AOS LIVROS PROFÉTICOS Esdras Costa Bentho OBJETIVOS • DESCREVER A PROFECIA HEBRAICA
• APRESENTAR UMA SÍNTESE DA TEOLOGIA DOS
PROFÉTICOS JUSTIFICATIVA OS LIVROS PROFÉTICOS ESTÃO REPLETOS DE TEOLOGIA. OFÍCIO PROFÉTICO E SUA INSTITUIÇÃO
O ofício profético organizado em Israel remonta aos
dias do profeta Samuel. Foi ele quem deu origem ao ofício de profeta como uma ordem ou classe organizada. Nesse sentido, ele é “o primeiro dos profetas: “E todos os profetas desde Samuel, todos quantos depois falaram, também anunciaram estes dias” (At 3.24 cf. 13.20; Hb 11.32). As escolas de profetas foram fundadas a partir dos dias de Samuel e não anteriormente. A primeira menção dessa classe organizada é a escola por ele fundada, que ficava em Ramá (1 Sm 19.20). Essas escolas eram centros de vida verbais, metáforas e outros artifícios literários religiosa, onde se buscava a comunhão com Deus mediante No sentido literário, poeta é alguém que exprime suas ideias mediante imagens a oração e meditação. É evidente que estudavam as profecias, inquirindo sobre o tempo de seu cumprimento (1 Pe 1.10-12), além de recordarem os grandes feitos de Deus no passado. Através dessas escolas, cresceu em Israel uma ordem profética reconhecida (2 Rs 2.3,5). PROFETA NORMATIVO
Sabe-se que, mesmo antes da organização dos
profetas como uma ordem, eles remontam aos primórdios bíblicos; Abraão, Moisés e o próprio Samuel, são usados como referências (Dt 18.15; Jz 4.4; 2 Rs 22.14; 1 Sm 3.20). Abraão foi a primeira pessoa a quem a Escritura chama de profeta (Gn 20.7 cf. Sl 105.15). A normatização veio posteriormente através da vida e pessoa de Moisés, que passou a constituir padrão de comparação para todos os profetas futuros (Dt 18.15-19; 34.10). PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
a) - Uma chamada específica e particular de Deus (Êx
3.14.17 cf. Is 6; Jr 1.4-19; Ez 1-3; Os 1.2; Am 7.14,15; Jn 1.1). O profeta aparecia perante os homens na qualidade de um homem que se apresentara diante de Deus (Êx 4.10-16) tal como aconteceu a Moisés. b) - Título de “Homem de Deus” (Dt 33.1 cf. 1 Sm 2.27; 9.6; 1 Rs 13.1): O título (’ish ha’elohim) exprimia o conceito que os homens tinham dos profetas e expressava a estreita associação da respectiva pessoa com Deus; Eliseu recebeu esta designação cerca de vinte e nove vezes. Este título foi dado primariamente a Moisés e continuou sendo empregado até o fim da monarquia. A intenção disso era expressar a diferença de caráter entre o profeta e os demais homens. Isto é deixado perfeitamente claro nas palavras ditas pela mulher sunamita: “Vejo que este...é santo homem de Deus...” (2 Rs 4.9). As Três Classes de Profetas
PROFETAS ORAIS
Os profetas orais são assim designados porque suas atividades
limitavam-se à elocução, sem preocupar-se em registrá-las por meio da escrita. Gade (1 Sm 22.5); Natã (2 Sm 12.1); Ido (2 Cr 9.29); Aías (1 Rs 11.29); Semaías (1 Rs 12.22); Elias (1 Rs 17.1); Azarias (2 Cr 15.1); Eliseu (2 Rs 4.8,9). DA ESCRITA São aqueles que se preocuparam em registrar por escrito suas exortações, admoestações, consolações e previsões futuras. Os profetas da Escrita eram também profetas Orais. Destacamos como profetas da Escrita: Isaías, Jeremias, Ezequiel, Daniel, Os Doze. CÚLTICOS
Os profetas cúlticos são aqueles em que a profecia estava moldada
numa forma litúrgica. O texto de 2 Crônicas 20 pressupõe que os profetas cúlticos estavam ligados ao santuário, trabalhando juntamente com o sacerdote, e estavam incumbidos do aspecto sacrifical da adoração (2 Cr 29.21-24). Jaaziel, era um levita, oficial do culto, dotado de uma capacidade profética (2 Cr 20.14). Percebe- se em alguns Salmos, uma indicação desse mesmo fenômeno (Sl 60.6; 75; 82). FUNÇÕES DOS PROFETAS
As funções dos profetas devem ser entendidas a partir dos
