mantêm
relações por interesse, por necessidade, e isso é muito perigoso. Primeiro
porque revela nosso nível elevado de cobiça e, segundo, porque a frustração
e a decepção virão apenas em uma questão de tempo.
Não há relação que consiga se sustentar por muito tempo nessas bases.
Mais cedo ou mais tarde, quando a contrariedade e a oposição chegarem, ou
as descaremos ou seremos descartados.
32
Um dos significados de Comunhão é “comparecer assiduamente, acompa-
nhar de perto, ato de participar por causa de um interesse em comum”.
Todas essas definições falam de um uma atitude que, quando progride e
se consolida, fortalece as relações.
Ter o Encontro, a Celebração, que é a tradução da Comunhão, como uma
disciplina espiritual, pode parecer algo distante. Porém, não há nada que
seja tão espiritualmente autêntico quanto os efeitos da prática genuína e sin-
cera dessa disciplina.
A Comunhão ajuda a regular e apontar o caminho para várias disci-
plinas espirituais, o que coopera para que sejamos uma comunidade de fé
saudável e relevante. Comunhão, pautada na força da Graça e no poder do
Espírito Santo, prepara terreno para que possamos expressar sentimentos e
confessar pecados.
Outro fator interessante de se considerar é que a comunhão está sujeita a
fases evolutivas, a etapas progressivas, o que nos permite afinar a sintonia e
seguir avançando para os estágios seguintes, comunhão consigo, comunhão
com Cristo, comunhão uns com os outros (veja 1°Corintios 1:10).
Conscientiz
ão ação
munh
Co Co
ns
ag
o
çã
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olu
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Ev
San
ação
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Justific
ção
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ção
Salva
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ção
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o
n
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Re
aç
ão
o
açã Ed
Or ific
ação
Multiplicação
33
A genuína Comunhão precisa ter a participação, a cooperação mútua,
em que todos têm parte e oferecem, em certa medida, sua porção. Todos são
atores e não apenas expectadores. Comunhão tem em vista um propósito de
expansão por meio da inclusão.
Peço licença para testemunhar dos efeitos da comunhão na minha vida.
Lembro-me do pequeno grupo na casa da tia Lázara e do Fabiano, filho
dela. A reunião era dirigida pelo meu amigo Fernando. Participávamos, eu,
a Flavia, a Fabiana, o Tim (Jose Peixoto) e o Fabão. Quando terminava, já
começava a contagem para o próximo encontro.
Era um lugar de escuta, de fala com música, palavra, oração, lanche, con-
versas e risadas. Foi em um desses encontros que eu aprendi, entre tantas
outras coisas, a como usar a chave bíblica. Lugar de refúgio, de refrigério,
de crescimento, tanto que, só nesse núcleo, duas famílias se formaram: eu
me casei com a Fabiana e o Fernando depois de muitas voltas acabou se
casando com a Flavia.
Essa é a força e poder que a Comunhão proporciona. Ela edifica e conso-
lida. Éramos um grupo pequeno, mas a união e fraternidade nos vinculavam
uns aos outros e aos propósitos do Eterno.
Foi em um ambiente assim que eu aprendi com a Cássia, que não fazia
mais sentido orações em favor de quem já havia morrido. Reuníamos aos
domingo, 16h, em um grupo de estudo, e de lá, já íamos para o culto na igreja.
A edificação e consolidação da minha jornada de fé foi construída e é
mantida nesse movimento, de Comunhão. Esta, assim se configura com
variadas expressões:
• A Comunhão íntima (particular com o Deus Trino);
• A Comunhão em dupla (como quando eu e meu amigo Tim nos levan-
távamos as 7h da manhã para ler e estudar a bíblia, ou ir ao culto
na irmã Dulce);
Comunhão de um grupo (quando enchíamos a “Caravan” do
• A
Fernando para resgatar uns “doidões” e, fazer o Caldão, ou também
quando colocávamos 8 pessoas no fusca do Eustáquio ou no Escort
do Romerson, para fazer evangelismo nas escolas. Também tinha o
“Corsinha” branco do Marcão, depois íamos para casa do Daniel fazer
uma panelada de macarrão, que se diga de passagem, o Elder de
Moura mandava bem).
34
Os acampamentos, as viagens e os evangelismo com a Carreta foram
muito importantes para o nosso crescimento e fortalecimento, pois foi
a forma de sermos treinados e capacitados para assumirmos respon-
sabilidades. Tivemos, ali, muitas sementes semeadas, muitos frutos e
comunhão na prática.
Não posso deixar de considerar um outro aspecto muito valioso que a
Comunhão proporciona que é a confiança e credibilidade.
As reuniões do evangelismo na casa do Olgálvaro, ou quando eu acom-
panhava o Paulo Jr. em algumas viagens, me fizeram sentir privilegiado
pelas oportunidades concedidas.
Quando eu era o “câmera” da SALTV e gravava o “Trocando Ideias” era
intensa a Comunhão. Por lá passava o Gilberto Marquez, Flavio Guaratto,
Cesar Pereira, Terso Jr, Terso “pai”, Marcos Barros e outros nobres.
Quando digo que sou privilegiado, e que considero ter aproveitado e
valorizado os momentos que a Comunhão criou, é pelo fato de que recebi
da parte dos meus líderes alto investimento.
Quando digo investimento, não falo só financeiro, contudo, afetivo,
valores imateriais. Fui estimulado, encorajado , desafiado, esticado, promo-
vido, valorizado, e isso tudo foi de extrema importância para que, hoje, eu
pudesse dizer o que estou dizendo aqui, participando desse momento na
história , sendo um testemunho da eficácia da Comunhão, não apenas atra-
vés das palavras escritas, mas, da vida partilhada.
Há tantos outros que marcaram e fizeram parte dessa construção, por
isso não podemos menosprezar e nem descartar ninguém. Aprendi que a
Comunhão inclui, e quem não quiser viver e responder a todas as implica-
ções que a Comunhão produz, terá que pedir exclusão.
Estimular a prática das boas obras e não deixar de congregar são deter-
minações que se não forem cumpridas, comprometem o funcionamento,
tornam insustentável a vida cristã.
Comunhão é uma disciplina que nos ajuda a consolidar a fé e, assim, pro-
porciona condições para um crescimento Espiritual saudável, sustentável.
A genuína Comunhão protege, ampara, expõe, trata, molda, lapida, pro-
move, reconcilia, nivela, recupera, resgata.
O aperfeiçoamento produzido no desenvolvimento da Comunhão
redunda em alívio, em refrigério, pois distribuímos as cargas.
Ela também restaura sonhos e possibilita torná-los realidade. Além de
revelar novas perspectivas, incute senso de pertencimento, que se aprimora
à medida que assumimos responsabilidades, das quais nos comprometem
uns com os outros, pela simples razão que o Senhor mantem o compromisso
Dele, para conosco.
35
A igreja, e aqui não falo apenas no aspecto da organização religiosa, mas
como unidade terapêutica para tratamento e para a cura , para liberta-
ção de emoções negativas, sentimentos, traumas, dramas, como agente de
restauração; a igreja é a entidade que carrega, em si, a força e o poder de edi-
ficar e demolir.
Ela tem, em sua essência, como instrumento de Cristo, o condão de redi-
mir e transformar vidas. Como lugar de refúgio tem, por meio da Comunhão
que promove, a capacidade de tratar , resolver, solucionar.
É o ambiente propicio para que as orações sejam atendidas, pela razão
de ser, no ambiente da coletividade, que se faz presente e se revela a
Glória de Deus.
A prática da Comunhão cura doenças graves das quais a ciência ainda
não inventou pílula. Somos curados do egoísmo e, se não resistirmos, pode-
mos superar o orgulho.
Quando compreendemos o valor e a importância da Comunhão, não
ficamos apenas preocupados em resolver nossos próprios problemas.
Encontramos, na Comunhão, oportunidade para aprender, não só para
solucionar problemas, mas, também, para caminhar junto um com o outro,
mesmo sem termos todas as respostas.
Se quando nos apresentamos para usufruir da Comunhão, o que temos
para oferecer são apenas carências e insatisfações, precisamos evoluir para o
estágio da Gratidão, elemento fundamental para o crescimento das relações.
As pessoas que são aperfeiçoadas na Comunhão constroem uma comu-
nidade, que pode apontar o caminho da cura para todo tipo de mal, pois
ela mesma foi curada, e agora tem a responsabilidade de noticiar a todos os
doentes que há esperança.
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4. FATORES NEGATIVOS QUE ATRAPALHAM A COMUNHÃO
É comum, em ambiente coletivo, que a Concorrência e o Ciúmes sejam
latentes, por isso, precisamos ser cautelosos para não expor ninguém ao
ridículo, e muito menos colocar carga além da conta sobre os ombros daque-
les que estão sendo inseridos no ambiente da Comunhão.
Estes fatores neativos podem desgastar a comunhão pois, de forma sutil,
comprometem, bloqueiam e impedem o fluir para o desfrute e a manifesta-
ção da glória de Deus. O ego aflorado, a vaidade exacerbada, corrompem e
deterioram a comunhão e, por isso, muitos acabam ficando pelo caminho.
É assim que acontece a deturpação da Comunhão, seja na coletividade
ou na individualidade, coisificamos pessoas e amamos coisas, nisso se cons-
tata a degeneração que trará separação.
Devemos ter o cuidado para proteger a comunidade para que a
Comunhão não seja pervertida. Comunhão não pode ser opressora, mani-
puladora, impositiva.
A comunidade que trasveste a Comunhão limitando apenas à reunião,
não passa de uma usurpadora, onde o que está por traz é o lucro, que pode ser
alcançado com a exploração de mão de obra “barata”. Isso não é Comunhão.
37
“Pão que é Partido na Comunhão” nos impõe algumas coisas, que somos
obrigados a aceitar porque, do contrário, estaremos negligenciando e, em
alguns casos, nos opondo, e em outros mais extremos, nos rebelando.
Quem chama Deus de Pai, não escolhe os irmãos. Recai sobre nós a res-
ponsabilidade de que na promoção do Partir do Pão a Comunhão não seja
uma opção, uma escolha, já que, diante da mesa, onde o Pão é servido,
eu não apenas me alimento do Pão, mas, me faço Pão para ser partido e
distribuído. O Pão em si, é só um acessório, mas quando partilhado, esse
regenera, transforma e edifica.
Pão nunca foi e nem nunca será um elemento restritivo para o exercício
autêntico da Comunhão. Jesus multiplicou pão 2 vezes, pão caiu do céu no
deserto, corvos levaram o pão, então, não se trata de pão para matar a fome,
mas Pão que se Dele comemos, transformará a consciência, e nos fará com-
preender o privilégio da responsabilidade que temos de repartir.
A diferença está em quem come o pão, Pão da Comunhão. Não é questão
apenas de fome, não pode ser apenas do estômago.
Se ainda continuamos a nos comportar dessa maneira, apenas reagindo
como quem se encontra para comer pão, não seremos saciados, sairemos
sempre vazios e queixosos.
Do que vale o pão na mesa se não tiver com quem repartir para alimen-
tar! Reuniões que não são encontros, são apenas ajuntamentos, e desse tipo
o profeta Isaías e o profeta Amos repreenderam a nação de Israel (Isaias 1.13
a 15 – Amos 5.21 e 22).
A comunidade que Parte o Pão, que cultiva a Comunhão, gera transfor-
mação. O Pão que é Partido na Comunhão, torna propício o ambiente para
a restauração e esse produz a santificação.
Partir o Pão, na concepção de Comunidade Cristã, que é composta por
representantes de Cristo, vai além de dar um pão, ou uma cesta, oferecer
um jantar, um Culto de santa Ceia. Também se demonstra pelo que fazemos
pelo bem-estar social de um povo , mesmo que quem esteja fazendo não seja
beneficiado diretamente.
Vejamos só o testemunho de como vários irmãos compreendem que
o Partir do Pão em Comunidade. Comunidade não como núcleo res-
trito, mas ampliado.
O Júlio é um cristão, agente público, um defensor público, que luta por
direitos e garantias, para que justiça seja feita em prol da sua comunidade, e
aqui quando se fala comunidade, fala-se da cidade. Ele diz:
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2. Só podemos oferecer o que temos. Se, de fato, recebemos.
3. A comunidade que aprendeu dividir a mesa refletirá bondade, generosi-
dade e misericórdia
4. Jesus desejou a “Comunhão e no Partir o Pão”. Foi ali que nos preparou
para sua morte, revelou sua ressurreição. Ele pregou, ensinou e curou, mas
foi na mesa da partilha que os discípulos de Emaús reconheceram Jesus. Ali
amigos se revelam os irmãos.
O culto, a pregação e o ensino podem aquecer o coração, mas é a mesa da
Comunhão que revela o Cristo.
5. “O partir do pão” não é apenas simbologia, é Poder de Deus!
Júlio Tanone (Defensor Público – SP)
CONCLUINDO
Para concluirmos, se pão é sagrado, não podemos terminar sem men-
cionar o sacramento da Santa Ceia, a mais emblemática expressão de Pão
Partido e de Comunhão. “Fazei isto em memória todas as vezes que vos reunir-
des”(1º Cor 11:23).
39
O livro Vida Em Comunhão – Dietrich Bonhoeffer da Mundo
Cristão, diz assim:
O dia da Ceia do Senhor é uma día de alegria para comunidade cristã. Num
contexto em que se está reconciliando com Deus e com os irmãos, a comu-
nidade recebe o dom do corpo e sangue de Jesus Cristo. E, nesse dom, recebe
perdão, nova vida e salvação. Na Ceia do Senhor a igreja recebe novamente
o dom da comunhão com Deus e com as pessoas. Na verdade, a comunhão
crista se completa na comunhão da Ceia do Senhor. Assim como os membros
da igreja estão unidos de corpo e sangue na mesa do Senhor, também estarão
juntos por toda a eternidade. Aqui a comunhão alcançou o seu alvo. Aqui a
alegria em Cristo e sua igreja se completa. Na Ceia do Senhor, a vida comuni-
tária dos cristãos que vivem sob a Palavra de Deus torna-se plena.
Se Deus amou a Jesus e fez o que fez com Ele, e por meio D’Ele, porque
pensamos de estamos isentos de que Deus faça conosco o for preciso para
nos transformar em alguém como Jesus é...”
Termino esse capítulo, agradecendo ao meu grande amigo André, que ao
longo de mais de 20 anos de Comunhão e Partilha de Pão, sempre esteve a
disposição, juntamente com a sua esposa Natali e suas amadas filhas Laura
e Leticia para servir, e, especialmente, nos últimos 3 anos, dispondo do seu
tempo e competência, para corrigir os meus textos dos capítulos dos livros
que escrevi da Escola de Liderança.
Agradeço a minha esposa Fabiana e minha filha Ana Beatriz, por me esti-
mularem, cobrarem e facilitarem para que esse texto fosse escrito.
40
ORAÇÕES E JEJUNS
4 Marcos Rocha
@marcosrlsouza
41
A
oração, além das escrituras sagradas, da comunhão dos santos e do
repartir do pão, foi um dos pilares sobre o qual a igreja de Jesus foi
edificada. A oração era, sem dúvida, uma das forças propulsoras mais
poderosas da igreja. No livro de Atos, o substantivo oração e o verbo orar
aparecem 25 vezes, sendo o livro do Novo Testamento. onde mais aparecem.
Ela estava presente na vida ordinária dos cristãos, como evidenciado
quando Pedro e João se dirigiram ao templo para a oração da hora nona
(At 3:1) e também quando Pedro estava orando ao meio dia e lhe veio uma
visão (At 10:3).
A oração manteve a igreja unida nos 10 dias entre a ascensão de Cristo e
a descida do Espírito (At 1:14).
A oração era ainda uma arma poderosa de defesa nos momentos de gran-
des perseguições. Quando Pedro e João saíram da prisão e se reuniram com
a igreja, a primeira reação de todos os crentes que estavam ali presentes foi
orarem (At 4:23-31).
A oração estava presente nos momentos de maior angústia em face da
morte. Quando Estevão estava sendo apedrejado, as suas últimas palavras
foram uma oração de perdão (At 7:60).
A igreja consagrava pessoas para o serviço ministerial em oração, como
no caso da escolha de Barnabé e Saulo para o envio missionário (At 13:1-3)
e também no caso da escolha dos diáconos (At 6:6).
Os presbíteros tinham que se dedicar à oração e à pregação das escri-
turas (At 6:4).
A oração precedia milagres, o que está bem exemplificado quando Pedro
pede a todos que saiam do recinto e se põe de joelhos e ora, depois se levanta
e cura a Tabita (At 9:40).
A oração provocava libertação das cadeias, no caso quando Paulo e Silas
estavam em uma cadeia em Felipo e a meia noite oravam ao Senhor (At 16:25).
A igreja orava não só no templo, mas de casa em casa, como na casa de
Maria mãe de Joao Marcos, e em lugares abertos como em Filipos, onde Paulo
e os irmãos se encontraram para orar à beira de um rio (At 12:12 e At 16:13).
Quando a Igreja Primitiva orava, muitas coisas aconteciam: Os crentes
ficavam cheios do Espírito Santo, as pessoas se convertiam, enfermos eram
curados, pessoas eram transformadas, as necessidades materiais da Igreja
eram supridas, os espíritos malignos eram derrotados.
A Igreja orava em todo o tempo e em todos os lugares. Em tempos de paz
e em tempo de guerra, de perseguição; de saúde ou enfermidade; no tem-
plo, em casa, e ao ar livre.
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Por tudo isso precisamos aprender a orar, nos dedicando à teoria e à
prática, como os discípulos pediram para que Jesus os ensinasse (Lc 11:1) e
inúmeros casos práticos como citados acima.
1. O QUE É ORAÇÃO
Oração, em sua definição, talvez mais básica, seja, a comunicação
pessoal com Deus.
Karl Barth define oração como a “Ânsia incurável por Deus”. Essa defi-
nição corresponde muito com o “divinitatis sensum”, escrito por Calvino,
quando ele usa essa expressão para definir um senso que todo ser humano
possui da divindade. Tanto Calvino como Barth estão testificando que há
um instinto natural do ser humano pela ligação com o divino.
Talvez seja por isso mesmo que ao perguntar para dois discípulos de
Joao Batista, “o que queres?”, Jesus obtém uma resposta deles muito sim-
ples, diria até infantil, mas, ao mesmo tempo, profunda e reveladora do
desejo mais básico de todo ser humano: “onde moras?” Mais do que qual-
quer outra necessidade, os dois discípulos de João Batista, querem conhecer
Deus, saber onde encontra-lo, saber qual o seu “endereço”.
A necessidade mais básica do ser humano é voltar ao lugar de onde ele
nunca deveria ter saído, da presença de Deus, da intimidade com o seu cria-
dor e Pai. O pecado afastou o ser humano de Deus e, desde então, o homem
e a mulher vagam por lugares ermos e distantes, por lugares inóspitos e des-
confortáveis e anseiam por voltar à casa, à intimidade do Pai. Esse anseio
é tão forte que o próprio Jesus nos disse que precisava ir para nos fazer
morada junto ao Pai e depois voltaria para nos buscar para que onde Ele
estivesse, nós estivéssemos com Ele (Jo 14:2-3).
43
Em outro nível, a oração pode ser um dom espiritual. Os cristãos acredi-
tam que, pelas escrituras e pelo poder do Espírito Santo, nossa compreensão
de Deus pode se tornar clara. Pela Palavra e pelo Espirito, a oração se con-
verte em resposta a Deus – uma conversa no sentido pleno do termo.
O Apóstolo Paulo testifica de um tempo quando os Gálatas não conhe-
ciam a Deus e, por isso, serviam a tantos outros deuses que não eram Deus.
Mas mesmo assim, ele está revelando que aquela sociedade tinha uma fome,
intrínseca, por se relacionar com Deus, mesmo procurando por Ele no meio
daqueles que não era.
Outrora, porém, não conhecendo a Deus, servíeis a deuses que, por natureza,
não o são; mas agora que conheceis a Deus ou, antes, sendo conhecidos por
Deus, como estais voltando, outra vez, aos rudimentos fracos e pobres, aos
quais, de novo, quereis ainda escravizar-vos?
– Gálatas 4:8,9
44
Mas Deus não apenas quer que O conheçamos. Também quer que O
amemos e com Ele tenhamos comunhão. Essa, então, é uma segunda razão
por que Deus quer que oremos: a oração nos leva a uma comunhão mais
profunda com Deus, e Ele nos ama e Se deleita em nossa comunhão com Ele.
Uma terceira razão é que, na oração, Deus permite que nós, criaturas, nos
envolvamos em atividades revestidas de importância eterna.
Uma quarta razão seria para nos conhecermos melhor. Você está em
companhia de alguém único. Deus é a única pessoa de quem você nada con-
segue esconder. Diante, dele, inevitavelmente, você se enxergará sob uma
nova luz sem igual. A oração, portanto, leva a um autoconhecimento impos-
sível de alcançar de outro modo.
3. PRINCÍPIOS DA ORAÇÃO
3.1. Orar em nome de Jesus (Jo 14:13-14; Jo 15:16; Jo 16:23-24).
Isso não significa, simplesmente, acrescentar a expressão “em nome de
Jesus” à nossas orações. Jesus não está meramente falando de acrescentar
determinadas palavras, como se fossem uma fórmula mágica que daria
poder a oração.
Quando nos apresentamos em nome de alguém, isso significa que a pes-
soa citada nos reveste com sua própria autoridade. Quando Pedro, por
exemplo, ordena ao coxo: “Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, anda!” (At
3:6) ele fala com a autoridade de Jesus, não com a sua própria autoridade.
3.2. Orar segundo a vontade de Deus.
João nos diz: “Esta é a confiança que temos para com ele: que, se pedirmos
alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve. E, se sabemos que ele nos ouve
quanto ao que lhe pedimos, estamos certos de que obtemos os pedidos que lhe temos
feito” (l Jo 5.14-15). Jesus nos ensina a orar: “Faça-se a tua vontade” (Mt 6.10) e
ele mesmo nos dá o exemplo, orando no jardim do Getsêmani: “Todavia, não
seja como eu quero, e sim como tu queres” (Mt 26.39).
Mas como saberemos qual a vontade de Deus, quando esti-
vermos em oração?
45
Se a questão sobre o que oramos é abordada numa passagem bíblica na
qual Deus nos dá uma ordem ou uma declaração direta da sua vontade,
então, a resposta a essa pergunta é fácil: a vontade de Deus é que a sua
Palavra seja acatada, e que as suas ordens sejam cumpridas.
Devemos buscar a obediência perfeita a vontade moral de Deus na terra,
para que a sua vontade seja feita “assim na terra coma no céu” (Mt 6.10). Por
essa razão, o conhecimento das Escrituras é um tremendo auxílio na oração,
possibilitando que sigamos o modelo dos primeiros cristãos, que citavam as
Escrituras quando oravam (At 4.25-26). A leitura regular e a memorização
das Escrituras, cultivadas ao longo de muitos anos de vida cristã, aumen-
tarão a profundidade, a força e a sabedoria das orações. Jesus nos encoraja
a ter em nós as suas palavras ao orar, pois diz: “Se permanecerdes em mim,
e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será
feito” (Jo 15.7).
Contudo, em muitas outras situações da vida, não sabemos qual a von-
tade de Deus, pelo fato de não haver promessa nem mandamento bíblico
que aborde a questão.
Nesses casos, devemos pedir-lhe uma compreensão mais profunda e
depois orar pelo que nos parece melhor, explicando ao Senhor, segundo
o nosso entendimento das circunstâncias, as razões por que nos parece
melhor aquilo pelo que estamos orando. Mas quer explicitamente ou impli-
citamente, devemos acrescentar: “Se for da tua vontade”. As vezes Deus nos
concederá o que pedimos. As vezes Ele nos dará uma compreensão mais
profunda, ou mudará o nosso coração para que sejamos levados a pedir
algo diferente. Outras vezes Ele simplesmente não atenderá nosso pedido,
mas nos fará ver que precisamos nos submeter a sua vontade (2Co 12.9-10).
3.3. Orar com fé
Por isso, vos digo que tudo quanto em oração pedirdes, crede que recebestes,
e será assim convosco.
(Mc 11:24)
De fato, Hebreus 11.1 nos diz que fé é, a certeza de coisas que se espe-
ram, a convicção de fatos que se não veem. A fé bíblica jamais é uma espécie
de pensamento imaginoso ou, vaga esperança desprovida de fundamento
seguro. É, antes, confiança numa pessoa, o próprio Deus, baseada no fato
de crermos na seriedade da sua palavra, na verdade do que Ele disse. Essa
confiança, quando dotada de um elemento de certeza ou convicção, é a
genuína fé bíblica.
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Várias outras passagens nos encorajam a exercer a fé na oração. “Tudo
quanto pedirdes em oração, crendo, recebereis”, ensina Jesus aos seus discí-
pulos (Mt 21.22). E Tiago nos diz que devemos pedir “com fé, em nada
duvidando” (Tg 1.6).
3.4. Obediência
Como a oração é um relacionamento com um Deus pessoal, qualquer
coisa na nossa vida que lhe desagrade será um obstáculo à oração. Diz o sal-
mista: “Se eu no coração contemplara a vaidade, o Senhor não me teria ouvido (Sl
66.18). Se “O sacrifício dos perversos é abominável ao SENHOR”, por outro
lado “a oração dos retos é o seu contentamento” (Pv 15.8). Lemos também que
“ O SENHOR “atende a oração dos justos” (Pv 15.29). Mas Deus não se dispõe
favoravelmente aos que rejeitam suas leis: “ O que desvia os ouvidos de ouvir a
lei, até a sua oração será abominável” (Pv 28.9).
O apóstolo Pedro cita Salmos 34 para afirmar que “os olhos, do Senhor
repousam sobre os justos, e os seus ouvidos estão abertos às suplicas (1 Pe 3:12).
Como os versículos precedentes encorajam a boa conduta no dia-a-dia, no falar e no
desviar-se do mal e fazer o bem. Pedro diz que Deus prontamente ouve as orações
daqueles que vivem obedientes a ele. Do mesmo modo, Pedro exorta os maridos ter
consideração para com a sua mulher para que não se interrompam as vossas orações.
