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KERIGMA – A PROCLAMAÇÃO DA DOUTRINA DE DEUS BASES

TEMA 1: A BÍBLIA SAGRADA


ANOTAÇÕES

I. BÍBLIA, ESCRITURA e PALAVRA DE DEUS: três termos que


precisam ser diferenciados.

A. BÍBLIA: do grego βιβλίον (sing. livro) e βιβλία (pl. livros), diz


respeito a um conjunto de sessenta e seis livros, escritos ao longo
de mil e quinhentos anos (de Moisés a João), por aproximadamente
quarenta autores, em três línguas distintas – hebraico, aramaico e
grego –, em três continentes: Asiático, Africano e Europeu.

B. ESCRITURA: refere-se ao texto escrito, conforme o Espírito de


Deus orientou os Seus profetas e apóstolos, apontando-lhes os
eventos, as ocasiões, as circunstâncias, os fatos, a serem
registrados. Tais registros trazem em seu substrato verdades eternas
acerca de Deus e de Sua obra plena. O “ESTÁ ESCRITO” aparece
78 vezes no Novo Testamento, além das 51 vezes que aparece o
termo “ESCRITURA(s)” – Jo 10:34-35; Mt 21:42; Lc 24:27, 45; Jo
5:39.

C. PALAVRA DE DEUS: diz respeito, em primeira instância, ao


próprio Filho de Deus, o Logos eterno, e se desdobra no seu falar,
INFALÍVEL, o qual revela o próprio Deus, Sua vontade e
propósito, mediante Seus profetas, Seu Filho e Seus Apóstolos (Is
55:10-11; Mt 24:35; 1Pe 1:24-25):

1. O Logos eterno: Jo 1:1, 3 e 14 Cf. Hb 11:3; Hb 1:2; Ap 19:13.

2. Os Profetas: Hb 1:1; At 1:16.

3. O Filho: Hb 3:1; Jo 7:15-17; Jo 6:63.

4. Os apóstolos: Jo 17:20; Jo 16:13-15.

NOTA: diferença entre Escritura e Palavra de Deus: Jo 5:39-40


Cp. Jo 6:23, Gl 3:21 e Jo 10:10.

II. INSPIRAÇÃO DAS ESCRITURAS: 2Tm 3:16

A. A expressão INSPIRADA POR DEUS, do grego theopneustos, é


formada pela justaposição dos termos gregos Theós (Deus) e pneo
(soprar/vento), vindo a significar O SOPRO DE DEUS. O que isso
significa?

1. A expressão é uma figura de linguagem (metáfora), que significa


“um barco a vela impulsionado pelo vento”.
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2. INSPIRAÇÃO é o ato de Deus mover os seus profetas, ANOTAÇÕES
impelindo-os, ao ato de escrever, conforme 2Pe 1:21.

3. INSPIRAÇÃO não significa a equivocada conclusão que Deus


teria ditado (soprado) palavra por palavra. Antes, quer dizer
que Deus estimulou os seus santos profetas e apóstolos,
instruindo-os quanto a cada circunstância, fatos, a serem
coligidos e registrados: 1Pe 1:10-11 Cf. Jo 14:26.

NOTA: Compare o texto de 2Tm 3:16 em duas versões


diferentes, VRA e VRC:

“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino,


para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça”
(RA).

“Toda Escritura divinamente inspirada é proveitosa para


ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça”
(RC).

III. REVELAÇÃO nas Escrituras: Jo 16:13-15; Ef 1:9-10; 3:4-6.

A. A REVELAÇÃO está para a experiência pessoal do profeta,


no seu tempo, concernente ao conhecimento possível de Deus,
dado a ele por meio de suas relações místicas com o Mistério.
(Eis a razão de a revelação de Deus ser progressiva – tema que
iremos tratar mais adiante).

B. A REVELAÇÃO (Palavra de Deus) é o fio de prata,1 que


percorre toda a Escritura, o que lhe dá a conotação de
SAGRADA.

C. O fio de prata (Revelação) refere-se ao aspecto orgânico da


Verdade, que não raras vezes encontra-se no imbróglio dos
invólucros das histórias e acontecimentos narrados (escrituras)
na Bíblia.

D. Neste sentido, diz-se que a Palavra de Deus está contida nas


Escrituras, como um substrato das histórias, acontecimentos e
fatos registrados. Exemplo: Gl 4:21-31; 2Co 3:13-14; Hb 2:5-
9.

