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Profetas de Israel
Comunais, Acratas e Anticlericais

CAPITULO III

ANTECEDENTES E COMEÇOS

A profecia hebraica é o elemento supremo naquilo que diferenciava a religião


israelita das outras religiões contemporaneas, e lhe deu a capacidade de
sobrevivência que aquelas não possuíam. A profecia está, também, no coração
da fé cristã, pois o que quer que se possa dizer de Jesus, além disso ele foi
antes de tudo um profeta, +o profeta de Nazaré da Galiléia» (1).

Que é profecia? A pergunta não pode ser respondida simplesmente em termos


de causa e efeito, de antecedentes e de ambiente; embora a profecia, quando
alcançou seu apogeu, retivesse traços que a ligavam com seus antecedentes,
que eram algo menos do que profecia. Mas Amós, Oséias, Isaías e Jeremias
não podem ser adequadamente explicados em termos de desenvolvimento a
partir desses antecedentes. Algo de nôvo veio à luz em tais homens, a
manifestacão de poder espiritual que os trouxe a um plano inteiramente
diferente de experiência e profundo conhecimento religioso, e que lhes deu uma
importância singular.

É a esses homens que devemos recorrer, se desejarmos saber o que é profecia,


as tradições e escritos em que a mente e o espírito deles foram conservados, e
à história do povo cuja vida e pensamento e fé eles moldaram. Eles eram, como
já vimos, não simples preditores, embora expressassem ocasionalmente sua
certeza moral a respeito do que Deus estava para fazer. Não eram filósofos
morais, pois não tinham nenhum esquema sistematizado do mundo, e sua
apreensão da realidade era intuitiva antes que racional. Podiam ser chamados
pregadores, mas não pregadores +como os escribas»

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que eram expositores de uma revelação recebida por tradição; eles mesmos
eram instrumentos de uma auto-revelação divina. Eram místicos (no melhor
sentido) mas também homens de ação e do mundo; moralistas tanto quanto
poetas; reformadores sociais radicais porque (de nôvo, no melhor sentido) eram
conservadores religiosos; notavelmente individualistas, mas representantes de
seu povo e identificados com ele. Eram porta-vozes de Deus à sua nação, e aos
homens de tôdas as épocas que queriam ouvir suas palavras. De fato, eram os

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servos e enviados de Deus vivo, instrumento de seu propósito criador no reino


do espírito. Muitos se contentarão em descrevê-los como homens de gênio e
espiritualidade incomum. Mas eles mesmos insistiam em que eram homens
sôbre quem Javé lançara mão e a +quem ele falara ao ouvido».

Mas, por tôda sua singularidade de caráter e importância, a profecia hebraica


debaixo das condições concretas da vida e desenvolvimento humanos tinha
suas conexões reais com um presente religioso e com um passado religioso
também. Deus não a criou do nada. A profecia era a resposta de algo que havia
no coração da religião israelita, ao insistente pedido da humanidade de uma
declaração divina. Mas na tradição hebraica tinha havido, e havia ainda, outros
modos de obter uma resposta divina, modos que eram comuns a muitas
religiões daquele tempo até nossos dias. Cria-se que os deuses falavam por
intermédio dos sacerdotes ou do rei-sacerdote, os áugures ou os +homens de
Deus», os astrólogos ou os necromantes. Tais modos de consultar a vontade
divina encontravam-se também nas etapas primitivas e nos permanentes níveis
inferiores da religião israelita.

Adivinhos e Videntes Sacerdotais

A lei de Deuteronômio 18.10ss (2), contrasta a profecia como única maneira


legítima de conhecer a vontade divina, com os métodos dos pagãos. A distinção
significativa é que estes eram modos de satisfazer a curiosidade humana,
invadindo o mundo dos espíritos e tentando exercer coerção sôbre ele,
enquanto um profeta é, +como Moisés», aquele que fala quando mandado, não
pelo homem, mas por Javé. óbviamente, tal lei pertence a um período em que a
profecia já atingira sua plena estatura e o fato de que era necessária indica que
as velhas superstições ainda persistiam. A história da visita clandestina de Saul
à necromante de Endor (3) mostra que tais práticas simplesmente passaram
para a clandestinidade quando sôbre elas incidiu a proscrição oficial.

Os três métodos +oficiais» experimentados sem êxito por Saul foram sonhos
Urim e profetas. Os profetas referidos eram de um tipo muito mais primitivo do
que Amós e Isaías trezentos anos mais tarde, e, juntamente com os outros
métodos mencionados, parece terem estado diretamente associados com os
vários templos locais. Não é por mero acaso que a palavra hebraica
+sacerdote», Kohen, tem como seu correspondente, em árabe, a palavra que
significa +adivinho». O sacerdote é o +homem de Deus» original. Em Jz 18.1-6,
os danitas em migração consultam um sacerdote local, precisamente como Saul
e seu servo vão a Samuel, o vidente, para perguntar-lhe o caminho, em I Sm
9.8-10. A resposta a uma pergunta feita ao sacerdote era obtida pelo uso de um
éfode, que parece ter sido uma bolsa da qual eram lançadas as sortes sagradas,
Urim e Tumim. (As regulamentações sacerdotais tardias de Êx 28 prescrevem
um éfode de pano, para ser usado pelo sumo-sacerdote debaixo do +peitoral do
juizo», contendo o Urim e o Tumim).

Embora não haja evidência de que os primitivos profetas fizessem uso desses

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instrumentos sacerdotais de adivinhação, deve-se lembrar quão intimamente os


profetas primitivos eram associados com o sacerdócio. No Pentateuco, Moisés é
não só apresentado como profeta, recebendo e pronunciando a palavra de Javé,
mas como levita (sacerdotal) de nascimento, enquanto Aarão, o sacerdote,
recebe junto com Moisés a palavra de Javé (4). Samuel, o primeiro personagem
da história de após-Conquista a ser chamado profeta, tinha ministrado no tempo
de Silo como assistente de Eli (5). Elias, o profeta, construiu um altar no Monte
Carmelo, no curso de sua disputa com os profetas de Baal e ofereceu sacrifício
(6). Posteriormente, Jeremias é apresentado como +um dos sacerdotes que
estavam em Anatote», e Ezequiel como +o sacerdote» (7).

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A distinção eventual da função dos profetas da dos sacerdotes parece ter


surgido como segue. À medida que o culto do templo se tornou mais elaborado,
a obra de seus ministros se tornou, conseqüentemente especializada, e alguns
dentre eles, que eram, especialmente bem dotados ou sucedidos no
pronunciamento de oráculos, assumiram essa função mais exclusivamente. Pois
a resposta das sortes sagradas podia ser apenas sim ou não (ou nenhuma
resposta); elaboracão mais longa (8) exigia alguém que pudesse +falar por
Javé» (9), como seu confidente e capaz de interpretar sua vontade. Êste é o
sentido da visão de Samuel (ou, falando estritamente, +audição»); Samuel ouve
o que Javé está para fazer; ele +estava confirmado como profeta de Javé... pois
Javé revelava-se a Samuel em Silo pela palavra de Javé». Deveríamos notar
que o profeta recebe aqui sua revelação inaugural num templo, como aconteceu
muito mais tarde no caso de Isaías (11). No caso dos grandes profetas, tal
conexão com o culto era excepcional; mas, de Jeremias 26.8, 11, 16, é claro
que grupos de +profetas oficiais» continuaram associados com o sacerdócio do
templo até o VII século.

Os sonhos eram, também, modos de revelação no santuário. O famoso sonho


de Jacó com uma escada cujo topo atingia o céu veio-lhe num lugar +santo»,
onde ele havia pousado inadvertidamente, que se afirmava mais tarde ser o
mesmo local do templo de Betel. O sonho igualmente famoso de Salomão em
que Javé lhe apareceu e prometeu o dom da sabedoria, veio-lhe no +alto
maior», em Gibeom, aonde tinha ido para oferecer sacrifício (12). Era costume
dormir num templo ou lugar santo, na expectativa de tal manifestação da
divindade; essa pode ser a explicação de Amós 2.8: «e se deitam ao pé de
qualquer altar». Pode-se ver como aqueles que tinham reputação de bons
sonhadores seriam muito procurados como intérpretes do divino. Em
Deuteronômio 13.1, +sonhador» é quase outro nome para profeta, e Jeremias
23.32 fala dos +que profetizam sonhos misteriosos».

O título dado a tais homens, no período primitivo, era +vidente». O primeiro a


receber esse nome é o próprio Samuel, no documento mais antigo, em que ele é
tratado não como líder nacional, mas como sacerdote local clarividente,

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que por uma pequena taxa ajudaria a encontrar os animais perdidos (13). Dois
pontos da narrativa podem ser especialmente notados: Javé +descobre o
ouvido» de Samuel, isto é, manifesta-se-lhe por audição antes que (ou, tanto
como) por visão; e Samuel promete a Saul uma mensagem +pela manhã», isto
é, depois que tivesse havido oportunidade para nova revelação onírica no
decurso da noite.

As visões do vidente não lhe vinham apenas em sonhos durante o sono, mas
também na +visão interior» do transe extático. Um exemplo clássico desse
estado é a descrição que Balaão faz de si mesmo em Números 24.3, 4, 15-17:
+O homem de olhos abertos; que ouve os ditos de Deus, tem a visão do Todo-
poderoso e prostra-se, porém de olhos abertos». Esse estado mental anormal
era atribuído à possessão pela divindade e podia ser induzido de propósito pelo
jejum, pela música ou pelo uso de intoxicantes (14). Talvez a distinção entre o
sonhador e o extático explique as duas diferentes palavras traduzidas +vidente»:
«ro'eh», usada a respeito de Samuel e (aparentemente) de Zadoque, o
sacerdote; e +hozeh», usada a respeito do +profeta Gade, vidente de Davi», e
(pejorativamente) a respeito de Amós (15).

A palavra +nabi», traduzida +profeta», significa, no Velho Testamento, +orador»


ou +porta-voz» (16); uma ilustracão excelente de seu uso exato pode ser
encontrada na Bíblia em português, comparando Êx 4.15, 16 com Êx 7.1. Em I
Sm 9.9, uma nota editorial explica que +ao profeta de hoje, antigamente se
chamava vidente»; isto é, as funções dos videntes foram assumidas pelos
profetas. A distincão original parece ter sido que o vidente obtinha seu
conhecimento sobrenatural pela habilidade na interpretação de sinais e
presságios, ou por sonhos ou êxtases; enquanto o profeta falava diretamente
em razão de uma consciência extática imediata de possessão divina. Mas há
também uma distinção feita entre um nível mais alto e mais baixo entre os
+profetas» (distinção que o tempo iria acentuar), entre aqueles que estavam na
linha de Moisés e os que estavam mais perto dos antigos videntes e extáticos.
Em Números 12.6-8, Javé diz a Aarão e Míriam; +Se entre vós há profeta, eu,
Javé, em visão a ele me faço conhecer ou falo com ele em

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Sonhos. Não é assim com o meu servo Moisés... boca a boca falo com ele,
claramente, e não por enigmas

Profetas Extáticos

A descrição do estado em que Balaão caía quando pronunciava um oráculo


divino, +e prostra-se, porém de olhos abertos», tem um interessante paralelo no
relato feito por um viajante egípcio chamado Wen Amon de uma experiência que
teve, cêrca de 1100 a. C., em Biblos, na Síria. +Quando o rei da cidade estava
oferecendo sacrifícios aos seus deuses, um de seus nobres pajens foi possuído
pelo deus e caiu no chão em convulsões; e gritava: Trazei aqui o deus. Tramei o

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mensageiro de Amon que entrou a ele» (17). Essa história, por sua vez,
relembra o comportamento de Saul, quando +o mesmo espírito de Deus veio
sôbre ele, que, caminhando, profetizava... também ele despiu a sua túnica e
profetizou diante de Samuel, e sem ela estêve deitado em terra todo aquele dia
e tôda aquela noite» (18). Muitas espécies de comportamento anormal eram
atribuídas pelos hebreus, como por outros povos, à possessão de espíritos,
especialmente o frenesi religioso que poduzia temporariamente atitudes
selvagens e gritos de loucura.

A experiência de Saul não foi individual mas contágio recebido, ao deparar ele
um grupo desses +profetas», dervixes, cujo +profetizar» não era em linguagem
inteligível, assemelhando-se antes ao +falar em línguas» de Atos dos Apóstolos
(19).

