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Jessé Vitorino da Silva Júnior

TEXTO SAGRADO V
EVANGELHOS

1ª Edição
2017

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Sumário

Palavra do Professor autor


Sobre o Autor
Ambientação à disciplina
Trocando ideias com os autores

Unidade 1 - Panorama Neotestamentário

Panorama Neotestamentário
Evangelhos Sinóticos
Revisando

Unidade 2 - Evangelho segundo Marcos e Mateus

Evangelho Segundo Marcos


Evangelho Segundo Mateus

Unidade 3 - Evangelhos segundo Lucas

Evangelho Segundo Lucas


Evangelho Segundo João

Leitura obrigatória
Revisando
Autoavaliação
Bibliografia

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Palavra do professor autor

Iniciaremos os estudos através de uma abordagem panorâmica sobre


fatos que compuseram a realidade histórica que antecedeu a encarnação do
Filho de Deus. Fatores que estruturaram uma conjuntura de situações que
sensivelmente colaborou para a possibilidade da existência de um Novo
Testamento sob o sangue do cordeiro sem mácula. Daí seguiremos para uma
breve análise sobre os evangelhos sob a alcunha de sinóticos. O que
significaria evangelho, o que seriam esses assim referidos por sinóticos e
abordaremos suas características. De maneira concisa exploraremos a
realidade dessa tríade de livros.

Nas unidades seguintes, contemplaremos os evangelhos. Marcos e


Mateus na unidade dois e Lucas e João na terceira e última unidade. A todos
os livros será utilizado o mesmo estilo de interpelação procurando a melhor
maneira de explanação do conteúdo, sempre recorrendo a tópicos definidos
(autor, data, local).

O leitor, buscando em diligência e com um coração sincero, encontrará


neste sucinto material, referências para um estudo escriturístico proveitoso e
agradável.

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Sobre o autor

Jessé Vitorino da Silva Júnior

É escritor e palestrante, graduado em Teologia e Especialista em


Ciências da Religião pelo Centro Universitário UNINTA. Realiza trabalhos
evangelísticos disseminando a filosofia do Cristo ressurreto, o kerigma do
evangelho vivo!

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Ambientação à disciplina

Caro estudante,
Você tem a oportunidade através desta leitura, de conhecer um
conteúdo relacionado ao período denominado Novo Testamento, termo
utilizado em virtude da Nova Aliança proclamada desde o Velho Testamento,
fazendo-se real na vinda de Jesus, o Cristo! A realidade neotestamentária
passa a ser delineada nessa tão antiga esperança que o Salvador, em
definitivo, resgataria a humanidade. A vinda do Senhor era a certeza de quem
não enxerga nada além do que via o coração. O Novo Testamento concretiza o
modelo de uma fé profética veterotestamentária.
Veremos como toda a realidade temporal se moldou para proporcionar o
maior evento de que já se teve conhecimento: A vida do verdadeiro Messias!
Pelas mãos do hábil artesão universal, o Santo YHWH, a criação recebe uma
arquitetura adequada para que a Palavra ecoasse uma metanoia adequada e
todos finalmente em espírito e verdade contemplassem a Deus.
Nesta pequena literatura, importante se faz perceber o que gerou
decorrente deste encontro da Humanidade com o Filho de Deus, momento
onde nada permanece como estava. Ponderar sobre as consequências revela
a prudência de um sábio. E assim, ao sabermos que a boa nova do evangelho
se propagou e cartas evangelizaram declamando a redenção na cruz,
concluímos a certeza de que uma ressurreição fez o planeta levantar da morte
porque Ele veio! E como Ele veio, então foi unicamente porque nos ama.

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Trocando ideias com os autores

Nosso estudo revela a necessidade de uma pesquisa


colhendo informações de fontes confiáveis e também
recomendáveis. Entre outras obras que podem ser
consultadas, destaco três livros que auxiliarão nessa
tarefa.

Neste livro de Kümmel encontramos profundo e científico caráter


investigativo diante dos livros da Sagrada Escritura. Indicado a quem busca
sempre um algo a mais, embutido nos conceitos habituais. Para mim, este livro
em particular, sempre acrescentou novas possibilidades não usuais diante das
posições comumente aceitas.

Evangelhos (I) de Barbaglio et al,


aborda os livros de Marcos e Mateus e
possui sequência imediata no livro de
Fabris et al, Evangelhos (II)
contemplando Lucas e João. Muito ricos
em dados, numa estrutura coesa,
profícua de elementos informativos,
estes dois livros foram essenciais na elaboração deste trabalho.

Barbaglio et al. Os Evangelhos (I), São Paulo: Edições Loiola, 1990.


Fabris et al. Os Evangelhos (II), São Paulo: Edições Loiola, 1990.
No decorrer das leituras esboce fichamentos e ao término tente
promover uma releitura geral coadunando fontes diversas colhidas por suas
anotações, numa harmonização produtiva.

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PANORAMA
NEOTESTAMENTÁRIO

1
Conhecimento
Noções sobre o Novo Testamento e os evangélicos sinóticos

Habilidade
Estar capacitado para poder explanar assuntos retratados na unidade

Atitude
Cultivar empenho crítico-reflexivo diante do contexto ofertado

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Ambiente Histórico

“Quando, porém, chegou à plenitude do tempo, enviou Deus o seu Filho,


(...)”. Gl 4.4 Bíblia de Jerusalém (2011, p. 2035). Que momento seria este? E
por que seria adequado? Que condições geravam esta adequação?

Entretanto, numa progressiva revelação desde o Antigo Testamento,


Deus colocara anunciadores de Sua vontade, cujas mensagens causaram
influência nos povos de seu tempo. Muitos desses grupos sociais étnicos se
revelaram como importantes na construção dessa plenitude, nos anos que
antecederam a era cristã. E o destaque repousaria sobre os judeus (e sua
religião), os gregos (e sua língua) e os romanos (e sua estrutura sócio-política).

Os Hebreus
Os hebreus foram escolhidos como um “reino de sacerdotes e nação
santa” (Ex 19.6) era designado para ser sal e luz entre os povos, contudo
fracassou quanto a esse intento devido seus recorrentes pecados. Como
consequência presenciamos no ano 587 a.C. Nabucodonosor os levando para
cativeiro. Da Babilônia se dispersam por todo o mundo antigo. Esse evento traz
consigo benefício: muitos deles, carregam consigo a marca do monoteísmo e
se revelam aos gentios como adoradores fiéis do único Deus verdadeiro que
lhes deu Sua Lei. Assim, o monoteísmo se disseminou através dos anos numa
espécie de preparo à vinda de Jesus.

A mensagem pregada por Jesus e seus apóstolos não seria uma total
novidade porque o conceito básico monoteísta já era conhecido. Mas não se
resume apenas nos testemunhos dos dispersos, também houve um evento que
colaborou no preparo da “plenitude dos tempos”. Uma publicação de
extraordinária importância levou leitores gentios o ideário judaico. Através da
Septuaginta, a Versão dos Setenta, a mensagem veterotestamentária foi
traduzida para o grego, que era a língua de uso internacional. Isto aconteceu
em Alexandria no Egito entre 250 e 150 a.C., mas sua repercussão se fez livre
de fronteiras e assumiu um caráter atemporal, características substanciais no

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que se refere a disseminação de ideias, estas que abrem caminho a Salvação
que virá e que provém dos judeus. Dentro desse quadro de itens com diversos
prenúncios, lembramos que durante o século II a.C. surgiram no Judaísmo
suas principais corrente de pensamento. Dentre elas, duas em destaque,
sempre mencionadas nos evangelhos e no livro de Atos, seriam os fariseus
(mais numeroso e composto em sua maioria por estudioso e mestres do Antigo
Testamento) e os saduceus (compostos por líderes políticos e autoridades
onde se viam os sacerdotes e os principais oficiais do Sinédrio em Jerusalém).
A radicalidade farisaica era latente. A ressurreição, o juízo do último dia, a
legitimidade incontestável veterotestamentária e a existência de anjos e espírito
são conceitos pertinentes à sua crença. Esses elementos, por sua vez,
negados pelos saduceus (At. 23.6-8). Mas em Jesus, o grupo farisaico sempre
encontrava uma posição clara (Mt. 23.23-23).

Os Gregos
Um mundo helenizado antecedeu a chegada de Jesus. Alexandre, o
Grande, filho de Filipe da Macedônia através de suas conquistas disseminou o
idioma grego como língua comum a todos. A morte de Alexandre provocou o
fim do império, mas as consequências desta miscigenação cultural continuaram
ecoando historicamente. Ouvimos estes ecos quando nos deparamos com os
apóstolos de Jesus pregando basicamente em grego ou quando o idioma é
utilizado pelos autores neotestamentários em suas obras em virtude da ampla
utilização desta língua como idioma comum daquela época. Com a utilização
do grego presenciamos como que neologismos, situação esta onde a
espiritualidade é privilegiada em sua dimensão evangelística. Palavras
recebem amplitude no seu significado, o que beneficia, enriquecendo, quando
da disseminação da mensagem. Termos como Cristo, redimir, resgate, igreja,
sabedoria e palavra, seriam nítidos exemplos.

Os Romanos

O mundo conhecido fora delineado através de um império que se


evidencia desde a porção ocidental do Mediterrâneo até o rio Eufrates, no
Oriente Próximo e para administrar este colosso, lei e ordem são a essência

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vital que permite e proporciona existência coesa e pródiga. Era uma imensa
área territorial onde através de províncias e distritos, supervisionados por
governadores, obtinha-se um ordeiro gerenciamento produtivo. O mundo
repousava aos pés de Roma. Sobre sua importância na participação da
construção de possibilidade nessa plenitude dos tempos, destacamos que a
paz romana obtida através de um considerável apoio bélico, evidenciada no
reinado de César Augusto, é de suma importância. Deve ser considerado,
porque Lucas em (2.1-7) nos faz o relato do nascimento do Salvador em Belém
na Judeia; que era província romana.

Também não é prudente desconsiderar que um vasto império como esse


necessitava de tráfego adequado para fluir suas riquezas e assim manter-se.
Roma possuía excelente rede viária, o que também colabora nesse escopo.
Estradas com boa drenagem, e geralmente patrulhadas por militares,
características essas que facilitavam os deslocamentos proporcionando-lhes
efetividade e segurança. O próprio apóstolo Paulo se utilizou dessas vias de
progresso. E um terceiro item, que embora envolva considerações negativas,
também colaborou com o preparo para o cristianismo vindouro. Os povos da
região da bacia do Mediterrâneo estavam ansiosos por redenção. A excessiva
degeneração moral e espiritual no qual se encontravam imersos, os saturava.
Suas crenças não mais ofertavam sentido existencial. A religião estatal com
rigidez e formalismos, as correntes filosóficas que não alcançavam o interesse
do cidadão comum, tudo colaborava para a busca desta redenção. E
completando a desolação do quadro, no leste como no oeste surgiram
“religiões de mistério” ofertando salvação pessoal, comunhão com deuses e
rituais ocultos, apenas mais um pseudocredo.

Nesse contexto social aflora o cristianismo, trazendo redenção salvífica,


perdão ao sincero de coração e verdadeira paz. A plenitude dos tempos
chegou com a vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo.

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A Palestina no Século Primeiro

Monarcas

Nos primeiros anos da era cristã, a dinastia herodiana foi a primeira


família a governar a Palestina. Com um governo se estendendo de 37 a 4 a.C.,
presenciamos Herodes, o Grande, rei escolhido por Roma, a governar os
judeus. O infanticídio relatado por Mateus no cap. 2 remete ao período de
poder desse monarca. Seu filho, mencionado nos evangelhos, é Herodes
Antipas, que, como tetrarca da Galiléia e da Pereia, governou de 4 a.C. a 39
d.C. Esse, juntamente com sua cunhada Herodias, participou do incidente
envolvendo João Batista (Mt 14.1-12). Em Lucas 13.32 é referido como “essa
raposa” por Jesus em Jerusalém no julgamento de Cristo (Lc 23.7-12). De 34 a
44 d.C., na linha de sucessão, Herodes Agripa I, filho de Aristóbulo e neto de
Herodes, o Grande, substitui Antipas, governando sobre a Galileia, Samaria e
Judeia. Conforme Atos 12 ele teria sido o responsável pela morte de Tiago,
filho de Zebedeu, a prisão de Pedro e menciona a morte desse monarca (v. 21-
23). Assim chegamos ao último monarca dessa família, Herodes Agripa II que
governou de 50-100 d.C. Encontramos em At 25 e 26 referências ao seu nome.

Procurador

Segundo os registros do Novo Testamento, Pôncio Pilatos (26-36 d.C.)


foi dentre os procuradores romanos da Judeia no século primeiro, o que mais
recebeu notoriedade. Sua participação no julgamento de Cristo acarretou
expressivo destaque histórico.

Sumo Sacerdote

Nesse enredo político, os judeus eram governados pelo próprio sumo


sacerdote e sua corte no grande Sinédrio em Jerusalém. Anás (prestigiado
sumo sacerdote) sogro de Caifás (da época do julgamento de Cristo, conforme
Jo 18.13) e Ananias ( At 23.3), são os três referidos no Novo Testamento.

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O Templo
O Templo de Jerusalém era o centro religioso judaico. Referido como
“templo de Herodes”, estava sob conclusão nos dias de Jesus (Jo 2.20)
Símbolo da esperança e desejos religiosos populares, destacamos outros
edifícios anteriores: Os templos de Salomão e de Zorobabel. Era o local que
motivava peregrinações, no intuito de adoração, oferta de sacrifício, e
observância das festas como Páscoa, Pentecostes e a Festa dos
Tabernáculos.

A Sinagoga
Havia várias Sinagogas. Elas surgiram após o Exílio Babilônico como um
lugar de reunião religiosa. Era utilizado principalmente por quem habitava
regiões distantes de Jerusalém. Locais de ensino e oração visitados por judeus
e prosélitos gentios. Lucas 4.16-30 e Atos 13.14ss; 26.11 nos informam que
Jesus e os primeiros cristãos frequentavam a sinagoga.

O Messias

Essa é uma época em que há um clima de expectativa messiânica, onde


Deus age em intervenção salvífica junto a seu povo (Lc 2.25). Para a nação
hebraica o Antigo Testamento era o livro do Deus único, a Lei era a revelação
de seu desejo e esse Deus controla tudo. Assim, ao enviar Jesus, Deus exerce
seu controle concretizando os anseios da vinda do Messias verdadeiro: Cristo.
Uma promessa veterotestamentária, que enfim encontra cumprimento na
natividade do Salvador. (DUNNET, 2005, p. 13-18).

Composição do Novo Testamento

A realidade neotestamentária possui seus personagens que exerceram


considerável influência na disseminação da mensagem salvadora de Jesus
Cristo. Pedro, João, Lucas são formidáveis expoentes juntamente com outro
nome em especial: Paulo.

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Quanto a mim, já fui oferecido em libação e chegou o tempo de
minha partida. Combati o bom combate, terminei a minha
carreira, guardei a fé. Desde já me está reservada a coroa da
justiça, que me dará o Senhor, justo juiz, naquele dia; (...) 2
Tim 4 6-8.

De perseguidor (At 9.1-2) a perseguido (2 Cor 11. 23-25). Autor de 13


epístolas que abrangem quase um quarto do Novo testamento, podemos
conhecê-lo através de passagens como (At 22.1-21) e (At 26.2-23). De sua
família herda o direito à cidadania romana (At 22.28). Esse judeu, por etnia (Fl
3.5) e cristão por fé, desempenhou impressionante e incansável atividade
missionária possibilitando ao mundo gentílico receber o Cristo (Gl 1.16; 1 Ts
2.4; Rm 1.1, 5; 15.15-16). Para Carson et al (1992, p. 261), temos essa
demarcação temporal aproximada em relação à carreira missionária de Paulo:

Conversão (34-35d.C.) ou antes, ministério em Damasco e na Arábia


(35-37 d.C.), Primeira visita a Jerusalém (37 d.C.), ministério em Tarso
e na Cilícia (37-45 d.C.), visita de socorro aos famintos (45, 46 ou 47
(d.C.), primeira viagem missionária (46-47 ou 47-48 d.C.), concílio
apostólico (48 ou 49 d.C.), segunda viagem missionária (48-51 ou 49-
51), terceira viagem missionária (52-57), prisão em Cesareia (57-59),
viagem a Roma (59-60), Prisão em Roma (60-62), ministério no Oriente
(62-64), morte (64-65).

Divisões Neotestamentárias

Literária

As divisões literárias que compõem o Novo Testamento não se prendem a


uma sequência cronológica. Inicia-se com os Evangelhos e Atos como
sustentáculo da compreensão dos escritos subsequentes. Mateus que mostra
Jesus Cristo, Rei dos Judeus. Marcos onde temos Jesus como o Servo do
Senhor. Em Lucas encontramos Jesus como o Filho do homem. João que
expõe um Jesus que é o Filho de Deus e Atos onde contemplamos o Cristo

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ressuscitado. Observemos a interação temática sobre o ministério de Jesus a
fluir com graciosidade e coerência entre os evangelhos (DUNNET, 2005).

Quadro comparativo dos evangelhos


Evangelho Período de Período do ministério Período de Período
preparação público sofrimento de triunfo
Inicio Término
Mateus 1.1- 4.16 4.17-16.20 16.21-26.2 26.3-27.66 28.1-20

Marcos 1.1-13 1.14-8.30 8.31-13.37 14.1-15.47 16.1-20

Lucas 1.1- 4.13 4.14-9.21 9.22-21.38 22.1-23.56 24.1-53

João 1.1-34 1.35-6.71 7.1-12.50 13.1-19.42 20.1-21.25

O livro de Atos dos Apóstolos é uma continuação do Evangelho segundo


Lucas. Naquele se vê o Cristo ressuscitado através do Espírito Santo agindo.
As epístolas contidas nessa Nova Aliança apresentam a pessoa do Cristo, Sua
proposta de salvação e demonstram como essa nova realidade de salvação
pode ser incorporada por essa igreja cristã nascente. Recordando que Paulo é
o autor da maioria das epístolas, destacamos que nove de seus treze escritos
foram destinados às igrejas, e quatro, a pessoas em particular. Em sua maior
parte, a temática aborda problemas eclesiais (com exceção de Efésio).
Percebe-se um tom muito pessoal em Filipenses e 2 Coríntios, outros a
formalidade é a tônica constante numa forte impessoalidade, tendo Romanos
como exemplo mais pragmático. O restante das epístolas se vê relegada a dois
grupos temáticos: Sofrimento (Hebreus, Tiago, 1 Pedro) e falsos ensinos (2
Pedro, 1, 2 e 3 João e Judas). Encerrando o quadro de escritos apresenta-se o
Apocalipse. (DUNNET, 2005, p. 18-19).

