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Disciplina: Introdução à Bíblia

Professor: Dr. Leandro Lima


AULA 05

AULA 05 – COMO ESTUDAR A BÍBLIA? – UMA ANÁLISE HISTÓRICA


Leandro Lima

Instruções

Chegamos à metade do curso em termos de conteúdo! Que bom que você


conseguiu chegar até aqui. Daqui pra frente, vamos focalizar um pouco mais os nossos
estudos nos Evangelhos e no Novo Testamento. O objetivo, como o próprio título da
aula indica, é obter ferramentas para estudar “com mais propriedade” a Bíblia. Nessa
aula, vamos fazer um sumário histórico do modo como a Bíblia foi interpretada. Isso
nos ajudará a entender um pouco mais a situação atual. Será a aula mais “técnica” dessa
segunda parte do curso.
Não se preocupe se muitos dos termos abaixo, ou autores citados, forem
estranhos para você. Não há necessidade de assimilar tudo isso de uma só vez. Você
pode voltar a esse texto sempre que quiser. O importante é a conclusão que esse estudo
pretende conduzir: podemos e devemos confiar na Escritura e no método tradicional
de interpretação.
No mais, as mesmas orientações das aulas anteriores valem aqui: oração, Bíblia
na mão, e alegria no coração, por poder estudar as grandes verdades da Palavra de Deus!
Bons estudos!

Introdução

A Igreja recebeu a mais revolucionária de todas as mensagens (o Kerygma1)


para anunciar ao mundo. É uma mensagem de esperança para um mundo desesperado.
Vivemos realmente num mundo aonde reina o desespero. Jürgen Moltmann diz que a
dor do desespero consiste precisamente em haver o sentido de uma esperança, mas estar
fechado o caminho para o cumprimento da mesma 2 . O mundo pós-moderno é um
mundo cansado. Cansado das promessas não cumpridas da ciência e da filosofia
humanista, mas também cansado da superficialidade e hipocrisia da igreja
contemporânea. O mundo se cansou de esperar o “novo mundo maravilhoso” da ciência
e do marxismo. E também se cansou de esperar o reino do amor e da justiça social da
nova teologia da igreja.
No entanto, a Igreja tem uma mensagem. Essa mensagem se estende através de
cada página do Novo Testamento, dos Evangelhos ao Apocalipse. Como diz Hörster,
“em todos esses escritos existe um tema central: Deus se volta à humanidade por meio
de Jesus Cristo”3. Essa é a mensagem da Igreja, tão relevante para o primeiro século,
como para o mundo relativista de hoje. Um tema “extremamente atual numa época em
que o homem está sufocando em seus próprios problemas e não consegue se salvar
somente com a sua inteligência. Nada é tão urgente hoje como o encontro do ser

1
Kerygma é o termo grego para “mensagem” ou “proclamação” no NT. Foi o termo que a igreja
usou para descrever qual era a mensagem que ela tinha para anunciar ao mundo. Swanson define
Kerygma como “pregação, proclamação, mensagem”. Ver James Swanson, A Dictionary of
Biblical Languages With Semantic Domains: Greek (New Testament). Oak Harbor, WA:
Logos Research Systems, Inc., 1997, Tópico 3060. (Ver Mt 12.41; Lc 11.32; Rm 16.25; 1Co 1.21;
2.4; 15.14; 2Tm 4.17; Tt 1.3).
2
Jürgen Moltmann. Teologia da Esperança. São Paulo: Editora Teológica, 2003, p. 30.
3
Gerhard Hörster. Introdução e Síntese do Novo Testamento. Curitiba: Editora Esperança,
1996, p. 7.
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humano com Deus, que se aproximou de nós por meio de Jesus Cristo. Os escritores do
NT têm o objetivo de levar os seus leitores a esse encontro”4.
João deixou isso bem claro ao finalizar seu Evangelho: “Estes, porém, foram
registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo,
tenhais vida em seu nome” (Jo 20.31). Os escritos do Novo Testamento são escritos
históricos, mas são muito mais do que isso. São os mais poderosos instrumentos do
Espírito Santo utilizados por quase dois mil anos para transformar a vida das pessoas
que entraram em contato com eles. Não importa se, num primeiro momento, essas
pessoas se aproximaram desses escritos com fé ou com dúvida, desde que tiveram o
ouvido atento para ouvir o que eles tinham a dizer, eles produziram transformações.
Jesus costumava encerrar suas proclamações com a enigmática e, ao mesmo
tempo, clara declaração: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça” (Mt 11.15; 13.9; 13.43;
Mc 4.9; Lc 8.8; 14.35). Embora muitos tenham “ouvidos”, nem todos estão dispostos a
utilizá-los para ouvir no sentido em que Jesus falou. Toda a busca pelo Jesus histórico
e os esforços da crítica moderna ou do existencialismo teológico não têm conseguido
levar as pessoas a um encontro com Jesus porque, em última instância, essas correntes
teológicas ou filosóficas não estão dispostas a aceitar a integridade e o poder do Novo
Testamento. Antes de “ouvi-lo”, preferem gritar suas próprias concepções sobre ele.
O objetivo deste curso é “ouvir” o Novo Testamento. Estudantes não devem se
aproximar dele como juízes que decidirão subjetiva e, ou, aleatoriamente o que deve
ser aceito e o que não deve ser. Estudantes não devem julgá-lo com os critérios vagos
dos frágeis métodos científicos modernos, ou dos endurecidos preconceitos humanistas
de todos os tempos. Estudantes devem ouvi-lo, dentro de seu próprio contexto e com
toda a força e o poder de sua proclamação, ainda que isto abale suas concepções e
reduza a pó suas formulações teológicas anteriores.
Queremos mais uma vez ouvir aquela voz suave e ao mesmo tempo firme,
repercutindo às margens do Mar da Galileia, chamando seus discípulos para uma vida
única, cheia de significado e de sentido. A mensagem que fez com que aqueles homens
vivessem e morressem por Jesus Cristo, e justamente por causa dessa disposição,
fossem usados para transformar o mundo, é a única que vale a pena querer ouvir através
dos estudos do Novo Testamento.