vocábulos bíblicos etimológicos que dão título ao ofício profético. Portanto, devemos definir claramente o significado do vocábulo “profeta”, para entendermos suficientemente a função do mesmo. Antes, porém, precisamos ter em mente, como afirma Baxter, que a profecia, no sentido bíblico, “é o produto e a expressão de uma inspiração direta e especial de Deus” e nem sempre se relaciona com a predição de fatos escatológicos ou futurísticos. 1) - Nabhi’: Procede de certa raiz hebraica cujo significado original é “ferver, borbulhar, líquido em ebulição”. O profeta é alguém que extravasa “palavras, como aqueles que falam com mente fervorosa ou sob inspiração divina, como os profetas e poetas”. Profeta, portanto, quer dizer aquele que ferve com a inspiração ou com a mensagem divina, sugerindo assim o despejar de palavras geradas por animação fervorosa ou por inspiração divina. O termo hebraico foi captado pelo termo grego “prophetês” que significa “falar por”, “representar”, ou ainda, “alguém que fala em lugar de outra pessoa” (Êx 4.16; 7.1). Segundo a etimologia de nabhi’, a função de um profeta é agir como embaixador ou mensageiro divino, anunciando a vontade de Deus para o seu povo, especialmente em época de crise. 2) - Hozeh: O termo significa “visionário”, “vidente” e refere-se àquele que tem visões. O vocábulo indica o que está por trás do pronunciamento inspirado do profeta. O profeta era primitivamente chamado de “hozeh” ou “vidente” (1 Sm 9.9; 2 Sm 24.11; 2 Cr 33.18; 35.15), porque era sobrenaturalmente capacitado a ter visões e a ver aquilo que se encontrava além do conhecimento humano comum (Jr 23.18). A credencial de um profeta verdadeiro de Deus era adentrar no futuro e o revelar (Dt 18.21-22). Essa habilidade autenticava sua mensagem como sendo divina, porquanto somente Deus conhece o futuro. Por intermédio dessa função profética Deus chama a atenção para seu programa futuro em relação a Israel e às nações (Nm 12.6,7; 1 Sm 28.6-15; Jr 23.28). 3) - Título de “Homem de Deus” (Dt 33.1 cf. 1 Sm 2.27; 9.6; 1 Rs 13.1):
O título (’ish ha’elohim) exprimia o conceito que os homens tinham
dos profetas e expressava a estreita associação da respectiva pessoa com Deus; Eliseu recebeu esta designação cerca de vinte e nove vezes. Este título foi dado primariamente a Moisés e continuou sendo empregado até o fim da monarquia. A intenção disso era expressar a diferença de caráter entre o profeta e os demais homens. Isto é deixado perfeitamente claro nas palavras ditas pela mulher sunamita: “Vejo que este...é santo homem de Deus...” (2 Rs 4.9). A Mensagem dos Profetas
a) Os Profetas Anunciavam a Palavra do Senhor (Hb 1.1):
É frequente, nas páginas do Antigo Testamento, a expressão “assim diz o Senhor”, como um recurso emblemático que ratifica a procedência da profecia e o caráter infalível da mesma. Além dessa expressão central, a mensagem dos profetas era acompanhada de atos simbólicos que, tal qual uma imagem esculpida no pálido mármore, era registrada concretamente no coração de pedra da nação judaica. O refrão, ou a fórmula do mensageiro, “assim diz o Senhor”, era atestado de duas formas: 1) - Através de palavras, com autoridade divina (2 Pe 1.21): Várias vezes os profetas punham seus oráculos em forma de parábolas ou alegorias, seguindo o estilo poético de sua época (Is 5.1-7; 2 Sm 12.1-7; Ez 16; 17).
2) - Através de ações concretas ou atos simbólicos: Muitos dos
profetas serviram-se de potentes recursos audiovisuais ao executarem atos simbólicos que encerravam a sua mensagem. Por exemplo:
ISAÍAS: Andou três anos descalço e nu por sinal e prodígio sobre a
Etiópia (Is 20.3).
JEREMIAS: É recomendado a descer à casa do oleiro (Jr 18) a fim de
receber a mensagem de Deus. OSEIAS: É orientado para casar-se com uma mulher prostituta (Os 1.2), para que sua vida fosse uma viva pregação da infidelidade do povo e do amor do Senhor. EZEQUIEL: Cercou uma cidade em miniatura (Ez 4.1-3); escavou através do muro da casa (Ez 21.1). AÍAS: Ao rasgar sua roupa em doze pedaços, e entregar dez a Jeroboão (1 Rs 11.29). Estes atos também chamados de oráculos por ação (atos simbólicos), eram um auxílio visual, associado a eficácia da palavra entre os hebreus. 2 Reis 13.14s., ilustra a relação exata em que o símbolo estava em relação à palavra, e em que ambos estavam em relação aos acontecimentos. A palavra corporificada no símbolo é extremamente eficaz e impossível que deixe de ser cumprida; realizará exatamente aquilo que o símbolo declarava. b) - Os profetas anunciavam mensagens para a sua época: Uma das importantes funções dos profetas era a interpretação dos fatos passados e presentes. Neste sentido. suas profecias podiam referir-se ao passado ou ao presente, assim como ao futuro. No primeiro caso é uma palavra inspirada em antecipação. A mensagem profética, quando não se refere ao futuro, é uma declaração da verdade sobre qualquer assunto, recebida por direta inspiração de Deus.