São Paulo reconhecia que esse produto de excitação religiosa e sugestão


coletiva é um desvio e não estrada real da profecia (20) e, é claro, também da
história do movimento profético no Velho Testamento. O fenômeno persiste em
algumas modernas seitas cristãs e muçulmanas, e um relato muito interessante
aparece nos +Tales of Travel» de Curzon, a respeito da experiência do autor
com uma seita de dervixes, da Tunísia, e cujo comportamento lhe lembrou a
história dos profetas de Baal no Monte Carmelo (21). O repetido grito litúrgico e
a dança saltitante, em tôrno do altar de Baal,

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eram característicos dessa forma orgiástica de religião, que os israelitas


encontraram em Canaã. Sua origem última é situada na Trácia, de onde se
espalhou para a Grécia como culto de Dionísio, e também para a Ásia Menor,
Síria e Canaã (22).

A forma peculiar que esse excitamento religioso coletivo tomava na religião


israelita era a formação de bandos de consagrados conhecidos como +filhos
dos profetas». Quando um desses grupos aparece pela primeira vez, em Sm
10.5, é chamado um +rancho» ou +bando de profetas»; isso pode significar
(pitorescamente) que eles estavam marchando em coluna por um, ou (mais
provavelmente) que eles eram um grupo +juramentado». A analogia com outros
grupos de consagrados de Javé, tais como os recabitas, e a associação
imediata de Saul com esses +filhos dos profetas», depois de ter sido escolhido
para libertar Israel, sugerem que eles eram um movimento religioso-patriótico,
fazendo uso da técnica de dervixe no serviço militante de Javé. A referência aqui
a instrumentos musicais indica que eles procuravam despertar o fervor guerreiro
em si mesmos e nos outros, um pouco segundo a maneira de uma banda militar.
Vemos também que eles estavam saindo de um lugar alto ou santuário, sob a
influência do espírito, +profetizando» ou gritando em frenesi. Quando Saul
pegou o contágio, +Deus lhe mudou o coração»; isto é, ele participou do delírio
(visto que no uso hebraico o coracão é a sede da inteligência e da vontade
antes que das emoções). Como os outros, Saul +profetiza» -- mas o verbo não
tem objeto. Esses +filhos dos profetas» não pronunciavam oráculos inteligíveis;

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simplesmente +profetizavam», como os cristãos coríntios, que São Paulo


advertia de que seria melhor falar cinco palavras com entendimento do que dez
mil em outra língua (23). Que semelhante apreciação do valor desse frenesi
religioso se fazia, mesmo no tempo de Saul pelos membros mais críticos da
comunidade, torna-se evidente do provérbio que se tornou corrente a respeito
do comportamento do próprio Saul (24).

Há um silêncio de duzentos anos, antes que esses +filhos dos profetas» sejam
mencionados de nôvo em nossos re-

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gistros. Por esse tempo, parece que as guildas proféticas se tinham tornado
comunidades monásticas estabelecidas, vivendo da mendicância, ou de
gratificações por serviços prestados, ou da munificência real. Eles construíam os
edifícios para a comunidade, partilhavam de uma mesa comum (embora alguns
fôssem casados), e estavam sob a +regra» de um que eles chamavam
+mestre», como Elias ou Eliseu (25). Suas atividades eram exercidas em grande
parte entre a massa do povo ignorante e supersticioso, que lhes atribuía poder
para fazer descer fogo do céu, para desaparecer de repente, para purificar
fontes d'águas envenadas, para maldizer seus desafetos, multiplicar o alimento,
fazer reviverem mortos, curar lepra e fazer ferro flutuar (26). Esses feitos
particulares são, na verdade, atribuídos ao próprio Eliseu, mas os poderes do
mestre podiam comunicar-se aos seus seguidores (27), e as histórias refletem a
idéia que o povo tinha do tipo de homens que os +filhos dos profetas» eram.

Finalmente, essas guildas proféticas devem ser reconhecidas nos grandes


grupos de profetas que aparecem agindo concertadamente, em vários pontos da
história dos dois reinos (28): os cem profetas de Javé escondidos da fúria de
Jezabel por Obadias, os oitocentos profetas de Baal e de Aserá que comiam à
mesa de Jezabel, os quatrocentos profetas a quem Acabe apelou na véspera da
batalha e os grupos de profetas associados com os sacerdotes por ocasião da
celebração do pacto por Josias e, mais tarde, na acusação contra Jeremias (29).
Em regra, eles falavam à uma voz. Mas homens excepcionais entre eles, (além
do +mestre») agiam independentemente, e eram estes e não os +loucos do
espírito» que estavam na linha de Moisés, e foram os antepassados dos
grandes profetas do período clássico.

A diferença estava no caráter moral e na penetração espiritual, como se torna


evidente na história de Micaías (30), e ainda mais claro na distinção que os
profetas clássicos estabeleciam entre eles mesmos e aqueles que profetizavam
apenas para ganhar a vida. Quando Amazias, o sacerdote, zomba de Amós
como sendo ele um vidente que profetizava a fim de +comer pão», Amós nega
que tenha qualquer liga-

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ção com os profissionais: +Eu não sou profeta (convencional), nem membro de

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uma guilda profética; mas o Senhor me disse: Vai, e profetiza». Miquéias


declara que os +profetas adivinham por dinheiro»; eles +clamam: Paz! quando
têm o que mastigar (isto é, profetizam prosperidade quando sua bôca está
cheia), mas apregoam guerra santa contra aqueles que nada lhes metem na
bôca». Isaías conhece demasiado bem +o profeta que ensina mentiras» e
Jeremias sofre a oposição dos profetas de prosperidade dos quais Javé diz: +Os
profetas profetizam mentiras em seu nome, nunca os enviei nem lhes dei ordem,
nem lhes falei; visão falsa, adivinhação, vaidade e o engano do seu íntimo é o
que eles profetizam».

Nazireus e Recabitas

Os nazireus e recabitas devem ser considerados aqui porque, embora não


fôssem profetas em qualquer sentido, o javismo puritano pelo qual se batiam
dava-lhes uma afinidade especial com a principal tradição profética. Mantinham
uma constante defesa da conexão de Israel com seu passado nômade, e um
permanente protesto contra a religião e cultura de Canaã. Os nazireus eram
indivíduos que tomavam votos de um tipo especial; os recabitas podiam ser
chamados +uma família de nazireus», pois eram um clã que, por razões
religiosas, preservava costumes nômades como estrita tradição de família.

O significado da palavra +nazireu» é sugerido por sua derivação de +neser»,


uma vinha selvagem inculta -- no seu estado natural, como Deus a fêz. Como a
vinha silvestre não era podada, também o nazireu não cortava o cabelo. Nem
bebia vinho ou bebida forte, que o artifício do homem tinha corrompido pela
fermentação para os seus próprios fins. Tinha um escrúpulo particular em evitar
contacto com cadáveres, ou com qualquer outra coisa que o tornasse
ritualmente impuro. Em harmonia com este apêgo ao natural e primitivo, por
parte do nazireu, estavam sua rejeição da cultura canaanita e seu cultivo das
tradições do passado nômade de Israel. Como já disse, o princípio parece ter
sido: +Quanto mais longe da civilização, mais perto de Deus».

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O papel desempenhado por estes devotos, como precursores dos profetas na


grande luta para preservar os princípios e valôres peculiares do javismo, em
meio dos perigos e seduções da vida canaanita, é bastante claro. Tanto Sansão,
o herói leigo típico da luta contra os filisteus, como Samuel, o líder profético e
sacerdotal, na mesma luta, eram nazireus (32). Amós 2.11, 12 liga os nazireus
aos protestos antigos, como testemunhas da fé que estava sendo tão facilmente
esquecida sob a pressão do estilo de vida canaanita: «Dentre os vossos filhos
suscitei profetas, e dentre os vossos jovens, nazireus... mas vós aos nazireus
destes a beber vinho e aos profetas ordenastes, dizendo: Não profetizeis».
Depois que essa luta ficara distante no passado, a lei sacerdotal de Números 6
ainda regula, em detalhe, o voto de consagração do nazireu; ele tinha-se
tornado uma forma de autodedicação para um propósito especial e por um
período limitado, antes que uma dedicação vitalícia ao serviço da comunidade

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religiosa.

Os recabitas, de acôrdo com I Cr 2.55, eram um clã quenita; esse é um fato que
deve ser relacionado com as associações especiais dos quenitas com as
origens mosaicas do javismo (33). Aparecem, pela primeira vez, como um grupo
de protesto e reacão, no nono século a.D., no decorrer da contra-revolução de
Jeú em nome da +religião dos velhos tempos». Jeú, deve-se lembrar, saudou
Jonadabe ben Reca, bem como um companheiro zelote. No tempo de Jeremias,
dois séculos mais tarde, seus descendentes se referiam com orgulho a esse
mesmo Jonadabe, e proclamavam, como estrita regra de sua família, a rejeição
dos hábitos da civilização agrária e urbana, com a qual estava associado o culto
de Baal: +Mas eles disseram: Não beberemos vinho; porque Jonadabe, filho de
Recabe, nosso pai, nos ordenou: nunca jamais bebereis vinho, nem vossos
filhos; não edificareis casa, não fareis sementeiras, não plantareis nem
possuireis vinha alguma; mas habitareis em tendas todos os vossos dias» (34).
Os recabitas, como família, eram dedicados ao ideal nômade de vida e religião.
É provável que o fundador, Jonadabe, junto com Elias e Eliseu, tivesse tomado
parte ativa na agitação popular de que resultaram os massacres realizados por
Jeú. Quando o profeta Miquéias troveja contra

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a vida citadina de seus dias: +Edificais a Sião com sangue e a Jerusalém com
perversidade», e quando Oséias prediz que Javé fará de nôvo em tendas Israel
habitar (35), vemos a afinidade deles com o espírito dos benê Recabe.

Profetas, Protagonistas da História

Os últimos profetas chamavam, de nôvo, Israel para o deus da época histórica


que o havia feito um povo, com uma tradicão religiosa e cultural peculiar. Eles se
diziam os portadores da tocha que Moisés acendera nas chamas do Sinai, e que
passara, de mão em mão, pelos líderes proféticos e protagonistas da história,
através das gerações. Moisés, o gênio criador dos começos, foi chamado
profeta pelos homens posteriores da linhagem profética (36). Débora, a
+profetisa», tocou o rebate quando a federação tribal corria, nos primeiros
tempos em Canaã, um perigo mortal. Gideão, o libertador da invasão medianita -
- embora não denominado um +profeta» em nossas fontes -- viu (o anjo de)
Javé face a face e, assim, recebeu a ordem de libertar a Israel. Como outros
+juizes» de Israel, tais como Jefté e Sansão, Gideão recebeu poder do espírito
de Javé (38). Samuel, o último dos +juizes», foi da vanguarda da linha profética
que ajudou a criar a tradição nacional. Essa linha incluiu a Gade, nos dias de
Davi, Aías, no tempo de Jeroboão, e culminou no reinado de Acabe, com Elias,
que forjou, a golpes de malho, na bigorna da história, um Israel renovado.

Seguindo nesta tradição nacional, os grandes profetas tornaram conhecida a


vontade de Javé, como a encontravam nas profundezas de sua própria vida
interior e estampada na face da História. Mas fizeram mais. Sentiram que sua

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tarefa era tanto fazer quanto interpretar a História, pois criam-se instrumentos do
Criador e Senhor da História, em cujos desígnios Israel tinha um lugar particular.
Porque estavam moralmente certos da vontade de Javé, enfrentaram
ousadamente o poder dos reis, os anátemas dos sacerdotes e a fúria das
turbas. Mais particularmente, destacaram-se da massa de profetas profissionais
que procuravam garantir prosperidade e vitória, anunciando-as em nome de
Javé dizendo: +Paz, paz, quando não há paz» (39). Os profetas
+insurgentes» (40)

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tinham algo que não podia ser comprado. Formavam uma sucessão solitária de
homens incorruptíveis, chamados hereges e traidores por seus
contemporâneos. Corriam constante perigo de vida, e alguns deles não
escaparam (41). Jesus sabia o que esperar, quando relembrava a reputação de
Jerusalém, +que matas os profetas, e apedrejas os que te foram enviados» (Mt
23.37).