I. O legado de Cristo e dos apóstolos ao longo dos séculos

Desde sua fundação, a igreja se preocupou em entender o Novo Testamento,


pois o considerava o legado de Jesus e dos Apóstolos. Para a igreja primitiva, os escritos
dos apóstolos eram a continuação do Antigo Testamento, que continha as coisas
necessárias para o tempo da nova dispensação.
A igreja primitiva
Ainda nos tempos primitivos, quando as cartas de Paulo e os evangelhos
sinóticos circulavam pelas igrejas recém fundadas, os cristãos preocupavam-se em
entender o sentido verdadeiro do texto. Embora o Cânon do Novo Testamento tenha
levado quatro séculos para se tornar algo oficial, os 27 livros do Novo Testamento já
eram reconhecidos como autoritativos e inspirados no máximo até meados do segundo
século.

4
Gerhard Hörster. Introdução e Síntese do Novo Testamento. Curitiba: Editora Esperança,
1996, p. 7.
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Alguns discípulos dos apóstolos e outros líderes que se levantavam na igreja


pós-apostólica preocupavam-se em estudar os textos originais, produzindo comentários
e textos explicativos sobre os livros do Novo Testamento. Assim, nos quatro primeiros
séculos da Igreja Cristã houve um profundo interesse pelo Novo Testamento e uma
extensa obra teológica que seguramente pode ser chamada de “teologia bíblica”, pois
teólogos como Clemente de Roma, Clemente de Alexandria, Inácio de Antioquia,
Policarpo, Justino o mártir, Irineu de Lião, Tertuliano e Agostinho de Hipona se
debruçavam sobre o texto sagrado herdado dos Apóstolos e procuravam explicá-lo para
os cristãos, e até para os inimigos do cristianismo.
A igreja medieval
Porém, com a absolutização romana da Igreja a partir do século quatro, os
dogmas substituíram o estudo da Escritura sagrada, e por mais de mil anos, a Igreja
sobreviveu de misticismo e ascetismo dogmático, mergulhada numa quase completa
ignorância do texto bíblico. Foi a chamada “Era das Trevas”.
A igreja da reforma
O movimento da Reforma, antecedido pelos pré-reformadores John Wycliffe e
John Huss que lutaram para que a Bíblia voltasse à língua do povo, e consolidado pelos
grandes reformadores Lutero, Zuínglio e Calvino, caracterizou-se por ser um retorno à
Bíblia, e especialmente ao Novo Testamento. Embora, muitos considerem a Reforma
apenas uma continuação da dogmática medieval, é preciso reconhecer que os teólogos
daquele período voltaram sua atenção para a Bíblia, interpretando-a dentro de seu
próprio contexto, respeitando suas peculiaridades como língua e ênfases individuais.
Lutero e, especialmente, Calvino procuraram fazer comentários dos textos bíblicos,
sendo que Calvino compôs uma série de comentários de praticamente todos os livros
do Novo Testamento (e do AT), exceto 2 e 3 João e Apocalipse. Portanto, a Reforma
se caracterizou pelo desenvolvimento de uma genuína teologia bíblica.
A igreja do Iluminismo
O Iluminismo também trouxe um novo interesse pela Escritura, mas foi um
interesse bem diferente. Com as descobertas científicas e a era do racionalismo, muitos
estudiosos começaram a abordar a Bíblia como um livro histórico que precisava ser
analisado de uma perspectiva meramente científica. A partir daí o texto bíblico
começou a ser questionado e os elementos sobrenaturais rejeitados. Um grande esforço
foi feito para recuperar o Jesus histórico que teria sido distorcido pelos Evangelhos.
Essa forma de abordagem, embora não tenha rejeitado o cristianismo, nunca
esteve disposta a aceitar que tudo o que está registrado na Bíblia é verdadeiro, no
sentido histórico. Após tantos estudos, pouca coisa na Bíblia permaneceu como
verdadeira e acima de qualquer suspeita, de acordo com essa perspectiva5. Este método
de análise da Bíblia ficou conhecido como “liberalismo teológico”. O problema é que
o liberalismo não levou a pesquisa histórica a lugar algum. A busca pelo “Jesus
histórico”, a partir da rejeição dos catecismos e dos escritos apostólicos, fracassou

