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PRE GA NDO O A N T I GO T E STA ME N TO

Um guia para proclamação das escrituras.

Aula I

OS DESAFIOS E A
NECESSIDADE DE
PREGAR A PARTIR
DO AT

“Eu te exorto diante de Deus e de Cristo Jesus, que há de julgar os


vivos e os mortos, pela sua vinda e pelo seu reino, prega a palavra,
insiste* a tempo e fora de tempo, aconselha, repreende e exorta com
toda paciência e ensino.”(II Timóteo 4:1-2)

Introdução
Começaremos agora uma jornada que pode causar uma profunda transfor-
mação no seu ministério de pregação e ensino da Palavra de Deus. Iremos
estudar sobre como pregar à partir do Antigo Testamento. A razão disso
é porque, embora seja a maior porção da Bíblia, o Antigo Testamento é a
parte mais desprezada nos púlpitos e também a mais mal interpretada. Ao
exortar Timóteo a pregar a palavra, Paulo claramente está fazendo uma
referência ao Antigo Testamento, pois ele era a única “palavra” da época.
Normalmente, muitos cristãos crêem que o Antigo Testamento é apenas
um apêndice e se dedicam diretamente ao Novo Testamento. Olham para o
Antigo Testamento como um livro da religião judaica e, se houver alguma
doutrina cristã em suas páginas, ela está velada para o leitor que não se

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familiarizou com o Novo Testamento. É possível que talvez você não pense
assim, mas precisamos nos preparar para não cometermos tais equívocos.

Nas diversas discussões sobre como alcançar uma sociedade pós-moderna


com o evangelho, os “remédios” recomendados por vezes atingem o cerne
da Escritura a fim de tentar tornar a fé mais palatável aos pecadores.
Frequentemente, o Velho Testamento é o primeiro a ser atacado. Alega-se
que o Novo Testamento é superior ao Antigo por apresentar um Deus
de paz e amor, enquanto o Antigo apresenta um Deus de ira e juízo. Esse
não é um problema novo. A confusão sobre o Antigo Testamento remonta
pelo menos ao segundo século, quando Marcião tentou separar o Antigo
Testamento do Novo. Teólogos liberais há muito criticam os milagres
do Antigo Testamento e, nas últimas décadas, rejeitaram os padrões do
Antigo Testamento sobre sexualidade para combinar com a revolução
sexual. No entanto, mesmo entre aqueles que afirmam crer que a Palavra
de Deus é a verdade absoluta de capa a capa, parece haver uma escassez
de pregação do Antigo Testamento. R. C. Sproul certa vez, de maneira
irônica, comentou que “Se você conhece seis das doze tribos de Israel, provavel-
mente será considerado um estudioso da Bíblia.” Apesar de engraçada, a frase
realmente sugere uma falta de interesse de muitos cristãos pelo Antigo
Testamento. Quaisquer que sejam as razões, o Antigo Testamento não
é lido nem pregado com tanta frequência, ou tão dinamicamente, como
deveria ser. Uma pesquisa aponta que apenas 20 por cento dos sermões
pregados surgem do Antigo Testamento, mesmo que o texto do Antigo
Testamento corresponda a 70 por cento da Bíblia. Os púlpitos normal-
mente estão silenciosos quando se trata da exposição do Velho Testa-
mento. Fora uma referência ocasional a um jovem Davi e seu inimigo de
quase três metros de altura, Golias, ou famoso sermão do poderoso Sansão
que repetidamente escapa das garras de uma Dalila conivente, não parece
haver muito terreno “novo” arado em sermões do Antigo Testamento.

Por isso, nesta primeira aula, responderemos a duas perguntas:


1. Quais os desafios de pregar a partir do Antigo Testamento?

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2. Por que é necessário pregar a partir do Antigo Testamento?

I. OS DESAFIOS DE PREGAR À PARTIR DO ANTIGO


TESTAMENTO.

1. Os Desafios Hermenêuticos.
Os principais desafios de pregar no Antigo Testamento são hermenêuti-
cos. É importante lembrar que Hermenêutica é a arte e ciência da inter-
pretação bíblica.

