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Introdução
1. Escrituração
A escrituração não se estendeu a toda a revelação, mas apenas a uma parte dela.
Devemos, então, distinguir entre revelação e escrituração (Escrituras). Nas Escrituras,
por exemplo, temos o registro inspirado das teofanias, dos milagres, mas não a própria
teofania, o milagre.
1.2. Palavras e feitos de profetas e do próprio Senhor Jesus não foram todos
registrados: 1Rs 4.29-34; Pv 25.1; Jo 20.30-31; 21.25.
1.3. Nem tudo que os profetas, ou mesmo os apóstolos, escreveram foi preservado e
incluído no cânon (1Cr 29.29; 1Co 5.9; Cl 4.16), ainda que algo disso tenha feito
parte da revelação especial.
Todavia, sem as Escrituras nada saberíamos sobre a revelação de Deus no passado, nem
o fato nem o seu conteúdo. Nem mesmo as palavras de Cristo seriam conhecidas. Para
que essa revelação pudesse ser conhecida em todos os tempos, após o fato, Deus serviu-
se de um outro processo de revelação, que chamamos de escrituração ou
“inscrituração”, que é o registro da revelação produzido através do que é, por sua vez,
chamado de “inspiração”. Esse registro é parte do processo da revelação e é a própria
revelação especial para nós hoje. Não temos atualmente outra fonte ou principium
cognoscendi externum senão as Escrituras. É através dela que Deus fala hoje.
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1.4.2. A tradição oral não é totalmente confiável, embora tenha servido como estágio,
em muitos casos, da preservação da revelação, até que esta fosse escrita.
2. Inspiração
2.1.1.1. Que os profetas estavam cônscios de uma chamada definida por parte do
Senhor para o exercício de sua função. Sabiam que tinham sido chamados: Êx 3.1; 1Sm
3; Ez 1-3; Am 3.7-8; 7.15. Esta chamada, algumas vezes, até contrariava a sua vontade,
como foi o caso de Moisés (Êx 3), Jeremias (20.7 e Amós (3.8).
2.1.1.2. Que eles estavam cônscios de que Deus lhes tinha falado e de que tinham
recebido uma revelação dele:
Deus havia falado a eles: Os 1.2; Hc 2.1; Zc 1.9, 13; 2.2, 7; 4.1, 4, 11; 5.5, 10; 6.4; Nm
12.2, Nu 12.8; 2Sm 23.2; 1Rs.22.28.
Deus lhes tinha dito o que falar: Êx 2.12; Dt 18.18.
Deus havia colocado a sua palavra na sua boca: Nm 22.38; 23.5; Dt 18.18.
Em alguns casos, especificavam o tempo e o lugar em que o Senhor lhes falara: Is
16.13-14; Jr 3.6; 13.3; 26.1; 33.1; Ez 3.16; 8.1; 12.8.
Usavam geralmente as fórmulas: “Assim diz o Senhor”, “Veio a mim a palavra do
Senhor”, etc., para expressar essa consciência: Js 24.2; Is. 1.1–2; 8.1, 11; Jr 1.2, 4, 11;
2.1; 7.1; Ez 1.3; 2.1; Os 1.1; Jl 1.1; Am 2.1.
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2.1.1.3. Sabiam distinguir entre a revelação de Deus e suas próprias ideias, isto é,
sabiam quando falavam ou escreviam por revelação de Deus e quando expressavam as
suas próprias reflexões ou opiniões: Exemplos do 1º caso: Is. 16.13–14; Jr 2.1; 3.6;
13.3; 26.1; 27.1; 28.1; 33.1; 34.1; 35.1; 36.1; 49.34; Ez 3.16; 8.1; 12.8; Ag 1.1; Zc 1.1;
Exemplos do 2º caso: Nm 16.28; 24.13; 1Rs 12.33; Ne 6.8; Sl 41.6–7. Nem sempre é
fácil, ou mesmo possível, para nós, distinguir quando o profeta está emitindo uma
opinião pessoal e quando está transmitindo uma revelação do Senhor, tal é o grau de
identificação que existe entre o profeta e Deus, nesse fenômeno.
