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Bibliologia: Revelação, Inspiração e Cânon

João Alves dos Santos

Aula 4: Escrituração e Inspiração


(Parte I)

Introdução

Do estudo anterior, concluímos que a revelação é uma auto-manifestação divina que


tanto pode ser encontrada na criação, na providência e no homem (revelação geral),
como também nos atos e palavras de Deus (revelação especial). Não é uma descoberta
humana. A revelação especial, que tanto pode se dar através de teofanias e milagres
como através de profecia (oral ou escrita), passou a ter propósito redentivo após a
queda. É com vista a esse propósito que parte dessa revelação foi escriturada.

1. Escrituração

A escrituração não se estendeu a toda a revelação, mas apenas a uma parte dela.
Devemos, então, distinguir entre revelação e escrituração (Escrituras). Nas Escrituras,
por exemplo, temos o registro inspirado das teofanias, dos milagres, mas não a própria
teofania, o milagre.

1.1. Nem tudo que foi revelado foi escriturado.


Algumas porções das Escrituras são seleções de revelação mais volumosa. Muitos
profetas, recipientes da revelação especial, nunca escreveram nada. Elias, por exemplo,
deve ter dito e feito muito mais, como instrumento da revelação divina, do que está
registrado na Bíblia. Ele próprio nunca escreveu uma só palavra das Escrituras. Nem
Eliseu, Semaías (2Cr 12.5) ou alguns dos apóstolos do NT, como Tomé ou Natanael.
Profetas, é dito nas Escrituras, foram muitas vezes enviados a pessoas e lugares com
uma mensagem do Senhor, mas nem sempre essa mensagem foi registrada. Grupos
inteiros de profetas são mencionados (escolas de profetas) sem que suas profecias
tenham sido preservadas (2Rs 2.3ss; 4.1ss.). Isso significa que a revelação especial é
muito mais ampla do que a escrituração.

1.2. Palavras e feitos de profetas e do próprio Senhor Jesus não foram todos
registrados: 1Rs 4.29-34; Pv 25.1; Jo 20.30-31; 21.25.

1.3. Nem tudo que os profetas, ou mesmo os apóstolos, escreveram foi preservado e
incluído no cânon (1Cr 29.29; 1Co 5.9; Cl 4.16), ainda que algo disso tenha feito
parte da revelação especial.
Todavia, sem as Escrituras nada saberíamos sobre a revelação de Deus no passado, nem
o fato nem o seu conteúdo. Nem mesmo as palavras de Cristo seriam conhecidas. Para
que essa revelação pudesse ser conhecida em todos os tempos, após o fato, Deus serviu-
se de um outro processo de revelação, que chamamos de escrituração ou
“inscrituração”, que é o registro da revelação produzido através do que é, por sua vez,
chamado de “inspiração”. Esse registro é parte do processo da revelação e é a própria
revelação especial para nós hoje. Não temos atualmente outra fonte ou principium
cognoscendi externum senão as Escrituras. É através dela que Deus fala hoje.
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1.4. O propósito da escrituração foi "eternizar" ou “perenizar” a revelação:


1.4.1. O evento da revelação ocorre uma vez só no tempo, mas com o seu registro ela
se torna permanente e útil para todas as épocas (Rm 15.4).

1.4.2. A tradição oral não é totalmente confiável, embora tenha servido como estágio,
em muitos casos, da preservação da revelação, até que esta fosse escrita.

1.4.3. A escrita estabiliza a transmissão da revelação.

1.5. A escrituração é o ponto culminante da revelação, pois a torna definitiva e


final. Em alguns casos, a revelação foi dada especialmente para fins de escrituração,
como o livro de Apocalipse, por exemplo (Ap 1.11-19; 22.18).

1.6. A escrituração tem um propósito definido: trazer as pessoas ao conhecimento de


Deus e da salvação, e edificá-las na fé (2Tm 3.14-17, Rm 15.4).

1.7. A Escritura, portanto, como culminância da revelação, é a nossa única fonte de


conhecimento de Deus para a salvação (principium cognoscendi externum).

