Profetas antes do profetismo clássico • O profeta, após a ascensão de Saul ao trono de Israel, passou a ser uma espécie de conselheiro do rei. Em algumas ocasiões havia uma relação não oficial. • A partir da monarquia, as profecias passaram a ser registradas de forma espalhada pelos livros históricos. • Podemos ter como exemplo os oráculos do próprio profeta Samuel, diluídos nas narrativas do livro que leva seu nome. • Outro profeta em situação semelhante é Natã, cujos pronunciamentos recheiam o livro de 2 Samuel. • O profeta Elias é o exemplo do profeta conselheiro não oficial. Diferente de Natã, Elias não ficava na corte do rei Acabe, entretanto serviu como porta-voz de Deus e conselheiro para o rei. A principal característica da profecia neste tempo era o tom de incentivo ou advertência para o rei. De acordo com Gusso (2003, p. 92-93),
Em Israel, ao lado de grande número de
profetas profissionais que estavam ligados ao culto ou a serviço de algum rei, havia os profetas individuais. Estes eram em pequeno número, mas, com o passar do tempo, foram reconhecidos como aqueles que estavam certos. Eles falavam em nome de Iavé e estavam comprometidos única e exclusivamente com ele. O que é um profeta? O que é profecia no Antigo Testamento?
Segundo Archer (2005, p. 222), “Por
definição generalizada, uma profecia é uma revelação oral ou escrita, em palavras humanas e através dum porta- voz humano, transmitindo a revelação de Deus e esclarecendo aos homens Sua divina vontade”. Alguns profetas mencionados no Antigo Testamento
1) Miria (Êxodo 15.20) - A irmã de Moisés. A informação é a
seguinte: “Então Miriã, a profetisa, irmã de Arão, pegou um tamborim, e as outras mulheres a acompanharam tocando tamborins e dançando”. 2) Débora (Juízes 4.4) - Profetisa, juíza e poetisa chamada de Mulher dos Relâmpagos. 3) A esposa do profeta Isaías (Isaías 8.3) - O nome dela não é conhecido, mas é chamada de profetisa, provavelmente por exercer a função profética, se assim não era chamada apenas por ser mulher de um profeta. 4) Hulda (2 Reis 22.14-20) - Profetisa que atuou na mesma época do profeta Jeremias. As funções da profecia no Antigo Testamento Archer (2005, p. 372-373) aponta quatro funções específicas da profecia hebraica: 1. O profeta tinha a responsabilidade de encorajar o povo de Deus a confiar exclusivamente na graça de Deus, e no seu poder libertador, e não nos seus próprios méritos de força, nem no poder dos seus aliados humanos. [...] 2. O profeta tinha a responsabilidade de lembrar seu povo que a segurança e a bem-aventurança dependiam da sua fidelidade à aliança, e que esta aliança não consistia apenas em convicções doutrinárias, mas também na submissão sincera da sua vontade, para obedecer de todo o coração a Deus, e viver uma vida piedosa. [...] 3. O profeta devia encorajar Israel quanto às coisas futuras. Frequentemente, os esforços em prol de reavivamento, apoiados por reis piedosos ou pelos profetas por sua própria iniciativa, só conseguiam atingir uma porcentagem mínima da população. A maioria, que controlava a nação, permanecia endurecida na desobediência. Tal intransigência só poderia provocar a ira divina, conforme a advertência de Levítico 26 e Deuteronômio 28, até a nação da Aliança chegar finalmente a ser expulsa da Terra da Promessa. [...] 4. A profecia hebraica selava a qualidade autorizada da mensagem de Deus, quando a profecia se cumpria de maneira objetivamente averiguável. Os profetas clássicos se dividem em duas categorias: • Profetas maiores - suas abordagens dos fatos, foram mais abrangentes e em textos mais longos: Isaias, Jeremias, Ezequiel e Daniel. • Profetas menores - suas abordagens dos fatos ocupam textos menores: Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.