A Emergência da Profecia Ética

Já no tempo de Saul e Davi, salientam-se indivíduos que falam com o


indubitável acento dos grandes profetas. O próprio Samuel, de acôrdo com 1 Sm
15.22, afirmou que obediência à vontade declarada de Javé é de maior
importancia do que as normas de serviços litúrgicos. +Tem porventura o Senhor
tanto prazer em holocaustos e sacrifícios quanto em que se obedeça à sua
palavra? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender melhor do
que a gordura de carneiros». É verdade que essa citação vem de uma história
de Samuel, escrita uns trezentos anos depois de seu tempo, de modo que sua
fraseologia pode ter sido influenciada por ensinos semelhantes, muito mais
comuns nessa época. Mas o papel preponderante exercido por Samuel como
representante de Javé, na instituição da monarquia torna esse tipo de linguagem
inteiramente apropriada e não há nenhuma razão para duvidar de que tenhamos
aqui uma segura tradição quanto à substância de seu ensino profético.

O mesmo pode dizer-se de outros exemplos de intervenção, de tempos em


tempos, nos assuntos nacionais por parte dos campeões proféticos da ética
religiosa do javismo, homens que não deixaram nenhum remanescente literário,
mas a quem se dá preeminente lugar nas tradições nacionais. Natã repreende o
Rei Davi por causa do pecado contra um de seus oficiais, que foi também um
pecado contra a obrigação de +misericórdia» dentro da comunidade do pacto,
porque -- nas palavras que Natã tirou da própria bôca de Davi -- +ele não se
compadeceu». (42). O profeta Gade oferece a Davi uma escolha de castigos por
haver recenseado a população para fins de serviço militar e cobrança de
impostos; essa prática da civilização era considerada sacrílega do pon-

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to de vista tradicional, segundo o qual o crescimento e o número de homens e


animais eram assunto da competência exclusiva da divindade (43); Aías, o
silonita, dá a Jeroboão uma sanção divina para a rebelião contra a tirania
opressora do +civilizado» Rei Salomão (44). Jeú ben Hanani pronuncia uma
condenação contra Baasa, que faz lembrar a linguagem com que Amós
condenou Jeroboão II (45). E Elias desafia Acabe, tanto por causa da sua falta
de lealdade a Javé, como por sua conduta para com um de seus súditos, que é
também seu +Próximo» dentro do pacto (46). Podemos observar, assim, antes
dos +profetas literários», a emergência de alguns de seus ensinos
característicos numa sucessão de homens que mantiveram acesa a tocha de
Moisés. A profecia mais alta já se transformara na voz da exigência moral de
Javé ao povo de seu pacto, e a demanda de obediência ética era enfatizada
como fator central na herança religiosa, peculiar de Israel. Compreendeu-se que
Javé estava ativamente interessado tanto no bem-estar coletivo, quando no
comportamento social de seu povo. A função de seus profetas não era satisfazer
a curiosidade humana, mas declarar sua vontade; falavam em obediência à
ordem de Deus e não à instigação dos homens. A iniciativa cabia sempre a
Javé.

Os profetas viam a Javé no processo de marcha da história -- o criador do


mundo físico, que é o cenário dos acontecimentos, e ele mesmo um ativo
participante nesses acontecimentos. A parte que lhe cabia não era a da
intervenção caprichosa de um deus ex machina; era a parte que lhe competia
pelas exigências de sua própria natureza, seu propósito histórico permanente, e
a relação especial que mantinha com Israel.

Finalmente, esses primitivos profetas eram independentes porta-vozes de Javé,


independentes, sim, da massa geral de adivinhos e dos chamados profetas, do
culto oficial e de seus ministros. Em suas corajosas palavras aos reis, podemos
perceber que eles se sentiam responsáveis exclusivamente diante de Deus, por
quem tinham certeza de ter sido chamados e enviados. A palavra de Javé os
possuía e encontrava sua expressão neles. Eram como Amós que diria: +Falou
o Senhor Deus, quem não profetizará?»

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Sobrevivência da Profecia Primitiva

Esse esbôço rápido dos antecedentes e começos da profecia estaria incompleto


sem uma referência breve aos sinais da estrada que a profecia trilhara até sua
suprema expressão, sinais que ainda aparecem nos profetas clássicos. Quando
Isaías diz que Javé lhe falou +tendo forte a mão» sôbre ele, e Jeremias que
+oprimido por tua mão eu me assentei solitário»; quando Ezequiel faz várias
referências à +mão de Javé», isso tudo nos lembra o estado de êxtase em que
Elias foi capaz de correr do Carmelo a Jezreel, porque +a mão (ou poder
extático) de Javé veio sôbre ele (48). Assim Miquéias declara estar +cheio do
poder do Espírito do Senhor para declarar a Jacó a sua transgressão» (49). É
em Ezequiel particularmente que se encontram indicações claras do estado de

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transe em que um profeta caía, pelo menos ocasionalmente, quando recebia


uma palavra de Javé: +Estando eu sentado em minha casa ... ali a mão do
Senhor Javé caiu sôbre mim... estendeu dali uma semelhança de mão e me
tomou pelos cachos da cabeça; o Espírito me levantou entre a terra e o
céu» (50).

Isaías 6 é notável exemplo de visão e audição em êxtase: +No ano da morte do


Rei Uzias, eu vi Javé... ouvi a voz de Javé» (52). O título geral do livro de Isaías,
que consiste principalmente de oráculos poéticos, com algumas narrativas, é,
não obstante, +visão de Isaías» , e os livros de Obadias e Naum têm títulos
semelhantes. Que a palavra «visão» tenha aqui o sentido atenuado de +oráculo
profético», é evidente do título de Habacuque e do subtítulo de Isaías 2. O uso
da palavra sugere que a substância de um oráculo -- com sua exaltação
emocional e expressão rítmica -- era percebida pelos profetas com a clareza da
experiência da visão. Associa, também, a visão mística e íntima dos profetas
com os sonhos e visões que homens dos dias antigos tinham crido serem
revelações da divindade.

Fazer milagres era coisa essencialmente estranha ao gênio da profecia ética.


Vai uma grande distância do sinal do novêlo de Gideão ao sinal de Imanuel de
Isaías. Mas a relação existe, e podemos constatar exemplos semelhantes de
acontecimentos que são declarados penhor ou confirmação de

63

profecia (53). O +sinal» de Gideão era uma intervenção miraculosa na ordem


natural. O +sinal» de Isaías era um acontecimento significativo mas não
miraculoso (54), predito confiantemente pelo profeta como um marco no
caminho do futuro, que haveria de atestar o cumprimento de sua palavra. O tipo
mais antigo de sinal é rejeitado pelo profeta literário, conhecido como Segundo
Isaías, como falsa mágica: +Eu sou Javé, que faço tôdas as coisas... que
desfaço os sinais dos profetizadores de mentiras, e enlouqueço os
adivinhos» (55). Não há nada no ensino e nas vidas dos profetas dos séculos
VIII e VII que corresponda às histórias da multiplicação de alimento, da flutuação
de um machado e da ressurreição de um morto feitas por Eliseu. Eles
pronunciam palavras que trazem em si mesmas o sinal de sua autoridade divina,
e não têm necessidade da ajuda adventícia de podêres mágicos. Os sinais que
ofereciam eram os acontecimentos naturais, porque para eles a ordem natural
era o cenário da atividade de Javé; os sinais indicavam a operação de seu
propósito no plano da história. Podemos ilustrar isto, colocando ao lado de Is. 7
a passagem de Jeremias: +Isto vos será sinal de que eu vos castigarei neste
lugar, para que saibais que certamente subsistirão as minhas palavras contra
vós para mal. Eis o sinal, diz o Senhor: Eu entregarei Faraó-Hofra, rei do Egito,
nas mãos de seus inimigos» (56).

Os profetas clássicos não podem ser adequadamente compreendidos sem


algum conhecimento de seus antecedentes. Nem podem ser suficientemente
explicados só em termos de desenvolvimento desses antecedentes. Uma

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diferença em grau se tornou uma diferença em espécie. Eles estão ligados ao


seu ambiente e no passado, porque pertencem ao mundo real. Em relação à
tradição religiosa central de seu povo, são radicalmente conservadores. Mas
eles são novos.

NOTAS E CITAÇÕES BÍBLICAS

CAPÍTULO III

(1) Mt 21.11.
(2) Ver acima, cap. I, p 20. I Sm 28.6-25.
(4) Êx 21.1ss; Nm 12.2.
(5) I Sm 3.
(6) I Rs 18.32ss.
(7) Jr 1.1; Ez 1.3.
(8) Como em II Sm 5.23, 24.
(9) Ver adiante, p 53, o significado de «nabí».
(10) I Sm 3.21.
(11) Is 6.1.
(12) Gn 28.11-17; I Rs 3.5ss.
(13) I Sm 9.5-8. Note-se a imagem diferente de Samuel apresentada na fonte posterior, em
I Sm 7.3-17.
(14) I Rs 19.5-8; II Rs 3.15; Mq 2.11.
(15) I Sm 9.9; Il Sm 15.27; 24.11; Am 7.12
(16) Ver Meek: «Hebrew Origins», pp 147, 148.
(17) Como traduzido em Lods: «Israel» (versão inglesa por Hooke), p 103.
(18) I Sm 19.23, 24.
(19) I Sm 19.20ss; cf. 10.5ss; At 2Ass.
(20) I Co 14.2-19.
(21) «The Drums of Kairwan», pp 23ss.
(22) Ver Leslie: «01d Testament Religion», pp 116-118.
(23) I Co 14.19.
(24) I Sm 10.12; 19.24.
(25) II Rs 6.1, 2; 4.38; 4.1; 3.11; 2.3.
(26) II Rs 1.10; I Rs 18.12; II Rs 2.16; 2.19-22; 2.24; 4.42-44: 4.32-37; 5.1ss; 6.6.
(27) II Rs 2.8, 14.
(28) As guildas de profetas profissionais desapareceram com a queda de Jerusalém.
(29) I Rs 18.4; 18.19; 22.6; II Rs 23.2; Jr 26.7, 8, 11.
(30) I Rs 22.7ss.
(31) Am 7.14, 15; Mq 3.11, 5; Jr 14.14. 1.11.
(32) Jz 13.5; I Sm 1.11.
(33) Jz 1.16; 4.11; Êx 3.1; 18.12; Nm 10.29.
(34) Jr 35.6-10.
(35) Mq 3.10; Os 12.9.
(36) Dt 18.15, 18.
(37) Jz 4.4-7.
(38) Jz 6.34.
(39) Jr 6.14.
(40) O termo não é original.
(41) Por ex., Urias, cf. Jr 26.20-24.
(42) Cf. Il Sm 12.6 e seu contexto.
(43) II Sm 24.1 diz que o impulso para recensear o povo veio a Davi da parte de Javé, mas

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I Cr 21 .1 diz que Satanás foi o instigador. A respeito da impiedade, ver Lods:


«Israel» (versão inglêsa de Hooke), pp 463, 464.
(44) I Rs 11.29ss.
(45) I Rs 16.1-4; Am 7.9.
(46) I Rs 18.16ss; 21.17ss.
(47) Am 3. 8.
(48) 1.s 8.11; Jr 15.17; Ez 1.3; 3, 14; cf. I Rs 18.46.
(49) Mq 3.8.
(50) Ez 8.1, 3. Êsses traços da figura de um profeta, que o livro, de Ezequiel nos dá, são
importantes, sejam êles considerados como descrição histórica ou como provenientes da
imaginação. Há evidência de que o livro, como o temos, é, em parte, uma criação literária
artificial.
(51) Vers. 1. 8.
(52) Am 7.1, 4, 7.
(53) Jz 6.36-40; Is 7.10-16. Ver Buchanan Gray: «Isaiah», I, pp 121ss.
(54) A palavra crucial em Is 7.14 deveria ser traduzida «jovem», e não «virgem», para a
qual há outra palavra hebraica, não encontrada nesta passagem. O sinal é que, na época
em que nascer uma criança a ser em breve concebida, a mãe será capaz de dar-lhe o
nome «Deus-está-conosco», em comemoração do livramento prometido por Isaías.
(55) Is 44.24, 25.
(56) Jr 44.29, 30.