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a) Cronológica

Segundo Carlson et al (1992, Passim) aproximadamente teríamos:

LIVRO AGRUPAMENTO DATA LIVRO AGRUPAMENTO DATA


(d. C.) (d. C.)
Mateus Evangelho 55-70 1e2 Carta Paulina 51
Tessalonicenses
Marcos Evangelho 50-60 1 Timóteo Epístola 60-66
Pastoral Paulina
Lucas Evangelho 75-85 2 Timóteo Epístola 60-67
Pastoral Paulina
João Evangelho 55-95 Tito Epístola 57-60
Pastoral Paulina
Atos 62 Filemon Carta Paulina 50-60
Romanos Carta Paulina 57 Hebreus Epístola Paulina 60-100
1 Coríntios Carta Paulina 55 Tiago Carta 48-49
2 Coríntios Carta Paulina 56 1 Pedro Carta 60
Gálatas Carta Paulina 48 2 Pedro Carta 68
Efésios Carta Paulina 60 1,2,3 João Carta 90-110
Filipenses Carta Paulina 50-60 Judas Carta 65-80
Colossenses Carta Paulina 50-60 Apocalipse 90-95

O cânon da Sagrada Escritura no Novo Testamento:

Tais livros deveriam preencher exigências criteriosas para figurarem


nessa relação canônica: Conformidade do documento à ortodoxia ou “regra de
fé”, a apostolicidade e a aceitação generalizada e constante através da
utilização desse documento pelas igrejas. (CARSON et al, 1992, p. 547-551).

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Motivadores

Imaginando o cânon como um agrupamento determinado e comumente


aceito é preciso se ater ao seu processo de formação. Casos como o de
Marcião e do movimento montanista, geraram uma situação de necessidade de
posicionamento oficial da Igreja cristã quanto ao que deveria ou não ser
considerado canônico. Temos em Marcião a primeira tentativa de formular um
agrupamento específico de livros. Esse, muito influenciado pelo dualismo sírio,
não aceitou todo o Velho Testamento e aceitou somente uma edição de Lucas
muito modificada e a edição contendo dez cartas Paulinas, retirando as
pastorais.

Reação

Essa ação de Marcião, como também de outros considerados hereges,


exigiu uma resposta por parte da igreja, e esta formulou o Cânon oficial
amplamente aceito. Assim, através do Cânon Muratoriano1 uma ortodoxia da
Igreja se vê no início estruturada dentro de um processo que resultará em um
momento definitivo no qual se terá a certeza plena quanto a quais livros devem
ter a premissa de consideração canônica universal diante da igreja cristã. Tal
lista Muratoriana é, e se faz, por indicativo nessa igreja primeira de quais livros
potencialmente deveriam ser ou não ser abraçados. O próximo marco nesta via
de busca do rol da canonicidade é composto por Eusébio de Cesareia (c.
260—340) que elabora para o cânon neotestamentário considerados os
candidatos pertencentes a três categorias: Primeiro: Homologoumena (os
aceitos) onde encontramos os quatro evangelhos, Atos, 14 epístolas paulinas,
(inclui Hebreus ainda que soubesse de que a igreja em Roma não imputava

1
Canon de Muratori, chamado também fragmentum Muratorianum, é a lista mais antiga e mais importante dos escritos
do NT. Foi descoberto por L. A. Muratori (1672-1750) na Ambrosiana (J 101 Sup.) em Milano (editado: Milano 1740). E’
um do século V I ou V III, sendo, porém, uma cópia de um documento muito mais antigo, redigido na segunda metade
do século XI, conforme a opinião hoje comum, em Roma ou nas redondezas; talvez por Hipólito de Roma. O texto (que
conta agora 85 linhas [ver p. ex. E B 3]) foi redigido num latim desajeitado e às vezes incompreensível (uma redação
original em grego é duvidosa), a tal ponto que a interpretação apresenta sérias dificuldades; além disso ela está
danificada, faltando um trecho no início e provavelmente também no fim. A lista fornece informações importantes a
respeito da origem de diversos escritos do NT. Faltam Hbr, Tg, lPdr e 2Pdr; Apc porém consta, de acordo com a
tradição ocidental, bem como (mas não sem restrições) o apocalipse apócrifo de Pedro e (como livro do N T !) Sab. As
falsificações marcionitas, as cartas, ditas de S. Paulo aos laodicenses e aos alexandrinos e diversos escritos heréticos
são expressamente reprovados, o Pastor de Hermas é mencionado, mas apenas como “útil”.
BORN, A. VAN DEN. Dicionário Enciclopédico da Bíblia. Petrópolis: Vozes, 1977 p. 235-236.

21
autoria Paulina a este escrito), 1 Pedro, 1 João e aparentemente (sob
considerações), Apocalipse. Segundo: Antilegomena (os debatidos) onde
encontramos Tiago, Judas, 2 Pedro, e 2 e 3 João. Terceiro: Os pseudé, não
legítimos, os sem aceitação alguma, como Atos de Paulo, Pastor de Hermas,
Apocalipse de Pedro, Epístola de Barnabé, O Didaquê e, talvez, o Apocalipse.

Desde cedo já temos uma relação segura. Dentro desta precocidade de


definição temos o manuscrito de Cheltenham, que nos remete ao ideário em
validade no norte da África c. 360 d.C. (contendo quase todos os livros
neotestamentários subtraindo-se apenas Hebreus, Tiago e Judas). Citamos
também a carta de Páscoa que Atanásio redigiu com destino a igreja em
Alexandria no ano 367 onde perfazem os 27 livros do Novo Testamento. O
sexagésimo cânone do Concílio de Laodicéia (c. 363) excetua apenas o
Apocalipse. O Terceiro Concílio de Cartago (397) reconhece os 27, e depois
disso, no Ocidente essa foi a posição mais consensual. No Oriente, a igreja
representada pela Peshitta Siríaca deixou de fora 2 Pedro e 3 João e o
Apocalipse. A igreja etíope aceita os 27 livros juntamente com mais oito que
abordam assuntos eclesiais. (CARSON et al, 1992, p. 547-551)

Consequências

No século V, a igreja cristã do Oriente adota o cânon da igreja ocidental,


que assim permanece até a Reforma. O concilio de Trento, na sessão IV de 8
de abril de 1546, afirmou a canonicidade de toda a Bíblia (AT e NT) como
perfazia na Vulgata Latina (colocando Hebreus como décima quarta epístola de
Paulo, e Tiago como uma epístola do apóstolo Tiago). Tal concílio declara
igualdade entre todos os livros da escritura e, segundo Kummel (1982, p. 666)
“(...) pediu que fossem recebidas sine scripto traditiones pari pietatis affectu ac
reverentia (“as tradições não-escritas com idêntica afeição piedosa e
reverência”).
Os reformadores objetam perante livros isolados, contudo aceitam o
cânon segundo os limítrofes traçados pela igreja antiga. Lutero, em sua Bíblia,
coloca no fim do Novo Testamento quatro textos: Hebreus, Tiago, Judas e
Apocalipse, porque para ele o que fosse apostólico seria canônico. Não

22
obstante tenhamos o conhecimento de que para Lutero o vocábulo “apostólico”
significaria ou “dos tempos apostólicos” (escrita de punho dos apóstolos) ou “de
outros tempos” (produzido por outros que não os apóstolos, mas que em si
reside a marca apostólica). Tal manobra deste reformador gera uma diferença
de classificação quanto ao livro de Hebreus em traduções reformadas: a
Confessio Belgica (1561) a coloca como décima quarta epístola paulina. A
Confessio Gallicana (1559) e a Confissão de Westminster (1647) a colocam
entre as chamadas epístolas universais. Kummel (1982, p. 667).
Pertinente se faz considerarmos que o estabelecimento de um cânon
não visa dar credibilidade aos escritos que foram aceitos e sim estruturar
sistemicamente dentro de uma ortodoxia o que não seria compatível com a
realidade da pessoa do Cristo e Seus ensinos.

Evangelhos Sinóticos

Pelos documentos cristãos mais antigos, o termo evangelho possuía o


significado de uma boa notícia, da proclamação da salvação na pessoa de
Jesus. Por volta do ano 150 d.C, deparamos com este termo evocando a ideia
de um livro. Assim, muito antes de ser uma designação de um gênero de
escrita, caracterizava definindo a atividade itinerante evangelística.
Também se faz necessário perceber a realidade de que os Evangelhos
não seriam biografias de uma persona criadora de uma religião. Nem tampouco
é viável colocá-los dentre os modelos de escritos religiosos como: “fioretti”,
relatos histórico-religiosos, manuais para o culto, entre outros. Configuram no
espectro da literatura religiosa popular, mas estampam nitidamente sua
essência que deriva do fato histórico representado por Jesus e da comunidade
dele originada. (BARBAGLIO et al, 1990, p. 14-15).

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Característica

O problema Sinóptico

Ao final do século XVIII, no ano de 1776, o erudito alemão J. J.


Griesbach em sua obra Synopsis Evangeliorum (Sinopse dos Evangelhos),
pela primeira vez se refere a tríade Marcos-Mateus-Lucas como sinóticos.
Adjetivo de origem grega (synopsis) que significa “ver em conjunto”. Devido a
semelhanças na estrutura, conteúdo e enfoque, o índice de proximidade ser
altíssimo.

Diferenças

Os sinópticos apresentam diferenças entre si que Agostinho se referia a


tal peculiaridade sinóptica como “concordantia discors” (uma concordância
discordante). Nesse quadro de divergências constatamos que em termos de
material exclusivo encontramos um percentual de 8% em Marcos, 30% em
Mateus e de 48% em Lucas. O evento temático do Sermão da Montanha, por
exemplo, encontra-se ausente em Marcos, e em Mateus está depositado nos
cc. 5-7 quando que, em Lucas encontra-se disperso pelos cc. 6,11,13,14,16,
revelando assim que determinados acontecimentos assumem a característica
de não serem encontrados no mesmo lugar ou percebidos na ordem. Também
encontramos diferenças de vocabulário, na ordenação das palavras, na
construção das ideias, mesmo em passagens onde o óbvio seria que tais
diferenças não se apresentassem (Mt 6,9-13; Lc 11,2-4 – Mt 26,26-28; Mc
14,22-24; Lc 22, 19-20), ou onde as semelhanças se fazem ressaltadas (Mc
4,19 e Lc 8,14; Mt 22,25 e Mc 12,20; Mc 28,7 e Lc 24,6). (BORN, A. VAN DEN,
1977, p. 1249-1250).

Concordâncias

Observamos concordância entre os três ao que se refere a disposição


geográfica dos fatos (ministério de Jesus da Galileia pela Samaria chegando a

24
Jerusalém onde sofre morte. (MARCONCINI, 2001, p.10). Também no que
tange ao conteúdo, pois os três se repetem nas narrativas em relação a mesma
casuística: curas, exorcismos e ensinos por parábolas da parte de Jesus.
Também encontramos concordância em situações que lhes são por marca: o
envio dos doze, a transfiguração, o sermão profético, a narrativa da última ceia.
Tal conjunto de características peculiares é ressaltado por Marconcini:

Não se trata de uma concordância substancial com uma ou outra


diferença. Não é isso. Teríamos, então, três cópias de um mesmo
texto. Mas também não se trata de uma discordância que possa ser
considerada substancial com alguma identificação. Nesse caso,
teríamos três textos que sofreram mútua influência. Mateus, Marcos e
Lucas transmitem o mesmo material literário. (MARCONCINI, 2001, p.
10).

Quando acontece essa transmissão entre os três, tem-se tríplice tradição


(TT); quando se dá apenas entre dois (de maneira especial Mateus e Lucas),
observa-se dupla tradição (DT). E temos a simples tradição (ST), quando
apenas um evangelista relata algum episódio (de pouca incidência em Marcos,
mediana casuística em Mateus e acentuadamente se presencia essa
ocorrência em Lucas).

Mais Singularidades

Realmente a questão sinótica é fascinante. Os versículos de Marcos


(661, sendo 53 próprios), Mateus (1068, sendo 330 próprios) e Lucas (1145,
sendo 500 próprios) possuem em comum um vasto material que estando
colocados em disposição paralela, em um só vislumbre, podem ser
comparados. São situações como dos 661 versículos dispostos em Marcos,
mais de 600 podemos encontrar em Mateus e 350 achamos em Lucas.
Também se percebe entre Mateus e Lucas a peculiaridade de dividirem entre si
aproximadamente 250 versículos (estes não se encontram em Marcos) como
também Mateus contendo próprios 330 versículos e Lucas perfaz
quantitativamente em 548 versículos, a autoria exclusiva.

25
A proximidade dessa tríade se estende mais além, como percebemos
nessas constatações: o conteúdo integral do evangelho e os destaques a
específicos acontecimentos dentro da missão de Jesus; citações da escritura,
nestes três evangelhos possuem igual forma, contudo não é o Texto
Massorético nem a Versão dos Setenta (LXX). (e.g.: Mt 3,3; Mc 1,3; Lc 3,4—Mt
11,10; Mc 1,2; Lc 7,27). Também constitui fator de extrema identidade entre
esses livros o estilo, o vocabulário, a ordem das palavras (Mt 9,1-17; Mc 2,1-
22; Lc 5,17-39), onde se encontram palavras que, no Novo Testamento,
somente uma única vez são utilizadas). Aumentando ainda mais suas
analogias, percebe-se nesses livros a ordenação de determinadas séries de
fatos e de determinados “logia” relativos aos mesmos ( Mt 9,1-17; Mc 2,11-22;
Lc 5,17-39 – Mt 16,13-17,23; Mc 8,27-9,32; Lc 9,18-45 – Mt 24,1-44; Mc 13,1-
37; Lc 21,5-33). (BARBAGLIO, 1990, p. 23).

Procurando entender, buscando explicar

Estamos, pelo exposto, diante de diversas situações que os sinóticos


inevitavelmente, em profundo distanciamento do Evangelho Segundo João.
Para tentar fazer-se compreender essa questão de similaridades e
antagonismos dispondo-se nessa tríade, muitas hipóteses foram levantadas.
Muita metodologia de trabalho em busca de uma solução perante o problema
sinótico foi proposta. Considerando dentre outras, teremos:

a) Buscar uma solução na base da tradição oral, considerado que a


catequese apostólica concede forma delimitada ao material dos
evangelhos e que cada um dos autores sinóticos, individualmente,
(ao seu jeito) prepara esse material;

b) Ou considerar uma interdependência literária da tríade sinótica onde


as semelhanças derivam da utilização do material do primeiro pelo
seu sucessor e o terceiro se valendo do material do segundo e do
primeiro. Este primeiro seria um Mateus aramaico (cf. texto de Pápias
em Eusébio (H.E. 3,39,16) do qual se fizeram traduções completas e

26
parciais para o grego, fecundando um Mateus grego, isso enquanto a
tradição oral tinha continuidade. O segundo livro, Marcos, que teria
se utilizado de uma dessas traduções, juntamente com o material
oriundo das pregações de Pedro. E o terceiro seria Lucas que teria
se utilizado da tradução grega de Mateus e de Marcos (em forma
escrita e oral) além de algumas fontes próprias;

c) Também ainda se faz pertinente considerar a teoria das duas fontes2

1. Onde tal conjectura (Mc e Q) assume entre um primeiro segmento


de exegetas não católicos uma posição relevante. Consideram
que na formação dos sinóticos, para o contexto referente ao
material narrativo, se utilizou do Marcos original ou um proto
Marcos. E para o contexto relativo às palavras de Jesus, utilizou-
se a fonte “Q” que seria um documento com palavras ou logia de
Jesus, (Q= Quelle ou L=Logia). Para eles, esta proposta fonte não
seria um Evangelho, mas um documento no qual o material
narrativo teria se alternado com lógia. Papias no texto de Eusébio
(H.E. 3,39,16), faz referência a este material. (BORN, A. VAN
DEN, 1977, p. 1251).

Segundo Barbaglio (1990, p. 23), teríamos:

Mt Mc Lc

Salientando que as peculiaridades que geram características


próprias e que são reconhecíveis tanto na obra de Mateus quanto na
de Lucas, se veem oriundas da utilização individual por cada autor de

2
“A hipótese das duas fontes oferece a melhor explicação global para o relacionamento entre os evangelhos sinóticos
(...)”. Carson et al., Introdução ao Novo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1992, p. 43.

27
suas próprias fontes e naturalmente também do estilo de escrita de
cada um.

O segundo agrupamento de exegetas (J Vogels, S Schmid, J.


Sickenberger, M. Meinertz, J. Levie, A. Wikenhauser) seria católico e
possuidor de concepção e conjectura diferentes perante as mesmas
duas fontes.

2. Nessa tipologia de exegese os documentos que embasariam os


sinóticos seriam: um Mateus aramaico e um Mateus grego
(discorridos na opção “b”).

São várias vias de percepção convergindo a um universo especulativo


considerável, numa busca paleográfica colossal do como e do porque, diante
da tripartida esfera sinótica.

Cronologia

No intento de dotar a narrativa dos evangelhos sinópticos de


historicidade secular pode nos valer citações que remetem a presença de
personagens históricos como Herodes, o Grande descrito em (Mt 2); vemos
César Augusto em (Lc 2.1), e a passagem de Lc 23.6-12 com Herodes Antipas.
Também encontramos Pôncio Pilatos em Mt 27. São dados de credibilidade
historicista que nos colocam esses Evangelhos em um contexto da Palestina
do primeiro século, imerso no âmbito Imperial Romano.

Nascimento de Jesus

Como base, são três marcações:


 A referência feita a Herodes, o Grande em Mt 2;
 O decreto de César Augusto em Lc 2.1-2;
 A menção da “estrela de Belém” Mt 2.1-12.
Analisando separadamente os três indicativos, teríamos:

28
a) A provável data da morte de Herodes oscila entre o final de
março ou começo de abril de 4 a.C. (em decorrência do fatídico
incidente ocorrido o qual se encontra relatado em Mt 2.6, não
pode estar situado muito antes dessa suposta data).

b) A questão do senso que é controversa. A passagem que se


encontra em Lc 2.1-2 nos diz “Naqueles dias apareceu um
edito de Cesar Augusto, ordenando o recenseamento de todo o
mundo habitado. Esse recenseamento foi o primeiro enquanto
Quintino era governador da Síria”. E atente-se para um detalhe
contido no mesmo livro e capítulo, porém situado no quinto
verso: “para se inscrever com Maria, desposada com ele, que
estava grávida”. Em Josefo nós encontramos a única referência
extra bíblica sobre um censo local e que por ele é datado de 6
d.C. Em Mateus Jesus nasceu antes da morte de Herodes (4
a.C.) e Lucas nos repassa que em 6 a.C. Jesus ainda não
havia nascido. E então? Entretanto, se nos voltarmos ao texto
de Lc 2, o enredo nos diz que aquele foi o primeiro e não o
único censo enquanto Quirino governador da Síria. Assim o
senso subsequente poderia ser o qual recebe referência por
Josefo.

c) A questão do corpo celeste também gera imprecisão. Algumas


proposições sugerem um cometa observado em 5 a.C. ou
também uma conjunção datada de 7-6 a.C. envolvendo a tríade
Júpiter, Saturno e Marte, mas são apenas proposições.

Pelo que pudemos observar, tanto esse polêmico senso quanto ao astro
celeste, não seriam indicativos precisos. Então, se entende que a data estaria
repousando no intervalo de 6 e 4 a.C.