(1Pe 3:7). Da mesma forma, João nos chama a atenção à necessidade de uma clara
consciência diante de Deus ao orar, pois diz· “Se o coração não nos acusar, temos
confiança diante de Deus; e aquilo que pedimos dele recebemos, porque
guardamos os seus mandamentos e fazemos diante Dele o que lhe e agra-
dável” (1 jo 3:21-22).
3.5. Orar com humildade
Thiago e Pedro nos diz que “Deus resiste aos soberbos, mas da graça aos
humildes” (Tg 4:6; 1 Pe 5:5). A humildade é, assim, a atitude correta na oração
a Deus, enquanto o orgulho é absolutamente inadequado. Jesus condenava
os que, para justificar-se, “fazem longas orações (Lc 24:47), e os hipócritas que
“gostam de orar em pé nas sinagogas e nos cantos das praças, para serem
vistos pelos homens. “ ( Mt 6:5).
3.6. Persistência na oração
Assim como Moisés, por duas vezes, permaneceu na montanha durante
quarenta dias perante Deus por causa do povo de Israel (Dt 9.25-26; 10.10-
11), e assim como Jacó disse a Deus: “Não te deixarei ir se me não abençoares”
(Gn 32.26), também na vida de Jesus percebemos muita dedicação de tempo
a oração. Quando grandes multidões o seguiam, “ele muitas vezes se retirava
para regiões desertas e orava” (Lc 5:16). Noutra ocasião, ‘’passou a noite orando
a Deus” (Lc 6.12).
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Há também um elemento de continuada comunhão com Deus na ora-
ção persistente.
Paulo nos convoca a orar “sem cessar” (1Ts 5.17) e encoraja os colossenses:
“Perseverai na oração, vigiando com ações de graças” (Cl 4.2). Essa continua devo-
ção a oração, mesmo em meio aos deveres diários, deve caracterizar a vida
de cada crente. Os apóstolos são um exemplo expressivo. Eles se desvenci-
lhavam de outras responsabilidades a fim de dedicar mais tempo a oração:
48
Nas Escrituras, há muitos outros exemplos em que grupos de crentes
oram juntos, ou em que uma pessoa lidera toda a congregação na oração.
Repare a oração de Salomão na presença de toda a congregação de Israel,
quando da dedicação do templo em 1Rs 8:22-53, ou a oração da igreja primi-
tiva em Jerusalém, quando levantaram a voz a Deus, em At 4.24. Orar com
os outros, então, é também correto e, muitas vezes, aumenta a nossa fé e a
eficácia das nossas orações.
O teólogo americano Michael S. Horton salientou que Calvino acreditava
que o “exercício público do ministério molda a devoção privada, não o contrário. ”
4. COMO ORAR?
Ser filho de Deus significa termos acesso. O que nos seria necessário
para uma audiência com o presidente dos EUA? Não bastaria apenas ter
um assunto muito importante, extremamente relevante ao país, mas seriam
necessárias outras pessoas que pudessem intermediar essa conversa. Mas o
filho do presidente tem acesso a ele sem nenhuma outra pessoa e nenhum
assunto muito importante. O filho não precisa bater na porta do pai, ele sim-
plesmente entra.
Em Cristo, fomos feitos filhos de Deus e isso mudou toda nossa relação
com Ele. Até os anjos anelavam ter a relação que os filhos têm com o Pai.
Deus enviou seu filho, nascido de uma mulher, sob a lei, para redimir quem
estava debaixo da lei, a fim de que pudéssemos receber a adoção de filhos.
Porque vós sois seus filhos, Deus enviou o Espírito do seu Filho a vossos cora-
ções, o Espírito que clama Abba Pai.
– Gálatas 4:4-6
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Santificado seja o teu nome. (Mt 6:9)
Está parte, nos ensina a orar pelo avanço da obra missionária, pois, ape-
sar do Reino de Deus ter sido inaugurado na terra por Cristo (Lc 17:21), ele
ainda não se consumou em todos os corações. Até que se consuma, comple-
tamente, o Reino de Deus na segunda vinda de Cristo, há necessidade dessa
oração para que a igreja seja um agente dessa propagação do Reino de Deus
na terra. Temos o exemplo de quando a igreja primitiva se reuniu para orar
e foram todos cheios do espírito Santo e pregavam a palavra de Deus com
ousadia e poder (At 4:31).
Somente quando o Pai celestial, sobre a base da expiação pelo Filho e da opera-
ção do Espírito Santo, reina no coração dos homens, é que se pode esperar um
verdadeiro e permanente melhoramento do individuo, na família e nas condi-
ções sociais, nacionais e internacionais. (Zc 4:6)
William Hendriksen
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...faça se a tua vontade, assim na terra como nos céus. (Mt 6:10)
51
Essa oração condiz com o ensino em provérbios 30:8-9.
não me dês nem a pobreza nem a riqueza; dá-me o pão que me for necessário;
para não suceder que, estando eu farto, te negue e diga: Quem é o Senhor?
Ou que, empobrecido, venha a furtar e profane o nome de Deus.
Por causa do sangue de Cristo, não cobre de nós, miseráveis pecadores que
somos, nossas transgressões nem o mal que ainda há em nós, assim como tua
graça em nós faz que tenhamos o firme propósito de perdoar nosso próximo
de todo o coração.
...e não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal... (Mt 6:13)
A oração não é para que Deus não nos deixe ser tentados, mas, sim, para
que não caiamos nas tentações que são naturais de uma carne que não se
converte e que é contrária à lei de Deus. O fato de sermos tentados não
significa que não somos livres da escravidão do pecado. Em Cristo, já não
somos mais escravos do pecado, mas ainda habitamos em um corpo que é
tentado (Rm 7:25). Ser tentado à homossexualidade, não determina a minha
identidade sexual. Ser tentado à mentira, não determina que sou um menti-
roso. Ser tentado à maledicência, não determina que sou maledicente.
Jesus nos conclama a “vigiar e orar para não cair em tentação, pois o espírito
está pronto, mas a carne é fraca” (Mc 14:38).
52
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
• Biblia sagrada – Tradução de João Ferreira de Almeida – Edição
revista e atualizada
• HENDRIKSEN, William. Comentário do novo testamento: Mateus,
VOL.I; 2ª Ed.; Editora Cultura Cristã, 2010.
• KELLY, Timothy. Oração: experimentando intimidade com Deus –
São Paulo: Vida nova, 2016.
• GRUDEN, Wayne A. Teologia Sistemática – São Paulo: Vida Nova, 1999.
53
54
TEMOR, SABEDORIA
5 Rafael Daher
@rafaelmanifesto
55
V
ivemos em um tempo em que a imagem de Deus é banalizada, onde
os sentimentos e percepções de um indivíduo estão acima de qualquer
valor moral, pois a busca por uma felicidade idealizada está sendo vis-
lumbrada como um objetivo a ser alcançado a qualquer custo. O propósito
deste material é compreender que o temor ao Senhor é um caminho seguro
para o amadurecimento do Cristão em Sua jornada, entendendo que Deus
não tem compromisso com o meu/seu senso de felicidade, e sim, com a Sua
própria vontade. Para isso, precisamos conhecer quem Deus é, precisamos
conhecer as Escrituras e ter uma experiência com a Sua santa vontade.
No livro de Atos, vemos o início da Igreja Cristã, e vemos como o
Evangelho pôde se expandir para todo o mundo a partir daquele movi-
mento. A igreja, hoje, é muito diferente da igreja primitiva, mas os princípios
e valores que fizeram com que aqueles homens vivessem debaixo do cui-
dado de Deus, e debaixo da Sua vontade, são os mesmos valores que regem
as nossas vidas nos dias de hoje.
O evangelho se expandiu em meio a muita perseguição, fazendo com que
aqueles que realmente desejassem servir a Deus, o fizessem com entendi-
mento necessário de que por sua fé poderia sofrer retaliações, ou até mesmo
poderiam perder a sua “vida”. Diferente de hoje, que vemos pessoas que se
simpatizam com a mensagem do evangelho, e se comprometem apenas com
aquilo que lhes convêm.
Enquanto esta geração está apenas preocupada com a experiência do
sentir, do ser bem-sucedido segundo o conceito deste mundo, acreditamos
que existem também remanescentes, preocupados em viver uma vida digna
diante do sacrifício de Cristo por cada um de nós.
E é por este motivo que gostaria de aprofundarmos em nossa jornada
Cristã debaixo do temor do Senhor.
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No amor não há medo; ao contrário o perfeito amor expulsa o medo, porque
o medo supõe castigo. Aquele que tem medo não está aperfeiçoado no amor.
– 1 João 4:18 (NVI)
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O pecado não é e nunca foi problema pra Deus, Ele resolveu isso através
do sacrifício de Jesus. É claro que isso não é um alvará para viver debaixo
do pecado, mas é para entendermos que, no Senhor, encontramos o perdão,
quando nos arrependemos genuinamente e mudamos de atitude.
O inferno também é real, é bíblico e está destinado às pessoas que não
pertencem ao Reino de Deus. Sabemos que a justiça do Senhor virá, isso
é uma realidade. Mas, muitas vezes, a vivência que eu tinha com a igreja
trazia um sentimento de inadequação, pelo fato de parecer que somente
pessoas perfeitas poderiam desfrutar de uma vida plena com Deus. E, na
verdade, somente pessoas vulneráveis, que necessitam do Senhor e têm a
disposição de que o Senhor trabalhe em suas vidas, mudando o que precisa
ser mudado, aperfeiçoando o que precisa ser aperfeiçoado, é que viverão
uma vida plena no Senhor.
No texto de Atos 2, vemos que, em toda a Igreja de Atos, havia temor, havia
um coração ensinável e sensível à vontade de Deus e sensível ao próximo.
Isso não era a garantia de uma vida tranquila, mas era um caminho seguro.
58
1. O TEMOR GERA PURIFICAÇÃO
Ainda em Atos, vemos a história de Ananias e Safira, em que o temor ao
Senhor precisou ser lembrado na comunidade Cristã, conforme vemos no
capítulo 5 de Atos:
A falta de temor, aqui, não era pela oferta de Ananias e Safira, não era a
quantidade colocada aos pés dos apóstolos, mas, sim, pela falta de um com-
promisso genuíno com Deus e com a família da fé. Falta de reverência. A
esposa de Ananias, Safira, teve o mesmo destino que ele, pelo fato de sus-
tentar a mesma posição que o marido. Esse acontecimento despertou temor
na igreja e produziu purificação.
Era necessário que o evangelho vivido fosse genuíno para que gerasse tes-
temunho verdadeiro a respeito da fé em Cristo, porque ser Cristão, naquele
tempo, não era muito popular, neste mesmo capítulo de Atos, vemos que os
apóstolos são perseguidos, algumas páginas para frente, temos a morte de
Estêvão. Mais para frente ainda, vemos o encarceramento de Paulo e outros.
Por isso, viver Cristo de maneira genuína era tão importante na igreja pri-
mitiva e também o é nos dias de hoje.
Para que amadureçamos em nossa jornada é preciso viver uma relação
com Deus verdadeira, é preciso que haja uma purificação em nosso meio.
Talvez, se o que aconteceu com Ananias e Safira acontecesse nos dias de
hoje, as pessoas teriam um compromisso muito mais sério com Deus, um
compromisso muito mais sério com a família da fé. Por isso, viver com Deus
não é para qualquer pessoa, é para aquele que tem a coragem de negar a
si mesmo, e entregar o controle da sua vida completamente ao Senhor. É
necessário repensar sempre como estamos caminhando com Jesus.
Nossa fé honra o Senhor?
Se a resposta for sim, glória a Deus. Mas, se a resposta for não, precisa-
mos ajustar a caminhada.
Uma fé madura é a plena confiança de se lançar nos braços de Deus, sem
a possibilidade de retorno. Precisamos queimar as pontes de volta em nossa
vida, para que não haja como retroceder.
59
2. TEMOR COMO PRINCÍPIO DE AUTORIDADE
No capítulo 19 do livro de Atos, vemos alguns judeus ambulantes que
não tinham um compromisso com a igreja (corpo de Cristo), invocando o
nome de Jesus para expulsar espíritos malignos dizendo: Eu expulso vocês
por Jesus a quem Paulo prega.
E o que acontece ali é que esses homens são confrontados pelos espíri-
tos dizendo que conheciam a Jesus, a Paulo, mas não conheciam aqueles
homens. Então, estes espíritos saltam sobre esses homens e os deixam nus e
feridos, e depois estes homens fogem.
O evangelho não pode ser imitado, é necessária uma vivência genuína.
Essa experiência gerou temor nos Judeus, conforme vemos no
versículo abaixo:
60
3. TEMOR NÃO EXCLUI AS ADVERSIDADES
É interessante pensarmos a respeito das adversidades na vida do cristão,
porque há uma “cultura evangélica” que diz que se o cristão está passando
por problemas, com toda certeza há algo errado em sua vida que precisa ser
alinhado. E na verdade, isso é uma falácia, afinal, a própria palavra de Deus
afirma que neste mundo teremos aflições, mas é para que tenhamos bom
ânimo, porque Cristo venceu o mundo. E quer dizer que em meio aos pro-
blemas, em meio as turbulências da vida, a paz do Senhor não irá nos faltar,
quando vivemos debaixo de Sua disciplina, tementes a Ele.
61
4. PERIGOS DA JORNADA
Quando observamos a vida da Igreja primitiva, o Senhor sempre que
necessário se fez presente através de seus servos para trazer a correção e o
ajuste preciso para que a Igreja do Senhor caminhasse segundo a Sua vontade.
E algo perigoso, que nos faz perder o temor ao Senhor, são as coisas
secundárias da jornada, porque as primárias são os princípios e valores da
Palavra de Deus, as demais, como já disse, são secundárias.
Quando há o excesso na confiança de nossas habilidades, quando esta-
mos admirados de nossos próprios feitos, construções ou programas,
começamos a trabalhar para atender demandas que, muitas vezes, não
foram confiadas a nós pelo Senhor. E ainda temos uma falsa sensação de
acreditarmos que aquilo que nós podemos fazer é muito melhor do que a
vontade de Deus.
Temos um exemplo muito importante na vida do Rei Saul que lhe custou
o seu reinado. No capítulo 13 de 1 Samuel, vemos Saul usurpando o lugar
do profeta Samuel para oferecer um sacrifício ao Senhor, que era necessá-
rio, mas não era o que Deus havia falado a Saul para realizar. Mas como ele
confiava em sua habilidade, acabou fazendo o que Deus não mandou, por
entender ser o melhor. Muitas vezes, pelo excesso de confiança em nós mes-
mos, podemos acabar fazendo aquilo que Deus não mandou.
O homem não precisaria sofrer algumas consequências de suas ações se
ele condicionasse sua vida a viver debaixo da Lei de Deus, tendo um cora-
ção ensinável, disposto a ser moldado.
Aquilo que Deus confiou a nós, temos usado com temor para honra e
glória do nome do Senhor?
Outro perigo a ser considerado, na vivência do temor ao Senhor é a cul-
tura. Todos nós temos uma formação cultural muito forte, com a carga de
informação que recebemos em nossa família, no ambiente em que vivemos,
dos amigos, no trabalho, até mesmo na igreja. Então, somos fruto daquilo
que recebemos, das relações as quais tivemos contato. E, muitas vezes, essa
carga cultural pesa muito mais do que a visão bíblica das coisas.
Transformamos passagens da bíblia fora do seu contexto para transmitir
a mensagem que eu quero transmitir. Esse é o exemplo que temos visto com
a política, ultimamente. Escutamos, fervorosamente, que se você acreditar
na proposta de tal partido, você é de Deus ou do diabo.
Não precisamos transformar a mensagem de Deus, precisamos ser trans-
formados por ela. A bíblia não se trata de mim, Ela trata da vontade de Deus.
62
Pegando um gancho no último ponto citado, há uma falta de temor no
compartilhar da palavra de Deus. Como vivemos em meio a uma geração
que está preocupada com a fé da experiência e com a fé do sentir, não é
muito popular pregar toda a palavra de Deus, e sim, apenas fragmentos que
atendam aos desejos desse público.
Não podemos fazer isso! A Palavra de Deus é o pacote completo, dentro
dos atributos do nosso Senhor, está o Seu amor, a Sua graça, mas também
está a Sua justiça, está a Sua ira. Esses atributos, e tantos outros não podem
ser desprezados ao compartilharmos a Palavra de Deus. Compartilhar com
Temor, é compartilhar o todo, o inteiro, e não fragmentos.
A história diz que Simeão era esse homem, que esperava pela promessa
da vinda do Messias, e o Espírito havia se revelado a ele dizendo que ele não
morreria antes de ver o Cristo enviado pelo Senhor. E ele enxergou a salva-
ção dada por Deus para todos aqueles que Nele creem, e disse ao Senhor
que já podia ser recolhido para junto Dele, por ver tamanho feito.
Nosso Messias irá regressar para nos buscar. Esperamos ansiosamente
a Sua volta? Enquanto esperamos a volta do nosso Senhor, vivemos como
salvos, como pessoas que enxergam a esperança para este mundo e que com-
partilham daquilo que Deus, em sua infinita misericórdia, nos permite ver?
Nós já fomos abençoados com toda a sorte de bênçãos espirituais. O dom
mais precioso de Deus dado a nós foi a salvação no Senhor Jesus, essa é a
boa nova a ser compartilhada, e que Aquele que deu a Sua vida por nós, irá
voltar e nos levar pra junto Dele.
Precisamos, também, ter o cuidado de repartir com homens e mulheres
fiéis aquilo que recebemos do Pai. Encontrar pessoas tementes a Deus, dig-
nas de confiança e que estejam dispostas a fazer o mesmo. Desta maneira,
o cuidado do Senhor para com o Seu povo será visto não só em nossa gera-
ção, mas nas futuras.
63
Mas escolha dentre todo o povo homens capazes, tementes a Deus, dignos de
confiança e inimigos de ganho desonesto. Estabeleça-os como chefes de mil, de
cem, de cinquenta e de dez.
– Êxodo 18:21 (NVI), grifo meu
Dai-me cem homens que nada temam senão o pecado, e que nada desejam
senão a Deus, e eu abalarei o mundo.
John Wesley
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
• Os Atributos de Deus – A. W. Pink, 1990, Editora PES
• O Dna da Liderança Cristã – Rubens Muzio, 2007, Editora Mundo Cristão
• O Cristão e a cultura: orientação bíblica para o crente – Michael S.
Horton, 2006, Editora Cultura Cristã
• O Temor de Deus – Prof. Herman C. Hanko
• http://www.monergismo.com/textos/vida_piedosa/o-temor-
-Deus_herman-hanko.pdf
64
PRODÍGIO, SINAIS
E MARAVILHAS
6
César Pereira
@cesar.fpereira
65
T
enho o imenso privilégio e responsabilidade de compartilhar, aqui, algo
que já foi muito praticado junto ao povo de Deus no Antigo Testamento
como também nos primeiros anos da Igreja no Novo Testamento, mas
que, de alguma forma, tem sido negligenciado em nossos dias – a prática de
“Prodígios, Sinais e Maravilhas”.
O que era isso, porque existiam, para que serviam e o que tudo isto tem
a ver conosco nos dias de hoje é o que queremos compartilhar com você.
Minha intenção é que sejam quebradas barreiras internas e externas para
o entendimento da nossa responsabilidade como cristãos neste assunto
tão importante.
Não tenho dúvidas de que todos nós podemos viver uma realidade dife-
rente da que estamos vivendo hoje.
Oro para que a ministração deste capítulo: “Prodígios, sinais e maravilhas”
não seja apenas um conhecimento a ser compartilhado, mas que seja uma
chamada individual com vista a um movimento coletivo do poder de Deus
através de nós, seus filhos.
Oro para que você seja mais que um conhecedor do poder de Deus!
Oro para que você tenha a consciência de quebrar todo pensamento e
ação que possam desagradar o Senhor no dia a dia de sua vida, para que
você se torne um instrumento da manifestação do Seu poder!
Oro para que a Igreja do tempo dos apóstolos seja espelhada no seu viver
nos nossos dias!
Oro para que muitas pessoas venham ao conhecimento do evangelho de
Cristo através da sua disposição sincera em servir o Mestre com os sinais e
maravilhas que podem e devem te seguir!
Oro para que homens e mulheres se deixem ser usados pelo poder mara-
vilhoso do Pai, o Deus de toda a criação!
Que Deus te abençoe para que você seja um dos dispostos, corajosos,
humildes e santos para aceitar este desafio.
Deus nos abençoe na leitura e na prática deste material.
66
No contexto da Palavra de Deus, prodígios, sinais, maravilhas e os mila-
gres como um todo, são termos relacionados entre si que exprimem qualquer
fenômeno incomum, interpretado como de origem sobrenatural com o obje-
tivo de prover alguma instrução, advertência ou encorajamento à fé.
Os escritores da Bíblia consideravam os sinais e maravilhas como inter-
venções do Senhor com o propósito de revelar e redimir. Eles serviam de
base à fé e à esperança.
No Novo Testamento temos um testemunho que nos revela a fonte, a ori-
gem dos sinais e maravilhas – o testemunho de Nicodemos, quando ele diz:
Nos dias atuais, podemos citar várias igrejas evangélicas que creem que
a época dos prodígios, sinais, maravilhas e milagres já passou. Que foram
encerrados com o ministério dos apóstolos e que esse poder não está mais
disponível a nós, os cristãos da atualidade.
Precisamos nos lembrar que as Escrituras foram escritas para nos revelar
como é a vida cristã e que ela é acompanhada, do começo ao fim, pela ope-
ração do Espírito Santo de Deus. Portanto, o mesmo Deus que operou na
formação do povo judeu, na sua libertação do Egito, do tempo dos profetas,
na vinda de Jesus, no início da era cristã é o mesmo Deus que opera na sua
vida e na minha nos dias de hoje.
Precisamos abrir o nosso entendimento para entendermos a própria
declaração da Palavra de Deus que está no livro do profeta Joel e é lembrada
por Pedro na sua pregação no começo do livro de Atos:
67
Mostrarei maravilhas em cima, no céu, e sinais em baixo, na terra: sangue,
fogo e nuvens de fumaça
– Atos 2:19 (NVI).
68
Depois, durante os quarenta anos de travessia do povo no deserto, antes
da entrada na Terra Prometida, podemos ver vários outros sinais da mani-
festação da presença de Deus como a coluna de fogo durante as noites e a
nuvem durante os dias.
Além disto, vários outros sinais e milagres foram operados durante esta
travessia, como o maná, as codornizes, as águas para matar a sede de todo
o povo dentre outros.
No tempo dos profetas
A Palavra de Deus nos conta de vários milagres operados pelos profetas
Elias e Eliseu.
Alguns destes milagres:
• Elias é sustentado pelos corvos (1 Reis 17:6);
• A farinha e o azeita da viúva (1 Reis 17:16);
• Elias ressuscita o filho da viúva (1 Reis 17:22);
• Elias faz fogo cair do céu (1 Reis 18:38);
• Elias faz fogo descer sobre os perseguidores (2 Reis 1:10);
• Elias é levado num carro de fogo (2 Reis 2:11);
• Eliseu divide as águas do Jordão (2 Reis 2:14);
• Eliseu limpa as águas de Jericó (2 Reis 2:19-22);
• Eliseu aumenta o azeite da viúva (2 Reis 4:1-7);
• Eliseu ressuscita o filho da Sunamita (2 Reis 4:35-37);
• A morte tirada da panela (2 Reis 4:38-41);
• A cura de Naamã (2 Reis 5:1-14);
• O flutuar de um machado (2 Reis 6:1-7).
69
Abaixo uma relação dos milagres de Cristo citados nos Evangelhos:
• Transformação de água em vinho (João 2:7-11);
• A cura do filho do Oficial (João 4:46-54);
• A cura do paralítico de Betesda (João 5:1-9);
• A primeira pesca maravilhosa (Lucas 5:1-11);
• A libertação do endemoninhado (Marcos 1:23-28 – Lucas 4:31-36);
• A cura da sogra de Pedro (Mateus 8:14,15 – Marcos 1:29-31 –
Lucas 4:38,39);
• A purificação do leproso (Mateus 8:2-4 – Marcos 1:40-45 – Lucas 5:12-16);
• A cura do paralítico (Mateus 9:2-8 – Marcos 2:3-12 – Lucas 5:18-26);
• Jesus cura a mão ressequida (Mateus 12:9-13 – Marcos 3:1-5
– Lucas 6:6-10);
• A cura do criado do Centurião (Mateus 8:5-13 – Lucas 7:1-10);
• Ressurreição do filho da viúva de Naim (Lucas 7:11-15);
• Jesus cura um endemoninhado mudo (Mateus 12:22 – Lucas 11:14);
• Jesus acalma a tempestade (Mateus 8:23-27 – Marcos 4:35-41 –
Lucas 8:22-25);
• A cura do endemoninhado Geraseno (Mateus 8:28-33 – Marcos 5:1-14
– Lucas 8:26-39);
• A cura da mulher com fluxo de sangue (Mateus 9:20-22, – Marcos
5:25-34 – Lucas 8:43-48);
• A ressurreição da filha de Jairo (Mateus 9:18,23-26 – Marcos 5:22-
24,35-43 – Lucas 8:41,42,49-56);
• A cura dos dois cegos (Mateus 9:27-31);
• Jesus cura o mudo endemoninhado (Mateus 9:32,33);
• A primeira multiplicação de pães (Mateus 14:14-21 – Marcos 6:34-44 –
Lucas 9:12-17 – João 6:5-13);
• Jesus anda sobre as águas (Mateus 14:24-33 – Marcos 6:45-52
– João 6:16-21);
• A cura da filha da Cananéia (Mateus 15:21-28 – Marcos 7:24-30);
• A cura de um surdo e gago (Marcos 7:31-37);
70
• A segunda multiplicação de pães (Mateus 15:32-39 – Marcos 8:1-9);
• A cura do cego de Betsaida (Marcos 8:22-26);
• A cura do jovem possesso (Mateus 17:14-18 – Marcos 9:14-29 –
Lucas 9:38-42);
• Jesus e a moeda do imposto (Mateus 17:24-27);
• A cura de um cego (João 9:1-7);
• Jesus cura uma mulher enferma (Lucas 13:10-17);
• A cura de um hidrópico (Lucas 14:1-6);
• A ressurreição de Lázaro (João 11:17-44);
• A cura dos dez leprosos (Lucas 17:11-19);
• A cura do cego Bartimeu (Marcos 10:46-52 – Lucas 18:35-42);
• A figueira é amaldiçoada (Mateus 21:18,19 – Marcos 11:12,14);
• A restauração da orelha de Malco (Lucas 22:50,51);
• A segunda grande pesca (João 21:1-8).