CAPITULO IV

A SUCESSÃO PROFÉTICA

Uma das coisas mais significativas a respeito da profecia hebraica é sua


sobrevivência, em diferentes formas através de uma grande parte da história
religiosa de Israel. Há uma sucessão apostólica de vozes proféticas que não tem
paralelo no mundo antigo (1). De outro modo, não poderíamos falar desse
fenômeno israelita como inteiramente peculiar. Na literatura babilônica, em
grande parte na literatura egípcia, podem ser encontrados escritos similares aos
relatos dos profetas hebreus (2). No decurso da história egípcia, muito mais
longa e igualmente cheia de altos e baixos, houve períodos em que as
condições sociais e religiosas se pareciam com as do oitavo e sétimo séculos
em Israel; nessas ocasiões, no Egito, se levantaram vozes que atacavam os
males sociais com base em princípios éticos e religiosos.

Num tempo assim, pouco antes do comêço de um dos maiores períodos da


história egípcia, sob a décima segunda dinastia, +o eloqüente Camponês»
dirigia essa queixa a Rensi, o mordomo-chefe: +Tu és o leme do céu, tu és a
viga mestra da terra, tu és a linha do prumo que carrega o pêso. Ó leme, não te
desvies; ó viga mestra, não pendas; ó prumo, não saias da vertical. Reprime o
ladrão; defende os pobres. Considera a aproximação da eternidade. O
verdadeiro equilíbrio da terra é a prática da justiça. Não fales mentira, sendo tu

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grande. Não despojes de suas possessões o homem humilde: elas são o ar que
ele respira, e aquele que lhas arranca tapa-lhe o nariz. Pratica justiça pelo
Senhor da justiça. A justiça pemanecerá para sempre» (3).

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Outro escrito desse tipo é o +Diálogo do Homem Cansado da Vida com sua
Alma», que é datado de cêrca de 2100 a. C. Ainda outras +profecias» egípcias,
como as +Admoestações de Ipuwer» e a visão de Neferrohu (4) contêm o
elemento preditivo da profecia a proclamar um tempo melhor por vir, sob um rei
+messiânico». A revolução religiosa do faraó Akhenaton (1375-1359 a. C.)
produziu -- senão profecia -- salmos notavelmente semelhantes, por exemplo,
ao salmo 104. Mas seguiu-se uma reação sacerdotal, e a religião egípcia, como
muito do judaísmo pós-exílico, se tornou arcaizante e legalista. No período
posterior, quando apareceu a apocalíptica judaica, ela também teve um paralelo
no Egito; a +Crônica Demótica», como Daniel, tem tons nacionalistas e fala de
males e catástrofes terríveis, que serão seguidos por uma salvação gloriosa. Até
o método de contar dias, como anos, aparece.

Mas a despeito desses paralelos na forma, e até certo ponto, na substância,


pode-se medir a superioridade da religião hebraica pela distância que separa a
profecia hebraica da egípcia. (Chega-se a uma conclusão semelhante quando
as histórias bíblicas da Criação, do Paraíso e do Dilúvio são comparadas com
seus protótipos babilônicos e sumerianos). Amós não apela para que os
israelitas pratiquem justiça, porque a justiça é eterna: ele fala sob a ordem
imediata de um deus cuja vontade é que os homens pratiquem justiça agora. Os
profetas hebreus eram como atalaias que passam uma mensagem urgente de
colina a colina, não como repetição mecânica, mas com uma vitalidade
constantemente renovada. Pois a tradição profética era uma coisa viva, que se
tinha tornado parte deles mesmos, por intermédio de seu própria chamado pela
mão de Javé. Seu deus não estava prêso ao passado, nem sua natureza e
vontade deviam ser deduzidas pela reflexão intelectual e teórica sôbre uma
doutrina estabelecida. Era um deus conhecido por seus atos poderosos na
história nacional e na própria experiência do profeta, um deus que, na situação
concreta de cada momento tinha feito e continuava a fazer suas exigências
características sôbre seu povo. Os profetas falavam com a autoridade imediata
dele.

67

Não há nada comparável a isso no Egito ou em qualquer outro lugar, como não
há igual à sucessão de profetas que Israel conheceu.

As Cinco Etapas da Sucessão Profética

Podemos classificar em cinco grupos a literatura produzida, direta ou


indiretamente, pelo impulso profético, antes que ele se extinguisse no fim do
período persa, sob a pressão crescente da lei normativa. (A fagulha vital da

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profecia passou, então, para a apocalíptica, por um lado, e para a salmodia e a


literatura sapiencial, por outro). Deve-se enfatizar que essa classificação
quíntupla é, primariamente, uma classificação da literatura por meio da qual
acompanhamos a história da profecia, mais do que uma definição das etapas
nos desenvolvimentos subjacentes à literatura. Mas, +grosso modo», esses
cinco tipos de registros literários são sucessivos, e correspondem a épocas
sucessivas do movimento profético.

1. A primeira de tôdas é a literatura tradicional e em parte lendária a respeito de


Moisés, o fundador, preservada principalmente nos diferentes documentos do
Pentateuco. Esses documentos incorporam uns poucos fragmentos da antiga
saga nacional, dos quais são versões em prosa, influenciadas pelo ensino
profético posterior (5). A esses podem somar-se as diferentes versões em que o
Decálogo de Moisés foi preservado nos vários santuários (6) ; versões cujos
elementos comuns testemunham sua descendência de um único original, e
cujas diferenças indicam a antiguidade dele. Embora Moisés seja um autêntico
personagem histórico, sua influência é sentida mais do que vista claramente na
literatura a respeito dele e escrita séculos depois de sua época.

2. O segundo grupo de material são as narrativas em Juízes, Samuel e Reis, em


que indivíduos chamados + profetas» aparecem como atôres no drama
nacional, mas não são de modo algum o centro dele; (exceto Samuel, cujo ofício
profético é, em realidade, subordinado à sua obra como líder nacional). Natã e
Gade, Semaías, Aías e Jeú ben Hanani passam apenas de relance pelo palco.
Mas são importantes porque mantem a continuidade da sucessão profética.

68

3. Em terceiro lugar, temos o material biográfico e lendário reunido em tôrno dos


nomes dos profetas pré-literários Elias e Eliseu, e que foi inserido em blocos de
narratívas na história das monarquias em I e II Reis. Aqui o interesse principal
do narrador se concentra nos atos e ditos incidentais dos profetas; não há
discurso extenso e as circunstâncias passam para um plano secundário (7).

4. O quarto grupo de material bíblico, e o mais importante de todos para a


compreensão da profecia hebraica, é a literatura clássica da Idade de Ouro da
profecia, o oitavo, sétimo e princípio do sexto séculos a. C. Esse consiste
principalmente de coletâneas de oráculos escritos depois de terem sido
pronunciados. Há certo material narrativo adicional, descrevendo os atos do
profeta, ou as circunstâncias de sua pregação -- e também suas experiências
espirituais -- mas no principal esses registros dos grandes dias da profecia
compreendem a substância das declarações oraculares dos profetas. Os
oradores são conhecidos; uma grande proporção dos oráculos atribuídos a eles
pode ser considerada como autêntica; as coletâneas são datadas em termos
gerais, e oráculos específicos são algumas vêzes datados com exatidão; as
circunstâncias históricas são razoàvelmente claras.

Esse material abrange a maior parte dos livros de Amós, Oséias, uma parte

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substancial dos livros de Isaías, Miquéias e Habacuque. O excedente do


material nesses livros deve ser classificado ou sob outro título (5) como profecia
anônima, ou como declaração oracular de profetas sem nome, cujas mensagens
foram incluídas com a das figuras bem conhecidas, mencionadas acima. O
breve renascimento da profecia falada, no fim do sexto e princípio do quinto
séculos, que deixou o seu registro em Ageu, Zacarias 1-8 e Malaquias pode ser
chamado a Idade de Prata.

5. Há, finalmente, o mais extenso dos corpos de literatura relacionada com o


movimento profético, a profecia escrita pós-clássica, anônima e de data incerta.
As coletâneas de oráculos dos profetas conhecidos do oitavo e sétimo séculos
parece terem sido feitas por seus discípulos imediatos, e essas coleções foram
entesouradas e aumentadas por mem-

69

bros posteriores da escola ou partido profético. O processo se estendeu por


séculos, com o resultado de que esses suplementos anônimos compreendem
agora mais de metade (alguns diriam, consideravelmente mais de metade) do
cânon profético das Escrituras. O material que foi acrescentado inclui algumas
contribuições novas importantes, como o segundo Isaías e os capítulos semi-
apocalípticos de Is 24-27, além de inserções editoriais mais breves e adendos
feitos por escritores proféticos menores desconhecidos. O resultado é que só
um quarto a um têrço de um livro como +Isaías» pode ser atribuído ao profeta
daquele nome, o todo tendo-se reunido gradativamente em tôrno de breves
coleções originais de sua obra. Mais de metade do +Livro dos Doze» profetas
menores é pós-exílica (8) e de autoria desconhecida e data incerta. Com
respeito ao livro de Ezequiel, opiniões tão totalmente divergentes são
sustentadas entre os especialistas, que a gente hesita em avaliar quanto, ou
mesmo se algo, de seu conteúdo é profecia autêntica, do período clássico.

Será evidente que, quando perguntamos quem eram os profetas, e qual era seu
ensino, a resposta é defrontada por dificuldades críticas, e não pode ser dada
por citação indiscriminada do cânon profético. Se concordamos em traçar a linha
da sucessão profética partindo de Moisés, ela cobre mil anos, e deixou, como
vimos, uma série de registros literários de vários tipos e valor variável. O melhor
método parece que seria concentrar a atenção no material (4) acima, isto é, nos
oráculos falados e registrados do período clássico. Podemos lidar com esses
profetas do oitavo e sétimo séculos, melhor do que com quaisquer outros,
porque seu legado literário é razoàvelmente extenso e usualmente
compreensível à luz das condições históricas e religiosas conhecidas. Além
disso, com algumas exceções significativas, como os +Cânticos do Servo» e
Segundo Isaías, pouco há em outras partes de nossos registros que se compare
em importância e valor com essas obras-primas proféticas. Contudo, nem
mesmo esses podem ser considerados à parte da grande sucessão em que se
situavam.

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As Tradicões de Moisés, o Fundador

A religião de Israel foi uma das religiões da humanidade que trouxeram a marca
pessoal de um fundador. Poucos especialistas questionam hoje a historicidade
de Moisés, embora divirjam em sua avaliação da importância de sua
contribuição para a religião desenvolvida de Israel. As tradições dos começos de
Israel não são fáceis de desemaranhar, mas pode ser afirmado com tôda
confiança que a história de Moisés, do Êxodo e do Pacto do Sinai é o
fundamento necessário da teologia historicamente condicionada de Israel.

Quatro correntes de evidência conduzem até essa distante figura, de proporções


heróicas, que os legisladores posteriores consideravam a nascente da Lei, os
sacerdotes consideravam como o primeiro levita sacerdotal, e para quem os
profetas se voltavam como seu antítipo e ideal. A primeira corrente é o
testemunho da principal tradição histórica de que o culto israelita de Javé, como
um Deus de caráter distintivo, começou no Sinai (ou Horebe), onde uma
federação de tribos se tornou +o povo de Javé» por um pacto de que Moisés foi
o mediador. A nação nascera da experiência religiosa pessoal de Moisés, junto
com as emocionantes experiências coletivas em que esse novo poder e vontade
de Deus se tornaram conhecidos do povo. A unicidade de Javé era um princípio
cardeal da fé israelita. Foi ele e não outro deus aquele cujos desafios e
propósitos se tornaram evidentes nos acontecimentos históricos, o significado
particular dos quais foi interpretado por Moisés como seu porta-voz. No início da
tradição nacional, e explicando-a, estava a figura desse homem que fôra um
profeta como os profetas do oitavo século: um homem que conhecia a presença
e a vontade moral de Deus como uma experiência intensa, que discernia seus
desafios nos eventos e situações correntes, e que declarava que Javé exigia
obediência e lealdade aos dispositivos de seu pacto, como condição para uma
contínua bênção e salvação. A palavra de Oséias: +Javé por meio de um profeta
fêz subir a Israel do Egito» (9), pertence a essa tradição viva a respeito de
Moisés.