29
Início Ministério de Jesus

Nós temos um indicativo disposto na passagem de Lucas 3.1, que Jesus


teria dado início ao seu ministério “no décimo quinto ano do reinado de Tibério
Cesar”. Mas essa não é a resposta pronta. Vejamos o primeiro ponto onde nos
diz que em agosto de 14 d.C. após a morte de Augusto, Tibério torna-se
imperador. Se Lucas torna este fato sua data de partida dos anos referidos a
Tibério, então teríamos esse ministério iniciando em 28 ou 29 d.C. E agora, a
segunda questão nos esclarece que em 11/12 d.C., Tibério e Augusto iniciaram
uma corregência. A partir dessa data se acrescentar 15 anos, teremos em
25/26 ou 26/27 d.C. para o início do ministério. Assim, provavelmente (levando
em conta uma disposição de contagem natural) a primeira maneira de
cronometria coaduna-se com a descrição obtida em Lc 3.23 que dá a Jesus
aproximadamente trinta anos ao despontar Seu ministério.

Duração do Ministério de Jesus

Não existem muitos indicativos consistentes a respeito da longevidade


exata desse ministério. Colocações foram consideradas onde o período de
aproximadamente menos de um ano era designado ao espaço temporal
percorrido por Jesus em seu ministério, contudo, isso comprimia
demasiadamente, comprometendo na disposição natural a sequência das
ocorrências.

Um ano, ao menos

No Evangelho Segundo Marcos, o evento envolvendo os 5.000 (6.39)


observamos um indicativo inserido no texto que remete todo o contexto a um
provável momento na primavera palestinense. No entanto, foi nessa estação do
ano que Jesus tal sacrificado; então, aqui, se faz um forte indicativo de um
ministério consumindo no mínimo um ano.

30
Dois anos, ao menos

Com João tudo assume novo horizonte, e como tal, maior tempo ao
ministério é considerado. Neste evangelho dentro do ministério de Jesus,
temos três referências (2.13; 6.4; 11.55) às Páscoas. Se tais Páscoas referidas
estiverem situadas cronologicamente em diferentes ocasiões, teremos um
período de no mínimo dois anos.

Morte de Jesus

Duas metodologias de análise são propostas para se determinar a


datação mais adequada para o evento, que seria a primeira baseada no
calendário astronômico e a segunda pela historicidade da ocorrência.

Primeira Proposta

Esta concepção se baseia nos dados de argumentação que elencaremos


na sequência abaixo discriminada:

1. Mc 15.42 e passagens paralelas afirmam que a crucificação ocorreu


numa sexta-feira (“o dia da preparação”) no mês judaico de Nisã (data
do avistamento da lua nova determinava seu início). Especulando-se
para 14 e 15 desse mês, o dia exato.

Tal ausência de precisão acontece das posições adotadas pelos sinóticos e


o Evangelho Segundo João:

2. Sinóticos – A última ceia teria sido uma refeição de Páscoa (por ex. Mc
14.12). O que nos dá assim, uma sexta-feira 15 de Nisã.

3. João – Em Jo 18.28 fica subentendido que a refeição pascal ainda não


tinha sido consumada: “Então de Caifás, conduziram Jesus ao pretório.
E era de manhã. Eles não entraram no pretório para não se

31
contaminarem e poderem comer a Páscoa”. O dia 14 de Nisã é a data
provável da Páscoa.

Em busca de coesão temática, muitas considerações foram apreciadas e


dentre tais destacamos a tese que os sinóticos e João se utilizaram de
calendários diferentes, em uso na Palestina do primeiro século, ou ainda que
não fosse intenção de João (18.28), passar a ideia de que a refeição pascal
oficial não tinha acontecido até aquele momento. Mas ainda permanece a
ausência de data.

4. O dia 14 de Nisã pode ter sido sexta-feira no ano 30 d.C. (e é muito


provável, quase certo, que esse fato ocorreu no ano 33 d.C.)

5. O dia 15 de Nisã pode ter sido sexta-feira no ano 30 d.C. (e também


muito provável que no ano 31).

É importante que seja mencionado que o cálculo do início desse mês de


Nisã estava sujeito a imprecisões, pois dependia da observação ocular
humana. São resultados que podem se tornar sujeitos a possíveis
improbabilidades técnicas.

Dentro do exposto, o dia 14 de Nisã (três de abril) de 33 d.C. e o dia 15 de


Nisã (sete de abril) de 30 d.C. seriam os marcos temporais com maior índice de
probabilidade.

Segunda Proposta

Esta segunda metodologia analítica reside na busca da datação mais


aproximada do momento histórico do julgamento de Jesus, onde o governador
romano e a liderança judaica se confrontaram, e Pilatos acaba cedendo aos
interesses hebraicos. Pertinente à questão é correta a afirmação que,
independente de quem fosse o governador, Roma possuía interesses para que
a sua paz se fizesse duradoura em suas províncias imperiais. A erudição se
coloca a favor de uma data após o ano de 31 d.C. motivado pelo fato da

32
execução do antissemita, Sejano. Ele era o real governante do império,
encontrando-se logo abaixo de Tibério. Esse fato ocorreu em outubro desse
mesmo ano. Então, juntando-se essa proposição (uma data após o ano de 31
d.C) ao argumento astronômico, conduz a sintetização de multiplicidades
convergindo a um ano: 33 d.C. Situação essa que conta com uma adversidade:
exploramos as possibilidades tanto do 14 de Nisã quanto do 15 de Nisã com
suas fortes probabilidades para serem estipulados como (ou um ou o outro) a
data mais provável da crucificação. Todavia, o ano de 33 d.C. se converterá em
indicação inadequada caso a crucificação tenha se passado em 15 de Nisã,
como parecem sugerir os sinópticos. Além do que uma data em 33 d.C. tão
tardia, não concedesse tempo suficiente entre a morte de Jesus e a conversão
de Paulo. Ficamos então como mais indicadas possíveis datações para
crucificação com 7 de abril de 30 d.C. e 3 de abril de 33 d.C. (CARSON ET AL
1992, p. 62-65).

Revisando

Nessa unidade analisamos o contexto histórico que serve de base para


compreendermos melhor o Novo Testamento. Esse panorama mundial serviu
aos propósitos de um Deus onipotente. Analisamos suscintamente vários
aspectos contextuais que serviam aos propósitos divinos. Consideramos o
ambiente histórico e destacamos três povos: os Hebreus, Gregos e Romanos,
Em cada realidade houve um alinhamento pelo mover de Deus para a
composição de um espectro favorável a Nova Aliança que se avizinhava.

Sobre a Palestina do século I, abordamos questões sobre os monarcas


de então, bem como, do procurador romano, do sumo sacerdote, do templo e a
sinagoga e a crença local generalizada da vinda de um Messias. Também se
tratou da composição do Novo Testamento e das suas divisões (literária e
cronológica).

33
O cânon da Sagrada Escritura no Novo Testamento foi salientado
abordando questões sobre critérios de composição, motivos para esta
composição, com suas reações e consequências.

Uma breve introdução inicia o segundo tema nesta primeira unidade.


Seguimos abordando as características desses Evangelhos destacando o tão
afamado “problema sinótico” onde se observaram diversas considerações
pertinentes à temática. Na questão de cronologia procuramos demonstrar a
historicidade secular presente em seus enredos. Destacamos assim, os
principais acontecimentos relacionados com seu ministério.

34
EVANGELHO SEGUNDO
MARCOS
E MATEUS

2
Conhecimento
Noções sobre o Evangelho de Marcos e o Evangelho de Mateus

Habilidade
Estar capacitado para poder explanar assuntos retratados na unidade

Atitude
Cultivar empenho crítico-reflexivo diante do contexto ofertado

35
36
Evangelho segundo Marcos

Estamos diante de um evangelho que tem como distintivo a prática


dinâmica do ministério de Jesus Cristo. Jesus cura, Jesus exorciza, Jesus
efetua prodígios, tudo sempre relatado com eficiente simplicidade, sem a
presença de suntuosos longos discursos. Apresenta uma obra que em nenhum
instante se propunha a ser tratado literário de exímio rigor perfeccionista, mas
apenas um testemunho vivo de uma oportunidade espiritual concedida ao
mundo para alcançar sua redenção, chamada Jesus. Nos mostra um Jesus
humano, próximo, real. Filho de Deus, que nasce, serve ao próximo e morre
para que a vitoriosa semente da cruz ressuscite. Dados técnicos nos saltam
aos olhos nesse momento em que introduzimos este primeiro livro sinótico. São
dados que, além da preciosidade sistêmica, revelam a riqueza de um material
inspirado, onde apreciamos aproximadamente 95 narrativas compostas por
11.240 palavras, 1345 vocábulos, 30 hapax legomenon (vocábulos não
utilizados em outros recantos neotestamentários). O grego popular (koiné) é a
língua onde percebemos semitismos, mas não que isso identifique um original
aramaico. Também se percebem alguns latinismos (MARCONCI, 2001, p. 90).

Autor

Marcos seria o autor

Pela tradição, o testemunho de Papias, bispo de Hierápolis, na região da


Frígia na Ásia Menor, é recebido como atestado de que Marcos seria o autor
do segundo Evangelho (BARBAGLIO et al, 1990, p. 428). Outras testemunhas
se apresentariam para convalidar junto a Papias a autoria do Evangelho a
Marcos. Segundo Carson et. Al (1997, p. 103), os escritores cristãos: “Irineu,
(180 d.C.); Tertuliano, (c.200); Clemente de Alexandria, (...); Orígenes, (início
do século III), e, provavelmente, o cânon Muratoriano”. Completando este
quadro testemunhal temos também Gerônimo.

37
Papias, no ano 112 d.C., se refere a Marcos como “o intérprete de
Pedro”. Temos então aquele que registrava em grafia a oralidade das
memórias petrinas sobre Jesus. Isso é palpável quando confrontamos o
Evangelho Segundo Marcos e o sermão de Pedro (At 10.34-43). O que nos
sugere é que por Pedro temos uma síntese da vida de Jesus que em Marcos
implementos são perceptíveis acréscimos. Dunnet (2005, p. 25).

Marcos não seria o autor

Uma frase é pertinente. Segundo Kummel (1982, p. 115). A tradição que


atribui a redação de Marcos a João Marcos é, portanto, de escassa
credibilidade”. O título “Segundo Marcos” estaria designando uma obra sob
uma pseudonímia. Uma autoria anônimo também está dentro das
possibilidades deste escopo. Assim, ou atribuindo a outrem a autoria ou não
possuindo o nome do autor original, neste livro presencia-se um título que pode
ser um acréscimo posterior com fins de separação entre os outros três
evangelhos quando foram reunidos, provavelmente no século II, ou antes,
disto. Carson et al (1997, p. 102). Um título que (em si) não seria um atestado
da autoria, explicitando o autor. Colocar o Marcos citado por Papias como o
autor real, seria se antepor a questões que merecem atenção no que diz
respeito ao que foi escrito. O autor real traz sobre si momentos na escrita da
obra que nos levam a considerar seus desacertos. Temos Kummel (1982, p.
115) reportando situações delicadas que envolvem o seu desconhecimento
geográfico palestino; dos costumes e do calendário judaicos, momentos esses
em que a credibilidade da atribuição a esse autor é comprometida.

Quem é Marcos?

Quem seria este autor considerado pela tradição? Esse é o Marcos a


quem Papias se refere? Identificamos João, de cognome Marcos (At 12,12),
um convertido do Judaísmo, originário de Jerusalém mencionado várias vezes
no Novo Testamento (At 12,25; 13,5.13; 15,37-39); (1Pd 5,13). Barbaglio et al
(1990, p. 428). Primo ou sobrinho de Barnabé (Cl 4,10). Participante do círculo
de proximidade de Pedro (1Pd 5,13).

38
Entretanto, a precisão é algo buscado cuja tradição não sacia os anseios
de muitos pesquisadores. Afirma Kummel (1982. p. 115): “A tradição que atribui
a redação de Marcos a João Marcos é, portanto, de escassa credibilidade”.

Data

A data de composição do material é algo em que se pode observar


variações quanto a uma exatidão. A multiplicidade de proposições se apresenta
tal leque de opções diversas. Existe enorme presença de linhas de conceitos
díspares. Temos: Gundry (1978, p. 89) afirmando que “Marcos deve ser datado
ainda em data mais recuada, na década de 50 ou fim da década de 40 D.C.”
Também é oportuno lembrarmos Carson et al (1997, p. 111) e sua colocação:
“Deve-se, então, atribuir a Marcos uma data do final dos anos cinquenta ou
meados dos anos 60” (...). Na verdade, temos de atribuir a Marcos uma data
anterior a 60 d.C. caso sejam válidas nossas pressuposições sobre o final de
Atos e da primazia de Marcos”. Continuando com as variantes cronológicas
relatamos ainda outros quatro posicionamentos: Tanto Kummel (1982, p. 117):
“E uma vez que não existe nenhum argumento sério a favor de uma data
situada antes ou depois do ano 70, devemos dar-nos por satisfeitos com a
conclusão de que ele teria sido escrito por volta do ano 70”, quanto Barbaglio et
al (1990, p. 428) “por volta dos anos 70 d.C.”, e Marconci (2001, p. 93) “Por
volta do ano 70 e antes da redação de Mateus e Lucas”, permanecem
concordando entre si. E encerramos com Fabris et al (1992, p. 21) colocando o
binômio 70/75 dentro desse disputado corredor temporal.
Pelo considerado, a data provável estaria repousando em um intervalo
de décadas entre 40 a 75 d.C. inclusive.

Local

Pela tradição antiga quanto ao local da escrita do Evangelho Segundo


Marcos, temos Irineu (Adv. Haer. 3.1.2), Clemente de Alexandria (de acordo
com Eusébio, H.E. 6.14.6-7) concordando que Roma seria o local provável
para a redação desta obra. Carson et al (1997, p. 111). Livro composto após a
morte do apóstolo Pedro de acordo conforme indicativo extraído de documento

39
do século II o Prólogo Antimarcionita e confirmado pelo já citado Irineu de
Leão. Barbaglio et al (1990, p. 429)

Destinatários

Fontes exteriores à Escritura indicam que o alvo da mensagem de


Marcos poderia ter sido cristãos gentios, muito presumivelmente de Roma.
Alguns indícios corroboram tal interpretação: Tradução de expressões em
aramaico, esclarecimento sobre os costumes judeus e pelo fim dos elementos
de ritualística da lei de Moisés (7.1-23. Esp. V.19; 12.32-34). Carson et al
(1997, p. 112).

Propósito

Evangelização que reconhece a presença de um Jesus incansável


trabalhador, que faz a obra do Pai, um servo fiel até à morte que cumpre os
desígnios com humildade e zelo. Lembra-nos sobre essa realidade de labor e
luta por ideais. Relata essa dinâmica que Marcos associa a Jesus. “A palavra
grega eutheos, traduzida (...) como “logo, imediatamente, no mesmo instante”,
aparece quarenta e duas vezes no livro. Essa mensagem trazia um apelo
natural ao leitor romano, sempre atarefado e pragmático”. De um lado temos
um Cristo que servirá de marco, de exemplo, e no outro extremo, uma
realidade gentílica romana tão carente de verdadeiros referenciais. A narrativa
da paixão (11.1—16.18) corresponde a três oitavos do livro, demonstrando que
a morte e ressurreição de Jesus seriam suas mais importantes obras. Dunnett
(2005, p. 25). Neste intento nitidamente evangelizador, discorre sobre um
Jesus Filho de Deus, mas que também sofre e padece. E que tal realidade de
cruz deve ser compartilhada pelo seguidor de Jesus, como fração integrante do
pacote de salvação destinado aos cristãos. Humildade, sofrimento e
possivelmente morte, são realidades que os convertidos estariam a mercê.
Uma boa nova real e direta. Um Evangelho de narrativa simples e prática como
quem inspirou tal Evangelho. Um livro que mostra um Jesus humano, próximo.
Carson et al (1997, p. 115).

40
Comunidade

A partir do contexto literário, traçarmos uma identidade aproximada da


comunidade de Marcos é algo que encontra possibilidade. Esse vislumbre nos
apresenta: constituída por gentios que se converteram ao cristianismo (7.27;
10.12; 13.10) e que por isso mesmo necessitavam de instrução quanto aos
contextos relativos a costumes (7.3-4) e termos aramaicos (15.42), indicando a
presença de judeus-cristãos nessa comunidade plural. Estão voltados ao
chamado missionário (1.21-28; 7.24-30; 14.9). Vocação que pode ser
executada sem delimitações, restrições geográficas (6.6b-7.10). Conscientes
de que toda a primeira geração de cristãos estava se extinguindo, buscavam
estimular o vínculo com a tradição para preservar a identidade. A comunidade
estampa contexto popular, desconhece o aramaico, possui tendências
apocalípticas (Mc 13). Tendo ainda o Antigo Testamento sido citado
aproximadamente umas trinta e cinco vezes, assim revelando afeição ao
conteúdo veterotestamentário. Marconci (2001, p. 95).

Característica literária

Conteúdo/Estrutura Literária

O Evangelho Segundo Marcos apresenta quinze blocos de unidades


temáticas definidas:

Introdução (1.1), Eventos preparatórios (1.2-13), Primeira viagem pela


Galileia-milagres e parábolas (1.14—4.34), Viagem a Decápolis (4.35—
5.43), Segunda viagem pela Galileia (6.1-29), Retiro para o deserto
6.30-52, Terceira viagem pela Galileia (6.53—7.23), Viagem ao
território do norte (7.24—9.29), Primeiro anuncio da Paixão (8.31),
Quarta viagem pela Galiléia (9.30-50), Segundo anuncio da Paixão
(9.31), Viagem pela Pereia e Judeia (10.1-52), Terceiro anúncio da
Paixão (10,33), Ministério em Jerusalém (11.1—13.37), Paixão e
ressurreição (14.1—16.20). DUNNET (2005, p. 26).

41
Elementos Literários

Presenciamos narrativas que compreendem controvérsias (2;


3,22-30; 12), ensinamentos (13; 14). Marconcini, (2001, p. 97-98). Temos um
texto contendo pequenos conjuntos como coleções temáticas onde se veem
parábolas (14,1-34), e milagres (4,35-5,43). Momentos da atividade de Jesus
interligados por semelhança no estilo e ideias de fundo: 1,14-15.21-22.39; 2,13;
3,7-12; 6,7.12-13.30.53,56 entre outros”. Barbaglio et al (1990, p. 425)

Fontes

A tradição através de Papias nos revela que esse Evangelho Segundo


Marcos teria sido escrito baseado na experiência petrina no que tange aos
ensinos e a vida de Jesus. Tudo registrado por João Marcos em sua sintética
compilação. Comparemos os versos: Palavra, boa nova, “evangelhos” (At
10.36) com “Principio do evangelho” (Mc1.1); “como Deus o ungiu com o
Espírito Santo e poder (...)” (At 10.38) com “(...) ele viu os céus se rasgando e o
Espírito, como uma pomba, descer até ele (...) (Mc 1.10); “começando pela
Galileia” (At 10.37) com ministério na Galileia em (1.16—8.26); “e ele (...)
curando a todos os que estavam dominados pelo diabo” (At 10.38) abre
paralelo com a realidade de que o ministério de Jesus concentra-se em curas e
expulsões de demônios. Ainda podemos ver: “E nós somos testemunhas de
tudo o que ele fez (...) e em Jerusalém” (At 10.39) com o ministério em
Jerusalém (Mc 11 e Mc14); “ele, a quem no entanto mataram, suspendendo-o
ao madeiro”.(At 10.39) com Mc 15; e “mas Deus o ressuscitou ao terceiro dia
(...)” (At 10.40) com “(...) ressuscitou, não está aqui, (...)” (Mc 16.6). Carson et
al (1992, p. 121).