Hermenêutica x Exegese – a hermenêutica estabelece as regras


da interpretação. A exegese interpreta a Bíblia à luz destas regras.
Uma hermenêutica errada conduz a uma exegese errada.
2. Quatro tipos de hermenêutica ruins que atrapalham a interpreta-
ção do AT.
A) Hermenêutica Alegórica – As histórias contadas no Antigo
Testamento devem apontar para realidades celestiais/espirituais. Como
já vimos em outras aulas, a interpretação alegórica das Escrituras se
baseia na suposição de que seu autor, seja Deus ou o homem, pretendia
algo “diferente” do que é literalmente expresso. Ela busca no texto bíblico
um sentido além do literal. A interpretação alegórica transforma elemen-
tos da narrativa bíblica em símbolos que podem ser interpretados das mais
variadas formas. Um exemplo disso é dizer que Davi representa a igreja
e Golias o pecado. Portanto, a história de Davi e Golias é a luta da igreja
contra o pecado. Se ficarmos obcecados por achar alegorias, correremos o
risco de interpretar as Escrituras de maneira errada, dissolvendo o sentido
literal e a historicidade da passagem, até mesmo descobrir algo que não
está lá em primeiro lugar e perder o ponto central da passagem.

B) Hermenêutica Tipológica - Tipologia refere-se à relação de algo


do Antigo Testamento com o Novo Testamento. Assim, quando algo do
Antigo Testamento aponta para algo do Novo Testamento, temos uma

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tipologia. Ex: Moisés e Cristo. Existem diversas tipologias na Bíblia,


porém tipologia não é método hermenêutico. Isto significa que não
podemos encontrar uma relação do Antigo Testamento com o Novo em
tudo o que lemos. Uma tipologia deve ser explicitamente mencionada no
Novo Testamento. Isto é um pouco diferente de uma ilustração. Podemos
ser capazes de traçar paralelos entre a vida de Jesus e a vida dos heróis
do Antigo Testamento, como José ou Daniel, mas o Novo Testamento
nunca liga diretamente os dois. Também vale ressaltar a diferença entre
tipologia e alegoria. Na relação tipológica, ambos os elementos são
considerados acontecimentos ou figuras históricas, reais e concretas, como
Moisés e Cristo; por outro lado, na alegoria, pelo menos um dos elementos
que se combinam é puro signo na expressão do simbolismo religioso. Veja
alguns exemplos de má tipologia: Abel morreu injustamente representan-
do a morte injusta de Jesus ou assim como Davi foi traído pelo seu filho,
Jesus foi traído por Judas.

C) Hermenêutica Liberal - A hermenêutica liberal é reflexo de um


movimento que surgiu por volta do século 18, o iluminismo, que tinha
em seu âmago uma revolta contra o poder da religião institucionalizada e
contra a religião em geral. O liberalismo foi um movimento que sugeria
uma interpretação bíblica estritamente guiada pela luz da razão. Por isso,
tal interpretação negava todos os milagres e profecias, além de contestar a
origem divina da Bíblia e da plena confiabilidade do seu testemunho.

Em essência, é a ideia de que a teologia cristã pode ser


genuinamente cristã sem se basear em autoridade externa. Desde
o século XVIII, pensadores cristãos liberais têm argumentado que
a religião deve ser moderna e progressiva e que o significado do
Cristianismo deve ser interpretado do ponto de vista do
conhecimento e da experiência modernos.Especificamente, a
teologia liberal é definida por sua abertura aos veredictos da
investigação intelectual moderna, especialmente a natureza e as
ciências sociais; seu compromisso com a autoridade da razão e
da experiência individual; sua concepção do Cristianismo como

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um modo de vida ético; seu favorecimento de conceitos morais de


expiação; e seu compromisso de tornar o cristianismo confiável e
socialmente relevante para as pessoas modernas¹

Com isso, a Bíblia passou a ser um livro apenas de moralidade. Mesmo


não encontrando muitos pastores liberais confessos em nossos dias, esse
modo de ler a bíblia ainda é muito comum. Por exemplo, muitos irão dizer
coisas como: “Não importa se a história de Davi e Golias realmente ocorreu, o
importante é aprender a lição de garra e superação de Davi”