E. Não raras vezes, personagens bíblicos viveram experiências


proféticas, isto é, suas experiências individuais e
circunstanciais profetizavam eventos futuros. Exemplo: Sl 22
(Davi), Jn 1-2 (Jonas Cf. Mt 12:39-41). A estes personagens
dá-se o nome de tipos e ao seu cumprimento antítipo.

1
Fio de prata: metáfora para se referir ao aspecto orgânico da Palavra revelada, tomada de empréstimo do texto de Ec 12:6.
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ANOTAÇÕES
IV. AUTENTICIDADE DAS PROFECIAS BÍBLICAS

A. Nenhuma prova extrabíblica ou raciocínios humanos devem ser


tomados para provar ou negar a autenticidade da revelação. A
história registrada, com confusões de datas, números, pesos,
lugares, não pode anular a Revelação, pois esta é a infalível
Palavra de Deus: Mt 24:35.

B. Há duas provas incontestáveis no interior da Escritura acerca da


autenticidade das profecias:

1. a história das nações proeminentes são profetizadas e


determinadas sistemática e irremediavelmente por Deus – Is
43:9-12; 44:8; 46:9-10 Cf. Dn 2; 7; 8; 9;

2. o Novo Testamento autentica o Antigo em face do


cumprimento fatual e incontestável de suas profecias. O jogo
de sombras e figuras, tipos e antítipos, profecias e fatos,
prenúncios e acontecimentos, valida o Antigo e Novo
Testamento, quanto às suas profecias, na medida em que
ambos se refletem, testemunhando um do outro, e vice-versa.

V. AUTORIDADE PROFÉTICA DAS ESCRITURAS: única regra


de fé e prática cristãs, coletiva e individual

A. A Escritura profética diz respeito à revelação de Cristo, enquanto o


conteúdo e substância orgânica. Daí a afirmação de que as
Escrituras são CRISTOCÊNTRICAS: 2Pe 1:19-21; Mt 5:17 Cp.
Lc 24:44-45 Cf. Jo 5:29-40.

B. A autoridade profética das Escrituras se firma em quatro bases,


conforme se encontram no Antigo e Novo Testamento:
manifestação, fundamentação, testemunho e revelação:

1. MANIFESTAÇÃO/ EPIFANIA. Antigo Testamento: Deus se


manifestava e revelava a Sua vontade, mediante epifanias, que
ocorriam ou por sonho, ou por visão, ou por intuição. Razão
por que os profetas, ao transmitirem a mensagem de Deus,
diziam: “Veio a mim a palavra do Senhor, dizendo...” ou
“Assim diz o Senhor” – Is 6:1; Ez 1:25-28 Cf. Jo 1:18; 1Tm
6:16

2. FUNDAMENTAÇÃO. A autoridade do falar de Jesus e de


Seus apóstolos no Novo Testamento se reveste de autoridade,
na medida em que toma o Antigo Testamento por
fundamentação, indicada pela expressão “ESTÁ ESCRITO” –
Mt 12:3-5; Lc 3:4; Lc 20:17; Rm 1:17; Rm 9:33; Gl 4:22;

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3. TESTEMUNHO. O falar de Cristo e de Seus apóstolos impõe- ANOTAÇÕES
se, também, pelo testemunho que cada um dá a respeito de
Deus, não daquilo de que ouviram falar, mas do que viram e
presenciaram – Jo 1:18; 3:12-13; 7:16; 16:28; Jo 19:35; At
10:39; 1Jo 1:1-4;

4. REVELAÇÃO. O ministério do Espírito Santo no Novo


Testamento consiste em revelar a Deus e Seu supremo
propósito, na pessoa de Seu Filho, aos apóstolos e profetas:

a. fazendo-os compreender a substância da revelação no


Antigo Testamento – Gl 4:21-31; 1Tm 5:18;

b. lembrando-lhes a mensagem de Cristo, depois de Sua


morte e ressurreição – Jo 14:26;

c. revelando-lhes as coisas ainda não anunciadas, que só


seriam possíveis de ser compreendidas depois que os
servos de Deus recebessem o Espírito da Verdade – Jo
16:13; At 26:16; Ef 3:1-7; Apocalipse.

C. A autoridade profética das Escritas é comunicada por meio da fé no


testemunho daqueles que a receberam. Sem a convicção e confiança
de que suas origens emanam de Deus, sua autoridade se enfraquece
e instaura-se a rebelião: 2Pe 1:16-18.