Por outro lado, longe da tradição, a certeza se desfaz. Indicativos


sugerem imprecisão quanto uma definitiva posição sobre tais fontes. Assim,
vejamos: as fontes que possibilitaram a elaboração dessa obra permanecem
sem definição de conhecimento. Existiram tais fontes? Não há nenhum
reconhecimento quanta garantia efetiva de suas existências. O material

42
utilizado na confecção do Evangelho Segundo Marcos pode ter chegado
através de pequenas unidades de tradição. Também de outra forma: nessas
unidades acrescidas de resumos orais mais longos, ou ainda na junção dessas
duas modalidades acrescidas de documentos escritos. Carson et al (1997, p.
116). Teríamos provavelmente então para o Evangelho uma combinação, um
arranjo feito pelo autor, de várias fontes (agrupamentos mínimos de diversas
tradições e unidades separadas). Kummel (1982, p. 98). Pergunta Barbaglio et
al (1990, p. 426): “O evangelho atual é uma segunda edição revista e corrigida
de um evangelho primitivo? Ou é um trabalho de montagem, feito pelo autor,
de peças que já existiam, isto é, de fontes escritas?”

Texto

Em Marcos encontramos duas adversidades no que se refere ao texto


em si: Seu início e seu final. As palavras “Filho de Deus” em 1.1 encontram-se
sob omissão em alguns manuscritos antigos (a primeira versão do uncial §, o
uncial 0 e uns poucos minúsculos). Mas tais palavras são encontradas na
maior parte dos manuscritos mais antigos e importantes (os unciais A, B, D, L,
W) como também na maior parte dos manuscritos posteriores. Carson et al
(1997, p. 116). Sobre seu final, alguns dos melhores manuscritos e traduções
antigas terminam em 16.8. Há um acréscimo de um “final longo” por outros,
sugerindo tentativa por parte de um escriba para um final adequado em
comparação ao contexto de pós-ressurreição presente nos outros evangelhos.
Também existe a presença de um final curto a quem também não é imputada
credibilidade. Contudo se desconhece se existe realmente ou não um término
real em 16.8. Gundry (1978, p. 88). Em data contemporânea a opinião sobre o
anexo final encontrado do Evangelho Segundo Marcos possui uma posição
mais definida, conforme afirma Kummel (1982, p. 117): “Hoje em dia é
geralmente tido como certo que o relato da ressurreição e da ascensão (16,9-
20), embora encontrado na quase totalidade dos manuscritos e versões, não
fazia parte do Marcos original”.

43
A Teologia em Marcos

Para Marcos um Jesus servo, completamente humano e totalmente Filho


de Deus que obediente é o querigma ofertado. E dentro dessa ótica de
premissa básica, contemplaremos momentos em que esse autor desenvolve
sua teologia peculiar.

Jesus, era um homem, possuía sentimentos humanos. Vemos em (3.5)


indignação e tristeza ao deparar-se diante do legalismo religioso em que a
religião se transforma em ídolo, aniquilando a misericórdia e o amor. Em (4.38)
o pedido acalorado dos discípulos por auxílio demonstra um momento que a
humanidade de Jesus é perceptível. Enxergam um homem e não veem a
divindade que o permeia. Na visita a Nazareh (6.1-6) Ele se depara com a
reação de incredulidade, não consegue realizar muitos milagres. Admira-se de
tamanha incredulidade. A rejeição é algo percebida por Jesus. A natureza
humana assumida por Jesus é explicitada nessa perícope. Em 8.11-12 o
suspiro que de seu íntimo é gerado é atestado de sensibilidade humana
palpável! Temos ainda (10.14) a reação de indignação tão vívida, (13.32)
Marcos descreve o desconhecimento de Jesus quanto à parousia. Também
Marcos concede em (9,31;10,33-34, 45) destaque especial à morte de Jesus.
Quanto a ressurreição, aproximadamente um quinto de seu evangelho aborda
essa temática. Teríamos (15.34) com referência ao grito de abandono proferido
por Jesus, e (14.33) onde Marcos com maestria apresenta um Cristo real,
vívido, humano, sem eufemismos ou superficialidades. Na Bíblia de Jerusalém
(2011, p. 1781) encontramos: “E levando consigo Pedro, Tiago e João,
começou a apavorar-se e a angustiar-se”. A teologia marca na orbita a cruz.
Ele releva a cruz, um destaque que é completo quando ela recebe o Cristo e o
acomoda para a história, crucificado e pronto para ressurreição. Esse tipo de
serviçal fidelidade que Jesus exemplarmente desempenhou é marca deste
evangelho. Também se faz digno de nota que Jesus é apresentado como
mestre: Este termo é utilizado 12 vezes e o verbo “ensinar”, 17 vezes.

O Filho de Deus – O primeiro (1.1) e o último (15.39) título que Jesus recebe
de Marcos é filho de Deus. Duas vezes (1.11 e 9.7) Marcos registra evento no

44
qual uma voz divina, ressaltando a paternidade divina de Jesus, atesta a
especialidade que repousa sobre esse “Filho amado”. Também em outra
situação (3.11) espíritos impuros também proclamam esta filiação divina que
Jesus retém sobre si. Em 5.7 a titulação sofre pequena variação, mas o sentido
permanece. Jesus é visto pelo espírito demoníaco como “Jesus, Filho do Deus
Altíssimo”. É importante lembrarmos que os discípulos, neste evangelho, não
utilizam esta titulação. Nem o próprio Jesus a utiliza. Em 13.32 Jesus tão
somente refere “o Filho”.

O Filho do Homem – Temos tal expressão presente nos quatro evangelhos.


Das oitenta vezes em que é utilizada, duas vezes apenas (Jo 12.34 e At 7.56)
não é proferida pelo próprio Jesus. Seria uma tradução literal do aramaico bar-
nasha, subentendida por “homem”. Em referência própria, Jesus utiliza essa
expressão, destacando assim uma intimidade excepcional com Deus e
consequente autoridade. Na obra de Marcos, a utilização desse termo
aramaico pode ser estruturada em três grupos distintos:

1) A autoridade de Jesus em seu Ministério: (Mc 2.5,10-12) Nesse


momento Jesus perdoa pecados e promove cura. Em Mc 2-28 vemos
Jesus reestruturando uma concepção legalista farisaica, colocando o
sábado de Gn 2.3; Ex 20.8 de volta ao seu contexto original que
exprimia misericórdia por amor. O modo como então os fariseus
dispunham do sábado estava sendo contraditório ao seu intento inicial
proposto por Deus.

2) A autoridade de Jesus em um contexto escatológico: em 8.38; 13.26


e 14.62 exprimem a ideia de um reconhecimento celeste antepondo-se a
um demérito terrestre.

3) Jesus e o contexto de inferioridade e sofrimento: (8.29-31; 9.31 e


10.45). Estas passagens expõem a harmonia entre o plano de Deus e a
realidade da cruz. Tudo coopera e tudo coordena para que a liberdade
flua através do sacrifício cruento e opere a salvação, extinguindo a
prisão do pecado que gera morte e destruição. Ainda em 14.21 mostra

45
que as consequências do pecado são reais e (14.41) o inicio da via de
amor, onde a realeza de Jesus é glorificada pelo seu discurso concreto
estampado em atos reais onde a livre serventia é exaltada por Deus
através da Ressurreição.

O Cristo – Temos no vocábulo “Cristo” o correspondente significativo de


“ungido” e seu equivalente hebraico “Messias”. Palavra que assume diversas
conotações apropriadas a cada necessidade. Um Messias nos moldes
aguardados pelo povo da Palestina no tempo de Jesus não seria o Messias de
Marcos. Não é o que encontramos em Marcos. Evitando má interpretação
percebemos o texto citando apenas sete vezes este termo “Messias”. Assim,
um Messias verdadeiro, o Cristo! Logo no início do Evangelho se vê
apresentado e devidamente identificado para que não haja qualquer dúvida
sobre o real significado messiânico desse Cristo (1.1). E com esse Cristo
agregado se faz presente uma sensação de um “segredo messiânico” insuflado
em determinados momentos. Vejamos estas passagens: (1.25,34; 3.12; cf. 5.6-
7) os possessos e a ordem de silêncio que nelas se faz perceptível, após o
reconhecimento messiânico. Após milagres é incentivado o silêncio (p. ex.1.44;
5.43; 7.36), ausenta-se do público, revela reserva (1.35-38; 7.24; 9.30),
também ensinos são ministrados aos seguidores de forma exclusiva (4.10-13;
7.17-23;9.28-29; 10.32-34;13.3ss).Temos mais ocasiões em que tal “segredo” é
incentivado: Passagens como 8.30 e 9.30, mesmo os discípulos chegavam a
não compreender o sentido dos ensinos (8.17-20,33). Não descartamos outros
momentos em que o contrário se faz visível, em que o segredo é abandonado
(5,19; 2.10; 7.24). O Messias então se vê declarado! Reconhecemos que
Jesus não rejeita o título de “Cristo” (8.29), Ele próprio o utiliza (9.41) e o
reconhece (13,21; 14.61-62). Contudo, a essência teológica é conhecer o
Messias apresentado por Marcos e então poder reconhecer o Messias, Filho de
Deus. Morris (2003, p. 117-127).

Esse segredo resguardaria o sentido legítimo da messianidade


cristológica. Como já exposta, esta má interpretação gera uma realidade: Uma
contradição! Temos que o sentido político-militar agregado à tradução
ideológica de messias que o senso comum dentro de sua realidade existencial

46
constituiu na Palestina de época, contrapunha-se veementemente ao messias
que o Cristo em verdade e em espírito se constituía. A leitura
veterotestamentária de que seria enviado um libertador vinculava tal libertador
a um belicismo selvagem.
O messias vindouro seria assim mero instrumento aguerrido de
libertação material, o que constituía pesaroso equívoco. E esse engano é
explicável se considerarmos que existia a presença de uma limitação quanto a
compreensão integral desse Messias, ou seja, lhe subtraíam o caráter divino.
Jesus então numa adição evangélica resgata arrogando a si essa realidade
sobre-humana. Presenciamos então O Cristo, Filho do Homem, dentro de uma
esfera de teofania que revive uma das visões descritas em Dn 7.13-14. E
considerando que um messias era aguardado e este messias deveria
necessariamente ser um promotor de convulsão social, Jesus não arriscaria
uma interrupção abrupta de sua missão oriunda de um encarceramento e
julgamento prematuros em sua missão. GUNDRY (1998, pp.87 e 88).

Evangelho segundo Mateus

Estamos diante do evangelho do Messias, Rei dos Judeus e do povo de


Deus, a Igreja de todas as nações. Aliás, este é o único evangelho que se
utiliza desta terminologia (igreja). Seus discursos são “sermões” sem
brevidade. (GUNDRY, 1998, p. 91). Adequado supor um autor judeu
palestinense conhecedor da geografia, topografia e costumes religiosos
judaicos, escrevendo a judeus. De Marcos, Mateus absorve do manancial
literário de maneira profunda. Conteúdo, expressão literária e mesmo a
ordenação quanto a relatos são reproduzidos criando praticamente uma
reprodução paralela, com a diferença de ser uma estrutura mais bem
elaborada, mais substancial, detentora de aproximadamente 330 versículos
próprios dentre os quais citamos: (cc. 1-2), (3,14-15), (4,13-16), (5, 7-10. 16-20.
21-22. 27-28. 33-37; 6,1-8.16-18; 7,6. 15-16.22), (9,27-41),(10,5-8), (14,28-31;
16-16-19; 17,24-27), (11,28-30), (15,30-31), (19,10-12), (13,24-30.36-43),
(13,44-46), (13,47-50), (18,23-35), (20,1-16), (21-28-32), (25,1-13), (25,31-46)
(27,3-10.19. 24-25.51-53.62-66) (28,9-10), (28,11-15) (28,16-20). (Barbaglio et
al, 1990, p. 36).

47
Temos passagens neste Evangelho que se tornam explícito
cumprimento, momentos em que a proclamação veterotestamentária chega ao
Novo Testamento como um inegável cumpriu-se! Observemos a proximidade
dos versos: (Mt 1.23 com Is 7.14); (Mt 2.15 com Os 11.1); (Mt 8.17 com Is
53.4); (Mt 12.18-21 com Isaías 42.1-4); (Mt 21.5 com Zc 9.9). Dunnet (2005, p.
24).

Autor

Mateus seria o autor

Temos pela tradição o autor identificado como Mateus. Papias, o próprio


que atribuiu a João Marcos a escrita do Evangelho Segundo Marcos, aqui se
faz presente, coadunando testemunho, para Mateus, imputando-lhe o mérito de
autoria para o Evangelho Segundo Mateus, produzido numa redação em
hebraico ou aramaico. Entretanto, o atual evangelho que possuímos não é
derivado dessas línguas semíticas. E este material que recebemos em grego,
não aparenta ser traduzido a partir de um original semita. (Gundry, 1978, p.
91). Também pela tradição, testemunhos de Irineu, de Orígenes, e também de
Padres ocidentais e orientais no século IV, como Agostinho, Ambrósio,
Eusébio, Jerônimo, Atanásio, Basílio Magno, Gregório de Nazianzo e Gregório
de Nissa apoiariam essa autoria deste livro neotestamentário por Mateus.
Marconcini (2001, p. 119).

Mateus não seria o autor

A declaração de Papias de Hierápolis atribuindo a autoria do evangelho


ao apóstolo citado em Mt 9,9; 10,3; Mc 3,18; Lc 6,15; At 1,13 é colocada sob
crítica. As fontes de Papias são questionadas. Segundo Kummel (1982, p.
147): “Da tradição onde hauriu Papias suas informações, apenas se pode
provar a correção do nome “Mateus”“. São colocações oriundas de renomados
estudiosos da Palavra que nos demonstram a amplitude controversa da

48
temática de estudo das Escrituras. E a motivação que levou a atribuir a Mateus
a redação desta obra, nos é apresentada.

Hoje, porém, se é propenso a ver neste testemunho não um


dado rigorosamente histórico, mas o resultado de uma
preocupação teológica: afirmar a autoridade apostólica dos
escritos do NT, (...) A análise interna do escrito parece excluir a
origem apostólica. Barbaglio et al (1990, p. 39).

E dentre outros exemplos, temos as interpretações sobre o


desenvolvimento da tradição evangélica, sobre a estrutura da história da igreja
no século I, sobre vestígios de alterações na redação documental, como alguns
pontos “juízos prévios” apresentados que colocam a composição do Evangelho
de Mateus tão posterior e tão “teologicamente” produzido que não poderia ter
sido tecido pelas primeiras testemunhas. Carson (1992, p. 82).

Quem seria Mateus?

Pela tradição, um dos doze que seguiram diretamente a Jesus, referidos


por Levi, desenvolvendo a função de publicano, coletor de impostos, quando
recebe o chamado vocacional por Jesus (9.9, 10; Mc 2.14, 15) Dunnet (2005, p.
24).

Uma peculiaridade a ser tratada

Temos um Mateus referido dentre os apóstolos (Mt 10,3; Mc 3,18; Lc


6,15; At 1,13) diretamente especificado cobrador de impostos somente em
10.3). Encontramos ainda um “Levi” também publicano relevado em (Mc 2,14
par) e (Lc 5,27-29). É lícito apreciar que não desconsideramos a ocasião de
Mateus ser o nome e Levi o sobrenome, mas é de difícil possibilidade por
tratarmos de dois termos semíticos. Marconcini (2001, p. 118). E de acordo
com Kummel (1982, p. 147): “Como explicar esta diferença de nomes, é coisa
que ninguém até hoje soube”.

49
Data

Para a data de composição do evangelho Segundo Mateus


presenciamos um extenso corredor histórico-interpretativo que compreende
datação variante numa indicação que oscila aproximadamente a partir de 45 a
80 d.C.

A questão cronológica suscita complexidade que a erudição reage numa


disparidade de posicionamentos múltiplos. Assim, para que o leitor, apreciador
das sagradas escrituras se habitue, partilhamos também a realidade de
informação sobre conclusões ratificadas por autores consagrados: Assim relata
Gundry (1978, p. 92) “Se Mateus se valeu do evangelho de Marcos, e este é do
período de 45-70 D.C., então provavelmente Mateus pertence a data
levemente posterior, dentro daquele mesmo período”. Seguimos com a
afirmação de Carson (1992, p. 85) sugerindo uma data antes de 70,
presumivelmente a década de 60. Ainda Kummel (1982, p. 146) nos alerta que
poderia ser após a década de 70 e não após 100. O indicativo cronológico de
Barbaglio et al, (1990, p. 44) nos esclarece de que o judaísmo rabínico com o
que Mateus se confrontou seria fenômeno posterior à queda de Jerusalém. E
que a datação provável situa-se depois de 70, muito provavelmente nos anos
80. E ainda, segundo Marconcini, (2001, p. 122) referindo-se sobre o autor do
evangelho, completa: “Ele - segundo opinião mais comum hoje – é um judeu-
cristão da segunda geração que escreve por volta do ano 80”.

Local

Indícios do local da escrita nos levam a Antioquia, na Síria (cf. At 11.19-


26; 13,1), capital de província romana, terceira cidade do império, após Roma e
Alexandria, constituída grandemente por judeus oriundos da diáspora,
contando com um baixo número de gentios convertidos. Cidade citada em At
11,26, possuidora de uma realidade de interação mais propensa a uma atitude
conciliadora por parte dos judeus convertidos para com os neófitos oriundos do
paganismo, do que a própria Jerusalém tão engessada pela tradição.
Marconcini (2001, p. 122). Temos ainda que daquela cidade foi Paulo enviado

50
em missão, aos gentios, pela igreja local. Enfaticamente Carson (1992, p. 85)
encerra a questão: “Em suma, não é possível termos certeza quanto à
procedência geográfica deste evangelho. A Síria é talvez a proposta mais
provável, mas nada de importante depende dessa decisão”.

Destinatários

A escrita deste evangelho é comumente interpretada como destinada a


espectadores e realidades locais. Um livro cujas características judaicas se
sobressaem no contexto, é de se concluir que o discurso desta obra seja
voltado a público hebraico. Carson (1992, p. 90). Assim, explorando caracteres
internos da obra, podemos encontrar elementos estilísticos próprios dos
palestinos, como: “Palavras-advertência” utilizado em (18,4-6) com finalidades
mnemônicas, também “inclusões” (Mt 12,39-45). (Marconcini (2001, p. 120).
Ainda percebemos a referência a Deus como “Pai que está nos céus”, que
nesta obra se delonga através de quinze repetições, a propensão
caracteristicamente judaica por escatologia, alusões recorrentes a Jesus
designando-o sob a titulação de “o Filho de Davi”. Gundry (1978, p. 95). Tendo
alvo específico, motivador principal da mensagem a etnia judaica, apresenta-
lhes Jesus como o Messias, o Rei dos Judeus. Passagens como 1.1-17; 2,1-
12; 21.5 e 25.31-46, tudo chega expressando soberania, realeza, tudo
apresentando um “reino dos céus”, terminologia que apenas e tão somente
Mateus utiliza. Dunnet (2005, p. 24).

