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Introdução a Consciência Profética

Para entender o movimento profético é preciso um olhar tanto sincrônico como


diacrônico da teologia. Sincrônico significa ao mesmo tempo. Diacrônico são
ocorrências que acontecem através do tempo.

Podemos aplicar esses conceitos no estudo teológico, não obstante ser próprio
para o estudo da língua, denotando que: sincronia é estudar os fenômenos da língua
através de um recorte, ou seja, numa determinada fase/época e diacronia é o estudo da
língua que engloba as mudanças ocorridas através do tempo.

Questões fundamentais sobre o Profetismo


O termo profeta não é oriundo de Israel, mas do antigo mundo da Bíblia (Antigo
Oriente Próximo). No entanto, a profecia bíblica tem bases que revelam a verdade do
Deus de Israel. Muitos foram os profetas que atuaram em época e contexto diferentes.
Uns escreveram, outros não. Os que escreveram valeram-se dos mais variados gêneros
literários, dentro dos quais, o símbolo profético. Alguns profetas estavam
comprometidos prioritariamente com uma causa política que lhes trouxesse benefícios
pessoais. Outros falavam somente o que Javé ordenara, independente das
consequências, e tiveram a coragem de confrontar uma monarquia organizada que
priorizava os abastados da sociedade em detrimento dos pobres e injustiçados. Assim, a
profecia bíblica surge como um contraponto ao Estado monárquico e seus
viabilizadores: exército, sacerdote, juízes e latifundiários, todos comprometidos com
uma organização que menosprezava o relacionamento com Deus e com o próximo. Isso
demonstra que o profeta estava comprometido com sua vocação. O compromisso do
verdadeiro profeta estava com a Palavra de Deus e com o Deus da Palavra.
Dt 15:4; Isaias 2, 2-6.
1.1
Consciência Profética
A profecia provê uma espécie de consciência quanto à natureza histórica. A
noção hebreia de história era teísta (crença num Deus pessoal (YAHWEH – YHWH –
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Deus criou e participa da história de toda Criação). Os profetas desempenharam um


papel importante na construção desta consciência. A própria Lei Mosaica foi dada por
inspiração profética, cuja legislação governava toda a sociedade israelita, e serviu-lhe de
guia na história (Êx 2:11 ; Dt 24:19-22 ; Is 45:20-22). A consciência profética da
história teve origem com Moisés. Yahweh enviou Moisés ao Egito na posse de
informações necessárias para interpretar os grandes acontecimentos que haveriam de
Ter lugar. Isaías lança mão desta realidade para falar contra a idolatria. Deus é o autor
da profecia, que prepara o profeta para os acontecimentos da história.