Especialmente na mensagem dos profetas pré-exílicos, vemos três
temas principais: COMBATE AOS PSEUDOPROFETAS
Eram combatidos aqueles que se preocupavam em agradar ou em ser
popular, dizendo aquilo que o povo gostaria de ouvir (Os 4.5; Is 3.1-3; 9.14s; 28.7s; Jr 5.31; 6.13; 8.10; 23). Jeremias capítulo 23, descreve o falso profeta como: 1. Imoral e que não reprova a imoralidade de outros (23. 10-14). 2. Aquele que prega uma paz artificial fabricada pelos homens (v. 17). 3. Alguém que profetiza sem ter ouvido e visto a palavra do Senhor, isto é, sem ter tomado conselho e ordem da parte de Deus (vs. 18-21). 4. Aquele que se esforça por criar suas próprias profecias (Ez 13.2,3). COMBATE À IDOLATRIA
Os profetas cúlticos (2 Cr 20.14) exortavam os clérigos e os adoradores
contra as influências pagãs no culto a Deus, como também ao culto correto na sua forma, mas destituído de sinceridade: hipócrita e vazio (Is 29.13). Muitas vezes, os profetas usavam expressões austeras para repreender a hipocrisia religiosa, o intenso ritualismo, o completo formalismo e a exacerbada carnalidade cúltica. COMBATE ÀS FALSAS ESPERANÇAS
Especialmente aquelas que os falsos profetas alimentavam com suas
mensagens, as quais, resumidamente, diziam: “paz, paz...” quando na verdade “não há paz” (Jr 6.14; 8.11; 14.13; 23.17). ACERCA DE UM FUTURO LÚGUBRE
Os profetas que atuaram antes do cativeiro costumam ser chamados
profetas do juízo. No reino do Norte, os profeta Amós e Oseias alertavam para o cativeiro assírio que se aproximava. No reino do Sul, todos os profetas e, especialmente, Isaías e Jeremias, pregavam que o povo teria a mesma sorte do reino vizinho, caso não se voltasse para o Senhor. Jeremias 23.33 assevera que alguns clérigos e parte do populacho zombavam de Jeremias por causa de suas palavras sombrias, perguntando-lhe: “Qual é a sentença pesada de Deus para hoje?” Contudo, é muito importante lembrar a razão das severas palavras dos profetas. A razão pela qual os profetas não principiam com uma mensagem de paz, é porque a paz verdadeira, a paz de Deus, vem somente através da santidade, retidão e arrependimento. Essas profecias declaram o juízo divino contra a falta de fé e a iniquidade do povo, mas prometem a restauração depois do período de provação no exílio. ACERCA DE UM FUTURO PROMISSOR
Essa é a tônica dos profetas que atuaram durante e após o Cativeiro. A
esperança para o futuro dizia respeito não apenas ao futuro próximo (volta do cativeiro), mas também a um futuro distante, quando as promessas dadas a Davi terão seu cumprimento, e o reino será restabelecido em glória. Muitas dessas profecias se cumpriram em Cristo e outras ainda estão por se cumprir. ACERCA DA GRAÇA (1 PE 1.10)
Nem sempre discerniram os significados de suas predições. Embora
falassem da graça sobre os gentios, não compreenderam tudo o que estava envolvido na salvação oferecida por Deus, através do sofrimento do “Desejado das Nações”. Profetizaram sobre a riqueza da glória entre os gentios (Cl 1.26,27), mas este mistério esteve oculto dos séculos e das gerações. Foram capazes de investigar acerca da ocasião e em quais circunstâncias oportunas este projeto salvífico seria posto em execução, sem discernirem os significados principais (1 Pe 1.10,11) e a época do cumprimento de seus ditos (Gl 4.4). Os profetas predisseram tanto o sofrimento (Is 53) quanto a glória do Messias (Is 11), sem distinguir que Ele sofreria em sua primeira vinda e seria glorificado na segunda. c) - Os profetas recebiam suas mensagens do Senhor: Os profetas falavam movidos pelo Espírito Santo (2 Pe 1.21). Literalmente, a palavra “movido” significa “carregado” e designa a ação divina no processo da inspiração profética. A mensagem profética jamais foi produzida pela mente ou perspicácia do profeta, pois este falava somente o que o Espírito Santo desejava que falasse. Isto, porém, não anulava a individualidade e personalidade do mesmo, como afirma a teoria do ditado mecânico; antes, porém, privava-o de erros. A forma pela qual recebia a mensagem nem sempre está relatada. Alguns ouviam a voz do Senhor, como por exemplo Oseias e Jeremias, enquanto outros como Amós, Ezequiel e Daniel, tinham visões. Os livros proféticos frequentemente mencionam a atividade de Deus na transmissão da palavra profética, a saber:
“A mão do Senhor estava sobre o profeta” (Is 8.11; Ez 1.3; 3.14).
“O Espírito do Senhor caiu sobre o profeta” (Ez 11.5). “A palavra do Senhor veio sobre o profeta” (Jl 1.1; Jn 1.1; Mq 1.1). “O profeta tomava conselho com o Senhor; não raras vezes, via e ouvia a palavra profética” (Jr 23.18). “Deus falou pelos profetas” (Hb 1.1). “O Espírito de Cristo neles estava” (1 Pe 1.11).