Propósito

Muitas opções de entendimento surgem quando tentamos compreender


o real propósito de Mateus ao confeccionar sua obra. Revelando pelo menos
quatro, nos deparamos com esta mínima realidade diante de tantas
possibilidades de interpretação: Pelo grande número de citações do Antigo
Testamento, pode-se enxergar aqui um momento de oportunidade
compreender este evangelho como um manual, como uma espécie de
catecismo que instrui os cristãos como lerem suas bíblias da época (livros
veterotestamentários) em um tipo de manual de evangelização dos judeus, ou

51
ainda destinado a habilitar uma liderança eficaz que estaria a frente de Igreja
nascente. Mas, diante de uma possibilidade de profusões de entendimento,
necessário é enxergarmos pontos nevrálgicos que permeiam as intenções de
feitio deste evangelho. Mateus coloca Jesus, o Messias da promessa, sob
títulos honrosos e de pertinente realeza: Filho de Davi, Filho de Deus, Filho do
Homem, Emanuel. Figura tipificada profeticamente desde a realidade da
Primeira Aliança. E que em Jesus e sua primeira passagem na terra, está
aberta a porta do reino escatológico prometido. Carson (1992, p. 90-91) É
possível enxergar um Jesus que instruiu, um Mestre (9.35). Nele a vontade do
Pai se faz plena e ele é o mestre maior (5,17). Ensina embasado na sua
própria coerência e, portanto ensina com autoridade. Um messias que na cruz
cumpre as revelações do Velho Testamento. Vejamos: Mt 27.34, 48 com Sl
69.21; Mt 27.35 com Sl 22.18; Mt 27.39-40 com Sl 22.7; Mt 27.43 com Salmo
22.8; Mt 27.46 com Sl 22.1; Mt 27.57-60 com Is 53.9; Mt 28.19-20 com Is
66.18. Também traz a mensagem que desenha uma Igreja constituída pelo
povo de Deus, uma comunidade messiânica que se faz notório sinal de
redentora salvação a humanidade. Formado pelo joio e o trigo, que no juízo
final será pesada na balança da justiça com amor. Não é identificada com o
reino, mas é tráfego que flui em direção a ele. Uma comunidade de discípulos
que se encontra aberta ao mundo. Barbaglio et al, (1990, p. 53-71).

Comunidades

Antecedentes históricos devem ser considerados para que consigamos


ter uma ideia melhor constituída sobre a realidade dessa comunidade
constituída em sua maior parcela por judeus da diáspora e uma minoria de
pagãos convertidos. O judaísmo dominado pelos fariseus desde o ano 70 com
a destruição de Jerusalém, no sínodo de Jamnia, cidade situado na costa
mediterrânea, nas imediações de Jaffa, define o “cânone” Escriturístico e
promulga deliberações que seriam inaceitáveis pelos cristãos. Imerso nesse
movimento judaizante de revitalização religiosa, a comunidade mateana segue
seus dias considerando problemas externos promovidos com este mover
farisaico de reerguimento religioso e interno com a carência de uma catequese
eficaz destinada à membresia. Situação delicada que Mateus se posiciona: o

52
capítulo 23 e sua declaração contra escribas e fariseus é um momento no
Evangelho em que o antijudaísmo aflora perceptivelmente. Na passagem
(28.19) a comunidade de Mateus irrevogavelmente caminha num caráter de
universalismo em direção aos propósitos de salvação cristã irrestrita aberta a
todo aquele que crê. Marconcini (2001, p. 123-124).

Presenciamos uma igreja mista. Temos os anomistas (cristãos de


origem helenística que em atos e palavras declaram liberdade da lei mosaica),
e são advertidos (5,17). Temos os carismáticos que recebem considerações
em (7,21-23). Essa seria uma parcela que constitui uma comunidade de
mesclas onde a pluralidade é fator que identifica. Barbaglio et al, (1990, p. 401-
41). Esta comunidade de cristãos é um horizonte que se abre através do Cristo
crucificado e ressurreto em majestade. Estamos diante da redação do amor
que em justiça compõe, escreve uma irrefutável realidade: “A igreja não é o
“novo”, mas o “verdadeiro Israel”. (Kummel,1982, p. 141).

Característica Literária

Conteúdo/Estrutura Literária

O Evangelho Segundo Mateus apresenta oito blocos de unidades


temáticas definidas.:

Apresentação do Rei (1.1—4.11), Exigências do Rei (4.12—7.29),


Feitos do Rei (8.1—11.1), Planos do Rei (11.2—13.53), Destino do Rei
(13.54—19.2), Problemas do Rei (19.3—26.2), Morte e ressurreição do
Rei (26.3—28.15), Comissão final feita pelo Rei (28.16-20). Dunnet
(2005, p. 24-25).

53
Elementos Literários

De Marcos para Mateus percebe-se de imediato um incremento nesse


segundo evangelho para os ensinos de Jesus. Também é visto um Jesus mais
contido, sem os momentos expansivos retratados por Marcos em 3.5; 10.14 e
3,21. Esse autor Inclui fatos como os sonhos de José (1.20; 2.13, 19, 22), os
magos (2.12), a esposa de Pilatos (27.19), a moeda na boca do peixe (17.27),
Pilatos lavando as mãos (27.24), cataclismo na natureza juntamente com a
ressurreição de alguns (27.51-53), o que aumenta sua riqueza. A
universalidade da mensagem de salvação do Cristo de Mateus é transcrita de
forma primorosa quando, na genealogia tripartida de Jesus, o autor explicita
citando quatro mulheres gentias, sendo três de má fama: Tamá (v.3), Raabe
(v.5) e a esposa de Urias (v.6). Morris (2003, p. 138). Temos Mateus buscando
em Marcos sua base. Modificações e adições apresentam-se e reestruturam
produzindo vida nova. Declara Kummel (1982, p. 127): “Basicamente, Mateus
transformou o relato de Marcos, (...) e que incluem resumos e reformulações,
mas, sobretudo, mediante a inserção de material muito abundante”.

Também ressaltamos a presença de discursos do Cristo no decorrer


deste evangelho, como o Sermão sobre a montanha (5.1—7.29), missão dos
doze (10.1—42), Parábolas (13.1—53), discurso de instrução (18.1-35),
Discurso escatológico (24.1—25.46). Mateus Aborda assuntos relacionados ao
judaísmo como (17.24), (23.5), (5.18-19) e (23.2-3). Dunnet (2005, p. 24).

Em Mateus presenciamos uma singularidade onde perícopes são


formadas a partir de disposições numéricas valendo-se de modalidade ternária,
como as três tentações em 4.1-11, as três vezes que Jesus ora no Getsêmani
em 26.39-445, e também as três negações de Pedro em 26.69-75. Também a
forma setenária como se pode observar em sete pedidos no Pai-nosso (6.9-
13); no cap. 13 temos sete parábolas, em 18.22 é dito que se faz necessário
perdoar setenta vezes sete vezes. Temos sumários como em 4.23 que é
repetido em 9,35. Especificando tais sumários temos 4.28; 8,16; 12.15; 14,
14.36; 15.30; 19.1; 21.14; todos referindo-se a Jesus curando. Barbaglio et al

54
(1990, p. 52). Dentro dessa realidade de consideráveis dimensões literárias em
Mateus, citamos mais uma característica deste Evangelho:

Ao material narrativo tomado de Marcos (cerca da metade está


presente principalmente no cap. 14) e do material discursivo
derivado da Q (presente, de modo especial, nos caps. 5-13) e
que é comum em Lucas, Mateus acrescenta partes próprias (cf.
14, 16-31; 16, 17-19; 17, 24-29) constituídas por ensinamentos
do Senhor e narrativas que abrangem o quarto livro. Marconcini
(2001, p. 126).

Fontes

Determinadas situações encontradas no Evangelho Segundo Mateus


exigem melhor entendimento. Situações como: A reprodução de Marcos sendo
percebida quase integralmente em Mateus, (apenas faltam 3.20-21; 4,26-29;
7,3-4; 7.31-37; 8,22-26; 12,32-34; 14,51-52. Como também 2,27; 9,29; 49-50 –
palavras de Jesus), redação esta sendo um paralelo, contudo, mais
substancial, mais enriquecido. Contando com material próprio de Mateus
perante Marcos, como fórmulas próprias mateanas algumas em (1,22-23; 25-6;
2,15; 2,17-18; 2,23; 4,14-16;27,9-10) e outras em (8,17; 12,17-21; 13,14-15;
13,35; 21,4-5), é de se esperar questionamentos ansiosos por respostas
explicativas. Para Barbaglio, seria aportar no “campo das hipóteses”. E ele
continua:
Todavia, um vastíssimo consenso admite pelo menos como utilíssima
hipótese de trabalho, a dependência de Mateus de três filões
tradicionais: o evangelho de Marcos, uma fonte contendo quase
exclusivamente ditos de Jesus e indicada pela sigla Q (Q=fonte), e
tradições várias à disposição do evangelista. (BARBAGLIO et al 1990,
p. 36)

Assim teríamos Mateus recebendo de Marcos o material em comum


entre os dois Evangelhos. Dessa alegada fonte Q, os trechos que teriam
paralelo com Lucas e da referida terceira fonte dotou Marcos de condições de
formular seu material próprio.

55
“Q” Mc Tradições

Mt

A Teologia de Mateus

Percebem-se de imediato três estruturas de importância abordadas


nesses escritos: A dimensão eclesial, de uma igreja cujo fundamento seja
Cristo e que seja uma realidade eclesiológica cristocêntrica dinâmica. Mateus é
o único que trata a temática da Igreja (16.18; 18,17), e exprime um evangelho
que é mover catequético cuja finalidade seria a composição de uma
comunidade eclesial (cap. 18). Percebemos duas características importantes:
seria igreja de identidade trinitariana (28.19), e de caráter universal, assim se
antepondo ao Israel antigo (21.43). Esta congregação tendo no Cristo seu
fundamento estrutural, a enxerga como mestre (23.10), um líder ideal para
conduzi-la (11.28-30), que está sempre presente (18.20) e assim sempre
permanecerá (28.20). Recebe o título de “Filho de Deus” (2.15), e em
contrapartida recebe de Deus tal reconhecimento (3.17). Temos uma Igreja,
Cristo é o cerne desta Igreja e para Mateus ela deveria se portar de maneira
igual ao Cristo, praticando, fazendo, a vontade de Deus (7.21),
comunidade em que o juízo final é realçado, o agir é importante (25.35). A ação
revela um renascido em Cristo, que foi salvo dos pecados (1.21). Revela o
verdadeiro discípulo que no sermão da montanha é figurado. Marconcini (2001,
p. 131-132).

João Batista

Em Jo 13.16, temos a percepção exata da posição de João Batista.


Sumamente importante, mas que é servo diligente, Lc 22.16 explicita muito

56
bem. Mateus detalha essa riqueza em forma humana de um abnegado pela fé
levado a proclamação do arrependimento indistinto porque era chegada a hora.
Mateus tendo todo o capítulo terceiro uma narrativa que fala de um
homem cujo discurso que antecede Jesus e que proclama um novo tempo a
ser inaugurado com a chegada desse Jesus. Segue descrevendo João
(3,4;11.18), seus discípulos (9.14), sua marca de pregação que seria um
arrependimento verdadeiro que produz frutos (3.8). Possuidor de um discurso
forte sobre arrependimento (3.2), esse João sabia da chegada de quem era
maior do que ele próprio e que batizaria com o Espírito Santo e fogo (3.11).
Fala sobre o preparo do caminho do Senhor e cita uma profecia
veterotestamentária aplicada a Deus e agora referida a Jesus (3.3). Jesus
confirma João como o Elias prometido (11.14; 17.10-13; Ml 4.5), que era muito
importante (11.11). Toda a profecia de João está permeada da temática do
julgamento. Ira vindoura (3.7) é exemplo claro. Passagens como (3.10) e (3.12)
se coadunam com essa proposição. Em João o profeta se faz por excelência,
sempre com a prontidão da clareza de posicionamento, ao lado de Deus e um
discurso apropriado à sua realidade cuja temática oriunda do trono divino é
direta e exata, sem humanas variações (Tg 1.17). Morris (2003, p. 141).

O filho de Davi

Filho de Davi, título que exprime honra, já que está ligado diretamente a
um grande rei israelita. Homem segundo o coração de Deus. Seria indicativo
até de descendência real. Designação que em si trazia conotação de
messianismo. Alguém que traria de volta a realidade magnífica de um Israel
sob os auspícios de Davi. Assim, é possível que no século I, isto reverberasse
belicamente, motivado pelas recordações históricas do caráter aguerrido de
Davi. Título que poderia envolver a sugestão de um messias libertador de uma
nação conquistado. “Filho de Davi”, era uma designação que remetia à
identidade local, empregada tão somente por três vezes por Marcos e Lucas, e
nove vezes por Mateus (incluindo 1.20). Presenciamos Mateus proferindo no
inicio do evangelho esta declaração de titularidade e a partir daí relega a
proclamação da descendência real a terceiros (9.27), (15.22), (20.30-31),
(12.23), (21.9), (21.15). Caso interessante é o contexto de referência

57
presenciado em (22.41-45). Na ocasião a discussão gravita em torno de uma
realidade de época em um senso comum. Então Davi seria naturalmente, pelo
exposto, maior do que sua descendência. Mas o Salmo 110 contradiz esse
equívoco popular. Mateus não comete essa imprudência, pois definitivamente
proclama a superioridade de Jesus ante Davi. A ligação de Jesus com Davi tão
somente expressa recordação subjacente que traz à memória, pontos
proeminentes de realeza na pessoa, na obra de um soberano. Morris (2003, p.
152-153).

A paixão

Remissão de pecados através de holocausto perfeito, a paixão é uma


via de amor na qual Jesus pode receber a oportunidade de concretizar Seu
discurso de vida relegado ao próximo. A cruz tão evitada é fonte de
oportunidade da glorificação do Filho. É momento ideal para que a coroa de
espinhos seja trocada por uma coroa celeste de rei: Rei Jesus. Na cruz,
pecados são extirpados por um ato de amor. Mateus compreende esta
realidade. Aproximadamente quinze por cento do evangelho de Mateus é
concernente ao enredo da crucificação e ressurreição do Salvador. Nessa
constatação de importância que o evangelista dá a esse momento, observamos
no decorrer do Evangelho Segundo Mateus onde passagens nos remetem a
lembrança da “Paixão”. Assim temos na transfiguração, a presença de Moisés
(Lei) e Elias (Profecia), estes que tinham, cada qual em sua própria realidade,
sofrido com os pecados do povo (e pecados seriam redimidos na cruz). Outra
lembrança presente em (12,40), também em (16,21) Jesus aludiu a sua
“paixão, em (17.22-23) após um exorcismo, Jesus toca nesse assunto (20.17-
19). Diferentemente dos outros evangelhos, Ele inicia com uma predição (26.2)
sua narração da “Paixão”. E o interessante é perceber que Mateus deu
destaque às predições veterotestamentárias para aquele enredo de cruz. Seria
assim, esse momento (26.54-56) um cumprimento escriturístico e isso Mateus
ressalta muito bem. Menciona as trinta moedas de prata (26.15), numa alusão
a Zc 11.12 - Marcos e Lucas não o fazem. São concretizações proféticas em
que o Velho Testamento e o Novo, lado a lado, enaltecem a coerência e
inspiração da Palavra: (26.31 com Zc 13.7), (26.38 com Sl 42.6, 11; 43.5),

58
(26.64 com Sl 110.1; Dn 7.13), (27.9 com Jr 32.6-9; Zc 11.12-13), e o brado na
cruz (27.46 com Sl 22.1). Nos três sinóticos encontramos a oração de Jesus no
Getsêmani mas em Mateus há mais riqueza de detalhes. Ainda percebemos
peculiaridades que somente encontramos neste evangelho. Seriam: No
Getsêmani ele ora uma segunda e uma terceira vez e somente ele se dirige a
Deus como “meu Pai”. Marcos e Lucas referem-se apenas “Pai”. Detalhes que
embelezam ainda mais a obra. Minúcias que nos chegam como constatação de
um trabalho inspirado, forjado com esmero e cuidado. Para Mateus a morte de
Jesus não foi oriunda de deliberações humanas (Caifás, Pilatos), no entanto,
sob designação de Deus, quando Deus permitiu a obra de consumação (26.18;
cf. 26.45), sob Seu controle. Jesus reconhece essa potência (26.53) e (26.42).
Mateus também em várias passagens (26.3, 47, 57; 27.1, 3, 12, 20, 41; 28.12)
atribui aos anciãos influência na decisão quanto à morte de Jesus. Marcos cita
apenas três vezes e Lucas uma, esse contexto. De Mateus vem o informe
sobre a realidade romana no ocorrido: O sonho da esposa de Pilatos (27.19), o
gesto marcante do lava mãos (27,24), a diligência popular em desejar um
desfecho cruento tomando para si a responsabilidade da condenação (27.25),
e consideravam toda a cena com Barrabás (27.15-26). Para Mateus, os
romanos consideravam Jesus inocente e não necessitaria de execução.
Diferentemente, os judeus, exigindo a libertação de Barrabás, condenam Jesus
à pena capital. Em 27. 51-53 relata situações cataclísmicas oriundas da morte
do nazareno. O relevo da morte de Jesus é encontrado em Mateus 26.28,
indicando que o sangue vertido em “favor de muitos, para remissão de
pecados” é “aliança”. E se tal aliança parte de Jesus, é uma Nova Aliança. Nele
encontra-se implícita essa premissa. E também se faz oportuno lembramos o
interesse de Mateus em relação a Judas. Em 26.15 e 26.25 é Mateus quem
registra as frases declaradas pelo traidor. Apenas neste evangelho Judas é
saudado pela expressão amigo, por Jesus, no Getsêmani e que menciona o
remorso do traidor, seu intento de devolução das moedas e posterior suicídio
(27.3-10). Morris (2003, p.159-163).

59
Revisando

Iniciamos esta segunda unidade com o Evangelho Segundo Marcos.


Após um breve introdutivo seguimos abordando questões sobre autoria deste
livro onde discutimos realidades como Marcos sendo ou não o autor deste
evangelho. Também quem seria este Marcos considerado como suposto autor.
Também contemplamos a parte cronológica do feitio da obra situando-a
temporalmente. Seguimos para a supressão sobre o possível local de escrita
sobre os destinatários da obra e qual teria sido a possível motivação desta
escrita. Abordamos a questão da Comunidade de Marcos, as características
literárias da obra, mais especificamente: conteúdo, elementos literários, fontes
e o texto. Encerramos com considerações pertinentes à Teologia de Marcos,
ressaltando questões como: Jesus, o homem; Jesus, o Filho de Deus; Jesus, o
Filho do homem. Nesse aspecto salientamos a autoridades de Jesus em seu
Ministério, a autoridade de Jesus em um contexto escatológico, Jesus e o
contexto de inferioridade e sofrimento. Finalizamos a questão teológica em
Marcos com Jesus, o Cristo.