A bondade de Deus e o seu amor incondicional se revelam através de Seu
Filho e este por meio de sinais e maravilhas revela este afeto de Deus a nós.
71
• A picada de uma víbora não causa dano em Paulo (Atos 28:3-5);
• O pai de Públio e outros habitantes de Malta são curados por
Paulo (Atos 28:7-9);
De uma forma geral, a Bíblia nos conta que sinais e maravilhas
seguiam os apóstolos:
Já no caso de Paulo, o simples envio dos lenços e aventais que ele usava
eram colocados sobre os enfermos e eles eram curados.
Deus fazia milagres extraordinários por meio de Paulo, de modo que até len-
ços e aventais que Paulo usava eram levados e colocados sobre os enfermos.
Estes eram curados de suas doenças, e os espíritos malignos saíam deles.
– Atos 19:11,12 (NIV).
72
Portanto, eu me glorio em Cristo Jesus, em meu serviço a Deus. Não me
atrevo a falar de nada, exceto daquilo que Cristo realizou por meu intermé-
dio em palavra e em ação, a fim de levar os gentios a obedecerem a Deus, pelo
poder de sinais e maravilhas e por meio do poder do Espírito de Deus. Assim,
desde Ilírico, proclamei plenamente o evangelho de Cristo.
– Romanos 15:17-19 (NIV).
Quando a multidão ouviu Filipe e viu os sinais milagrosos que ele realizava,
deu unânime atenção ao que ele dizia”
–Atos 8:6 (NIV).
4. A PROMESSA DE CRISTO
Se os apóstolos eram homens comuns como nós, a pergunta que fica é:
“Por que Deus fez tantas maravilhas através dos apóstolos e parece não fazer mais
nos nossos dias”?
Existe alguma promessa na Palavra quanto ao poder de Deus ser mani-
festo por pessoas normais como você e eu?
Será que o tempo de prodígios, sinais e maravilhas já passou?
Vamos ver o que a Bíblia nos diz a respeito disto:
73
e assentou-se à direita de Deus Então, os discípulos saíram e pregaram por
toda parte; e o Senhor cooperava com eles, confirmando-lhes a palavra com os
sinais que a acompanhavam
– Marcos 16:17-20 (NIV).
Digo-lhes a verdade: Aquele que crê em mim fará também as obras que tenho
realizado. Fará coisas ainda maiores do que estas, porque eu estou indo para o
Pai. E eu farei o que vocês pedirem em meu nome, para que o Pai seja glorifi-
cado no Filho. O que vocês pedirem em meu nome, eu farei.
– João 14:12-14 (NIV).
O que Jesus está dizendo, aqui, não é que tudo que pedirmos será rea-
lizado. A promessa é que tudo aquilo que for pedido em nome de Jesus,
será realizado. Existem algumas orações que fazemos que não são e nunca
serão em nome de Jesus, porque são orações egoístas, pensando ape-
nas em nós mesmos.
Não tem sentido alguém orar por vingança pessoal, por ambição ou com
propósito indigno diante de Deus. Uma oração, em nome de Jesus, é uma
oração que atende os princípios do Pai, que no final das contas abençoa o
Corpo de Cristo e não o interesse mundano de alguns.
Agora, se o que você está pedindo glorifica o Senhor, vá em frente. Jesus
promete que esta oração será atendida.
74
Como Deus sempre foi, é e continuará sendo o mesmo, a primeira hipó-
tese não tem sentido. Sobra, portanto, a segunda opção – O problema está
em nós, mas que problema?
No meu coração fica claro que existem alguns fatos que impedem o pleno
manifestar do poder de Deus em nós:
• Uma vida comprometida com o pecado;
• Hábitos contrários aos ensinos de Cristo;
• Uma vida longe da presença do Pai;
• Uma fé fragilizada e inoperante;
• Acomodação no nosso viver cristão;
• Facilidade para se sentir vaidoso com o que Deus pode fazer
através de nós;
• Exaltar-se por se achar melhor do que outros quando usado por Deus;
• Uma vida sem perdão.
Com certeza, estes aspectos se tornam barreiras para que os sinais e
maravilhas não estejam nos seguindo. O Deus dos milagres é o mesmo. O
poder do Espírito é o mesmo. A disposição de Jesus atender as orações em
seu nome é a mesma.
O que impede, então, o mover do poder de Deus?
Nós mesmos. Nossa carne, nossa vaidade e nossa ambição sempre se
colocarão contra nós mesmos.
Minha oração é que você possa se conscientizar quanto à importância
de deixar o Espírito Santo de Deus agir através de você. Busque a Deus e
desembarace a sua vida de todo pecado que te rodeia, busque excelência no
seu relacionamento com o Pai e declare com todo o seu coração: “Senhor, eis-
-me aqui. Usa-me. Envia-me. Faça através do seu servo”
Que nossa geração possa resgatar os grandes feitos do Senhor e sinais e
maravilhas possam nos seguir como seguiram tantos servos do Senhor.
Que o Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça resplandecer o seu
rosto sobre ti e te conceda graça; o Senhor volte para ti o seu rosto e te dê a paz.
75
76
POR INTERMÉDIO
DOS APÓSTOLOS
7
Alexandre Bastos
@alexandredebastos
77
O
objetivo deste texto é compreendemos que tudo que os Apóstolos e dis-
cípulos realizaram, ou seja, por intermédio deles, só foi possível pela
ação sobrenatural do Espírito Santo. Nada seria possível se o Espírito
de Deus não tivesse sido derramado maravilhosamente sobre eles, sendo
assim, poderia-se chamar o livro de Atos dos Apóstolos de Atos do Espírito
Santo. Também se propõe uma exposição dos meios e métodos que Deus
usou para o crescimento e expansão da igreja após o Pentecostes, além disto,
reconhecer o que Deus fez no período apostólico, fez ao longo da história da
igreja e continua a fazer até hoje.
Não propomos um manual sobre crescimento de igreja, pois está quase
sempre fadado ao fracasso, mas sim uma inspiração no modelo de Deus em
Atos, como Ele agiu e ainda age através do Espírito Santo, e por fim, uma
reflexão se a igreja nos dias atuais, copia o modelo Dele ou não, o que preci-
sa-se fazer ou deixar de fazer.
Começaremos numa contextualização sobre o livro e o momento histó-
rico à época do seu escrito.
2. O CONTEXTO HISTÓRICO
Atos dos Apóstolos é um livro histórico, que narra um momento impor-
tantíssimo do período chamado Apostólico, e Lucas, o médico amado, seu
autor, ao escrever as narrativas àquela época, registra o início da igreja em
Jerusalém, de doze apóstolos assustados, após a morte de Jesus, passando
por Pentecostes até a chegada do evangelho à Roma, o coração do Império
78
Romano, através do Paulo. Talvez não haja outro período da história em que
a Igreja tenha crescido tanto e tão rapidamente como nestes cerca de trinta e
três anos registrados neste livro.
Lucas inicia os seus escritos, endereçado a Teófilo, da ascensão de Jesus,
passando por uma fundamental orientação do Mestre aos seus discípulos
em Atos 1:4 (nvi): “Certa ocasião, enquanto comia com eles, deu-lhes esta ordem:
“Não saiam de Jerusalém, mas esperem pela promessa de meu Pai, da qual
falei a vocês.”
Esta promessa era o envio do Espírito Santo em Atos 1:8 (nvi): “Mas rece-
berão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas
em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria, e até os confins da terra”.
A promessa seria cumprida no dia da festa de pentecostes, estrategica-
mente planejada por Deus. O Derramamento do Espírito Santo, naquela
ocasião, muda toda a história da igreja de Jesus, momento em que se inicia
um extraordinário crescimento do evangelho.
Fundamentado nos relatos de Lucas, percebemos que Atos é, de fato, um
livro histórico, um momento específico, com um contexto próprio das nar-
rativas sobre aquele período. Pentecostes acabara de acontecer, os apóstolos
estavam todos em ação, proporcionando uma expansão sem precedentes.
O período apostólico e pentecostes, nunca se repetirão, pelo menos não
naqueles termos do primeiro século, fazendo que este período seja histórico
e exclusivo. Não obstante, o livro possui uma narrativa teológica dos fatos,
demonstrando o objetivo do autor em apresentar que Jesus, ressurreto,
comandou o avanço da sua igreja em sua missão, através do Espírito Santo.
O livro termina com Paulo preso em Roma, deixando em aberto para que
todos os cristãos continuem a escrever a história da igreja através de suas
vidas, mesmo que este período exclusivo não se repete, pelas condições dis-
poníveis e fatos à época, os princípios do crescimento, expansão e avanço da
igreja em Atos se aplicam aos cristãos hoje e sempre.
3. PENTECOSTE
79
Este acontecimento mudou para sempre a história da humanidade, pois
foi a partir dele que o plano de Deus tem continuidade no avanço do evan-
gelho, na pregação da palavra de Deus e em missões. O dia que o Espírito
Santo foi derramado, não foi algo em si mesmo, aleatório, mas como cum-
primento das escrituras.
As referências bíblicas das profecias do Antigo Testamento, no livro do
profeta Ezequiel, por exemplo, em: Ez 11:19; Ez 18:31a; Ez 36:26-27. Também
anunciado pelo profeta Joel, no seu livro em 2:28-29 (nvi), talvez o texto
mais conhecido sobre a promessa da vinda do Espírito Santo: 28“E, depois
disso, derramarei do meu Espírito sobre todos os povos. Os seus filhos e as
suas filhas profetizarão, os velhos terão sonhos, os jovens terão visões. 29
Até sobre os servos e as servas derramarei do meu Espírito naqueles dias. O
profeta Isaías também em referência ao reino messiânico, que seria instalado
com a vinda do Espirito Santo, profetizou: Is 4:2-4; Is 11:2; Is 32:15; Is 44:3.
No Novo Testamento, quando João Batista pregava sobre o reino de
Deus, afirmava que ele mesmo batizava com água, mas que o Messias que
estava por vir, batizaria com o Espírito Santo, reafirmando o que outros pro-
fetas haviam dito, que o reino messiânico seria marcado pelo derramamento
do Espírito Santo prometido nas escrituras, no evangelho de João capítulo
1:19-34 (nvi), diz: … 32 E João testemunhou, dizendo: Vi o Espírito descer do
céu como pomba e pousar sobre ele. 33 Eu não o conhecia; aquele, porém,
que me enviou a batizar com água me disse: Aquele sobre quem vires des-
cer e pousar o Espírito, esse é o que batiza com o Espírito Santo. 34 Pois eu,
de fato, vi e tenho testificado que ele é o Filho de Deus.
E, por fim, o próprio Senhor Jesus durante seu ministério confirmou os
profetas e João Batista, baseado em Lucas 24:49; João 14:16-17 e 26; João 16:7-
14; e Atos 5:1-8, podemos resumir assim:
“Eu não os deixarei sozinhos, mas mandarei a vocês o Consolador. Ele vai gui-
á-los, vai falar de mim e orientá-los em toda a verdade. Vocês devem ir ao mundo
inteiro e pregar o evangelho e toda criatura, mas não saiam de Jerusalém até que
essa promessa seja cumprida, até que o Espírito Santo prometido venha sobre vocês,
então assim capacitados, poderão sair para cumprir a tarefa de pregar o evangelho
ao mundo inteiro.”
A ação de capacitação dos seguidores de Jesus para cumprir a grande
comissão só foi possível através de derramamento do Espírito Santo, em
Pentecostes, nada seria possível sem isto. Este evento foi o divisor de águas
que possibilitou o crescimento, expansão e avanço da igreja nascente, atra-
vés dos apóstolos e os demais discípulos de Jesus.
80
Percebe-se que Lucas relata fatos ao longo da sua narrativa que resultaram
com momentos de impressionante crescimento, como se tais realizações por
intermédio dos Apóstolos e discípulos fossem a causa de tamanha expan-
são. O autor começa seu texto registrando números, mas em determinado
momento muda para outras formas de expressar, devida a veloz multipli-
cação, como: muitos, multidão, número cada vez maior, grande número,
muitíssimo, continuava a crescer e espalhar-se.
4. O MÉTODO DE DEUS
Já no início do livro fica claro que a ação do Espírito Santo seria o ponto
principal de toda narrativa, pois Deus quis manifestar a sua glória e poder
por intermédio dos Apóstolos e discípulos, entretanto tudo só foi possível a
partir do Espírito de Deus. Como já dito acima, apesar que o nome do livro
é Atos dos Apóstolos, poderíamos chamá-lo também de Atos do Espírito
Santo, pela ação e manifestação gloriosa do poder de Deus.
Contudo, Deus se manifestou através de Seus discípulos a quem Ele
usou para a realização de atos visíveis da sua vontade e propósito, a fim
de levar o Evangelho aos confins da terra. Deus inicia esta preparação pla-
nejada em Jesus ao preparar os Apóstolos e Discípulos para a obra após o
seu martírio, e para confirmar isto, no livro Plano Mestre de Evangelismo, o
autor Robert Coleman traça os passos deste discipulado. Jesus possui uma
intencionalidade extraordinária, não podia e não perdeu tempo algum, pois
sabia que o tempo do Seu ministério aqui na terra teria fim. Portanto, estabe-
lece um altíssima prioridade no relacionamento através de um treinamento
metodológico, fundamentado em Seus princípios, e tais passos sequenciais
foram: A escolha de seus discípulos em oração através do Recrutamento; um
relacionamento próximo por meio da Associação; o ensino das característi-
cas do discípulo por meio da Consagração; não limita o ensino e comunica
tudo pela Transmissão; se deixando ver e ser visto em ação por meio da
Demonstração; empedrando seus amigos discípulos através da Delegação;
os enviando com acompanhamento pela Supervisão e por fim os liberando
para a Reprodução.
Este modelo, apesar de metodológico, possui e implica em princípios
inegáveis de um discipulado eficaz, muito mais do que apenas programas
institucionais, dos quais correm o risco de serem apenas a padronização e
uniformização copiada e repetitiva, a fim de alcançarem resultados numé-
ricos. Aqui, vale enfatizar que os números não significam tudo, mas com
certeza dizem alguma coisa. Quantidade não pode ser o objetivo, mas é o
81
resultado, os frutos do trabalho, e o trabalho no Senhor não é em vão; ou seja,
crescimento numérico, expansão e multiplicação é a consequência deste dis-
cipulado eficaz. Onde há qualidade, haverá com certeza, crescimento.
Este é exatamente o caso da igreja do primeiro século, da Igreja Primitiva,
que experimentou um enorme crescimento, não como resultado de um
método por si só, mas por um conjunto de fatores, alicerçado na forma que
os primeiros cristãos viviam, fundamentado em princípios bíblicos são ver-
dadeiras em todas as culturas e épocas, tudo isto com a imprescindível ação
do Espírito Santo, pois desta forma por intermédio dos crentes discípulos a
igreja cumpre o seu chamado, que é cumprir a Grande Comissão dito por
Jesus em Mateus 28:18-20: levar o evangelho a todos e em todos os lugares;
fazer discípulos e os batizar; ensiná-los a guardar a Palavra de Deus.
Com isto, percebe-se que Deus aplica um princípio muito claro de disci-
pulado em Jesus, para em seguida capacitá-los com o Espírito Santo, como
etapas distintas, de um mesmo plano.
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6. CAUSAS DO CRESCIMENTO
Cristo é o Centro da Mensagem
Lucas inicia, já no capítulo 2 de Atos, com registro do primeiro grande
evangelismo após o Pentecoste. O fator diferencial aqui, que precede esta
grande primeira colheita, é a pregação do Apóstolo Pedro. Percebe-se pelo
texto em Atos que o crescimento e os relatos destes vários momentos se con-
funde com o crescimento em números com o crescimento da Palavra. Neste
discurso de Pedro, ele faz uma pregação que Cristo é a mensagem central,
que aborda Jesus como o Cristo de Deus, um sermão totalmente funda-
mentado nas Escrituras, numa clara exposição bíblica, que resultou numa
expansão de um pequeno grupo de 120 discípulos para cerca de 3.000 con-
vertidos e batizados. Nunca é muito lembrar que, neste momento, apenas
se contou os homens, ou seja, o número de convertidos era bem superior.
Um alerta para a igreja em tempos de cultura fluida, do relativismo e
abandono do que é absoluto, há uma grande tentação em incluir na prega-
ção elementos estranhos a Palavra de Deus numa tentativa de transformar
em uma palavra mais eficaz de convencimento humano, a fim de levar as
pessoas a Cristo. Entretanto, isto é um grande engano, pois apenas a ver-
dadeira Palavra tem poder para isto. Nada se compara a uma exposição
bíblica, tendo como origem apenas as Escrituras Sagradas e Jesus sempre
sendo a mensagem principal, inspirada pelo Espírito Santo.
Na pregação de Pedro, inspirado pelo Espírito Santo, ele traz um ser-
mão absolutamente bíblico, note a forma, a sequência, a progressão, que o
tornou eficaz:
• As Profecias do Antigo Testamento
• O Poder de Jesus
• Jesus como o Cristo
• A Ressurreição
• Ida de Jesus ao Pai
• O envio do Espírito Santo
• Arrependimento, batismo e perdão
• Receber o Espírito Santo
Como consequência disto, Lucas relata o crescimento da igreja.
83
Então, os que lhe aceitaram a palavra foram batizados, havendo um acrés-
cimo naquele dia de quase três mil pessoas.
– Atos 2:41 (ARA)
... louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso,
acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos.
– Atos 2:47 (ARA)
84
de pregarem no templo, não se negaram a cumprir o seu chamado ousada-
mente, e consequentemente sendo presos pela guarda do templo, a mando
dos sacerdotes e saduceus.
Os fatos que precederam o grande crescimento:
• Vida de oração
• Realização de milagres
• Exposição Cristocêntrica das Escrituras
• Convite ao arrependimento e conversão
Esta era a prática mais comum entre eles, uma vida de oração, poder, pre-
gação exclusiva das Escrituras, que resultava num poderoso evangelismo
eficaz, que levavam as pessoas à conversão.
Novamente Lucas registra números do expressivo crescimento, pois, por
mais que não seja possível afirmar se foram mais 5.000 conversões adicio-
nadas ou uma elevação daquelas três mil conversões, com certeza pode-se
afirmar que é um número extraordinário, sendo, na pior das hipóteses, cerca
de 10.000 conversões a partir de 120 pessoas.
Lucas narra que uma vida de oração, a pregação da Palavra mesmo
em situações de risco e a realização de milagres através do Espírito Santo,
resulta em conversões e consequentemente em crescimento.
85
suprime o temor a Deus, e cada vez mais a cultura cristã recente tem aceitado
desvios de santidade, seja graves ou não, em nome do politicamente correto,
com medo de ver suas fileiras diminuírem ou de sua ‘membresia’ não crescer.
Como consequência de como o pecado foi lidado pelos Apóstolos gerou
grande temor na comunidade, levando-os a viver santificando-se, e quanto
mais temor e santidade, muitos mais milagres e prodígios eram realizados
no poder do Espírito Santo e mais pessoas tinham grande admiração pela
igreja. Com isto pode-se afirmar que igrejas que lidam com o pecado seria-
mente, geram temor e crescem.
Este tripé gerou um mover de temor e crescimento na igreja:
• Santidade
• Temor
• Intolerância ao pecado
Agora, não era mais uma multidão apenas, mas diz que crescia mais e
mais esta multidão, e Lucas, pela primeira vez, registra homens e mulheres,
e levavam doentes e atormentados por espíritos imundos, que eram cura-
dos. Havia tanto temor e santidade, que os levavam para até a sombra de
Pedro os curar. A genuína manifestação de Deus através do Espírito Santo
se dá entre aqueles que vivem em santidade, e como consequência disto o
resultado é mais crescimento da igreja.
Igreja Organizada
Neste momento Lucas já não relatava mais o crescimento da igreja pela
adição, mas sim por multiplicação, e um fator novo, não poucos, mas muitís-
simos sacerdotes se converteram, aqueles que perseguiam passam a seguir.
O contexto desta multiplicação se dá a partir de uma medida simples,
mas muito eficiente, que foi a instituição dos primeiros diáconos. A igreja
crescia muito rapidamente e com isto também crescia os desafios em aten-
der a todos, causando murmuração entre um grupo específico, as viúvas
helenistas, por se sentirem preteridas no dia a dia da comunidade.
Estes fatores cooperam para um crescimento sustentável:
• Organização administrativa
• Estruturas fauncionais
86
• Descentralização
• Ministério orientado pelos dons
• Formação de liderança
A igreja que cresce e se multiplica precisa se atentar para a necessidade
de organização de suas estruturas de funcionamento, portanto estas medi-
das estruturantes precisam ser planejadas e colocadas em prática, a fim de
que cumpra seu papel como tal. Não é apenas ação social, mas todas as
partes do corpo têm que atuar em harmonia com o todo, seja orar, jejuar,
pregar e administrar, pois este ultimo é tão espiritual quanto. Aqueles que
negligenciam a organização terão muitas dificuldades em cuidar e pastorear
adequadamente o rebanho, podendo causar graves problemas de sustenta-
bilidade à continuação do crescimento.
Estas medidas que parecem ser apenas administrativas antecederam e
causaram o crescimento da palavra de Deus, da multiplicação e da conver-
são de muitos sacerdotes, de acordo com o texto em Atos.
Espiritualidade vs Religiosidade
Neste ponto, Lucas narra que o aumento de número de crentes não se
limitava mais a uma igreja apenas, mas agora às igrejas espalhadas pelo
Império Romano. O evangelho se espalhou de Jerusalém através de pou-
cos, mas chegou longe e alcançou multidões. O contexto que precedeu esta
expansão foi uma discussão dentro do grupo apostólico se os novos conver-
tidos deveriam ou não obedecer práticas judaicas, mas entenderam que não
se poderia impor práticas de um povo.
A igreja precisa discernir o que é inegociável do que não o é, como foi
feito, conforme registro em Atos 15, separar o que é pecado e o que são
costumes, a fim de não impor as culturas locais, os estilos pessoais e as tra-
dições de cada igreja local em pé de igualdade com as Escrituras.
À época o desafio de levar a fé, fortalecendo aos crentes das igrejas se
dava por diferenças linguísticas, de nacionalidades; eram povos distintos
com culturas e práticas próprias. Num contexto mais local, atualmente, o
desafio se dá por diferenças culturais e geracionais, apesar de ser um mesmo
povo, uma mesma nação, um mesmo idioma, se faz necessário discernir as
tantas diferentes sub-culturas entre o mesmo povo.
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Precisa-se priorizar os valores e princípios bíblicos ao vez de costumes
locais; modelos bíblicos ao invés de estilos e preferências pessoais; funda-
mentos como: as escrituras, a fé, a graça, Cristo e a glória a Deus ao invés de
dogmas religiosos
Estas são características espirituais mais marcantes da Igreja do
primeiro século:
• A mensagem centrada e Cristo que alcança,
• O modo de vida que impacta,
• A vida de oração que transforma,
• A coragem que inspira, o crescimento que gera multiplicação,
• A inegociável santidade que produz temor ao Senhor,
• A organização que acolhe e atende sem acepção, e
• A verdadeira espiritualidade que suplanta a pseudo religiosidade.
Estas ações do Espírito Santo por intermédio dos Apóstolos levaram ao
crescimento e a expansão geográfica da Igreja.
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A igreja crescia e continua a crescer com a ação do poder do Espírito
Santo, e a expansão e a multiplicação se dá através da manifestação de Deus
através do Seu Espírito, por intermédio dos Apóstolos e discípulos.
Em Atos, Lucas diz em determinados momentos que a igreja crescia, em
outros que a Palavra do Senhor crescia, ou seja, quanto mais a igreja crescia,
mais a palavra de Deus crescia, quanto mais a palavra de Deus crescia, mais
a igreja crescia.
CONCLUINDO
Em Atos dos Apóstolos o personagem principal é o Espírito Santo de
Deus, e pode-se aprender lições valiosíssimas através de ações intencionais
de Deus, fundamentadas em princípios e valores que não mudam, mesmo
em eras e povos diferentes. A maior lição de todas é que toda a ação se dá a
partir do Espírito Santo, através dos Apóstolos e discípulos.
Com certeza Lucas não registrou todos os atos que os Apóstolos e dis-
cípulos realizaram durante este período de cerca de três décadas, mas,
certamente os que ele registrou são suficientes para ensinar e inspirar aos
crentes a continuarem a história da Igreja ao longo destes dois milênios, nos
dias atuais e nos que ainda virão.
As narrativas de crescimento e expansão da Igreja foram precedidos por
grandes feitos dos Apóstolos, ou seja, as ações do Espírito Santo era a causa,
e o crescimento o resultado.
Desta forma, a promessa de Jesus em Atos 1:8 se cumpre em todos os
crentes, não só àquela época, mas em todas eras, a fim de cada um, cum-
prir o seu chamado: Mas receberão poder quando o Espírito Santo descer
sobre vocês, e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e
Samaria, e até os confins da terra”.
A história de Atos continua na sua vida!
89
90
8CRER
Paulo Borges Jr
@paulo.borges.junior
91
N
a compreensão do texto bíblico, é essencial que nossa atenção esteja no
seu caráter e na sua essência pedagógica. Aquilo que o texto quer nos
revelar e que nos leve a discernir em termos de identidade e natureza.
Pois, por mais que possamos extrair referências de práticas e métodos, o
propósito sempre é nos ensinar o que pode, efetivamente, traduzir o propó-
sito eterno de Deus para a Sua Família, a Igreja. Suas atividades, sua agenda,
suas práticas, sua rotina, tudo tem que ser visto como forma de revelar e
comunicar as Virtudes do Pai aos Seus Filhos e as materializar através deles.
Portanto, mais do que nos ensinar métodos e estabelecer estruturas e formas
de atividades, o propósito do texto bíblico é revelar processos virtuosos de
nossa transformação à Semelhança Dele.