2. Inspiração

Antes de conceituarmos a doutrina da Inspiração é preciso, primeiro, examinar a sua


ideia bíblica e as evidências escriturísticas a seu favor:

2.1. O Testemunho do Antigo Testamento a favor de si próprio

2.1.1. A Consciência Profética

Pelo fenômeno que chamamos de “consciência profética” queremos dizer os seguintes


fatos ensinados na Bíblia:

2.1.1.1. Que os profetas estavam cônscios de uma chamada definida por parte do
Senhor para o exercício de sua função. Sabiam que tinham sido chamados: Êx 3.1; 1Sm
3; Ez 1-3; Am 3.7-8; 7.15. Esta chamada, algumas vezes, até contrariava a sua vontade,
como foi o caso de Moisés (Êx 3), Jeremias (20.7 e Amós (3.8).

2.1.1.2. Que eles estavam cônscios de que Deus lhes tinha falado e de que tinham
recebido uma revelação dele:

Deus havia falado a eles: Os 1.2; Hc 2.1; Zc 1.9, 13; 2.2, 7; 4.1, 4, 11; 5.5, 10; 6.4; Nm
12.2, Nu 12.8; 2Sm 23.2; 1Rs.22.28.
Deus lhes tinha dito o que falar: Êx 2.12; Dt 18.18.
Deus havia colocado a sua palavra na sua boca: Nm 22.38; 23.5; Dt 18.18.
Em alguns casos, especificavam o tempo e o lugar em que o Senhor lhes falara: Is
16.13-14; Jr 3.6; 13.3; 26.1; 33.1; Ez 3.16; 8.1; 12.8.
Usavam geralmente as fórmulas: “Assim diz o Senhor”, “Veio a mim a palavra do
Senhor”, etc., para expressar essa consciência: Js 24.2; Is. 1.1–2; 8.1, 11; Jr 1.2, 4, 11;
2.1; 7.1; Ez 1.3; 2.1; Os 1.1; Jl 1.1; Am 2.1.
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Em muitas passagens os profetas usaram a 1ª pessoa do singular para entregar a


mensagem em nome do Senhor, mostrando que era o Senhor quem falava através deles
(2Sm 23.1–2), através de suas bocas (Êx 4.12, 15; Nm 23.5) ou pelos seus servos (Ag
1.1; 2Rs 17.13).

2.1.1.3. Sabiam distinguir entre a revelação de Deus e suas próprias ideias, isto é,
sabiam quando falavam ou escreviam por revelação de Deus e quando expressavam as
suas próprias reflexões ou opiniões: Exemplos do 1º caso: Is. 16.13–14; Jr 2.1; 3.6;
13.3; 26.1; 27.1; 28.1; 33.1; 34.1; 35.1; 36.1; 49.34; Ez 3.16; 8.1; 12.8; Ag 1.1; Zc 1.1;
Exemplos do 2º caso: Nm 16.28; 24.13; 1Rs 12.33; Ne 6.8; Sl 41.6–7. Nem sempre é
fácil, ou mesmo possível, para nós, distinguir quando o profeta está emitindo uma
opinião pessoal e quando está transmitindo uma revelação do Senhor, tal é o grau de
identificação que existe entre o profeta e Deus, nesse fenômeno.

2.1.1.4. Muitas vezes acusavam os falsos profetas de falarem de si mesmos e não da


parte do Senhor (Nm 16.28; 24.13; 1Rs 12.33; Ne 6.8; Sl 41.6–7), de não serem
enviados (Jr 14.14; 29.9; Ez 13.6) e de serem profetas mentirosos (Jr 23.32; Is. 9.14;
20.6; 23.21, 22, 26, 31, 36; 27.14; Ez 13.6 ss.; Mq 2.11; Zc 3.4; 10.2).

2.1.1.5. Estavam cônscios, quer falando ou escrevendo, de que tinham uma


mensagem a proclamar, não sua, mas do Senhor e, por conseguinte, estavam cônscios
da urgência e irresistibilidade dessa tarefa. Não podiam esconder a mensagem, nem
alterá-la, nem omitir-se na tarefa: Jr 20.7, 9; Êx. 3.4; Ez 3.8; Am 3.8; Jonas 1.2. Sabiam
que tinham que dizer tudo o que tinham recebido e tal como tinham recebido: Dt 4.2;
12.32; Jr 1.7, 17; 26.2; 42.4; Ez 3.10. Os textos que se referem à revelação escrita são
de menor número, mas nem por isso de menos importância para demonstrar a
consciência profética: Êx 17.14; 24.3–4; 34.27; Nm 33.2; Dt 4.2; 12.32; 31.19; Is. 8.1;
30.8; Jr 25.13; 30.1; 36.2, 24, 27–32; Ez 24.1; Dn 12.4; Hc 2.2. Muitas profecias nunca
foram intencionadas para a proclamação oral, mas sim para serem escritas e
posteriormente lidas.