D) Hermenêutica subjetiva/pós-moderna - Pós-modernidade é o estado


econômico e cultural, ou condição da sociedade, que se diz existir após
a modernidade. Algumas escolas de pensamento sustentam que a
modernidade terminou no final do século 20 e que foi substituída pela
pós-modernidade, enquanto alguns acreditam que a modernidade
terminou depois da Segunda Guerra Mundial. A pós-modernidade
levantou todos os tipos de questões sobre nossa capacidade de saber e
como sabemos, e se realmente podemos representar a realidade com preci-
são. A possibilidade do conhecimento objetivo universal é considerada por
muitos como impossível. Certeza e verdade são vistas com grande
suspeita. A hermenêutica pós-moderna irá enfatizar que o mais importan-
te na interpretação é o que o leitor entende ou, mais especialmente, como
ele se sente. Por isso, o Antigo Testamento passa a ser lido de maneira
meramente subjetiva, na maioria das vezes para expressar um sentimento
religioso.
O debate pós-moderno levanta uma infinidade de questões que os cristãos
precisam enfrentar. Precisamos nos atentar quanto a isso pois, todas as
culturas consideram muitos aspectos da fé cristã intragáveis, e os cristãos
sempre são tentados a seguir o espírito de sua época. Muitas vezes
enfatizamos a importância da autenticidade, realização pessoal e transpa-
rência - aparentemente sem consciência de que tais ideais podem ser muito
mais culturais do que baseados nas escrituras.

1 DORRIEN, Gary. The Making of American Liberal Theology : Westminster John Knox Press- 2006 pg 10

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E) A Hermenêutica Correta/ Bíblica

a) Método histórico-gramatical-literário-teológico.
b) Histórico – considera o contexto histórico em que foi escrito. O texto f
az parte da história e de uma história. Busca compreender a época,
características geográficas, políticas, sociais e culturais do texto bíblico.
c) Gramatical – Busca compreender o significado das proposições conti-
das no texto em seu contexto original, os elementos gramaticais e suas
implicações para os dias atuais. A comunicação escrita utiliza os símbolos
e regras gramaticais para transmitir uma ideia.
d) Literário – Cada tipo de literatura tem suas próprias características e
regras de interpretação. Assim, poesia deve ser lida como poesia. Prosa
como prosa. Profecia como profecia.
e) Teológico – sendo parte de uma grande história bíblica, os textos do
Antigo Testamento participam desta história. Assim, é preciso encontrar
como aquilo que está sendo lido contribui com a grande história da Bíblia.

Nesta aula procuraremos responder algumas questões hermenêuticas


desafiadoras, como por exemplo, como interpretar o Antigo Testamento
dentro do seu contexto histórico, gramatical e literário? Como relacionar
o Antigo Testamento com Jesus e o Evangelho? Como relacionar o Antigo
Testamento conosco à luz das novidades trazidas pelo Novo Testamento?
Diante desses desafios precisaremos compreender a hermenêutica bíblica
e apostólica, compreender como cada literatura do Antigo Testamen-
to deve ser interpretada e relacionada com o Novo Testamento e nossos
dias e como transmitir o ensino do Antigo Testamento, corretamente
interpretado, para as gerações atuais de maneira bíblica e relevante.

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II. POR QUE PREGAR À PARTIR DO ANTIGO TESTA-


MENTO?
A) O Antigo Testamento é a Palavra de Deus.
Encontramos diversas vezes no Antigo Testamento a afirmação de que as
palavras e ações registradas ali vêm do Deus vivo. Em muitas passagens,
ela declara claramente ser a própria Palavra de Deus. Na verdade, mais de
cinco mil vezes o Antigo Testamento declara: “Deus disse” ou “Assim diz
o Senhor”. A frase, “Assim diz o Senhor”, é extremamente importante.
Tem a mesma conotação da frase: “Assim diz o Rei”. No mundo antigo,
essa frase inicia um édito ou ordem, que um rei faria a seus súditos. O fato
dos profetas do Antigo Testamento usarem essa introdução específica para
suas palavras mostra que eles afirmavam ser os porta-vozes do Senhor.
Como porta-vozes, suas palavras teriam a autoridade absoluta do Senhor
por detrás delas. Eles tinham que ser obedecidos e não podiam ser desa-
fiados. Isso mostra a importância da Bíblia usar essa frase. (Dt 18.18-20;
Jr 1.9; 14.14; 23.16-22; 29.31-32; 37.2; Ez 2.7; 13.1-16; Zc 7.7; 1 Rs 14.18;
16.12,34. 2 Rs 9.36; 14.25;)