A narrativa bíblica oferece os fundamentos para formação de uma cons-
ciência da pessoa no pleno cumprimento do seu propósito como verdadeiro
filho e filha de Deus. Sua prioridade é estabelecer as referências para o
desenvolvimento da pessoa madura, plena das suas convicções de voca-
ção e livre para cumprir o propósito de Deus para a sua vida. Estabelecer
os absolutos de Deus para a vida do ser humano, de tal modo que ele se
torne a imagem visível dos Seus invisíveis. Sendo assim, a narrativa bíblica
não é o meio de definir e garantir as competências no exercício de alguma
atividade, ainda que possa, eventualmente, atender essa necessidade ou
cumprir essa função.
A fé – a vitória que vence o mundo!
A convicção de absoluto a partir da revelação do Eterno, que nos capacita
a enfrentar os desafios desta vida; e não as crenças e ritos que desenvol-
vemos a partir do modo como somos, consciente ou inconscientemente,
afetados pelo mundo. É o meio de comunicação e comunhão entre os invi-
síveis de Deus e os visíveis humanos. Sem a Fé, é impossível viver uma
relação com Deus que cumpra o verdadeiro propósito de Ser o Humano que
o Pai nos criou para ser.
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compromisso de vontade. Nesse sentido, a Fé é fundamentada naquele que
a inspira, e não na pessoa que acredita. Uma convicção gerada a partir da
relação de conhecimento daquele que crê com aquele que é a razão da sua fé.
O acreditar, como comumente traduzimos a fé, vem de uma referência no
latim que aponta para o crédito que se dá, um “a-creditar”, a credibilidade
que o crente empresta a favor daquele que é objeto da sua crença. Acreditar
não implica, necessariamente, em algum tipo de relação, pois pode se esta-
belecer a partir de uma observação atenta e das conclusões que o ser crente
desenvolve a partir dessas observações. Portanto, o acreditar, a crença, se
estabelece a partir do que faz sentido, do que satisfaz ou do que interessa.
Uma vez observado e entendido, o crente “dá crédito a”.
Nesse sentido poderíamos dizer que, em nossa relação com o Pai, Ele
acreditou e nós cremos no que Ele acreditou. O Pai, movido e inspirado
exclusivamente pelo Seu Amor, acreditou Sua herança aos filhos que Ele
decidiu gerar. Esse movimento de crédito do Pai a nosso favor inspira a
nossa Fé; nisso nós cremos. Nossa Fé é fundamentada e inspirada no que
o Pai a-creditou a nosso favor. Como o crédito que Ele nos concedeu foi
movido exclusivamente pelo Amor do Pai e revelado pela Graça do Filho,
sem que houvesse em nós qualquer tipo de mérito para tanto, Ele tam-
bém decidiu estabelecer conosco uma relação de identidade e intimidade
na Comunhão do Espírito Santo, gerando, então, ambiente relacional para
a Fé – O Crer.
Portanto, não há Fé que seja genuína sem a relação íntima e favorável. A
Fé é o que cremos em favor da relação e da formação do outro, e não o que
acreditamos em favor de nós mesmos. A Fé é que a alimenta nossa disposi-
ção inabalável e incansável de entregar as virtudes que recebemos em favor
da construção do outro.
A mutualidade é característica essencial da Fé.
Porque muito desejo ver vocês, a fim de repartir com vocês algum dom espi-
ritual, para que sejam fortalecidos, isto é, para que, em comunhão com vocês,
reciprocamente nos confortemos por intermédio da fé mútua, sua e minha.
– Romanos 1
93
Desse modo nunca poderemos usar isso num sentido inverso em nossa
relação com o Pai. Não podemos pensar que nós a-creditamos em Deus para
que Ele creia em nós. A expectativa de que podemos merecer sua fé em nós.
Deus não crê em nós, porque nos conhece e sabe que nosso coração é enga-
noso. Nós, entretanto, cremos Nele porque O conhecemos, e sabemos que
Ele é Fiel. Mesmo quando falhamos em nossa fé, Ele continua a-creditando
a nós a Sua Graça, porque é Fiel ao que Ele, por Seu Amor, assumiu Consigo
mesmo como propósito de nos entregar.
Como Jesus não Se confiava a nós, porque conhecia nosso coração.
Contudo, confiou todas as coisas a nós porque também conhece a eficácia
da Vontade e Fidelidade do Pai a nosso respeito. Mesmo ciente da nossa
falta de credibilidade, creu na Palavra que recebeu do Pai a respeito dos
Seus irmãos, e entregou a Sua própria em nosso favor sem hesitar. Ele crê na
eficácia do que o Pai nos concedeu por Seu Amor, através Dele como Filho
Unigênito, e de que através da Comunhão no Espírito Santo, seremos trans-
formados na Pessoa que fomos criados para ser, para que Ele se tornasse o
Primogênito de muitos irmãos.
Mas o próprio Jesus não Se confiava a eles, porque os conhecia a todos. E não
precisava de que alguém lhe desse testemunho a respeito do homem, porque
Ele mesmo sabia o que era a natureza humana.
– João 2
Por esta razão, tudo suporto por causa dos eleitos, para que também eles
obtenham a salvação que está em Cristo Jesus, com Eterna Glória. Fiel é esta
palavra: Se já morremos com Ele, também viveremos com Ele; se perseve-
ramos, também com Ele reinaremos; se O negamos, Ele, por sua vez, nos
negará; se somos infiéis, Ele permanece Fiel, pois de maneira nenhuma pode
ser infiel a Si mesmo.
– II Timóteo 2
Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons des-
penseiros da multiforme graça de Deus.
– II Pedro 4
94
Assim, pois, importa que os homens nos considerem como ministros de Cristo
e despenseiros dos mistérios de Deus. Ora, além disso, o que se requer dos
despenseiros é que cada um deles seja encontrado fiel.
– I Coríntios 4
95
3. FÉ E ESPERANÇA – DECISÃO E DISPOSIÇÃO
Visto como, pelo Seu Divino Poder, nos têm sido doadas todas as coisas que
conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo Daquele que nos
chamou para a Sua própria Glória e Virtude, pelas quais nos têm sido doa-
das as suas preciosas e mui grandes promessas, para que por elas vos tornem
coparticipantes da Natureza Divina, livrando-vos da corrupção das paixões
que há no mundo, por isso mesmo, reunindo toda a vossa diligência, associai
com a vossa fé a virtude; com a virtude, o conhecimento; com o conhecimento,
o domínio próprio; com o domínio próprio, a perseverança; com a perseve-
rança, a piedade; com a piedade, a fraternidade; com a fraternidade, o amor.
– II Pedro 1
Por isso, também eu, tendo ouvido a fé que há entre vocês no Senhor Jesus e
o amor para com todos os santos, não cesso de dar graças por vocês, fazendo
menção de vocês nas minhas orações, para que o Deus de nosso Senhor Jesus
Cristo, o Pai da glória, lhes conceda Espírito de Sabedoria e de Revelação no
Pleno Conhecimento Dele, iluminados os olhos do entendimento de vocês,
para que saibam qual é a Esperança da sua Vocação, qual a riqueza da Glória
da sua herança nos santos e qual a suprema grandeza do seu poder para com
os que cremos, segundo a eficácia da força do seu poder.
– Efésios 1
96
Sendo assim, a Fé não nos coloca na posição de uma devoção inerte, em
que somos paralisados num estado de contemplação do poder, nos dedi-
cando à veneração da divindade, na expectativa de mais poder. A Fé não
edifica altares onde colocamos nossos holocaustos de sedução da divindade
a nosso próprio favor.
A adoração que resulta de Fé está na forma como nos movemos em res-
posta à Vontade do Pai a nós revelada. Um processo em que edificamos
altares que testemunham nossa trajetória rumo ao nosso destino. Esses alta-
res são como sinais para as próximas gerações para que elas possam saber o
Caminho, como marcos da trajetória a ser percorrida. Sua principal função
é dar direção e não prover solução.
Coloca marcos, ponha sinais que te guiem nas estradas, presta atenção na
vereda, no caminho por onde você passou....
– Jeremias 31
97
era hiperativa em torno de suas carências. E, Deus nos quer em movimento
rumo ao nosso Propósito. Jesus ilumina os olhos daquela mulher e faz com
que ela deixe de se ocupar daquelas atividades cúlticas que a tiravam da
cidade, e se entregue ao movimento que a coloca em direção à cidade.
Tanto o apóstolo Paulo quanto o apóstolo Pedro fazem referência à Fé
como geradora de um movimento rumo ao destino, o cumprimento do
Propósito. Há um deslocamento implícito na Fé, uma Dis-Posição. Todo
aquele que vive da Fé se desloca, se Dis-Põe.
Depois disto, ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem há de
ir por nós? Disse eu: eis-me aqui, envia-me a mim.
– Isaias 6
Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Paz seja convosco! Assim como o Pai
me enviou, eu também envio vocês. E, havendo dito isto, soprou sobre eles
e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo. Se de alguns perdoarem os pecados,
lhes serão perdoados; se os retiverem, serão retidos”. João 20
A promessa que Deus fez a Abraão e que fez dele o pai da nossa Fé, era
de uma Palavra de Movimento e não de devoção: “Sai e Vai”, “Te darei um
descendente”. Um movimento com autoridade e responsabilidade de gerar.
Um movimento descendente em favor do outro. Um tal conhecimento da
natureza e vontade do Pai Criador que nos leva a replicar o Seu movimento.
98
4. A FÉ – MOVIMENTO DE TRANSFORMAÇÃO ATÉ À SEMELHANÇA DO PAI
Sem Fé é impossível agradar a Deus, pois quem Dele se aproxima precisa crer
Quem Ele é, e que abençoa aqueles que O buscam.
– Hebreus 11
Oro para que, com as Suas gloriosas riquezas, ele os fortaleça no íntimo do
seu ser com poder, por meio do seu Espírito, para que Cristo habite no cora-
ção de vocês mediante a fé; e oro para que, estando arraigados e alicerçados
em amor, vocês possam, juntamente com todos os santos, compreender a
largura, o comprimento, a altura e a profundidade, e conhecer o amor de
Cristo que excede todo conhecimento, para que vocês sejam cheios de toda a
Plenitude de Deus.
– Efésios 3
99
Essa Unidade da Fé e do Conhecimento do Filho de Deus não é um con-
junto de crenças em que concordamos, mas uma unidade de natureza a
respeito de quem somos como Corpo Vivo de Cristo, em plena comunhão
e expressão de Quem Ele é e quem nós somos como filhos do Único Deus é
Pai, na Comunhão do Seu Espírito, que habita em nós. O Espírito que tes-
tifica em nós que somos filhos, criados para ser a Imagem de Quem Ele é.
Portanto, a Igreja, pela Fé, não é um movimento de devoção ao poder de
Deus, mas de Expressão da Natureza do Pai.
De tal maneira que, pela Fé de quem somos Nele e Quem Ele é em
nós, vamos sendo transformados na expressão mais próxima Dele, como
Pai de toda família na Terra identificada pelo Seu Nome, conforme pro-
meteu a Abraão.
Por essa razão, ajoelho-me diante do Pai, do qual recebe o nome toda a famí-
lia nos céus e na terra.
– Efésios 3
100
TINHAM TUDO
EM COMUM
9
Terso Jr
@tersoj
101
D
isciplina, na sua etiologia, vem do latim disciplina que significa a edu-
cação que um discípulo recebia do seu mestre”. Não tem a ver somente
com a matéria ou conteúdo, mas, sim, com esse receber, essa intimi-
dade do discípulo com o mestre. Disciplina é a matéria a ser ensinada e o
discípulo é o componente a ser moldado. Os discípulos são disciplinados
Quando tratamos de disciplinas espirituais, tratamos do que os discípu-
los recebem do Espírito Santo. Como os discípulos se deixam moldar pelo
Espírito e são santificados pelo Espírito de Deus que é Santo. O aprendizado
é visto nas motivações e ações e não apenas retido mentalmente. O Espírito
Santo trabalha para materializar, nos discípulos, a Palavra de Deus.
Nossa proposta, nessa aula, é aprofundar essa afirmação “e tinham tudo
em comum”, uma das características no modo de vida dos cristãos, em
Jerusalém, no início da igreja. Pretendemos mostrar como essa sempre foi
e sempre será a vontade de Deus para aqueles que foram criados a sua ima-
gem, conforme a sua semelhança. A vontade de Deus é que vivamos em
comunhão que inclui entender que tudo que temos vem de Deus e deve ser-
vir à comunidade. Esse entendimento é gerado quando nascemos da água
e do Espírito, “Não por força ou violência, mas pelo meu Espírito” profetizou
Zacarias sobre o renovo que Deus enviaria para purificando e sanando os
seus escolhidos. Zacarias 3 e 4.
Nos evangelhos, vemos que Jesus Cristo tinha esse entendimento com
relação aqueles que o Pai lhe dera. Na oração sacerdotal, Ele pede que aque-
les que creram e aqueles que viessem a crer fossem um com Ele, assim como
Jesus era com o Pai. Que seus discípulos fosse um nEle com o fim que o
mundo cresse que Deus o havia enviado. Essa consciência de unidade é a
condição para que o mundo creia. A maneira de vida, como Seus discípulos,
seria identificada pelo amor que teriam uns pelos outros.
O livro de Atos dos apóstolos é a continuação do terceiro evangelho que
mostra os primeiros anos e movimentos da igreja, começando em Jerusalém
com o derramar do Espírito Santo, conforme prometido, até a chegada em
Roma. Os dois apóstolos que mais aparecem nesse livro são Pedro, nos capí-
tulos de 1 a 12 e Paulo, nos capítulos 13 ao final do livro, no capítulo 28.
Lucas, autor do terceiro evangelho e o livro de Atos, médico de profissão,
faz uma anamnese ao contrário, não procurando uma enfermidade, mas
relatando detalhadamente como o Espírito Santo, após o sacrifício de Jesus,
veio levantar uma comunidade sadia em uma cidade doente. Lucas faz uma
conexão do final do evangelho que havia escrito, onde Jesus é elevado aos
céus, com o que aconteceu alguns dias depois, quando os discípulos foram
batizados com Espírito Santo conforme as profecias do Antigo Testamento,
João Batista e Jesus haviam predito.
102
O Espírito Santo veio para guiar os que creem, o próprio Deus pastore-
ando o seu povo, iluminando o entendimento da comunidade conforme a
sua vontade eterna.
A consequência desse mover é que surge, em Jerusalém, de maneira
espontânea, algo totalmente novo, uma utopia é materializada nesse povo
que, crendo em Jesus, recebe o seu Espírito e persevera na doutrina dos
apóstolos, na comunhão, no partir do pão e nas orações. Vemos a trans-
formação do luto, em festa, crescimento exponencial em poucos dias, com
Jesus, que era o centro das atenções, sendo pregado com pujança, ousadia,
amor, ternura, acolhimento e consistência. Foi algo inimaginável, fora de
tudo que foi profetizado e comunicado pelo próprio Jesus.
Esse mover de ter tudo em comum (sem liderança personalista, sem coa-
ção, sem ameaças, mas simplesmente um fluir genuíno do Espírito Santo na
vida dos conversos, trazendo uma consciência e prática de corpo, de famí-
lia amorosa da fé, de pureza e singeleza de coração), abalou as estruturas
de toda uma religiosidade degradada ao longo dos anos, raivosa, arro-
gante e petulante.
Os irmãos de fé, em Cristo Jesus, cheios do Espírito Santo, segundo o
relato de Lucas, não consideravam seu aquilo que cada um tinha, mas agiam
como mordomos do que Deus tinha confiado a eles e uns dos outros, con-
forme a necessidade de cada um. Aquilo que nenhum governo conseguiu
em toda a história, aconteceu quase que de imediato – corações transforma-
dos foram vistos em uma sociedade transformada.
Não demorou para que surgisse oposição e perseguição daqueles que se
sentiram agredidos na sua vaidade, e no poder que imaginavam que possu-
íam. A afirmação é que o movimento contava com a simpatia de todo o povo
e que o próprio Deus acrescentava dia a dia os que iam sendo salvos. Com a
perseguição, o movimento deixou de se concentrar somente em Jerusalém e
se espalhou, como também Jesus havia predito.
Como algo maravilhoso, assim, pode ter sido diminuído? Como esse
movimento não contagiou a todos? O porquê da oposição e da perseguição,
em vez de conversão total?
Aqui, para ser consistente e assertivo, devemos lembrar do que Jesus
também predisse, que o Reino dele traria divisão, não entre os irmãos de
fé, mas entre aqueles que são dEle e aqueles que não são. A vinda de Jesus
trouxe oportunidade àqueles que conseguem ver Deus cumprindo cabal-
mente todas as suas promessas e aqueles que não conseguem ver. Que têm
olhos, mas não enxergam.
103
Nosso foco é esse sinal de conversão, esse sentimento genuíno de respon-
sabilidade mútua, de mordomia, de alegria. Algo que é visto em todo lugar
onde Jesus é crido e seu Espírito recebido.
Somos alertados por Jesus que a implantação do Reino de Deus teria for-
tes oposições, e a oposição mais fácil de lidar é quando ela é externa. Apesar
das ameaças, violências, a pureza de motivações, o zelo, o cuidado, o aque-
cimento nos corações tornam o Reino atraente.
O que traz maiores desafios, são as oposições internas, onde temos des-
vios doutrinários, pensamentos terrenos ocupando lugar do pensamento de
Deus, o fenômeno dos falsos profetas, falsos irmãos, os lobos que se intro-
duzem vestidos de cordeiros com o fim de manipular, dominar, mercadejar
corrompendo o ambiente, relacionamentos, trazendo impurezas, ressenti-
mentos, erros grosseiros que tiram o foco do Autor e Consumador da fé e
procuram canalizar o movimento do Reino para outros objetivos que não
são próprios. Essa usurpação é o grande desafio que temos como povo de
Deus, como igreja pura.
Foi predito por Jesus, no sermão profético, que se levantariam falsos pro-
fetas e falsos Cristos, que a iniquidade iria se multiplicar e que se Deus não
abreviasse o tempo, ninguém se salvaria. O multiplicar da iniquidade tem
a ver com o pensamento e objetivo individual e não comunitário. Nosso
chamado é individual para uma expressão coletiva. Como Jesus, somos
enviados a repartir o que recebemos e quando não fazemos isso nos asseme-
lhamos a igreja do antigo testamento, Israel, que na direção de Deus seria
uma luz para os gentios, para as nações, mas que se fechou em si e caiu no
orgulho de usurpação de pretender ser o povo abençoado somente e não
abençoador dos outros povos.
Foi avisado pelos apóstolos sobre a oposição que faria parte constante
na história da igreja. Paulo avisa insistentemente sobre o amor que cobre
multidão de pecados, sobre doutrinas estranhas, sobre mercadores da fé,
sobre a luta espiritual que estamos envolvidos na implantação desse reino
nos corações daqueles que, ouvindo o evangelho, creem nesse evangelho,
nascem de novo e saem do “eu” para o “nós”, da “comodidade” para a “comu-
nidade”. o povo de Deus que vive no mundo segundo o padrão celestial e
não segundo o padrão mundano. Forasteiros que peregrinam nessa terra
durante o curto tempo da vida nesse céu e terra ansiando e aguardando
novo céu e nova terra que foi prometida, onde toda oposição estará ausente
(incrédulos de todas as gerações e os anjos que não guardaram o seu estado
original mas pecaram seguindo o grande dragão vermelho, a antiga ser-
pente, o Diabo e Satanás.)
104
Pretendemos, agora, mostrar que, embora isso tenha sido visto e vivido
em Jerusalém e durante todos os avivamentos na história da Igreja do Senhor
Jesus,. sempre foi a vontade de Deus a consciência de comunidade, de ser-
mos plenos e não apenas de termos bens e riquezas. É necessário se fixar em
dois pontos que é a expressão de “ter tudo em comum” e “não esquecermos da
oposição e perseguição” que seguem os avivamentos genuínos. Vejamos como
isso se dá nos períodos da história narrada.
105
5– Moisés, criado como filho da filha de faraó, inclinou o seu coração
para o seu povo, colocando sua vida em risco. Quando rejeitado, fugiu e,
chamado por Deus, voltou e deu a sua vida em favor desse povo, sendo um
tipo do Cristo, o libertador dos israelitas, investindo a vida no sentido de
pregar a esse povo que o amor a Deus se materializa no amor ao próximo.
6– Israel, instalado na terra da promessa, no tempo dos juízes, sempre
mostrou uma divisão entre aqueles que tinham a consciência de povo, de
chamado a ser diferente, de família, de consciência de propósito e aqueles
que se perderam no egoísmo, vaidade e idolatria. Essa história, chamada
comumente como a história da redenção, de promessa de transformação
e de esperança em um desfecho, em restauração, seguiu o período dos juí-
zes, e dos reis de Israel. A vontade de Deus sempre encontrou resistência no
coração humano caído no engano do pecado.
7– Deus, através dos profetas, insistentemente e de várias maneiras pro-
mete visitar o seu povo com libertação e cura através de um Messias, de um
Ungido que cuidaria, curaria e guiaria o povo assim como um pastor de
ovelhas que as protege, provê alimento e proteção. Ele chama isso de salva-
ção, de restauração, de reconciliação. Ele promete vir pessoalmente com seu
Espírito habitar no seu povo, e isso se cumpre com o nascimento de Jesus,
seu ministério, sua paixão, morte, ressureição e ascensão aos céus e o envio
do seu Espírito Santo, inaugurando os últimos dias. Nestes, a vontade ben-
dita não fica restrita a Israel, mas alcança a todo o que crê e que se deixa ser
transformado na sua maneira de pensar, abandonando o egoísmo, o medo
e assumindo a identidade de filho de Deus. Nesse período é que Deus está
ajuntando os seus filhos de todos os povos, línguas e nações.
8– O que começou em Jerusalém tem se repetido em todo lugar onde
Jesus é visto nas palavras e ações dos que creem. Daqueles que, embora
ainda não estejam com os seus corpos transformados, têm suas mentes
transformadas. Embora tenham lutas e tentações, vivem em comunhão, não
consideram as coisas que têm como sendo próprias, mas são possuídos por
uma consciência de comunidade e de mordomia fiel dos que estão a sua
volta. Vemos, nos primeiros séculos, como Deus levanta homens que pre-
gam o reino de Deus que inicia no coração, a esperança do porvir junto com
a responsabilidade do momento, de ser agente de salvação, de testemunho,
de cuidado, de obras, de suprimento. Tudo isso, juntamente com os que
insistem no egoísmo e, também, aqueles que não perseveram, que desis-
tem, que abandonam essa maneira de pensar. É uma luta contínua, encher
106
do Espírito com esse modo de vida celestial, embora ainda esteja na terra ou
se inclinar para o terreno, para as coisas imediatas, que seduzem os incons-
tantes e vaidosos.
9– A mensagem que recebemos, com o Espírito Santo, produz esse modo
de vida que constrange e divide a sociedade entre aqueles que abraçam,
acolhem, retêm e aqueles que se opõem, ridicularizam e perseguem o movi-
mento da igreja de Cristo Jesus. Isso não pode ser reproduzido de forma
sustentável por força ou violência, mas é obra do Espírito Santo de Deus
prometido e enviado por Jesus, nosso Salvador. É isso que recebemos e isso
que devemos ensinar, pregar, admoestar e, acima de tudo, é desse modo que
devemos viver. Não por constrangimento ou medo, mas como libertos ver-
dadeiramente pelo Deus que habita em um alto e sublime trono e olha para
um coração aflito que treme diante da sua palavra conforme Isaías 66.
A palavra transforma, o Espírito Santo é o próprio Deus materializando
a sua poderosa e bendita palavra nas vidas dos irmãos. Somos chamados
como sementes nos ambientes que estamos inseridos, seja a nossa família,
amigos, colegas de trabalho, nossa cidade. Em qualquer lugar, essa maneira
celestial de pensar, deve contribuir para oportunizar a todos de verem as
boas obras e glorificarem o nosso Pai que está nos céus conforme Mateus 5.
10– Conforme for se aproximando o dia da bendita esperança da volta
do nosso Senhor Jesus Cristo, segundo a própria previsão de Jesus, naquilo
que é chamado o sermão profético em Mateus 24, a iniquidade se multipli-
caria e o amor iria se esfriar de quase todos, mas aqueles que perseverarem
até o fim serão salvos, inseridos em um novo céu e uma nova terra, onde
não haverá mais oposição, tampouco perseguição, nem estaremos sujei-
tos a tentações, porque o nosso corpo será glorificado semelhante o corpo
de Jesus, que após ressurgir, tinha cicatrizes, mas não enfermidades. Um
corpo glorioso, em um lugar glorioso com a presença gloriosa do Senhor e
Salvador Jesus Cristo.
11– Não podemos perder de vista esse desfecho, não podemos desani-
mar diante das provas, nem desviar por causa de doutrinas estranhas, nem
se maravilhar com sinais, milagres e prodígios que estão dissociados dessa
mensagem que é sempre a mesma desde a Criação e por toda história que
Deus nos fez a sua imagem, conforme a sua semelhança. Nisso devemos
esperar e nos gloriar, para que não fiquemos no caminho, como aqueles de
Israel que saíram do Egito, mas não entraram na Terra Prometida.
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12– Em um tempo em que muitas narrativas, muitos evangelhos, muitas
doutrinas estranhas, embora atraentes são pregadas, devemos perseverar
na doutrina dos apóstolos, na comunhão e no partir do pão. Não podemos
deixar de congregar. É na comunhão, na consciência de corpo, de família, de
rebanho que é guiado pelo pastor Espírito Santo durante o restante do nosso
tempo aqui que não só estamos seguros como também cumprimos nossa
vocação e propósito.
13– É impressionante que essa verdade seja rejeitada pela maioria, toda-
via, essa é a realidade, não por falta de habilidade nossa, nem impotência
de Deus, mas pela dureza dos corações da muitos, pela obstinação no viver,
pela miopia dos prazeres imediatos, pela vaidade no modo de viver. Deus
não coagiu, não obrigou que as pessoas tivessem comunhão com Ele, mas
oportunizou, se doou, assumiu a forma de criatura para purificar, comprar
para si um povo livre, santo, justo e amoroso. Em Hebreus 12, vemos que
devemos fixar firmemente nossos olhos em Jesus que é o autor e consu-
mador da nossa fé. Somos chamados a seguir os seus passos, sermos a sua
presença por onde andamos.