A outra obra abordada, o Evangelho Segundo Mateus se iniciou com


uma introdução onde consideramos certas características pertinentes à obra,
seguindo para o tópico que trata do suposto autor, da obra. Levantamos
propostas onde Mateus seria ou não está tal autor e quem realmente seria este
Mateus a quem a autoria da obra já vinculada. Em sequência imediata,
tratamos de uma peculiaridade envolvendo a questão Mateus e Levi,
prosseguindo para a parte espaço-temporal. Abordamos a questão da data e
foram tecidas observações pertinentes a tal contexto e a questão geográfica foi
contemplada no item local da escrita deste evangelho. Prosseguimos
contemplando questões como os destinatários deste evangelho, o propósito
deste livro e a comunidade de Mateus, ressaltando suas características
próprias. Assim adentramos na parte que caracteriza o evangelho. Aqui
discorremos sobre conteúdo ou estrutura literária, elementos literários e as
supostas fontes que compuseram Mateus. Encerramos com o bloco relativo à
teologia no qual observamos a posição de Mateus em relação a determinados
tópicos: João Batista, o Filho de Davi e sobre a “paixão”.

60
EVANGELHOS DE
LUCAS E JOÃO

3
Conhecimento
Noções sobre o Evangelho de Lucas e o Evangelho de João

Habilidade
Estar capacitado para poder explanar assuntos retratados na unidade

Atitude
Cultivar empenho crítico-reflexivo diante do contexto ofertado

61
62
Evangelho segundo Lucas

A referência a Jesus neste livro preferivelmente se reporta ao termo o


“Senhor”. O mais completo dos evangelhos sinópticos e mais volumoso livro
neotestamentário. Quanto à ressurreição este evangelho é bem peculiar,
também é o único que descreve a ascensão de Jesus. Gundry (1978, p. 106).
Sendo o mais longo, possui significativa parcela de dados exclusivamente
seus. O estilo refinado lucano é notável quando nos deliciamos ao lermos o
diálogo de Gabriel e Maria no contexto da anunciação onde a riqueza literária
estilística nos concebe ao coração um quadro atmosférico tão vívido que o
prenúncio de nascimento é gerado em nosso ventre. Somos agraciados por
momentos como “o bom samaritano”, “o filho pródigo”, “os discípulos de
Emaús”, que se constituem inestimáveis tesouros espirituais quanto pérolas
textuais incomparáveis que Lucas declama em sua obra. Fabris et al (1992, p.
11).

Autor

Pela tradição, o autor seria Lucas, um médico (Cl 4.14), cooperador de


Paulo (Fm 24), autor de dois livros (Evangelho Segundo Lucas e Atos dos
Apóstolos) e como Marcos, também não foi um dos discípulos de Jesus,
Dunnet (2005, p. 26). Dentro de um contexto real de transmissões, ele situa-se
numa posição em que onde provavelmente teremos: as testemunhas oculares,
e em subsequência, quem colheu as lembranças dessas ou as ampliaram em
forma de narrativa e depois o evangelista. Fabris et al (1992, p. 12). Com
grandes possibilidades de ser um gentio ou mesmo um judeu-helenista,
encontra no grego facilidade de expressão a tal ponto que nos leva a ressaltar
uma peculiaridade: o estilo grego de Lucas e o estilo encontrado na epístola
aos Hebreus possuem o mais acurado refino em toda a realidade
neotestamentária e ambos os livros seriam os únicos no Novo Testamento que
ao estilo greco-romano, iniciam por com uma dedicatória formal. Gundry,
(1978, p. 101). Sobre a veracidade dessa autoria, Irineu e Tertuliano juntam-se

63
a Marcião. Este que por volta do século II em seu prólogo deste evangelho
(chamado prólogo antimarcionita) relata a autoria do evangelho a Lucas. Junte-
se a isso o Cânon Muratoriano, assim todos corroborando a Lucas a tecitura do
livro. São muitas fontes, não obstante ressaltamos em concordância, que o
manuscrito lucano mais antigo, o papiro Bodmer XIV, citado como “p ” e datado
de 175-225 d.C., prossegue nesse ínterim testemunhal. Carson et al (1992 p.
125). Estamos diante de um autor que domina o estilo de narração, e que
prima por ordem e clareza sempre considerando a real historicidade factual e
coerência temporal. Fabris et al (1992 p 11). Orígenes, Eusébio de Cesareia e
Jerônimo enriquecem a autoria lucana com informações como a origem
antioqueana (cf. At 11,20), a constante presença junto a Paulo até sua morte
em Roma (cf. 2Tm 4,11) Marconcinni (2001, p.149).

Data

Dentro das inúmeras considerações feitas pela erudição, um fator


prepondera nesta estimativa aproximada: a datação deve necessariamente
observar a lógica de interação entre o Livro de Atos e o Evangelho Segundo
Lucas, pois sendo do mesmo autor o evangelho, obviamente não pode ser
subsequência de seu segundo volume. Então, começamos uma maratona
cronológica: Uma marcação no inicio dos anos 60 seria aceitável. Carson et al
(1992 p. 129). Ou levando em consideração o livro de Atos, pode situar-se em
um momento levemente anterior a 64. Gundry, (1998, p. 106). E uma outra
linha de erudição relega essa data a contexto mais adiante na marcação
temporal, estabelecendo possibilidade aos anos 80/85, marcação está levando
em consideração em primeiro lugar, paralelos encontrados no evangelho
(21.20-22; 19.42), remetendo-se à destruição de Jerusalém. Considera-se
encontrar nesses versículos uma descrição tão viva que, provavelmente
poderiam ser oriundas de uma retratação do ocorrido. E em segundo lugar,
devido a redação de Lucas depender de Marcos que teria sido escrito
aproximadamente em 70/75 d.C. Ficamos com uma data que flui em um
intervalo que se estende de 60 a 75 d.C. inclusive.

64
Local

Roma ou Grécia, desde que não seja na Palestina... A possibilidade de


ser Roma está dentro do caráter de viabilidade, entretanto, a tradição antiga se
divide entre Grécia e Roma. Gundry (1998, p. 106). Dentro desse espectro
exterior à Palestina então considerando uma antiga tradição encontrada no
Prólogo monarquiano de Irineu, nos indica a Grécia meridional como local da
produção do Evangelho, realidade essa que nos oferta Corinto como um dado
de possibilidade sujeito a consideração. Fabris et al (1992, p. 22). Assim,
Kummel (1982, p. 188) se faz em concordância com um caráter de localização
que aprecie o exterior palestino.
Ainda que o consenso tradicional possa ser maculado quando nos
deparamos com posições que antagonizam a unidade, não obstante devem ser
ouvidas todas as considerações baseadas na premissa de uma investigação
melhor embasada. Nisto Carson et al (1992 p. 129) nos alerta: “Em suma
temos de dizer que não há provas suficientes para vincular esse evangelho
definitivamente a qualquer região em particular”.

Destinatários

Leitores gregos (ou gentios) seriam os destinatários. Uma obra feita para
todo aquele que cultive interesse pela historicidade cristã. Dunnet (2005, p. 26).

Propósito

Apresentar ao mundo Jesus, Filho do Homem, o homem perfeito tão


procurado pelos gregos, um ser humano excepcional. Dunnet (2005, p. 26)
Transmitir ao público cristão (e a quem mais desejar) informações sobre a vida,
morte, ressurreição e ascensão de Jesus, e apresentar uma história de setores
da igreja cristã incorporando o período compreendido até o tempo de Paulo
preso em Roma. (CARSON ET AL, 1992, p. 131). Repassar dados confiáveis,
informações à audiência cristã de segunda geração, residentes exteriores da

65
Palestina e que estão sob ação cultural e religiosa impressa maciçamente por
esta realidade estrangeira. Buscam reconsiderar sua real identidade como
Igreja em Cristo. Fabris (1992, p. 16-17). No prólogo ao quarto verso
presenciamos a motivação essencial que leva o autor a divagar em nítido
indicativo de finalidade desta escrita: “(...) para que verifiques a solidez dos
ensinamentos que recebeste”. Disseminar confiança ao leitor do evangelho
quanto à integridade, fidedignidade da obra perante a casuística dos fatos da
vida do Senhor. Assim uma investigação acurada foi necessária, e nessa
conformidade é que o historiador Lucas conseguiu, através de seu Evangelho,
nos relegar uma joia evangelística literária. Kummel (1982, p. 157).

Comunidades

Presenciamos uma comunidade em que a ênfase escatológica recebe


gradação, o que pode gerar volta a uma existência pagã. Temos convivido lado
a lado à realidade da santidade como um ideal e do pecado como o real. Muito
tempo já se passou desde a morte do Cristo, e essa “distância” para a
comunidade é fardo considerado. Convivem com a realidade do tempo, porém
devem se manter fiéis a esse Cristo permanecendo conforme a tradição
evangélica que significa não deixar esmaecer a expectativa da parousia. A
realidade material então por eles experimentada é passageira, é o que deve
ser considerado por essa Igreja que tanto necessita de mudança. Isto se reflete
na escrita da obra. O vocábulo conversão (metanóia) aparece quatorze vezes
neste evangelho e onze nos Atos dos Apóstolos e tão somente três vezes em
Marcos.
Percebe-se um processo de deterioração da fé tão nítido em momentos
como (18.8). Comunidade onde o descaso com o Reino promovido pela própria
Igreja (16.8) abre consequências inevitáveis. Um retorno ao homem velho e o
predomínio do inferno estão como tais. (11.24-26). Estas são retratações de
uma comunidade onde até a liderança encontra-se mergulhada numa ausência
de compromisso (12.48). Marconcinni (2001, p. 152-153).

66
Característica Literária

Conteúdo/Estrutura Literária:

Tendo Cristo como “Filho do Homem”, teríamos este esboço:

Prólogo – Declaração do propósito de Jesus (1.1-4); Preparação do


Filho do Homem (1.5-4.13); Ministério do Filho do homem na Galiléia
(4.14-9.50); Ministério do Filho do homem na Pereia (9.51-18.30)
Ministério do Filho do Homem em Jerusalém, (18.31-21.38), Ministério
da Paixão do Filho do Homem (22.1-23.56) Ministério da ressurreição
do Filho do Homem (24.1-53). (Dunnet, 2005, p. 27).

Este evangelho assim perfaz sete blocos de unidades temáticas.

Elementos literários: O texto/ O Escrito

Temos aqui um autor sob inspiração. O material lucano que não se vê


em Marcos, cobre aproximadamente três quintos da totalidade do evangelho.
Temos mais de um terço de Lucas que não possui paralelo em Mateus, sendo
material diferenciado. Kummel (2004, p. 176). Presenciamos um Lucas que
busca, coleta, tece, molda uma narrativa coerente que melhor apresente aos
gentios um cristianismo dotado de historicidade. Isto demonstra que neste
Evangelho, sob as leis romanas, inocentar politicamente Jesus, é um fator
pertinente. Este Evangelho constitui-se de um trabalho de motivação gentílica
que apresenta a universalidade do discurso de Jesus, o Filho do homem, para
quem não existem judeus e gentios e sim crentes convertidos. E nesse âmbito,
em um trabalho direcionado aos gentios, diferentemente de Marcos, ele não se
preocupa em demonstrar como o Antigo Testamento e suas profecias
messiânicas apontavam a Jesus. Passagens colaboram para a identificação
deste Evangelho com seu propósito:

67
Uma mensagem sem fronteiras

Em (1:5; 2.1 e 3.1,2) é perceptível a intenção de concatenar,


relacionando momentos da vida de Jesus a realidade histórica; a passagem
(2.32) possui caráter de querygma universal. Temos em 3.23-38 que a própria
genealogia descrita neste Evangelho que se remete a Adão (detentor da
paternidade universal) e não apenas até Abraão conforme nos é apresentado
em Mateus, se faz por nítida referência a um evangelho imerso em
universalidade. Situações como Elias receber hospitalidade por uma fenícia,
Eliseu curando um sírio (4.25-27), a “Grande Comissão” e seu propósito
(24.47). Contudo, é importante distinguirmos o universalismo mateano com
suas nuances eclesiais e o de Lucas, onde um algo a mais helenista o faz
desconsiderar os parâmetros de limítrofe judaico.

Destinada, sobretudo aos que não possuem “atrativos”.

Assim, para Lucas, estigmatizados sociais estão no escopo desta


salvação ofertada por Jesus. Temos uma mulher pecadora em (7.36-50), um
publicano em (19.1-10), um crucificado malfeitor (23.39-43). Ainda se fazem
presentes mais situações de marginalizados sociais, encontrados nestas
parábolas: Um esbanjador (15.11-32), um publicano (18.9-14), um samaritano,
(10.29-37), mais outro samaritano (17.11-19). Os pobres recebem atenção
merecida (14.12-13). E lembrando que somente neste evangelho se registram
essas palavras de Jesus. Temos o rico e Lázaro (16.19-31). E completando
esse caráter do Evangelho Segundo Lucas, relatamos a presença feminina que
é relevada pelo autor: Passagens como (1 e 2) onde presenciamos Maria,
Isabel e Ana, (7.11-17) uma viúva, e (8.1-3) passagem magnífica revelando a
companhia feminina que patrocinavam o ministério: “Maria, chamada
Madalena, da qual haviam saído sete demônios, Joana, mulher de Cuza, o
procurador de Herodes, Susana e várias outras, que o serviam com seus
bens”. Contamos ainda com Maria e Marta (10.38-42), outra viúva (21.1-4),
mulheres em lamúria por Jesus, no caminho do Calvário (23.27-31), mais
mulheres são referidas em (23.49) e (23.55 – 24.11). Lucas apresenta um

68
Jesus como homem de oração (3.21), (5.16), (6.12), (9.18), (9.28-29), (10.21),
(11.1), (22.39-46), (23. 34, 46). Somente esse evangelista relata duas
parábolas acerca de oração (11.5-13 e 18.1-8).

Missão esta, movida pelo Santo Espírito.

Também é importante ressaltarmos o reconhecimento que Lucas presta


à obra executada pelo Espírito Santo. Temos João Batista repleto do Espírito
Santo (1.15), Maria concebe por obra do Espírito (1.35), Isabel na visita de
Maria foi cheia do Espírito Santo (1.41-42), em (1.67) Zacarias, do nascimento
de João Batista (2.25-27). Simeão, através da ação do Santo Espírito é
informado de que antes de sua morte veria o Cristo do Senhor. Jesus após Seu
batismo tendo recebido o Espírito Santo e por este mesmo Espírito foi
conduzido ao deserto (41). Dá inicio a sua missão, após o deserto, com a
presença do Espírito (4.14), exulta de alegria sob ação do Espírito Santo
(10.21). Em Lucas 24.49) exprime a promessa de enviar sobre os discípulos
com aquilo que o Pai tinha prometido um revestimento de força numa alusão
ao Espírito Santo. Assim, consequentemente, este livro é reflexo de próspera
vitória espiritual através do mover profuso de Deus, pela constante e atuante
presença divina. Tantas passagens sobre o Santo Espírito realçam a certeza
de uma ação direta do poder de Deus sobre a vida do que crê. Gundry ( 1998,
p. 102-105).

Onde o fruto do Espírito é palpável

Há um clima festivo de alegria permeando os discursos de Jesus ao se


reportar ao povo, quando sara enfermos, confraterniza com párias sociais,
interage com mulheres e crianças, aproximando a água dos lábios daqueles
que tem sede, pois, “o médico vem para os doentes”, que afinal são os
destinatários dessa boa nova. Espírito de gozo atestando o Espírito de Deus:
“Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade,
bondade, fidelidade, mansidão, autodomínio.” Gl 5.22. Fabris et al (1992 p 11).

69
Fontes/Como se fez:

Um conjunto de fontes contribuiu para o Evangelho de Lucas, e pode ser


observado dessa perspectiva: inicialmente consideramos um autor que foi
possuidor de vasta experiência missionária adquirida na companhia de Paulo e
Barnabé, ocasiões essas que lhe concederam a oportunidade de contatar
Igrejas como Jerusalém, Antioquia, Éfeso, Cesaréia, Roma, o que lhe
proporciona considerável incremento informativo. Também ressaltamos que, de
João (e seus discípulos) pôde recolher material importantíssimo, visto que se
trata de fidedigna testemunha. Refletindo a absorção direta de tradição
evangelística valiosa que é transcrita eficaz e estruturalmente em sua obra.
Acrescente-se a isto, o texto de Marcos sendo a ele como principal referência
documental, também a uma tradição indicada pela erudição autoral com a sigla
Q (Quelle, fonte)3 e a tradições orais e escritas dos círculos judeu-cristãos e de
outros ambientes cristãos, como a tradição joanina, que Lucas compartilha
afinidades temáticas particulares. Segundo Fabris et al (1992, p. 21), seria esta
a disposição das fontes de Lucas:

“Q” Mc L
(fontes particulares)

Lc

Teologia de Lucas

Em Lucas a história e a teologia se entrelaçam. Observamos o desejo de


Deus discorrido por todo o enredo cronológico da existência humana, servindo-

3
”(...) uma fonte contendo quase exclusivamente ditos de Jesus e indicada pela sigla Q (Quelle=fonte) (...)”. Barbaglio
et al. Os Evangelhos I, São Paulo: Loyola, 1990, p. 36 e também: “(...) compreendia uma série de pequenas coleções
em forma de tratados ou ciclos de tradições evangélicas, (...)”.Fabris et al Os Evangelhos II, São Paulo: Loyola, 1990,
p. 21).

70
se desde a época veterotestamentária da realidade material para concretizar
Seus propósitos. Um testamento inicial cuja luz aponta para a morte redentora
do testador (Hb 9.16) que se faz em completude profética no âmbito
neotestamentário numa sincronia supranatural inebriante. Redenção salvadora
essa que se perpetua indistintamente através do dom do Santo Espírito, seja
na comunidade primeira, seja na Igreja de qualquer tempo. Em Lucas, o
momento que a comunidade passava é parte dos últimos tempos. Escatologia,
parusia, história da Salvação e teologia, em uníssono, convergem para o crivo
cristocêntrico. A unidade teológica que é o Cristo que veio e que retornará, é
ação contínua na história, ressurreto que ascende aos céus, mas que
permanece, sendo ação direta, através do Espírito Santo. Marconcini (2001, p.
159).

Jesus, Profeta

Em Lucas presenciamos uma relação de títulos designativos atribuídos a


pessoa de Jesus que ele vai acumulando no decorrer deste evangelho: Filho
de Deus, Cristo, Senhor, Filho do Homem. Mas para compreendermos o viés
lucano da pessoa de Jesus, é necessário nos determos nos seus modelos, ao
mostrar a pessoa e sua função histórica.

