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INTRODUÇÃO À LITERATURA PROFÉTICA

Prof. Roberto do Amaral Silva


Profetas antes do profetismo clássico
• O profeta, após a ascensão de Saul ao trono de Israel, passou a ser uma
espécie de conselheiro do rei. Em algumas ocasiões havia uma relação não
oficial.
• A partir da monarquia, as profecias passaram a ser registradas de forma
espalhada pelos livros históricos.
• Podemos ter como exemplo os oráculos do próprio profeta Samuel,
diluídos nas narrativas do livro que leva seu nome.
• Outro profeta em situação semelhante é Natã, cujos pronunciamentos
recheiam o livro de 2 Samuel.
• O profeta Elias é o exemplo do profeta conselheiro não oficial. Diferente
de Natã, Elias não ficava na corte do rei Acabe, entretanto serviu como
porta-voz de Deus e conselheiro para o rei. A principal característica da
profecia neste tempo era o tom de incentivo ou advertência para o rei.
De acordo com Gusso (2003, p. 92-93),

Em Israel, ao lado de grande número de


profetas profissionais que estavam ligados ao
culto ou a serviço de algum rei, havia os
profetas individuais. Estes eram em pequeno
número, mas, com o passar do tempo, foram
reconhecidos como aqueles que estavam
certos. Eles falavam em nome de Iavé e
estavam comprometidos única e
exclusivamente com ele.
O que é um profeta?
O que é profecia no Antigo
Testamento?

Segundo Archer (2005, p. 222), “Por


definição generalizada, uma profecia é
uma revelação oral ou escrita, em
palavras humanas e através dum porta-
voz humano, transmitindo a revelação
de Deus e esclarecendo aos homens
Sua divina vontade”.
Alguns profetas mencionados no Antigo Testamento

1) Miria (Êxodo 15.20) - A irmã de Moisés. A informação é a


seguinte: “Então Miriã, a profetisa, irmã de Arão, pegou um
tamborim, e as outras mulheres a acompanharam tocando
tamborins e dançando”.
2) Débora (Juízes 4.4) - Profetisa, juíza e poetisa chamada de
Mulher dos Relâmpagos.
3) A esposa do profeta Isaías (Isaías 8.3) - O nome dela não é
conhecido, mas é chamada de profetisa, provavelmente por
exercer a função profética, se assim não era chamada apenas
por ser mulher de um profeta.
4) Hulda (2 Reis 22.14-20) - Profetisa que atuou na mesma
época do profeta Jeremias.
As funções da profecia no Antigo Testamento
Archer (2005, p. 372-373) aponta quatro funções específicas da
profecia hebraica:
1. O profeta tinha a responsabilidade de encorajar o povo de Deus a
confiar exclusivamente na graça de Deus, e no seu poder libertador,
e não nos seus próprios méritos de força, nem no poder dos seus
aliados humanos. [...]
2. O profeta tinha a responsabilidade de lembrar seu povo que a
segurança e a bem-aventurança dependiam da sua fidelidade à
aliança, e que esta aliança não consistia apenas em convicções
doutrinárias, mas também na submissão sincera da sua vontade,
para obedecer de todo o coração a Deus, e viver uma vida piedosa.
[...]
3. O profeta devia encorajar Israel quanto às coisas
futuras. Frequentemente, os esforços em prol de
reavivamento, apoiados por reis piedosos ou pelos
profetas por sua própria iniciativa, só conseguiam
atingir uma porcentagem mínima da população. A
maioria, que controlava a nação, permanecia
endurecida na desobediência. Tal intransigência só
poderia provocar a ira divina, conforme a advertência
de Levítico 26 e Deuteronômio 28, até a nação da
Aliança chegar finalmente a ser expulsa da Terra da
Promessa. [...]
4. A profecia hebraica selava a qualidade autorizada
da mensagem de Deus, quando a profecia se cumpria
de maneira objetivamente averiguável.
Os profetas clássicos se dividem em duas categorias:
• Profetas maiores - suas abordagens dos fatos, foram mais
abrangentes e em textos mais longos: Isaias, Jeremias, Ezequiel e
Daniel.
• Profetas menores - suas abordagens dos fatos ocupam textos
menores: Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum,
Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.