D. A Escritura profética se impõe absoluta e, portanto, Sua autoridade


reina soberana, sujeitando todos os filhos de Deus, individualmente,
e a igreja de Jesus Cristo, coletivamente, ao Seu arbítrio: 2Co 10:4-
5

1. ESCRITURA PROFÉTICA versus tradição, cultura, costumes;

2. ESCRITURA PROFÉTICA versus experiências religiosas;

3. ESCRITURA PROFÉTICA versus dogmas;

4. ESCRITURA PROFÉTICA versus autoridade eclesiástica.

VI. AS ESCRITURAS SAGRADAS E OS DOIS TESTAMENTOS

A. Os sessenta e seis livros das Escrituras são tradicionalmente


divididos em duas partes, Antigo e Novo Testamento, sendo
constituído de 39 livros o primeiro, e de 27 o segundo.

B. A ideia de testamentos vincula-se a dois grandes pactos que Deus


fez com o homem: o primeiro, no monte Sinai, quando o Senhor
fez aliança com Israel; o segundo, por ocasião da morte de Cristo,

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quando Cristo estabeleceu a nova aliança com todos os que creem
em Seu nome – Ex 19; Mt 26:28. ANOTAÇÕES
C. Os dois testamentos referem-se, portanto, a duas alianças, que,
uma vez ratificadas com a morte do testador, tem valor legal,
determinando assim a base de relacionamento entre Deus e os
aliançados – Hb 9:15-17.

1. O primeiro testamento (antigo) foi sancionado com o sangue dos


sacrifícios, os quais simbolizavam a morte do testador. Esse fato
faz da aliança e do testamento do Sinai um pacto simbólico,
cujos cultos, ofertas, festas, templos, sacerdotes, comidas,
oblações, apenas representavam bens vindouros – Ex 24:4-8; Hb
10:4; Cl 2:16-17.

2. O segundo testamento, produto da nova aliança, foi sancionado


com o sangue de Cristo, derramado no Calvário. Por isso, nesta
aliança e testamento, tanto o sacrifício quanto as bênçãos dele
provenientes, assim como o serviço, o culto, a adoração,
possuem substância espiritual – a realidade – Jo 1:29; Ef 1:3; Jo
4:23-24.

3. Tecnicamente falando, não se pode afirmar que os primeiros


trinta e nove livros das Escrituras são o Antigo Testamento. O
que se pode dizer é que, de Êxodo 19 à Malaquias 4, encontra-se
o registro da história da nação de Israel, cujo viver social,
político e religioso eram regidos pelos preceitos e juízos da
aliança do Sinai. Sua história estava emaranhada intrinsecamente
à primeira aliança e por ela determinada. Esse fato faz dos livros
escritos naquele intervalo (Êx 19 – Ml 4) uma expressão da
aliança, não necessariamente sua substância e estrutura.

4. O mesmo se pode afirmar dos quatro evangelhos. Estes ainda


não são Novo Testamento, uma vez que a aliança do Calvário só
se estabeleceu no fim dos evangelhos. Somente nas epístolas,
após a morte e ressurreição de Cristo, encontra-se a expressão
pura e refinada da verdade neotestamentária. O período
preenchido pelos evangelhos compreende uma fase de
TRANSIÇÃO, entre a primeira e segunda aliança. O falar do
Filho, nesse ínterim, ainda estava misturado a conceitos
veterotestamentários, e não raras vezes fazia referência a práticas
que logo se tornariam obsoletas: Mt 8:4; Mt 23:23.

5. Atos dos Apóstolos é um livro histórico (de registro) e de


experiências. Ainda que concebido sob a nova aliança, não é
expressão plena do Novo Testamento. Seu contexto é marcado
por mistura e confusão no que diz respeito ao que é próprio ou
não para a era neotestamentária. Constitui-se um período de
DEPURAÇÃO, em que a verdade neotestamentária foi-se
definindo pouco a pouco. Nenhuma doutrina se pode estabelecer

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de modo absoluto, baseada em Atos dos Apóstolos sem a devida
explicação, desdobramento e ratificação nas epístolas. ANOTAÇÕES

VII. A IMPORTÂNCIA DAS ESCRITURAS

A. As Escrituras constituem-se documento garantidor do cumprimento


cabal de tudo que nelas está previsto, segundo as alianças.

B. As Escrituras, enquanto registro escrito da vontade de Deus no


trilho da história e experiências do Seu povo, pavimentam um
caminho seguro por onde palmilhar cada cristão, levando-o a
conhecer a Verdade por meio da fé.

C. As Escrituras neotestamentárias consistem no documento objetivo


da igreja, conferindo-lhe a posição, função e autoridade de coluna e
baluarte da Verdade perante o mundo pagão e religioso, que,
naufragado e perdido, se perde e se afunda nos caminhos de um
coração sem Deus.

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