2.1.1.6. Os profetas escritores tinham a mesma consciência de ser inspirados pelo


Senhor, quando escreviam. Reivindicavam a mesma autoridade divina tanto para a sua
palavra escrita quanto para a falada. Tinham consciência de sua inspiração: Is 34.16; Jr
36.4,8,10-11 e também da de outros contemporâneos seus ou antecessores. Josué
recebeu os livros de Moisés como inspirados (Js 1.7-9,13ss.); Isaías é citado
verbalmente por seu contemporâneo Miquéias - ou vice versa - (Mq 4.1-4; Is 2.2-4) e
Daniel entende que as palavras de Jeremias eram da parte do Senhor (Dn 9.2; Jr 25.11-
14).

2.1.1.7. Os profetas reconheciam a Torah (Lei dada através de Moisés) como tendo
sido dada por Deus e como sendo revelação de Deus: Is. 2.3; Mq 4.2; Am 2.4; Os 8.1;
4.6; Jr 18.18; Ez. 7.26; Sf 3.4; Ml 4.4. Reconheciam o papel de Moisés como grande
instrumento da revelação de Deus a Israel. Em todo o Pentateuco encontramos a mesma
fórmula: “Disse o Senhor a Moisés”: (Êx 25.1; 30.11, 17, 22; 31.1; 32.9; Lv 1.1; 4.1;
6.1; Nm 1.1; 2.1; 3.44; 4.1). O conteúdo do livro de Deuteronômio é o que Deus falou
ao seu povo através de Moisés: Dt 1.6; 2.1, 2, 17; 3.2; 5.2, 6.

2.1.1.8. Os profetas, em algumas ocasiões, deixaram de compreender a própria


revelação e mensagem de que eram portadores, o que demonstra que estas não eram
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produto de sua própria criação ou imaginação: Dn 12.8,9; Zc 1.9; 2.3; 4.4. Pedro afirma
que os profetas procuraram investigar os detalhes da mensagem de que eram portadores,
para entendê-la mais claramente (1Pe 1.10-11). [i]

2.1.1.9. O povo reconhecia e aceitava a palavra do profeta como sendo a palavra do


Senhor: Êx 19.8; 24.3,7; Nm 32.31; Js 1.16; Jr 42.20. O conceito do cânon judaico e de
sua extensão, que veremos mais tarde, é prova histórica disto.

2.1.2. A Unidade Profética

Por unidade profética queremos dizer que a partir de Moisés houve uma cadeia
profética, ou seja, uma sucessão de profetas que haveria de culminar em Cristo, o
Profeta, predito em Dt 18.15-22.

2.1.2.1 Todos os profetas que sucederam a Moisés reconheciam-no como o iniciador


dessa cadeia e faziam alusões à revelação que ele recebera (Torah) como sendo a
Palavra de Deus dada pelo próprio Iaweh (Jeová). Não só os Dez Mandamentos mas
todas as outras leis que Moisés entregou são reconhecidas como Palavra de Jeová (Is
2.3; Ml 4.4). Ele foi o mediador da revelação nesse período do AT. Os profetas não só
reivindicaram sua própria autoridade como também reconheceram a Lei de Moisés
como dada por Deus e básica para a continuidade da revelação. Eles não criaram uma
nova religião, cada um a sua, em Israel. Sua profecia segue uma linha de continuidade e
progressão, dentro do propósito divino de dar uma revelação historicamente
progressiva. Nessa progressão notamos, também, unidade. A profecia é sempre coerente
com a revelação anteriormente dada.

2.1.2.2. O final dos livros de Deuteronômio e Josué testemunha a favor desta


sucessão profética e dessa unidade. Com a morte de Moisés, sucedeu-o Josué (Dt
34.5,9) e com a morte de Josué, sucederam-no os anciãos que conheciam e viram as
grandes obras feitas pelo Senhor (Js 24.29-31; Jz 2. 6-7). O relato da morte de ambos
pode e deve ter sido escrito por profetas escritores que os seguiram nessa linha de
sucessão. O mesmo acontece com os demais livros, em geral. No cânon judaico, Juizes
e Rute fazem parte do mesmo livro, e Rute termina com a genealogia de Davi. Os livros
de Samuel e Reis, que compõem uma só unidade, narram a história de Israel até o
cativeiro, contendo no final uma nota que se refere a um período posterior ao início do
cativeiro. Os livros das Crônicas, com histórias paralelas às de Samuel e Reis, terminam
com o decreto de Ciro e o retorno do cativeiro, dando lugar às histórias de Esdras e
Neemias sobre a volta e a reconstrução do templo e dos muros. Laird Harris observa que
cada final desses livros liga-os aos que os seguem, assim formando uma cadeia histórica
que vai dos fatos narrados no Pentateuco até aos escritos pós-exílicos, e conclui: “A
cadeia de profetas evidentemente escreveu uma cadeia de histórias de Gênesis a
Neemias, e os escritos desses profetas foram aceitos, um por um, através dos séculos
até que, quando o espírito de profecia partiu de Israel, o cânon estava completo”.[ii]