Os profetas menores se dividem em três grupos:
• O tema dos profetas menores tem a ver com o Dia do Senhor ou com um atributo de Deus, com sua santidade, justiça, grandeza, etc. • Suas mensagens foram dirigidas ao povo de Israel que naqueles dias vivia corrompido com as práticas pecaminosas dos ímpios ao seu redor. O profetismo clássico • A profecia clássica se caracteriza pelos oráculos proféticos escritos e organizados em livros. • Os livros proféticos da Bíblia são as coleções destes oráculos ditos pelos profetas a partir do século VIII, durante a liderança de Jeroboão II, no Reino do Norte, Israel. Ali, Amós e Oséias foram os primeiros profetas clássicos. • No reino do Sul, Judá, Isaías e Miquéias foram os primeiros profetas a organizarem seus oráculos em livros e mudar o teor de sua mensagem. • O profetismo clássico, geralmente, dirigia sua mensagem ao povo, ao invés de atingir apenas ao rei ou à corte. • A mensagem do profeta clássico não era somente uma advertência ao rei, mas também continha uma grande parcela de crítica social e religiosa. • A profecia hebraica se distingue da profecia das outras nações do Antigo Oriente Médio, pois, no profetismo pré-clássico não havia diferença na forma como os oráculos eram recebidos e pronunciados. Mas o profetismo hebraico do período clássico não encontra paralelos em outros povos. • No período clássico, a mensagem profética encontrada em outras nações era restrita a rituais de manipulação da divindade, isto é, os escritos proféticos não hebraicos se preocupavam em acalmar a ira dos deuses com rituais e sacrifícios. • A profecia clássica hebraica, no entanto, não era baseada nos rituais, porque se oponham à ideia de que Yavé pudesse ser manipulado. • O fundamento da mensagem do profetismo do período clássico era a Aliança de Iavé com o povo hebreu e seu propósito estabelecido na história para a humanidade. Nenhuma outra divindade tinha uma teologia semelhante. • Apenas a mensagem profética hebraica possuía o conceito escatológico, isto é, Deus realizaria seu plano de longo prazo na história da humanidade, até o estágio final. • Apenas os hebreus tinham uma mensagem profética carregada, além das críticas sociais e religiosas, de esperança para o futuro. (Veja Isaías 46:9-11) Verdadeiro profeta ou falso profeta? Quando os profetas profetizavam eles o faziam com a autoridade de Deus — “Assim diz o Senhor". Mas e se alguém dizia falar em nome de Deus, mas na verdade não falava? Como distinguir entre um profeta verdadeiro e um falso? Deuteronômio 13.1-5 e 18.21,22 oferecem ao povo dois testes para discernir os verdadeiros profetas dos falsos profetas Em primeiro lugar, a mensagem de um profeta tinha que estar de acordo com revelações anteriores. Se, por exemplo, um profeta aconselhava o povo a adorar outros deuses, ele era um falso profeta, pois a lei de Moisés já havia ordenado a adoração somente a Deus (Êx 20.3). Deus não iria se contradizer. Em segundo lugar, as previsões de um profeta deveriam sempre se cumprir. Se um profeta profetizava algum sinal ou maravilha e esse sinal ou maravilha não acontecia, o povo não deveria dar ouvidos a ele. Deus ordenou a pena de morte para os falsos profetas. Pode parecer um castigo severo, mas devemos nos lembrar do incrível dano espiritual que um falso profeta poderia causar. Se o povo acreditasse nas palavras de um falso profeta, toda a nação podia sofrer a ira de Deus. O ofício profético era algo que Deus levava muito a sério.
ARNOLD & BEYER p.342
PROFETAS FALSOS EM ISRAEL
O Antigo Testamento nunca utiliza o termo falso
profeta, tão comum na atualidade. Portanto, devemos lembrar que estes profetas eram reconhecidos como tais em suas épocas. Foram profetas que profetizaram falsamente, pensando em seus próprios interesses e não em transmitir as verdades de Deus. 1) Zedequias (1 Reis 22.11 e 24) – Atuou contra o profeta Micaías; 2) Noadias (Neemias 6.14) – Profetisa que, juntamente com outros profetas, procurou atrapalhar as atividades de Neemias; 3) Hananias (Jeremias 28) – Desafiou o profeta Jeremias apresentando profecias falsas diante do povo de Judá;
4) Profetisas e profetas citados em Ezequiel (Ezequiel
13.17-23) – Mulheres descritas como praticantes de magia (Ezequiel 22.28) Profetas que diziam falar a mensagem de Deus quando, na verdade, ele não havia falado;
5) Jezabel (Apocalipse 2.20) – Mulher que se intitulava a si
mesma como profetiza e procurava perverter a boa doutrina entre cristãos do Novo Testamento.
(Os Profetas Maiores, Antônio Renato Gusso, p.18)
Referências bibliográficas
ARCHER Jr. Gleason L. Panorama do Antigo testamento. São Paulo:
Vida Nova, 2012
ARNOLD, Bill T. e BEYER, Bryan E. Descobrindo o Antigo Testamento –
Uma Perspectiva Cristã. São Paulo: Cultura Cristã, 2001
GUSSO, Os Profetas Maiores. Curitiba: A.D. Santos, 2014