1.2
Consciência Ética e Social da profecia
Antes mesmo da sua chamada Moisés estava preocupado com o bem estar do
seu povo (Êx 2:11-17), e depois , na qualidade de legislador profético, esboçou a
maioria dos códigos humanos e filantrópicos do mundo antigo, preocupado pelos
incapazes (Dt 24:19-22), sendo inimigo do opressor (Lv 19:9).
O exercício dessa consciência ética é solitário, não obstante ser um exercício de
fé partilhada na comunidade. Parafraseando Karl Barth, na verdade, tentando interpretá-
lo no seu discurso sobre o lugar da teologia, observo suas considerações sobre o labor
solitário do pastor, recordando-me da missão e voz isolada do profeta.
“A figura do pastor, particularmente patética em sua solidão, e sua peregrinação como
estranho, sinistramente isolado devido ao nimbo sacerdotal que se lhe acha apegado desde
tempos imemoriais – isolado de todos que compõe sua comunidade urbana ou rural, na qual na
melhor das hipóteses, poderá estar rodeado por um pequeno grupo de pessoas especialmente
engajadas, mas dificilmente encontrará quem o assista em sua tarefa de explicar e aplicar a
mensagem bíblica e, por conseguinte justamente em seu labor teológico – exceção feita a um ou
outro colega que não esteja demasiado distante dele em termos geográficos e espirituais.
Lembremos a relação – singular já no sentido quantitativo, entre aquilo que se deve ser transmitido
às pessoas (na hipótese de que queiram e consigam ouvir) em algumas horas de pregação e
ensino eclesiásticos e aquilo que lhes invade a mente, em corrente ininterrupta (grifo: mídia e pós
modernidade líquida – interesses e prioridades em tempos de salvação líquida). Estes não passam
de sintomas do isolamento do pastor (em detrimento do isolamento dos crentes), da tarefa e do
labor profético. É um isolamento que se evidencia repetidamente, apesar de todos os gestos,
interpretações e esforços em contrário (não obstante a ridícula expressão “reivindicação da igreja
ser grandeza pública”). Esse isolamento precisa ser aturado e suportado, e nem sempre será fácil
tolerá-lo com dignidade e jovialidade”.
Karl Barth – 1886-1968
Filósofo e Teólogo Suíço com formação na Alemanha.
Resumo do Seminário de Inverno na Faculdade de Basiléa.
10ª Preleção: “Solidão” – p.62 - 1961/62.
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1.3
Origem e Fases do Profetismo Bíblico:
 Deus é quem chama e prepara os profetas (Êx 3:1 a 4:17; Is 6 (v.9) ; Jr 14 a
19; Ez 1 a 3; Os 1:2; Am 7:14,15; Jo 1:1). O espírito de Deus inspira os profetas
através de adivinhação, sonhos e visões, comunicação direta mediante voz,
presença divina, revelações como entrando em transe (Nm 11:17, 25 ; Nm
12:6 ; 1 Sm 10:5 ,6 ; 19:20 ; 2 Pe 1:21 ; 2 Rs 3:15; 1 Cr 25:1). Nesse ministério
o profeta tinha confiança (“vai e fala” e “Ouvi a Palavra de Javé”), pois a
palavra que falava não foi imaginada, mas recebida de Deus. Ter recebido a
palavra de Deus é considerado sinal de autenticidade da missão profética
declarada, mas de maneira importante compilada também.
 Abraão foi a primeira pessoa a ser chamada de “profeta” na Bíblia (Gn 20:7).
Líder patriarcal.
 Moisés foi o primeiro profeta nacional de Israel (Dt 18:15-19). Ele tornou-se
uma espécie de modelo dos profetas de todos os tempos. Profeta-legislador.
 No tempo dos juízes, Deus, quando verificava sinceridade no arrependimento e
confissão do povo de Israel, levantava “juizes libertadores”.
 Monarquia: desde Moisés, o profeta era designado como santo homem de Deus
(Dt 33:1 ; 1 Sm 2:27 ; 9:6 ; 1 Rs 13:1).
 Os Sumos Sacerdotes como profetas – esperava-se que eles fossem capazes de
profetizar. Eles usavam Urim e Tumim (Êx 28:30 ; Ne 7:65), entravam em
transe e profetizavam dando luz a vontade de Deus. Urim (`arar - amaldiçoar ou
resposta negativa – e também traduzido como luz - e Tumim –tãmam, “ser
perfeito” ou sim. Jogando Urim e Tumim, o Sumo-Sacerdote estava descobrindo
sim ou não, ou revelando luzes e perfeição de Deus no contexto.
 A Ordem Profética (suas raízes Dt 13:1 ; 17:18; 18:20) . Esta não foi
abandonada à sua própria sorte. Havia toda uma instituição profética. Os
profetas e os sacerdotes eram, ambos, líderes civis e religiosos na cultura dos
hebreus. Isso foi oficializado nas posições ocupadas por Moisés e Arão, e o ideal
foi levado avante durante toda a história subsequente de Israel. Prometido a
Moisés e que culminaria no Messias (Dt 18:9, 15). Em baixa nos tempos de
Josué e de Eli (1 Sm 3:1). Mas, ascendeu com renovação e reformas social (1 Cr
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6:28) e o surgimento da Escola de Profetas nos dias de Samuel (1 Sm 9:22;


19:18-20; 2 Rs 2:2, 5; 4:38 ; 6:1).
 Profetas Estadistas – alguns dos principais profetas da história de Israel
aconselharam, ajudaram ou mesmo se opuseram a reis (Jeremias).
 Com frequência eram perseguidos e foram martirizados (Mt 23:37).
 Jeremias contra os Falsos profetas – tinha a ousadia de se auto-nomearem (Jr
14:14 ; 23:21). Falavam por iniciativa própria, de seu próprio coração, de acordo
com sua imaginação (Jr 23:16 ; Ez 13:3).

 Discernir a profecia: verdadeira ou falsa:

 1º - veracidade- Dt 18,18-22; a verdadeira profecia ninguém adere; o


profeta é uma voz solitária.

 2º - se cumpre; julgam a veracidade a partir da vontade de Deus (Mq


2,11).

 3º - obedece a vontade de Deus (Jr 23, 28-29 ; 28,1-17).

 4º - o profeta não usa a profecia para se dar bem (Mq 3,5 ; Am 7,12-14).

 5º - a vida do profeta está de acordo com aquilo que anuncia (Jr 23,14 ;
Os 3:1-4 – não põe resistência, não obstante o exemplo de Jonas.

 6º - aceitam a missão contra a própria vontade (Jr 1, 4-10; 20,7-18).

 7º - estarem dispostos a pagar o preço daquilo que anunciam (o sucesso


de Cristo foi ter ido até a cruz).

 8º - antes de transmitir ele assimila e vive:

 Moisés não entrou na terra; no caso de Moisés a condição SINE QUA


NON é obedecer e não entrar, que no caso, é a condição para entrar (Dt
3:20-28).