2.1.1.7. Os profetas reconheciam a Torah (Lei dada através de Moisés) como tendo
sido dada por Deus e como sendo revelação de Deus: Is. 2.3; Mq 4.2; Am 2.4; Os 8.1;
4.6; Jr 18.18; Ez. 7.26; Sf 3.4; Ml 4.4. Reconheciam o papel de Moisés como grande
instrumento da revelação de Deus a Israel. Em todo o Pentateuco encontramos a mesma
fórmula: “Disse o Senhor a Moisés”: (Êx 25.1; 30.11, 17, 22; 31.1; 32.9; Lv 1.1; 4.1;
6.1; Nm 1.1; 2.1; 3.44; 4.1). O conteúdo do livro de Deuteronômio é o que Deus falou
ao seu povo através de Moisés: Dt 1.6; 2.1, 2, 17; 3.2; 5.2, 6.
produto de sua própria criação ou imaginação: Dn 12.8,9; Zc 1.9; 2.3; 4.4. Pedro afirma
que os profetas procuraram investigar os detalhes da mensagem de que eram portadores,
para entendê-la mais claramente (1Pe 1.10-11). [i]
Por unidade profética queremos dizer que a partir de Moisés houve uma cadeia
profética, ou seja, uma sucessão de profetas que haveria de culminar em Cristo, o
Profeta, predito em Dt 18.15-22.
O livro das Crônicas (1 e 2), o último do cânon hebraico do AT, registra essa sucessão
de profetas escritores desde Davi até o final do reino de Judá:[iii]
O livro de 1 Macabeus, que fala sobre a falta de profetas nesse período: - as pedras
profanadas do templo foram colocadas em lugar conveniente “à espera de que viesse
algum profeta e se pronunciasse a esse respeito” (4.46), a tribulação que sobreveio a
Israel foi tão grande “qual não tinha havido desde o dia em que não mais aparecera um
profeta no meio deles” (9.27) e os judeus e seus sacerdotes escolheram Simão como
seu chefe e sacerdote “até que surgisse um profeta fiel” (14.41).[v]
O Manual de Disciplina dos Rolos do Mar Morto fala sobre a expectativa da “vinda de
um Profeta e dos ungidos de Aarão e Israel”, mostrando que não havia profeta em
Qumran e que eles aguardavam um.
Josefo, que mais tarde declarou: “É verdade que nossa história tem sido escrita
detalhadamente desde Artaxerxes, mas não tem sido estimada como de igual autoridade
que a anterior pelos nossos antepassados, porque não tem havido uma exata sucessão
de profetas desde aquele tempo” (Against Apion, 1.8). Esta afirmação de Josefo é feita
após sua declaração de que os profetas escreveram dos dias de Moisés até Artaxerxes.
A declaração do Talmude Babilônico de que “após os últimos profetas Ageu, Zacarias e
Malaquias o Espírito Santo partiu de Israel” (Sanhedrin, 11.a.).[vi]
2.1.2.5. Os livros poéticos, de igual forma, não apenas estão baseados na revelação
mas são, eles próprios, parte dessa revelação. Expressam as experiências ético-religosas
do povo da Aliança nas suas relações com o Deus da Aliança. Morton Smith assim os
resume: O Pregador (Eclesiastes) condena a vaidade de um mundo sem o temor do
Senhor. Jó está preocupado com o problema da justiça de Deus e do sofrimento dos
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Implicações Práticas
O autor aos Hebreus ressalta que Deus falou aos pais, antigamente, muitas vezes e de
muitas maneiras (Hb 1.1). Só sabemos que Deus falou no passado porque houve um
registro deste fato, assim como do conteúdo de muito do que ele falou. A escrituração
do que Deus revela, ou pelo menos da parte da revelação que ele quis que todos
conhecessem, ordenada e providenciada por ele mesmo, é o que hoje nos dá a garantia
de que podemos conhecê-lo. Conhecer para temê-lo e honrá-lo, pois é assim que
seremos sábios. Só os loucos podem desprezar esse conhecimento (Sl 110.11; Pv 1.7).
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Notas bibliográficas:
[i] Cf. L. Berkhof, op. cit., pp. 163-164 e Morton H. Smith, Systematic Theology, (Simpsonville:
Christian Classics Foundation, 1996), vol. I, edição eletrônica.
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[ii] Laird Harris, Inspiration and Canonicity of the Scriptures (Greenville: A Press,1995) pp. 165-166.
Disponível em português sob o título Inspiração e Canonicidade da Bíblia, da Editora Cultura Cristã.
[iv] Algumas versões, como a Atualizada e a Bíblia de Jerusalém, em português, e a American Standard
Version e a New King James, em inglês, traduzem a palavra hebraica hozeh que significa “vidente”,
como nome próprio, “Hozai”.
[viii] Ibid.
Leitura obrigatória:
Para que Alguém Possa Chegar a Deus, O Criador, É Necessário Que Tenha A Escritura
Por Guia e Mestra, de João Calvino. Capítulo 6 do Livro I das Institutas da Religião
Cristã.