A segunda corrente de evidência que leva até Moisés é o caráter do +berith», ou


pacto, que nos tempos históricos

71

servia como uma espécie de constituição nacional. Em I Sm 10.25 é chamado


+O direito (10) do reino», e se diz que foi escrito num documento e depositado
no santuário. Quando Davi foi ungido rei no santuário de Hebrom, por intermédio
da livre escolha dos anciãos de Israel, ele +fêz com eles aliança perante
Javé» (11). O que isso significava torna-se claro no relato de outra cerimônia de
coroação duzentos anos mais tarde, a do menino Joaz, quando o sacerdote +fêz
uma aliança entre Javé e o rei e o povo e também entre o rei e o povo» (12).
Essa era, antes de tudo, uma renovação da fidelidade a Javé, e o
reconhecimento da justiça e misericórdia de Javé como o +costume e direito» da
comunidade, que deviam ser mantidos pelo rei. Outras ilustrações da operação
desse pacto de religião e ética social como um tipo de constituição nacional,

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podem ser vistas nas exigências feitas a Roboão na divisão do reino, e no pacto
feito em 621 a. C., pelo Rei Josias e seu povo, em resultado do qual Jeremias
comenta: +Julgou a causa do aflito e do necessitado; por isso tudo lhe ia bem.
Porventura não é isto conhecer-me? diz Javé» (13). Esses pactos do período
histórico estão ligados à tradição nacional que se tornara uma doutrina
teológica, a saber, que no Sinai Horebe Javé tinha entrado nesta relação
especial com as tribos, nos termos sintetizados num decálogo e passíveis de
expressão em sucessivos códigos de lei. (14). A existência de diferentes
versões do Decálogo o +uso» de Siquém ou o +uso» de Betel (15) indicam o
uso de fórmulas éticas parecidas com o Decálogo -- é a terceira corrente de
evidência que aponta para Moisés. A formulação de obrigações religiosas tão
amplamente em termos de ética social é um significativo traço comum desta
tradição do pacto e do ensino dos profetas.

Em quarto lugar, temos indicações claras nas palavras dos próprios profetas, de
que eles criam que sua mensagem não era nova, mas um retôrno à religião
essencial do período formativo de Moisés: +Eu sou Javé, teu Deus (que te
trouxe) desde a terra do Egito... não há salvador senão eu: eu te apascentei no
deserto», diz Oséias; e ainda: +Javé por meio dum profeta fêz subir Israel do
Egito, e por um profeta foi ele guardado» mas +eles transgrediram o pacto

72

e pecaram contra minha lei» (16). Javé diz em Am 2.10: +Também vos fiz subir
da terra do Egito, e quarenta anos vos conduzi no deserto». E Jeremias baseia
seu argumento na mesma premissa: +Porque nada falei a vossos pais, no dia
em que os tirei da terra do Egito, nem lhes ordenei coisa alguma acêrca de
holocaustos ou sacrifícios. Mas isto lhes ordenei, dizendo: Dai ouvidos à minha
voz» (17). O ensino profético geral a respeito da exigência de obediência ética
constantemente renovada, e a relativa falta de importância do culto é aqui
apresentado como original na religião de Israel.

Atôres no Palco da História

Não há muita coisa que se possa dizer a respeito do segundo tipo de material,
as referências incidentais a profetas antigos e pouco conhecidos, nas histórias
de Juizes, Samuel e Reis. Esses livros, em sua forma atual, são histórias
«religiosas» antes que +gerais», de modo que o conhecimento dos
acontecimentos políticos e das condições sociais que eles nos fornecem está
muito longe de completo. Eles contêm seleções de várias fontes, tais como
anais da côrte, registros do templo, biografias de reis e profetas e tradição
popular editados com comentários, com o fito de ensinar a lição de que Javé
tinha estado constantemente operando por intermédio de pessoas e dos
acontecimentos históricos. Isso era ensino +profético», e esses livros foram,
sem dúvida, coligidos por discípulos dos profetas.

Pode-se compreender facilmente que esses historiadores não deixariam de

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chamar a atenção para a obra de seus precursores, os +protagonistas proféticos


da História», (18) embora pouco fosse então conhecido a respeito deles. Alguma
ação dramática, ou declaração notável, mareava o impacto de um espírito
semelhante ao dos bem conhecidos profetas, dos dias posteriores, sôbre a
antiga história nacional. Samuel, como Elias e Eliseu, é colocado nos registros,
no papel de fazedor de reis e seu famoso dito a Saul relembra uma palavra
semelhante, de Oséias (19). A reprimenda de Natã a Davi, por causa de um
ultraje cometido contra um de seus súditos, relembra reprimenda semelhante de
Elias a Acabe e

73

a ardente denúncia de Jeremias contra Joaquim (20). Aías comissiona o líder de


uma revolta contra a política salomônica do trabalho escravo assim como Eliseu
comissiona Jeú ben Ninsi para extirpar o culto de Baal Melearte em Israel e
usurpar o trono de Acabe (21). O profeta Jeú ben Hanani denuncia Baasa em
linguagem parecida com a usada por Amós a respeito de Jeroboão 11 (22).
Natã, Gade e Micaías, como Isaías, eram conselheiros da realeza, e a coragem
solitária de Micaías, opondo-se aos profetas profissionais de vitória, foi
demonstrada de nôvo por Jeremias (23). Esses profetas do tempo antigo são
notavelmente semelhantes a seus sucessores, nesses particulares. São
lembrados por terem mantido a continuidade da sucessão e aparecem entre os
atôres da dramática história de Israel. Mas as referências a eles são breves e
não deixaram nenhum corpo de ensino.

As Narratiuas de Elias e Eliseu

A história do reinado de Acabe sôbre o reino de Israel começa em I Rs 16.29 na


forma analítica sêca dos capítulos anteriores, seguindo-se imediatamente a um
sumário do reinado do grande Omri em seis versículos. Mas quase
imediatamente a história de Acabe se expande numa narrativa pulsante, que
continua por seis capítulos, até que, também, conclui com a fórmula editorial
usual em I Rs 22.39, 40. Mesmo um exame superficial explicará esse súbito
desabrochar do historiador, quando chega ao tempo de Acabe, que certamente
não foi maior homem do que Omri, seu pai. O material adicional celebra os feitos
de Elias e de outros profetas que apareceram nesse reinado e lhe deram
importância inusitada aos olhos do narrador. Pela primeira vez (se excetuamos a
história de Samuel, que é de tipo diferente), encontramos um ciclo de narrativas
em que uma figura profética continua a ocupar o centro do palco, e que parecem
ter sido já reunidas em uma das fontes utilizadas pelo editor do livro de Reis.
Quatro dos capítulos concernem a Elias; os dois restantes são a respeito do
papel desempenhado nas guerras sírias por Micaías ben Imelá e dois profetas
que permanecem anônimos.

Elias é uma das mais impressionantes personalidades do Velho Testamento.


Seu nome foi associado com o de

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74

Moisés pelos pensadores religiosos posteriores e, em Malaquias, encontramos a


expectação de que este profeta que, como Moisés, morrera misteriosamente,
virá outra vez para apregoar o Julgamento e a Era Messiânica: +Eis que vos
enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível dia de Javé» (24).

O aparecimento de Elias nas páginas do livro de Reis é tão súbito e inexplicado


como o eram seus aparecimentos a seus contemporâneos (25). O editor o
introduz em I Rs 17.1, como a figura bem conhecida que ele se tinha tornado.
Sua origem é tão misteriosa como a de Melquisedeque; é-nos dito apenas que
ele era um +tesbita», e vivia em Gileade, nas bordas do deserto. Não é óbvio
por que, nos últimos tempos, Elias foi associado com Moisés em vez de com
Amós e Isaías, de quem era séculos mais próximo em data, e para a obra de
quem a sua foi a preparação. Talvez a razão fôsse tratar-se de uma figura
fugidia, mas essencial à tradição como Moisés -- um fato indisputável da
história, e cuja grandeza distante fêz dele um símbolo. Um instinto nato
reconheceu Elias como o líder numa encruzilhada crítica, e o mesmo instinto
ligou a Moisés, ao menos em princípio, tudo que era peculiar nos começos da
religião israelita. Elias, como Lutero, voltou às fontes: Lutero ao Nôvo
Testamento, Elias ao Horebe, o monte de Deus. Sua voz poderosa relembrou a
Israel sua lealdade primária ao Deus de Moisés. O grito foi retomado por
homens maiores que seguiram Elias, homens de penetração mais profunda e de
maior poder espiritual. Mas permanece o fato de que ele foi o precursor deles
como, na escatologia posterior, se tornou o precursor do Messias.

As circunstâncias do ministério de Elias são bastante claras. Acabe (ou, mais


provàvelmente, seu pai Omri por ele) tinha feito uma aliança matrimonial com a
família real de Tiro. Visto como uma aliança política, naquele tempo, envolvia o
reconhecimento mútuo das divindades, e Jezabel, espôsa tíria de Acabe, não
era alguém que deixasse de mão seus privilégios, a prioridade de Javé, como
Deus peculiar de Israel, foi ameaçada. O culto dos baalins locais ou espíritos de
fertilidade de Canaã não parecia invadir seriamente

75

a esfera de Javé e o culto israelita tinha chegado a compartilhar muitos traços


do culto canaanita. Mas agora que o culto de Baal, o grande deus da
tempestade, que, numa de suas formas locais, se tinha tornado o deus nacional
de Tiro, fôra instalado em Samaria, sob o patrocínio propagandista da rainha, a
relação peculiar de Javé com Israel estava em perigo. Nisso, Elias tomou
posição.

I Reis 17 abre-se com o aparecimento súbito do profeta -- +como um meteoro»,


como o disse Loehr -- e com seu anúncio ao rei de que uma grande sêca está
iminente. Isso é um desafio direto a Baal em sua própria esfera, a dádiva da
fertilidade por meio da chuva. Diz Elias implicitamente: +Neste país é Javé que
dá e retém a chuva». Lembramo-nos das palavras de Oséias, um século mais

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tarde: +(Israel) não soube que eu é que lhe dei o grão, e o vinho, e o óleo, e lhe
multipliquei a prata e o ouro, que eles usaram para Baal» (26).

Tendo pasmado o rei com essa declaração, Elias vai esconder-se perto da
torrente de Querite, onde é alimentado por corvos, até que a torrente se seca.
Não se ganha nada tentando racionalizar esse milagre, e os outros nas histórias
de Elias e Eliseu. O narrador visava claramente que sua audiência
compreendesse que eles eram a espécie de homens que podiam realizar
milagres, e para quem milagres eram realizados por Javé. Devemos estar
preparados para descontar um pouco nos +aspectos lendários» das narrativas.
O problema não é se, em abstrato, podem acontecer milagres, mas se uma
série particular de narrações de milagres pode ser tomada ao pé da letra,
quando inclui uma história de ursas que comem crianças, porque essas foram
rudes (27).

As histórias a respeito de Elias estão num nível mais alto do que as que
concernem a Eliseu. Os corvos que alimentam Elias, o azeite que não acaba na
botija da viúva, a ressurreição do menino e, finalmente, a descida de fogo e
chuva do céu :em resposta à oração de Elias, tudo isso testificava o poder de
Javé para dar o que o povo tinha estado inclinado a pedir ao baal. Afirmava-se
até mesmo que o poder de Javé se estendia ao território do deus de Jezabel, a
vila sidoniana de Sarepta. Esses incidentes preliminares con-

76

duzem ao episódio principal, no capítulo 18, onde, numa cena conhecida, Elias
enfrenta os profetas de Baal e põe à prova o poder deles e o de Javé. Notamos
o frenesi de dervixes dos profetas de Baal, e a perfeição dramática do que se
segue, quando o solitário representante de Javé conserta seu antigo e
abandonado altar. Não devíamos perguntar onde obteve Elias tal quantidade
d'água para derramar sôbre o altar, num tempo de sêca, pois se trata de uma
necessidade dramática da história (28). A coisa principal é o triunfo final do
representante do javismo na questão vital da produção de chuva.