“Assim diz o Senhor que faz isto, o Senhor que forma isto, para o
estabelecer; o Senhor é o seu nome.” (Jeremias 33.2)

“A palavra do Senhor veio a mim. Disse ele: “Filho do homem,


profetize contra os profetas de Israel que estão profetizando agora.
Diga àqueles que estão profetizando pela sua própria imaginação:
‘Ouçam a palavra do Senhor! Assim diz o Soberano Senhor: Ai
dos profetas tolos que seguem o seu próprio espírito e não viram
nada!” (Ezequiel 13.1-3)

Assim também o Novo Testamento afirma:

“Temos, assim, tanto mais confirmada a palavra profética, e


fazeis bem em atendê-la, como a uma candeia que brilha em lugar
tenebroso, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em vosso

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coração, sabendo, primeiramente, isto: que nenhuma profecia da


Escritura provém de particular elucidação; porque nunca
jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto,
homens santos falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito
Santo.” (2 Pedro 1.19-21)

“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para


a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de
que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para
toda boa obra.” (2 Timóteo 3.16,17 )

É importante perceber que quando os apóstolo Pedro e Paulo fazem refe-


rências às “Escrituras” eles estão claramente se referindo aos escritos do
Antigo Testamento, pois essa era a única Escritura existente na época. Por
isso, podemos concluir que ambos os versículos afirmam que os escritos
do Antigo Testamento são considerados palavras de Deus, inspiradas pelo
Espírito Santo em forma escrita.

“A lei do Senhor é perfeita, e revigora a alma. Os testemunhos do


Senhor são dignos de confiança, e tornam sábios os inexperientes.
Os preceitos do Senhor são justos, e dão alegria ao coração. Os
mandamentos do Senhor são límpidos, e trazem luz aos olhos.”
(Salmos 19:7-8)

“Não se engane: o Velho Testamento nos ajuda a


entender o caráter e a natureza do Deus Todo-Podero-
so para que possamos saber como nos aproximar dele
com reverência e temor piedoso. Uma geração inteira de
israelitas vagou no deserto porque não obedeceu a
Deus e à Sua Palavra. Cada jota e til da Bíblia - Antigo
Testamento e Novo Testamento - é a Palavra de Deus,
para ser crida e obedecida.” Franklin Graham

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B) O Antigo Testamento é útil para a nossa santidade

“Guardo no coração as tuas palavras, para não pecar contra ti.”


(Salmo 119.11)

““Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste intei-


rado, sabendo de quem o tens aprendido; pois desde a infância sabes
as Sagradas Letras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela
fé que há em Cristo Jesus. Toda a Escritura é inspirada por Deus e
proveitosa para o ensino, para a repreensão, para a correção, para
a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e
perfeitamente habilitado para toda boa obra.” (2 Timóteo 3.14-
17)

Em outras palavras Paulo está dizendo para Timóteo não abandonar o


Antigo Testamento porque ele traz as marcas da santidade de Deus. O
Antigo Testamento é a própria palavra de Deus, totalmente proveitoso e
útil para seu crescimento, amadurecimento, edificação e santificação. Esta
palavra “proveitosa” é usada também em 1 Timóteo 4:8:

“Pois o exercício físico é proveitoso para pouca coisa, mas a piedade


é proveitosa para tudo, visto que tem a promessa da vida presente e
da futura” (1 Timóteo 4.8)

Essa “piedade” que é proveitosa em todos os sentidos, mesmo na eterni-


dade, é explicada aqui em 2 Timóteo 3. 16-17 como vinda das Escrituras.
“O efeito proveitoso” da Escritura, de acordo com o versículo 17, é “que o
homem de Deus seja perfeito, equipado para toda boa obra”. Isso é piedade
e santidade, e a maneira como ela acontece se dá por meio das Escrituras.
A Escritura, tanto o Novo como o Antigo Testamento, nas mãos do
Espírito Santo, tem o poder de nos tornar o tipo de pessoa que pode
discernir e fazer o bem que precisa ser feito.