5
Em relação ao Antigo Testamento, a autoria mosaica do Pentateuco foi rejeitada e, em seu lugar,
foi desenvolvida uma complexa teoria de fontes. Assim o Pentateuco foi dividido em diversas
ramificações que seguiriam fontes anteriores e que teriam sido compiladas por alguém depois do
Exílio. Essa abordagem ficou conhecida como Crítica das Fontes. Posteriormente falou-se em
crítica das formas, crítica das tradições, da redação, etc. Essas metodologias foram aplicadas
também ao Novo Testamento.
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completamente. De fato, “a história da pesquisa da vida de Jesus é a história do fracasso


desta pesquisa”6.
O que se percebe é que estudiosos da época pós-iluminismo como
Schleiermacher, Ritschl e Harnack estavam tentando ler a Bíblia com os preconceitos
de sua própria época. Apesar da grande insistência em se fazer teologia bíblica e não
dogmática, pois o dogmatismo teria prendido à Igreja em especulações, o que se
percebeu é que a teologia acabou não sendo realmente bíblica e sim
preconceituosamente racionalista. Isso porque a Bíblia foi considerada apenas uma
compilação de escritos religiosos antigos, que preservavam em alguma medida a
história de um povo semítico primitivo, e devia ser estudada apenas de uma perspectiva
histórica. O problema é que os estudiosos críticos nunca conseguiram chegar a esta
“história”, pelo menos não a uma que fosse aceita como verdadeira por todos. Mas algo
eles conseguiram: desacreditar o cristianismo diante do mundo e esvaziar igrejas em
todos os continentes.
A igreja do século 20
Após a queda do velho liberalismo que fracassou em encontrar o Jesus histórico,
o existencialismo filosófico influenciou uma nova geração de pensadores como Barth,
Brunner e especialmente Bultmann nos estudos do Novo Testamento. Eles fundaram
um novo movimento teológico que ficou conhecido como “Neo-Ortodoxia”. Karl
Barth, o homem que deu o golpe de misericórdia no antigo liberalismo, estava
completamente desanimado com os resultados e com o próprio método do liberalismo
que não oferecia nada para o pregador, e Barth foi um pastor de 1911 a 1921 na aldeia
de Safenwil no cantão de Aargau na Suíça. O apoio de seus antigos mestres liberais à
Primeira Guerra Mundial o fez ver que havia algo de terrivelmente errado na teologia
deles. A neo-ortodoxia começou a buscar algo mais do que a pesquisa meramente
histórica poderia oferecer. Ela começou a buscar a mensagem do Novo Testamento.
Bultmann tentou recuperar a mensagem do Novo Testamento para o homem
moderno, e fez isto, não tentando retirar os mitos (milagres) da Bíblia como fazia o
liberalismo, mas interpretá-los (ou melhor reinterpretá-los), para que a mensagem
(kerygma7) falasse ao homem moderno8. A Neo-ortodoxia não foi realmente uma volta
à ortodoxia, apesar da admiração de Barth por Calvino, pois não trouxe de volta os