É possível considerar a história que segue, da fuga de Elias para o Horebe, sob
mais de uma luz. Micklem (29), sugere que se trata de um relato mal localizado
do chamado de Elias para profetizar, mas isso não pode ser derivado do
capítulo 19, como ele está agora. Aqui Elias está fugindo de Jezabel, seqüência
natural do tremendo esfôrço nervoso da luta solitária no Monte Carmelo. Mas,
seja ou não uma fuga, a importância da jornada é sua direção. O primeiro ponto
de parada é Berseba, santuário das tribos do Norte, desde o tempo dos
patriarcas. De Berseba o profeta viaja +quarenta dias e quarenta noites» (uma
distância indefinida, mas considerável) até Horebe, o +monte de Deus», como
foi chamado por Moisés, conhecido na tradição judaíta como Sinai. Aqui, conta-
nos o relato, ele se alojou numa caverna, e Peake (30) sugere que isso pode
referir-se à -tradicional +fenda da penha», onde Moisés estava quando Javé
+passava», como ele agora +passava» por Elias (31). Um grande vento, um
terremoto, :e fogo (vulcânico?) formavam a moldura para uma segunda

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revelação mosaica. Mas não trouxeram nenhuma mensagem a Elias. Só quando


as reverberações da estupenda manifestação das fôrças naturais tinham
cessado, o profeta reconheceu a voz de Javé no majestoso cicio que se seguiu.

Interpretar o «cicio tranqüilo e suave» como a voz da consciência é ler na


passagem o que não está ali. +A voz da mansa quietude» é um silêncio que
pode ser ouvido, como se diz algumas vêzes das trevas, que são tão grandes
que podem ser tocadas. O ponto é que os terríveis fenômenos que

77

tinham falado a Moisés não trouxeram a Elias a mensagem que ele esperava.
Mas Javé lhe falou na quietude da montanha e no deserto, ao irem voltando à
sua mente suas recentes experiências.

Isso pode ser interpretado como uma reprimenda à violência do homem que
com suas próprias mãos tinha matado os devotos de Baal. Já tinha passado o
tempo em que o javismo devia ser propagado pela violência, e os picos de
montanhas que eram os profetas do oitavo século, em tôda sua grandeza moral,
podiam já ser entrevistos acima do horizonte. Ou, pode tratar-se de uma
reprimenda a qualquer tendência, fôsse no Carmelo fôsse em Horebe, de
identificar a Javé demasiado intimamente com os podêres naturais. Ele não era
um deus da tempestade, mas um deus da vontade moral e do pacto histórico. E
ainda, a voz que vem depois da quietude e pergunta: +Que fazes aqui, Elias?»
sugere que o profeta estava errado em voltar a Horebe, pois a presença de Javé
não estava localizada ali, nem era uma fórmula adequada, para a época
posterior, o grito de +volta a Moisés».

Mas, quando observamos o que vem em seguida na história da vinha de Nabote


(cap. 21), onde Elias resiste ao novo despotista real em nome da moral do
pacto, vemos a nova ênfase nos aspectos éticos do mosaísmo que
caracterizaria os profetas do século seguinte. O retôrno a Moisés não devia
significar a revivescência dos elementos naturais primitivos no conceito da
divindade, nem ainda (como os recabitas esperavam) a reversão a condições de
vida que já tinham desaparecido. A quietude que Elias ouviu foi a quietude onde
Amós ouviria Javé rugir como leão por juizo que ocorresse como as águas. Era
a voz que fazia Israel lembrar, não a localidade do Sinai, mas o fervor religioso e
austeridade moral associados com as origens vitais de sua fé. A voz chamava
para longe das associações canaanitas na vida e no ritual religioso, para longe
do sacrificio, mesmo no antigo altar de Javé no Carmelo. (Oséias e Jeremias
negariam que o sistema sacrificial tivesse qualquer sanção mosaica) (32). Como
Moisés, Elias recebeu uma teofania em Horebe, e morreu em circunstâncias
misteriosas. Mas a semelhança básica de ambos é que cada um dos dois tomou
a frente no momen-

78

to de suprema crise na história religiosa de Israel, e se tornou símbolo de uma

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decisão crucial.

Eliseu era servo e discípulo de Elias, e parece ter prosseguido como sucessor
dele através da maior parte da segunda metade do nono século a. C. (33). Uma
parte do material que se refere a ele tem uma qualidade religiosa e literária
semelhante à das narrativas a respeito de Elias (por exemplo, a história de
Naamã, II Rs 5), mas no restante os elementos miraculosos e lendários são tão
acentuados que sugerem tratar-se de histórias populares. Além disso, há
curiosas repetições do material do ciclo de Elias: ambos enchem a botija da
viúva, ambos ressuscitam o filho único de uma mulher, a ambos se atribui a
responsabilidade da instigação da revolução de Jeú (33a), e ambos, ao
morrerem, são chamados +carros de Israel e seus cavaleiros» (34). Eliseu é,
sem dúvida, figura histórica que tem um lugar na sucessão profética, mas o fato
de ele ser relembrado, principalmente como fazedor de milagres e chefe das
guildas proféticas (35), sugere que não fêz nenhuma contribuição específica ao
+propósito crescente» da profecia, comparável à contribuição de Elias.

A Idade de Ouro da Profecia (36)

Até onde sabemos, o grande dia da profecia hebraica começou com Amós. É
preciso fazer uma ressalva porque, embora Amós seja o primeiro a deixar após
si um extenso registro de suas declarações, pode ser que não tenha sido o
primeiro a merecer tal memorial literário. Mas foi Amós, ou seus discípulos,
quem iniciou a prática de preservar por escrito a substância dos oráculos
pronunciados. Tem-se conjeturado que isso foi conseqüência da proibição
imposta ao profeta pelo sacerdote do santuário real, em Betel (37). Se assim foi,
esse ato de repressão teve efeito oposto ao desejado.

As profecias de Amós são datadas do reinado de Uzias, em Judá, e Jeroboão,


em Israel, dois monarcas cujos reinados longos e contemporâneos, foram uma
era de ouro na Palestina. Enfatiza-se o fato de que falou durante os dois anos
que precederam um memorável terremoto (38), que trouxe a Israel o comêço da
desgraça que ele havia predito (39).

79

Aprendemos de sua apologia, diante do sacerdote de Betel, que Amós não era
um profeta profissional mas um leigo, um simples boieiro que, entre seus
rebanhos, foi empolgado pela convicção de que devia profetizar a Israel e contra
Israel. Como se tratava de um judaíta, ele era herdeiro da linha puritana na
tradicão do javismo. Mas, embora a única narrativa no livro de Amós o coloque
em Betel, não é ao reino do Norte somente que ele fala; o invencível desprêzo
do camponês pelos requintes da civilização é somado a uma percepção do
enganoso da prosperidade aparente das cidades, e a uma percepção profunda
de seu custo humano e de suas consequencias espirituais. Diz ele: +Bebem
vinho em taças, ungem-se com o mais excelente óleo; mas não se afligem com
a ruína de José» (40).

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O oráculo com que o livro de Amós começa tem sete estrofes ou estâncias
uniformes em arranjo, avançando para um clímax inesperado, reforçado pelo
+suspense» da antecipação. Uma por uma, as nações circunvizinhas são
chamadas à barra do tribunal de Javé, para responderem por suas atrocidades
na guerra. Mas Israel é chamado a prestar contas das atrocidades do tempo de
paz, que não são menos terríveis, e que são constantes em vez de ocasionais.
A exploração do pobre e a libertinagem no culto são pecados contra a luz que
lhe fôra dada. A punição da parte de Javé é sugerida numa visão rápida de um
exército tomado de terror.

Em seguida, Amós passa da conexão causal dos acontecimentos no mundo


natural para o reino onde Javé é supremo. +Rugirá o leão no bosque, sem que
tenha prêsa?... Sucederá algum mal à cidade, sem que Javé o tenha feito?» A
lei moral é inexorável, e Javé não tem favoritos. +De tôdas as famílias da terra
somente a vós outros escolhi, portanto eu vos punirei por tôdas as vossas
iniqüidades» (41). Além disso, o culto que empresta sua sanção moral a uma
sociedade luxuriosa e injusta será destruido pelo Deus justo que ele pretende
servir; porque ele é justo, os homens não podem abafar o clamor dos oprimidos
com o barulho dos hinos, nem comprar a divindade com ofertas cada vez mais
volumosas (42). Essa certeza de que a exigência primeira de Javé é a justiça,
leva Amós a proclamar a falácia das crenças po-

80

pulares; como a de que os favores passados de Deus continuariam,


independentemente do estilo de vida de Israel; de que ele se agradava de
sacrifício suntuoso; de que no dia em que ele manifestar seu poder, a destruição
dos inimigos se seguirá. Mas não -- +Aborreço, desprezo as vossas festas»; +Ai
de vós que desejais o Dia do Senhor... é Dia de trevas e não de luz» (43).

A doutrina histórica de uma nação escolhida não significa para Israel uma
eleição para privilégio incondicional, pois outras nações também estão sob
contrôle de Javé: +Não fiz eu subir a Israel da terra do Egito, e de Caftor os
filisteus e de Quir os sírios?» É o povo pecador, não os povos que não adoram a
Javé, que será destruido. Uma vez que, como aqui, o imperativo categórico da
moral seja reconhecido como universal, não estamos longe do monoteísmo (44).

O ministério do profeta Oséias data do reinado de Jeroboão II, em Israel, e


também dos reinados de quatro reis sucessivos de Judá, o último dos quais
começou a governar mais de vinte anos, depois da morte de Jeroboão.
Aparentemente se acreditava que a dinastia estável de Judá fornecia a única
cronologia segura, pois dos reis que sucederam a Jeroboão em Samaria, quatro
foram assassinados e sucedidos por usurpadores. O caos político tornava-se
ainda pior pela rixa entre os partidos políticos pró-Assíria e pró-Egito. O
resultado foi a anarquia (44a), com cada homem levantando a mão contra seu
próximo. A luta de classe acrescentou seu tributo às depredações dos
bandoleiros. Profetas e sacerdotes estavam tão degradados quanto o povo. A
corrupção que Amós tinha pintado atingira agora uma etapa avançada, e a

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sociedade estava desintegrando-se. +Não há verdade, nem amor, nem


conhecimento de Deus, na terra» (45).

Uma característica da situação exposta por Oséias é a identidade essencial do


javismo popular com o culto de Baal, a forma canaanita do difundido culto da
fertilidade. Os mistérios da vida e da morte e da geração tinham sempre
empolgado a mente do homem, e acreditava-se que a necessária fertilidade dos
campos e dos rebanhos podia ser induzida por exercícios religiosos baseados
no ciclo vital da vege-

81

tação, dos animais e do homem. O culto da fertilidade era, ao mesmo tempo,


uma ciência natural primitiva e uma religião. Segundo sua mitologia, uma
divindade masculina morria anualmente, quando a vegetação secava, era
lamentada e procurada nos ínferos por sua deusa consorte, e era trazida de
volta à terra por ela com a ressurreição da vegetação na primavera. Casavam-
se então, de nôvo, para garantir a geração de nova vida. Não é de surpreender
que a prostituição +sagrada» fôsse uma característica do culto dessa forma de
religião.

O reconhecimento de que a espôsa de Oséias, sôbre cuja história se baseia


muito a mensagem do profeta, era provavelmente uma dessas hieródulas, ajuda
a resolver as dificuldades dos capítulos 1 e 3, onde a história é relatada. Nos
versículos 1.2 e 3.1, Gomer é descrita como adúltera, quando Oséias se casa
com ela, e não, como a história tem sido comumente interpretada, como espôsa
infiel. T. H. Robinson apresentou a sugestão de que a prolongada quarentena
exigida dela em 3.3 foi um período de dessagração necessário para libertá-la de
suas obrigações e especial posição como funcionária do templo (46). O amor de
Oséias por Gomer é um duplo mistério no qual ele percebe a direção da mão
divina: por que, em primeiro lugar, teria ele sentido esse irresistível amor
espiritual por uma mulher a quem bastaria a sensualidade, e por que a amaria
ainda quando ela recaiu em adultério? À luz de sua própria experiência, o
profeta arrazoa partindo do amor divino que escolheu Israel, no começo, até um
amor que anseia por ele ainda, embora o povo tenha recaído na deslealdade e
imoralidade do culto de Baal. Como, naquela terrível contrafação da mais alta
relação humana, a glória e maravilha do verdadeiro amor são desconhecidos,
assim +o meu povo está sendo destruido, porque lhe falta o conhecimento» do
Deus que ele adora (47). Oséias fala do juizo que não pode ser aplacado pelas
declarações superficiais de arrependimento; mas fala, ainda mais, do amor que
o mal não pode vencer. A palavra final continua com a misericórdia (48).