Os profetas menores se dividem em três grupos:


• O tema dos profetas menores tem a ver com o Dia do Senhor ou
com um atributo de Deus, com sua santidade, justiça, grandeza, etc.
• Suas mensagens foram dirigidas ao povo de Israel que naqueles
dias vivia corrompido com as práticas pecaminosas dos ímpios ao seu
redor.
O profetismo clássico
• A profecia clássica se caracteriza pelos oráculos
proféticos escritos e organizados em livros.
• Os livros proféticos da Bíblia são as coleções destes
oráculos ditos pelos profetas a partir do século VIII,
durante a liderança de Jeroboão II, no Reino do Norte,
Israel. Ali, Amós e Oséias foram os primeiros profetas
clássicos.
• No reino do Sul, Judá, Isaías e Miquéias foram os
primeiros profetas a organizarem seus oráculos em livros
e mudar o teor de sua mensagem.
• O profetismo clássico, geralmente, dirigia sua
mensagem ao povo, ao invés de atingir apenas ao rei ou à
corte.
• A mensagem do profeta clássico não era somente
uma advertência ao rei, mas também continha uma
grande parcela de crítica social e religiosa.
• A profecia hebraica se distingue da profecia das
outras nações do Antigo Oriente Médio, pois, no
profetismo pré-clássico não havia diferença na forma
como os oráculos eram recebidos e pronunciados. Mas o
profetismo hebraico do período clássico não encontra
paralelos em outros povos.
• No período clássico, a mensagem profética
encontrada em outras nações era restrita a rituais de
manipulação da divindade, isto é, os escritos proféticos
não hebraicos se preocupavam em acalmar a ira dos
deuses com rituais e sacrifícios.
• A profecia clássica hebraica, no entanto, não era
baseada nos rituais, porque se oponham à ideia de que
Yavé pudesse ser manipulado.
• O fundamento da mensagem do profetismo do
período clássico era a Aliança de Iavé com o povo hebreu
e seu propósito estabelecido na história para a
humanidade. Nenhuma outra divindade tinha uma
teologia semelhante.
• Apenas a mensagem profética hebraica possuía o
conceito escatológico, isto é, Deus realizaria seu plano de
longo prazo na história da humanidade, até o estágio
final.
• Apenas os hebreus tinham uma mensagem profética
carregada, além das críticas sociais e religiosas, de
esperança para o futuro. (Veja Isaías 46:9-11)
Verdadeiro profeta ou falso profeta?
Quando os profetas profetizavam eles o faziam com a
autoridade de Deus — “Assim diz o Senhor". Mas e se alguém dizia
falar em nome de Deus, mas na verdade não falava? Como
distinguir entre um profeta verdadeiro e um falso?
Deuteronômio 13.1-5 e 18.21,22 oferecem ao povo dois testes
para discernir os verdadeiros profetas dos falsos profetas Em
primeiro lugar, a mensagem de um profeta tinha que estar de
acordo com revelações anteriores. Se, por exemplo, um profeta
aconselhava o povo a adorar outros deuses, ele era um falso
profeta, pois a lei de Moisés já havia ordenado a adoração
somente a Deus (Êx 20.3). Deus não iria se contradizer.
Em segundo lugar, as previsões de um profeta
deveriam sempre se cumprir. Se um profeta profetizava
algum sinal ou maravilha e esse sinal ou maravilha não
acontecia, o povo não deveria dar ouvidos a ele.
Deus ordenou a pena de morte para os falsos profetas.
Pode parecer um castigo severo, mas devemos nos
lembrar do incrível dano espiritual que um falso profeta
poderia causar. Se o povo acreditasse nas palavras de um
falso profeta, toda a nação podia sofrer a ira de Deus. O
ofício profético era algo que Deus levava muito a sério.

ARNOLD & BEYER p.342


PROFETAS FALSOS EM ISRAEL

O Antigo Testamento nunca utiliza o termo falso


profeta, tão comum na atualidade. Portanto, devemos
lembrar que estes profetas eram reconhecidos como tais
em suas épocas. Foram profetas que profetizaram
falsamente, pensando em seus próprios interesses e não
em transmitir as verdades de Deus.
1) Zedequias (1 Reis 22.11 e 24) – Atuou contra o profeta
Micaías;
2) Noadias (Neemias 6.14) – Profetisa que, juntamente
com outros profetas, procurou atrapalhar as atividades de
Neemias;
3) Hananias (Jeremias 28) – Desafiou o profeta Jeremias
apresentando profecias falsas diante do povo de Judá;

4) Profetisas e profetas citados em Ezequiel (Ezequiel


13.17-23) – Mulheres descritas como praticantes de magia
(Ezequiel 22.28) Profetas que diziam falar a mensagem de
Deus quando, na verdade, ele não havia falado;

5) Jezabel (Apocalipse 2.20) – Mulher que se intitulava a si


mesma como profetiza e procurava perverter a boa
doutrina entre cristãos do Novo Testamento.

(Os Profetas Maiores, Antônio Renato Gusso, p.18)


Referências bibliográficas

ARCHER Jr. Gleason L. Panorama do Antigo testamento. São Paulo:


Vida Nova, 2012

ARNOLD, Bill T. e BEYER, Bryan E. Descobrindo o Antigo Testamento –


Uma Perspectiva Cristã. São Paulo: Cultura Cristã, 2001

GUSSO, Os Profetas Maiores. Curitiba: A.D. Santos, 2014

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