14– Na primeira epístola de João, vemos um resumo que traduz bem essa
situação, quando o apóstolo João diz que Aquele que era desde o princí-
pio, se manifestou, encarnou e foi visto na Terra. O descendente da mulher,
prometido em Genesis 3, o Ungido que foi profetizado, o Libertador veio
e partilhou a sua vida aqui com os que O seguiram, carregou os nossos
pecados e do mundo inteiro, nos chamou para a comunhão e o sinal do per-
dão é exatamente que, se andamos na luz, como Ele na luz está, mantemos
comunhão (viver a comunidade, ter tudo em comum, percepção de mor-
domia e não de posse) uns com os outros e o sangue de Jesus Cristo, seu
Filho, nos purifica de todo pecado (I João 1). Na sequência, o apóstolo fala
de Cristo, como advogado dos seus verdadeiros seguidores e avisa para a
oposição contínua e crescente do império das trevas, contra os seguidores
de Jesus durante o tempo da implantação do reino, até a volta gloriosa de
Jesus Cristo finalizando a presente Era.
CONCLUINDO
Devemos ter em mente que a consciência de ter tudo em comum é algo
real no coração dos cristãos. A partilha voluntária, a prontidão em partici-
par e atender é algo que não pode ser forçado, mas o Espírito Santo conduz
o coração dos crentes nesse sentido e está, exatamente, nesse ponto, o teste-
munho público daqueles que servem a Deus e não as riquezas. Fica patente
a escolha de qual Senhor as pessoas servem.
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Uma palavra de advertência é que não podemos copiar ou imitar a ação
do Espírito. A história narra algumas tentativas, as vezes bem intenciona-
das, de forçar, de controlar e de procurar reproduzir, através de regras e
cultura, essa característica da igreja de Jerusalém. Na verdade sempre, em
todas as gerações, haverá os verdadeiros cristãos que são movidos por essa
consciências. O alerta é para os manipuladores, dominadores, pessoas que,
talvez, até bem intencionadas, forçam, coagem a criação de uma comuni-
dade onde essa virtude passa a ser uma lei. Ao invés do fluir do Espírito no
coração das pessoas, há uma manipulação das mentes e corações, onde, em
vez de oferta de amor, se implantam seitas que, via de regra, acabam muito
mal. Somos o povo de Deus, salvos por Jesus Cristo, santificados e guiados
pelo Espírito de Deus. Nossas obras testificam da fé que temos e isso deve
acontecer nessa ordem.
Quem não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus. Não podemos
imitar aquilo que é legítimo em Deus. Nosso desafio é o nosso coração duro,
insensível a Deus e aos outros. Somente nascendo de novo e nos enchendo
do Santo Espírito é que, legitimamente, podemos participar dessa alegria de
viver sobrenaturalmente. Nossas ofertas não podem ser forçadas ou cons-
trangidas, Deus ama aquele que dá com alegria e qualquer habilidade que
tivermos ou oferta que dermos, não sendo por amor, de nada se aproveitará.
Que Deus nos dê graça!!
Deus seja louvado!!
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10
VENDIAM, OFERTAVAM,
DISTRIBUÍAM
Cláudio Carvalho
Vendendo suas propriedades e bens,
distribuíam a cada um conforme
a sua necessidade. Atos 2:45
111
L
ucas, ao escrever tanto o seu Evangelho, quanto o livro de Atos, tinha
um cuidado todo especial com a história e com os fatos. Conforme Lucas
mesmo nos conta, ele fez uma investigação rigorosa, e depois uma
descrição ordenada dos fatos. Tudo isso com um objetivo: para que tenha-
mos certeza das coisas que foram ensinadas (Lucas 1:1-4, Atos 1:1). Assim,
empenhado com a sequência dos fatos, ele relata que, após um derramar
extraordinário do Espírito Santo, todos aqueles que tiveram a sua forma de
pensar transformada, todos aqueles que encontraram um novo sentido para
as suas vidas, começaram a viver o seu dia a dia de uma forma bem diferente
de antes. Então, depois daquele dia especial, aqueles homens e mulheres
caminharam com o seu cotidiano, mas não mais do mesmo jeito. Eles come-
çaram a fazer uma série de coisas contrárias à forma humana de pensar,
afinal, estavam sendo conduzidos pelo Conselheiro prometido pelo Filho.
Aquelas pessoas, as que “aceitaram a mensagem” (2:41), aprenderam a crer
nela (2:43), e começaram a se dedicar a coisas que não se dedicavam antes
(2:42). Uma dessas coisas é o compartilhar dos seus bens. Esse é o objetivo
desse estudo. Mas antes, gostaria de fazer uma observação técnica. O termo
usado pela Nova Versão Internacional (NVI), é “distribuir” (do original
grego “diamerizó”), que também pode ser traduzido por “repartir”, “compar-
tilhar”, “dar”, e ainda, “ofertar”.
Pois bem, é sobre essa questão, a questão da oferta, que vamos refletir.
Um assunto que sempre exige cuidado, algo que acompanha todas as cultu-
ras em todos os tempos, afinal, os homens estão sempre muito interessados
em apresentar a Deus uma oferta, ou um sacrifício.
1. A FESTA DE PENTECOSTE
Você deve se lembrar, o capítulo dois de Atos está sob a atmosfera da Festa
de Pentecoste, uma das principais festas judaicas, assim como a Páscoa, e a
Festa das Cabanas. Mas o que era essa festa?
No início da história do povo hebreu, vale lembrar que eles não eram
agricultores, mas pastores. Aos poucos, e à medida que a Terra Prometida
foi sendo conquistada, o povo israelita passou a ser também agricultor.
Um povo nômade, e assim criador de animais, agora é também agricultor
e sedentário. A Festa de Pentecoste era a celebração pela colheita (conforme
Levítico 23:9-25 e Deuteronômio 16.9-15). Como todas as festas de Israel,
essa celebração também passou por modificações ao longo dos séculos, mas
a ideia era a seguinte: assim que a primeira espiga brotasse, ou assim que um
feixe do primeiro cereal fosse visto, uma celebração deveria ser convocada.
Na verdade, logo depois da Festa da Páscoa, eram contadas sete semanas.
Assim, cinquenta dias após a Páscoa, uma nova festa era celebrada, uma
112
comemoração em agradecimento pela colheita. São vários os nomes dessa
festa: Festa das Primícias, Festa das Colheitas, Festa das Semanas, ou ainda,
Festa de Pentecoste (por causa do número 50).
Nos dias do primeiro século, ou seja, nos dias em que Lucas está nos
contando a história descrita em Atos, caravanas de judeus saiam de todas
as províncias, e se encontravam em Jerusalém. Os peregrinos seguiam em
romaria, animados com alegres sons de flauta. Todos traziam cestos decora-
dos com fitas e flores, numa oferta do melhor dos cereais, bem como uvas,
figos, romãs e tâmaras. Ao chegarem ao Templo, eram acolhidos com músi-
cas de boas-vindas e, ali, faziam a entrega dos seus cestos aos sacerdotes.
Era uma oferta.
O meu ponto aqui é o seguinte: uma romaria de judeus de todos os
cantos do mundo se dirigia à Terra Santa com um objetivo: levar uma
oferta a Deus. Mas será que aquelas pessoas estavam levando uma oferta
com que objetivo?
113
apóstolo passou dias ali, apresentando as “suas ideias e os seus ensinos”, num
local conhecido como a fonte de toda a filosofia grega. Como o que Paulo
estava trazendo era “novo e estranho”, ele foi levado a um outro local, para
uma discussão mais cuidadosa. É nessa atmosfera, com uma plateia bas-
tante atenta, que ele ensina a respeito do Deus desconhecido. Sobre esse
Deus ele diz o seguinte:
O Deus que fez o mundo e tudo o que nele há é o Senhor do céu e da terra,
e não habita em santuários feitos por mãos humanas. Ele não é servido por
mãos de homens, como se necessitasse de algo, porque ele mesmo dá a todos a
vida, o fôlego e as demais coisas. [...]
– Atos 17:24,25
114
pergunta, sim, é possível que Deus dê uma recompensa a um sacrifício, a
uma oferta. Mas o texto também deixa claro que é possível que não haja
nenhuma recompensa, pelo menos não da parte de Deus: “eles já receberam
sua plena recompensa” (Mateus 6:2,5,16).
Portanto, é possível que o Criador aceite uma oferta, mas também é pos-
sível que ele não aceite. Da mesma forma, a recompensa como uma resposta
de Deus a uma oferta é uma possibilidade.
Todos nós gostaríamos de uma reposta mais prática. Muito provavel-
mente alguns devem estar pensando: ok, entendi, mas e, na prática, como
deve ser essa questão da oferta e do sacrifício? Então, vamos continuar.
115
O que as nossas traduções trazem como Holocausto é o termo hebraico
“Olah”. Sem nos aprofundarmos, podemos dizer que o termo tem dois sig-
nificados. O primeiro é “o que sobe”, como a fumaça do fogo, nesse caso, um
“aroma agradável ao Senhor”. O segundo significado é “todo queimado”, con-
forme o texto, “o sacerdote queimará tudo no altar”. Os dois são importantes
para a nossa compreensão desse tipo de sacrifício.
Valeria muito a pena refletirmos em todos os detalhes do ritual desse tipo
de oferta, mas vou destacar apenas alguns. O primeiro é a respeito do que
“poderia ser ofertado”. Sempre um animal doméstico. Para entendermos esse
detalhe, precisamos fazer uma viagem no tempo. É fundamental entender o
que era um novilho, ou um cordeiro, para aquele povo, naquele tempo. Não
é como hoje. Naqueles dias comer carne era um luxo para algumas ocasi-
ões. Desse animal é que se tirava parte do sustento para a sua própria vida,
e também da sua família. Então, oferecer o animal em Holocausto, e ver
que ele era “todo queimado”, tem muito significado. Vale destacar que quase
todos os animais de caça poderiam ser comidos, mas não oferecidos em
sacrifício, mas por quê? Davi nos explica. Num momento em que uma pes-
soa do seu reino lhe oferece, gratuitamente, um animal para o Holocausto,
Davi diz o seguinte:
Não! Faço questão de pagar o preço justo. Não oferecerei ao Senhor meu Deus
holocaustos que não me custem nada.
– 2 Samuel 24:24
116
Não te deleitas em sacrifícios nem te agradas em holocaustos, senão eu os
traria. Os sacrifícios que agradam a Deus são um espírito quebrantado; um
coração quebrantado e contrito, ó Deus, não desprezarás.
– Salmos 51:16,17
117
5. O GENEROSO E A GENEROSIDADE
Para olharmos esse ponto com mais cuidado, vou precisar fazer um
parêntese sobre os livros que compõem a “Literatura de Sabedoria de Israel”,
e os seus respectivos degraus. A cultura judaica criou uma imagem a partir
do trono de Salomão. O caminho que levava ao trono do rei possuía alguns
degraus. Como Salomão é o símbolo do sábio em Israel, criou-se também o
símbolo de que cada degrau que levava à sabedoria correspondia a um dos
livros da sabedoria judaica.
O primeiro degrau da sabedoria corresponde ao livro de Provérbios, que
nos ensina a respeito do “mashal”. Um mashal representa a “expressão da com-
preensão de uma ordem e uma regularidade, de forma que possamos lembrar com
facilidade”, algo semelhante aos nossos ditos populares. Os nossos ditados (e
isso acontece em todas as línguas) são expressões da sabedoria popular, tra-
zida numa métrica fácil de ser lembrada, por exemplo, “água mole em pedra
dura, tanto bate até que fura”. O que esse dito quer nos ensinar? Sobre perse-
verança..., e de uma forma fácil de ser lembrada.
O livro de Provérbios utiliza a mesma lógica, mas traduz realidades
espirituais. Embora algumas coisas não pareçam assim tão espirituais, na
verdade são, por exemplo:
118
aos outros, alívio receberá [será bem regado, terá sua sede saciada, será revi-
gorado, será ajudado].
– Provérbios 11:25 NVI
Quem é generoso será abençoado, pois reparte o seu pão com o pobre.
– Provérbios 22:9
6. A RECOMPENSA
Já entendemos que não há sacrifícios feitos a Deus, e que possam deixá-
-lo em débito conosco. Já compreendemos que não há nada que possa mexer
com Deus, pois ele não é “afetado”, nem pelo que fazemos de bom, nem pelo
que fazemos de mau. Talvez fosse melhor colocar da seguinte forma: não há
119
sacrifícios que “mexam” com Deus, mas há sim, sacrifícios e ofertas diante de
Deus. Há sacrifícios em favor das pessoas que cruzam o nosso caminho – e
isso é uma aroma agradável a Deus. Mas é um aroma agradável a Deus, por
causa de Deus? Não. Por nossa causa. Não é algo que afeta a Deus, mas afeta
a nós. Então, o sacrifício, ou a oferta da igreja de Filipos em favor de Paulo, é
em favor de Paulo, abençoa a Paulo, e é agradável a Deus, um aroma suave,
e que também abençoa os filipenses.
A generosidade é um exercício espiritual! O ofertar diante de Deus,
daquilo que me faz falta, “queimando”, nos leva a sermos pessoas mais
maduras. Então vamos à última pergunta: qual é a recompensa?
O nosso Pai vai recompensar com bens, ou coisas que podem ser acumu-
ladas aqui na terra, e que nos fazem sermos ainda mais presos à dimensão
do que é visível? Não me parece fazer sentido com o restante das Escrituras.
O Pai celestial vai recompensar no céu, com uma mansão, com carro na
garagem, onde alguns vão ter, e outros não? Também não me parece fazer
nenhum sentido com o restante da Bíblia. Imaginar que a minha recom-
pensa seria ter uma casa maior no céu é, no fundo, algo que novamente
alimentaria a minha cobiça. Mas, então, qual é a recompensa?
É uma recompensa maior, e aqui na terra, mas não é algo que está rela-
cionado diretamente com alguma coisa que ele vai nos dar, mas com o tipo
de ser humano que ele vai nos transformar. Um ser humano que pode tudo,
com ou sem as coisas, com as circunstâncias a favor ou não. Você já perce-
beu que estou fazendo minhas as palavras de Paulo. Mas o que a maioria
das pessoas não percebe ao usar esse trecho (Filipenses 4:10-13), é que ele
está nos ensinando que pode tudo, afinal aprendeu. “Aprendi” é a expres-
são do apóstolo! Depois do aprendizado que veio de Deus ele pode tudo,
pois aprendeu a se adaptar em toda e qualquer circunstância. Aprendeu de
Deus, o Pai, o segredo. Recebeu a benção, ou melhor, a recompensa de viver
contente em toda e qualquer situação. Paulo chegou a um ponto na sua vida
em que não fazia mais diferença o que tinha e o que não tinha, afinal, inte-
ressava o tipo de ser humano que o Pai formou nele. Essa é a recompensa:
ser um ser humano pleno!
O mesmo escritor da carta aos Hebreus fala sobre o fato de que os sacri-
fícios, em si mesmos, não poderiam dar ao adorador uma consciência
(9:9). Creio que a recompensa do Pai é uma consciência! Uma consciência
expandida. Uma consciência a respeito do invisível, e do eterno. Essa é a
recompensa, nos tornar plenos. A recompensa não está relacionada à dimen-
são do ter, mas à dimensão do ser.
120
ALEGRIA E SINGELEZA
DE CORAÇÃO
11
Gilberto Marquez
@gilbertomarquezneto
121
O
objetivo desse capítulo é fazer com que tenhamos uma convicção clara
do que precisamos ser a partir de um encontro com Cristo. Se estamos
falando sobre disciplinas espirituais, uma plenitude a ser alcançada,
precisamos buscar isso de forma intencional e consciente, compreendendo
que muitas coisas não virão do “nada”, mas que todas as coisas virão a
partir de um olhar diferente, uma compreensão mais profunda da nossa
identidade. A alegria e a singeleza, alvo desse estudo, fará com que seja-
mos seres em pleno aperfeiçoamento e crescimento. Para isso, não dá para
acomodar, ou para ficar em um lugar de observação. É preciso sair do lugar
que muitas vezes é cômodo, seguro, mas que, no fundo, revela fuga e não
enfrentamento.
Prepare-se para entrar no mais profundo do seu ser, e buscar de forma
faminta toda essa mudança. Jesus disse que feliz é o homem que tem fome
e sede de justiça, porque serão fartos. Assim, só seremos fartos e saciados
na medida da nossa fome e sede, por algo que sai de nós, algo que não tra-
duz somente o EM MIM, mas o ATRAVÉS DE MIM. Esse, sim, é todo o
sentido da vida.
122
um número somente, mas à partir de um movimento de vida, intensidade,
prazer, alegria... Todas estas coisas combinadas com a existência daquele
momento, uma vez que iriam enfrentar uma perseguição futura momentos
depois. Vemos um momento de vida saudável, em que desfrutavam, juntos,
do fortalecimento da Igreja e da comunhão uns com os outros.
Queremos, a seguir, refletir sobre alguns estágios para experimentarmos
uma vida saudável.
5 ESTÁGIOS PARA UMA VIDA SAUDÁVEL
1) AUTOCONHECIMENTO
2) AUTOCONTROLE
3) MOTIVAR-SE
4) COMPREENDER O OUTRO
5) RELACIONAR-SE BEM
1. Autoconhecimento
Ter consciência de si mesmo é o primeiro passo para uma vida saudável.
Jesus disse que ninguém era bom a não ser seu Pai que estava nos céus, e
depois Paulo reafirma isso dizendo que ninguém era justo e nem buscava a
presença de Deus.
Vemos que no reino de Deus não há merecimento! Não fomos aceitos
porque merecemos, mas porque Deus usou da sua compaixão e misericór-
dia conosco. Não havia como conquistar o coração de Deus a não ser pela
mudança de coração, como Ele mesmo disse à Caim, quando este estava
emburrado a respeito de seu irmão. Quando conhecemos as nossas próprias
limitações, podemos dar respostas melhores a respeito de nós mesmos, sem
que fiquemos numa posição de defesa ou proteção, uma vez que reconhece-
mos as nossas próprias fraquezas.
Respondeu-lhe Jesus: “Por que você me chama bom? Ninguém é bom, a não
ser um, que é Deus.”
– Marcos 10:18
Como está escrito: “Não há nenhum justo, nem um sequer; não há ninguém
que entenda, ninguém que busque a Deus.”
– Romanos 3:10-11
2. Autocontrole
Para uma vida cristã saudável é preciso que trabalhemos melhor as nos-
sas emoções, precisamos compreender o papel que o Espírito Santo faz
em nós e termos a sensibilidade de nos moldarmos, assumindo uma nova
123
forma de viver, deixando as coisas velhas para trás e avançando para o
novo de Deus. O fruto do Espírito Santo traduz uma relação íntima com
o Senhor, uma vida de crescimento e amadurecimento, sendo que eu não
me conformo mais com a minha natureza e busco aperfeiçoamento. No
caso, o domínio próprio diz respeito à um controle melhor das nossas emo-
ções, sendo que não vou reagir mais segundo a um estímulo, mas, diante de
um estímulo, terei a razão voltada para o equilíbrio e consiguirei controlar
melhor as minhas reações.
Por incrível que pareça isso faz parte de um treinamento que consegui-
mos obter junto ao Senhor. Não tenha medo de usar essa palavra, pois ela
explica e ajuda a entender processos que precisamos viver a partir de expe-
riências boas e também ruins, para que eu consiga esse controle fruto de
amadurecimento.
3. Motivar-se
Se colocamos as nossas emoções e sentimentos a serviço de uma meta, se
buscamos isso de uma forma consciente e intencional, temos a capacidade
de exercer influência e convencimento em nós mesmos. É preciso gerar uma
comunicação melhor dentro de nós, no meu EU interior que motiva e con-
vence o meu EU exterior. É como se, numa linguagem figurativa, eu tivesse
duas pessoas dentro de mim, uma que é a imagem de Cristo e irá motivar a
outra que representa a minha natureza e o meu coração incorrigível.
Por que você está assim tão triste, ó minha alma? Por que está assim tão
perturbada dentro de mim? Ponha a sua esperança em Deus! Pois ainda o
louvarei; ele é o meu Salvador e o meu Deus.
– Salmos 42:5
124
4. Compreender o outro
A empatia é outra capacidade que se desenvolve na autoconsciência,
no autocontrole e na motivação própria. É o saber escutar sem julgar, sem
condenar, ter os ouvidos abertos sem defesas e juízos. Muitas vezes, sem
perceber, nos colocamos numa posição de somente ensinar, chamar a aten-
ção, trazer uma palavra... Muitas vezes, o que precisamos mesmo é só ouvir,
só acolher, só receber, sem ter que falar, impor, convencer e ganhar uma dis-
cussão ou diálogo.
O ser usado por Deus não significa que tenho que ter sempre uma pala-
vra na minha boca, mas que, também, sei ouvir. Jesus, em vários momentos
do seu ministério, se expressou pelo silêncio e, em determinados momentos,
não quis crescentar nada.
As pessoas empáticas são mais sintonizadas com a vida e com o coração
do outro nas suas necessidades e no que precisam para cada momento das
suas vidas, seja uma admoestação, seja uma exortação, seja uma escuta.
Portanto, meus amados irmãos, todo o homem seja pronto para ouvir, tardio
para falar, tardio para se irar.
– Tiago 1:19
Deus exortou Jonas pela falta de empatia para com o povo de Nínive.
– Jonas 4
Jesus considerou a lei mas antes trouxe uma questão inesperada para todos,
primeiro tratar a vida de cada um antes de tratar a do outro.
– João 8
5. Relacionar-se bem
Para isso, precisamos adotar novos hábitos e termos uma consciên-
cia clara do que pode e deve ser feito, para que, no fim, tenhamos toda a
clareza e lucidez de percorrer um caminho que, agora, já foi inaugurado a
todos nós, pois, se sabemos o bem que devemos fazer e não fazemos, come-
temos pecado, agora iremos desfrutar de relações mais sólidas, maduras,
mais preparadas para os arrancos da vida. A arte de se relacionar é desafia-
dora, pois exige de nós resiliência, paciência, temperança, domínio, e vários
outros ingredientes como compaixão, misericórdia, flexibilidade, firmeza
125
e, sobretudo, muita sabedoria e discernimento. Graças à Deus podemos
desfrutar do espírito de sabedoria e de revelação fruto do conhecimento
de Deus em nós.
Por essa razão, desde que ouvi falar da fé que vocês têm no Senhor Jesus e do
amor que demonstram para com todos os santos, não deixo de dar graças por
vocês, mencionando-os em minhas orações. Peço que o Deus de nosso Senhor
Jesus Cristo, o glorioso Pai, lhes dê espírito de sabedoria e de revelação, no
pleno conhecimento dele. Oro também para que os olhos do coração de vocês
sejam iluminados, a fim de que vocês conheçam a esperança para a qual ele os
chamou, as riquezas da gloriosa herança dele nos santos.
– Efésios 1:15-18
2. PRINCÍPIOS E COMPORTAMENTOS
No início da Igreja, as pessoas eram mais intimas, mais dadas à rela-
ção e tinham uma noção mais clara de viver em união. Tanto é, que o texto
base, expresso em 6 versículos, aponta as palavras: perseverar, doutrina,
comunhão, partir do pão, orações, temor, maravilhas, sinais, todos, criam,
juntos, tinham tudo em comum, vendiam, propriedades, bens, repartiam,
necessidade de cada um, unânimes, todos dias, comiam, alegria, singeleza,
louvando, caindo na graça, povo, acrescentava, igreja, sendo, salvos.
Nossos comportamentos são a materialização do que cremos, estão vin-
culados aos princípios que nos regem. Jesus disse que a boca fala o que está
cheio o coração, e que uma árvore seria conhecida pelos frutos. A partir
dessa reflexão devemos, agora, mergulhar no mundo das mudanças e das
transformações. Para isso, queremos meditar sobre a temática da fé, o crer,
o sentir e a materialização através das nossas ações. Muitas vezes pensamos
que uma atitude seria somente uma ação, ou um comportamento, mas que-
remos compreender melhor a definição da mesma.
Uma atitude foi definida pelo psicólogo Gordon Allport (1935) em três
estágios, o crer, o sentir e o agir, e seguem na seguinte ordem.
O povo só conseguiu viver da forma descrita em Atos porque creram
naquela palavra, creram na doutrina dos apóstolos... Ou seja, não podemos
viver em cima do que sentimos, mas fundamentados no que nós cremos.
Sigamos na compreensão do que sejam as atitudes em nossas vidas.
Se uma atitude é formada por esses três componentes, é preciso que
todos eles sejam vivenciados nas nossas vidas seguindo essa ordem, caso
contrário, será compreendido como somente um comportamento isolado de
uma crença e uma vontade.
126
Crer
Sentir
Agir
Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face;
agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido.
– 1 Coríntios 13:12
127
E dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei
da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne.”
– Ezequiel 36:26
Assim está também escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito em alma
vivente; o último Adão em espírito vivificante.” 1 Coríntios 15:45
Agir – E, por último, o agir, a ação, a materialização do crer e sentir. Dessa
forma, nos percebemos mais firmes, mais equilibrados, mais alinhados com
o verdadeiro mover em nós. Paulo diz que Deus dá a nós o querer e o rea-
lizar, segundo a Sua vontade. Agora, as nossas ações não são mais segundo
o meu EU, mas segundo um NOSSO de Deus, é eu realizando o que Deus
sonhou, o que Ele desejou para mim. Nesse caminho, não corremos o risco
de desistir, ou retroceder, porque temos a consciência do que devemos fazer
e, dessa forma, ficamos indesculpáveis.
...pois é Deus quem efetua em vocês tanto o querer quanto o realizar, de acordo
com a boa vontade dele.
– Filipenses 2:13
Aquele, pois, que sabe fazer o bem e não o faz, comete pecado.
– Tiago 4:17
3. ALEGRIA E FELICIDADE
A alegria é uma emoção inata, ou seja, uma emoção primária, nós já nas-
cemos com ela. Hoje há 6 emoções primárias consideradas na ciência: a
alegria, a tristeza, medo, nojo, raiva e surpresa, essas são experimentadas a
partir de um estímulo, um acontecimento, um evento que muitas vezes está
fora do nosso controle. Já as emoções adquiridas precisam do componentes
social, vivido, experimentado e aprendido. Algumas das emoções secundá-
rias são a vergonha, a culpa, a inveja, o constrangimento, a satisfação etc.