O ministério de Isaías, em Jerusalém, foi, no seu período inicial, contemporâneo


do ministério de Oséias no Nor-

82

te. Quando menino, esse homem pode ter ouvido seu compatriota Amós pregar

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em Betel ou Jerusalém. A ameaça nascente do poder assírio, que Amós sentiu


mas não referiu pelo nome, e que Oséias menciona especificamente (49), torna-
se para Isaías um fato concreto, ocupando todo o fundo histórico e fornecendo
as ocasiões para as crises da obra de sua vida. Ele vigia, enquanto o reino do
Norte é forçado a pagar tributo a Tiglate-Piléser, em 738 a. C., enquanto seu
território é dividido e despovoado, quatro anos mais tarde, e sua existência
política independente termina, em 721, com a captura de Samaria por Sargão.
Foi o apêlo do Rei Acaz, de Judá, pedindo ajuda contra Israel e Damasco, que
trouxera os exércitos assírios para a região, em 734, e Isaías denunciou esse
apêlo como evidência da falta de confiança fundamental do rei em Javé, como o
baluarte da nação (50). Acaz chegou mesmo a introduzir um altar assírio no
templo, em deferência ao seu nôvo suserano (51). Judá continuou leal aos
assírios até 705, quando Ezequias foi persuadido a unir-se à revolta geral dos
povos dominados, que se seguiu à morte de Sargão. Mais uma vez Isaías opôs-
se à política do rei com sua dependência de embaraçantes alianças políticas,
antes que do poder de Javé para defender o seu povo. Quando fracassou a
política do rei e os exércitos de Senaqueribe estavam às portas de Jerusalém, a
fé do profeta no propósito e capacidade de Javé de defender sua cidade não
fraquejou (52).

A exaltada soberania e majestosa +santidade» de Javé, que empolgaram Isaías,


na visão que fizera dele um profeta (53), proviam a chave de seu ensino.
+Santidade» é aquilo que pertence à divindade: a +terrível transcendência» do
divino, que não tem em si mesma necessário conteúdo ético. Mas +Javé dos
Exércitos é exaltado em juizo; e Deus, é santificado em justiça» (54). A
peculiaridade de Javé entre os deuses está em seu caráter e em sua soberania
sôbre a história de seu povo e dos outros povos com que ele tem contacto. Nos
tempos de perigo nacional, o caminho da segurança não é confiar em armas e
aliança, mas a quieta confiança em Javé e a lealdade ao estilo de vida que ele
exigia (55). Mas Isaías não vê possibilidade de que o povo atenda e evite juizo
inevitável; a esperança do futuro está nos pou-

83

cos fiéis que serão o +remanescente» sobrevivente da nação, e o centro de sua


renovação, quando a tempestade tiver passado (56).

Miquéias, de Morésete-Gate, era um contemporâneo judaíta de Isaias, com um


ministério algo mais breve. Enquanto Isaías falava de sua perspectiva da capital,
onde estava em contato com a vida pública e problemas mundiais, Miquéias era
o campeão dos camponeses, que atribuía a responsabilidade do sofrimento
deles à orgulhosa cidade nas colinas. As cidades eram para Miquéias antro de
iniqüidade e centros de opressão; eram de origem canaanita e foram edificadas
com sangue: +Portanto, por causa de vós, Sião será lavrada como um campo, e
Jerusalém se tornará em montões de ruínas» (57). As próprias metáforas são
rurais. O mal, que aos olhos de Miquéias se avoluma imensamente, está na
transformação dos camponeses em servos, pela tomada de suas terras pelos
ricos (58). Ele usa a metáfora do canibalismo a respeito daqueles que se cevam

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nos corpos dos pobres. E os sacerdotes, os profetas e os governantes não são


melhores (59).

Morésete-Gate, onde Miquéias vivia, ficava nas belas e férteis colinas, a


sudoeste de Jerusalém. Ele descreve o exército invasor avançando contra a
cidade de Jerusalém e devastando a paisagem que ele tanto amava (60). Pois
os camponeses sofrerão também, quando seus opressores forem punidos. Para
Miquéias, Jerusalém e Samaria são distantes e estranhas em espírito, embora
próximas no espaço. Seu desacordo com Isaías, porém, que declarava que Javé
defenderia Jerusalém, é apenas aparente: ambos concordavam quanto às
condições que tornariam inevitável o juizo de Javé.

O longo reinado de Manassés (696-641 a. C.) foi um intervalo de silêncio na


Idade de Ouro da profecia. Aquele rei retornou às práticas cultuais que os
profetas do século oitavo tinham condenado, e perseguiu os sucessores deles
que tiveram coragem de resistir-lhe. Só depois de sua morte floresceu de nôvo a
profecia, em Jeremias, Sofonias, Naum e Habacuque, embora seja possível que
as palavras de um profeta do reinado de Manassés tenham sido incorporadas,
posteriormente, no livro de Ezequiel (61).

84

Jeremias viveu durante um dos mais conturbados períodos da história de seu


povo. Seu ministério começou em 626 a. C., ano em que morreu o último grande
rei da Assíria, e quando as hordas bárbaras, vindas do Norte, inundaram a
Palestina. Como jovem mestre, testemunhou a reforma deuteronômica do Rei
Josias e, provàvelmente, participou dela; reforma que teve amplas
conseqüências tanto religiosas como políticas. Participou da excitação durante a
agonia final da Assíria, e chorou a morte prematura de Josias, às mãos do faraó
Neco. Com a derrota final de Neco em Carquemis, Jeremias reconheceu que o
poder mundial tinha passado para as mãos de Babilônia. Nos últimos e
momentosos anos da monarquia judaíta ele foi o líder religioso mais eminente
de seu povo. Tendo suportado os rigores dos dois cêrcos de Nabucodonosor e
acompanhado a aproximação da desgraça que tinha predito, o profeta
sobreviveu até o período de calmaria do govêrno de Gedalias, para terminar
indo para o Egito, e para o esquecimento, quando Gedalias morreu
tragicamente, e o inverno chegou.

O livro de Jeremias foi-nos transmitido em duas edições, a hebraica e a grega;


esta, consideravelmente mais curta, tem as secções arranjadas em ordem
diferente. Em acréscimo a um grande número de oráculos proféticos em sua
forma poética original, há oráculos condensados em prosa e também
consideráveis trechos de uma biografia de Baruque, companheiro e secretário
dele, em seus últimos anos.

Quando Jeremias recebeu o chamado para profetizar (62), era ainda um


rapazola. Sua fuga da tarefa é característica, pois ele era, por natureza, sensível
e acanhado. Mas reconhece a soberana orientação de Deus nas fôrças

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convergentes e decisivas que moldaram sua vida. Agora, quando lança os olhos
sôbre uma amendoeira em flor, que os homens chamavam +a vigilante» (porque
florescia cedo), ele exclama o nome dela em voz alta; e brota dentro dele a
convicção de que a vista da árvore não fôra mera casualidade. Fôra um sinal.
Javé está vigilante para cumprir sua palavra. Depois, o vapor de uma panela
fervendo, que o atinge vindo do norte, é outro sinal, pois do norte mesmo as
hordas citas

85

estavam-se, então, derramando em sua missão destruidora (63).

Parece que Jeremias, de início, apoiou esperançosamente a Reforma


Deuteronômica, mas, depois, veio a suspeitar dos motivos dos sacerdotes de
Jerusalém, que se preparavam para tirar vantagens da exaltação do santuário
central. Viu quão impotente para mudar o coração dos homens é uma lei, e
repudiou a suficiência do sacrifício de maneira tão completa que o sacerdócio
não poderia aprovar (64). Numa reunião festiva, nos átrios do templo, desafiou
diretamente a superstição popular de que Javé manteria inviolado seu santuário;
a menos que Judá se arrependesse, ele seria destruido como o anterior em Silo
(65). Tendo desafiado a hierarquia e o rei (66), Jeremias foi obrigado a
esconder-se, no esconderijo passou para escrita suas profecias, numa nova e
vã tentativa de influenciar o curso da marcha da nação (67). Estava ainda
escondido, quando a cidade caiu em 597, mas emergiu então para assumir
posição de liderança. Crendo que Javé tinha entregue a cidade nas mãos dos
babilônios, aconselhava os exilados a aceitarem sua posição, e opôs-se
fortemente à segunda revolta de que resultou nova tomada da cidade que, desta
vez, foi destruída (68). Retirado da prisão a que sua conduta +impatriótica» o
levara, Jeremias estava ainda sob custódia quando a cidade foi tomada. Não foi
deportado como tantos de seus concidadãos, mas continuou como mentor
espiritual da comunidade enfraquecida, até ser levado à fôrça para o Egito,
pelos que para lá fugiram depois do assassínio de Gedalias, o governador.

Jeremias não foi um chorão, mas um carvalho batido pelas tempestades,


crescido de uma tenra mudinha. Seu espirito sensível se repartia entre o amor a
seu povo e a fidelidade à vontade de Deus. A fôrça interior lhe adveio quando
lutava com Deus nos cumes de uma intensa religião pessoal, como aprendemos
de suas +Confissões» (69), de modo que o que ele foi se tornou mais importante
para a história da religião do que o que ele disse. A religião essencial não pode
nunca mais ser equacionada com um culto composto de atos litúrgicos fixos e
mecânicos, mas torna-se a peregrinação espiritual do homem vividamente
consciente de seu

86

contexto divino. O pecado torna-se, em Jeremias, não a transgressão de certos


tabus ou mandamentos, mas a inflexível obstinação que torna impossível a livre
e humilde comunhão com Deus. Por isso, para ele, os sacrifícios são

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irrelevantes, e a +velha aliança» fracassou. Mas Javé fará uma aliança de um


nôvo tipo; porá sua lei na mente, de modo que ela se torne parte integrante da
personalidade, e o homem se torne capaz da obediência que lhe deve (70).

O que deve ser dito a respeito dos restantes profetas do período clássico, pode
ser exposto mais resumidamente. Sofonias é o profeta do +Dies Irae». A
afirmação de Amós de que +o dia de Javé... é dia de trevas e não de luz» é
expandida por Sofonias num quadro terrível de catástrofe universal, quando tôda
a terra será devorada pelo fogo da ira ciumenta de Javé. O profeta parece ter
captado o sentimento de terror inspirado pelos rumores das invasões dos citas,
mas a destruição que pinta é mais do que a mais terrível das invasões; é juizo
divino num cataclisma universal, um dia quando o próprio Javé oficiará num
sacrifício cósmico (71). Só um remanescente, +um povo modesto e humilde,
que confia no nome de Javé» (72), pode esperar escapar e viver para
contemplar os começos de uma nova ordem mundial.

A profecia de Naum é um cântico de exultação por causa da iminente destruição


de Nínive, capataz cruel do mundo. Finalmente, seria cumprida a predição de
Isaías de que Javé haveria de punir a arrogante jactância do rei da Assíria (73).
A soberania moral de Javé está agora para ser vindicada. Com imagens
inexcedivelmente brilhantes, o profeta retrata a destruição e o saque desse
inimigo de seu povo por Javé.

A profecia de Habacuque parece ter vindo de um tempo quando Judá tinha


sofrido uma invasão dos caldeus, e tem sido tradicionalmente datada de pouco
antes da queda de Jerusalém, em 597 a. C. Mas a descrição, em alguns
pormenores, não se coaduna com a situação daquela data, e o livro tem sido
relacionado por alguns estudiosos com situações posteriores notadamente a
que se seguiu às conquistas

87

de Alexandre, o Grande. O profeta questiona a consistência do govêrno moral


divino do mundo, e especialmente o silêncio e a inação de Deus, quando o mal
triunfa. Parece a resposta de que os que praticam o mal trazem sôbre si
mesmos a desgraça, enquanto o +justo viverá pela fé». A natureza e o tom da
profecia reforçam a opinião de que pertence, no principal, própriamente à
profecia escrita da era pós-clássica antes que aos oráculos falados do período
clássico.

Profecia Escrita Anônima e Pós-Clássica

Chamar os profetas do período clássico de +profetas literários» é uma petição


de princípio, pois não se sabe até que ponto eles mesmos foram responsáveis
pelo registro espírito de seus oráculos. É provável que o silenciar de Amós pelo
sacerdote de Betel levasse os profetas a iniciar o processo de escrever as
mensagens proféticas. Amigos íntimos e seguidores seriam os indicados para

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realizar a tarefa, e em Isaías 8.16, o profeta entrega sua mensagem a seus


discípulos. Jeremias é o único dos profetas oradores do qual se diz que ditou a
um secretário, e nesse caso ele tinha sido impedido de falar e estava tentando
alcançar o público por um método alternativo. No período clássico é a palavra
falada que é primária, e o registro é posterior a ela.