6
Leonhard Goppelt. Teologia do Novo Testamento. São Leopoldo/Petrópolis: Sinodal/Vozes,
1976, p. 22.
7
É preciso fazer uma distinção entre a abordagem do Kerygma em Bultmann e a abordagem de
Dodd. Bultmann vê o Kerygma como a proclamação em si do Evangelho. Dodd vê o Kerygma
como o conteúdo da proclamação da Igreja Primitiva que é paralelo em Paulo, Atos e Evangelhos,
consistindo dos principais eventos relacionados a vida de Jesus, como as profecias que o
antecederam, sua descendência davídica, sua morte, sepultamento, ressurreição e ascensão, e sua
segunda vinda (Ver C. H. Dodd. Apostolic Preaching and its Developments. London: Hodder,
1936, 1963). A existência do Kerygma apontado por Dodd é um forte argumento em favor da
unidade do Novo Testamento (Ver Donald Guthrie. New Testament Theology. Downers Grove,
IL: Inter-Varsity Press, 1981, p. 57-58).
8
Ver Rudolf Bultmann. Demitologização. São Leopoldo: Editora Sinodal, 1999. De qualquer
modo, Bultmann rejeitaria a historicidade de qualquer evento sobrenatural, e talvez do próprio
Jesus, pois não há como reconciliar, na visão de Bultmann, o Cristo da Fé com o Jesus Histórico.
J. Jeremias tem uma outra forma de falar do Jesus histórico. Ele procura descobrir nos Evangelhos
a ipssissima vox (voz literal) de Jesus, a partir do entendimento de que Jesus falou em aramaico.
(Cf. J. Jeremias. Teologia do Novo Testamento. 2ª Edição. São Paulo: Editora Teológica &
Editora Paulus, 2004).
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fundamentos bíblico-históricos dos reformadores, mas lançou a teologia do Novo


Testamento no subjetivismo.
A igreja do século 21
Após a era “Neo-Ortodoxa” o campo de pesquisa da teologia se esfacelou.
Alguns pareciam voltar aos pressupostos do velho liberalismo, enquanto outros
desenvolviam as teses de Bultmann. Porém, mesmo muitos discípulos de Bultmann não
se mantiveram fiéis às ideias do mestre, e enveredaram por caminhos diferentes9. Várias
novas teologias surgiram, algumas durando pouco tempo, outras perdurando mais,
como a chamada “teologia canônica” 10 , que procura ver os aspectos teológicos
unicamente dentro do cânon aceito pela Igreja. É uma espécie de crítica ao método
histórico-crítico, focalizando-se na forma final do cânon.

II. A questão dos pressupostos

A história da teologia do Novo Testamento nos deixa a certeza irrefutável de


que é impossível dissociar o estudo da Teologia Bíblica (bem como de qualquer outra
ciência) da questão dos pressupostos. Ninguém consegue fazer teologia livre de
pressuposições. Frequentemente, se percebe, que o pressuposto (ou preconceito) de um
referido autor condiciona não só o método, mas a própria conclusão da pesquisa.
Donald Guthrie dá um exemplo disto: Alguns estudam o Novo Testamento com o
pressuposto de que é uma literatura marcada pela diversidade, e não conseguirão
encontrar elementos que demonstrem a unidade de seus temas através dos diversos
autores. Assim, sempre verão Paulo distanciado de Tiago, e João rompendo com os
Sinóticos. Por outro lado, alguém que parte do pressuposto de que existe unidade no
Novo Testamento, encontrará elementos que demonstram a unidade entre Paulo e
Tiago, bem como entre João e os Sinóticos11. A grande questão, portanto, é não deixar
os pressupostos fecharem os olhos para as realidades do texto. Pressupostos anti-
sobrenaturalistas marcaram o velho liberalismo. Pressupostos existencialistas
marcaram a neo-ortodoxia. E hoje, certamente, há pressupostos marcando a teologia.
Há pressupostos ecumênicos, pressupostos fundamentalistas, pressupostos
milenaristas, pressupostos feministas, pressupostos de defesa das minorias,
pressupostos homossexuais, etc.
A longa história do esforço dos estudiosos críticos e a absoluta discordância
entre métodos é suficiente para que mantenhamos o padrão tradicional de aceitação da
Escritura. Acreditamos que não há razão suficiente para se abandonar o pressuposto de
fé na integridade da Escritura e em seu respaldo histórico. Podemos listar ao menos três
razões para isso: 1) Essa forma de abordagem é a forma histórica mais praticada, 2) é a
que não violenta os escritos bíblicos, 3) e é a que mantém as verdades essenciais do
cristianismo, embora isto não significa que enfrentaremos estas verdades como se
fossem dogmas.