O livro das Crônicas (1 e 2), o último do cânon hebraico do AT, registra essa sucessão
de profetas escritores desde Davi até o final do reino de Judá:[iii]

Livro Rei Profeta(s)


1 Cron. 29.29 Davi Samuel, Natã e Gade
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2 Cron. 9.29 Salomão Natã, Aías e Ido


2 Cron. 12.15 Roboão Semaías e Ido
2 Cron. 13.22 Abias Ido
2 Cron. 20.34 Josafá Jeú
2 Cron. 32.32 Ezequias Isaías
2 Cron. 33.18-19 Manasses Videntes[iv]
2 Cron. 35.25-27 Josias e outros reis Jeremias e outros, sem
especificação de nomes

2.1.2.3. Há vários testemunhos históricos em favor desta sucessão, assim como do


seu término nos dias de Esdras e Neemias (profetas autores) e de Ageu, Zacarias e
Malaquias (profetas autores e de ofício). Laird Harris cita os seguintes:

O livro de 1 Macabeus, que fala sobre a falta de profetas nesse período: - as pedras
profanadas do templo foram colocadas em lugar conveniente “à espera de que viesse
algum profeta e se pronunciasse a esse respeito” (4.46), a tribulação que sobreveio a
Israel foi tão grande “qual não tinha havido desde o dia em que não mais aparecera um
profeta no meio deles” (9.27) e os judeus e seus sacerdotes escolheram Simão como
seu chefe e sacerdote “até que surgisse um profeta fiel” (14.41).[v]
O Manual de Disciplina dos Rolos do Mar Morto fala sobre a expectativa da “vinda de
um Profeta e dos ungidos de Aarão e Israel”, mostrando que não havia profeta em
Qumran e que eles aguardavam um.
Josefo, que mais tarde declarou: “É verdade que nossa história tem sido escrita
detalhadamente desde Artaxerxes, mas não tem sido estimada como de igual autoridade
que a anterior pelos nossos antepassados, porque não tem havido uma exata sucessão
de profetas desde aquele tempo” (Against Apion, 1.8). Esta afirmação de Josefo é feita
após sua declaração de que os profetas escreveram dos dias de Moisés até Artaxerxes.
A declaração do Talmude Babilônico de que “após os últimos profetas Ageu, Zacarias e
Malaquias o Espírito Santo partiu de Israel” (Sanhedrin, 11.a.).[vi]

2.1.2.4. Os livros históricos do AT foram chamados pelos israelitas de “Primeiros


Profetas” (ou "Profetas Anteriores"). Isto significa que, conforme a tradição de Israel,
eles foram escritos por profetas ou sob a direção e autoridade dos profetas. A autoria de
muitos desses livros históricos é conhecida e atribuída a esses profetas escritores,
confirmando a tradição. Morton Smith ressalta que esses livros históricos não contêm
apenas história, no sentido em que usamos o termo, mas são comentários dos fatos
relacionados com a Aliança de Deus com Israel. São profecia, no sentido em que na
história de Israel nós temos a revelação de Deus e seu trato com o povo de sua aliança.
Ele diz: “Nos livros históricos, portanto, nós encontramos não apenas registros dos
eventos, mas também o julgamento desses eventos à luz da Lei, de modo
particular”.[vii]

2.1.2.5. Os livros poéticos, de igual forma, não apenas estão baseados na revelação
mas são, eles próprios, parte dessa revelação. Expressam as experiências ético-religosas
do povo da Aliança nas suas relações com o Deus da Aliança. Morton Smith assim os
resume: O Pregador (Eclesiastes) condena a vaidade de um mundo sem o temor do
Senhor. Jó está preocupado com o problema da justiça de Deus e do sofrimento dos
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santos. Provérbios mostra-nos a verdadeira sabedoria na sua aplicação à vida. Cântico


dos Cânticos trata do amor sob o ponto de vista de Deus. Os Salmos retratam para nós o
todo da experiência humana sob Deus, e em 2Sm 23.1-3 encontramos este testemunho
do salmista Davi, o mavioso salmista de Israel: O Espírito do Senhor fala por meu
intermédio, e a sua palavra está na minha língua”.[viii] Outros textos que mostram a
poesia como modo divino de revelação são Dt 31.19 e 2Sm 1.18.