No período pós-clássico, alcançara-se uma nova fase. Em vez de ser discurso


registrado, a profecia é uma deliberada composição literária, quase inteiramente
anônima. Muito dessa profecia é suplementar aos oráculos dos profetas
clássicos e segue seu modêlo. A personalidade enérgica, cujo nome era
lembrado pela parte que tomava na história religiosa e por sua palavra cheia do
poder de Deus, cede lugar agora ao profeta e poeta menor, ao imitador, ao
comentador e ao escriba. A proclamação original, trazendo em si sua própria
autoridade, é sucedida pela consciente imitação das +palavras que Javé pregou
pelo ministério dos profetas que nos precederam, quando Jerusalém estava
habitada e em paz» (74). As formas literárias, especialmente a forma de visões
proféticas, tornaram-se estereotipadas, e o exegeta e escriba começaram a
assumir a posição proeminente que sempre têm na religião de um livro, Nessa
época, as coleções mais an-

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tigas de oráculos proféticos foram reeditadas, e a obra suplementar das mesmas


mãos pode ser descoberta em diferentes livros do cânon profético, com razoável
medida de certeza (75). Um dos objetivos óbvios era contrabalançar as antigas
profecias de juizo com a promessa de um futuro glorioso, agora que a desgraça
tinha tido seu cumprimento. Disso o epílogo a Amós (9.9-15) é exemplo
conspícuo.

Duas exceções devem ser opostas à generalização anterior. A primeira é que há


registro de alguma profecia falada, como, por exemplo, em Obadias e em Joel,
para não mencionar os profetas da +Idade de Prata», no período da
restauração, Ageu, Zacarias 1-8, e Malaquias. É difícil traçar a linha,
especialmente quando parece que o escritor está incorporando algum material
mais antigo. Mas o fato de que o material dessa época posterior seja, em tão
grande parte, anônimos, indica que aqueles de quem ele provém não eram
figuras públicas, cujas palavras exigissem preservação.

Além disso, não é de modo algum tôda a profecia escrita que pode ser
considerada de importância menor, comparada com a obra dos grandes profetas
do oitavo e sétimo séculos. Há obra de primeira categoria, embora de espécie
diferente, no período persa. Os mais altos cumes de todos foram alcançados
naqueles fragmentos de um profeta desconhecido, incorporados na segunda
parte do livro de Isaías e conhecidos desde Duhm, como os +Cânticos do
Servo» (76). Em tôrno desses cânticos foi tecida aquela promessa lírica e
exultante de um nôvo dia, conhecida como Segundo Isaías, onde a mensagem é
apresentada numa série de cantos, e em que o monoteísmo alcança sua
expressão mais explícita no Velho Testamento. Este, por sua vez, foi editado por

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um homem menor, que descreve o triunfo final de Israel em termos materiais.

É provável, também, que Ezequiel, em sua presente forma semiapocalíptica,


pertença ao fim do período persa, embora incorpore profecia falada, do tempo
de Jeremias ou de Manassés. Os últimos seis capítulos de Zacarias, Isaías 2427
e a segunda parte de Joel mostram-nos a profecia escrita em suas últimas
fases, nas vésperas de ceder lugar à verdadeira apocalíptica, tal como é
encontrada em Daniel 7-12 (77).

NOTAS E CITAÇÕES BÍBLICAS

CAPÍTULO IV

(1) Cf. North, no «Expository Times», vol. 47, p 356: «Fora do Velho Testamento, a figura
mais semelhante aos profetas é Zoroastro. Mas o zoroastrismo difere notavelmente do
judaísmo em que Zoroastro não teve sucessor».
(2) Cf. Gressmann: «Foreign Influences in Hebrew Prophecy», Journal of Theological
Studies, vol. 27, pp 241-254; e McCown: «Genesis of the Social Gospel», pp 213-238.
(3) Tradução de Gardiner, citada por McCown, op. cit., p 220.
(4) Também da 12a. Dinastia, cf. Peet: «Comparative Study of the Literatures of Egypt,
Palestine and Mesopotamia», pp 114-122.
(5) Podem ser reconhecidos fragmentos poéticos da antiga saga, por exemplo, em Êx
15.21; 17.16; Nm 10.35, 36; 21.14-1827-29.
(6) Com Êx 20.3-17, comparar Dt 5.7-21; 27.15-26; Lv 19.3-18; Êx 34.14-26.
(7) Os «filhos dos profetas» ou guildas proféticas aparecem tanto no segundo como no
terceiro grupo de material.
(8) A palavra «pós-exílico» é uma designação proveniente do período após a destruição de
Jerusalém, em 586 a. C., embora deva reconhecer-se que só pequena parte da população
total foi deportada, na época, para Babilônia.
(9) Os 12.13 (Heb., Os 12.14).
(10) A palavra «mishpat» significa uma decisão judicial, a execução de uma decisão,
(juizo), o principio exemplificado pela decisão (justiça), ou os costumes e padrões aceitos
como corretos. Aqui o significado é quase o de «constituição» do reino.
(11) II Sm 5. 3.
(12) II Rs 11.17.
(13) Jr 22.16.
(14) Tais como o «Código da Aliança», Êx 20.23-23, 33; o Código Deuteronomístico, Dt
12-26; a «Lei de Santidade», Lv 17-26 e o material estatutário do Código Sacerdotal em
Êx, Lv e Nm.
(15) SI 15 e 24.1-6, e Jr 7.5-10 indicam uso litúrgico, de fórmulas éticas parecidas com o
Decálogo.
(16) Os 13.4, 5; 12.13.
(17) Jr 7.22, 23.
(18) Cf. Cap. 111, p 59. Il Sm 11.2-12, 15; I Rs 21; Jr 22.13-19.
(21) I Rs 11.29-40; II Rs 9.1-3.
(22) I Rs 16.1-4; Am 7.9.
(23) I Rs , 22.5-28; Jr 26-28.
(24) Ml 4-5, 6 (Heb. Ml 3. 23, 24); cf. Mt 17.3, 10-13.
(25) I Rs 18.17-22; 21.20.
(26) Os 2.8 (Heb. 2.10).
(27) II Rs 2.23, 24.

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(28) Pode ser, decerto, que a água foi obtida no mar, que não ficava muito longe.
(29) Micklem: «Prophecy and Eschatologie», p 93. (30) «The People and the Book», ed. A.
S. Peake, p 261.
(31) I Rs 19.11; cf. Êx 33.21-23.
(32) Os 6.6; 8.11-13; Jr 7.22.
(33) O material relativa a Eliseu encontra,se em II Rs 2.1-9.3; 13. 14-21, junto com uma
curta inserção no ciclo, de Elias, que estabelece sua relação com êste, em I Rs 19.15-21.
(33a) I Rs 17.16 e II Rs 4.1-7; I Rs 17.17-24 e II Rs 4.18-37; I Rs 19. 15-17 e II Rs 8.7-15;
9-1-13; (Nota do Tradutor).
(34) A frase significa, aparentemente, «segura defesa de Israel»; Il Rs 2.12 ;13.14.
(35) As lendas de seus mestres chegam, sem dúvida, até nós, por meio dos «filhos dos
profetas». Só é apresentado aqui um ligeiro esforço, da profecia clássica, pois ela constitui
o material para os capítulos subseqüentes.
(37) Am 7.12, 13.
(38) Am. 1.1; ver cap. I, nota 14. Esse terremoto é ainda referido séculos depois; cf. Zc
14.5.
(39) Am 8.8; cf. 3.15; 4.11, 12; 6.9-11.
(40) Am 6.6.
(41) Am. 3.2.
(42) «Eu odeio o exibicionismo -- o fingimento de me 'honrar' com festas religiosas e
assembléias solenes. Eu não aceitarei as ofertas queimadas e as ofertas de gratidão. Nem
sequer vou olhar para as ofertas de paz. Acabem com esse barulho das suas canções;
eles são um barulho que incomoda meus ouvidos. Não ouvirei suas músicas, por mais
belas que sejam. O que Eu quero ver é a justiça correndo como um rio. Quero ver uma
correnteza de justiça e retidão». Am 5.21-24; 4.4, 5.
(43)Am 5.18.
(44) Am 9.7b. Deveria acrescentar-se que 9.8b-15, com sua modificação da mensagem do
profeta e sua clara referência, no vers. 11, à queda de Jerusalém como já acontecida, é
um apêndice pós-exílico. Ver adiante, p 88.
(44a) Embora o minidicionário Aurélio defina a palavra anarquia como «falta de governo ou
chefe» e «confusão ou desordem disso resultante». A confusão ou desordem aqui
resultava principalmente das ações do rei e dos sacerdotes com toda sua carga de
corrupção, agravada pela degradação de toda a sociedade. «Seus líderes serão mortos
pela espada dos seus inimigos» Oséias 7:16, referindo-se a Uzias e Jeroboão II, então,
reis de Israel, conforme Oséias 1:1. Se quiser avançar mais profundamente sobre o
significado da palavra anarquia consulte o FAQ anarquista (Nota do editor da edição
eletrônica).
(45) Os 4.1.
(46) Cf. a, exigência para a temporária dessagração de um sacerdote, em Ez 44.19. (47)
Os 4.6.
(48) Os 5.14, 15; 6.4-6; 10.12-15, e 2.14-23; 11.8, 9; 14.1-8.
(49) Am 5.27; Os 5.13; 8.9; 9.3; 10.6.
(50) Is, 7.9; 8.5-8.
(51) II Rs 16.10-13.
(52) II Rs 19.6, 7; Is 37.6, 7, 21-35.
(53) Is 6.
(54) Is 5,16.
(55) Is 7-3-9; 28.14-18; 30.12-18.
(56) Is 10.20-22; 6.9-13; 7.3; 37.31-32.
(57) Mq 3.12.
(58) Mq 2.1-2; 3.1-3, 10.
(59) Mq 3-5-7, 11.
(60) Mq 1.10-16.
(61) Cf. Jas. Smith: «The Book of the Prophet Ezekiel». Em adição, em II Rs 21.10

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15, é atribuído a profetas desconhecidos comtenporâneos, um juizo contra Manassés.


(62) Jr 1.6; 16.2.
(63) Em Jr 4, 5 e 6 encontram-se oráculos que descrevem as invasões dos bárbaros
entrelaçadas com referências à devastação caldaica posterior.
(64) Jr 8-8, 9; 7.21-23.
(65) Jr 7-1-15; 26.1-6.
(66) Jr 26.7-15; 22.13-19.
(67) Jr 36.
(68) Jr 29.1-20; 28; 21.1-10.
(69) O termo tem sido aplicado a passagens como 11.18-23; 12.1-6; 15.10-21; 17.9-18;
18.18-23; 20.7-12.
(70) «Este é o novo trato que farei com Israel: Gravarei as minhas leis no coração e na
mente do povo [...]» Jr 31.27-34.
(71) Sf 1.7-18.
(72) Sf 3.12; 2.3.
(73) Is 10.12; Na 2.13-3, 7.
(74) Zc 7.7.
(75) Como o fêz R. E. Wolf, em «The Editing of the Book of the Twelve», Z. A. T. W., 1935.
(76) Is 42.1-4; 49.1-6; 50.4-9; 52.13-53.12. Outros fragmentos dos «Cânticos do Servo»
podem ser encontrados em 51.4, 5 e 48.16c. O presente escritor tem em preparo uma
interpreta ção do Segundo Isaías e dos «Cânticos do Servo», em que esta opinião será
plenamente desenvolvida.
(77) Para a distinção entre apocalíptica e profecia, ver acima, cap. 1, p 16.

Fim da segunda parte de «Profetas de Israel: Comunais, Acratas e Anticlericais».

Primeira parte: http://www.geocities.com/projetoperiferia5/profetas1.htm


Segunda parte: http://www.geocities.com/projetoperiferia5/profetas2.htm
Terceira parte: http://www.geocities.com/projetoperiferia5/profetas3.htm
Quarta parte: http://www.geocities.com/projetoperiferia5/profetas4.htm
Quinta parte: http://www.geocities.com/projetoperiferia5/profetas5.htm

Edição Eletrônica pelo Coletivo Periferia


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