9
Conzelmann, por exemplo, torna a figura de Jesus um pouco mais histórica do que Bultmann,
mas ainda se mantém dentro do padrão existencialista (Ver Hans Conzelmann. An Outline of the
Theology of the New Testament. London: SCM, 1969).
10
Geralmente ligado ao nome de Childs. Ver: Brevard Childs. The New Testament as Cânon:
An Introduction. Filadéfia: Fortress Press, 1985. Ver também: Brevard Childs. Biblical
Theology of the Old na New Testaments: Theological Reflection on the Christian Bible.
Minneapolis: Fortress Press, 1993.
11
Ver Donald Guthrie. New Testament Theology. Downers Grove, IL: Inter-Varsity Press, 1981,
p. 50.
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O trabalho meramente crítico, embora tenha colaborado para o aprofundamento


acadêmico, tem causado esfacelamento no cristianismo mundial, retirando sua base de
fé, comprometendo o ensino bíblico sobre a Redenção, e assim, demolindo a própria
estrutura do cristianismo12 . Além disso, é necessário que se esclareça que todas as
teorias racionalistas permanecem apenas como teorias, carecendo de provas
documentais. Sem falar no fato de que os críticos dificilmente conseguem concordar
em um único ponto de sua teologia13. Já o subjetivismo da nova teologia deixa claro
seu maior fracasso que é o esfacelamento teológico. O que se percebe é que todo o
trabalho crítico em relação à Escritura conseguiu fazer muito pouco para o bem do
Cristianismo, embora existam volumes infindáveis sobre o assunto, no sentido de tentar
esclarecer a mensagem do Novo Testamento. O mundo não tem um cristianismo melhor
ou mais claro hoje, após tanto trabalho científico dos teólogos racionalistas ou do
subjetivismo dos existencialistas.
Como podemos ver a partir desse breve sumário, realmente há uma crise em se
entender o Novo Testamento e sua teologia. Nesse curso optamos pela definição
clássica de Vos: “Teologia Bíblica é aquele braço da Teologia Exegética que trata do
processo da auto-revelação de Deus depositada na Bíblia” 14 . Vos conceituou a
revelação como sendo “histórica, progressiva, orgânica e adaptável”.
Histórica porque se deu num dado momento histórico onde aconteceu o evento
redentivo. Progressiva porque nem tudo foi revelado de uma só vez. Orgânica porque
o conhecimento da redenção foi suficiente em cada estágio de desenvolvimento. E,
Adaptável porque “tudo o que Deus auto revelou veio como resposta às necessidades
religiosas práticas de seu povo na medida em que estas iam surgindo no decorrer da
história”15.
Mantendo estes conceitos em mente, podemos buscar compreender o Novo
Testamento (e a Bíblia como um todo), respeitando o caráter ímpar da Escritura
inspirada, porém, sem deixar de analisar detalhadamente os dados bíblicos. O objetivo
desse curso é entender o Novo Testamento e sua mensagem a partir dos documentos
canônicos, considerando-os dentro de seu arcabouço histórico, e em seu caráter
normativo para todas as eras.

Recurso adicional opcional:


Escute o áudio da palestra do Prof. Augustus sobre liberalismo e
fundamentalismo:
https://www.youtube.com/watch?v=akLmZ313zT8
12
Brunner admite isso, ao dizer que o trabalho começa com problemas na Exegese do Novo
Testamento e termina numa completa destruição da Fé Cristã, embora este resultado nunca seja
inteiramente admitido (Emil Brunner. The Christian Doctrine of Creation and Redemption,
Dogmatic Vol II. Philadelphia: Westminster Press, 1952, p. 260).
13
Quando se lê um trabalho crítico sobre Teologia do Novo Testamento é possível perceber as
discussões sem fim que se suscitam a partir das metodologias histórico-críticas das mais diversas
escolas. Geralmente, cada novo erudito pretende ser original, e, ao mesmo tempo, identificar os
demais em determinadas escolas. Cullman adverte em seu prefácio que se o seu livro fosse
examinado a partir do ponto de vista de sua “tendência” teológica, seguramente nenhuma das
“escolas” ficaria satisfeita (Cf. Oscar Cullman. Cristologia do Novo Testamento. São Paulo:
Editora Líber, 2001, p. 16). Dificilmente se chega a algum consenso, exceto que o método crítico
é o melhor. Mas não se chega a lugar algum com ele. Se tudo é questionável, até que ponto se
pode fazer “teologia” desse modo?
14
Geerhardus Vos. Biblical Theology. Grand Rapids: W.B Eerdmans P.C., 1948, p. 13.
15
Geerhardus Vos. Biblical Theology. Grand Rapids: W.B Eerdmans P.C., 1948, p. 17.

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