Iniciamos com o modelo de profeta que, nele Lucas promove uma


transição dos moldes da tradição evangélica comum para um contexto
histórico-salvífico. Temos o reconhecimento profético de Jesus ( Lc 9.8. 19=Mc
6.15; Lc 4,24=Mc 6.4). Após tal investidura de consagração, o profeta Jesus
tem sua missão apresentada por Lucas. Em Nazaré na Galileia, ele apresenta
o texto de Is 61.1-2 (58,6) cujo texto relata a unção profética que repousa no
enviado por Deus, proclamador das boas novas e ali, exatamente naquele
momento, temos o cumprimento da profecia (4,18-21). No texto do profeta
Isaias, duas qualidades proféticas (homem da palavra e do espírito) estão
ressaltadas, colocando Jesus nessa categoria. Temos um Jesus que age, que
proclama a Palavra com autoridade, porque é repleto do Espírito Santo
(4.1,14,18; 10.21). Ele é o profeta sob investidura espiritual, boca de Deus. O
que proclama incessantemente é a “boa nova” do Reino de Deus, suas obras

71
revelam a contundente presença do Espirito Santo. Depois de João Batista se
deu o início a um novo tempo sob o enlevo do sentido cristológico. Estaria
assim anunciada em incontrolável revelação essa boa-nova desse Reino de
Deus. (20.1; 4.43; 7.22; 8.1; 16.16). No episódio da Transfiguração (9.30-31,35)
ele está ao lado de Elias e Moisés; nessa coparticipação temos uma leitura
incontestável de Jesus como um profeta. Então, Elias e Moisés se afastam
antes da apresentação de Jesus, porque é Jesus o profeta que anuncia a
última palavra divina. E diferenciando acima dos profetas, para outorgar sua
excelência, presencia-se inegável delegação de poder e autoridade,
divinamente instituídos pela declaração “Da nuvem, porém, veios uma voz
dizendo: “Este é o meu filho, o Eleito; ouvi-o”. E como todo profeta tradicional,
alude-se a ele situação de morte (13.32-34). Ainda assim, em Jerusalém, (Is 53
e Lc 17.25) através de seu sacrifício cruento do profeta, servo obediente e fiel
obterá a glória por Deus (22,20). Fabris (1992, p. 17-18).

Designam Lucas pela alcunha de “teólogo da salvação”. Onde


entendemos que há uma escrita lucana explanando um desejo divino de
promover a liberdade salvífica de toda malignidade no pecado representada,
como também de gerar uma interação com Deus, lembrando que esse pecado
proporciona a danação eterna. Constata-se a utilização dezessete vezes o
termo “salvar” (sozeîn), “salvador” (sotér: 1.47; 2.11) presente nos evangelhos
somente em João (4,42) e “salvação” (soteria ou sotérion: 1.69-71.77; 2.30;
3.6; 19.9), incidências estas que aprovam o epíteto. Marconcini (2001, p. 160).

Jesus, Salvador

Um segundo modelo apresentado por Lucas para que compreendamos


a pessoa e sua ação historiográfica é mostrá-lo como o Salvador. Apenas
neste evangelho é atribuído diretamente a Jesus este título: Salvador (gr.sôter),
e exatamente no “evangelho da infância” (2.11; 1.47). Agora, além do título, há
uma gama de situações onde os componentes nos remetem a evidência do
aspecto de salvação e libertação que se faz presente no enredo missionário de
Jesus. Para discorrer sobre essa salvação, contemplando o escopo histórico e
espiritual envolvido, Lucas se vale dos modelos bíblicos tradicionais. E o faz

72
não somente nos dois capítulos relativos ao evangelho da infância como
também no evangelho público. Vejamos: evangelização aos pobres, libertação
aos presos e oprimidos (4.18-19), na passagem (7.16; 19.44) ao ver ressuscitar
o filho da viúva de Naim, o povo presente ao fato, glorificaram afirmando que
Deus tinha visitado seu povo, atestando que um salvador lhes tinha visitado, e
em (1.79; 2.14; 19.38,42) temos uma paz que se faz oriunda de uma libertação
messiânica em Jesus. Todavia a salvação que é fruto de uma experiência real
com Jesus difere profundamente das alegadas supostas salvações que são
anunciadas pelas manifestações religiosas pagãs encontradas no culto ao
Imperador ou nas religiões de mistério. A primeira seria uma evocação
imperialista com fins políticos e a segunda se faz por falsa religião. A salvação
evangélica é universal, indistinta, resgata os homens no seu âmbito de
concretude material, porém esta redenção se conclui numa transcendência que
perpassa a história (21.28). Temos uma salvação que nos liberta das mazelas
materiais e espirituais. Salvação esta que, em Jesus, se faz plena, o homem
perfeito que é o modelo de perfeição a ser reproduzido. A abertura de uma
aliança nova inaugurada através de perfeição encarnada que deve ser o rumo
almejado pela humanidade liberta neste Salvador. Fabris (1992, p. 18-19).

Evangelho segundo João

Neste Evangelho recebemos a grata satisfação de conhecer uma


realidade repleta de esperança: Nossa fé em Jesus é um vínculo como uma
porta que nos conduz à vida eterna. O grande EU SOU se faz próximo na
pessoa de Cristo, tornando-se nosso caminho numa verdade que conduz à
vida Eterna. Este pastor bondoso que nos sacia eternamente com um pão que
é sua carne é irresistível atrativo. Alimento esse que nos vitaliza e nos faz
ressurgir. Ele ilumina toda penumbra de dúvidas e nos faz crer que nascemos
para ser felizes como parte dessa videira divina que é o Reino dos Céus.
Esta obra possui uma simplicidade de estilo, contudo é dotada de
imensa riqueza teológica diante dos sinópticos, e diferenciando-se
sensivelmente dessa tríade, João trata exclusivamente da temática de quem é
Jesus.

73
O Jesus histórico dificilmente é retratado; temos aqui Jerusalém com
maior importância do que sua região autóctone, a Galileia. Perceptível é a
substituição das pregações e parábolas usuais por discursos magnânimos
onde Jesus identifica a finalidade divina de sua missão. Neste evangelho,
exclusivamente encontramos a realidades físicas que desaparecerão logo
depois de findar essa primeira vinda de Jesus. Assim também desaparecerão
os lugares batismais em Betânia e Edon (1.28; 3.23), peregrinação para
Páscoa e festa dos tabernáculos (2.23; 7.2), festa de dedicação do templo
(10.22). Em (7.37) no contexto das Festas das Tendas, Jesus menciona
referência a uma ritualística de água executada neste dia. Ohler et al (2013, p.
360).

Autor

Junto a Mateus, João foi testemunha ocular do ministério de Jesus. A


tradição que nos assegura que o apóstolo João, filho de Zebedeu e irmão de
Tiago, é o autor, remota desde o segundo século. Seria o João, amplamente
associado ao discípulo amado (13.23). Dunnet (2005, p. 33). O título “Segundo
João” é acréscimo posterior que se remete à necessidade de distinção frente
ao trio sinótico de quando iniciou a propagação em conjunto, sob a menção “o
quádruplo evangelho”. Testemunhos como Taciano (aluno de Justino Mártir),
Cláudio Apolinário (bispo de Hierápolis), Atenágoro, Teófilo de Antioquia
(aproximadamente 181 D.C.), Policarpo e Papias, sobre os quais os dados
existentes são oriundos de Irineu (fim do século II), Eusébio (século IV).
Também Clemente de Alexandria e Tertuliano, atribuem esse evangelho a
João. Carson et al (1992, p. 155-157).

Data

A erudição sugere uma data que contemple o espaço temporal


compreendido entre 55 e 95 se fazendo por possível. Carson et al (1992, p.
189). A descoberta no interior do Egito, do Fragmento Rylands4, deste

4
“O texto do quarto Evangelho goza do privilégio do testemunho manuscrito mais antigo que possuímos do NT: o
52
papiro Ryland (P , conservado na John Ryland’s Library de Manchester, descoberto no Egito e publicado por C.H.

74
Evangelho, e que é datado aproximadamente entre 120 a 135 d.C., de forma
convincente nos coloca a ideia de que, possivelmente já ao fim do primeiro
século da era cristã, a escrita do evangelho tenha sido feita. Subtende-se
então, que pela data do fragmento, décadas tenham-se transcorrido desde a
composição da obra joanina. Gundry (1998, p. 109). A última década do século
I seria o indicado. Kummel (1982, p. 315).

Local

Pela tradição eclesial temos uma certeza: Escrito em Éfeso, cidade da


Ásia Menor. Irineu, discípulo de Policarpo, que foi discípulo de João se faz
importante testemunha, que afirma esta verdade. Gundry (1998, p.109).
Também existem propostas secundárias: Alexandria (em virtude de o
apóstolo João possuir proximidade com Filo), Antioquia, (devido este
evangelho e as Odes de Salomão possuírem afinidades de conteúdo), e a
Palestina (devido ao perceptível conhecimento de detalhes culturais e
topográficos demonstrados pelo autor na obra). Carson et al (1992, p. 178).

Destinatários

Se o filho de Zebedeu escreveu o evangelho enquanto era residente em


Éfeso, é possível imaginar que os leitores dessa região seriam os agraciados
inicialmente. Carlos et al (1992, p. 191).

Propósito

“Jesus fez ainda, diante de seus discípulos, muitos outros sinais, que
não se acham escritos neste livro. Esses, porém, foram escritos para crerdes
que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que crendo, tenhais vida em seu
nome”. Jo 20. 30-31. Dunnet (2005, p. 33). Sua finalidade de evangelização
universal também possuiria internamente um propósito específico: Levar as

Roberts em 1935); contém Jo 18,31-33.37-38 e remonta aos anos 120-130 d.C.” Lexicon – Dicionário Teológico
Enciclopédico. São Paulo: Edições Loyola, 2003, p. 412.

75
boas novas a judeus da diáspora e prosélitos judeus. Percebemos
características como, menções, referências veterotestamentárias revelando
que os destinatários desta escrita conheciam a Bíblia; sua tradução de termos
semíticos (1.38,42; 4.25; 19.13, 17), também demonstra que se remete a
falantes de grego. Apesar da presença de profundas denúncias aos judeus,
neste evangelho isto não se faz por um caráter em nenhum momento
“antissemita”, podemos enxergar isso quando observamos sua afirmação que a
salvação viria dos judeus (4.22). Apenas João, possivelmente, quer expressar
distinção entre judeus comuns e algumas lideranças hebraicas. Tudo gira
apenas em torno da questão teologal e jamais étnica. Carson et al (1992, p.
195).

Comunidade

Uma comunidade desfrutando a realidade do final do século I quando a


Igreja está imersa no debate com a sinagoga. Situação essa referida na
composição do evangelho. Carson (1992, p. 174). Este evangelho serviu a
igrejas que possuíam tradições especificas a respeito de Jesus, onde um judeu
cristão dá respostas às crises que as comunidades eclesiais enfrentavam.
Ohler et al (2013, p. 362).

Característica Literária

João remete-se ao gênero literário de “evangelho” consoante a tríade


sinótica. Todos os quatro expõem a ação ministerial de Jesus desde a época
do episódio batismal com João Batista até o sacrifício de cruz e posterior
ressurreição. Kummel (1982, p. 253).

Conteúdo/Estrutura Literária

Apresenta um prólogo (1.1-18) e um epílogo ou apêndice (21.1-25),


intercalados por um núcleo formado de dois conjuntos centrais, 1.19-12.50 e
13.1-20.31. Assim, após o prólogo, no conjunto que se segue pode ser dividido
em três seções.

76
A primeira divisão, que é o período inicial do ministério de Cristo: sinais,
obras e palavras (2.1-4.54). Aqui teremos a transformação de água em vinho,
purificação do templo e a afirmativa de que Jesus substituiria o templo (2.1-11;
12-17 e 18-22). Em (2.23-25) uma reação incomum é percebida: “Enquanto
estava em Jerusalém, para a festa da Páscoa, vendo os sinais que fazia,
muitos creram em seu nome. Mas Jesus não tinha confiança neles, porque os
conhecia a todos”. Uma crença que gera uma fé vazia. Seguimos para o
encontro de Jesus com Nicodemos, no qual onde o conhecimento humano se
abate diante da sabedoria divina (2.1-15). Duas vezes neste capítulo, João
aparenta acrescer um testemunho próprio, sendo o primeiro (3.16-21) e o
segundo (3.22-30 seguido de (3.31-36). Ainda destacamos em (4.1-42) o
encontro com a Samaritana, que conclui essa divisão com um segundo sinal,
na cura de uma criança (4.43-54).

Na segunda divisão encontramos mais sinais, obras e palavras.


Entretanto, nesse contexto, encontramos a questão cristológica ao que se
refere a natureza de Filho em relação ao Pai. O discurso sobre divindade é
apreciado no decorrer de capítulos que (5.16-30) discorre sobre Jesus e sua
natureza perante o Pai. Somos apresentados a situações em que a divindade é
manifesta (6.1-15; 6.16-21). Segue-se para a explanação sobre o pão
verdadeiro que dá vida eterna o maná (esp. 6.27-34) que ingerido sacia
eternamente. (6.22-58; 35-48). Mas isto gera dúvidas até dentre os que o
acompanham (6.59-71), também entre familiares (7.1-13). Presenciamos na
Festa dos Tabernáculos uma primeira situação (7.14-44) que, em numa
atmosfera envolvendo rejeição, observamos uma grande revelação de
finalidade escatológica messiânica em Jesus (7.37-44) envolvendo confrontos
com autoridades hebraicas (7.45-52). Daí segue-se para a mulher adúltera
(7.53—8.11), e adentramos em uma segunda situação, com mais obras e
palavras (8.12—10.42), que está imersa em dimensão de antagonismo
extremo. Então temos a continuação numa segunda etapa dos conflitos na
Festa dos Tabernáculos (8.12-59) em que ao fim Ele declara explicitamente
Sua divindade o que gera uma revolta incontida, mas que frustou seu intento.
(9.1-41). No cap. 10 Jesus se identifica como o bom pastor das ovelhas.
Possuidor de rebanho significa afirmar que este rebanho é o que compõe o

77
povo de Deus, o que gera divisão entre os judeus. (10.1-21). Na Festa da
Dedicação, presenciamos a decisão de morte para Jesus. Sua afirmativa
quanto a ser o Messias e Filho de Deus fomentou fortíssimas reações
adversas, levando Jesus para o outro lado do Jordão, um local onde João
Batista havia batizado (10.40-42).
Agora adentramos numa espécie de pequena unidade transitória antes
de adentrarmos a terceira e final unidade. Referimo-nos a (11.1—12.50), onde
encontramos a morte e ressurreição de Lázaro (alusão ao Cristo), e também a
decisão oficial de matar Jesus (11.1-44) e (11.45-54) respectivamente. Na
próxima relação de passagens (11.55—12.36), que cronologicamente se
reporta à “páscoa judaica” (11.55-57), temos a unção em Betânia onde Maria,
ungindo Jesus, prefigura seu destino de cruz que o glorificará (12.1-11). A
entrada em Jerusalém (12.12-19); lembra-nos “Exulta muito, filha de Sião! Grita
de alegria, filha de Jerusalém! Eis que o teu rei vem a ti: ele é justo e vitorioso,
humilde, montado sobre um jumento, sobre um jumentinho, filho de jumenta”.
Zc 9.9. Temos o anúncio da morte de Jesus e consequentemente sua
glorificação por Deus através desse sacrifício definitivo e de oferta perfeita
(12.20-36).

Adentramos finalmente na grande unidade final desse evangelho, a


terceira divisão, onde a cruz é o local de glorificação de Jesus e é onde sua
hora chega. (13.1—20.31). Inicia-se com a última ceia de Jesus com seus
discípulos (13.1-30), em um ato de profunda simbologia que atesta a dimensão
de seu propósito de encarnação que seria a doação ao próximo, a delegação
ao necessitado, a humildade consciente, a simplicidade ativa, a obediência
incondicional ao Pai em serviço, tudo condensado no lava-pés. (13.1-17), uma
lavagem purificadora que está para além, transcende o significado de pureza
corpórea e adentra a âmbito do signo de purificação espiritual. Numa analogia
adequada teríamos o sangue de Jesus vertido na cruz nos limpando da
impureza do pecado. (I Jo 1.7b e por extensão Sl 51.2). Ainda presenciamos a
concretização veterotestamentária de (Sl 4l.10) em (13.18-30) demonstrando a
plena sobriedade de controle do enredo processual através da consciente e
voluntária apresentação de si neste enredo de sofrimento e paixão, numa
rendição incondicional de serviço ao Pai. Seguido por uma despedida (parte

78
diálogo, parte monólogo), fracionado (13.31—14.31 e 15.1—16.33). Em (17.1-
26) temos a oração de Jesus; no intervalo (18.1—19.42) é apresentado o
julgamento e a paixão de Jesus, sempre notadamente destacando sua brava
sóbria realeza. Sua ressurreição (20.1-31), conta com um Jesus ressurreto
aparecendo em visita aos discípulos, concedendo-lhes o Espírito Santo e
explanando sobre o perdão (20.19-22), colhendo de Tomé afirmativa sobre sua
divindade: “Meu Senhor e meu Deus” (20.28) e termina esta divisão segmental
em (20.30-31) declarando a intenção de escrita da obra. De (21.1-25) temos
um epílogo que aborda a volta de Pedro à missão evangelística, e com variado
simbolismo, antevê a desenvoltura de crescimento da igreja. Carson et al
(1992, pp. 151-155).

Fontes/Como se fez

Muitas posições são consideradas quando abordamos a questão das


fontes de nascimento deste evangelho. Afirma Kummel (2004, p. 269) que, “a
maior parte do material de João não é tomada nem do AT nem da tradição dos
sinóticos. Estas observações levantam o problema de se saber se João usou
alguma fonte para esse material”. Há linhas de erudição que tendem a creditar
que um editor final proporcionou a obra uma ação eclesial de redação última
adicionando em acréscimo elementos novos com intento de conformar esta
obra com a tradição comum da Igreja; outros citam que a obra provém de uma
tecedura de fontes diversas. Mas que fontes? Dentro das propostas de
possibilidades ofertadas, devemos recordar a hipótese considerada pelo
teólogo alemão chamado R. Bultmann o qual propôs que este evangelho seria
o resultado da confluência de três fontes: uma fonte de milagres, uma coleção
de discursos (de origem gnóstica) e o relato da Paixão. Mas é necessário
lembrar que essa é uma questão sem unanimidade; com base em diversos
critérios (essencialmente os linguísticos), um considerável grupo decide pela
unidade da composição. Fabris et al (1992, p. 252); Kummel (2004, p. 262 e
270).

79
O texto

No Escrito

Basicamente possuímos em primeiro plano destacando-se pela maior


antiguidade, o fragmento intitulado p52 contendo umas poucas palavras de João
18. E mais dois outros documentos e papiros, ambos os códices, ao final do
século II: p66 (maior parte de Jo 1-14 e partes dos outros capítulos) e p75
(maior parte de Lucas, e na sequencia temos João 1-11 e partes dos capítulos
12-15). Do início do séc. III temos p45 (Contendo Atos e com partes de todos os
evangelhos, ressaltando a incompletude de todos os livros!). Após considerar
este básico, a incidência de manuscritos faz-se mais abundantes
desemborcando com os “grandes unciais” (manuscritos escritos em letras
maiúsculas) datados do séc. IV, tendo subsequências dos inúmeros
minúsculos dos séculos posteriores. Carson et al (1992, p. 196).