 Postura do Profeta:
1ª – A fé na revelação divina.
2ª – O que Deus revelou foi inspirado.
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Ainda, na pretensão de alcançar a intuição de Karl Barth sobre a


responsabilidade que temos diante do papel da teologia no ministério profético e na
missão da igreja, destaca-se:

A TEOLOGIA (consequentemente o ministério profético) É MOVIDA


PRIMORDIALMENTE PELA FÉ
 É o evento que leva o indivíduo a desenvolver o espírito admirado, abalado
(impactado) e comprometido, afim de levá-lo a viver, pesquisar, pensar e falar
como teólogo. Isto posto, como um ser libertado, comprometido e convocado.
 A fé teológica dos eventos antigos, proclamada pelos profetas de forma
inexplicável, mas também descritiva (pesquisada, estudada).
 A fé maltratada pelo protestantismo: idealismos pessoais, suposições, postulados
como verdades inquestionáveis.
o Ninguém pode limitar-se a conjecturar, presumir e postular o objeto da teologia
em nome de uma fé medida – isso nem pode se chamar de fé;
o Não se pode defender a fé baseada na experiência dos outros: o
conhecimento; o experimento; a visão; os objetos de adornos ( a fé daquele que
teve uma experiência e disse que depois de 20, agora sim nasceu, ou passou a
servir verdadeiramente a Deus só depois de tal evento.
o Viver a partir da ideologia, ou experiência dos outros não é teologia, nem
inspiração baseada na fé na Palavra de Deus.
 Não a fé da presunção – dizer que esta é uma revelação direta de JESUS; viver a
glória dele;
o A fé cristã acontece no encontro, na comunhão do crente com aquele em
Quem se crê e com o próximo (1 Jo 4:20)
o Mas não com o objeto da sua fé, ou seja, crer mais nos milagres do que no
Deus dos milagres; a fé é SINE QUA NON a partir do Seu provedor e não das
providências; “ pois, Deus não depende da nossa fé para Ser Deus”.
 Fé em Deus Pa,i Filho e Espírito Santo X fé na Igreja e nas
vitórias.
 A fé da obediência – crê de forma irrestrita na Palavra de Deus: a fé da confissão;
da conversão; a união entre o emocional e o evento intelectual: a crença
inexplicável, e o recebimento de um conteúdo concreto, com seus contornos
definidos a respeito de Deus – do ser humano – da aliança entre Deus e o homem
– e a respeito de Jesus. “ para se tornar teólogo é preciso crer”.
o Naturalmente assim como: o botão da flor que desabrocha, o sol que se põe; a
criança que sorrir; e a fé pela graça salvadora que liberta.
 A fé na história – não podemos passar por cima do nascimento de Jesus de uma
virgem; ressurreição; do credo Trinitariano de Nícéa, ou do dogma Cristológico de
Calcedônia, mas só isso não é fé: a fé é em “quem” e não no “que”. Crendo Nele e
nesses predicados da fé, teremos a possibilidade de vivermos nossos próprios
eventos de fé.
 A fé que move o querer continuar crescendo no conhecimento, e viver as
possibilidades dessa fé na existência.
 A fé permanentemente no nível da humildade – poderá alguém que presenciou a
ação poderosa do Espírito; que se permite adicionar ferramentas da ciência do
conhecimento, e enfim, viver os eventos próprios da fé, mas, não perder a
declaração humilde que ainda e sempre terá a fé no nível do grão de mostarda –
declarando: “minha fé é pequena” – ou – “falta-me a fé”.

Karl Barth – 1886-1968


Filósofo e Teólogo Suíço com formação na Alemanha.
Resumo do Seminário de Inverno na Faculdade de Basiléa.
9ª Preleção: “A Fé” – p.63 a 68 - 1961/62.
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Moisés tem sua narrativa em 3 partes de 40 anos:


 40 – foge;
 80 – volta;
 120 – morre contemplando Canaã.
 Moisés é o astro do Pentateuco.
 Gênesis é preparação deste personagem.
 O povo elege Moisés como intermediário – Mediador.

Por que Moisés não entrou na Terra Prometida. – Dt 3,23-29

 Porque foi chamado por Deus para trazer o povo até o Sinai.

 Congregar o povo.

 Entrar na Canaã foi missão de Josué, via Efraim antecedente de


Josué.

o Josué centraliza o Poder.

 Samuel volta a centralizar o poder em 1040.

Deus diz para esperar o profeta - Dt 18,15-22.

 Profetismo Clássico: 931 a 333.

o 750 a 400 ou 350.

o 722 – Reino do Norte. Imigração? E cativeiro.

o 586 – Reino do Sul. Judá prevalece, mas cai diante da Babilônia.

o 450 –Esdras em Judá – judaísmo – Torá. Ele, judeu da diáspora.

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