Podemos encerrar este estudo sobre consciência e unidade proféticas no AT citando as


palavras de Laird Harris:

Nossa conclusão, assim, é a de que as palavras de um profeta, em seu ministério


didático, eram as próprias palavras de Deus e foram recebidas como tais. Seus
escritos foram de igual crédito e nenhum deveria ser rejeitado por seus
contemporâneos ou sucessores. Estes pontos de vista são, de fato, ensinados e
ilustrados na Bíblia. Moisés escreveu sob o comando de Deus, coligiu sua obra
em uma lei e providenciou sua preservação. Os que o sucederam, a maioria dos
quais era claramente constituída de profetas e todos os quais podem ter sido
profetas, acrescentaram (seus escritos) aos rolos sagrados, estando cônscios da
continuidade do registro. Tudo isto foi recebido pelos contemporâneos, até onde
toda a evidência positiva indica, como de igual autoridade para a expressiva voz
profética. Nos dias que se seguiram ao final da escrita do Antigo Testamento, isto
foi considerado, tão logo começa nossa evidência (Eclesiástico, Rolos do Mar
Morto e o relato de 2 Mac. 2.13), como um corpo autoritativo de literatura. O
selo de aprovação dado pelo Senhor Jesus Cristo a esta literatura, na forma que
ela, então, tinha, é garantia suficiente de sua canonicidade e verdade para
aqueles que encontram nele o Caminho, a Verdade e a Vida. Mas quando Cristo
deu sua aprovação aos livros do Antigo Testamento Ele não estava promulgando
uma nova doutrina. Estava, isto sim, em perfeita conformidade com os judeus de
seu tempo e estava, na verdade, aprovando os ensinos sobre revelação e profecia
que o povo de Deus tinha mantido por gerações, retrocedendo às grandes
revelações básicas de Deus a Moisés no Monte Santo - a Moisés, o profeta que
prefigurava o próprio Cristo, o Profeta que viria ao mundo.[ix]

Implicações Práticas
O autor aos Hebreus ressalta que Deus falou aos pais, antigamente, muitas vezes e de
muitas maneiras (Hb 1.1). Só sabemos que Deus falou no passado porque houve um
registro deste fato, assim como do conteúdo de muito do que ele falou. A escrituração
do que Deus revela, ou pelo menos da parte da revelação que ele quis que todos
conhecessem, ordenada e providenciada por ele mesmo, é o que hoje nos dá a garantia
de que podemos conhecê-lo. Conhecer para temê-lo e honrá-lo, pois é assim que
seremos sábios. Só os loucos podem desprezar esse conhecimento (Sl 110.11; Pv 1.7).

_________________

Notas bibliográficas:

[i] Cf. L. Berkhof, op. cit., pp. 163-164 e Morton H. Smith, Systematic Theology, (Simpsonville:
Christian Classics Foundation, 1996), vol. I, edição eletrônica.
7

[ii] Laird Harris, Inspiration and Canonicity of the Scriptures (Greenville: A Press,1995) pp. 165-166.
Disponível em português sob o título Inspiração e Canonicidade da Bíblia, da Editora Cultura Cristã.

[iii] Cf. Ibid., p. 164.

[iv] Algumas versões, como a Atualizada e a Bíblia de Jerusalém, em português, e a American Standard
Version e a New King James, em inglês, traduzem a palavra hebraica hozeh que significa “vidente”,
como nome próprio, “Hozai”.

[v] Texto conforme a Bíblia de Jerusalém.

[vi] Cf. Laird Harris, op. cit., p.166.

[vii Morton H. Smith, op. cit., edição eletrônica.

[viii] Ibid.

[ix] Laird Harris, op. cit., pp. 176-177.

Leitura obrigatória:

A Revelação de Deus, de Leandro Lima.

Para que Alguém Possa Chegar a Deus, O Criador, É Necessário Que Tenha A Escritura
Por Guia e Mestra, de João Calvino. Capítulo 6 do Livro I das Institutas da Religião
Cristã.

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