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C. O Antigo Testamento fala de Jesus

Quando Jesus ressurreto encontra no caminho de Emaús dois discípulos


que estão tentando entender o que aconteceu naqueles dias com o
messias esperado, Ele os repreende dizendo: ‘Ó tolos e lentos de coração
para acreditar em tudo o que os profetas falaram’, e começando com
Moisés e os Profetas e os Salmos. Depois disso, ele começa a explicar todas
as coisas concernentes a Si mesmo. Jesus concluiu que aqueles dois
homens poderiam e deveriam ter conhecido o Antigo Testamento e, portanto,
teriam sido melhor preparados para os eventos que estavam acontecendo
naquela manhã de domingo de Páscoa. Portanto, fazer menos para com os
crentes modernos, que lutam para entender o mistério do Evangelho, seria
negligência de nossa parte. Dizer que agora temos a nova aliança, e que
portanto não precisamos do Velho Testamento, é errado.

Rejeitar o Antigo Testamento como a revelação anterior


e autêntica e autorizada de Deus, significa rejeitar a
própria base da Bíblia para determinar quem é e quem
não é o Messias. Os grandes picos das montanhas são a
promessa em Gênesis 3:15, a promessa a Abraão em
Gênesis 12 e 15, a promessa a Davi em 2 Samuel 7 e a
nova aliança em Jeremias 31 e então repetida em Hebreus
8 e Hebreus 10. Não valorizar o Antigo Testamento faz a
igreja flutuar no ar e não ter raízes. ²

“Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e


são elas mesmas que testificam de mim” (João 5.39)

2 JUNIOR, Walter C. Kaiser. Pregando e Ensinando a partir do Antigo Testamento - Um guia para a igreja. Rio de Janeiro: CPAD, 2009, pg 35

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“Pois se crêsseis em Moisés, creríeis em mim; porque ele escreveu a


meu respeito. Mas, se não credes no que está escrito, como crereis
nas minhas palavras?” (João 5.46-47)

“Ora, estes de Beréia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois


receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras
todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim. Com isso,
muitos deles creram, mulheres gregas de alta posição e não poucos
homens.” (Atos 17.11,12)

D. O Antigo Testamento é a base para entender o Novo Testamento.

O Antigo Testamento influencia substancialmente nosso entendimento


de ensinamentos bíblicos chave. Mas infelizmente muitos evangélicos se
aproximam do Antigo Testamento com uma dependência antibíblica do
Novo Testamento. Visto que o Novo Testamento é uma revelação mais
recente e oferece uma visão mais desenvolvida dos propósitos redentores
de Deus, ele se torna a chave pela qual nós “desbloqueamos” o significado
do que veio antes dele, como se o Antigo Testamento fosse uma mensagem
não-cristã, não havendo nada cristológico ou messiânico a ser conquistado pelo
estudo, muito menos pela leitura, pelo ensinamento e pela pregação do Antigo
Testamento. É claro que não há uma discriminação aberta contra o Antigo
Testamento³, apenas uma falta de envolvimento profundo com ele, não sendo
considerado como revelação significativa e relevante por si só. Normal-
mente as pessoas dão mais atenção ao Novo Testamento pois ele parece
mais claro, conciso e sistemático, contendo as narrativas da vida de Cristo,
e parecendo nos apresentar algumas das descrições mais profundas e con-
vincentes do evangelho. Enquanto o Antigo Testamento, por outro lado, é
mais prolongado e poético, se mostrando enigmático e pouco claro. Porém,
o Antigo Testamento era usado como a autoridade exclusiva da igreja

3 JUNIOR, Walter C. Kaiser. Pregando e Ensinando a partir do Antigo Testamento - Um guia para a igreja. Rio de Janeiro: CPAD, 2009, pg 27

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primitiva. Ou seja, quanto mais você conhece o Antigo Testamento, mais


entenderá o Novo Testamento.