A mulher adúltera

Uma questão se faz necessária ser abordada. A passagem relatada em


Jo 7.53-8.11 da mulher que é encontrada em adultério, são versículos que se
encontram na maior parte dos manuscritos minúsculos gregos medievais, mas
não se fazem presentes na preponderante maioria dos manuscritos gregos de
maior antiguidade de que se tem conhecimento, que representam uma grande
diversidade de tradições textuais. Excetuando-se notavelmente pelo uncial
ocidental D, conhecido por sua autonomia em diversos outros trechos. Esses
versos também se ausentam nas formas mais velhas dos evangelhos siríacos
e cópticos e em diversos manuscritos da Antiga Versão Latina, da Antiga
Versão Geórgica e em manuscritos armênios. Essa é uma narrativa que não é
mencionado nos pais da igreja; ao citarem João, de 7.52 seguem para 8.12.
Antes do século X, nenhum Pai oriental, menciona referência a tal texto.
Dídimo, o Cego (intérprete bíblico de Alexandria que viveu no século IV) relata
uma variação, não do texto como o conhecemos. Além disso, diversos
manuscritos (ulteriores) que incluem a história reportam-se a ela, marcando-a
com asteriscos ou aspas, em forte indicativo quanto a sua questionada

80
autenticidade, além de uma alta presença incidente de variantes textuais.
Sobre isto, afirma Kummel (1982, p. 262).

Que a perícope da adúltera (7,53-8,11) não pertence de maneira


nenhuma à tradição original de João, prova-se pela evidência dos
manuscritos (...). Assim, muito embora a maior parte dos manuscritos
que incluem esta história posicione-a em 7.53—8.11, alguns colocam
depois de Lc 21.38, e outros após Jo 7.44, 7.36 ou 21.25. Esta
multiplicidade de colocações tão somente confirma (ainda que não
consiga demonstrar) a ilegitimidade destes versículos. E ainda que
haja a conclusão da autenticidade dos versículos acarretaria numa
dificuldade considerável para provar que o material é de João: nele se
fazem inclusos inúmeras expressões e construções que não são
encontradas em nenhuma parte de João, mas que é qualidade
distintiva dos sinóticos, especialmente Lucas. Carson et al (1992, p.
196-197).

Teologia

Ao lermos o evangelho percebemos alguns temas teológicos dispostos


em uma oscilação entre narrativas e discursos, onde os ditos de Jesus
destacam a essência do fato que está sendo referido em tais evangelhos.
Também é importante que se atente que o simbolismo é marca presente nos
textos. Como exemplo temos o lava-pés e seu significado de purificação
ocasionado pela ação de Jesus. O “nascer de novo” é remetido a “nascer do
alto” (3.3ss). O paralelo entre ser “levantado” numa alusão direta ao madeiro e
ao processo de ressurreição (12.20-36). O autor nos remete a um Jesus que é
o Logos ou a Palavra que apresenta, que nos mostra, nos introduz, nos clarifica
Deus. Ele testemunha a verdade, (não mero conceito filosófico, mas
personificação e caráter de Deus), revelando-a. Torna-se o veículo do amor de
Deus pela humanidade, através da aceitação de sua cruenta missão. Deixa o
lado do Pai e desce para concretizar sua “hora”, onde honra e glória celestial
receberia do Pai quando neste gesto, o próprio Jesus, revela a glória do Pai.
João inda nos mostra que através de eleição e fé, a regeneração pelo Espírito
Santo possibilita a humanidade através de Cristo, finalmente enxergar o Pai.
Ele é luz que extingue as trevas do pecado e nos possibilita fugir ao julgamento
do mundo representando esta extinção da escuridão espiritual. Em Jesus há
clara separação dos filhos das trevas que estão perdidos porque não creem e
dos filhos da luz. Este é o Evangelho onde a iconografia de Deus estampada
em e através de Jesus se faz latente. “Se me conheceis, também conhecereis

81
meu Pai” (...). Diz-lhe Jesus: “Há tanto tempo estou convosco e tu não me
conheces, quem me vê, vê o Pai, como podes dizer: “Mostra-nos o Pai!”? Não
crês que estou no Pai e o Pai está em mim”? (Jo 14.7 e 9-10). Gundry (1978, p.
112 e 113).

Reconhecer Jesus

João concede um sensível incremento ao significado das palavras-chave


sinais, crer e vida, no âmbito contextual de seu Evangelho. Para promover a
descrição dos prodígios que Cristo operava, ele utiliza a palavra “sinais” como
artifício proclamador de quem Jesus de fato era.

Sinais

Quando observados como um todo, esses sinais revelam “o Cristo, o


Filho de Deus”. São ações de Jesus em áreas nas quais um ser divino como
ele pode agir. (Elencaremos passagens encontradas exclusivamente no
evangelho de João). Temos (2.1-11) a mudança da água para o vinho
revelando o poder sobre a qualidade; (4.46-54) o filho de um nobre sendo
curado revelando o poder sobre o espaço físico; (5.1-9) cura do paralítico que
na situação envolve o poder sobre o tempo; (9.1-12) cura do cego, revelando o
poder sobre uma adversidade; e (11.1-46) ressurreição de Lázaro, revelando
poder sobre a morte.

Crer

Crer é uma palavra das mais mencionadas, tendo noventa e oito


citações e sempre assumindo a classe gramatical de verbo, jamais como
substantivo (crer e não crença). Naturalmente o que repassa é movimento,
ação, dinamismo. Ele mostra a reação das pessoas para com Jesus. Isto
possui a finalidade de passar ao leitor a vivacidade do momento ilustrado.
Quem o ouvia e acreditava, o seguia. Contudo o que não cria, mudava-se em
antagonista. Assim, quem porventura o tivesse conhecido, não conseguia

82
manter indiferença. Temos alguns sinônimos utilizados por João, juntamente
com o vocábulo crer, que aumentam a clareza do significado: Receber (1.12),
beber (4.14), vir (6.35) e entrar (10,9). São palavras usualmente utilizadas, mas
que recebem enlevo (completo e profundo entendimento) quando do trato
espiritual das pessoas com Cristo.

Vida

A terceira palavra é vida. Vida que, para João, seria um conceito


elevado, não somente um conceito vago que contextualiza uma ideia material,
uma existência frugal nesse plano material. Seria então crer em Cristo e
receber assim a verdadeira Vida, uma consequência inevitável que parte
oriunda de um renascer em Jesus que nos dota do Espírito Santo de Deus e
nos remete a uma realidade existencial concreta que estaria para além Jesus
disse que “ora, a vida eterna é esta: que eles te conheçam a ti, o único Deus
verdadeiro, e aquele que enviaste, Jesus Cristo”. (17.3). João mostra a
humanidade do início ao fim de sua obre Cristo como Deus (1.1; 20.28), que
encarnou (1.14), com a finalidade essencial de Ele próprio resgatar o pecador
da morte (12.23,24), e que ressuscita (cap. 20). Dunnet (2005, p. 33-35).

Jesus e fé

Somos apresentados a uma escrita evangelística que delineia Jesus


sob, a perspectiva da fé. Muita simbologia permeando o contexto (novo
nascimento seria um batismo cristão de aceite do Cristo em 3.4; quanto sua
carne ser interpretado por alimento em 6.52, o que era metafísico e exigia
mesmo a seus discípulos (13.28; 14.9) uma percepção que somente seria
plena após esta sua primeira vinda (2.17 e 22). Sinalizando essa teologia,
palavras como “cordeiro de Deus” (1.29) apontando para (Ex 12.21ss),
exaltação (crucificação ou entronização), “a hora” e glorificação tornam-se
palavras-chave em João onde o signo remete diretamente ao contexto
sacrifical de Jesus.

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Depositar em Jesus uma tão marcante proximidade com Deus acarreta
intensa reprovação pela principal corrente do judaísmo. A ideia expressa em
(1.14) está completamente marginal aos contextos hebraicos, não obstante
torna-se o âmago solene do cristianismo que emerge. Ohler et al (2013, p.
362).

Quem seria esse Jesus

Neste evangelho, Jesus faz sete declarações de si mesmo: “Eu sou o


pão da vida” (6.35), “eu sou a luz do mundo” (8.12; 9.5), “Eu sou a porta” (10.7,
9), “Eu sou o bom pastor” (10.11), “Eu sou a ressurreição e a vida (11. 25), “Eu
sou o caminho, a verdade e a vida”, “Eu sou a videira verdadeira” (15.1). Na
língua grega, “eu sou” é construção gramatical em que há ênfase. Ele incorpora
o designativo título divino veterotestamentário: “Disse Deus a Moisés: Eu sou
aquele que é”. Disse mais: “Assim dirás aos israelitas: “EU SOU me enviou até
vós”. (Ex 3.14). Ao confrontar os judeus, afirma: “Em verdade, em verdade eu
vos digo: antes que Abraão existisse, Eu Sou”. (Jo 8.58). Assim, arroga a si
esse identificador máximo. Dunnet (2005, p. 36-37) .

Palavra Logos

“No princípio era o verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus”.
(Jo 1.1).

Não utilizada em nenhum momento por todo o evangelho, considerando


a exceção, a referência a Jesus como “a Palavra” (“o Verbo”), no prólogo deste
Evangelho é repetida 14 vezes. Para nós o sentido do termo palavra é bem
restrito quando anteposto ao vasto sentido assumido no grego.

Para os gregos

Existiam duas concepções radicalmente opostas, diametralmente


distintas. Havia o logos prophoriko (no mesmo sentido por nós compreendido
ao termo palavra). Seria apenas uma unidade da língua, falada ou escrita, que

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pertenceria a uma classe gramatical. Redução e limitação profundamente
perceptíveis quando estamos diante do segundo conceito grego, logos
endiathetos (seria, para melhor compreensão, algo mais assemelhado a
nossa razão).

E entre gregos

Então o conceito filosófico grego abrigava essa dualidade quanto ao


termo palavra: O logos prophoriko – palavra proferida que saia do ser. E o
logos endiathetos – palavra que ficava com o ser, mas não se resume apenas
nestas afirmações e vai mais além. Pois ao contemplar o universo alguns
filósofos entendiam como realidade oriunda de um princípio racional, que
perpassa e que possibilita todo o universo algo como uma alma do mundo (lt.
Anima mundi).

Para os hebreus

Para os judeus não havia esta distinção. Entretanto, essa dualidade no


termo palavra não existia, mesmo assim em João observamos algumas sutis
presenças judaicas na maneira como apresenta esse termo no contexto.
Analisemos tais nuances.

E entre hebreus

Na realidade veterotestamentária encontramos passagens utilizando do


conceito “sabedoria” ou “palavra” (Pv 8. 22-30). Tomada ou não esta passagem
sob a ótica da literalidade é algo que adentra o campo da hipótese, contudo,
certamente havia um exercício filosófico judeu do século primeiro teorizando
sobre a Sabedoria como ente celeste. Igualmente, sobre o termo “Palavra”;
conjecturas eram produzidas, embasadas em passagens como Salmo 33.6,
remetendo-nos ao capítulo primeiro do Gênesis onde há poder nas Palavras de
Deus. Passagens como Jr 1.2,4; Ez 1.3; Os 1.1. Nos passam a impressão de
que a Palavra quase existe por si (Is 55.11). Acrescentemos ao quadro mais
nuances como a personificação da Lei. Tanto a Palavra quanto a Lei possuem

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o mesmo significado, isto é perceptível no modo de como são utilizadas numa
construção paralela igualitária (Is 2.3; Mq 4.2).

Também nesse quadro judaico encontramos os Targuns (traduções do


Antigo Testamento para a língua aramaica). Nestes escritos encontrou-se a
possibilidade de compreensão e entendimento dos judeus daquela época sobre
as Escrituras. Constatou-se que, não pronunciando o nome de Deus, este era
reverentemente trocado por “o Senhor” ou “o Santo”. Certas vezes era dito “a
Palavra”, significando ser o próprio Deus. O que nos revela também que já
havia o costume usual de associar “palavra” como indicativo da divindade.

Também destacamos que o judeu de Alexandria chamado Filo (mesclou


o pensamento do Velho Testamento e da filosofia grega, também se referia ao
Logos como “segundo Deus”, ainda que em certos momentos utilize o termo
em referência ao único Deus em atividade), por muitos é visto como uma
parcela do contexto, em que João se utiliza do termo Logos, realmente uma
importante peça contextual.

Percebemos que independente de sua origem, o termo “Palavra” se


fazia por valioso conceito dentre os leitores deste evangelho.

“E o verbo se fez carne e habitou entre nós” Jo 1.14.

João 1.1 nos repassa a ideia de que a Palavra era Deus, cedendo ao
Logos o mais absoluto superlativo que possa existir. Em Jo 1.14 a Palavra
encarna, abstendo-se do caráter atemporal de Sua essência e se faz (e não se
mostra ou aparece como) física realidade pertencente a um momento
determinado dotado de especificidade histórica. Na encarnação há uma relação
antagônica do humano ante o divino bastante clara no termo “carne” (cf. 3.6;
6.63; 8.15). Por mais divina que seja a Palavra, ela se revestiu de humanidade
em carne por amor. Neste evangelho a menção do termo Palavra como o
próprio Deus, a diviniza. Morris (2003, p. 270-271).

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A Palavra “fala”

Complementando, destacamos um recurso bastante recorrido por João


para disseminar a mensagem do Evangelho: os diálogos do Mestre. No intuito
de fluir o pensamento cristão, na busca de conversões, a metodologia que sua
escrita apresenta são tais conversas nas quais se expressa naturalidade e
eficaz simplicidade divinas. Seriam as conversações do Logos que se fez
carne! Uma esplendorosa realidade (a encarnação) contida em Jesus, que
também é capaz, através de simples diálogos, expressar magnânima
humildade mudando a existência de todo àquele que crê. Muitos obtiveram
essa oportunidade e não permaneceram como eram antes de tal instante. Era
uma situação definida: ou acreditavam e o seguiam ou não. Tudo ou nada!
Destacamos esses momentos de conversação que envolve conversão: No
primeiro grupo de passagens André é personagem de ligação, conduzindo
pessoas a Jesus: Pedro (1.35-42), um menino (6.8,9), visitantes estrangeiros
(12.20-22). Também Pedro participa dessa ambientação dialogal (1.42). Essa
conversa com o Mestre o transforma. Vejamos a consequência dessa conversa
em (6.68,69). Apesar de, (13.36-38; 18.15-18, 25-27), desfruta da misericórdia
de Jesus (21.15-22) restaurando o vigor daquele diálogo inicial já retratado
(6.68,69).
Nicodemos também pode usufruir de uma conversa com o Senhor e
passagens como (7.50-51; 19.39-42) sugerem a forte possibilidade de que ele
teve sua vida mudada após este encontro. Outras situações como Felipe (1.43-
46; 6.5-7; 14.8-12), a samaritana (4.1-42), o homem cego (cap. 9), Marta e
Maria (11.1-46), Tomé (11.16; 14.5-7; 20.24-28), são contextos em que há um
diálogo com Jesus produz contato com a Salvação. Quem usufrui desta
oportunidade recebe uma nova perspectiva de existência. Também nos
lembramos de indivíduos que receberam esse privilégio de diálogo, contudo
escolheram seus próprios caminhos. Seriam Pilatos (18.28-19.16), e Judas
Iscariotes (6.70, 71; 13.21-30; 18.1-15). Dunnet (2005, p. 37-38).

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Leitura obrigatória

Carson et al., Introdução ao Novo Testamento, São


Paulo: Vida Nova, 1992.

De todas as obras com as quais tive oportunidade de travar contato no


decorrer deste trabalho, sem dúvida, essa pérola de Carson et al, subtraiu-me
inegavelmente a preferência diante das demais. Como as outras, possui
excelente abrangência do conteúdo. Mas a forma como esse autor apresenta
sua pesquisa é que a mim, muito agradou. Nesse livro, vemos que após
capítulo relativo aos sinóticos, essa obra decorre sobre todo o Novo
Testamento, mas esse autor em sua maneira de dispor sua escrita (cientifica,
mas sem complexas erudições) de maneira linear, contemplando todas as
variantes de entendimento dentro de um assunto, agradou-me sobremaneira.

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Revisando

Iniciamos esta última unidade, com o terceiro evangelho abordado, o


livro de Lucas. Uma sucinta introdução nos apresenta a esta obra de onde
prosseguimos para o tópico relativo à autoria deste evangelho, seguindo para a
questão sobre data de feitio e em sequência o local considerado mais provável
desta produção literária. Passamos para a questão envolvendo os destinatários
desta obra e também o propósito desta escrita. Tratamos de traçar um quadro
aproximado sobre a comunidade de Mateus e nas características literárias,
conteúdo, feitio (fontes), o texto (o escrito) foram situações privilegiadas com
ampla explanação. Terminamos com a teologia lucana. Após um introdutório
informativo continuamos explanando aspectos como Jesus, o Profeta; e Jesus,
Salvador.

O quarto evangelho contemplado, é apresentado com uma introdução


que nos coloca a par dessa riqueza teológica por João redigida. Seguimos para
considerações pertinentes ao autor, à data de composição, ao local onde
provavelmente foi redigido este evangelho como também divagamos sobre os
destinatários e o propósito na redação deste livro. A comunidade de João foi
abordada como também as características literárias da obra. Conteúdo, fontes,
o texto, tudo salientado de maneira a proporcionar adequada instrução. No
tópico relativo à Teologia, discorremos, após um introdutivo, sobre palavras-
chaves presentes nesta obra que nos fazem perceber o Jesus de João.
Também como a fé nos revela o Jesus, tão permeado em simbologias e
adentramos na questão do Logos joanino. Terminamos com uma análise
teológica ponderando com a Palavra (Jesus) e as palavras (seus diálogos de
transformação).

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Autoavaliação

1. Na sua opinião, o que justifica a existência de quatros evangelhos a compor


o Cânon bíblico?

2. De que trata a questão sinótica?

3. Que melhor teoria explicaria a questão sinótica na sua opinião?

4. Na sua opinião, o que justificaria a singularidade do evangelho de João?

5. Que argumento usaria para defender a historicidade dos Evangelhos?

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Bibliografia

BARBAGLIO et al., Os Evangelhos (I). São Paulo: Edições Loiola, 1990.

BORN, A. Van Den, Dicionário Enciclopédico da Bíblia. São Paulo: Vozes,


1977.

CARSON et al. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova,


1992.

DUNNETT, Walter M., Panorama do Novo Testamento - Curso Vida Nova


de Teologia Básica, São Paulo: Vida Nova, 2005.

Fabris et al. Os Evangelhos (II). São Paulo: Edições Loiola, 1990.

GINDRY, Robert H. Panorama do Novo Testamento. São Paulo, Vida Nova


1978.

KUMMEL, Werner Georg. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo:


Paulus, 1982.

LEXICON. Dicionário Teológico Enciclopédico. São Paulo: Edições Loyola,


2003.

MARCONCINI, Benito. Os Evangelhos Sinóticos. São Paulo: Paulinas, 2001.

MORRIS, Leon. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2003.

OHLER, Annemarie et al. Atlas da Bíblia. São Paulo: Haghos, 2013.

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