As emoções são diferentes dos sentimentos porque são automáticas, não
desejamos sentir, não há o aspecto cognitivo. A alegria, como emoção, é um
estado momentâneo, é algo circunstancial em nossas vidas, eu sinto a par-
tir de algo que estou vivendo, ou experimentando. Já os sentimentos têm o
componente cognitivo envolvido, ele é percebido, analisado e discernido,
não é automático, mas pode ser questionado, avaliado e discutido.
A felicidade é um sentimento que precisa ser construído, é preciso com-
preender, discernir, saber a respeito do que Deus gerou e produziu dentro
de nós. A felicidade independe do momento e ou da situação, pois traduz
128
uma natureza construída, a partir do conhecimento daquele que nos gerou
e nos fez segundo a sua imagem conforme a sua semelhança. Nessa linha
de pensamento, a alegria pode passar, sendo que a felicidade está instalada
no fundo do meu ser, “sou uma pessoa feliz porque conheci o propósito de Deus
na minha vida, e mesmo sendo feliz posso estar passando por momentos de tristezas,
dores, mas minha natureza não está alterada”.
Por exemplo, um casal pode dizer que está triste por estar enfrentando
uma grande dificuldade no casamento, mas continua feliz um com outro por
compreenderem quem são e qual o plano de Deus na vida deles. Quando
eles afirmam que são infelizes isso diz respeito ao fundamento, a natureza,
diz que aquela relação está comprometida, por isso Jesus disse que aquilo
que Deus uniu, o próprio homem não teria a capacidade de destruir.
Vamos olhar para as escrituras para compreendermos isso melhor. No
texto de Neemias, diz:
Este dia é consagrado ao Senhor vosso Deus, pelo que não vos lamenteis, nem
choreis. Pois todo o povo chorava, ouvindo as palavras da lei. Disse-lhes mas:
Ide, comei as gorduras, e bebei das doçuras, e enviais porções aos que não
tem nada preparado para si. Este dia é consagrado ao nosso Senhor. Não vos
entristeçais, pois a alegria do Senhor é a vossa força.
– Neemias 8
A exortação era para que o povo pudesse reconhecer que era uma nação
feliz por ter Deus como seu único Deus, e que não deveria continuar triste,
abatido, mas que deveria mudar a condição das suas emoções, porque a
alegria que Deus sentia nele era o que dava força a ele. Por essa razão, tam-
bém a Bíblia nos exorta a não entristecer o Espírito Santo que está em nós.
Outro texto, como exemplo, é o de Jesus, quando foi batizado. Ali ouviu-
-se uma voz que dizia: “Esse é o meu filho a quem eu me alegro”, por que Jesus
era o filho que alegrava o Pai? Porque ele fazia tudo conforme o coração
do Pai, Jesus disse: “a minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e
realizar a sua obra.” A comida significava o que dava prazer, alegria, satisfa-
ção, entusiasmo!
No Sermão do Monte, quando Jesus disse que o homem feliz era o
homem que conseguia experimentar emoções adversas ao que ele sentia,
mas ao mesmo tempo era feliz, parece um paradoxo, porque aos nossos
olhos é quase o inverso do que estava sendo dito. Feliz não é o que chora,
mas o que dá gargalhadas. Feliz não é o perseguido, mas aquele que tem
força para perseguir. Feliz não é o pobre, mas aquele que tem condições, e
assim por diante.
129
Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus; Bem-
aventurados os que choram, porque eles serão consolados; Bem-aventurados
os mansos, porque eles herdarão a terra; Bem-aventurados os que têm fome
e sede de justiça, porque eles serão fartos; Bem-aventurados os misericor-
diosos, porque eles alcançarão misericórdia; Bem-aventurados os limpos de
coração, porque eles verão a Deus; Bem-aventurados os pacificadores, porque
eles serão chamados filhos de Deus; Bem-aventurados os que sofrem persegui-
ção por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus; Bem-aventurados
sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o
mal contra vós por minha causa.
– Mateus 5:3-11
Ser feliz é um atributo de quem, hoje, conseguiu ficar livre das suas emo-
ções, que não vive somente sob estímulos e circunstâncias, mas consegue
compreender algo mais profundo que diz respeito à uma mudança e estado
de viver. O feliz consegue tratar a alegria em circunstâncias desfavoráveis,
porque entende que a sua felicidade não está baseada no que ele está vendo
ou experimentando, mas está baseada no que ele crê.
Um dos autores que gostamos de exemplificar é o profeta Habacuque
que, depois de uma longa conversa com Deus, teve uma revelação de como
deveria ser a sua postura, mesmo não vendo nada favorável a seu redor.
Ouvi isso, e o meu íntimo estremeceu, meus lábios tremeram; os meus ossos
desfaleceram; minhas pernas vacilavam. Tranquilo esperarei o dia da des-
graça que virá sobre o povo que nos ataca. Mesmo não florescendo a figueira,
não havendo uvas nas videiras; mesmo falhando a safra de azeitonas, não
havendo produção de alimento nas lavouras, nem ovelhas no curral nem bois
nos estábulos, ainda assim eu exultarei no Senhor e me alegrarei no Deus da
minha salvação. O Senhor Soberano é a minha força; ele faz os meus pés como
os do cervo; ele me habilita a andar em lugares altos. Para o mestre de música.
Para os meus instrumentos de cordas.
– Habacuque 3: 16-19
4. SINGELEZA DE CORAÇÃO
A singeleza diz respeito ao que é simples, humilde, gentil, nada compli-
cado e nada obrigatório, nada forçado, mas tudo por senso de nos sentirmos
juntos e parte da mesma família. Esse era o sentimento de todo o povo em
Atos 2 quando se sentavam à mesa, partilhavam o pão, as orações e iam
aprendendo mais e mais de Deus.
130
Resumo, a seguir, o que Paulo Jr, escreve no livro DNA e propósito,
páginas 37 e 38:
Precisamos nos esforçar pela gentileza, não podemos nos desculpar nos
“gênios” que trouxemos das famílias, mas precisamos compreender essa
nova natureza segundo o caráter de Deus. Paulo escrevendo à Timóteo diz
para ele ser padrão no trato, sendo a referência, o exemplo, o testemunho.
Inclusive, o pedido dele em oração era esse, era um apelo à generosidade e
gentileza, “orem comigo para que minha palavra seja sempre temperada com sal
para que saibais como vos convém responder a cada um.”
Esse também deve ser o nosso apelo: que Deus nos ajude a sermos gentis,
de forma a comunicar sem violentar. Que nos ajude a nos fazermos compre-
endidos, de fácil assimilação. Isso é ser sal, alguém que dá o sabor deixando
o alimento agradável, palatável. Ser gentil é ser temperado, moderado,
misericordioso, disposto.
Gentiliza é submissão, é comunicar o interesse do outro ao invés do meu.
É ajudar as pessoas a alcançarem seus objetivos ao invés de usá-las para me
ajudar a alcançar o meu. Se esta for a nossa posição diante das pessoas será
fácil perdermos a paciência, pois passamos a achar que os outros atrapa-
lham nossos planos.
O caminho para Deus é o caminho para o outro. Cremos nisso e, por-
tanto, é preciso reavaliar constantemente se os objetivos são de Deus ou
apenas nossos. Os objetivos que são Dele ninguém pode atrapalhar. O que
vem de Deus é o caminho para o outro. E o amor não se irrita, o amor é
totalmente gentil.
A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para que saibais
como vos convém responder a cada um.
– Colossenses 4:6
CONCLUINDO
Precisamos compreender o que Deus fez em nós e através de nós. Somos
esses rodeados de testemunhas e precisamos deixar o embaraço e também o
pecado que tão de perto nos rodeia, e correr com perseverança a carreira que
nos está proposta, olhando firmemente para Jesus, o autor e consumador da
nossa fé, o qual pela alegria que lhe estava proposta suportou a cruz, des-
prezando a ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus (Hebreus).
Ele suportou tudo e, agora, não nos cansando e nem nos desfalecendo em
131
nossos sentimentos, nós continuamos firmes reconhecendo Jesus como o
nosso Senhor, que morreu por nós para que pudéssemos ter vida e vida
em abundância.
Podemos e devemos viver como aqueles irmãos em Atos 2 que tinham
uma alegria enorme e uma singeleza de coração!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
• Bíblia Sagrada
• Competência Social e Habilidades Sociais – Almir e Zilda del Prette
• DNA e Propósito – Paulo Borges Jr
132
12
CULTO A DEUS
Olgálvaro Jr
@olgalvaro
133
O
tema deste capitulo é a disciplina de culto a Deus. Antes de tudo, é
preciso saber que o culto não se restringe apenas ao momento de litur-
gia pessoal ou do ajuntamento onde 2 ou mais discípulos se reúnem
para adorar o Criador como a assembleia de Cristo. Culto a Deus fala de um
estilo de vida, uma expressão diária de devoção a Deus em tudo o que faze-
mos. Paulo, o apóstolo, nos diz, em sua carta aos Coríntios, capitulo dez,
verso trinta e um, que tudo o que fizermos precisa ser feito para a glória de
Deus. Cultuar a Deus é glorificá-Lo. E fomos criados para isso, para adorar
a Deus, glorificando-O em tudo que fazemos.
Esta é a conclusão da maioria dos estudiosos quando se busca uma res-
posta para o motivo da criação do homem. Portanto, não se pode perder
de vista que a nossa vida deve ser um culto contínuo ao Criador. Tudo o
que somos e fazemos deve revelar culto a Deus, demonstrar adoração ao
nosso Deus e Pai, através de seu Filho Jesus, conduzidos pela unção do
Espírito Santo.
A partir disso, a reflexão, aqui, tratará do retorno a essa missão, abor-
dando ainda, a disciplina do culto pessoal e na vida das igrejas locais, como
fruto de uma vida de adoração contínua.
A palavra disciplina tem origem no latim, que significa instrução e dou-
trina principalmente no campo moral, habituado e acostumado. É usada,
também, para definir um campo de conhecimento e estudos como temos
nas escolas e universidades. Temos, ainda, o significado de observância as
regras e leis e ordenamentos de um grupo como na vida militar, na escola
ou religião. Uma pessoa disciplinada é aquela que cumpre suas responsabi-
lidades e objetivos com constância e consistência. Os sinônimos são, ordeiro,
metódico, ordenado, organizado e sistemático.
Culto bíblico, na tradição do Antigo e Novo Testamento, é uma resposta
do homem a bondade do Criador, é uma forma de se curvar diante da sua
grandeza em reverência, momento de leitura e ensino da Palavra de Deus,
a Bíblia, oração e intercessão. Temos os salmos, hinos e cânticos espirituais,
os sacramentos como batismo, a ceia do Senhor e as ofertas, ainda com ser-
viços mútuos e testemunhos que edificam. Estes são alguns dos elementos
que, independente do formato ou tradição denominacional, ou ainda cultu-
ral, devem ser parte da liturgia dos cultos a Deus.Tudo com arte e excelência
para glorificar ao Rei dos reis.
Ao olharmos para as diversas passagens bíblicas que falam de nossa
devoção e culto a Deus, vamos encontrar muitas orientações sobre o culto
ao Senhor da Glória: a adoração ao Pai em espírito e verdade (João 4:23), a
afirmação de que quando estamos reunidos em nome de Jesus em dois ou
mais, ali o Senhor está ( Mateus 18:20) e de que nossa vida em sacrifício vivo,
134
santo e agradável é nossa adoração espiritual (Romanos 12:1), que oferecer
sacrifícios de louvor continuadamente é, também, nossa adoração espiritual
(Hebreus 13:15). A Bíblia diz ainda que apenas ao Senhor devemos adorar e
só a Ele servir (Lucas 4:8), que devemos adorar e nos curvar nos ajoelhando
diante do Senhor (Salmo 95:6), que temos de ter um coração grato e ofere-
cer a Deus uma adoração aceitável com reverência e admiração (Hebreus
12:28). Devemos atribuir a glória devida ao seu nome e trazer uma oferta
diante dEle (I Crônicas 16:29). Devemos cantar e louvar o Senhor, pois Ele
nos libertou (Jeremias 20:13). Que quando clamamos e oramos, Ele nos ouve
(Jeremias 29:12). Que adoramos a Deus pelo Espírito Santo (Filipenses 3:3).
Devemos trazer as ofertas semanalmente como Paulo (I Coríntios 16:1-2),
devemos tomar a ceia juntos como memória até que Jesus volte (I Corintios
11:25-26 e Atos 20:7), devemos orar e cantar no espírito, mas também com
entendimento (I Corintios 14:15-16 e Efésios 5:19). Nossas orações sempre
dirigidas a Deus através de Jesus.
Portanto, somente os que são de Cristo podem adorar a Deus genuina-
mente. Cultuar, adorar a Deus fala da nossa identidade, fala do que somos,
nascidos para louvar e adorar, para dar glória a Deus, e em nossa vida pes-
soal, ou comunitária, devemos fazer tudo com reverência, temor e tremor
diante do Senhor da glória.
1. VOLTANDO A MISSÃO
Nosso tema é o culto pessoal e congregacional, mas, como já dito, é muito
importante entender a missão de vida como culto a Deus. Esta compreensão
nos tira do reducionismo dualístico em que muitos vivem, dividindo vida
diária e vida religiosa, santo e profano, trabalhador e adorador, entre a hora
de culto e do lazer.
Temos de compreender que adorar a Deus envolve obediência, cum-
prir todo o querer de Deus em nossa vida. Adorar e glorificar a Deus
revela o nosso amor a Ele. Jesus nos ensina que a obediência revela este
amor. Portanto, temos de entender a Missão, o propósito, a adoração em
135
movimento de vida, para além do culto congregacional. Esta compreensão
maior, mais ampla de cultuar é que nos ajudará a compreender o porquê e
para que nos ajuntamos como discípulos para os nossos cultos solenes.
Quem glorifica a Deus é aquele que dá fruto (João 15)! Conforme nosso
Senhor nos ensina; o Pai é glorificado quando somos impelidos pelo Espírito.
Vivemos no Espirito e revelamos o Amor de Deus àqueles que ainda não O
conhecem. Desta forma, somos os agentes de revelação da glória de Deus
por onde formos.
Para isto, reforço um fundamento de prática de vida de um verdadeiro
discípulo de Cristo que é a ordem de Jesus registrado por Mateus em seu
evangelho. Ali, Jesus nos dá uma linha de vida prática e processo claro na
jornada com o Criador.
Jesus nos mostra o que, como, onde e quando devemos fazer. Toda nossa
ação, como discípulos e como comunidade de discípulos, precisa ter como
base esta ordem. Isto vai definir as prioridades de nossa vida e afetar, dire-
tamente, como realizamos nossos cultos públicos a Deus.
Jesus, depois de viver com seus discípulos e de se revelar a eles plena-
mente, de repartir toda a sua vida, deixa uma missão clara de como seus
seguidores deveriam viver. Assim, cumprir a ordem de Jesus não é uma
opção, ou uma possibilidade, uma escolha, mas é uma condição do ser seu
discípulo, é a natureza, a identidade dos que seguem a Cristo.
No Evangelho de João, vemos que nosso Pai é glorificado, é exaltado,
quando damos muito fruto, o que nos mostra que revelar o fruto do espí-
rito de Deus em nós tem a ver com fazer discípulos de Cristo em nossa vida.
Portanto, o ir fazendo discípulos é o mesmo que ir glorificando, adorando e
louvando a Deus, ou seja, vivendo para Deus, um estilo de vida que glori-
fica seu grande nome, gerando novos seguidores de Jesus, o Cristo.
Este movimento intencional é em direção aos povos, às pessoas, de todas
as partes, de todas as raças, tribos, etnias que estão espalhados, seja longe ou
perto de nós, vizinhos de nossa casa e, também, àqueles que estão do outro
lado do mundo. Algo que nos faz mover, sair de nosso lugar de conforto,
acostumado, para encontrarmos aqueles que ainda não conhecem o Criador.
136
É um esforço diligente para ensinar tudo o que de nosso Mestre aprende-
mos, de acordo com as Santas Escrituras, levando pessoas à se renderem ao
senhorio de Cristo e ao batismo.
Obedecendo ao Senhor, temos a garantia que durante esta jornada de
vida, Ele estará conosco até o fim, esta promessa nos dá a confiança e a
certeza de que nunca estaremos sozinhos, pois Ele sempre se fará presente
através do Espírito Santo que nos assistirá e nos empoderará, dando-nos
autoridade para cumprirmos tudo o que Ele nos confiou para fazermos.
Então, uma vez entendendo a razão de nossa existência, que é a de ser
adorador em busca de mais adoradores, temos um modelo de vida de igreja
registrado como referência para todos nós, até que Ele volte.
2. CULTO PESSOAL
Temos um grande desafio em nossos dias, que é a falta de disciplina de
nosso culto devocional pessoal a Deus. Vemos muitas pessoas frequentando
igrejas locais sem o hábito da leitura da Palavra, da adoração, da oração com
súplicas e ações de graças na sua vida diária.
Pesquisas mostram que, dos adolescentes que se identificam como cris-
tãos evangélicos na América Latina, apenas 1 em 5 dizem que leem a Bíblia
semanalmente. Isso revela a falta de culto pessoal e de intimidade com o
Criador no dia a dia de toda uma geração. Muitos, na minha geração, que se
consideram cristãos, também não têm a disciplina do culto pessoal.
Quantas vezes você se dedica a um tempo a sós com Deus? Quantas
vezes você leu a Bíblia na última semana, ou como está a sua vida de adora-
ção e de devocional?
A disciplina do culto pessoal é importante para amadureceremos na rela-
ção com Cristo e com a Missão Dele. Sem devoção pessoal, não teremos
como mergulhar mais profundamente na adoração comunitária e de uma
vida piedosa e pura com nosso Senhor e com a nossa família de fé.
Como discípulo de Jesus, tenho de ter meus momentos de culto pessoal
e individual a Deus, com oração no quarto a sós com o Pai, leitura bíblica,
estudo e meditação da Palavra, um tempo de louvor e adoração com cânticos
que celebram a Cristo como nosso Senhor e Rei. Quanto mais nos apresenta-
mos a Ele em intimidade, mais parecidos com Jesus nos tornaremos.
Então, a disciplina de cultuar a Deus regularmente é fundamental
para o crescimento espiritual de todo discípulo de Jesus e a participação
na adoração, no culto comunitário com a igreja local é fundamental neste
desenvolvimento e maturidade na vida cristã. Vida de comunidade é essen-
cial na jornada do cristão!
137
Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos
admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxim
– Hebreus 10:25 (ARA)
“Portanto, que todo o Israel fique certo disto: Este Jesus, a quem vocês crucifi-
caram, Deus o fez Senhor e Cristo”. Quando ouviram isso, ficaram aflitos em
seu coração, e perguntaram a Pedro e aos outros apóstolos: “Irmãos, que fare-
mos?” Pedro respondeu: “Arrependam-se, e cada um de vocês seja batizado
em nome de Jesus Cristo para perdão dos seus pecados, e receberão o dom do
Espírito Santo. Pois a promessa é para vocês, para os seus filhos e para todos
os que estão longe, para todos quantos o Senhor, o nosso Deus, chamar”. Com
muitas outras palavras os advertia e insistia com eles: “Salvem-se desta gera-
ção corrompida!” Os que aceitaram a mensagem foram batizados, e naquele
dia houve um acréscimo de cerca de três mil pessoas. Eles se dedicavam ao
ensino dos apóstolos e à comunhão, ao partir do pão e às orações.Todos esta-
vam cheios de temor, e muitas maravilhas e sinais eram feitos pelos apóstolos.
Os que criam mantinham-se unidos e tinham tudo em comum. Vendendo
suas propriedades e bens, distribuíam a cada um conforme a sua necessidade.
Todos os dias, continuavam a reunir-se no pátio do templo. Partiam
o pão em suas casas, e juntos participavam das refeições, com ale-
gria e sinceridade de coração, louvando a Deus e tendo a simpatia
de todo o povo. E o Senhor lhes acrescentava diariamente os que
iam sendo salvos.
– Atos 2:36-47 (NVI-PT), grifo meu
138
onde aprendiam juntos o que os apóstolos ensinavam. Ali louvavam a Deus,
como também de casa em casa e, neste mover, as pessoas iam sendo acres-
centadas a comunidade diariamente.
Temos um modelo de vida de igreja que precisa ser aprendido e colo-
cado em prática na vida pessoal e na comunidade de discípulos. Portanto,
olhemos para as práticas de Atos como uma referência de vida de adora-
ção, de culto a Deus, não apenas para nossa vida individual, mas, acima de
tudo, para nossa vida como comunidade de discípulos.Uma referência de
culto inspirador!
4. CULTO INSPIRADOR
Se a igreja em Atos nos serve como referência de culto inspirador, a per-
gunta, então, a ser feita é, como cultuar a Deus em nossa vida de igreja local?
O livro, “O Desenvolvimento Natural da Igreja” pode nos ajudar nesse res-
posta. Ele é uma obra fruto de pesquisa com 50 mil igrejas locais em 70
países. Os autores do livro, depois de um extenso trabalho, chegaram a
conclusão sobre alguns fatores comuns que estavam presentes em igrejas
saudáveis e que cresciam. São oito marcas essenciais das igrejas saudáveis,
uma delas é Culto Inspirador. Esta marca é uma que separa igrejas saudá-
veis que crescem, daquelas que se encontram estagnadas ou já em declínio.
Uma questão vista nas avaliações com líderes de igrejas é sobre qual tipo
de liturgia do culto deveriam adotar, se o culto deveria ser com uma lingua-
gem mais formal, mais voltado para os crentes maduros, ou uma liturgia
mais contemporânea, voltada para o visitante. No livro, a conclusão da pes-
quisa é que isto não define o crescimento saudável.
Seja qual for a liturgia adotada, o que fará diferença será quando quem
participar do culto testemunhar “uma experiência inspiradora”. E, para eles,
“Experiência Inspiradora, é que os que vão ao culto, acham divertido participar, é
bom estar lá”.
Para entender melhor o termo utilizado de definição da experiência de
quem cultua, talvez a melhor definição seja, “é uma alegria participar”. Algo
como o salmista registrou, “me alegrei com os que disseram vamos a casa do
Senhor”! (Salmo 122)
Ao olhar uma pesquisa deste porte, talvez, a primeira reação de alguns
seja, mas o culto não é para agradar pessoas, mas é para Deus. Aliás, os
autores do livro já identificaram este questionamento e encontraram uma
percepção entre alguns cristãos de igrejas não saudáveis de que ir ao
culto é apenas um dever do crente e não esperam que seja uma experi-
ência agradável.
139
Os pesquisadores encontraram um paradigma muito forte para alguns, e
não poucos, de que ir a um culto chato e desagradável é, de alguma forma,
para estes, um bom testemunho de fidelidade a Deus e até gera créditos
a quem cultua. Ou seja, alguns veem, no culto, uma forma de penitência,
assim como vimos durante anos, e, até hoje, muitos têm a oração como
uma forma de pagar pelos pecados cometidos, e não a oportunidade de se
relacionarem e desfrutarem de intimidade com Deus.No entanto, estas igre-
jas não crescem.
Já no livro de Malaquias, vemos Deus trazendo juízo sobre a vida do
povo, pela forma como se portavam no culto solente. As pessoas despreza-
vam o nome de Deus, porque não se alegravam ao adorá-lo e diziam que
aquilo era algo enfadonho e cansativo. Suas ofertas eram contaminadas e
defeituosas. Deus não recebeu tal culto, não se alegrou com aqueles que fize-
ram de Sua mesa, algo desprezível. O profeta revela este desagrado de Deus
a ponto de afirmar que era melhor fechar a porta do tempo e não deixar nin-
guém entrar no santuário para adorá-Lo daquela forma. (Malaquias 1:10)
A ideia de um culto que não é prestado com todo o coração e com o
melhor que temos, não agradará a Deus. É preciso fazer sempre o nosso
melhor para Ele com gratidão e alegria.
No testemunho da igreja em Atos, vemos como Lucas registra que a reu-
nião dos seguidores de Jesus era atrativa. Havia vida, poder, alegria, profecia
e, desta forma, as pessoas iam sendo atraídas e acrescentadas diariamente a
comunhão. Era um culto inspirador! A igreja crescia!
Portanto, podemos crer que um culto inspirador é uma das formas de
atrair e levar a mensagem da cruz aos que precisam ser salvos.Não há duvi-
das de que Igrejas saudáveis que crescem, têm um culto inspirador.
O culto congregacional tem grande relevância na formação da comuni-
dade dos discípulos de Jesus. Quanto mais o tempo passa, mais relevante
é esta prática para nossa caminhada de fé, pois há um derramar de vida
quando os irmãos vivem em comunhão, quando adoram, cantam, oram,
celebram, ofertam, testemunham, meditam juntos.
Comunidades de fé que têm cultos inspiradores exercem grande impacto
na vida das pessoas que buscam um encontro com Deus, que querem uma
verdadeira experiência espiritual.
5. UM TESMUNHO PESSOAL
Em nosso ano sabático, nos Estados Unidos, queríamos, como família,
encontrar uma igreja em que pudéssemos ser ministrados. Eu e Fabiana,
minha esposa, buscávamos um lugar onde nossos filhos (naquela ocasião
140
dois estavam na adolescência e a mais nova com 10 anos), se sentissem bem,
pudessem gostar de estar na comunhão e, assim, tivessem desejo de viven-
ciar coisas profundas com o Criador.
Depois de visitar varias congregações, um amigo indicou uma igreja
batista chamada Church by The Glades. Foi amor a primeira vista, ou amor
a primeira experiência! Todos da família amaram estar e participar daquela
comunidade! Um culto alegre, com muita arte e excelência no que faziam,
uma palavra que revelava a doutrina dos apóstolos, um culto que nos levava
a rir, chorar, gostar de estar e, mais que isto, que gerava, em nós, o desejo de
levar nossos amigos para terem a mesma experiência.
Eu me perguntava como tantas pessoas estavam sendo atraídas para
aquela comunidade, pensava de onde vinha tantos visitantes aos cultos.
Então, percebi, que o segredo do crescimento daquela comunidade estava
na alegria das pessoas em participarem daquela comunhão, daquela cele-
bração. Os que estavam ali, assim como nossa família, compartilhavam com
outras pessoas o quão bom era vivenciar aquela experiência, assim, a igreja
recebia, a cada celebração mais e mais pessoas que chegavam através dos
que estavam alegres em participar. Como vimos na pesquisa do livro, que
definiu “culto inspirador” como aquele em que as pessoas dizem ser uma ale-
gria participar, havia, ali, aquele mesmo desejo.