A cosmovisão e os ensinamentos do Novo Testamento são


construídos sobre a estrutura fornecida no Antigo Testamento. No
Novo Testamento, encontramos literalmente centenas de citações,
alusões e ecos do Antigo Testamento, nenhum dos quais vamos
compreender totalmente sem que estejamos saturados pela
Bíblia usada por Jesus.4

O antigo testamento era a bíblia da Igreja Primitiva. Mas uma


nova objeção pode ser ouvida de alguns caluniadores. “Agora que
temos o Novo Testamento, não deveríamos ir ao Novo Testamento
em primeiro lugar, para formar uma compreensão dos
ensinamentos da Bíblia, e depois voltar ao Antigo Testamento?
Essa abordagem é defendida com tanta frequência na igreja hoje
em dia, que deve ser encarada diretamente. Toda essa
abordagem é historicamente, logicamente e biblicamente errada.
Como vimos, os primeiros crentes do Novo Testamento testaram o
que tinham ouvido de Jesus, e dos seus discípulos, comparando com
o que estava escrito no Antigo Testamento. Eles não tinham outro
cânone nem outra fonte de ajuda. Como, então, seriam capazes de
entender? Assim, de um ponto de vista metodológico, ler a Bíblia
na ordem inversa é algo incorreto, tanto historicamente como em
termo do processo. E, além disso, a Igreja Primitiva sabia que o
Antigo Testamento era verdadeiro, portanto, logicamente, eles não
poderiam ter testado o que fora estabelecido (e era verdadeiro) por
eles (possuindo somente o Antigo Testamento), de acordo com o que
era recebido como algo novo (o Novo Testamento). Isso seria uma
inversão da ordem natural, histórica e lógica das coisas”. 5

3 Extraído do site: https://coalizaopeloevangelho.org/article/10-razoes-pelas-quais-o-antigo-testamento-e-importante-para-os-cristaos/


5 JUNIOR, Walter C. Kaiser. Pregando e Ensinando a partir do Antigo Testamento - Um guia para a igreja. Rio de Janeiro: CPAD, 2009, pg 33

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O livro de Romanos, que foi escrito para para um público de gentios que
estavam geograficamente, culturalmente e cronologicamente distantes da
origem do Antigo Testamento, diz:

“Porque tudo o que foi escrito no passado foi escrito para nossa
instrução, para que tenhamos esperança por meio da perseverança e
do ânimo que provêm das Escrituras.” (Romanos 15.4)

Se o Antigo Testamento não fosse importante, como “tudo o que foi


escrito nos dias anteriores” oferece instrução e encorajamento aos crentes
gentios distantes (o que inclui a maioria dos cristãos ao longo da história)?
Quanto mais leio o Antigo Testamento, mais vejo como é indispensável
para promover o encorajamento e a fé de que preciso para ter sucesso em
minha caminhada com Deus.

Pouco do Novo Testamento realmente é novo, cada


conceito principal do Novo Testamento é um
desenvolvimento de um conceito do Antigo. G K Beale

O Antigo Testamento não é uma vela desinflada que precisa do ar do Novo


Testamento para se mover. Claro, há mais revelação além de Malaquias,
e sim, não devemos tentar simplesmente esquecer o Novo Testamento ao
ler os profetas. Mas não vamos usar o que sabemos dos apóstolos para
reinterpretar ou silenciar o que os próprios profetas têm a nos dizer. Uma
das principais razões pela qual temos dificuldades de interpretar o Novo
Testamento é pelo pouco conhecimento que temos do Antigo Testamento.
Mais uma vez, não faça os profetas atacarem os apóstolos. Leia-os para
sua própria esperança messiânica e evangélica forte. Deixe isso definir o
cenário na história da revelação, como também em seu coração, para que
Jesus venha e prove que o Pai está certo, e cumpra gloriosamente todas as
suas grandes e preciosas promessas.

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