Por outro lado, me recordo de uma conversa mais recente com alguns
pastores amigos em que falávamos de igrejas saudáveis que cresciam e
daquelas comunidades que estavam minguando, com pessoas desanima-
das. Contei como a nossa comunidade estava em um momento de muita
alegria, que muitos estavam animados e traziam seus amigos para comu-
nhão e que, por vezes, recebíamos visitantes que eram trazidos por irmãos
de outras comunidades da nossa família de igrejas Sal da Terra. Estes diziam
que não levavam seus amigos nas suas comunidades porque lá eles não
teriam uma boa experiência no culto.
Perguntei àqueles lideres porque isto estava acontecendo, porque a comu-
nhão e celebração das igrejas não estavam atraindo os que precisavam ser
salvos, por que alguém leva um amigo a outra comunidade que não a sua?
A resposta foi simples; o culto não é inspirador.
Reforço que, ao falar de culto inspirador, não aponto para estruturas téc-
nicas, ou qualidade do local, tudo isto pode ajudar, mas, muitas vezes, a
questão está mais para uma falta de zelo na preparação e intencionalidade
de entregar um culto com excelência a Deus do que qualquer outra coisa.
É possível, sim, ser simples, rústico, e mesmo assim oferecer algo gostoso
e alegre de participar. Usando como ilustração uma festa de família, não
precisa da casa grande com piscina e comida sofisticada. Ela pode acontecer
141
na casa com fogão a lenha, com frango e macarrão... mas, se for bem prepa-
rada, se o ambiente for alegre, muitos desejarão estar na festa. Tenho lindas
recordações de infância de festas na casa de minha avó. Não havia grandes
recursos, mas era bom estar ali, era bom encontrar tios, primos e amigos.
A reunião de família tem muitas demandas, atender avós, pais, filhos,
tios, primos... Então, quem promove o encontro pensa em como preparar o
ambiente, perfumar, quantas cadeiras e mesas serão necessárias para todos
sentarem. Tudo deve estar pronto para quando as pessoas chegarem, tudo
planejado! Que música animará o ambiente, que atividades teremos para as
crianças, qual será o cardápio? Vamos agregar amigos, outros convidados?
Assim é, também, o encontro da família da fé. Aliás, por muito tempo
nossa comunidade se reuniu no fundo da casa de um dos líderes, com piso
de brita e telhas de barro e sem paredes. Depois, se mudou para um barra-
cão de telhado metálico (um calor daqueles!), mas era bom estar ali, casei
ali, e as fotos registraram as paredes manchadas de infiltração. Aquela era a
nossa igreja, a nossa comunidade, e era muito bom ser parte daquela família!
Portanto, somos testemunhas de que culto inspirador não significa sofistica-
ção ou o conforto, mas uma experiência espiritual que nos cativa.
Algumas praticalidades que independem de recurso recurso financeiro
ou estruturas físicas precisam ser observadas, começando pela limpeza
do lugar, a preparação da música a ser compartilhada, um programa que
valoriza o tempo, a pontualidade no horário, um sermão bem preparado e
entregue com o vigor do Espírito Santo... Tudo isto, movido em oração, pro-
duzirá uma força de atração incrível.
Depois de muita conversa com aqueles pastores, perguntei quem ali, se
não fosse o pastor da sua igreja, continuaria a participar da comunidade
que pastoreiam.Alguns deles disseram que se não fossem os pastores, não
fariam parte daquela igreja. Agora, pense comigo, se nem mesmo o pastor
está alegre em participar da igreja que pastoreia, quem estará? Quem levará
os amigos para aquela comunidade? Com certeza comunidades assim já
estão estagnadas ou já em decadência.
Se perdermos de vista a ordem de Jesus para fazermos discípulos, de
irmos em busca daqueles que ainda estão perdidos e desejosos de encon-
trar a vida, oferecemos um culto sem disciplina. Não prepararemos a mesa
com o zelo necessário, para que aqueles que chegam se sintam bem-vin-
dos e acolhidos. Os de casa, aqueles que já têm relacionamento uns com
outros até suportam reunião de família ruim, mas os que ainda não foram
alcançados, não.
142
O culto congregacional é o momento da celebração, da comunhão, onde
juntos buscamos a face do Senhor em adoração e onde Ele responde com
vida abundante. E é incrível como muitas comunidades não têm tratado
este momento solene com a devida atenção e dedicação.
Diante disto, outra pergunta é, quem deve cuidar de tudo?
Todos aqueles que se sentem responsáveis pelo encontro, e normalmente
são os mais maduros, aqueles que sentem o privilégio de servir a mesa, os
que estão dispostos a pagar as contas, de acolher! São estes que vão cuidar
para que o encontro seja gostoso, alegre de se estar, útil para transformar a
vida daqueles que participarem. Falo mais sobre este privilégio e responsa-
bilidade dos discípulos mais maduros no meu livro, Discípulos.
Então, voltemos a Missão, como discípulos e como igrejas locais pre-
cisamos rever a importância e o zelo que temos dado a reunião, ao culto
congregacional, ao encontro da família. E, também, pensarmos como é a
experiência daqueles que a família está trazendo para nos visitar. Pois, se
estamos sempre em Missão de revelar o Amor de Deus em nosso estilo de
vida comunitária, qual a importância eu pessoalmente tenho dado ao culto
congregacional? E, nós, como comunidade de discípulos temos dado o
devido valor a esta disciplina?
Depois disso Moisés e Arão foram falar com o faraó e disseram: Assim diz
o SENHOR, o Deus de Israel: ‘Deixe o meu povo ir para celebrar-me uma
festa no deserto.
– Êxodo 5:1(NVI-PT)
Deus afirmou: Eu estarei com você. Esta é a prova de que sou eu quem o envia:
quando você tirar o povo do Egito, vocês prestarão culto a Deus neste monte.
– Êxodo 3:12 (NVI-PT)
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Deus tirou seu povo da escravidão do Egito para que pudesse prestar
culto, adorá-Lo. Há uma versão que fala de celebrar festa ao Senhor, mas
como é uma festa a Deus?
Como celebrarmos, com alegria e reverência, o Deus Santo e Único?
Deus dá ordens ao seu povo para cultuá-Lo, para que pudessem enten-
der quem eles eram, e como deveriam viver. Após saírem do Egito, Deus dá
uma ordem para que fosse construído um tabernáculo, um templo móvel
que acompanharia o povo na peregrinação pelo deserto.
Temos, no Tabernáculo, um modelo de adoração, que nos aponta e revela
quem Jesus é. Ele é a figura de Cristo e, segundo alguns estudiosos bíblicos,
é a construção mais perfeita que já produzimos; é um projeto divino que
mostra, de forma didática, todo o plano de redenção e culto a Jeová, nosso
Deus e Senhor.
144
Todo o Tabernáculo é uma figura do caminho da adoração, do culto a
Deus, a começar das suas dimensões, da cerca de linho, da porta única, do
altar de oferta, do pátio, da pia de bronze, da tenda com dois cômodos onde
havia o santo e o santíssimo lugar e todos os seus utensílios. Até mesmo a
orientação de que ele deveria ser montado no meio do acampamento das
tribos de Israel era um sinal de Deus a nós.
Quero citar alguns destes elementos e seus significados para nossa com-
preensão de um modelo de culto a Deus.
• Altar de Bronze, Êxodo 27:1-8
• Pia de Bronze, Êxodo 30:17-21
• Mesa de Pães, Êxodo 25:23-30
• Candelabro, Êxodo 25:31-40
• Altar do incenso, Êxodo 30:1-9
• Arca da Aliança, Êxodo 25:10-22
145
tenda, no LUGAR da Comunhão, com nossas obras, os nossos feitos, era
necessário purificação nas águas pelo próprio Deus. Somos lavados, purifi-
cados pela Palavra e pela oração.
Os pés significavam a caminhada, o rumo da vida, que precisavam com-
preender sua jornada de consagração, de anunciar os feitos, levar as boas
novas. Como registra o salmista que diz: “quão formosos são os pés dos que
anunciam as boas novas”.
Diante da Pia de Bronze, nos vemos no reflexo de um espelho como
de fato somos, e podemos confessar nosso pecado para, assim, entrarmos
na Tenda da Comunhão, purificados de toda maldade. Essa purificação e
encontro com a nossa missão nos levará para mais próximo dEle. Então, em
nosso culto, devemos ter tempo de confissão de pecados.
Mesa de Pães, Êxodo 25:23-30
Agora, já estamos dentro da Tenda da Comunhão, o próprio Tabernáculo,
chamado de Santo Lugar, onde estava a Mesa dos Pães da Proposição.
Havia, continuamente, 12 pães sobre a mesa que representavam as 12
tribos de Israel e que simbolizavam, também, a unidade nacional. Os pães
eram oferta a Deus e somente os sacerdotes poderiam comê-los. O que
revela que, no culto, há um lugar de comunhão, de estar juntos com aqueles
que estão em adoração ao Deus vivo e verdadeiro.
Comunhão, ou Koinonia no grego, significa que só é possível ter comu-
nhão com aqueles os quais têm o mesmo Espírito. Aqui deixa de ser o lugar
do louvor e se revela uma intimidade profunda com Deus. É comunhão com
Deus e com os irmãos.
Culto a Deus tem de ter comunhão, partir do pão, oração, um só espirito.
O Candelabro, Êxodo 25:31-40
Outro utensílio era o candelabro, a lâmpada que iluminava todo cômodo,
como um sinal de que tudo que fizessem na tenda deveria ser feito na luz
que ali iluminava. Nada poderia ser feito fora da luz de Deus. Seu entalha-
mento, com lírios e romã, é uma lembrança do Jardim do Éden. O candelabro
lembrava uma árvore e seus frutos, mais um objeto de ouro batido que lem-
bra pureza e realeza. Conhecido como Menorá, é também símbolo do estado
de Israel. O candeeiro, como também é conhecido, era a única luz que res-
plandecia no tabernáculo, nem uma luz externa entrava na tenda e estava
colocado do lado oposto da mesa dos pães.
O candelabro significava que o próprio Deus seria a luz do lugar da
comunhão, mostrava o caminho de luz na direção da presença do Rei.
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Ele era um objetivo único, feito em uma só peça, que revelava a unidade.
Não havia nele nenhuma parte separada. Ele era composto de uma haste
central com seis ramos que saiam de cada lado, que revelam os 7 espíritos de
Deus, como vemos em Apocalipse. Todos os ramos ligados em uma única
fonte de óleo que significava que temos uma só fonte, todos “bebemos” do
mesmo Espírito, somos parte um do outro.
O lugar era iluminado pela presença do Espírito que era simbolizado
pelo azeite que alimentava e queimava no candeeiro e devia permanecer
aceso em todo tempo. É importante entender que não havia luz natural
dentro da Tenda, não havia janelas e nem outra entrada que pudesse vir
luz, isto significa que, se queremos estar na presença de Deus, a luz que nos
ilumina vem do Espírito. Se queremos seguir as coisas naturais, teremos de
sair da presença de Deus. Se quisermos estar, continuamente, na Sua pre-
sença, é a Luz do seu Espírito que nos iluminará.
A Palavra era a fonte da vida, e essa vida trouxe a luz para todas as pessoas.
A luz brilha na escuridão, e a escuridão não conseguiu apagá-la.
– João 1:4-5 (NTLH)
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Recebe a minha oração como se fosse incenso, e que as minhas mãos levanta-
das sejam como a oferta da tarde!
– Salmos 141:2 (NTLH)
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Tinha também, na Arca da Aliança, um pote de maná que lembrava
aos filhos de Israel que o Senhor supriu a vida deles no deserto com o
pão que desceu do céu. E, ainda, a vara de Arão que, apesar de ser um
pedaço de madeira seca, pelo milagre de Deus floresceu, demonstrando seu
poder sobre a morte.
Todos estes elementos, tanto as tábuas da lei, o pote de maná e a vara de
Arão, são figuras de Cristo. É Ele quem vem escrever em nossos corações a
sua lei, Ele quem é o verdadeiro pão que nos foi dado do céu, é quem Deus
trouxe da morte para vida, para que, pela sua ressurreição, todos nós tivés-
semos vida Nele.
Quero destacar o propiciatório, ou mesa da graça, que significa lugar
que Deus é propício ao homem. Apesar de parecer como sendo parte da
Arca, ele era um objeto a parte que tinha uma função muito importante.
Além de cobrir ou de servir de tampa para a Arca, era o lugar onde o san-
gue era depositado pelo sacerdote como oferta a Deus uma vez por ano, no
dia da expiação.
Então, o Tabernáculo é um caminho que nos leva a entender a obra de
Cristo, um caminho de adoração que começa e termina Nele. No taberná-
culo vemos a forma ordenada de Deus que nos mostra a centralidade da
adoração em Cristo Jesus.
O santo dos santos, agora está aberto a todos, pois nosso sumo sacerdote
entrou para ofertar seu próprio sangue. A cortina, que separava todos da
presença de Deus, já não existe, pois foi rasgada. O véu que nos separava de
Deus, já não separa mais.
Como é linda a forma didática como Deus nos ensina a entrar em sua
presença. Como é maravilhoso ver que o sangue de Jesus, o cordeiro de
Deus, é quem nos possibilita tal ousadia. Por isto, celebramos e cantamos
com júbilo, com todos os tipos de instrumentos, com arte e dança.
Deus sempre levou o seu povo à adoração, tudo com muito zelo e ordem.
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O tabernáculo é uma peça de arte, de detalhes tão maravilhosos que só
um homem cheio do Espirito Santo, poderia construí-lo. Este foi Bezalel, o
primeiro testemunho de enchimento do Espírito para cumprir uma missão,
juntamente com uma equipe capacitada por Deus, que fizeram todo traba-
lho de arte do Tabernáculo.
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7. CUIDADO COM O DUALISMO
Quero destacar, também, o desafio de não cair no dualismo entre
a ação divina e humana, entre a organização e o organismo. O Livro
Desenvolvimento Natural da Igreja trata disto quando fala do paradigma
da espiritualização. Quando aplicamos isso na questão do culto, tende-se a
imaginar que o que é preparado, organizado, roteirizado não é “espiritual”.
Muitos pensam que o mover do Espírito Santo só se faz presente quando
a ordem é quebrada, quando o programado é deixado de lado. Mas não é
assim! Pelo contrário, quando nos propomos a buscar em Deus a liturgia,
o programa, o ensino, a direção de Deus para a congregação e, assim, nos
aplicarmos a fazer o melhor para materializar o que o Espírito nos orientou,
tudo tende a ser mais eficaz.
Nosso Deus é Deus de ordem, de processos, aliás Deus é previsível.
Ele sempre age como disse que agiria! Ele deixou a Sua Palavra escrita
para que pudéssemos ser orientados em todo tempo. Todos os mistérios
Dele foram revelados em Cristo. Ou seja, sabemos como será o final de
tudo, Cristo venceu!
Este entendimento de que o mover do Espírito está apenas no improviso,
não corresponde aos princípios da criação de Deus. Muitas vezes, este tipo
de visão esconde uma atitude de desleixo, de falta de reverência, de desor-
ganização, ou seja, falta de disciplina. E o que estamos trazendo neste livro
é ensinar sobre Disciplina, pessoal e nas igrejas locais.
Portanto, uma disciplina na preparação do culto vai, na maioria das
vezes, gerar uma pregação mais profunda e uma música que elevará as
pessoas a uma experiência mais renovadora. As canções serão preparadas
para afirmar as mesmas coisas da mensagem, reforçando o ensino bíblico,
as artes poderão ser inseridas como fator didático que revelarão graça e vir-
tude do Criador.
Mas é também verdadeiro que apenas uma boa comunicação, uma boa
música e uma boa plástica, sem revelação do Espírito Santo e Seu mover,
não serão suficientes para promover um Culto Inspirador.
Por isto, tudo que for feito, promovido, não pode ser apenas “bonitinho”
ou agradável. Deve ter o propósito de levar as pessoas a presença de Cristo,
pelo poder do Espírito Santo. Então, em oração, devemos buscar sempre a
direção do Espírito Santo para cultuar a Deus.
151
8. UM BREVE RESUMO DE LITURGIAS NAS TRADIÇÕES CRISTÃS
Ao olharmos para a história mais recente, veremos que a igreja adotou
as mais diversas formas de culto, de acordo com a cultura em que estava
inserida. Como sabemos, o ponto de partida é a história de Israel, seja no
deserto, ou a grande obra de Salomão ou no templo de Jerusalém. Seja com
os primeiros discípulos de Jesus, no pátio e nas orações no templo ou, mais
tarde, nas sinagogas, onde Paulo começava a pregar e dali novas igrejas
sendo plantadas. Assim, também, como nas referências de culto de casa em
casa onde o povo de Deus seguia a louvar e partir o pão.
Nos modelos de culto, as igrejas sempre se prezaram pela ordem e inten-
cionalidade na adoração e no ensino da palavra, na oração e na profecia.
Temos, na Carta aos Coríntios, uma orientação sobre a ordem no culto.
Que fazer, pois, irmãos? Quando vos reunis, um tem salmo, outro, doutrina,
este traz revelação, aquele, outra língua, e ainda outro, interpretação. Seja
tudo feito para edificação.
– 1 Coríntios 14:26 (ARA)
Na lei está escrito: Falarei a este povo por homens de outras línguas e por
lábios de outros povos, e nem assim me ouvirão, diz o Senhor. De sorte que
as línguas constituem um sinal não para os crentes, mas para os incrédulos;
mas a profecia não é para os incrédulos, e sim para os que crêem. Se, pois,
toda a igreja se reunir no mesmo lugar, e todos se puserem a falar em outras
línguas, no caso de entrarem indoutos ou incrédulos, não dirão, porventura,
que estais loucos? Porém, se todos profetizarem, e entrar algum incrédulo ou
indouto, é ele por todos convencido e por todos julgado; tornam-se-lhe mani-
festos os segredos do coração, e, assim, prostrando-se com a face em terra,
adorará a Deus, testemunhando que Deus está, de fato, no meio de vós.
– 1 Coríntios 14:21-25 (ARA)
152
Vejamos alguns modelos de liturgias de cultos em nossos dias.
Na história da igreja Católica Romana, a atenção com a liturgia é peça
fundamental no pastoreio de seu rebanho, e é definida pela Sé Apostólica,
ou seja, está a cargo do Vaticano. A liturgia é definida para todas as igrejas
espalhadas pelo mundo. Um dos artigos da carta papal deixa claro a impor-
tância da ordem do culto.
153
Quando buscamos a definição de liturgia nos dicionários, eles definem
como; “a compilação de ritos e cerimônias relativas aos ofícios divinos das igrejas
cristãs. A manifestação central da liturgia é a celebração do mistério da morte e res-
surreição de Jesus Cristo e a prestação de culto a Deus”
As Igrejas reformadas dos primeiros dias, como a Luterana, ajustou a sua
liturgia às tradições católica romana, destacando a oração e cânticos.
Assim, na história, vemos que as novas denominações, as calvinistas, por
exemplo, simplificou, em muito, a liturgia, já a anglicana conservou, em boa
parte, a forma romana em seus cultos.
Podemos ver na Igreja Presbiteriana, em seu documento de Princípios de
Liturgia de 1951, que:
154
Quando olhamos para a arquitetura dos prédios, dos centros de adora-
ção, na história, podemos ver como cada comunidade percebe e tenta dar
forma a sua percepção deste culto. Nada que vemos nas grandes catedrais,
ou nos auditórios mais modernos de nossos dias é apenas cosmético. Os
grandes artificies, projetistas, pintores e técnicos do mundo digital de nos-
sos dias, ao elaborarem seus projetos, tiveram em mente que cada detalhe
deveria apontar para o Cordeiro Pascal, o ensino das Santas Escrituras. As
altas torres das igrejas eram para que elas fossem vistas de qualquer ponto
da cidade ou arraial, a localização na praça central da cidade, era como o
tabernáculo, que estava colocado no meio do arraial, cercado pelo acampa-
mento das diversas tribos, isto mostrava a centralidade da vida em Cristo.
Podemos perceber nas antigas igrejas que o centro era o altar, onde
estava representado o sacrifício de Jesus. Já nas reformadas, vemos o púl-
pito, onde a pregação da palavra toma o lugar de destaque. Já nas igrejas
contemporâneas, a adoração através da música, ocupa este lugar central. E
vamos, assim, percebendo na história como Deus vai tocando cada geração
de acordo com a cultura.
O ponto essencial é, em tudo, seja na oração, na leitura e pregação da
Palavra, nas expressões de artes, na música cantada, nunca podemos per-
der de vista a exaltação do Cordeiro de Deus, sua obra única e perfeita e o
nosso compromisso renovado de levar esta mensagem, fazendo discípulos
de todos os povos e nações
155
Ou seja, como estas pessoas estavam acostumadas à sua igreja local em
uma determinada cidade, ao verem uma expressão diferente daquela viven-
ciada na sua localidade, estranha. Mas sempre digo, justamente porque é
diferente, que é a cara da família Sal da Terra.
Então, entre nós, Sal da Terra há uma diversidade de expressão, uma
liberdade litúrgica para que cada igreja local perceba como deve realizar
seus serviços de adoração a Deus. Nossa orientação é sempre que tudo seja
feito com excelência e reverência ao Senhor.
Nosso testemunho como igreja local, a comunidade que coordeno, é de
buscar sempre uma linguagem que fale a nossa geração, por isto adotamos
uma forma litúrgica bem contemporânea.
Converti no final dos anos 1988, ainda quando éramos a Igreja
Presbiteriana do Brasil no Jardim Karaíba em Uberlândia MG. Mas, naquela
ocasião, nossos cultos já tinham uma “cara” mais contemporânea do que a
igreja central que plantava aquela nova congregação no bairro. A música
fugia dos padrões dos hinos tradicionais, a programação do culto era mais
livre, as expressões de arte já eram usadas. Liturgicamente, era algo menos
austero, mas sempre com muita reverência. Sempre tivemos um culto com
muita alegria! Lembro-me que contava os dias para o próximo culto, sempre
foi gostoso estar nos cultos, celebrar, encontrar os irmãos.
Também temos em nossas raízes uma vocação muito evangelística. Desde
o início, não havia culto em que não houvesse um apelo, uma chamada ao
arrependimento e entrega a Jesus como Salvador. Então, foi neste ambiente
de culto que comecei a minha jornada de fé. Alguns duravam 4 horas, com
muita música, testemunho, oração, apelo, pregação, apresentação musical...
Era uma festa de quem estava muito, muito alegre de conhecer a Cristo e
exaltar seu santo nome.
Então, em toda minha caminhada como jovem convertido e, até hoje,
como pastor de uma grande família de igrejas, compreendi que a experiência
no culto congregacional é algo de extrema importância para quem inicia sua
jornada de fé e uma grande oportunidade de servir para quem já é maduro.
Por istom nosso empenho tem sido de trabalhar para quem assim como eum
outras pessoas possam vivenciar esta experiência transformadora.
No livro “MOVE, de Greg L. Hawwkins e Cally Parkison,” eles comparti-
lham uma pesquisa feita com 1000 igrejas das mais diversas denominações
e lugares. Eles encontraram que cerca de 48% das pessoas que frequentam
os cultos da maioria das igrejas que estão experimentando crescimento, têm
o perfil de novos adeptos ou estão ainda buscando encontrar uma fé. Ou
seja, quase a metade das pessoas no culto estão em um estágio de desco-
berta do Evangelho. É um grupo significativo que precisa ser levado em
156
consideração ao planejarmos nossa programação, para que estes possam
compreender o que é dito, iniciando um crescimento contínuo de estatura
espiritual. No meu livro Discípulo, trato mais afundo sobre os quatro está-
gios nesta jornada.
Hoje, como igrejas, trabalhamos nossos cultos para que o ensino da
palavra tenha primazia, ou seja, sabemos que o que transforma, consola,
anima, dá esperança às pessoas é o conhecimento e prática das Santas
Escrituras, a Bíblia.
Com isto, trabalhamos em Séries de estudos, que são elaboradas para
que durem de 3 a 4 semanas com um tema a ser ensinado. E é importante
destacar que, quando falamos em ensino da Palavra de Deus, não usamos
apenas a pregação, e sim as mais diversas expressões no culto. Uma vez que
definimos o tema, agora, todas as áreas envolvidas vão ajudar a ensinar. Seja
através das letras das músicas ecolhidas, seja pela oração, pelas expressões
das artes, testemunhos, mídia de áudio visual..
Na liturgia do culto, nada é apenas cosmético, tudo é preparado inten-
cionalmente para reforçar o ensino programado. A escola bíblica infantil e
nossa programação com os adolescentes traduzem a mesma mensagem,
preparada por líderes capacitados para adaptá-la na linguagem apropriada
para cada faixa etária.
Temos, também, livros elaborados a partir do tema que são disponibili-
zados no período da Série. E, igualmente, na mesma semana, este ensino é
reforçado nos Pequenos Grupos nas casas.
Toda esta ação começa com a oração e o discernimento do que deve ser
ensinado a igreja em um período definido, seja anual ou semestral. Uma vez
tendo o discernimento, uma equipe multidisciplinar vai cuidar para que
a experiência da congregação seja edificante, inspiradora e contagiante. E,
desta forma, dar as pessoas da família, o privilégio de usarem seus dons e
talentos na edificação do corpo de Cristo.
Nossa missão como família de igreja é revelar o amor do Pai e ensinar as
pessoas a viverem neste amor, levando esta vivencia e experiência ao maior
número de pessoas possíveis. Hoje trabalhamos em três diferentes endere-
ços, buscando proporcionar uma mesma experiência a todos. E seguimos
empenhados na plantação de novas igrejas.
CONCLUINDO
Reforço a importância do culto como uma disciplina espiritual que
começa no seu dia a dia, na sua rotina. E saliento como é fundamental con-
gregar e prestar culto na celebração com a família da fé.
157
Também, como líderes de congregações, igrejas locais, lembro que todos
precisam dar atenção a esta disciplina essencial para a saúde espiritual e
crescimento da igreja e no cumprimento da Grande Comissão que nos foi
dada pelo nosso Senhor.
É tempo de oração e busca por direção e discernimento para saber como
devemos nos organizar para que os nossos cultos públicos sejam uma expe-
riência transformadora do adorador e uma força de atração àqueles que
buscam um relacionamento com o Criador.
158
SIMPATIA, EMPATIA,
APATIA
13
Ariovaldo Carlos Jr.
@ariovaldojr
159
E
m uma época onde sentimentos têm se tornado um ponto de forte influ-
ência nas decisões sobre os rumos de nossas próprias vidas, uma análise
mais profunda sobre o grau de percepção e comprometimento dos indi-
víduos com o evangelho se torna fundamental para que não venhamos a
nos tornar meros ideólogos de uma fé que não produz discípulos genuínos.
Embora tal crise esteja acentuada pelo momento cultural e tecnológico,
há fortes indícios na história de que estes diferentes níveis de engajamento
com a fé são tão antigos quanto a própria igreja de Jesus. Na experiência
comunitária dos primeiros cristãos se verifica a ocorrência de “não pratican-
tes” permeando o universo da espiritualidade. Casos como o de Ananias e
Safira mentindo sobre o valor da oferta (Atos 5), dos que tentavam expul-
sar demônios sem serem discípulos (Atos 19), daquele que Paulo afirma que
deveria ser entregue a satanás pela fornicação que praticava com a mulher
de seu pai (1 Coríntios 5), dos que João denuncia que saíram do meio da
igreja e agora se apresentaram como anticristos (1 João 2) e tantos outros
casos similares. Não, estes “problemas” não são exclusividades da igreja
onde você congrega.
Detectarmos estes padrões e, à luz das Escrituras, pensarmos sobre como
podemos aprimorar nossas estruturas para que possamos aumentar o nível
de afetação da pregação é o que proponho neste artigo.
160
espirituais, temos o dever de conduzi-las até que se tornem maduras o sufi-
ciente para permanecerem em direção à vontade de Deus, mesmo quando
as circunstâncias trouxerem pressões negativas sobre elas.
Em termos óbvios, o reino de Deus se manifesta onde Deus reina. Não
se trata de um sistema, um local físico ou um conjunto doutrinário. A refe-
rência mais apropriada seria de um engajamento profundo com a vontade
do Senhor em todas as áreas de nosso ser. Porém tal comprometimento não
ocorre de maneira tão simples. Com exceção daqueles testemunhos extra-
ordinários (como do apóstolo Paulo, que passou de perseguidor da igreja
a discípulo), a maioria irá formar sua compreensão acerca do evangelho a
partir da experiência da própria caminhada.
161
O natural, diante de elementos visíveis tão chamativos, é que a fé em
Jesus caia na simpatia de todo o povo com muita facilidade. Porém, simpa-
tia não é aquilo que realmente devemos ter como alvo em nossa disciplina
(no que vivemos e no que ensinamos). Ela é apenas o primeiro passo para
que a pregação integral do evangelho ocorra.
Simpatizar com algo significa tornar-se um admirador à distância. O
admirador é aquele que fala bem de Jesus, das obras sociais da igreja, da
transformação da vida alheia... porém não deseja nenhum tipo de compro-
metimento com o processo para sua própria vida. Simpatia é imaginar a
dor do outro, porém não necessariamente estar disposto a dividir tais dores
para alívio daquele que sofre (compaixão).
O simpatizante aplaude o discurso, mas não se compromete com a causa
além da conveniência. É o famoso “evangélico não-praticante” que, há algu-
mas décadas, não existia nem como piada. Ser discípulo de Jesus em uma
igreja evangélica carregava um estigma social pesado. O cristão era provado
em sua coerência o tempo todo, sendo que isto fazia com que não fizesse
sentido professar uma fé que não se materializava.
Nem todo o que me diz: “Senhor, Senhor!” entrará no Reino dos Céus, mas
aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.
— Mateus 7:21 NAA
162
Diante disso, muitos dos seus discípulos o abandonaram e já não anda-
vam com ele. Então Jesus perguntou aos doze: — Será que vocês também
querem se retirar?
— João 6:66-67 NAA
163
Obviamente tal salto de comprometimento dependerá da ação do Espírito
Santo. A fé vem como um presente de Deus ao que recebe o chamado para a
salvação. O Senhor é quem materializa seus desígnios eternos, expressando
o quanto nos deseja e nos atraindo irresistivelmente a si mesmo. Não pode-
mos fazer a obra do Espírito Santo por nossos próprios méritos.
Ao mesmo tempo, não faz sentido algum que sejamos testemunhas inco-
erentes com o que dizemos ter visto e despenseiros de algo que não está
sendo administrado de acordo com os interesses daquele que nos atribuiu
tal função. Basta que estejamos alinhados com o chamado do evangelho e,
naturalmente, apontaremos para Cristo sem que o ruído de nossa personali-
dade gere distorções comprometedoras na comunicação da verdade.
É extremamente provável que a oração do apóstolo Pedro, por meio da
qual um casal (Ananias e Safira) foi exposto em suas mentiras e conduzido à
morte perante toda a congregação, tenha servido como um forte filtro para
aqueles que simpaticamente se agregaram à igreja primitiva. De repente ser
cristão passou a ter um custo elevado de coerência. Quem não estivesse dis-
posto a renunciar a todo o resto, com certeza preferiu passar bem longe dos
discípulos de Jesus.
O motivo pelo qual tal situação ocorreu foi para que ficasse claro que as
coisas de Deus são sérias. O temor que sobreveio sobre todos peneirou as
motivações mais profundas do coração. Temo que, se o Senhor aplicasse
um juízo tão intenso sobre nós, faltariam túmulos. Porém, a longanimidade
de Deus quanto a esta questão da coerência não significa que isto se tor-
nou algo irrelevante. O castigo é iminente. Quer seja com a volta do Senhor,
quer seja com o findar de nossos dias. Todos comparecerão perante o tri-
bunal de Cristo.
Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o
qual é Jesus Cristo. E, se o que alguém edifica sobre o fundamento é ouro,
prata, pedras preciosas, madeira, feno ou palha, a obra de cada um se tornará
manifesta, pois o Dia a demonstrará. Porque será revelada pelo fogo, e o fogo
provará qual é a obra de cada um.
— 1 Coríntios 3:11-13
164
3. APATIA: RECEITA PARA A MORTE
Se a simpatia ainda está no campo da superficialidade, enquanto a
empatia se traduz pela verdadeira conversão, a apatia é o maior inimigo
do evangelho de Jesus. Não, a antipatia não é um problema real. Nossas
crises não vêm daqueles que nem sequer conhecem o evangelho e, por
isso, o desprezam. Estes são o campo missionário que temos por obriga-
ção trabalharmos. O problema real é aquele que, se dizendo irmão, perder
a sensibilidade.
165
Agora, Senhor, peço que me tires a vida, porque para mim é melhor morrer do
que viver. E o Senhor disse: — Você acha que é razoável essa sua raiva? Então
Jonas saiu da cidade e sentou-se num lugar a leste da mesma. Ali construiu
um abrigo, sentou-se na sombra, para ver o que aconteceria com a cidade.
— Jonas 4:3-5
Ao anjo da igreja em Sardes escreva: “Estas coisas diz aquele que tem os sete
Espíritos de Deus e as sete estrelas: Conheço as obras que você realiza, que
você tem fama de estar vivo, mas está morto.
— Apocalipse 3:1
166
ambiente de cura para todas as mazelas da vida. Todas as disciplinas desta
vida só serão genuinamente espirituais se traduzirem o inequívoco compro-
misso de conduzir o próximo ao conhecimento de Deus.
Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço,
e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que
estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação
de Deus em Cristo Jesus.
— Filipenses 3:12-14 NAA
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
• A coragem de ser imperfeito – Brené Brown, 2013, Editora Sextante
• A depressão de Spurgeon – Zack Eswine, 2016, Editora Fiel
• E
logio do Tédio – James K. A. Smith (http://monergismo.com/novo/
vida-crista/elogio-do-tedio-por-james-k-a-smith/)
167
168
E O SENHOR
ACRESCENTAVA OS QUE
14
IAM SENDO SALVOS
César Oliveira
@cocesar
169
A
igreja é orgânica. Assim sendo, o crescimento é parte inerente à saúde
da igreja, de forma que o nosso esforço não é para acrescentar nada à
igreja, mas buscar entender o que tem impedido o seu crescer segundo
a sua origem. Na busca de acrescentar pessoas na igreja, corremos o risco
de ter os nossos esforços aplicados para transformar a igreja naquilo que ela
não é, de maneira que nos tornemos o fator limitador do seu crescimento
em todas as áreas.
Devemos ter o cuidado com a numerolatria, em que uma igreja substi-
tui a missão de Deus pela obstinação, dela e de seus líderes, pelos números
apresentados. Ao mesmo tempo, devemos ter o cuidado com a numerofobia,
que é o medo exagerado de ser do tamanho que Deus nos chamou para ser.
Então, os números não devem ser o fator motivador para o crescimento,
nem a justificativa da inércia para permanecer no conformismo.
O propósito de Deus para igreja local é cumprir sua vocação sem
nenhuma crise de ser quem ela é em DEUS e do tamanho que Deus sonhou.
Ele mesmo se encarrega de acrescentar à igreja aqueles que são salvos.
Neste caminho, vamos começar pelo tema geral e depois seguiremos
para o específico.
170
As marcas que a igreja carregava não eram o caminho que a levava a
Deus, mas era a evidência de que Deus habitava e guiava aquelas pessoas
no caminho que Ele mesmo preestabeleceu.
Então, não se trata de observar o perfil da igreja de Atos e criarmos o
“passo a passo” para atingirmos aquilo que pensamos ser a igreja ideal, mas
buscarmos em Deus a mesma essência que havia no coração desses irmãos e
o que os levaram a viver tamanha entrega e disposição para pregar o evan-
gelho, viver em comunhão, repartir a vida e ter uma vida piedosa em oração.
Trata-se de pensar na igreja primitiva, vivendo seu processo primário.
Gostaria de convidar você a olhar a igreja comigo como alguém que olha
para o desenvolvimento de uma criança, desde o processo gestacional, até
seu nascimento e primeiros passos.
• Uma igreja que foi gerada em Deus, pelo Espírito.
• Uma igreja que aguardava a promessa do Pai
Neste sentido, podemos ver a igreja primitiva no seu estado de infân-
cia e inocência.
Podemos ver a dependência total do Pai, o cuidado do Pai com essa
criança que veio ao mundo para cumprir o seu propósito e a pureza no
viver entre os irmãos.
E como é bom ver como Jesus fala sobre as crianças! Pois ele mesmo disse
que da boca deles vem o perfeito louvor.
E disseram-lhe: Ouves o que estes dizem? E Jesus lhes disse: Sim; nunca les-
tes: Pela boca dos meninos e das criancinhas de peito tiraste o perfeito louvor?
– Mateus 21:16
Jesus, porém, disse: Deixai os meninos, e não os estorveis de vir a mim; por-
que dos tais é o reino dos céus.
– Mateus 19:14
E disse: Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos fizerdes
como meninos, de modo algum entrareis no reino dos céus.
– Mateus 18:3
171
Assim, as características que podemos ver, de forma clara, nessa igreja
evidenciam a sua origem. A perseverança na:
A) Doutrina dos apóstolos
Nunca vi um cristão útil que não seja estudante da Bíblia. Não existem ata-
lhos para a santidade.
– A. W. Tozer
Devemos ter zelo pela palavra de Deus, entendendo que ela é o funda-
mento, o solo seguro para caminharmos, não a abandonarmos e seguirmos
perseverantes nela.
B) Comunhão
Os relacionamentos, para nós, são um princípio e, por isso, requerem
intencionalidade nas relações e esforço para se deslocar em favor do outro.
Com isso, de forma prática, devemos ter pontos de encontros para cultivar
as relações e um ambiente seguro para acolher os novos convertidos.
Existe um provérbio africano que eu gosto muito que diz: “A amizade é
um caminho que desaparece se não pisado constantemente.”
Nossos relacionamentos são sustentados por Cristo. Ele é a base de todas
as nossas relações. Somente, assim, conseguiremos caminhar uns com os
outros, sendo sustentados pelo amor e não por acertos e erros.
C) Partir do pão -
Você não percebe que Jesus é tudo o que você precisa até Jesus ser tudo
o que você tem.
– Tim Keller
Quando entendemos que Cristo é a nossa maior riqueza, não temos difi-
culdade de repartir nada do que temos.
É fundamental que nós, como cristãos, estejamos sensíveis às necessi-
dades uns dos outros em todas as áreas e que sejamos testemunhos de um
coração aberto e pronto para atender o próximo, pois essa é uma marca
de todo cristão.
Por isso, nossa alegria é repartir o que temos, de forma que todos possam
entregar o que de Deus receberam e, assim, nos enriquecermos de forma
mútua, pois todos têm as suas riquezas e suas pobrezas.
172
D) Oração
Aqueles primeiros cristãos sabiam que não podiam enfrentar a vida com
suas próprias forças e que não tinham necessidade de fazê-lo. Sempre fala-
vam com Deus antes de fazê-lo com os homens; sempre iam a Deus antes
de sair ao mundo; podiam enfrentar os problemas da vida porque primeiro
encontravam a Deus.
– Willian Barcley, em seu comentário do novo testamento
A vida do cristão é uma batalha diária e nossas lutas são espirituais. Por
isso, a oração é umas das formas de nos fortalecermos.
Mesmo tendo observado todos esses pontos, não podemos nunca nos
esquecer de que podemos ter teologia, relacionamentos, coração aberto para
compartilhar e vida de oração, mas se não tivermos perseverança, pode-
mos falhar. Precisamos perseverar nessas disciplinas dia após dia e, assim,
vamos seguindo na trilha do mestre.
173
E, chegando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: É-me dado todo o poder no céu e na
terra. Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome
do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo
– Mateus 28:18,19
A Igreja e a Evangelização
Afirmamos que Cristo envia o seu povo redimido ao mundo, assim como o Pai
o enviou, e que isso requer uma penetração de igual modo profunda e sacrifi-
cal. Precisamos deixar os nossos guetos eclesiásticos e penetrar na sociedade
não-cristã. Na missão de serviço sacrifical da igreja, a evangelização é pri-
mordial. A evangelização mundial requer que a igreja inteira leve o evangelho
integral ao mundo todo. A igreja ocupa o ponto central do propósito divino
para com o mundo e é o agente que ele promoveu para difundir o evangelho.
Mas uma igreja que pregue a Cruz deve, ela própria, ser marcada pela Cruz.
Ela torna-se uma pedra de tropeço para a evangelização quando trai o evange-
lho ou quando lhe falta uma fé viva em Deus, um amor genuíno pelas pessoas,
ou uma honestidade escrupulosa em todas as coisas, inclusive em promoção e
finanças. A igreja é antes a comunidade do povo de Deus do que uma institui-
ção e não pode ser identificada com qualquer cultura em particular, nem com
qualquer sistema social ou político, nem com ideologias humanas.
174
Desta forma, somos meio de salvação nos lugares onde estamos e pode-
mos acrescentar no desenvolvimento da cultura do Reino, onde estivermos.
No livro Introdução À Cosmovisão Cristã, Michael W.Goheen e Craig G
Bartholomew dizem:
Uma vez que o evangelho diz respeito ao governo de Deus sobre toda a cria-
ção, todas as nações e toda vida humana , a missão dos seguidores de Jesus é
tão vasta quanto a própria criação.
175
mais a geografia. Nessas mesas, nem mais se propõe a discutir pensamen-
tos, justificando-se cada um com a frase: “é o seu jeito de pensar ou interpretar
as coisas” e logo estabelecemos uma barreira de um para com o outro.
Com isso, corremos o risco dos extremos e de optar por um ou outro
ponto, fortalecendo, assim, a polarização.
Caímos, assim, no engano do moralismo e legalismo, ou vamos para o
outro extremo do pragmatismo e relativismo.
A cada dia estou mais convicto de que não existe outra forma para rom-
per com essas barreiras a não ser o amor, pois essa é a essência de Deus e a
natureza dos Seus filhos.
Isso, não no sentido do conformismo, ou seja, de aceitar as ações, ideias e
práticas que não são princípios cristãos. Mas tendo a disposição para deixar
o amor ser conhecido em nós, ser visto em nós, ser vivo em nós.
Transpor nossos discursos e fazer com que o que pregamos comece a
ganhar vida em nossos núcleos relacionais e o caminho para que a cidade
desfrute do amor do Pai através da vida dos filhos.
Que nossas comunidades se tornem lugares de acolhimento, que seja-
mos aqueles que não banalizam as dores alheias; uma comunidade que se
importe com as causas sociais, uma comunidade que não omite a verdade,
mas a expõe com amor; uma comunidade que não subtrai, mas que está dis-
posta a entregar o que de Deus tem recebido.
6. IGREJA SAUDÁVEL
Esse é um outro assunto muito recorrente dentro do ambiente de igreja.
O que seria a igreja ideal? Ou o que é a evidência da saúde de uma igreja?
176
O pastor e teólogo americano Mark Dever, em uma das suas palestras
sobre o que é igreja saudável, diz que no ano de 381 da era cristã, vários
pastores se reuniram na cidade que hoje é Istambul e chegaram a uma con-
clusão sobre o que evidenciaria uma igreja saudável:
1. Uma igreja (unidade)
2. Santa (DEUS é santo, a sua igreja deve ser santa)
3. Universal. (catolicidade)
4. Apostólica (doutrina dos apóstolos)
Temos, ainda, outras citações de outros autores sobre o assunto:
Onde quer que vejamos a palavra de Deus ser sinceramente pregada e ouvida,
onde vemos os sacramentos serem administrados segundo a instituição de Cristo,
aí de modo nenhum se há de contestar estar presente uma igreja de Deus.
– João Calvino, Institutas da Religião Cristã, Livro IV, cap1. Seção 9
Igreja saudável: “Estas são as marcas de uma igreja ideal – amor, sofrimento,
santidade, sã doutrina, autenticidade, evangelização e humildade”.
– John Stot
Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador. Todo ramo que, estando
em mim, não dá fruto, ele corta. Todo ramo que dá fruto, ele poda, para que
produza ainda mais. Vocês já foram limpos pela mensagem que eu lhes dei.
Permaneçam em mim, e eu permanecerei em vocês. Pois, assim como um ramo
não pode produzir fruto se não estiver na videira, vocês também não poderão pro-
duzir frutos a menos que permaneçam em mim. “Sim, eu sou a videira; vocês
são os ramos. Quem permanece em mim, e eu nele, produz muito fruto. Pois,
sem mim, vocês não podem fazer coisa alguma. Quem não permanece em mim é
jogado fora, como um ramo imprestável, e seca. Esses ramos são ajuntados num
monte para serem queimados. Mas, se vocês permanecerem em mim e minhas
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palavras permanecerem em vocês, pedirão o que quiserem, e isso lhes será con-
cedido! Quando vocês produzem muitos frutos, trazem grande glória a meu Pai
e demonstram que são meus discípulos de verdade. Eu os amei como o Pai me
amou. Permaneçam no meu amor. Quando vocês obedecem a meus mandamen-
tos, permanecem no meu amor, assim como eu obedeço aos mandamentos de meu
Pai e permaneço no amor dele.
– João 15
CONCLUINDO
O maior interessado no crescimento da sua semente é o Nosso Pai e Deus,
o criador de todas as coisas.
A semente incorruptível é o Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos deixou
Sua essência através do seu Espírito.
Por isso, devemos nos aplicar nas disciplinas espirituais, perseverando
na doutrina dos apóstolos, na comunhão, no partir do pão e nas orações,
entendendo que quem acrescenta na igreja os salvos é o Nosso Senhor e
Salvador Jesus Cristo.
Que estejamos libertos da numerolatria e da numerofobia!
Que o nosso foco seja na saúde da igreja e não nos números!
Que possamos frutificar e cumprir, em nossa jornada, a vontade do Pai!
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CONFISSÃO
15 Fernando Vilas Boas
@fernando_vbc
179
C
onfissão é a volta a Deus e para Deus. Confessar significa falar o que
Deus fala. Confessar é nos colocarmos alinhados com a vontade plena
e absoluta do Senhor. Segundo as Escrituras, é preciso confessar a
Deus nossos pecados para sermos perdoados e purificados de toda injus-
tiça. 1 João 1:9
Quando confessamos, estamos dizendo que estamos arrependidos e dis-
postos a mudar o rumo de nossas vidas e posicionamentos, ou seja, a nossa
consciência está sendo transformada pelo convencimento de que fizemos
algo que não está certo, desagradando a Deus e, talvez, aos homens.
Meras mudanças comportamentais são insustentáveis se não for de den-
tro para fora, se não houver mudança interior, elas serão passageiras e com
prazo de validade curto. Mais cedo ou mais tarde os lados viciosos se mani-
festarão e ofuscarão o brilho do Espírito Santo.
A confissão traz quebrantamento e nos coloca de volta ao eixo da nossa
fé e de seus princípios.
É muito importante discutirmos esse tema, pois, sem arrependimento
não conseguiremos seguir em frente e cumprir a grande comissão que nos
está proposta. Quando nos colocamos no lugar de vítima, sempre estaremos
enfermos e nunca alcançaremos a cura que Deus tem para nós, mas quando
entramos na presença do pai, com ações e súplicas, com certeza teremos
nossas transgressões perdoadas e poderemos continuar em frente.
A minha oração é que o Senhor possa usar esse capítulo para recolocar
nossas vidas cada vez mais dentro de seus planos e propósitos, para que a
obra que Ele começou, em nós, seja completada com êxito.
Estamos juntos e misturados, igual pão amanteigado.
Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os peca-
dos, e nos purificar de toda a injustiça.
– 1 João 1:9
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1. SALVAÇÃO PELA CONFISSÃO
Se você confessar com a sua boca que Jesus é Senhor e crer em seu coração
que Deus o ressuscitou dentre os mortos, será salvo. Pois com o coração se crê
para justiça, e com a boca se confessa para salvação.
– Romanos 10:9-10
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arrependimento real provoca alteração em nossas vidas. Ele nos trata de
dentro para fora, sendo que o exterior vai refletindo toda a transformação
interior de nossas vidas.
Essa confissão direta com nosso Senhor traz cura e restauração, uma vida
na presença do Criador, relacionamento íntimo e santo, com a compreensão
de real sentido de ser filho de Deus.
Com certeza nos conduz de forma a não termos do que se envergonhar
perante Deus, pois se andamos na luz e conforme sua vontade, estamos
livres das amarras do pecado e distante da desobediência, como Adão e
Eva andavam nus no jardim sem ter do que se envergonhar, antes de comer
o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. A desobediência e
consequentemente pecado os fizeram descobrir toda a sua vergonha, pro-
vocando uma quebra no relacionamento e acarretando vergonha e tristeza
em seus corações.
Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar e orar, buscar a
minha face e se afastar dos seus maus caminhos, dos céus o ouvirei, perdoarei
o seu pecado e curarei a sua terra.
– 2 Crônicas 7:14
Portanto, confessem os seus pecados uns aos outros e orem uns pelos outros
para serem curados. A oração de um justo é poderosa e eficaz.
– Tiago 5:16
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Quem esconde os seus pecados não prospera, mas quem os confessa e os aban-
dona encontra misericórdia.
– Provérbios 28:13
Quero lembrar que a confissão é uma arma poderosa para nos libertar
e trazer cura em nossas vidas, pois sempre que confessamos de coração é
uma demonstração clara de arrependimento e que desejamos mudanças. É
o sinal que não estamos preocupados com a exposição e do que vão pensar
de nós, mas, sim ,uma declaração clara de o que mais importa é estar bem e
em paz com Deus e comigo.
A verdadeira confissão deve estar pautada em caráter e idoneidade, vir-
tudes que devem me acompanhar em toda a minha trajetória cristã.
Há pecados em que precisamos falar com alguém de nossa confiança,
pois, com certeza, irão nos ajudar a arrumar a casa, não imputando peso ou
acusações, mas nos levando ao reconhecimento e apontando um caminho
para seguirmos. Alguém que tenha a mesma fé, mais maduro, experiente
e que com toda a certeza será um aliado para nos ajudar a encontrar-
mos, novamente, a direção certa. Alguém que nos ame com nossos erros e
falhas. Alguém que queira o nosso bem, que ore junto, que ande junto e que
demonstre o verdadeiro cuidado com as nossas vidas.
Como é bom quando entramos na presença de Deus e confessamos nos-
sos pecados, arrancamos um peso de nossas vidas ao qual não deveríamos
estar carregando, ficamos leves, prontos para voar mais alto e correr mais
rápido, ou seja, aptos para exercer a obra de Deus em nossas vidas e ser um
instrumento de graça e misericórdia para que todos vejam o amor infinito
do Pai e seus planos maravilhosos.
Que história linda é a dos irmãos de José pedindo perdão a ele por tê-lo
vendido e o rejeitado. Anos depois o tempo dá a oportunidade de irmãos se
reconciliarem e encontrarem um caminho de paz e união, pois é isso que a
confissão provoca em nossas vidas, cura para as nossas mais profundas feri-
das, nossas maiores dores, e tudo isso é possível pela confissão.
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CONCLUINDO
Em dias tão corridos e atribulados nos quais estamos vivendo, a vida
passa em uma rapidez inexplicável, nos fazendo, por vezes, escravos da
correria, impossibilitando de avaliar cada momento em que vivemos, caute-
rizando nossa mente e coração.
Sem perceber , encontramo-nos no automático da vida, apenas reagindo
ao invés de agir, sem fazer conforme os planos e propósitos do Criador. Mas
é somente vivendo de acordo com o propósito de Deus que encontraremos
um lugar seguro para descansarmos e sermos luz por onde estivermos.
Um dos grandes sinais da nossa maturidade espiritual é quando fazemos
algo contrário a nossa própria vontade, pois isso revela o quão dispostos
estamos em servir e obedecer ao Senhor. Nesse tempo atual, Deus procura
homens e mulheres para o cumprimento final de sua obra, o resgate de toda
a humanidade de uma condição de apagão, para um tempo de revelação a
luz da Palavra e sua plena vontade.
Sem confissão, jamais seremos úteis,
Sem confissão, jamais viveremos,
Sem confissão, vegetaremos,
Sem confissão, morreremos
Sem confissão, jamais viveremos a vontade do Pai,
Sem confissão, jamais veremos a Deus.
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